Répteis e as Populações Huanas
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Transcript of Répteis e as Populações Huanas
I SERlE: Estudos & Avan~os
Volume 1: Merodos (> Teen/cos noPrsquisa Etnobiolagico e Etnoecol6jico O'ganizadores: U[yues Paulino de Albuquerque, Reinaldo Farias Paiva de lucena Fernandes Cruz da Cunha
Volume 2: Zooteroplo: OsAnimais naMedicina Popular Brasi/eiro Organizadores: EraldoMedeiros Costa Heto &. ROmuia Romeu da NObregaAtves
Volume 3: EtllOeco/oglo em Perspectlva: Natureza, Culturoe COilservot;do Organizadores: Angelo GiuseppeChavesAlves, Francisco Jose Bezen-a Souto &. Nivaldo Peroni
Volume 4: AEtnozoologlo no Brosll: Importane/a, Statusatuol e Perspectivas Organizadores: ROmuia Romeu da NObrega Alves, Wedson de Medeiros Silva Souto ft Jose da Silva Mourao
Volume 5: ASp.E'ctos HIst6rlcO$ no Pesqu/sa Etnob/alaska Organizadora: Maria Franco Trindade Medeiros
Volume 6: Agroblodlversldade no Brasil: El(pluienc/as e Caminhosda Pesquisa Organizadores: Lin Chau Min!l. Maria Christina deMelloAmorozo & Carolina Weber Kffuri
Primeira edição publicada em 2010 por
NUPEEA
www.nupeea.com
Copyright© 2010
Impresso no Brasil/Printed in Brazil
Capa: Pablo Reis
Foto da capa: Índios caçadores do Xingu, Pará (2009)
Autor: Juarez Carlos Brito Pezzuti Revisão: os autores
Editor chefe: Ulysses Paulino de Albuquerque
Editora associada: Cecília de Fátima Castelo Branco Rangel de Almeida
Comissão Editorial
Ângelo Giuseppe Chaves Alves (Universidade Federal Rural de Pernambuco)
Elba Lucia Cavalcanti de Amorim (Universidade Federal de Pernambuco) Elba Maria Nogueira Ferraz (Instituto Federal de Educação- PE)
Elcida Lima de Araújo (Universidade Federal Rural de Pernambuco) Laise de Holanda Cavalcanti Andrade (Universidade Federal de Pernambuco)
Maria das Graças Pires Sablayrolles (Universidade Federal do Pará) Natalia Hanazaki (Universidade Federal de Santa Catarina) Nivaldo Peroni (Universidade Federal de Santa Catarina)
Valdeline Atanázio da Silva (Universidade Federal Rural de Pernambuco
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
A Etnozoologia no Brasil : importância, status atual e perspectivas / organizadores Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, Wedson de Medeiros Silva Souto, José da Silva Mourão. -- Recife : NUPEEA, 2010.
Bibliografia
1. Etnozoologia I. Alves, Rômulo Romeu da Nóbrega. II. Souto, Wedson de Medeiros Silva. III. Mourão, José da Silva.
10-11087 CDD-595.796
Índices para catálogo sistemático:
1. Etnozoologia 595.796
A Etnozoologia no Brasil: importância, status atual e perspectivas
6 Répteis e as populações
humanas no Brasil:uma
abordagem
etnoherpetológica
Rômulo R. N. Alves1, Gentil A. Pereira-Filho2, Kleber da S. Vieira2, Gindomar
G. Santana3, Washington L. S. Vieira2, Waltécio O. Almeida4
1Departamento de Biologia, Universidade Estadual da Paraíba, Av. das
Baraúnas, 351 / Campus Universitário, Bodocongó, 58109-753, Campina
Grande-PB, Brasil. e-mail: [email protected].
2Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas (Zoologia), Laboratório
Herpetológico do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade
Federal da Paraíba, 58051-900, João Pessoa, PB, Brasil.
3Bolsista de Desenvolvimento Científico Regional (DCR/CNPq/FAPERN).
Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, Laboratório de Ecologia e
Conservação da Biodiversidade (LECOB), Centro de Biociências, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Lagoa Nova, 59072-970, Natal, RN, Brasil.
e-mail: [email protected]
4Bolsista Produtividade da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – FUNCAP. Departamento de Química Biológica,
Universidade Regional do Cariri, Rua Cel. Antônio Luiz 1161, CEP 63100-
000, Crato – CE, Brasil, e-mail: [email protected]
Apresentação Os répteis são utilizados de diferentes modos por
populações humanas. No Brasil são atualmente
reconhecidas 721 espécies de répteis, muitas dessas
espécies interagem com comunidades humanas, seja por
sua utilidade ou pelo risco que possam representar as
pessoas. Em áreas rurais e urbanas do país, produtos
Correspondência: Rômulo Romeu da Nóbrega Alves, Departamento de Biologia, Campina Grande, PB;
Avenida das Baraúnas, 58109-753, Brasil ([email protected])
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Alves et al.
derivados de répteis como couro, dentes, gordura, carne
e ossos possuem igualmente valor alimentar, ornamental,
medicinal e mágico-religioso. Soma-se também a esse
conjunto o fato dos répteis serem ainda usados como
animais de estimação e atração em zoológicos. Apesar
disso, são poucos os estudos etnoherpetológicos
realizados no país e isso limita a elaboração de
estratégias adequadas de conservação para muitas
espécies, considerando que tais estudos são fundamentais
dentro de uma perspectiva conservacionista. Procuramos
nesse capítulo apresentar uma análise das relações entre
populações humanas brasileiras com algumas espécies
de répteis nativas. Enfocamos o valor utilitário que tais
populações humanas dão aos répteis e às relações
conflituosas associadas a esse grupo zoológico.
Introdução Os répteis são utilizados de diferentes modos por populações
humanas. Diversos estudos mostram que desses se aproveita ovos,
carne, sangue e gordura (óleo). A carapaça, pele e ossos fornecem a
matéria-prima de ornamentos, ferramentas, remédios e objetos mágico-
religiosos (Franke & Telecky 2001; Fitzgerald et al. 2004; Zhou &
Jiang 2004; Frazier 2005; Alves 2006a; Alves et al. 2006; Alves &
Pereira Filho 2007; Alves & Santana 2008; Alves et al. 2008). Em
algumas localidades são considerados verdadeiras pragas, motivando
seu extermínio pelas pessoas por serem considerados seres malignos, ou
por representarem perigo à saúde dos humanos ou de seus animais
domésticos (Alves et al. 2009a; Alves et al. 2009b; Santos-Fita et al.
2010). A percepção humana dos répteis é caracterizada, por vezes, pelo
extremo. Certas culturas os consideram fascinantes, us crocodilo
(Sebek) e temiam a grande serpente do mundo dos mortos (Apófis). O
próprio espírito do Nilo era um deus-serpente e simbolizava o poder do
faraó (Moreno et al. 2006). Na cultura ocidental a serpente é uma
criatura envolta por mitos, lendas e crendices das quais a mais
conhecida trata da maldição sofrida por Adão e Eva no Éden, onde uma
serpente leva a humanidade a perder o paraíso (Leeming 2003).
O significado simbólico dos répteis se altera quanto ao tipo de
relação que os humanos mantiveram e mantém com esses animais
(Campbell et al. 1991; Leeming 2003; Alves & Pereira Filho 2007;
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Répteis e as populações humanas no Brasil
Alves et al. 2008; Alves et al. 2009a; Pough et al. 2004). O elemento
místico pode gerar uma perspectiva positiva de conservação ou negativa
quando a imagem do animal é temida e odiada por sua associação ao
mal, como acontece especialmente a muitas espécies de serpentes (ver
Dodd Jr 1993; Vizotto 2003). Em várias culturas tais visões antagônicas
se sobrepõem e resultam tanto em amor, quanto ódio a esses animais.
No Brasil são atualmente reconhecidas 721 espécies de répteis,
destes 679 pertencem aos Squamata com 67 anfisbenídeos, 371
serpentes e 241 lagartos. Além desses, há ainda seis espécies de jacarés
e mais 36 de quelônios descritas (Bérnils 2010). Muitas dessas espécies
interagem com comunidades humanas, seja por sua utilidade ou pelo
risco que possam representar as pessoas. Em áreas rurais e urbanas do
Brasil, produtos derivados de répteis como couro, dentes, gordura,
carne e ossos possuem igualmente valor alimentar, ornamental e
medicinal. Soma-se também a esse conjunto o fato dos répteis serem
ainda usados como animais de estimação e atração em zoológicos.
As diferentes formas de relacionamento entre as culturas humanas
e répteis constitui o objeto de estudo da Etnoherpetologia, uma
subdivisão da Etnozoologia (Speck 1946; Goodman & Hobbs 1994;
Bertrand 1997; Das 1998). No Brasil são poucos os estudos
etnoherpetológicos (Alves 2006a; Alves et al. 2007a; Alves & Pereira
Filho 2007; Alves & Santana 2008; Alves et al. 2009a; Santos-Fita et
al. 2010) e isso limita a elaboração de estratégias adequadas de
conservação para muitas espécies, considerando que tais estudos são
fundamentais dentro de uma perspectiva conservacionista. Procuramos
nesse capítulo apresentar uma análise das relações entre populações
humanas brasileiras com algumas espécies de répteis nativas.
Enfocamos o valor utilitário que tais populações humanas dão aos
répteis e às relações conflituosas associadas a esse grupo zoológico. As
informações aqui disponibilizadas foram compiladas da literatura e
também obtidas através de visitas a diversas áreas urbanas e rurais,
onde os autores realizaram vários estudos de caráter zoo e
etnozoológico.
O uso dos répteis pelas populações humanas no
Brasil A vasta extensão territorial do Brasil abriga diversas
comunidades humanas com tradições e costumes particulares. A
importância e utilidade que essas mesmas comunidades atribuem às
espécies de répteis locais parecem ser proporcionais à diversidade
cultural de cada região. Uma mesma espécie de lagarto, por
125
Alves et al.
exemplo, pode ser utilizada de diferentes formas e finalidades. O
uso como fonte alimentar, na medicina popular, ornamentação,
religião, fabricação de peças para vestuário e artesanato são o
destino principal para algumas espécies de répteis brasileiras.
Embora não seja tão comum como acontece com aves e mamíferos,
répteis são também criados em cativeiro como animais de estimação.
De um modo geral, é possível falar numa conexão com pelo menos
64 espécies de répteis com comunidades humanas em todo país.
Exemplos de répteis utilizados no Brasil são mostrados na figura 1.
Alimentação As populações humanas têm consumido répteis nas diferentes
partes do planeta e em todas as épocas, utilizando a carne deste
grupo de animais como importante fonte de proteína. Um fato
curioso é que, embora sirvam de alimento também em zonas
temperadas, foi observado que o consumo de certas espécies de
répteis tem sido mais intenso nas regiões tropicais e subtropicais
(Klemens & Thorbjarnarson 1995). A explicação para isso se deve a
baixa diversidade de espécies encontrada nessas zonas e à pequena
quantidade de calorias que estes animais oferecem, estando menos
sujeitos à caça do que animais cuja carne e derivados são
considerados hipercalóricos, como bovinos, suínos e aves (Torres et
al. 2000).
No Brasil pelo menos 26 espécies de répteis são utilizadas
como alimento e da mesma maneira que ocorre em outros países
(Klemens & Thorbjarnarson 1995), existe uma variação considerável
na preferência alimentar das populações humanas por tartarugas,
jacarés, lagartos e serpentes.
Tartarugas, jabutis e cágados
Os quelônios são os preferidos para consumo alimentar, com 21
(58,3%) das 36 espécies registradas no Brasil. No cardápio estão
incluídos alguns cágados, jabutis e tartarugas marinhas e de água
doce. Quelônios são em geral utilizados como alimento
principalmente na região norte do país onde sua riqueza de espécies
é maior. Vários estudos apontam para o fato que quelônios
amazônicos vêm sendo historicamente consumidos pelas populações
humanas locais e transformados em produto no comércio regional
(Smith 1976; Pezzuti et al. 2004; Rebêlo et al. 2005; Alves &
Santana 2008; Pezzuti 2009; Pezzuti & Chaves 2009). Isso tem
afetado profundamente o hábito alimentar e a cultura das pessoas
dessa região. Klemens & Thorbjarnarson (1995) fizeram uma revisão
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Répteis e as populações humanas no Brasil
mundial sobre répteis de importância alimentar para humanos ,
destacando a importância do uso de quelônios como fonte protéica
para populações costeiras e ribeirinhas. No Brasil, as tartarugas de
água doce como Podocnemis expansa (tartaruga da Amazônia) e P.
unifilis (tracajá), cuja distribuição é ampla e simpátrica em
diferentes áreas da bacia amazônica, são muito utilizadas como
alimento na região norte do país.
Registros também mostram que a situação não é diferente para
tartarugas marinhas, e todas as espécies que ocorrem no país foram
ou são usadas como alimento. No litoral norte do estado da Bahia,
por exemplo, quatro espécies serviam como fonte alimentar para
indígenas e como insumo para pescadores artesanais dessa zona
costeira (Costa-Neto 2001). A Praia de Siribinha, uma importante
área reprodutiva de tartarugas, é apontada nesse estudo como bom
local de pesca. Os indivíduos eram apanhados especialmente durante
a época de postura, quando as fêmeas subiam à praia para desovar.
Segundo moradores locais, as tartarugas eram mantidas suspensas
por até dois dias até serem finalmente abatidas.
Com o aumento da pressão extrativista na costa brasileira , as
tartarugas marinhas tiveram um grande declínio de suas populações
e isso implicou na inclusão desses répteis na lista dos animais
ameaçados de extinção (Ministério do Meio Ambiente 2008). O
consumo da carne de tartarugas e o uso do seu casco para fazer
armações de óculos, pentes, pulseiras, anéis e colares, como também
a retirada de ovos era algo comum no cotidiano dos habitantes
locais. Atualmente, a pesca às tartarugas é proibida por lei federal
(Lei de Crimes Ambientais, no. 9605, de 12/2/98), que pune o
infrator com prisão inafiançável.
As tartarugas são usadas mundialmente como alimento (Balazs
1983; Allen 2007; Rudrud 2010). Diversas comunidades costeiras
tradicionais pescam tartarugas para sua subsistência e comércio. Os
índios Miskito que vivem na costa oriental da Nicarágua, por
exemplo, são muito dependentes das tartarugas verdes (Chelonia
mydas). Esses répteis fornecem recursos como carne, couro, gordura
(óleo), casco e "calipee", uma substância gelatinosa encontrada
junto à carapaça e que é a base para a sopa de tartarugas
(Nietschmann 1974). Em algumas ilhas do Pacifico, as tartarugas
marinhas são reverenciadas como animais sagrados e servidas como
comidas cerimoniais, sendo culturalmente valorizadas em relação a
todos os animais marinhos (Rudrud et al. 2007).
127
Alves et al.
Figura 1. Exemplos de répteis utilizados por populações humanas no
Brasil. A -Chelonoidis carbonaria (jabuti), B - Podocnemis expansa
(tartaruga da Amazônia), C - Tupinambis merianeae (teiú, tejo, tejuaçú), D-
Iguana iguana (camaleão), E - Boa constrictor (jibóia) e F - Caudisona
durissa (cascavel).
Jacarés
Outro grupo de répteis apontado por alguns pesquisadores como parte
do cardápio das comunidades tradicionais brasileiras são os Crocodylia.
128
Répteis e as populações humanas no Brasil
Embora sejam poucos os trabalhos em etnozoologia a mencionar jacarés
como alimento humano, alguns trabalhos têm mostrado que praticamente
todas as espécies que ocorrem no Brasil são consumidas (Klemens &
Thorbjarnarson 1995; Verdade 2004; Alves & Rosa 2006; Alves & Rosa
2007b; Alves & Rosa 2007a; Alves et al. 2007b; Valsecchi & Amaral
2009).
Lagartos
Há registro que pelo menos quatro espécies de lagartos servem de
alimento para populações humanas no Brasil. São estas a Ameiva ameiva
(calango bico doce), Tupinambis merianeae (teiú, tejo, tejuaçú), T. teguixin
(teiú, tejo, tejuaçú, jacuraru) e Iguana iguana (sinimbú, camaleão). As três
últimas espécies citadas são as mais comumente usadas como alimento em
suas áreas de ocorrência, tanto no Brasil como em outros países. Fitzgerald
(1994) afirma que espécies do gênero Tupinambis são muito caçadas para
consumo na Argentina, Paraguai e partes da Bolívia. O teiú é considerado
iguaria, tendo o sabor da sua carne comparado ao da carne de frango. De
forma similar, o consumo e a comercialização da carne de I. iguana
também têm uma grande aceitação na América tropical (Klemens &
Thorbjarnarson 1995), compondo a dieta de muitas pessoas que usam sua
carne e ovos como uma fonte principal de proteína. No Brasil, o consumo
de camaleões e teiús tem sido registrado não apenas em zonas rurais, mas
também em centros urbanos (Marques & Guerreiro 2007; Alves et al.
2009a; Alves et al. 2009b).
Camaleões são animais muito apreciados por comunidades pesqueiras
da Ilha do Marajó, estado do Pará, que comem sua carne e seus ovos (Alves
RRN, observação pessoal), e nas feiras públicas de Feira de Santana, na
Bahia, onde exemplares de I. iguana e Tupinambis sp. foram encontrados
com seus corpos expostos em bancadas e as carnes moqueadas (Marques &
Guerreiro 2007).
Serpentes
Os registros na literatura mostram que poucas espécies de serpentes
são usadas como alimento no Brasil. Dessas, podemos citar Boa constrictor
(jibóia), Eunectes murinus (sucuri, cobra sucurijú, cobra grande) e
Caudisona durissa (cascavel). Marques & Guerreiro (2007) registraram um
elo trófico inusitado entre seres humanos/cascavéis nas feiras públicas de
Feira de Santana, Bahia, onde ―espetinhos‖ da carne dessa serpente eram
vendidos ao preço de R$ 1,50. Isso aparentemente reflete o padrão norte-
americano, onde, no sudoeste dos Estados Unidos e no México, a carne de
cascavel (Crotalus spp.) é muito popular e sua venda tem se expandido em
áreas urbanas (Klemens & Thorbjarnarson 1995). A comercialização da
129
Alves et al.
carne de serpentes na América do Norte e no semiárido nordestino mostra
que tal costume não é exclusivo do sudeste asiático, como sugeriram
(Klemens & Thorbjarnarson 1995). Alves et al. (2007b) destacam ainda
que o consumo de répteis está associada à crendice medicinal associada a
animais, uma situação confirmada por Freire (1996) ao menos no estado de
Alagoas, onde a carne da cascavel é usada no tratamento da lepra. Já o
consumo de jibóia (B. constrictor) foi registrado por Fita et al. (2010) no
município Pedra Branca, Bahia.
O pequeno número de espécies de serpentes usadas como alimento no
Brasil não surpreende, tendo em vista o aspecto negativo associado a esses
animais nos mitos, lendas e crendices populares. Rea (1981) afirma que
não apenas as serpentes, mas também aqueles animais com forma
semelhante são rejeitados pelo aspecto desagradável, cuja aparência
provoca verdadeiro horror. O resultado de um trabalho feito com
populações ribeirinhas assentadas às margens do Rio Negro (Amazonas,
Brasil) apontou o poraquê (Electrophorus electricus) como o peixe mais
rejeitado para consumo pelos entrevistados, tanto pelo cheiro forte -"é
muito pitiú" - como pela aparência do corpo - "dá uma impressão que é
cobra [serpente]" (Silva 2007).
Medicina popular Os répteis têm sido utilizados na medicina popular desde o início da
colonização do Brasil, como atestam documentos históricos (Silva et al.
2004; Almeida et al. 2005; Alves et al. 2007b). von Martius (1939) em sua
viagem pelo interior do Brasil, no século XIX, registrou uma lista de
remédios naturais utilizados por nativos sulamericanos, como a gordura
fresca de jacaré que servia para aliviar o reumatismo (Costa-Neto 2005).
Atualmente, a gordura das espécies Cayman latirostris (jacaré-de-papo-
amarelo), Melanosuchus niger (jacaré-açú) e Paleosuchus palpebrosus
(jacaré-coroa) é ainda usada com a mesma finalidade pelas comunidades
rurais e urbanos (Alves & Rosa 2006; Alves & Rosa 2007a; Alves & Rosa
2007b; Alves et al. 2007b). Outras espécies de répteis utilizados na
medicina popular desde o Brasil colônia incluem a Iguana iguana
(camaleão, sinimbu), C. durissa (cascavel) e Micrurus ibiboboca (cobra
coral).
São tratados cerca de 100 tipos diferentes de doenças com
derivados de répteis. A farmácia natural inclui 47 espécies de répteis que
podem ser usada no tratamento de várias patologias. Os produtos derivados
de T. merianae e T. teguixin são indicados para o tratamento de uma porção
de doenças. Já a serpente Eunectes murinus é considerada afrodisíaca,
antiinflamatória, anti-reumática, antiasmática, trombocitopênica e útil no
tratamento de doenças venéreas e de pele (Alves et al. 2007b). Diferentes
130
Répteis e as populações humanas no Brasil
maneiras de preparar e administrar remédios animais têm sido registradas.
Partes duras, como ossos, chocalhos e pele de serpentes geralmente são
secas ao sol, raladas e moídas em pó, sendo então administradas como chá
ou tomadas durante as refeições, enquanto a gordura e óleo são ingeridos,
ou usados como uma pomada, de acordo com a doença tratada (Alves &
Rosa 2006; Alves & Rosa 2007a; Alves & Rosa 2007b; Alves et al.
2007b).
Os répteis que se movem lentamente - "lerdos" - são usados como
calmante no tratamento de pessoas hiperativas, agressivas ou que tenham
sido traídas pelo cônjuge (―dor de corno‖). Nestes casos são aplicados
produtos derivados dos répteis, por exemplo, a água e pó do lagarto
―tamanquaré‖ (Uranoscodon superciliosus). Geralmente existe uma
associação entre características biológicas do animal com a posologia
(Alves 2006b; Alves 2008) igualmente observada por (Radbill 1976) ao
afirmar que a magia homeopática, ou imitativa, é presumida pelos xamãs
ou curandeiros a partir das qualidades atribuídas aos animais. Acredita-se
que a transferência de tais qualidades aos humanos se dá por inalação,
ingestão ou aplicação direta de partes do corpo destes animais.
É importante abrir um parêntese, pois como acontece com todo
produto natural, além de seu papel medicinal os répteis possuem muitas
vezes significado mágico-religioso, refletindo diferentes visões sobre saúde
e doença das diferentes culturas do país. O curandeirismo no Brasil se
confunde, portanto, com as crenças pelos rituais e o magismo oriundo da
medicina tradicional de origem na prática religiosa africana misturada com
elementos indígenas. Isso marcou profundamente o costume zooterápico
brasileiro.
Uso Mágico-religioso Os répteis são utilizados dentro de uma perspectiva mágico-
profilática cujo objetivo principal é afastar as doenças de ―origem não
natural‖, e as crenças populares geralmente afetam a forma como e quais
espécies são usadas na zooterapia (Alves & Rosa 2006). Essa prática
incorpora a percepção de forças sobrenaturais nas doenças bem como em
seus tratamentos; nesse contexto, preparam-se soluções à base de animais,
amuletos são construídos e encantamentos realizados. Por exemplo, a
finalidade mística pode envolver amuletos para proteger o usuário do "mau
olhado" ou ainda contra picadas de cobra como é o caso dos dentes de
jacarés C. latirostris, M. niger e P. palpebrosus no Brasil (Costa-Neto
2005; Alves & Pereira Filho 2007; Alves et al. 2007b). Na Nigéria,
também é comum animais e suas partes serem transformados em amuletos
131
Alves et al.
para melhorar a saúde do enfermo, já no Senegal o camaleão Chamaeleo
senegalensis é usado para bloquear a energia negativa de detratores.
O uso de répteis em rituais é feito buscando promover inicialmente a
boa saúde da comunidade e não apenas a de um indivíduo em particular,
como naqueles casos citados anteriormente (Ajayi 1978). Para isso, existe a
imolação dos animais nas festas populares com o objetivo pacificador ou
invocativo (Adeola 1992; Sodeinde & Soewu 1999; Léo Neto et al. 2009).
A cabeça da píton africana (Python sebae) é usada para invocar e proteger
a aldeia contra a ação malfazeja das bruxas. Em regiões secas da Nigéria os
produtos de origem animal são usados em solenidades como funerais ou
quando membros tribais adquirem status de líder. No Brasil, essa forma de
uso muitas vezes está associada às religiões afro-brasileiras.
Nem todo ritual mágico-religioso ou místico-religioso envolve morte
como elemento básico, e a associação dos répteis a alguns mitos e
crendices são positivas numa visão protecionista. Um bom exemplo é a
prática do culto da serpente que persiste na Índia, África central, Oceania,
Grécia, Egito, Roma e Oriente. Nestes cultos as pessoas veneram serpentes
e suas pinturas, ou ainda formas serpentiformes pintadas em diferentes
locais. Tais pessoas passam a tratar as serpentes como divindades
protetoras cujo simbolismo quase sempre indica a fecundidade da terra, a
força criativa terrestre, ou são as guardiãs de segredos herméticos e o
próprio infinito (Biedermann 1996). Suas representações podem ser vista
em vários lugares do mundo. Particularmente em Camarões e Congo
(África Equatorial), as serpentes são espíritos florestais, portadoras da alma
de sábios e responsáveis por conduzir ao caminho da retidão (Cascudo
1962).
No Brasil das 16 espécies de répteis usadas em rituais mágicos-
religiosos (Tabela 1), a maioria (nove espécies, 56,3%) são de serpentes
(Alves 2006b; Alves & Pereira Filho 2007; Alves 2008; Léo Neto et al.
2009). Elas podem ser centrais em mitos, como na cultura dos nativos do
Rio Negro, Amazonas, onde representam a criação humana (Azevedo &
Azevedo 2003). Espécies aquáticas como a sucuri e algumas espécies de
peixes (poraquê, tucunaré e o mussum) são consideradas entidades
protetoras, sendo chamadas "mães de peixe" em algumas localidades (Silva
2007) por se acreditar que protegem os peixes. Reichel-Dolmatoff (1971)
afirmou que as serpentes aquáticas ocupam uma posição especial em
relação aos peixes, sendo consideradas suas progenitoras. Elas aparecem no
começo da estação chuvosa quando os peixes sobem para desovar nas
cabeceiras, e protegem a desova (Ribeiro 1995). O aspecto positivo desses
mitos pode contribuir na preservação das espécies em determinadas
regiões, ainda que o costume varie entre os diferentes grupos humanos
(Silva 2007).
132
Répteis e as populações humanas no Brasil
As espécies de répteis brasileiras e seus derivados são comumente
vendidas em mercados ou lojas especializadas em artigos místicos e
procurados principalmente por seguidores de cultos afro-brasileiros. Os
animais são ocasionalmente vendidos inteiros ou retalhados (separados por
carne, pele, cauda, olhos, cabeça, dente, cloaca, gordura, chocalho e
carapaça) (Figura 2), sendo que um único espécime fornece a matéria-
prima a ser utilizada para muitos fins (Alves 2006b; Alves & Pereira Filho
2007). Muitas vezes o uso de alguns répteis no Brasil é semelhante aqueles
da África, refletindo claramente a influência africana quando servem para
invocação ou conciliação com deuses (Orixás). A cabeça de B. constrictor
(jibóia) ilustra bem esse fato, sendo usada com a mesma finalidade daquela
da P. sebae, por exemplo.
Figura 2. Exemplos de répteis e partes derivadas comercializadas para fins
medicinais e mágico-religiosos na cidade de São Luís, MA. A -
Tamanquaré (Uranoscodon superciliosus), B - guizo de cascavel
(Caudisona durissa), cabeças de jibóia (Boa constrictor) e jacaré (Cayman
sp), C e D - Couro de jacaré (Cayman sp.). Fotos: Rômulo Alves.
Além de animais inteiros ou suas partes, produtos derivados de
répteis (águas, perfumes e pó) são comercializados nas cidades brasileiras.
Águas ou perfumes são produtos que contêm partes dos répteis imersos em
133
Alves et al.
líquidos como o álcool, água de rosas, ou soluções que contenham outros
materiais vegetais. As águas "ou" perfumes "são misturados com água
durante o banho ou utilizados como um perfume após o banho. Acredita-se
que este procedimento vai tornar o usuário capaz de alcançar sucesso
financeiro e no amor (Alves 2006b; Alves & Pereira Filho 2007). O pó é
produzido a partir de animais ou suas partes, que são secas ao sol e
trituradas até a obtenção de um pó fino. Espécies de répteis utilizados para
a elaboração de "águas" ou "perfumes" e ―pó‖ são B. constrictor (jibóia),
U. superciliosus (tamaquaré), Chelonoidis carbonaria (jabuti) e C.
denticulata (jabuti).
Outro produto derivado de répteis que é muito apreciado no comércio
popular são os "patuás". Trata-se basicamente de amuletos usados ao redor
do pescoço, colados sobre a roupa ou mantidos no bolso ou carteira. São
objetos de forma quadrada ou redonda feitos em couro ou material sintético
que no seu interior portam restos de animais como pele de serpente ou olho
de boto (Sotalia fluviatilis, S. guianensis ou Inia geoffrensis) (Alves &
Rosa 2008). Segundo os donos de lojas em que este material é
comercializado, tais amuletos são bastante populares entre clientes que
procuram boa sorte no amor e sucesso financeiro (Alves 2006b; Alves &
Pereira Filho 2007).
Existe uma grande sobreposição na utilização de espécies assim como
uma mesma espécie pode ser utilizada para várias finalidades mágicas
religiosas. Por exemplo, B. constrictor pode ser vendida em partes: pele,
cauda, cloaca, olhos, cabeça, fezes, gordura e dentes, além de servirem
como matéria prima para produção de águas e pó. O uso desses produtos
tem várias indicações, tais como sucesso no amor, sucesso financeiro, com
jogo de apostas, com viagens e relações comerciais (Alves 2006b; Alves &
Pereira Filho 2007).
Répteis como animais de estimação
Nas ultimas décadas, a demanda mundial para répteis
comercializados em pet shops tem aumentado. Segundo Hoover (1998), os
répteis são os animais de estimação em moda por causa da maior
disponibilidade e variedade de espécies, do incremento das técnicas de
criação em cativeiro, das maiores restrições ao comércio de outras espécies
de animais e, principalmente, porque, pelos seus hábitos, necessitam menos
cuidados que mamíferos e aves.
No Brasil, há pelo menos 17 espécies de répteis usados como pets,
sobretudo quelônios (sete espécies, 41,17%), mas também lagartos e
serpentes. Algumas espécies exóticas fazem parte da lista de répteis de
estimação comercializadas no Brasil. Dentre os lagartos, exemplos de
134
Répteis e as populações humanas no Brasil
espécies que são comumente utilizadas são T. merianeae (teiú) e I. iguana
(camaleão).
Dos quelônios usados como pets, as duas espécies de jabutis C.
carbonaria e C. denticulata estão entre as espécies mais criadas, fato que
pode estar associado ao fato de se tratarem de animais dóceis, rústicos,
fáceis de serem capturados e, possivelmente, também por estarem
associados à crendice popular de que quem os possui em casa se previne
contra doenças como bronquite e asma (Alves et al. 2009a). Segundo
Fitzgerald (1989) e Lopes (1991), Chelonoidis sp. é o réptil mais
freqüentemente comercializado, tanto em mercados e feiras no Brasil
quanto no mercado internacional, com destinação para pet shops, coleções
privadas e zoológicos.
Em trabalho sobre répteis descartados por mantenedores particulares
e entregues ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
(RAN), em Goiânia, estado de Goiás, constataram que as espécies mais
comuns foram: Trachemys scripta (tigre d’água americano ou tartaruga de
orelha vermelha), espécie exótica originária do sul dos Estados Unidos, e T.
dorbigni (tigre d’água brasileiro), endêmica no sul do Rio Grande do Sul
(Souza et al. 2008). Ambas são muito procuradas como animais de
estimação e, em geral, comercializadas ilicitamente. Essa comercialização
ocorre quando as tartarugas estão com 4 ou 5 cm de comprimento, embora
possam atingir cerca de 30 cm na fase adulta. A primeira é a mais
comumente encontrada no comércio nacional de pets, apesar de sua
importação estar proibida desde 1991. A segunda, embora endêmica no Rio
Grande do Sul, encontra-se disseminada em outros estados brasileiros
(Souza et al. 2008).
Dentre as serpentes, a preferência por espécies da família Boidae,
principalmente a jibóia (B. constrictor), talvez esteja relacionada ao fato de
não serem peçonhentas, oferecendo assim menos riscos durante sua
manipulação. Entretanto, espécies peçonhentas são criadas, mas em menor
freqüência. Conforme destaca Souza et al.(2008), a manutenção de
serpentes peçonhentas exóticas em casa, oferece sério risco de mordidas
para as quais não existe soro específico no Brasil, o que pode acarretar a
morte. No caso dos jacarés, embora também sejam criados como pets,
principalmente filhotes, animais desse grupo não são tão comuns como
lagartos, quelônios, e serpentes não peçonhentas.
A maior parte dos espécimes usados como animais de estimação são
adquiridos através do comércio clandestino, portanto representando uma
prática ilegal. Além de grave problema intrínseco, o comércio ilegal de
animais silvestres acaba gerando um problema secundário quando a pessoa
que o comprou, motivada por medo de punição, por arrependimento ou
simplesmente por perder o interesse em criá-lo, decide não mais ficar com
135
Alves et al.
o animal. Nesse momento, o proprietário tem duas opções para desfazer- se
do animal: (1) a tentativa de devolução ou a doação para uma instituição
que possa abrigá-lo ou dar-lhe uma destinação segura, ou (2) o abandono
do animal em um lugar aleatório, sem qualquer critério ou preocupação
(Souza et al. 2008).
A soltura indiscriminada também pode criar outros problemas
ecológicos, sobretudo quando se trata de espécies não nativas. A introdução
de espécies exóticas, como a tartaruga de orelha vermelha ou tigre d’água
americano (T. scripta) pode provocar danos à biota local. Segundo Ribeiro
(2004), esse quelônio: (1) compete por alimento com espécies nativas, (2)
exerce predação (por exemplo sobre girinos, pequenos peixes e
invertebrados), (3) pode entrar em processo de hibridização com outras
espécies do mesmo gênero e (4) introduzir parasitas e doenças. Todos esses
fatores podem resultar no desequilíbrio das populações locais.
Outro problema é que, quando submetidos à condições estressantes
decorrentes de captura, transporte, colocação em novo ambiente, mudança
alimentar, manejo ou exposição em pet shops, os animais sofrem queda da
capacidade imunológica, podendo desenvolver quadros infecciosos. Em
geral, os répteis são portadores assintomáticos de Salmonella spp. e, nas
situações descritas acima, o processo infeccioso é ativado, com
conseqüente eliminação desse parasita pelas fezes. Uma vez tendo sido
eliminada por animais infectados, a Salmonella apresenta alta resistência
no ambiente. Dessa forma, não somente o contato direto com o animal, mas
também a manipulação do local em que é mantido pode levar à infecção
humana (Grespan 2001; Fornazari 2009).
Os répteis como seres nocivos às populações
tradicionais Os répteis ao mesmo tempo em que apresentam amplo valor utilitário
podem ser também encarados como animais daninhos e associados ao mal,
considerados verdadeiras pragas e por esses motivos caçados e mortos
(Alves et al. 2009b). Nesse contexto, uma determinada espécie pode ser
abatida por se tratar de uma praga e ter seus subprodutos aproveitados para
diferentes finalidades. Um bom exemplo são os teiús (T. merianae ou o T.
teguixin) que são comumente mortos para evitar que comam ovos e filhotes
de galinha. Os subprodutos do consumo de teiús são aproveitados na
ornamentação e medicina popular (Nishida et al. 2004; Alves & Rosa
2006; Alves et al. 2009a; Confessor et al. 2009; Ferreira et al. 2009; Alves
et al. 2010). As serpentes peçonhentas como a cascavel (C. durrisa), coral
(Micrurus sp.) e jararaca (Bothropoides leucurus) são mortas como medida
preventiva, pois podem morder animais domésticos ou pessoas. Os seus
136
Répteis e as populações humanas no Brasil
subprodutos (chocalho, gordura) são depois aproveitados principalmente
como remédios (Alves & Rosa 2006).
No caso das serpentes peçonhentas, estas podem causar a morte de
caprinos, ovinos e bovinos causando prejuízos significativos para os
criadores rurais. Trinca & Ferrari (2006), em trabalho realizado no Estado
do Mato Grosso, Brasil, relatam que alguns caçadores locais são a favor do
extermínio de todos os predadores com potencial para atacar os humanos
ou os animais domésticos, mesmo que estes predadores vivam no seu
ambiente natural e longe dos humanos. Isso é reforçado pelo fato de muitas
pessoas acreditarem que todas as cobras sejam perigosas e agressivas
(Marcum 2007).
Ainda que reconheçam que nem todas as serpentes representem
perigo, as pessoas normalmente se referem a elas através de palavras
pejorativas como feio, repugnante, repulsivo, cruel, traiçoeiro, vicioso,
vingativo, ofensivo, etc. (Araújo 1978), que são termos usados para
designar atitudes ou traços da personalidade humana. Uma pesquisa
realizada no semi-árido paraibano por Alves et al. (2009b) atesta que
moradores locais não matam apenas serpentes venenosas mas igualmente
indivíduos não-venenosos, porque despertam neles medo e repugnância, ou
simplesmente por acreditarem que são potencialmente perigosas. As
populações locais também costumam incluir anfisbenídeos na lista por
terem uma morfologia similar às serpentes. Em trabalho realizado no
município de Pedra Branca, Bahia, Santos-Fita et al. (2010) registraram
que os moradores locais têm um comportamento negativo forte em relação
as serpentes, matando-as sempre que possível.
A explicação mais lógica para tamanha antipatia está nos mitos
associados às serpentes, que alimenta o medo natural das pessoas por esses
animais. No folclore de muitos povos abundam lendas, fábulas e contos
onde a serpente sempre aparece como um animal astuto e de má índole
(Vainer 1945). Estas narrativas quase sempre são fruto de interpretações
incorretas dos fatos, que permaneceram arraigadas no inconsciente popular
ao longo das gerações e que são difíceis de apagar. Isso é mitigado pela
presença de algumas lendas nas quais as serpentes não são vistas como
animais malignos. Por causa das mudanças periódicas de pele, as serpentes
simbolizam a saúde e a vida nova para algumas culturas, e sua presença nas
habitações é interpretado como bom augúrio, prognosticando a chegada da
felicidade (Santos 1987).
Muitos répteis são abatidos por serem considerados potencialmente
perigosos e os dados da literatura mostram que um total de 29 espécies de
jacarés, serpentes e lagartos brasileiros são freqüentemente mortos por esse
motivo (Marques 1995; Alves et al. 2009b; Santos-Fita et al. 2010). Tudo
isso reforça a afirmação de Marques (1995), na qual a conexão do homem
137
Alves et al.
com o componente zoológico é repleta de contradições e ambigüidades,
uma vez que a fauna nativa tanto pode se constituir em fonte de recursos
quanto na possibilidade de riscos para o homem e seus animais domésticos.
Os conflitos entre homem e animais não se restringe aos répteis, se
estendendo a outros grupos, tais como mamíferos, sobretudo os carnívoros
(Conover 2002; Graham et al. 2005; Marshall et al. 2007; Alves et al. 2009b;
Inskip & Zimmermann 2009). Conflitos ocorrem quando as necessidades e o
comportamento de animais se chocam com os objetivos dos seres humanos,
ou quando os desejos humanos geram impactos negativos para a vida
selvagem. Estas relações podem ocorrer quando animais selvagens danificam
colheitas, ferem ou mata animais domésticos, ameaçando ou matando
pessoas (Kaltenborn et al. 2006; Treves et al. 2006). Conexões conflitantes
entre vida selvagem e comunidades humanas despertam muito interesse e
representam um grande desafio para os conservacionistas, que procuram
encontrar uma saída que beneficie ambas as partes.
Tabela 1. Espécies de répteis e respectivas finalidades de uso ou relações
conflituosas no Brasil. A- alimentar, M- medicinal, MR- mágico religioso,
AE- animais de estimação, O- Ornamento e decoração, RC- Relação
conflituosa.
Familia /Espécies/ Nome popular A M MR AE O RC
Jacarés
Alligatoridae
Paleosuchus palpebrosus - (Cuvier,
1807) ―jacaré coroa‖, ―jacaré‖, ―jacaré-
preto‖, ―crocodilo‖
X X X X X X
Paleosuchus trigonatus - (Schneider,
1801) ―jacaré‖
X X
Caiman crocodilus – (Daudin, 1802)
―jacaré tinga
X X X X X X
Caiman latirostris – (Daudin, 1802)
―jacaré-do-papo-amarelo‖
X X X X X X
Melanosuchus niger – (Spix, 1825)
―jacare açú‖
X X X X X
Paleosuchus trigonatus - (Schneider,
1801) ―jacaré coroa‖
X X X X X X
Serpentes
Boidae
Boa constrictor – Linnaeus, 1758
―boa‖,―jibóia‖
X X X X X X
138
Répteis e as populações humanas no Brasil
Corallus caninus – (Linnaeus, 1758)
―cobra papagaio‖
X X
Corallus hortolanus - (Linnaeus, 1758)
―cobra de veado‖, ―cobra veadeira‖
X X
Eunectes murinus – (Linnaeus, 1758)
―sucurujú‖, ―sucuri‖
X X X X X
Epicrates cenchria – (Linnaeus, 1758)
―salamanta‖
X X X
Epicrates assisi Machado, 1945 X X X
Colubridae
Spilotes pullatus – (Linnaeus, 1758)
―caninana‖
X X X
Leptophis ahetula – (Linnaeus, 1758)
―cobra cipó‖
X
Oxybelis aeneus – (Wagler, 1824)
―cobra cipó‖
X
Tantilla melanocephala – (Linnaeus,
1758) ―cobra rainha‖, ―cobra do
folhiço‖
X
Mastigodryas bifossatus – (Raddi, 1820)
―jaracuçú‖
X X
Dipsadidae
Boiruna sertaneja Zaher, 1996 – ―cobra
preta‖
X
Drymarchon corais (Boié, 1827) X
Oxyrhopus trigeminus – Duméril,
Bibron & Duméril, 1854 ―falsa coral‖,
―tricolor‖
X X X
Philodryas olfersii – (Lichtenstein,
1823) ―cobra verde‖
X
Philodryas nattereri – Steindachner,
1870 ―corre-campo‖
X
Xenodon merremii (Wagler, 1824) –
―focinho-de-cachorro‖
X
Liophis viridis – Günther, 1862 ―cobra
verde‖, ―cobra d’água‖
X
Pseudoboa nigra – (Duméril, Bibron &
Duméril, 1854) ―cobra preta‖
X
Sibynomorphus neuwiedii – (Ihering,
1911)
X
139
Alves et al.
Viperidae
Bothrops leucurus - Wagler, 1824
―jararaca‖
X X
Lachesis muta - (Linnaeus, 1766)
―surucucu pico-de-jaca‖
X X
Caudisona durissa - (Linnaeus, 1758)
―cascavel‖
X X X X X
Bothriopsis bilineata bilineata – (Wied,
1825) ―surucucu-de-pindoba‖, ―pingo-
de-ouro‖, ―two-striped forest pitviper‖
X
Elapidae
Micrurus ibiboboca - (Merrem, 1820)
―cobra-coral‖
X
Quelônios
Chelidae
Phrynops geoffroanus – (Schweigger,
1812) ―cágado‖
X X X
Phrynops tuberosus (Peters, 1870) –
(Peters, 1870) ―cágado‖
X X X
Chelus fimbriatus - (Schneider, 1783) X X
Mesoclemmys nasuta - (Schweigger,
1812)
X X
Platemys platycephala - (Schneider,
1792)
X
Mesoclemmys tuberculata –
(Lüderwaldt, 1926) ―cágado‖, ―cágado-
d’água‖
X X
Cheloniidae X
Caretta caretta - (Linnaeus, 1758)
―tartaruga cabeçuda‖
X X
Chelonia mydas - (Linnaeus, 1758)
―tartaruga verde‖, ―aruanã‖
X X
Eretmochelys imbricata – (Linnaeus,
1766) ―tartaruga de pente‖
X X
Lepidochelys olivacea - (Eschscholtz,
1829) ―tartaruga verde‖
X X
Dermochelyidae
Dermochelys coriacea – (Linnaeus,
1766) ―tartaruga de couro‖
X X
140
Répteis e as populações humanas no Brasil
Emydidae
Trachemys dorbigni (Duméril & Bibron,
1835)
X
Geoemydidae
Rhinoclemmys punctularia - (Daudin,
1801)
X X
Testudinidae
Chelonoidis carbonaria - (Spix, 1824)
―jabuti‖
X X X X X
Chelonoidis denticulata – (Linnaeus,
1766) ―jabuti‖
X X X X X
Podocnemididae
Podocnemis expansa - (Schweigger,
1812) ―tartaruga da amazônia‖
X X X
Podocnemis unifilis – Troschel, 1848
―tracajá‖
X X X X
Podocnemis sextuberculata - Cornalia,
1849
X X X
Peltocephalus dumeriliana –
(Schweigger, 1812) ―cabeçuda‖
X X X
Podocnemis erythrocephala - (Spix,
1824)
X X
Family Kinosternidae X
Kinosternon scorpioides (Linnaeus,
1758 ―muçuã‖
X X
Family Geoemydidae X
Rhinoclemmys punctularia (Daudin,
1801)
X
Lagartos
Iguanidae
Iguana iguana - (Linnaeus, 1758)
―camaleão‖, ―iguana‖
X X X
Teiidae
Ameiva ameiva – (Linnaeus, 1758)
―sardão grande‖, ―bico doce‖
X
Cnemidophorus ocellifer – (Spix, 1825)
―sardão pequeno‖, ―calanguinho‖,
―calango‖
X
Tupinambis merianae – (Duméril &
Bibron, 1839) ―tegu‖, ―tejuaçú‖, ―teiú‖
X X X X X
141
Alves et al.
Tupinambis teguixin – (Linnaeus, 1758)
―tejuaçú‖
X X X X X
Tropiduridae
Tropidurus hispidus - (Spix, 1825)
―lagartixa‖, ―catenga‖, ―catexa‖
X
Tropidurus semitaeniatus – (Spix, 1825)
―lagartixa-de-lajedo‖
X
Tropidurus torquatus – (Wied, 1820)
―lagartixa‖
X
Uranoscodon superciliosus - (Linnaeus,
1758) ―tamaquaré‖
X X
Gekkonidae
Hemidactylus mabouia - (Moreau de
Jonnès, 1818) ―lagartixa‖, ―briba‖
X
Phyllodactylidae
Phyllopezus periosus Rodrigues, 1986 -
―briba‖
X
TOTAL DE ESPÉCIES
REGISTRADAS = 64
TOTAL 26 47 16 17 25 29
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