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Trilha sonora,"ao vivo " requentado, glamourizaçã o do crime, erros de informaçã o e uma enxurrada de opiniõe s contundentes fora de hora . Críticos, professores e especia- listas apontam os problema s gerados pela pressa e pela cor- rida pela audiência no dia e m que São Paulo paro u POR PEDRO VENCESLA U COLABORARAM BARTIRA BETINI , LUCAS KRAUSS E RAFAEL COST A Q uem observava, do pis o superior, a Estação S é do metrô de São Pau - lo no meio da tarde d o dia 15 de maio, via um a multidão apavorada a entrar, como podia, no s vagões que já passavam na estaçã o - entroncamento das linhas norte - sul e leste-oeste - lotados . Enquanto os paulistanos, liberados do trabalho , corriam rumo a suas casas, emissora s de rádio e televisão noticiavam um a guerra doméstica provocada pelo s ataques do PCC, a facção criminos a Primeiro Comando da Capital, e m diversos pontos da cidade . As ima- gens eram aterradoras : ônibus quei- mados, tiros em delegacias, membros da Polícia assassinados . Às 20 horas , as ruas estavam vazias . Não pareci a São Paulo. Orson Welles - o diretor de ci- nema norte-americano, criador d o festejado " Cidadão Kane " - deixo u escola para nossos contemporâne- os . Em 1938, Welles transmitiu, pel a CBS, " Guerra dos Mundos". No pro - grama de rádio, que simulava flashes jornalísticos, a terra era invadida po r marcianos . E o pânico se instalou n a América . O Daily News do dia seguin- te publicava: " Guerra falsa no rádi o espalha terror pelos Estados Unidos " . A aproximação entre Welles e a onda de ataques do PCC em São Pau - lo não é gratuita . Aquela segunda-fei- ra foi o dia menos violento da onda d e ataques, que inaugurou na sexta-fei- ra, a guerra do PCC contra o Estado , em represália à transferência de 70 0 presos para a penitenciária de segu- rança máxima de Presidente Vences- lau . Foi na segunda, porém, que Sã o Paulo entrou em pânico . Boa parte d a histeria da população foi alimentad a pelos boatos virtuais, difundidos co m intuito puro e simples de apavorar as massas conectadas . Mas nem todas as explicações para a catarse coletiv a que dominou os paulistanos deve se r creditada aos psicóticos da web. " Er a um momento de comoção pública. A cobertura devia ter mantido o equilí- brio, a cautela e a precisão das infor- mações, para que a sociedade voltass e à normalidade . Mas o que vimos fo i a transformação da notícia em espe- táculo" ; critica o sociólogo, jornalis- ta e professor de pós-graduação d a Faculdade Cásper Libero, Laurind o Leal Filho . Um dos nomes mais acio- nados pelas redações para comentar a cobertura da crise, Leal tem seus alvo s na ponta da língua . " Eu tive a opor - 24 IMPRENSA - N' 213 - JUNHO - 2006

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Trilha sonora,"ao vivo"requentado, glamourizaçãodo crime, erros de informaçãoe uma enxurrada de opiniõe scontundentes fora de hora .Críticos, professores e especia-listas apontam os problema sgerados pela pressa e pela cor-rida pela audiência no dia e mque São Paulo paro u

POR PEDRO VENCESLAU

COLABORARAM BARTIRA BETINI ,

LUCAS KRAUSS E RAFAEL COST A

Quem observava, do pisosuperior, a Estação Sédo metrô de São Pau-lo no meio da tarde dodia 15 de maio, via um amultidão apavorada aentrar, como podia, no s

vagões que já passavam na estação- entroncamento das linhas norte -sul e leste-oeste - lotados . Enquantoos paulistanos, liberados do trabalho ,corriam rumo a suas casas, emissora sde rádio e televisão noticiavam um aguerra doméstica provocada pelo sataques do PCC, a facção criminos aPrimeiro Comando da Capital, e mdiversos pontos da cidade . As ima-gens eram aterradoras : ônibus quei-mados, tiros em delegacias, membros

da Polícia assassinados . Às 20 horas ,as ruas estavam vazias . Não pareci aSão Paulo.

Orson Welles - o diretor de ci-nema norte-americano, criador d ofestejado "Cidadão Kane" - deixouescola para nossos contemporâne-os. Em 1938, Welles transmitiu, pel aCBS, "Guerra dos Mundos". No pro -grama de rádio, que simulava flashesjornalísticos, a terra era invadida pormarcianos. E o pânico se instalou n aAmérica . O Daily News do dia seguin-te publicava: "Guerra falsa no rádi oespalha terror pelos Estados Unidos".

A aproximação entre Welles e aonda de ataques do PCC em São Pau-lo não é gratuita . Aquela segunda-fei-ra foi o dia menos violento da onda d eataques, que inaugurou na sexta-fei-ra, a guerra do PCC contra o Estado ,em represália à transferência de 700presos para a penitenciária de segu-

rança máxima de Presidente Vences-lau . Foi na segunda, porém, que Sã oPaulo entrou em pânico . Boa parte dahisteria da população foi alimentad apelos boatos virtuais, difundidos comintuito puro e simples de apavorar asmassas conectadas . Mas nem todasas explicações para a catarse coletiv aque dominou os paulistanos deve sercreditada aos psicóticos da web. "Eraum momento de comoção pública. Acobertura devia ter mantido o equilí-brio, a cautela e a precisão das infor-mações, para que a sociedade voltass eà normalidade . Mas o que vimos fo ia transformação da notícia em espe-táculo"; critica o sociólogo, jornalis-ta e professor de pós-graduação d aFaculdade Cásper Libero, Laurind oLeal Filho . Um dos nomes mais acio-nados pelas redações para comentar acobertura da crise, Leal tem seus alvosna ponta da língua . "Eu tive a opor -

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tunidade de assistir ao ` Fantástic o ' nodomingo e pude observar que ele susaram toda a competência que ele spossuem para montar um espetáculo .Eles fizeram, no domingo, com qu eos paulistanos dormissem com a sen-sação de uma cidade dominada pel oterror. Usaram músicas e vinheta spara montar um espetáculo audio -visual . Tive a impressão que boa partedo temor das pessoas na segunda-fei-ra foi resultado delas terem ido dor-mir com as imagens do `Fantástic o ' n acabeça", avalia o professor. "Não fize -mos nenhum apelo sensacionalista .Concordo que a primeira das oitomatérias do ` Fantástico' não deveri ater tido música . Mas isso é um deta-lhe . Nós não editorializamos . A art eque fizemos na edição não foi sen-sacionalista . Nos atentados da Espa-nha, nos EUA fizeram o mesmo", de -fende-se Luiz Latgê, diretor de jorna -

lismo da Globo, em São Paulo . "Fo-mos cuidadosos . Apesar de ser umacobertura ao vivo, onde tínhamo sque tomar as decisões na hora, nãousamos, em nenhum momento, orecurso de usar imagens antigas co mo selo de ao vivo, nem colocamos in -formações no ar sem confirmação";completa Latgê, discretamente pro-vocando a concorrência .

■ 0 recorde de Rezende . A promo-çâo de Maria

Outro alvo preferencial das crí-ticas do media criticism, e da própri apolícia, foi o ex-global Marcelo Re-zende, hoje estrela máxima da Red eTV! . Ele dominou a tarde e a noiteda segunda-feira no canal e atingiu amaior audiência da história do canal.Das 21 horas e 10 minutos ãs 23 hora se 05 da segunda-feira, a emissora fi-cou em segundo lugar no Ibope, atrá sapenas da Rede Globo . O ponto altodo programa foi um "duelo " entre oapresentador e a então major Mari aAparecida de Carvalho Yamamoto ,chefe interina do setor de comunica-ção social da Polícia Militar. Ela tele -fonou para a redação da RedeTV! efoi atendida, ao vivo, por Rezende ."Ela entrou no ar, no meio daquel aconfusão toda, quando a gente tinhaacabado de mostrar uma pessoa quehavia sido baleada pela polícia sendolevada para o hospital, para dizer queestava tudo calmo. Aí eu perguntei :não está acontecendo nada?'. Ela dis-

se : ` Não" , conta Marcelo Rezende . En -quanto ouvia-se a voz da major, a telada RedeTV! mostrava cenas dos ôni-bus queimados e do caos na cidade ."Ele anunciou que as universidade shaviam sido orientadas pela polícia aliberar os alunos e isso não existiu . O

programa ( do Marcelo Rezende) fe zmuito alarde e isso criou pânico napopulação", disse Maria Yamamoto,no dia seguinte, ao jornal O Estado de

S.Paulo . Ainda para o jornal, afirmo uque Marcelo Rezende tinha apena sduas informações mas as repetia d etal maneira, que a impressão que s etinha era que a situação da cidade er amuito mais grave do que realmenteera ."O tempo todo era exibida a mes-ma imagem, parecia que o número d ecasos era muito maior. Quando el edesmentiu alguns dados já era tarde .O impacto já havia sido criado", dissea major. A informação da oficial d aPolícia, de fato, procede: as imagen sreprisadas à exaustão por Marcelo Re -zende e seus colegas de outras emisso -ras, eram velhas . O uso do vídeo-tapereinou na transmissão ao vivo . Umasemana depois, Major Maria foi pro -movida a tenente-coronel .

"A RedeTV! foi uma das mai ssensacionalistas na cobertura (da cri-se) . Eles extrapolaram qualquer limit ede responsabilidade de uma TV pú-blica . Em um país sério, a RedeTV!, s enão perdesse a concessão, pelo menosreceberia uma advertência", comentao professor Leal . No caderno "Me-trópole", do Estadão, o professor d eÉtica e Filosofia da USP, Renato Jani-ne Ribeiro deu sua contribuição par aa polêmica . "A TV está contribuind opara uma sociedade mais vingativa".Rezende se defendeu : "Os teórico spodem dizer o que quiserem, eu vivoa realidade do mundo. Esses cara sficam de plantão esperando para res-ponder o que os jornalistas querem.Você já reparou que são os mesmo scomentando? Sempre a mesma cor-riola, o mesmo grupelho, que é asso -ciado a um grupo de jornalistas . O re -pórter liga e a resposta já vem pront a".

video-tape

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Entrevistas exclusivascom líderes do PCC feitaspela Band e Record deixa mde ser manchetes para vira rpauta dos cadernos policiais .Seriam as fontes verdadei-ras? E se forem, estariam o sjornalistas fazendo apologiaou glamourizando o crime ?

Depois da conversa exclusi-va com o jornalista e réuPimenta Neves - divul-gada no começo de mai o

(veja matéria na pág. 32), a entrevist acom o número um do PCC, MarcosWillians Herbas Camacho, vulgoMarcola, tinha tudo para coroar omelhor momento de Roberto Cabrin ina Band . A façanha foi ao ar no últi-mo dia 19 de maio, durante o "Jornalda Noite " : "Entrevista exclusiva como líder do Primeiro Comando daCapital" ( veja box) . Dos habituais doi spontos no Ibope, Cabrini saltou aoscinco . E virou notícia no dia seguin-te, como manda o figurino em dia d efuro . Só que nesse caso, notícia ruim .

O governador de São Paulo ,Cláudio Lembo precisou de apenasuma declaração para colocar a entre -vista sob suspeita diante da opiniã opública . "Segundo me informa o se-cretário Nagashi Furukawa ( da Admi-nistraçno Penitenciária) é uma entre -vista absolutamente irreal, portanto ,devo compreender que meu secretárioesteja certo e eventualmente houve u mequívoco na captação dessa voz ( . . .)Éclaro que Marcola está incomunicável".

A reação foi imediata . Além de da -rem eco à entrevista de Lembo, a maio -ria dos portais de hardnews optou portirar a entrevista do ar. "Nós tiramos anota porque a Band não se pronuncioue não atestou que era verdade . Estamosesperando o pronunciamento até hoj e( 29 de maio) ' , explica Cleide Carvalho ,coordenadora de conteúdo do portalGlobo .com em São Paulo . "O impor-tante daquela entrevista não era o queo Marcola estava dizendo, mas o fatodele estar usando um celular dentro da

Alôpenitenciária"; completa.

A auséncia da entrevista durant eo "Jornal Naciona l " daquela noite fo ia senha para a repercussão dos jor-nalões no dia seguinte . "Verdade o uarmação?"; manchetou o caderno d epolícia do "Jornal da Tard e " . Em re -portagem de meia página, o jorna lrelembrou o caso "Gugu Liberato ",que foi condenado a pagar multa deRS 750 mil por exibir uma falsa entre -vista com supostos líderes do PCC em2003 . A matéria ainda informou qu eo Ministério Público Estadual estavadisposto a denunciar a emissora po rapologia ao crime e que a Polícia Ci-vil já havia instaurado inquérito paraapurar esse delito .

Sob suspeita e diante da hesita-ção da Band em partir em sua defesa ,Cabrini se recolheu. Procurou evitaros jornalistas. Depois de alguma insis-

? É doténcia, acabou falando . " Na pior dashipóteses. . .se não for o Marcola, é u mporta-voz designado por ele para falar.Não tenho a menor dúvida de que éuma liderança do PCC . Isso é inques-tionável'; disse, para IMPRENSA .

A revisão do furo pelo próprioCabrini significa que é bem possívelque a "voz" em questão não seja a deMarcola . Nas redações concorrentes épraticamente um consenso que o fur onão passou de uma barriga, enquant oesperavam pelo resultado das perícia sfeitas pela Polícia Civil, para atestar averacidade da entrevista .

Cabrini promete para breve umareportagem definitiva sobre o assun -to . "Pode esperar, vocé vai ver. . .". Edesabafa . "O PCC tem um sofisticad osistema de comunicação . Ele ( Marco -la) é um dos poucos que não precis ase identificar. Tenho cinco testemu -

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Band, a Record foi rápida na defesade seu jornalista e logo elaborou um anota oficial . "Não existe armação . Amulher do Macarrão se identifico ue ligou para ele de frente do presídio .Nosso material saiu até no Financia lTimes. Quem tem que se explicar é aSecretaria de Administração Peniten-ciária. Como é que estes presos tê mcelular dentro da prisão? ", questionouLuis Malavolta, coordenador-geral d eprodução da emissora .

■ Confira os melhores momentos dapolêmica entrevista de Roberto Cabrin icom o suposto Marcola

Sob fogo cerrado: as entrevistas de Roberto Cabrini com Marcola e da Record com "Macarrão;vice-líder do PCC, foram os alvos preferidos dos críticos de TV

nhas que reconheceram a voz dele".As primeiras fontes de Cabrini n o

PCC datam dos primórdios da facçã ocriminosa, em Taubaté, nos anos 90 .Foi durante a cobertura de uma rebe-lião no presídio local que o jornalistaconheceu uma advogada da organi-zação, que viria a ser assassinada anosmais tarde. Foi ela quem lhe ensinouo caminho das pedras .

■ 0 Macarrão da Record

Outra emissora que despertoua ira do poder público paulista fo ia Record . Na terça-feira depois do sataques, a Rádio e a TV Record di-vulgaram entrevista que teria sid oconcedida por celular por Orland oMota Jr., vulgo Macarrão, apontado

como número dois do PCC . O furo ,nesse caso, foi fruto da sorte . Um re-pórter da Rádio Record flagrou a es -posa do criminoso ligando para ele econseguiu captar a história . O canalda Igreja Universal fez companhia àBand na nota de repúdio da Secretá-ria de Administração Penitenciária ,que decidiu " tomar as medidas neces-sárias para responsabilizar, civil e cri-minalmente, os autores".

"Cá entre nós, quantos amigoschamado Macarrão você já teve nainfância? Qualquer sujeito no presí-dio pode chamar Macarrão . Quemgarante que esse é o vice-líder da fac-ção?" provoca o jornalista de umaemissora que prefere não se identifi-car. Dor de cotovelo? Pode ser . Acon-tece que, nesse caso, ao contrário da

Roberto Cabrini - Por que o PCC decidiu fa -zeros ataques?

"Marcola"- Bom, a gente decidiu porque,por meios legais, fizemos vários apelos, pelaConstituição e pela lei que nos ampara, de ter ad -vogados e os direitos que reza a lei para o preso .Eles tomaram a iniciativa de remover e ferira mtoda essa lei, numa decisão arbitrária( . .) Foi a íque resolvemos chamaratenção poressa forma .

Cabrini - Os ataques começaram na sexta-feira . Quando eles foram decididos ?

"Marcola" - Foi decidido na própria sex-ta-feira . Tentamos resolver de forma legal, masderam as costas. Eles sabiam que, se fizessem re -moção, mexeriam na ferida . Sem os ataques nãoseríamos ouvidos.

Cabrini - 0 que pode acontecer se asautoridades subestimarem o poder do crim eorganizado ?

"Marcola" - Não sei . Só sei que estamo spreparados para muito mais . Estamos procu-rando meios de resolver a situação , mas ele snão estão querendo, estão agindo de form avirtual, declarando guerra. ( . . .) . As duas parte stêm poderfogo.

Cabrini -0 que fez osataques cessarem ?"Marcola"- Causou o efeito que era neces-

sário. Usamosos ataques para chamara atenção .

Cabrini - Houve acordo com as autoridade spara pararcom os ataques?

"Marcola"- Da minha parte não .(Veja entrevista na íntegra no site www.

portalimprensa.com .br)

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ito novos coletes à provade bala, iguais aos da po -lícia, chegaram à sede d aTV Bandeirantes, em São

Paulo, na última semana de maio . Fo iuma encomenda do departamento dejornalismo para os repórteres que vã opara a rua . No quartel-general da Red eGlobo paulista, à beira da Margina lPinheiros, a frota de carros blindado sfoi reforçada. Os ataques terrorista spromovidos pelo PCC, em maio, fi -

ram da pauta São Paulo uma verda -a cobertura de guerra,Guardada s

devidas proporçõpcle-se dizerue o rror instalacfó na cidade pel o

crime izado foi onosso 11 deu .etemb . m marco no jornalismo

brasileiro. de Marcola - o Bi nLaden da vez unca o aparato jorna-lístico nacional havia sido submetid oa tamanha essão. "Nunca houve u mataque t

ontal e violento ao pode rcons o como nestes ataques ' ,avalia Lúíz Latgê, diretor de jornalis -mo da Rede Globo em São Paulo .

Eventos simultâneos, falta de res-postas do poder público, fontes sobre -carregadas, uma cidade em pânico,boatos circulando como um rastilh ode pólvora pela Internet .

Os jornalistas não tinham umareferência matriz, um gabinete d a:crise, como aquele coordenado po rBush e G'

i em 11 de setembro .As po

ò¢w' .'retria de Segnça

Pública e o gabinete do prefeito dis -paravam boletins a esmo, sem nenhu -ma coordenação ou periodicidade ."Houve muito desencontro . Eles (po-der público) deveriam ter criado u mgabinete de crise para controlar que mia se pronunciar e a que hora . A Polí -cia Militar falava num canto e a civi lem outro. As entrevistas acontecera mseparadamente, em horários muita svezes próximos . E nós nem sempreficávamos sabendo. Não recebemotodos os informes. A SecretariaSegurança Pública ligava par amas esquecia de ligar para outros;dispara Cleide Carvalho, coordena-dora dc conteúdo da Globo Onlineem São Paulo . Há quem tenha críticas

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■ Furo ou barriga?: declarações do governador e daSecretaria de Administração Penitenciária colocaram so bsuspeita os maiores furos da crise

mais incisivas ao modo de atuação d aSecretaria de Segurança Pública . An-dré Camarante, repórter de políci ada Folha de S. Paulo, não hesitou e mafirmar que "a função da secretaria éatrapalhar a cobertura da imprensa":

■ Audiência do tamanho do med o

Foi na segunda-feira, 15 de maio ,que a ficha da mídia caiu . E, conse-qüentemente, a da população tam-bém. Acontece que naquele dia o pio rjá tinha passado. " De sexta para sába-do aconteceu o ataque mais violento ,onde morreram os policiais . No do-mingo aconteceu a queima dos ôni-bus . Na segunda, houve o ataque emHigienópolis e mais alguns ônibu squeimados . Mas aquilo não foi nemde longe o pior momento", diz Latgê ,da Globo. Foi na segunda que a audi-ência das TVs bateu todos os recordes .No horário nobre, o número de apa-relhos ligados chegou a 87%, quandoa média é de 78% no máximo . Infor-mou Fabíola Reipert, especialista e mTV do jornal Agora, que o "Jornal

Nacional", que costuma registrar en-tre 35 e 43 pontos de média no Ibope,cravou 53 . As duas edições do "SPTV "atingiram sua maior média do ano :25 e 41 pontos respectivamente . Ain -da segundo Fabíola, a Record deuuma lavada no SBT. Todos os seus te -lejornais ficaram em segundo luga rno Ibope . Na média do dia, a Recor dregistrou 11 pontos, contra 7 do SBT .Marcelo Rezende reviveu seus dias d ehorário nobre global : média de 6, co mpicos de 9,7 pontos . Um fenômen opara a pobre RedeTV !

■ Ressaca editoria l

Na terça-feira, depois do agitad ocomeço de semana, o clima nas reda-ções era de cansaço e de ressaca edito-rial . Embora não houvesse mais guer-rilha urbana a ser noticiada, muitosdos telejornais aproveitavam o res-caldo dos ataques . Coube aos jornai simpressos apresentar as perguntasque, naquele momento, setores dasociedade faziam: qual era a legiti-midade dos mortos pela polícia apó sos ataques? Que uso político poderi aser feito do incidente? Que resposta sa Secretaria de Segurança Pública e oEstado dariam à população?

O caldo de informações desen-contradas e a estratégia do Estado e mrecuar diante dos jornalistas impedi-ram uma cobertura que fizesse dife-rença . Mas a coluna da Mônica Berga-mo, dois dias depois, na Folha, publi-cou o que ninguém imaginou que sai -ria da boca que saiu . O governador d eSão Paulo, Cláudio Lembo, vice qu eassumiu o posto de Geraldo Alckmin ,candidato à presidência da República ,foi direito ao ponto : a responsabilida-de da violência poderia ser atribuída auma "minoria branca, má e perversa".O discurso de um militante do PSO L- o radical partido de Heloísa Helen a- não seria tão incisivo . Tanto que, nasexta-feira, Bob Fernandes, do TerraMagazine, perguntava ao governado rse ele concordava que estava à esquer-da da senadora alagoana .

Os passos de Mônica Bergamo ,Bob Fernandes e do próprio governa -dor, como fonte, deram o tom da co-bertura nos dias seguintes, quando osjornais se esqueceram do sangrent ofinal de semana anterior para questio-nar quais eram, na verdade, as razõe ssociais que levavam à situação qu epermitia ações como aquelas do PCC.Aí o assunto interessava já a poucos .Ninguém mais saiu às ruas . E a vid avoltou como antes nas redações .

■ Luis Malavolta da Record: "Nosso materialsaiu até no Financial Times "

■ Cláudio Lembo: com discurso de militantedo PSOL, conseguiu levantar suspeitas sobre a sreportagens da Record e da Band

■ Marcelo Rezende : recorde de audiënc,a n aRedeTV e bate-boca com Major da polida

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Carlos Nascimento trocou o horário nobre da Band pelo iníci oda madrugada no SBT. No seu novo emprego, além de dividi ro posto de maior estrela do jornalismo da casa com Ana Paul aPadrão, Nascimento tem que trabalhar dobrado . Engana-s equem pensa que o telejornal da meia-noite do SBT é um areprise do das 22 horas . São dois programas diferentes, co mpúblicos-alvo distintos. "Nós temos conteúdos diferentes,

mas nem sempre é possível . . . 0 espaço entre um e outro é muito curtoexplica o veterano âncora . Ao contrário de boa parte de seus colegas ,Nascimento parece nem se importar com os rompantes criativos, nem co mas constantes mudanças de horário promovidos pelo seu chefe Silvio Santos .Aliás, como acontece em boa parte das negociações no SBT, Nascimento fo icontatado pelo próprio patrão, quando ainda restava um ano de contrat ocom a emissora dos Saad . Embora reconheça que não seja uma práticamuito aceitável, Nascimento cancelou o contrato com o Grupo Bandeirante sem troca de uma estrutura de jornalismo que vinha se articulando, nanova casa, desde o ano passado, quando Silvio Santos decidiu reinvesti rno jornalismo e recuperar parte da audiência mais qualificada, dissolvida

em outros telejornais . Apesar da experiência em jornalismo que acumul adesde o final dos anos 60, o âncora sabe que a ida para o SBT envolve umalenta conquista do público e a transmissão de produtos que correspondam àexpectativa dos telespectadores . 0 desafio é, de certa maneira, uma espéci ede renascimento de Nascimento .Se, por um lado, desde muito jovem Carlos Nascimento sabia que ojornalism oo chamava, por outro, as ambições não eram tão grandes : ele queri acontinuar no rádio e seu maior sonho profissional era assinar uma matéri ana revista Manchete, a vedete das bancas naquele tempo . 0 atual posto, d abancada do jornalismo do SBT, lhe permite uma visibilidade muito grande e ,além disso, a liberdade de comentar as notícias, tal qual um antecessor se una casa, Boris Casoy, fez há quase duas décadas . Nascimento, no entanto,afirma que os comentários são seus e que a responsabilidade pelos texto sde opinião que Iê é totalmente sua . "Minhas opiniões, comentários, jamai seu li nada que não tivesse sido escrito por mim, desde os tempos da rádio deDois Córregos, quando comecei minha carreira", lembra-se .Nesta entrevista para IMPRENSA, Nascimento fala sobre sua nova rotinanoturna e sobre os projetos de que está à frente no SBT .

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IMPRENSA - Recentemente, mais umamudança da grade horária do SBT to-mou conta dos noticiários . Essas mu-danças o incomodam?CARLOS NASCIMENTO - Eu não acre -dito que alguém entenda mais d etelevisão do que o Silvio Santos . Seele está fazendo alguma alteração n agrade horária, deve ter suas razõe spara isso . Não sou eu quem vai re -clamar . Não me incomoda e nem m eaborrece em nada .

IMPRENSA - O que mudou em sua ro-tina com a saída da Band e a mudançapara o SBT?NASCIMENTO-Eu nunca tinha feito ess ehorário da meia-noite. Passei a dormi rmuito tarde . Isso provocou uma mu -dança radical de costumes . Logo queeu comecei a fazer esse jornal da meia -noite, também passei a fazer um às dez .Faço os dois . Não é reprise .

IMPRENSA - Qual é a concorrênci amais difícil? A das 22 horas - quand oa novela das oito ainda está no ar - o ua da meia-noite, quando estão no a routros telejornais ?NASCIMENTO - Às 22 horas é um ho -rário em que estamos sozinhos co mtelejornal . Tem muita gente que ach aisso bom. O problema é que as pes-soas não estão acostumadas a espe-rar um telejornal nesse horário .

IMPRENSA - Na época de sua saídada Band, a versão que circulou pelaimprensa foi que sua saída havia sid omotivada pela falta de estrutura qu ea casa oferecia : poucos correspon-dentes, equipe reduzida . Foi essa arazão da rescisão contratual, um an oantes do término do contrato ?NASCIMENTO - Não . Isso não é ver -dade. A Band tinha e continu atendo a BBC, que manda matériasdiariamente . Eu saí porque queri aessa experiência .

IMPRENSA - Como foi esse convite ?Você negociou diretamente com oSilvio Santos ?NASCIMENTO - Faltava ainda u mano para terminar meu contrato

com a Band . O Silvio Santos me te-lefonou, disse que tinha interess eem investir no jornalismo do SBT,que acompanhava meu trabalho etinha boas referências . Ele achavaque eu fazia um bom jornal e meperguntou se eu aceitava traba-lhar com ele . Pedi um tempo par apensar, porque tinha um contrato .Eu nunca tinha rompido contra -tos - que é uma prática que eu nã oacho correta . Só que eu não tinh aalternativa : era pegar ou largar . Eeu achei que naquele momento er ao caminho que eu deveria seguir .

IMPRENSA - Quando veio para o SBT, aAna Paula Padrão trouxe uma equipejunto com ela . Você também troux euma equipe ?NASCIMENTO - Trouxe eu (risos) .Nunca gostei dessa história de " fu -lano foi para tal lugar e levou a tur-ma dele". Não acho isso certo . Não éeficiente . Na Band foi assim : quan-do eu saí, a espinha dorsal da equip econtinuou a mesma .

IMPRENSA - Você já trabalhou na T VCultura . Como é a experiência de s etrabalhar em uma TV Pública ?NASCIMENTO - Estive na TV Cultur apor dois anos, embora eles não reco-nheçam e nem falam sobre isso . Masessa é uma outra história . . . Eu estivelá em 1988 . Foi um período de muitotrabalho e sofrimento. Não era fáci levitar que o governo interferisse n oconteúdo jornalístico .

IMPRENSA - Por que você disse so-frimento ?NASCIMENTO - Porque nós realmenteéramos muito pressionados, inclusi-ve com o atraso no repasse de verba spara manutenção da emissora. Eramuito complicado .

IMPRENSA - Você imagina quais se -jam os motivos para essa indiferenç aà sua passagem pela emissora ?NASCIMENTO - Não faço idéia . Recen-temente, aconteceram festas na emis-sora, em que a história da Cultura fo irelembrada . O período em que estiveIá sequer foi citado .

IMPRENSA - Recentemente, o om-budsman da TV Cultura gerou um agrande polêmica por sugerir que ojornalismo na emissora fosse extinto ,caso não fosse diferente dos demais .O que você acha disso ?NASCIMENTO - Quem tem a funçãode criticar, dizer o que está bom o uruim em uma emissora, é o telespec-tador. Ele deve ser o termômetro d onosso trabalho

IMPRENSA - Mas você acredita se rimportante que um veículo de co-municação mantenha a função deombudsman ?NASCIMENTO - Nós já temos a concor-rência . Não precisamos de um inimi-go dentro de casa .

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■ Pimenta Neves, ex-diretor de redaçãode OEstadodeS.Paulo, réu confesso doassassinato da colega e ex-namorad aSandra Gomide, foi a julgamento, rece-beu a condenação e voltou para casa .Saiu do expediente do jornal, há sei sanos, e ganhou as capas. lbiúna, foro docrime e lugar da sessão do júri, movimen-tou-se com a chegada dos jornalista spara a cobertura e ganhou três dias d efesta como há tempos não vi a

Do expedienJ

biúna, interior de São Paulo, 3de maio. Às 8 horas da manh ãchegam os primeiros jorna -listas em frente ao Fórum d acidade, que ganhou uma mã o

nova de tinta e algumas reformas d eemergência para o julgamento mai simportante de sua história . Até pou-co tempo, os funcionários do peque -no Fórum não tinham idéia de com oresolveriam o problema das goteira sque ameaçavam atrapalhar o event omais esperado da cidade: o julgamen -to de Antônio Marcos Pimenta Neves .Pimenta estava tranqüilo quando che -gou ao Fórum da cidade e, assim qu esaiu do carro rumo à porta principal,foi cercado pelos ex-colegas de oficio .Em pauta, o seu julgamento, quase sei sanos após o crime, pelo assassinato d aex-namorada, a também jornalist aSandra Gomide . Não demorou muit opara que os primeiros moradores da

cidade começassem a se aglomerar e mfrente ao Fórum . Era um dia como h ámuito tempo Ibiúna não via .

A cidade foi, literalmente, in-vadida pela imprensa . Caminhõe sde reportagem de todas as grande semissoras de TV brasileiras conges-tionavam as ruas locais. Repórteresde revistas, jornais, rádio e Interne tfizeram da entrada do Fórum um aespécie de passarela do Oscar para osnativos de Ibiúna.

A cada entrada ao vivo dos re-pórteres de TV, uma legião de garotas ,com seus melhores vestidos de festa ,se postava atrás da câmera buscand oalguns segundos de fama . Uma delasescolheu o mais bonito vestido, ver-melho, e à espreita esperava pelo linkpara transformar-se em notícia . Tal-vez não fosse notícia no mundo, masera assunto na aldeia . Um outro mo-rador, preocupado com a aparência ,escolheu a melhor calça, uma camisade viscose brilhante e uma gravatadourada . Esperava ser confundid ocom algum notável visitante . E foi .

Sem perceber, os alunos pediam autó -grafo a ele, confundindo-o com algu mjornalista da capital . Muito mais doque o julgamento, os jornalistas eram aatração . "O dia todo tivemos a compa -nhia dos moradores da cidade, acom-panhando com curiosidade nosso tra-balho", conta Rosane D'Agostinho, d ositeÚltima Instância .

Depois de um começo tímido,os estudantes locais passaram a pe-dir autógrafos e a tirar fotos com osjornalistas . "Assinei vários cader-ninhos . Para nós, acostumados a i ratrás da notícia, sermos a notíci anão é algo muito comum", diz Rosa-ne. Esta que assina esta reportage mtambém deu autógrafos . Nuncaachou que a fama fosse chegar. Che-gou. Um repórter de TV não perde ua oportunidade de exercitar seu, di -gamos, humor. Quando a ele foi pe-dido um autógrafo, segurou a cane -ta e no caderno de uma adolescent eescreveu, sem titubear, "um beijo doPimenta Neves":

Dias antes do julgamento, a de -

POR THAIS NALDON I

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■ Buscando uma imagem de Pimenta Neves durante o julgamento, um cinegrafista da RedeGlobo se posicionou no alto de um prédio ao lado do Fórum de Ibiúna . O juiz Diego Mendes ,percebendo a movimentação, solicitou que a câmera fosse retirada . Como não se tratava de um aordem, a emissora preferiu manter o cinegrafista no loca l

te à capafesa de Pimenta Neves conseguiuimpedir na Justiça que a imprensafizesse imagens do jornalista. Mes-mo assim, a imprensa foi autorizadaa entrar 20 minutos antes de come-çar o julgamento para que fizesse mimagens da sala de audiências . Pri-meiro, entraram os cinegrafistas, qu edepois de bater o branco registrara mimagens da arena com tranqüilidade .Na seqüência, quando chegou a hor ados fotógrafos entrarem, começou aconfusão . Empurra-empurra, grita -ria, discussão. O juiz Diego FerreiraMendes, da l a Vara Judicial do Fó -rum de Ibiúna, saiu do sério diant edo escarcéu. E resolveu proibir de vezqualquer tipo de imagem. As equipesde TV ficaram indignadas com o scolegas do impresso. Instalou-se umcerto clima de animosidade no ar . "Aimprensa às vezes atrapalha o traba-lho da própria imprensa"; desabafouo repórter da Band, Sandro Barboza .

** *

A Rede Globo, sempre ela, deu oseu jeito de driblar a determinação dojuiz e foi à luta para captar imagens ex -

clusivas para o"Jornal Nacional': Comodinheiro não é problema, os produtoresda emissora alugaram uma das salas d eum prédio situado ao lado do Fórum . Elá instalou suas modernas câmeras, que ,dali, conseguiam as imagens mais cobi-çadas pela concorrência .

Durante o julgamento, o jui zDiego Mendes percebeu a movimen-tação . Não pensou duas vezes e solici -tou que as câmeras fossem retiradas .Começa a confusão. Alguns policiaisinsinuam que podem invadir o prédioonde está a Globo e tiram o repórterTonico Ferreira do sério. "Não se tratade uma determinação, mas de um pe-dido. Ninguém vai subir lá e arrancaras câmeras ' ; explica Roberto Tardelli ,assessor de imprensa do Tribunal d eJustiça, ao repórter da Rede Globo . "Aopção é de vocês, mas é possível qu ea emissora responda judicialmente",completou . A Rede Globo mantevea câmera no local . A Justiça, no caso,não intimidou nem intimou.

* * *

Repórteres, câmeras e produtore spraticamente acamparam em frente

■ Cinegrafistas, fotógrafos e repórteres seaglomeravam em frente à porta do Fórum .Acima, entrevista concedida por Serge iCobra Arbex, assistente de acusaçã o

■ Muito mais do que o julgamento, osjornalistas se tornaram uma atração n acidade. Estudantes cercaram os repórterespedindo autógrafos

/r

■ A rotina da cidade de Ibiúna foi alteradadurante os três dias do julgamento . Muitosmoradores permaneciam em frente a oFórum, acompanhando a movimentação eo trabalho da imprensa

'* oberto Tar Yelli, assessor d eimprensa do Tribunal de Justiça d eSão Paulo, teve trabalho triplicado.Apenas grupos de 15 jornalistas podiamacompanhar aaudiência. Cabia a el eTransmitir as informações aos demais

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ao Fórum de Ibiúna durante os trêsdias de duração do julgamento. Já nãohavia mais vagas nos poucos hotéis dacidade . Depois de três dias, o veredic-to final : Pimenta Neves foi condenad oa 19 anos, 2 meses e 12 dias de prisão .Mas saiu em liberdade do Fórum, noseu próprio carro . E foi para casa . Va iaguardar o julgamento do recurso emliberdade . Pelo visto, essa coberturanão acaba por aqui .

■Fachada do F6rum de Ibiúna dias ante s

do Julgamento : pintura e reforma paraevitar goteiras

Sala onde aconteceu o julgamento de Piment aNeves . A falta de espaço fez com que os jornalista stivessem que se revesar em duas turmas de 1 5pessoas para acompanhar o julgamento

Na véspera do início do julga -mento de Pimenta Neves ,quando quase todos os jor-

nalistas que passaram os último sanos brigando por migalhas de in -formações exclusivas sobre o cas oPimenta Neves, estavam de plantã oem Ibiúna, o perdigueiro RobertoCabrini, apresentador do "Jornal d aNoite", da Rede Bandeirantes, abri aseu jornal anunciando, com exclu-sividade, uma entrevista em que ojornalista dava detalhes sobre o di a20 de agosto de 2000, data em qu eassassinou Sandra Gomide .

Assim como diversos repórte-res, Cabrini estava desde o dia d ocrime, em 2000 ,tentando conta -to com Piment aNeves, em busc ade uma entrevist agravada com câ-mera . Na época d oassassinato, o jor-nalista fez a cober-tura do crime pel o"Fantástico", da TV

Globo. "No dia 27 de agosto, e ufiz a matéria para o 'Fantástico' .Desde então, venho tentand ofalar com ele", contou .

O áudio da conversa mostradono "Jornal da Noite" foi gravado há

mais de um ano e não era para ser uma entrevista defi-nitiva ."Como tenho hábito de gravar todas as conversa simportantes, acabou sendo . Meu objetivo era agenda ruma entrevista formal . Eu tinha até esquecido que tinh aessa fita', disse Cabrini .

Embora Pimenta Neves tenha falado sobre o dia d oassassinato, o que sentiu quando viu Sandra e o que pas-sou pela sua cabeça quando deixou o haras Setti, loca ldo crime, não é possível afirmar que ele sabia que estav asendo gravado . "Ele sabia que falava com um jornalis-ta . Como ele acabou não aceitando falar como mandao figurino, a única forma de expor o lado dele foi fazera entrevista por telefone . O Pimenta mediu cada pala-vra . Não falou uma vírgula que não tenha sido pensada .Não houve nenhum momento de informalidade; disseCabrini que, por acidente ou não, emplacou o principa lfuro da cobertura do caso Pimenta Neves .

■ Confira os principais trechos da entrevista concedida por Pimenta Nevesà Roberto Cabrini, exibida em 02/05 e 03/05/2006, pela TV Bandeirantes .

"Não sou um assassino . Sou alguém que co -meteu um ato desesperado, estúpido, ma snão sou uma pessoa com um passado de violëncia . . . não sou nada disso':

"Estou sofrendo mais do que ela (Sandra Gomi

"Isso pode acontecer com qualquer pessoa".

"A única coisa que eu sei é que puxei o gatilho, né? Duas vezes. Eu nemsabia que tinha atingido a Sandra . Achei que ela tinha caído":

"Eu me sentia usado por ela" .

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IVANISA TEITELROIT MARTINS - PSICANALISTA

Escrita e

violênci aNeste artigo exclusivo para o Portal Imprensa, a psi-

canalista Ivanisa Teitelroit Martins, esposa do jornalistaFranklin Martins, faz uma avaliação, do ponto de vistada psicanálise, dos últimos acontecimentos envolven-do seu nome e de seu marido, acusado pelo colunista d aVeja, Diogo Mainardi, defazertráfico de influência

Qmal-estar na culturaque Freud tão bemarticulou é vividono cotidiano das ins-tituições e das estrutu-

ras . Pela saturação imaginária, provo -cada pelas diversas CPIs em curso noCongresso, em que se comete excesso sno ato de acusar, em que depoentesjá estão condenados por antecipaçã osem provas, produz-se um ruído d efundo e um rumor de mal-estar trans -formado em peste moral que cresc esem parar, loucamente, e ameaça ,em alguns momentos, destruir tudo ecausar a disrupção da razão. Há pelomenos dois tipos de destruição, qu enão cabe trazer a esta reflexão, ma sdiferente destes, há a lógica do campode concentração, exercida com mal-dade burocrática a frio, construindoo estado de exceção . O extermínio sófoi possível porque conduzido pel aburocracia, como é, hoje em dia, pel atécnica moderna . De um lado o textoimpresso que é lento, de outro a ve-locidade da Internet que ofusca a re-flexão, que produz vociferações anô-

nimas . A técnica moderna introduzuma gramática sem discurso e umdiscurso que pode aniquilar todos o sdiscursos. Instaura-se um tribunalvirtual e simulado com poder de dis-seminação de acusações, apoiadas emsupostas informações sobre vínculosde jornalistas a esta ou aquela corren-te partidária, como máfia, ou a umpartido como organização criminosa .Incrimina-se o próprio ato de pensarou ter opinião . Pensar, fazer pensar ,informar e ter outros que pensam d amesma maneira é mafioso, é promís-cuo, é criminoso . "Ser brasileiro é se rmoralmente frouxo" . "Ser jornalista eser brasileiro é ser moralmente frou-x o" . As provas são levantadas junto aoutros que são instalados na posiçã ode fontes em off, anônimos detento-res da "verdad e " . Fulano disse e, se fo idito, tudo está provado . O direito deresposta é vedado, o direito à defesa évedado . A acusação em tempos con-temporâneos tem seu efeito instantâ-neo, enquanto a defesa legal é morosa .A resposta às acusações ou é o silêncioou a própria defesa de se dizer neutro .

Mas nem a neutralidade é imparcial .O efeito é a paralisia da ação política .O resultado é o retrocesso ao cam-po da ausência da lei ou à violênciaarbitrária de uma lei - que não é ,por certo, a do Estado de Direito - ,exercida por um "bando soberano"(Giorgio Agambén) .

Algo semelhante ocorre com apalavra e sua relação com o home mque a pronuncia e o homem que aescuta ou a lê atenta ou desatenta -mente . Como disse Lacan, em u mde seus seminários, a palavra pod eser - e de fato é - um câncer : proli-feração e multiplicação fulminante ,letal . A vitória do resíduo, do detrit opode destruir a ordem social .

Acesse : www.portalimprensa .com.br

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Heródoto Barbeirode São Paulo

S PRESOS DA CADEIA PÚBLICA DE TAIAÇUPEBA serebelaram, expulsaram os guardas penitenciá-

rios, queimaram os colchões e fizeram muitos reféns .Era o de sempre. A reportagem da TV Caramelo deTaiaçupeba não se afobou, era corrimento norma lcomo dizia a repórter Cidinha Silva . Em pouco tem-po tudo estaria resolvido com a presença da políciamilitar e dois ou três detentos mortos . Corrimentonormal . O helicóptero da emissora decolou pregui-çosamente da base no Rio Jundiaí e levava a bord oalém do comandante Milton, o repórter cinemato-gráfico Tonhão . Deu algumas voltas sobre o presídioe as imagens chegaram no switcher da Caramelo. Láestavam as costumeiras letras brancas que pedia mPaz, Justiça, e . . . pela primeira vez as iniciais PCT. Oque significariam? A ordem da chefia de reportage mera para fechar na sigla para dar uma boa image mpara o telejornal local TC TV. Começava a escurecere mais colchões eram queimados pelos presos . Parasurpresa do comandante Milton alguns tiros parti -ram do pátio interno e atingiram o helicóptero leve -mente . Ele resolveu não se arriscar e vôou mais alto,quando o apresentador sensacionalista de plantã opassou a vociferar que a aeronave havia sido atingid ae suspeitava-se que um míssil tinha sido disparado d afavela que acompanhava o serpenteamento do córre-go que cortava Taiaçupeba . Imediatamente a progra-mação da TV Caramelo mudou a grade e foi criad oum Plantão de Jornalismo. Era o programão que nã otinha o fim de garantir os pontos no ibope que tant oalegrava os mídia do departamento comercial .

O resultado da cobertura foi uma chuva de e -mails e telefonemas para a Caramelo . O reportariad ofoi todo convocado às pressas e passou a entrevista rao vivo os moradores que diziam estar sendo ameaça -dos de morte, casas invadidas por bandidos, mulhere sestupradas e jovens mortos com tiros na nuca . O pâ-nico que estava circunscrito ao estúdio da Caramel ose espalhou pela cidade. Os boatos brotavam em tod ocanto e eram reproduzidos no ar. A rádio Caramel oentrou em cadeia com a tevê e aumentou o poder de

fogo da comunicação. Em pouco tempo a repórter Ci -dinha Silva invadiu a redação e disse que alguém tinh adito a ela que a UMT (Universidade Municipal de Taia -çupeba) tinha sido metralhada e a estação do metrô d eSanta Cruz fechada por uma ameaça de bomba .

Em pouco tempo um grande congestionament ose formou nas ruas . Nunca Taiaçupeba assistira a um acoisa daquelas . Era gente correndo para todo o lado ereproduzindo as notícias que a TV e a rádio Carame-lo divulgavam . Imediatamente os redatores de plantã ocriaram um líder para a facção criminosa e interpre-taram as letras PCT como o Primeiro Comando d eTaiaçupeba . Confusão geral na cidade. Poucos se dis-puseram a manter o TC TV no ar. O helicóptero tinh apousado e os links desativados com medo das balas qu eninguém sabia de onde vinham ,nem se tinham sido disparadas .Cada um falava uma coisa . Mesmosem nenhum fato concreto a nãoser a rebelião no presídio, os apre-sentadores se sucediam com versõe scada vez mais esdrúxulas . Os carro sda polícia corriam de um lado paraoutro para atender aos chamado sde emergência da população. Vá-rios mortos chegaram ao IML . Eram os suspeitos d efazerem parte do PCT. Muitos com marcas de tiros na smãos e na cabeça .Teriam sido executados? Nem pensar,eram os meliantes de sempre que se associaram com acriminalidade e tiveram o destino que mereciam . Asorganizações de direitos humanos que se lixassem .

O dia amanheceu com a fumaça que ainda saía d opresídio . O helicóptero sobrevoou e mostrou um band ode homens nus, sentados no chão, e vigiados como fera spela polícia . No estúdio do telejornal Taiaçupeba No Ar ,o secretário de segurança assegurava que a paz voltav aà cidade e a polícia tinha descoberto que PCT significa -va "ponha a canjica na tigela"; um recado que um presodava para a sua namorada, a Margô, que morava em u mtreme-treme do centro da cidade . Sobre a cobertura jor-nalística nada mais se disse nem foi perguntado .

Mesmo sem nenhumfato concreto a não sera rebelião no presídio,os apresentadores sesucediam com versõescada vez mais esdrúxulas

herodoto@herodoto .com.b r

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es são os três magos do jornalismo espor -tivo brasileiro. Logo depois de comemora ro Dia da Imprensa, em 1° de junho, Ar -mando Nogueira, Orlando Duarte e Jos éSilvério já rumam em direção a uma mis -

são que mexe não apenas com o seus próprios sen -timentos, mas com o sentimento de todo brasilei-ro : na Alemanha, serão as vozes mais conhecidas atraduzir a emoção da Copa do Mundo . A paixão dostrês magos é uma : a bola em campo a rolar, a dan -ça do futebol - que tem menos a ver com tática emais com o encantamento que uma partida de fu-tebol desperta em torcedores . Distantes de casa ,representam todos os brasileiros que gostariam d eestar ali, onde quer que seja, acompanhando ascamisas verde-amarelas .Armando, Duarte e Silvério levaram na bagage mnão somente o desejo de ver o Brasil trazer o hex apara casa, mas também os segredos de arrebata ros brasileiros - fanáticos ou não - em nome do or-gulho nacional que é ver a equipe levantar a taça ,ao final . São segredos que apenas os magos têm . Alocução pede palavras , certas, palavras mágicas ,por que não ?Leia, nas próximas páginas, os perfis desses trê srepresentantes do que há de melhor no futebo lbrasileiro : não é a seleção, nem o técnico, nem a státicas e muito menos os patrocínios . 0 que há d emelhor no futebol brasileiro é aquele sentimentoque entala a garganta . 0 que pára o país na horado jogo . A paixão pelo futebol .

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Um poeta tonArmando Nogueira começou no futebol há mais de 50 anos. Como repórter, sua es-

tréia foi em 1954, mas há registros ancestrais de sua participação como jogador em Xapu-ri, no Acre, quando descobriu que era muito melhor com as palavras que com as bolas .

U Armando Nogueira (centro) gravando no estúdio do Sporty. Ao lado, o jornalista escrevesua coluna para Jornal do Brasil, em sua boa e velha máquina Remingto n

POR PEDRO VENCESLAU

rmando Nogueira aind aera um aprendiz de feiti -ceiro quando assistiu su aprimeira Copa do Mun-

o. O ingresso para aconcorrida final entre Brasil e Urugua ino Maracanã, naquele fatídico 16 dejulho de 1950, foi um prêmio dos seu seditores, satisfeitos com o trabalho d ojovem estagiário de 23 anos de idade,que começava a brilhar no Diário daNoite. De 1954 em diante, Armand ocobriu do primeiro ao último jogo d aseleção brasileira nas últimas 13 Co -pas, sem exceção . A esta hora, aliás, el ejá está na Alemanha, pronto para par -ticipar de sua 14 a competição, agor acomo comentarista do canal SportTV.A sofisticação do futebol globalizad ode hoje nada lembra o campinho d eterra batida em Xapuri, no Acre, ond enasceu Armando Nogueira e onde jo-gou pelo time do Ginásio Acreano .

Voltemos no tempo. Em sua es-tréia em 1954, na Suíça, quando fe-chava suas matérias por telex ao lad ode medalhões como David Nasser,Ricardo Barreto e Romualdo Silva ,o foca Armando Nogueira teve um aidéia que marcaria sua carreira defi-nitivamente . Apesar de não ser u mrepórter fotográfico, gastou toda ssuas economias em uma Rolleiflex ,a dama das câmeras fotográficas n aépoca . No dia do jogo entre Brasil eHungria, considerada uma das favo-ritas do torneio, Armando resolve uir para o vestiário, com sua Rolleiflex

em punho, antes do fim do jogo par aentrevistar o jogador Nilton Santos ,que tinha sido expulso . "O Brasil fo ieliminado e houve tremendo surur uentre os jogadores no túnel que le-vava aos vestiários. Eu estava lá e fu isurpreendido com a briga . Aí levanteiminha câmera a apertei o flash eletrô-nico . Não tinha idéia do que tinha saí-do " . Terminada a confusão, Armand oNogueira foi correndo para o hotel eentregou seu filme para o fotógrafoAngelo Regato, do Diário da Noite."No outro dia, ele chegou no me uquarto e mostrou a foto . Era o ZezéMoreira (técnico da seleção) jogand ouma chuteira. Nos jornais daqueledia tinha outra foto, do presidente dadelegação húngara, com a cara chei ade esparadrapo, dizendo que tinha re-cebido uma `chuteirada: A associaçã oera óbvia . A chuteirada seria do técni -co da seleção brasileira". A notícia d atal foto correu rápido e chegou até aconcentração da seleção brasileira .Naquele mesmo dia, Zezé Moreira foi

procurar Armando no hotel para ten -tar convencê-lo a não divulgar a ima-gem comprometedora . Tarde demais ."Eu disse : ` não posso fazer mais nada ,já mandei para o Brasil '. Ele rompeurelações comigo e só se reconciliou n ofinal da carreira dele, em uma noite d eautógrafos do Rio de Janeiro . O fato éque vendi essa foto até para o El Gráfi-co, na Argentina . Contrai um inimigo ,mas fiz uma foto que me colocou emevidência na profissão " . Além de umagrande foto, Armando trouxe para oBrasil o mito da Hungria, consideradaporele a melhor seleção daquela com-petição . Suas crônicas exaltavam a se-leção campeã, o que deixou irritad oum dos mais fanáticos e nacionalistascronistas da época, Nelson Rodrigues ,que não aceitava o fato do Brasil tersido derrotado tão cedo . "Houve umapolêmica do Nelson contra mim . Elesempre foi um nacionalista exacerba -do e não admitia que ninguém fossemelhor que a seleção brasileira . Eu di-zia que a seleção húngara era melho r

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tra o óbvioque a do Brasil . Como não havia TVna época, era a palavra dele contra aminha . Aquilo acabou me dando no-toriedade'; conta Armando .

Naqueles dias, conta Armando, acompetição pelo furo era bem mai sacirrada que hoje . "Havia uma brigaferoz pelo furo. A relação entre os jor-nalistas era de trairagem completa . Osujeito não pensava duas vezes ante sde passar a gilete em um envelope seu ,com sua correspondência, que vinh apela Panair. Era uma briga de foice noescuro . Hoje, o furo é compartilhad opor todo mundo"; compara.

n BarreiraA Copa do Mundo de 1970, no

México, marcou o início de uma novafase na cobertura dos jogos, especial -mente no caso do Brasil . Com o paí svivendo sob a ditadura militar, a se-gurança da equipe foi reforçada, oque levou a um distanciamento maio rentre repórteres e jogadores. Foi nes-sa época, também, que começaram asurgir os primeiros sinais da mercan-tilização do futebol, em figuras com oassessores de imprensa, empresário se afins, que formavam uma segund abarreira entre os jornalistas e o time .Apesar das dificuldades, a Copa de 70é lembrada com um carinho especia lpor Armando. "Eu fui como direto rde jornalismo da Globo . Levamo suma equipe que nos permitiu faze ruma cobertura melhor, já com satéli-tes de televisão . Eu tinha até um pro-grama : ` Dois minutos com Armand oNogueira; que passava no ` Jornal Na-cional". A Copa seguinte, de 1974 ,na Alemanha, aconteceu sob o sign odo medo. Como, dois anos antes, em

1972, ocorrera a tragédia das Olim-píadas de Munique, que acabou comassassinato da delegação israelense, asegurança do torneio foi reforçada a oextremo da paranóia . "Nós começa-mos a encontrar barreiras intranspo-níveis para ter acesso à intimidade daseleção. Foi ali que a coisa começo ua endurecer para todo mundo": Nãobastasse as dificuldades da cobertu-ra, a seleção canarinho foi eliminad anas quartas de final, depois de perderpara a Polônia por 1 X O . De 1974 emdiante, a cada nova Copa do Mund oo futebol e a cobertura ficavam mai ssofisticados, caros e inacessíveis . Maso texto de Armando Nogueira perma -necia recheado com a mesma paixã oe com o mesmo encantamento, um aespécie de guerrilha contra o óbvio .Como naqueles tempos de Brasil con-

tra Hungria .Para Armando Nogueira, a mer-

cantilização do futebol é inevitável ."O esporte e os jogadores são, hoje ,produtos de mercado . E, como produ -

"Por isso, recebam, amanhã, os heróisdo Mundial de 70 com a ternura queacolhe em casa os meninos que vol-tam do pátio, onde brincavam. Perdo-em-me o arrebatamento que me fa zsonegar-lhes a análise fria do jogo.Mas final é assim mesmo: as táticascedem vez aos rasgos do coração . Te-nho uma vida profissional cheia de fi-nais e, em nenhuma delas, falou-se deestratégias. Final é sublimação, final épirâmide humana atrás do gol a de-lirar com a cabeçada de Pelé, com o

tos, se tornaram menos interessantesque antes . Os jogadores começaram ater consciência do que chama marke-

ting e começaram a só falar coisas desua conveniência . Existe uma retóricacomum a todos, dependendo do níve lde cada um . ` Trabalhamos muito est asemana. Demos muito de nós par achegar aqui . . : Não tem graça, é con-vencional ' ; queixa-se. A matéria-pri-ma do poeta do gramado anda escas-sa. Sua poesia, não.

chute de Gérson e com ogesto bravo de Jairzinho,levando nas pernas a bola do tercei-ro gol. Final é antes do jogo, depoisdo jogo- nunca durante o jogo"

Trecho de crônica escrita porArmando Nogueira sobre a final d aCopa de 70, republicado em O me-lhor da crônica brasileira (1997) . O stextos de Armando Nogueira torna-ram-se referência da crônica espor-tiva brasileira e foram publicadosem dez livros, desde a década de 60 .

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eM ARQUIVOPESSOAL

Desde a sua primeira Copa do Mundo, em 1950, Or-lando Duarte emocionou os brasileiros com cada u mdos torneios da disputa mais importante do futebo lmundial. Emocionou e emocionou-se . Não se furta e mreconhecer que na transmissão há dois Orlandos Duar-tes. Um que pretende objetivo . Outro, que chora, grita eri . Como qualquer brasileiro .

POR rl ' IIAIS NALDON I

primeira credencial ain -da está guardada. O anoera 1950 . Quem esta -va no Maracanã, nãoe esquece da fatídic a

derrota contra o Uruguai . O si -lêncio incomodava . As lágrima scaíam. Orlando Duarte não se es -quece apenas por essa razão, ma spor outra, muito mais especial .Foi a sua primeira Copa do Mund ocomo repórter pelo jornal MundoEsportivo . "Eu não fui à Copa, fo iela que veio a mim . Mas era comouma fantasia aos meus olhos . Para

um garoto, de apenas 18 anos, faze ra cobertura de sua primeira Copa émuito emocionante", lembra Du-arte, hoje com 74 anos .

Quando era apenas um garoto ,na pequena cidade de Rancharia ,interior de São Paulo, e jogava fute-bol, primeiro como goleiro, depoi scomo centroavante, Orlando Duart esequer poderia imaginar que se tor-naria, mais tarde, um dos principai snomes do jornalismo esportivo bra-sileiro, com 13 Copas do Mundo n ocurrículo e nove Olimpíadas .

Fazer a cobertura de um tor-neio como a Copa do Mundo nã oera tarefa nada fácil na década de 50

e até mesmo nos anos 60 . Não havi aas facilidades tecnológicas como atransmissão via satélite, os telefonescelulares e a Internet . "Para que pu-déssemos enviar um texto longo aoBrasil, redigíamos, juntávamos asfotos, colocávamos em um envelop ee despachávamos de avião", lembra .Já os textos curtos, o telex resolvi aa questão, no entanto, economiza rnas palavras era fundamental . "Ostextos menores nós mandávamo spor telex, mas tínhamos que da rum jeito de economizar, já que er acobrado por palavra, então, os ar-tifícios eram os mais variados : cor -tar palavras, juntar dois nomes d ejogadores em um só . O negócio er ater criatividade'', diverte-se .

O romantismo não era exclusi-vidade da cobertura . Os jogadore siam a campo com uma alegria imen-surável . Um dos mais apaixonado sera Garrincha, que chegou a recla-mar do fato de a Copa do Mundoser tão curta . "O Garrincha, quandoterminou a Copa de 58, chegou a di-zer que o campeonato era mixuruca ,já que não tinha returno"; recorda-seàs gargalhadas .

■ A fonte é o lixoNos primórdios das cobertura s

de Copas, a relação entre os jor-nalistas não era das mais cordiais .Muitas vezes, eles se dividiam porEstado e uma rixa antiga era a do sjornalistas cariocas contra os pau -listas . As salas de imprensa, mu-nidas com potentes máquinas d eescrever, eram disputadas quase atapa pelos repórteres, bem com oqualquer informação exclusiva, qu epudesse desbancar a concorrência ." Eu sabia que tinha alguns jornalis-tas com uma ótima relação com a

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¢¢riandos Duartes IMPRENSA

chefia da delegação . Então, eu fica-va lá na sala de imprensa, de olh onos caras . Quando eles saíam, eu i aaté o lixo e pegava a matéria par aver as informações que eles tinham .Depois, nas discussões, usava comoargumento", conta Orlando .

Hoje em dia, explica Duarte ,as coisas já não são mais assim e aconvivência entre os profissionai sde imprensa é de amizade . "Não d ámuito tempo para que nós saiamo sjuntos, por exemplo, quando esta -mos cobrindo um mundial. É umtorneio curto, então as coisas sã omuito corridas e os jornalistas fica mcada um em um lugar, mas há mui -to respeito e admiração entre todos",diz o jornalista que destaca Arman-do Nogueira - com quem divide a spáginas desta revista - como um do smelhores jornalistas esportivos d oBrasil . "O Armando é fantástico, d euma inteligência e uma competên-cia ímpares", salienta.

■ Orgulho naciona lOrlando Duarte cita o campe-

onato de 1970, no México, comoum marco para o Brasil . Na oca-sião, a torcida mexicana abraçou aseleção brasileira como se fosse ade seu próprio país . "A seleção er aótima. Todo mundo jogava demai se o Zagallo deu uma coisa muitoimportante para o time: unidade .Era muito bonito ver a torcida me-xicana no estádio gritando ' Brasil !Brasil! ' . E foi aí que foi possível te ruma idéia do quanto o futebol éimportante para divulgar o nom edo país e suas cores " , disse . A von-tade de mostrar a força do seu paí satravés do futebol, segundo Duarte ,é um dos grandes fatores do sucessoda Copa do Mundo .

■ A aposta de Orlando: "Pelo elenco que possui, oBrasil só perde para ele mesmo"

A emoção é inevitável em umcampeonato grandioso como um aCopa do Mundo, principalmentepara um povo apaixonado como obrasileiro . Duarte conta que, mes-mo estando em trabalho, já che-gou a chorar durante alguns jogos ."Na Copa de 66, o Brasil perdeupara Portugal e, durante a partida ,os portugueses deram pontapés noPelé. Eu fiquei muito bravo . Em 82 e86 também fiquei muito triste quan -do meu amigo Telê perdeu as Copa se poderia ter ganho, telefonei paraele, triste", lembra .

Os momentos de felicidade, n oentanto, também foram muitos . Osegundo gol do Brasil contra a Itá-lia, na Copa do México, em 1970 ,provocou lágrimas em Duarte . Maso jornalista salienta que a emoçã ojamais atrapalhou o seu trabalho ."A emoção foi emoção do cidadão ,mas nunca quando eu estava co mo microfone aberto ou pronto par aescrever um texto. Jornalista nãofaz gol, não defende e não marc apênalti, não anula gols e não fa znenhum time ganhar. Ele tem queser fiel ao que está acontecendo ,mesmo que por dentro ele esteja

amargado . Eu já chorei com vitó-rias, com derrotas, sou um chorão ,porque vejo que o Brasil poderi aser bom em tudo . São apenas o sdetalhes que decidem " , disse . Écomo se num corpo vivessem doi s

' Orlandos Duartes . O que emocio-na. O que se emociona .

Orlando tem dificuldades e mescolher um campeonato que tenh agostado mais de ter feito a cobertu-ra . No entanto, destaca a Copa d aFrança e dos Estados Unidos, com oduas de suas prediletas . " É impossí-vel você estar na França e não gosta rde estar lá . E isso eu sinto por muito sdos lugares por onde passo . Gosto d eviajar e de conhecer novas culturas ,museus. No entanto, sob o aspectofutebolístico, a que não gostei ne mum pouco de cobrir foi a da Ingla-terra", lembra-se.

No último dia 05 de junho ,Orlando Duarte embarcou par asua 14 a Copa do Mundo, dessa ve zpela Rádio Itatiaia, de Belo Ho-rizonte, e afirmou que, apesar d etantos campeonatos no currículo ,a emoção é a mesma que sentiu n aprimeira . " Cada vez que embarcopara uma Copa, encaro como s efosse um novo desafio . Eu tenhoque ser bom, tenho que ser útil ,tenho que dizer o que o torcedo rquer ouvir, seja como consolo, sej ana euforia . Eu não falo para mi mmesmo. Quero ser uma ligação en-tre os que não estão e o fato qu eestou vendo . Choraremos juntos ,daremos risadas juntos, e nos-sos milionariozinhos poderão se rcampeões do mundo. Pelo elenc oque possui, o Brasil só perde par aele mesmo", acredita . Que sej acomo a primeira Copa de Orland oDuarte . Na emoção, apenas .

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Os golaços deEle começou suas transmissões de futebol narrando a s

partidas de futebol de botão no sul de Minas Gerais . Mas acarreira de dimensões pequenas deu lugar a uma trajetóri aque inclui as mais importantes emissoras de rádio brasilei-ras e, neste ano, a sua 8a Copa do Mundo. José Silvério nã ofaz questão de disfarçar : é um locutor-torcedor. A paixão navoz é a paixão de todo brasileiro que gruda o ouvido no rá-dio eespera pelo grito final .POR BARTIRA BETIN I

Ele começou suas transmis-sões de futebol narrando aspartidas de futebol de botãono sul de Minas Gerais . Masa carreira de dimensões pe-

quenas deu lugar a uma trajetória queinclui as mais importantes emissorasde rádio brasileiras e, neste ano, a sua8 a Copa do Mundo. José Silvério nãofaz questão de disfarçar : é um locutor -torcedor. A paixão na voz é a paixão detodo brasileiro que gruda o ouvido norádio e espera pelo grito final .

Os jogadores estavam a postos .Onze de cada time, como deve ser. Osgoleiros, a cada lance de risco, posicio-navam-se rapidamente de modo a im-pedir a entrada da bola . Alguns passesmais fortes levavam a bola para fora docampo. E, observando tudo ao mesm otempo em que narrava, estava José Sil-vério, ainda menino . Tão pequeno, emLavras, no sul de Minas Gerais, a Silvé-rio restava apenas a narração das dispu -tadas partidas de futebol de botão. O ta-buleiro, proporcional ao seu tamanho,mas não à sua ambição .

E foi no futebol de botão que o lo-cutor esportivo da Rádio Bandeirantese uma das mais conhecidas vozes dasemissoras brasileiras foi descoberto."Eu dei uma sorte porque em Lavras

tinha um amistoso e era nomês de julho, aniversário d acidade . Todos os locutore sda rádio tinham viajado.Era um jogo da Olímpica[ time da cidade] com o Bra-gantino. Eu tinha 17 anos.Aí falaram para a direçã oda rádio : `Tem um meninoaí que narra jogo de botãoe pode ser que dê certo . Eletem vontade de ser locutor :Me levaram numa quarta -feira para fazer um teste e fui apro-vado. Sem nunca ter falado em rádionarrei meu primeiro jogo . Foi emocio-nante"; contou . Era 1963 e 15 anos de-pois, José Silvério, o locutor que come-çou com os botões, narrava as partida sdo mais importante torneio de futebo ldo mundo, a Copa da Argentina .

A estréia na Copa em 1978 não lhegarantiu a emoção de ver o Brasil se rcampeão do mundo, ao vivo . Nem em78 . Nem depois . Nem depois . Nem de-pois. Foram mais 16 anos até Silvéri oterminar a partida final da Copa com ogrito de campeão do mundo . O Brasil ,em 1994, conquistou o tetra-campeo-nato, nos Estados Unidos . E Silvério ,a chance de anunciar no rádio aquil oque todos os ouvintes queriam escutar.

"Não teve emoção maior em 43 anosde carreira"; diz o locutor. Silvério, con-siderado o melhor narrador esportivodo país, chega a sua oitava cobertura, asegunda pela Rádio Bandeirantes . Suaexperiência desde 1978 mostrou qu euma cobertura de Copa do Mundoé completamente diferente da outra ."Acaba sendo uma experiência únicacada uma delas"; conta .

■ História no dia lA trajetória de Silvério, desde suas

primeiras locuções, inclui as mais im-portantes emissoras de rádio do país.Pouco ficou na Rádio Cultura, de Lavras,que o havia descoberto nas partidas d e

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Silvério

futebol de botão. Dali, foi para a RádioItatiaia, de Belo Horizonte, depois n aContinental, do Rio de Janeiro e Tupi ,de São Paulo . Em 1975 ele foi contrata -do pela Rádio Jovem Pan onde ficou 25anos, com uma passagem de dois mese spela Rádio Bandeirantes, em 85 . Atéque em 2000, Silvério recebeu um con-vite definitivo da Bandeirantes, ondeestá hoje e pode ser ouvido na narraçãodos maiores jogos de qualquer campeo-nato nacional . Se mudou de emissora salgumas vezes, em todas imprimiu à ssuas locuções marcas registradas queo distinguem dos outros . Conta o flo-clore dos bastidores que a expressão "Eque golaço! , por exemplo, é dele . Assimcomo é dele também a mania de esten-der algumas silabas das palavras .

Em sua primeira cobertura, lo-cutor, torcedor e fã andavam juntosdentro do José Silvério . "Foi umaCopa boa porque fui como locutorprincipal pela Rádio Jovem Pan . Euacompanhava a seleção brasileira eera um grande torcedor sempre . OBrasil não trouxe a taça - ficou em ter-ceiro lugar - mas José Silvério troux euma lembrança portenha : ele contaque "ganhou" uma úlcera, por tant onervosismo . "Eu tinha conheciment ode narração, mas não em Copa . Tinh apouca experiência e fui muito cobra-do . Resultado : uma gastrite que viro uúlcera"; lembra o narrador.

Da esquerda para a direita, Silvério na seliminatórias da Copa de 2006 com LeandroQuessada ; na estréia da Copa de 2002 ; com Dungae Quessada ,

■ TelhadoJá, na sua opinião, a pior seleção,

foi a de 1990. "A seleção da Copa de 90foi, de todas as Copas, a pior seleçã obrasileira de Copa do mundo, e não fo ipelo desempenho dos jogadores qu eeram excelentes craques . Foi uma Cop ahorrorosa para o Brasil tecnicamente.Nós, os jornalistas, ficamos na rua, sen-tados na porta da concentração da se-leção para esperar o resultado da brigados jogadores com o presidente da CB F(Confederação Brasileira de Futebol)que firmou um acordo milionário co ma Pepsi e não pagou nada aos jogadorese por isso eles fizeram uma rebelião enem queriam mais jogar. Foi um stressmuito grande para eles, os torcedorese os jornalistas. Os observadores maispreocupados com a análise dissera mque esse foi o principal fato da seleçãoter ido tão mal durante a Copa:"

Ficar sentado na rua, esperar pelascoletivas, aguardar a escalação, acompa-nhar toda a movimentação - dentro efora dos campos - e traduzir a emoçã odo estádio aos ouvintes é parte do oficio .Mas Silvério precisou cuidar de uma ou-tra modalidade de escalação na Copa de86: literalmente, subiu no telhado. "Eufalei para o Telê [Santana, então técnicoda seleção] que a Rádio Jovem Pan iri atransmitir o treino. Ele disse que nin-guém entraria no campo, mas já tínha-mos prometido aos ouvintes . Falei com

o nosso técnico e o repór-ter Wanderlei Nogueira econseguimos convenceruma senhora que tinh auma casa próxima. Ela

deixou a gente subir no telhado e eu e otécnico fizemos a transmissão. O Wan-derlei ficou mais perto do estádio co mo microfone volante. E eu não via tod oo campo porque tinha uma árvore . Aí ,ao vivo, eu avisava o Wanderlei que e unão estava vendo porque os jogadoresestavam fazendo uma jogada atrás d aárvore. E aí ele entrava narrando o queele estava vendo . Foi uma audiência in-crivel . Os ouvintes vibraram com ess atransmissão. Esse treino virou assuntoem São Paulo. Publicaram nossa foto emcima do telhado e vários jornais e revis-tas me ligaram lá no México para faze rmatéria sobre o assunto . A Copa de 86 fi-cou marcada por causa desse treino quefoi mais importante até do que a Copa,porque foi algo exclusivo que consegui-mos fazer"; lembra.

Para não melindrar a relação comos ouvintes, locutores esportivos geral-mente não assumem suas preferênciasno futebol. Ou ao menos, fingem torcerpara todos os times. Perguntado sobr eo time de seu coração, Silvério ri e di zque não torce para um time só, mas dáum sinal de preferência, reconhecen-do em tom quase sigiloso . "Gosto detodos, mas tenho uma quedinha pel oCruzeiro" O que não esconde - e ne mprecisa - é a paixão que tem pela cami-sa verde e amarela. A imparcialidad efica no banco de reservas . "Se esse dile -ma pudesse ser resolvido estaria send oliquidado um dos maiores problemasde consciência que todo narrador es-portivo tem. Como você vai narraruma Copa do mundo isento? Eu con-fesso que não tenho condição de faze risso. Se tivesse que fazer isso eu achoque não seria locutor"; confessa .

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IMPRENSAparentemente, foram-se os dias em que as redações s emobilizavam em torno de causas em que acreditavam .No dia 1° de junho, o calendário registra a comemora -ção do Dia da Imprensa . Naquele dia, poucos foram o sjornalistas que se lembraram de alguma comemoração .

Quatro dias depois, no dia 5 de junho, o calendário marcava um aoutra comemoração, o Dia Mundial do Meio Ambiente . Pensand o

` nisso, IMPRENSA localizou uma interface entre as duas efeméri-des :des : conversou sobre meio ambiente e imprensa com resistente sjornalistas que ainda levantam uma bandeira coletiva : a preser -vação do planeta .A função desses profissionais não é fácil . Enquanto o planeta s edissolve, a pauta se torna escassa . 0 objetivo desses jornalistas éconvencer que o meio ambiente é assunto para todos os dias, nã oapenas quando uma catástrofe anuncia algum perigo .Nas próximas páginas, resgatamos uma velha imprensa, mas ne mpor isso insignificante : aquela que procura melhorar a qualidad ede vida dos cidadãos, conscientizar sobre a atuação individual n oplano coletivo e alertar para as condições em que vivemos . E issonão deve ser privilégio dos jornalistas de meio ambiente .

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iram Firminoéconheci -do entre os jornalista sambientais como umprofissional com posi -ções bastante claras ,

ortodoxas até. Suas opiniões transi -tam entre o engajamento e uma es-pécie positiva de obsessão . É, alé mde um Homo sapiens a pensar o fu -turo do meio ambiente, també muma Avis radicalis, ave radical, não

muito afeita a consensos: uns acredi-tam que ele seja um exemplo para aimprensa verde, outros que suas po-sições firmes e ideológicas podemafastar novos defensores da causa .

Alheio às opiniões, o jornalist a

POR THAIS NALDONI

IMPRENSA - Como o senhor avalia acobertura da imprensa quando o as-sunto é meio ambiente? Ainda se fazuma cobertura factual ou já é possíve lencontrar matérias mais educativas ?HIRAM FIRMINO - Infelizmente, a gran -de imprensa ainda só cobre as ques-tões ambientais quando se trata deuma tragédia, como o [furacão] Katri-na. E só aprofunda também o aspectoda tragédia, e não o de explicar, o deentender o acontecido do ponto d evista ecológico/educativo . E por quefaz isso? Por achar, erroneamente edentro de um paradigma clássico, qu eo assunto meio ambiente é tão igua lcomo falar de esportes, política, polí-cia, economia .

IMPRENSA - A mídia brasileira já semostra mais consciente quanto à scausas ambientais ?FIRMINO - Não, a mídia brasileira ain -

da se mostra pouco consciente . Umrepórter que fuma não pode escreve rnem criticar uma fábrica que polui omeio ambiente e as pessoas ao seu re -dor. Esse é o grande paradoxo impos-to pelo jornalismo ambiental .

IMPRENSA - Quais são os principais as-suntos relacionados ao meio ambien-te tratados pela imprensa tradicional ?FIRMINO - Incêndio na Amazônia, rou-bo gigantesco de madeira, corrupçãodo Ibama, assassinato de missionári aetc . Ou seja, só pauta negativa . A grandeimprensa nunca cobre (nem sabe o qu eé isso) uma reunião do Conselho Na-cional do Meio Ambiente, que é onde s ediscute e se decide se o Brasil deve per -mitir a importação de pneus usados etc .

IMPRENSA - A cobertura sistemáticadesse tema já é feita pela imprens atradicional ou é apenas realizada pe-los veículos especializados ?FIRMINO - O que a grande imprensa

tem feito - e isso porque os problema sambientais estão crescendo a pontode o cidadão comum perceber (efei-to estufa, aumento do calor, etc .) - éabrir, cada vez mais, espaço para o as-sunto. Mas só - repito - sobre a ótic ade denunciar, escandalizar, nunca d etentar "explicar " ou ajudar/apontarsolução. Isso continua sendo feit opela imprensa especializada, a exem-plo da JB Ecológico .

IMPRENSA - Quais as principais di-ferenças entre a cobertura realizadapela imprensa especializada e pel aimprensa tradicional ?FIRMINO - A imprensa especializad anoticia o fato, mas também tenta ex-plicá-lo, toma "editorialmente" a de-fesa da causa em questão . Exemplo :destruição da Floresta Amazônica . Aimprensa especializada, que eu cha-maria de imprensa verde (o opost oda imprensa marrom), fica do lado d aFloresta e critica, toma partido contr a

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IMPRENSA- graduado pela UFMG - luta pel oque acredita . É fundador e edi-tor-chefe da revista JB Ecológico,já tendo ocupado cargos público scomo secretário municipal de Mei oAmbiente de Belo Horizonte e pre-sidente da Fundação Estadual d oMeio Ambiente de Belo Horizonte .

A revista IMPRENSA, Firmin ofez um retrato da mídia ambienta lbrasileira, traçando, na sua opinião,o perfil ideal de profissional, a dife-rença entre a cobertura da impren-sa"verde"e a da tradicional, além d adificuldade de sobrevivência dosveículos especializados em cober-turas ambientais .

quem e o que a degrada. Já a imprensatradicional só noticia, fica em cima d omuro, não se envolve, como se essa in-dependência e não a opinião ajudass ea transformar a realidade. Na prática ,ele age assim: noticia que a "FlorestaAmazônia está acabando", depois "AFloresta continua acabando " e, um dia,irá finalmente noticiar : `A Amazôniaacabou': . . Ou seja, seu papel é só esse .

IMPRENSA - Existe um perfil de públi-co determinado que se interesse pel oassunto ?FIRMINO - A cada dia que passa, mai sas pessoas, em todo o planeta, se inte-ressarão pela questão ambiental . Maispela dor do que pelo amor. Repito : aimprensa tradicional se limita à dor. Aespecializada, pela dor, mas por amo rà causa também . Em uma de suas úl-timas pesquisas globais, a Coca-Col aindagou quais seriam as novidade se o dinheiro novo que dominaram omundo neste século. As duas única srespostas foram : o mercado eletrônico ,vide a chegada pra ficar da Internet ; eo meio ambiente, vide que, com isso ,a Coca-Cola se mudou para Manaus ,capital do Amazonas, justamente o"centro do furacão" da preocupaçãomundial hoje da humanidade .

IMPRENSA - Quais assuntos - referen-tes ao meio ambiente - dificilmentesão abordados e deveriam ser mais

lembrados pelos jornalistas ?FIRMINO - Não existem assuntos espe-cíficos para serem abordados pelosjornalistas . O que lhes falta é acres-centar a pauta ambiental às suas pau -tas tradicionais . Exemplo: se umaempresa anuncia a construção d euma nova fábrica, o que o jornalist ade economia pergunta: qual o custodo investimento, quantos empregosetc . Por que ele não pergunta para oempresário o que ele vai fazer com oseu esgoto, seu lixo, sua fumaça, queatitude em termos de responsabili-dade ele vai adotar com relação aosseus empregados e a comunidade n oseu entorno etc? Quer dizer, ele nã oquestiona nada novo, não aprofunda .Acaba fazendo divulgação apenas, egratuita, do negócio.

IMPRENSA - O senhor acredita que jáexista, tanto por parte das empresas ,quanto por parte da imprensa, uma es-pécie de Responsabilidade Ambiental ?FIRMINO - Por parte das empresas, apreocupação é total . Hoje, e cada vezmais, empresário que destruir a na-tureza, mantiver trabalho escravo(ecologia social) ou poluir o meioambiente em seu processo industria lnão consegue licença oficial para ope-rar - muito menos vender - seu produ-to no mercado internacional . Por part edos veículos, isso ainda não existe . Voc ênão vê um só jornal, uma só revista d agrande imprensa pegando como ban-deira, por exemplo, a defesa dos nosso srios, o que lhe seria simpático, não cus -taria nada e ainda atrairia mais leitor .

IMPRENSA - Os veículos especializa -dos em meio ambiente consegue msobreviver no azul ?FIRMINO - Não. A maioria não tem cir -culação regular. Só circulam quand oconseguem patrocínio, justament epor causa dessa miopia . A maioria dasempresas-anunciantes e suas agência sde publicidade preferem anunciar n aTV Globo, na Veja, em Caras e pron-to. É mais fácil . Não precisa pensar,nem refletir que um anúncio seu, queé só mais um anúncio na grande im-prensa, pode significar a sobrevivência

editorial deuma publi-cação intei-ra especia-lizada

noassunto . A nossa sorte (e e ufalo em nome da imprensa especiali-zada) é que já existem empresários emidias de agência que compreende me valorizam a nossa luta solitária pel adificil democratização da informaçãoambiental . E nos apóiam .

IMPRENSA-O mercado editorial inves-te neste tipo de veículo ?FIRMINO - Muito pouco. O mercadoeditorial ainda não sacou a novidadede linguagem e abordagem diferen-ciadas, ao abraçar a causa que carac-teriza o jornalismo ambiental . Porisso, que passada a onda da ECO 92 ,a maioria dos espaços e publicaçõessobre meio ambiente na grande im-prensa foi minguando até acabar. No-ticiar o meio ambiente só pela form ada tragédia não atrai novos leitores,nem anunciantes. As pessoas hoj equerem ter esperança, ver um poucode beleza, se engajar, fazer parte de al -guma coisa boa.

IMPRENSA-O jornalista que cobre meioambiente deve ter um perfil de preocu-pação e identificação com o tema ?FIRMINO - Claro . Sem esse perfil, sen-sibilidade para o tema, sem ele en -tender, no dizer de Adélia Prado, qu e"perante o universo um ser human otem a mesma importância que umagalinha'; e por isso os dois devem serpreservados, o jornalista vai continu-ar sendo o que sempre fomos . Aliás,em uma pesquisa muito interessante ,Washington Novaes descobriu qu e" jornalista não gosta de meio am-biente": Sabe por que? Porque ele temque ser coerente com aquilo que cri-tica, denuncia no outro . Para ser umjornalista ambiental, não dá pra ficarem cima do muro, só cagando regraspara os outros. Essa é a dificuldade . Éisso que incomoda . E o que nos inco-moda a gente não quer saber. Melho rcontinuar comendo veneno e denun-ciando quem o produz.

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dir :¢►¢i¢¢¢¢i ►

rnalistasem fase de

extinçãoFoi-se o tempo em que ser jornalista era procurar um lu -

gar onde brigar por uma causa . Isso era coisa de republicanos ,de abolicionistas, de subversivos ou de militantes . Mas há ain-da uma modalidade de jornalista em fase de extinção : armado scom uma causa - a ambiental - muitos acreditam que a únic aforma de salvar o planeta será por meio da conscientização eco -lógica . Encontramos algumas espécies nativas .

POR THAIS NALDON I

Falar em meio ambiente hámuito tempo não significatratar exclusivamente sobreo desmatamento da Amazô-nia ou a situação periclitante

das minguadas reservas de Mata Atlân-tica brasileiras . Efeito estufa e catástrofesambientais são apenas alguns dos assun-tos que permeiam a pauta ambiental ,cada vez mais disseminada, embora malexplorada pela imprensa brasileira .

Quem não se lembra da onda am-biental que tomou conta do Brasil nospreparativos da Conferência da ON Usobre Meio Ambiente e Desenvolvi -mento, realizada no Rio de Janeir oem 1992? Na época, diferentement edo que ocorre hoje, os jornalistas nã otinham conhecimento sobre o tema ."Hoje o conhecimento da impren-sa é muito maior do que na época d aECO-92 . Nós tivemos que aprende ro que era efeito estufa, aquecimento

global, camada de ozônio, biodiversi-dade e desenvolvimento sustentável .Hoje, pelo menos, os jornalistas já tê muma noção geral sobre essas questões,embora falte um conhecimento mai sprofundo dos temas ecológicos " ex -plica Roberto Villar Belmonte, u mdos criadores da Rede Brasileira d eJornalismo Ambiental e editor da re -vista Campo Aberto .

A ECO-92, sem dúvida, repre-sentou um marco no que diz respeit oà discussão do meio ambiente no Bra-sil . Na ocasião, dezenas de caderno sespeciais, encartes e editorias sobre otema foram criadas no país . No en-tanto, passado o entusiasmo inicial, a siniciativas foram sendo enfraqueci -das, até o esgotamento total . "O boo mcertamente aconteceu nos anos 90 ,mas a queda também. Se pensarmosapenas na imprensa nacional, pode -mos dizer que na década de 90 houve

unia considerável perda de espaço n acobertura do tema, apesar das pesqui-sas apontarem o aumento da relevân-cia de questões ambientais para a po-pulação e também para alguns setore sdo empresariad o", analisa Hélio Hara ,coordenador de comunicação insti-tucional do WWF-Brasil . "Depois d aconferência, já desapareceram mai sde 10 publicações impressas . Nosgrandes jornais, a euforia ambienta lacabou em 1994 " , contabiliza RenéCapriles, editor da revista ECO-21 .

■ Cruzando conceito sO impacto causado pela escasse z

de informações sobre meio ambientena imprensa tradicional já ressoa n apopulação . Pesquisa realizada pel oMinistério do Meio Ambiente, e m2001, - que vem sendo repetida nes-te ano - revelou que mais de 50% do scidadãos não sabem identificar pro-

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■ As fotos acima fizeram parte de uma esquete apresentada durante o Congresso de Jornalismo Ambiental do Ri oGrande do Sul, realizado de 19 a 21 de mai o

■ Roberto Villar Belmonte: "Hoje o jornalista j átem uma noção geral das questões ambientais ,embora falte um pouco de conhecimento"

■ René Capriles : " Os veículos especializado sdependem, numa grande escala, depublicidade oficial"

■ Adalberto Marcondes : "Embora existam mai stemas ambientais na imprensa, o olhar ambienta lestá mais no leitor do que no jornalista "

blemas ambientais na cidade ond evivem. Desse total, 52% não lêemjornais e 90% se informam exclusi-vamente pela televisão . "Para os qu eresponderam a pesquisa, quase que atotalidade dos entrevistados, acredi-tam não ter havido qualquer avanç ono comportamento da mídia desde aECO-92 " analisa Hara.

O caminho para reverter esseprocesso é apontado por AdalbertoMarcondes, da agência Envolverde .Para ele, o meio ambiente é um tem atransversal, visto que todas as açõeshumanas têm impacto ambiental eisso deve ser mostrado à população."Não devemos imaginar que a sim -

pies existência de jornalistas ambien-tais possa equacionar a necessidadee o direito à informação sobre meioambiente à sociedade . Embora exis-tam mais temas ambientais na grand eimprensa, o olhar ambiental está maisno leitor do que no jornalista '; disse .

Quem assina embaixo as declara-ções de Marcondes é o tarimbado jor-nalista Washington Novaes. Emboranão se considere urn jornalista ambien -tal, Novaes - colunista do jornal O Esta -

do de S.Paulo e comentarista da TV Cul -tura-é conhecido pelo discernimento eespírito crítico em lidar com o assunto ."Não sou um jornalista especializadoem meio ambiente, sou apenas um jor-

nalista . Falo sobre este tema porque nãohá como fugir dele. Todas as coisas têmimpacto ambiental . Não se trata mai sde respeitar, proteger o meio ambiente ,mas de limites. Estamos vivendo à beirade um colapso", disse.

Para Novaes as questões ambien-tais são ameaçadoras, de um mod ogeral, para todos . "Se forem focar n omeio ambiente, os políticos terão qu emudar toda sua forma de governar . A sempresas teriam que incorporar no -vos custos . A imprensa, certamente ,entraria em conflito com o governo, opúblico leitor e os anunciantes . É umtema delicado, mas que não pode, deforma alguma ser ignorado", garante .

IMPRENSA N. 213-JUNHO-2006 49

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■ Washington Novaes : "As questõesambientais sao ameaçadoras, de um modogeral, para todos.

■ MídiaverdetentasairdovermelhoLutar pelas causas ambientais e

tentar aprofundar as discussões relati-vas ao meio ambiente no cotidiano d apopulação não são as únicas preocu-pações da chamada " imprensa verde"Dia após dia, as dificuldades para amanutenção das publicações são sen-tidas pelos fundadores . "O Brasil nãodispõe de um mercado consumidorde informação ambiental, por esta ra-zão, os veículos dependem de publici-dade e, numa grande porcentagem, d apublicidade oficial", diz Capriles.

Vilmar Berna, fundador do Jor-nal do Meio Ambiente, diz que a im-prensa ambiental vive seis meses de"vacas magras" e outros seis de "vacas

menos magras': "O mês de maior fa-turamento ainda é junho, quando ho-menageia-se o Dia Mundial do MeioAmbiente . Na média, a imprensa am-biental acumula mais dívidas e preju-ízos do que lucros . Daí se explicam asbaixas tiragens e as enormes dificul-dades para democratizar a informa-ção ambiental no Brasil ".

Numa tentativa de enfrentar o pro-blema, os veículos da mídia ambienta lfundaram a Ecomídias (Associaçã oBrasileira das Mídias Ambientais) qu etem buscado associar-se a outros seg-mentos, como a RBJA (Rede Brasileir ade Jornalismo Ambiental), e a som ados esforços já resultou na criação doGrupo de Trabalho de Comunicaçã oAmbiental no âmbito do Ministério d oMeio Ambiente. "O problema da faltade financiamento da informação am-biental no Brasil ainda parece distantede ser resolvido", finaliza Berna .

■ Grande mídiax especializadasNão há como negar as grandes di-

ferenças existentes na cobertura am-biental entre a imprensa tradiciona le a imprensa verde . "A imprensa es-pecializada pode dedicar muito mai sespaço para um determinado assuntodo que a grande imprensa . Tambémexiste o fator da linguagem . O recep-

tor das informações especializada sestá muito mais informado do que oreceptor dos grandes veículos; sejameles jornais, revistas ou TV", analisa

n Vilmar Berna : "0 problem,i da falta d efinanciamento da Informaçao ambiental no Brasilainda parece estar distante de estar resolvido "

René Capriles ."Mas a grande diferençaé o enfoque dado a cada informação, sena grande imprensa ela deve ser infor-mativa e geral, na imprensa especiali-zada ela é seletiva e analítica ' ; finaliza .

Já para Roberto Villar, a grandediferença não está na cobertura, ma sna finalidade da publicação. "Na gran -de imprensa, que tem por fim o lucrodos proprietários, também trabalha mjornalistas comprometidos, simpati-zantes ou sensibilizados pelas questõesambientais . Boa parte da imprensaespecializada é também formada po rempresas, mas a maioria compostapor jornalistas comprometidos co ma causa", disse o jornalista, que sentefalta de mais profundidade na horada apuração . "Em todas, eu sinto faltade mais apuração . E de um texto mai selaborado. Acho que o renascimentodo Jornalismo Literário no Brasil temmuito a contribuir com a qualificaçã odo nosso Jornalismo Ambiental . Emqualquer tipo de veículo" finaliza.

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Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental :fonte de discussões e informaçã oA Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental, criada em dezem -bro de 1998, tem cerca de 400 integrantes em todas as regiõesdo Brasil e em alguns países do exterior . Participam estudan -tes, professores, assessores, pesquisadores e profissionais d eredação especializados ou interessados em meio ambiente . El aé uma rede virtual sujeita a moderação . Este controle das men -sagens, para manter o enfoque temático, é uma das razões doseu sucesso. Para fazerparte é preciso ser jornalista formado (ouestudante de jomalismo), aceitar o código de convivência e soli -citar acesso a um dos cinco moderadores: Adalberto Marcondes ,de São Paulo ( dal@envolverde .com .br), André Alves, de Cuiab á([email protected]), João Batista Santafé Aguiar, de Porto Ale-gre ( jbsa@ecoagencia .com .br), José Alberto Gonçalves Pereira ,de São Paulo ([email protected]) e Márcia Soares, do Riode Janeiro ( [email protected] .br) .

IMPRENSA

- JUNHO - 2006

Conheçaa fauna e a flora do jornalismo especializado

JomaldoMeioAmbiente - editor: Vilmar Berna [email protected] .b r

Terramérica - editor : Adalberto Marcondes [email protected] .b r

Agência Envolverde - editor: Adalberto Marcondes - [email protected] .brFolha doMeioAmbiente- editor:Silvestre Gorgulho - [email protected] .brRevista Eco21- editores René Capriles e Lucia Chaib -eco21 @eco21 .com .br

SiteAgua online- [email protected] .b rRevista Feria daGente - editor: Liana John - [email protected] .b r

Site Ambiente Brasil- editor. Mônica Pinto -jornalistamonicapinto@yahoo .com .br

EcoPress - editor : Sandra Sinico - [email protected] .b r

EcoAgêneia - editor : JuarezTozi -juarez@ecoagencia .com .b r

Horizonte Geográfico-editor: Peter Milko - pmilko@horizontegeografico .com .b r

1BEcológico-editor: Hiram Firmino - hiramjbeco@terra .com .b r

Revista Adiante -editor: Amália Safatle -amalia_safatle@terra .com .br

¢: Espedalista em Marketing ambiental - Rogério Ruschel - rruschel@uol .com .br-mom

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O inesperado;la

sempre aparecenas eleições

Murillo de Aragã ode Brasilia

©ODA CORRIDA ELEITORAL É CHEIA D Eimprevistos . Alguns deles decisivos para o re-

sultado. No início dos anos 80, ACM decidiu apoia rClériston Andrade para o governo da Bahia . Erauma barbada . Um acidente de helicóptero matouo candidato. ACM escolheu o pálido João Durvalcomo candidato . Foi eleito e, depois, virou seu opo-sicionista. Nas últimas eleições municipais, o filho deJoão Durval venceu César Borges, candidato carlistana Bahia na disputa pela prefeitura de Salvador. Erao inesperado causando efeitos no rumo da política .

Itamar Franco foi vice-presidente de Collor porque Leonel Brizola não quis vir a Brasília convidá-lo .Queria que Itamar fosse ao Rio . Mandava jatinho eofereceu todas as mordomias . Collor soube e convi -dou Itamar em casa . Márcia Kubitschek, que seria aescolhida por Collor, foi preterida. Um insatisfeitoPaulo Haddad ia pedir demissão do Ministério doPlanejamento . Marcou audiência. Gustavo Krause ,que era ministro da Fazenda e também estava insa-tisfeito, soube e pediu demissão antes de Haddad . Dedemissionário, Haddad virou ministro da Fazenda.

São fatos curiosos que de vez em quando apa-recem e dão novos rumos aos eventos políticos . Noinício de maio, o inesperado poderia ser o bloqueiodas rodovias pelos produtores de soja . Aconteceu semcausar problemas . Pelo menos até o fechamento destacoluna . Caso os produtores de soja tivessem mandadouns vinte caminhões para São Paulo, poderiam parali -sar as marginais, a Berrini, a Nove de Julho e a Paulista .Teriam causado uma grande confusão. Com mais 20caminhões no Rio e outros tantos em BH e Brasília, ocaos teria repercussões nacionais . O governo Lula seriadesafiado e, caso a resposta fosse inadequada, poderiavirar uma crise nacional . Não aconteceu.

Em maio, o inesperado deu as caras com vi-talidade. A decisão do presidente Evo Morales em"nacionalizar " os investimentos da Petrobras deto-nou uma nova onda de más noticias para o gover-no . Tanto pelo fato em si quanto pela desarticuladareação do governo . Formadores de opinião consi-deraram débil a reação de Lula . Para o "povão", o

episódio ainda passa incólume. O cenário devemudar com as possíveis repercussões inflacioná-rias causadas pelo reajuste do gás natural . Casoisso aconteça, há uma expectativa que o episódioboliviano tenha custos eleitorais para Lula assimcomo o apagão para FHC .

A greve de fome de Garotinho foi outrofato surpreendente . Sufocado pelo noticiário, oex-governador lançou mão de um factóide naesperança de reverter o noticiário. Saiu-se muitomal . Desmoralizou-se perante o mundo político,está sendo alvo de gozações e foi descartado pel oPMDB como candidato . Jogou por terra todo oinvestimento que fez em busca de apoio nas base sdo partido . Caso Garotinho tivesse "entubado" asacusações publicadas pela imprensa e continua-do a trabalhar para ganhar o controle do partido,poderia ser diferente . A ridículae inesperada atitude facilitou avida dos caciques que queremse ver livre de alguém que nãorespeita os limites do poder es-tadual em seu partido .

Voltando à esfera gover -nista, as declarações de Silvio Pereira a O Glo-bo também caracterizaram outro evento ines-perado que poderia trazer sérias repercussõe spara Lula . Tanto Alckmin quanto Lula tambémforam atingidos pelos ataques do PCC em SãoPaulo. Enfim, outro evento inesperado.

Fica claro que a atual situação das pesqui-sas eleitorais pode ser afetada por acontecimen-tos como os ocorridos nos últimos dias . E queo favoritismo de hoje pode não ser confirmadoamanhã . No cômputo dos eventos inesperado sdo mês de maio, Garotinho levou a pior. Lula fo iatingido . Mas exibe admirável resistência . Alck-min, que parecia livre do acaso, foi atingido pelo seventos em São Paulo . Como disse o conselheiroAyres, personagem de Machado de Assis em Esaúe Jacó, o inesperado tem voto decisivo na assem-bléia dos acontecimentos .

O favoritismo de. hoje pode não serconfirmado amanhã

www.murillodearagao .slg .br

IMPRENSA - N^ 213 - 1UNNO - 2006 51

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ul[¢Z¢:11: :1lIlk :1¢¢7u[!ERDAN WESLEYForos

atual presidente da CaixaEconómica Federal, Mari aFernanda Ramos Coelho, nãoé uma veterana da política

rasileira. Jornalista porprofissão, essa pernambucana de 44 ano sé uma profunda conhecedora da instituiçã oque hoje preside. Sua história na Caixacomeçou há 22 anos, quando ela assumiu oposto de gerente de agência em sua cidadenatal, Recife. Dali em diante, foi crescendona hierarquia da empresa até assumi ra presidência, depois da saída de Jorg eMattoso. Em sua trajetória, foi gerenteregional e membro do Comitê de Ética doBanco. Nesta entrevista para IMPRENSA, elafaz um balanço das ações do Banco.

Um banco e

muito mais

52 IMPRENSA-N^013-JUNHO-2006

IMPRENSA - Em que área social a Caixateve seu melhor desempenho nos últi -mos três anos ?MARIA FERNANDA RAMOS COELHO - Seguindouma orientação do Governo federal, que sabeda capacidade que uma instituição públicacomo a Caixa dispõe para contribuir com o de-senvolvimento social e econômico do país, po -demos destacar três grandes frentes : ampliaçãodo crédito habitacional, aumento dos paga -mentos sociais e ação de inclusão bancária .

IMPRENSA - Os resultados da Caixa per-mitem adjetivá-la como um banco so-cial? Por que?

MARIA FERNANDA - A Caixa é o banco de todos os bra-sileiros . E isso para nós é muito mais que um slogan .Diariamente, milhares de cidadãos, boa parte nã ocorrentistas da Caixa, vêm até as nossas agência spara receber seus pagamentos dos programas sociai sdo Governo federal, verificar ou sacar o seu saldo d oFGTS, receber seguro desemprego, PIS ou buscar a smelhores opções de financiamento habitacional .

IMPRENSA - Qual a sua percepção sobre a imagem d aCaixa hoje junto à imprensa ?MARIA FERNANDA - Nos últimos anos, a Caixa tem fei-to um amplo esforço para melhorar seus produtos ,canais de atendimento, processos e tecnologias co mo objetivo de oferecer um melhor atendimento par a

A Caixa Económica Federa l(CEF) foi fundada no dia 1 2de janeiro de 1861, pel oimperador Dom Pedro II.

Empresa 100% pública, aCaixa conta com 33,6 milhõe sde clientes e 23 milhões decadernetas de poupança, oque corresponde a 31% detodo o mercado de poupançanacional .

Hoje a estatal conta comsedes em 5.561 municípiosbrasileiros, que corresponde ma 17 mil pontos deatendimento entre agências ,lotéricas e correspondentesbancários.

A CEF é uma empresa mista ,ou seja, atua tanto corn obanco comercial, quantaagência do Governo federa lna distribuição de renda,auxiliando na transferênciade benefícios sociais,financiamento de programasde habitação, saneamentobásico e infra-estrutura .

Dentre as responsabilidadesda Caixa está a coleta egestão de dados contábeis egerenciais de todos os entesda Federação.

Os principais serviçosprestados pelo banco ãpopulação são a poupança ,conta corrente, empréstimos,pagamento de FGTS, PIS ,previdência privada efornecimento de créditoeducativa

Desde 1961, a Caixa possu io monopólio sobre aadministração do sistema deloterias do país

A CEF também destina partedos seus recursos para ofomento de projetos culturais,esportivos e educacionais .

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os cidadãos . Um dos resultados diss oocorre na exposição da imagem d ainstituição na imprensa . Além disso ,como banco público que atende a mi -lhões de cidadãos, precisamos conta rcom a parceria da imprensa . Essa par -ceria consolidou nossa imagem ins-titucional e nos deu a oportunidadede mostrar que a Caixa também é u mbanco público de grande porte, comresultados expressivos e capacidade d ecompetição no mercado. É claro quenão dá para escapar das crises, somo suma empresa, urna instituição de go-verno, mas o relacionamento com aimprensa tem sido tratado, mesm onestes casos, de maneira profissiona le séria, de modo a minimizar possí-veis impactos negativos .

IMPRENSA - Qual a importância d oPrêmio Caixa de Jornalismo como in-centivo à produção de pautas sociais ?MARIA FERNANDA - Estimular a produ-ção de pautas sociais é também con-tribuir para a discussão de problema ssociais brasileiros históricos e sempr elatentes . É contribuir para a formaçã oe conscientização da sociedade po rmeio dos veículos de comunicação .Dessas pautas surgirão idéias e deba-tes essenciais para o crescimento d opaís, ajudando no trabalho de erradi-cação da pobreza e na inclusão social .

IMPRENSA - Por que o tema negó-cios em turismo é importante para odesenvolvimento da economia bra-sileira ?MARIA FERNANDA - O turismo é con -siderado, segundo a Organizaçã oMundial do Turismo (OMT), a maio rindústria do mundo, produzind osignificativos impactos econômicos ,ambientais e sócio-culturais . Umapesquisa recente da Universidade d eBrasília (UnB) mostrou que o setorresponde por 5,5% do PIB nacional .Daí a importância de todo o traba-lho que vem sendo desenvolvido pel oMinistério do Turismo, bem com oda Caixa se apresentar como parceirado Ministério na execução de muitas

ações de estímulo ao turismo nacional .Na última década, mais de 10 milhõe sde pessoas viajaram pelo país, estimu -lando a economia de vários centro sturísticos brasileiros e da indústri ado turismo nacional . Cerca de ummilhão de empresas ativas trabalha mna atividade turística, empregando 1 0milhões de trabalhadores . No Brasil ,52 setores da economia estão dire-tamente ligados ao turismo e movi-mentam US$ 38 bilhões por ano.

IMPRENSA - Microcrédito será, pel asegunda vez consecutiva, tema d oprêmio especial do júri . Como avalia acobertura da midia sobre essa pauta ?MARIA FERNANDA - Acho que esse as-sunto ainda não foi totalmente ex-plorado, talvez porque seja algo rela-tivamente novo no Brasil . Existe ain-da uma visão distorcida do objetivo,que considera apenas a dívida e não oacesso a um recurso que pode ser úti le necessário . Existem milhares de fa-mílias brasileiras que nunca tivera macesso ao sistema bancário .

IMPRENSA - Três bancos - Bradesco ,Itaú e Unibanco - fazem parte da car-teira do Índice de Sustentabilidad eSocial Bovespa . Interessa para a Caix afazer parte desse grupo? Por que?MARIA FERNANDA - A Caixa publi-cou nos últimos três anos seu ba-lanço social, seguindo as diretrize sestabelecidas pelo Instituto Ethose pelo IBASE . No balanço são di-vulgadas as diversas ações, interna se externas, da Caixa no campo daresponsabilidade social . Uma delas ,por exemplo, é o projeto "Artesana-to Brasil com Design " que ajuda ar-tesãos espalhados por todo o Brasi la agregarem valor e facilitarem acomercialização de seus trabalhos .A Caixa mesmo adquire parte d aprodução desses artesãos para dis-tribuir aos seus clientes e colabo-radores . Já em relação ao Índice d eSustentabilidade Social Bovespa, épreciso esclarecer que ele se referea empresas com ações negociada sem bolsa de valores, o que não é ocaso da Caixa .

"Não dá paraescapar da s

crises, somosuma empresado governo.Mas nosso

relacionamentocom a imprensatem sido tratado

de maneiraprofissional ."

IMPRENSA - N^ 213 - JUNHO - 2006 53

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- Fundado em 15 de abri lde 1937, o Sindicato dosJornalistas Profissionais doEstado de São Paulo conta com4.500 filiados

- 0 seu último presidente foio jornalista Fred Ghedini, queatualmente é vice-presidenteda Federação Nacional do sJornalista s

- A direção do Sindicato écomposta por uma Executiva,Conselho de Diretores, DiretoriaPlena, Conselho Fiscal, diretoresregionais e de base e Comissãode Registro e Fiscalização doExercício Profissional, somando61 jornalistas.

- A escolha do corpo diretivoacontece a cada três anos .

IMEMMPOR : PEDRO VENCESLAU

Guto Camargo, 44 anos, é o primeirodiagramador a ocupar a presidênàa d oSindicato dos Jornalistas do Estado deS .Paulo. Ele foi eleito depois de (mais) u mtumultuado processo, onde duas chapas ,

uma de situação, ligada ao campo majoritário d oPT, outra de oposição, formada pelo PSIU, P50L ecorrentes à esquerda do PT, trocaram acusaçõese ataques. Guto começou sua carreira na grand eimprensa no Diário Popular, no começo dos anos80 . Passou pela Gazeta Mercantil, Gazeta Esportiva,

Shopping News. Seu último emprego, antes d eabraçar o movimento sindical, era no DCI, qu e

ainda paga seu salário. Nesta entrevistapara IMPRENSA ele tira dúvidas qu e

muitos jornalistas sempre tiveram ,mas nunca tiveram tempo, o u

padênda, para perguntar .

- Em 2006 concorreramduas chapas: "Sindicat oForte" encabeçada po rGuto Camargo, somou 726votos, e"Democracia praValer, Sindicato é pra lutar! 'do candidato Pedro Pomar ,alcançou 548 . A comissãoeleitoral ainda registrou 1 5votos nulos e 11 brancos .

- Urna das principais fonte sde renda do SJSP é o impostosindical . Ele é pago todos osanos, no mês de março, po rjornalistas com contrato n acarteira de trabalho

- 0 montante dessa contribuiçã oé repartido entre o Sindicato ,a Federação Nacional dosJornalistas, a ConfederaçãoNacional dos Jornalistas e oMinistério do Trabalho

- Em 2005 contribuíram 4 .55 2jomalistas

- No passado o Sindicatoconquistou notoriedade coma articulação de duas grandesgreves, realizadas em 1% 1e 1979

- Também foi uma da sprincipais lideranças nomovimento pela aberturapolítica do Brasil nos tempos deditadura militar, após a mortede Vladimir Herzog.

Em 2004, o Sindicatoamargou derrota ao nãoconseguira implantação doConselho Federal de Jornalismo

O diagramador que lidera o s

ornalistasIMPRENSA - Em algum momento, durante oprocesso eleitoral do Sindicato, que foi mui -to acirrado, pesou contra você o fato de nã oser umjornalista stricto sensu ?GuTO - Ninguém falou nada diretamente .Quem pleiteia um cargo em eleição sindica lnão leva isso a sério . Seria negar o própri opapel da representação sindical . Eventual -mente, um ou outro jornalista, de um es-pectro um pouco mais conservador, pod econsiderar isso uma coisa meio diferente .Tem gente que ainda discute se assessoria deimprensa é ou não é jornalismo .

IMPRENSA-O diagramadoré um jornalista ?Guio - A lei tem quatro funções jornalísti-cas, onde o profissional obtém o registro se mter o diploma universitário : diagramador, re-pórter fotográfico, repórter cinematográfico

e ilustrador . Esses quatro casos estão previstos na lei ,mas essa situação está para mudar. Na pauta do Sena-do há uma nova divisão das funções jornalísticas.

IMPRENSA - E qual é a tendência? Que o diagrama -dor deixe de ser jornalista ?GuTO - Não. A tendência é que se exija o diplom apara essas funções . (Os diagramadores) Teriam qu ecursar uma faculdade de Jornalismo .

IMPRENSA - Em que pé está essa lei ?GuTO - Está no Congresso, "rolando" nas comissõe sem Brasília há mais de dez anos . Pouco tempo atrás,foi incluída na pauta do Senado, para ser votada . Pas -sou pelas Comissões de Justiça, Ciência e Tecnologia.

IMPRENSA - Quantos jornalistas existem hoje filiado sao sindicato? Quantos jornalistas vocês acredita mque existam no mercado, no Estado ?

54 IMPRENSA - 213 - JUNHO - 2006

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Gt ro - São 4.600 filiados, que pagama mensalidade . Mas nós temos ummailling de oito mil jornalistas, que sãoaquelas pessoas que não estão em dia ,que deixaram de ser do Sindicato ou j áforam em algum momento e não sãomais. Se a gente for pensar em quanto sse formam por ano, é um absurdo . Exis-tem mais de 50 faculdades no Estado d eSão Paulo, em uma conta por baixo . Secada faculdade formar duas turmas detrinta, isso vai dar três mil jornalistas po rano ingressando no mercado. A maioriaacaba não exercendo a profissão .

IMPRENSA - Quantos, mais ou menos ,estão trabalhando ?Guro - Uns 18 mil .

IMPRENSA - É um número baixo defiliados . . .Guro - Estamos dentro da média do ssindicatos brasileiros . Até um poucoacima . Se você pegar a média de sindi -calizados dá uns 30, 40%. A média d esindicalização no Brasil é de 20, 25 %.A média de sindicalização está baixa n omundo inteiro, em todas as categorias .

IMPRENSA - Hoje, o Sindicato dos Jor-nalistas do Estado de São Paulo é pró-ximo ao Partido dos Trabalhadores ?Você é filiado ao PT?Guio - Sou filiado ao PT, mas não pa -guei (as últimas mensalidades) . Mas j áfui militante, participei de campanha.

IMPRENSA - De que corrente você é ?Guro - Sou da Articulação (campomajoritário) .

IMPRENSA - Vocês pretendem volta rcom a bandeira do Conselho Federa lde Jornalismo? Será uma prioridade ?Guro - Essa é uma luta nacional . Semdúvida será uma prioridade . Essa ban-deira nunca deixou de estar presente. Aestratégia tem que ser revista . Precisa -mos conquistar a sociedade, antes d equerer partir para Brasília. A discussãonão será técnica, lá no Senado .

IMPRENSA - Qual é a punição paraum veículo que não cumpra o piso d acategoria? (verbox)

GOTO - O piso é normatizado pelalei das profissões regulamentadas.Se alguém não paga o piso, está ind ocontra essa determinação legal. Ojornalista pode processar o veículo,que vai ter que pagar o piso .

IMPRENSA - Hoje, os grandes jornai sde São Paulo cumprem o piso ?Guro - Sim. Eles não contratam po rmenos do que o piso, porque sabe mque vai dar dor de cabeça depois . O queeles fazem é não controlar hora extra. . .isso a gente sabe. As pessoas acaba mnão tendo muito controle sobre isso .A maioria das empresas, porém, est ácriando mecanismos pra controlar.

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IMPRENSA -É muito comum a gentever um profissional de jornal diáriotrabalhar 12,15 horas .. .Guro - É . . . e eles nem sempre rece -bem por isso . A pessoa precisa te rum controle de jornada, com cartã oou banco de horas, para saber quan-to está trabalhando a mais .

IMPRENSA -É raro você encontrar veícu-los que paguem com carteira assinada ?Guro - Os veículos devem ter um nú -cleo mínimo com carteira assinada.

IMPRENSA - É exagero dizer que éuma raridade no jornalismo brasileir oa carteira assinada ?Guro - Não diria que é uma rari-dade. Toda empresa tem o núcleo

de jornalistas com carteira assina -da e reforça o time com uma par-cela grande, mas não majoritária ,de colaboradores . O Estadão publi-cou o balanço social dele, há poucotempo: 40% de colaboradores, 60 %carteira assinada .

IMPRENSA -Como que está a situaçã odos estagiários ?Guro - Nós temos uma proposta d eestágio monitorado . Já tem acordoassinado com vários jornais, com oo Estadão . É um acordo feito entr eo sindicato, a empresa e a faculda-de . Há uma normatização do qu eesses estagiários podem fazer o udeixar de fazer.

IMPRENSA - Estagiário pode assina rmatéria ?Guro - Existem uma série de regra sdo que ele pode fazer . Tem que estarsempre acompanhado por um pro -fissional da redação. . .

IMPRENSA - Ou seja : tem que assinarjunto com um profissional ?Guio - Sim. Não pode fazer matériasozinho . Ele pode fazer uma matériadesde que tenha um profissional jun-to . E só pode ficar no veículo por seismeses, prorrogáveis por mais seis ,para que não se perpetue como mão-de-obra. O estágio, em muitos casos ,é também uma forma de burlar a lei .

IMPRENSA -O sindicato oferece oquê, objetivamente ?Guio - Colônia de férias, convêniomédico - com farmácia, ótica. Temtambém os cursos que são organi-zados pelo sindicato, de acordo co ma demanda . São pagos, mas com u mpreço mais baixo do que seria pagoem qualquer escola . Tem, ainda, con-vênio com faculdade e curso de pós -graduação . Tem um jornal, o Unida-de . Esses convênios estão sendo am-pliados para o interior. Tem assessoriajurídica para ações coletivas, indivi-duais e de direito autoral . Assessorianas questões relativas ao INSS, apo-sentadoria . Beneficios . Toda essa sériede serviços .

IMPRENSA - N. 213 - JUNHO - 2006 5 5

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zzF A reputação é uma

mercadoria?Francisco Vianade São Paulo

ANT, QUE " INAUGUROU A FILOSOFIA MODER -

NA" no dizer de Hegel e foi o inspirador d eMarx e Freud, o primeiro na proposta de libertaçã odo trabalhador e o segundo na "verdade psicológi-ca radical"; ensina: "Tudo tem ou bem um preço, o ubem uma dignidade . Podemos substituir o que te mum preço pelo seu equivalente; em contrapartida, oque não tem preço e, pois não tem equivalente, é qu eo possui uma dignidade":

Se é assim, o que ocorre nos dias atuais no Brasi lquando as dignidades, expressas na sua forma mai selevada no valor da reputação, se dissolvem com otorrões de açúcar na água ?

Há muitas explicações conhecidas . A maisrotineira é o furor denuncista da mídia . Outra é acrise de valores. As evidências apontam para u mfenômeno bem maior e mais complexo . A chama-da pós-modernidade, com sua iconoclasta aversãoaos símbolos, acondicionada na semeadura do ca-pitalismo total, está criando um sistema de comu-nicação em que tudo hoje é reduzido a mercadoria .Tudo é produto . Tudo é valor monetário.

Como constata Dany-Robert Dufor, no recém-publicado A arte de reduzir as cabeças : a nova ideo-logia do mercado, ao contrário das precedentes - co -munismo e nazismo, por exemplo - não visa subme -ter os indivíduos pela "reeducação e coerção": A nov amontagem "se efetua, pois, em nome de um ` real ' noqual é melhor consentir do que a ela se opor ':

É o que está acontecendo no dia-a-dia . A teori aganhando contornos de realidade . Os escândalosdivulgados na mídia, as tentativas de manipulação ,as mentiras e as polêmicas vazias, a consumir tem-po e energias preciosas, não trazem apenas o enca-deamento de uma falta de sensibilidade para co mas exigências de reformas e mudanças construtivasno ambiente brasileiro. Elas estão sobretudo asso -ciadas à essa visão de um mundo sem limites, ond ea única garantia de êxito está conectada aos fluxosde circulação de mercadorias .

Nesse contexto, vale um registro positivo quan -

to à forma com que o presidente Luis Inácio Lul ada Silva vem conduzindo a comunicação no episó -dio do gás boliviano. Foi rotulado de tíbio e ingê-nuo, injustamente tratado de forma desrespeitos aem ilustrações e charges, mas está certo . Defende uo diálogo e o entendimento. Virou as costas à lógic ailusória do mercado. Se tivesse cedido à essa deus aautofágica e à pressão dos seus críticos, teria inva -dido a Bolívia como Bush fez no Iraque e no Afega -nistão . Ninguém falou em invasão, mas tal desej opermeia o discurso do endurecimento .

A verdade é cruel . A comunicação é como cer -tos produtos químicos . Isoladamente, são inofensi -vos . Combinados, podem causa rexplosões violentíssimas . O cultoao mercado criou um bloquei oquase impenetrável à reflexão e mtorno das razões por trás das ra-zões . Mudar essa abordagem tor-na-se imperativo porque é, pormeio dela, que as questões hu-manas, o Direito como forma depraticar a justiça e não apenas um mero rito proce -dimental, entre muitos outros aspectos que faze mda comunicação algo útil e vital, poderão voltar aconviver em equilíbrio com os temas econômicos .

Se isto começar a acontecer - diálogo em lugar dacoerção, como prega Lula no episódio do gás bolivia -no-, o pêndulo da ética tenderá a se mexer na direçã ode valores intangíveis e não apenas de valores mone -tários, retidos na cerca de arame farpado do merca -do . Hegel dizia que a filosofia de uma época condensatoda a essência do espírito de uma conjuntura. Nanossa época, o mercado tornou-se o deus e a supre -macia do lucro o seu profeta. Se os dogmas do nov odeus se revelarem como sendo apenas dogmas, o qu emuitos parecem cegar os próprios olhos para não ver,a própria força do ambiente democrático se encarre -gará de dar vida a uma comunicação que em lugar d eencolher, passe a dar ao pensamento crítico horizon -tes cada vez mais amplos e vigorosos .

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Hegel dizia que afilosofia de umaépoca condensatoda a essênciado espírito deuma conjuntura

viana .9000@uol .com .b r

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osMEDIADORES

Os mídias representam, no mer -cado publicitário, o que há d emais nobre nas estruturas so -ciais: os mediadores . Aliás, oradical que forma as duas pa -

lavras é o mesmo e significa aquele qu eestá no meio, o que faz as pontes, articul aos elos e estabelece as parcerias.Neste mês, comemora-se o Dia do Mídia e m21 de junho. E, como em todos os anos des -de o seu lançamento, o MAPA DA MÍDIAlembra a data e apresenta questões qu eajudam a entender e interpretar a funçãono interior das relações entre veículos d ecomunicação e agências de publicidade .Nesta edição, conversamos sobre o merca -do de mídia com Angelo Franzão, VP e di-retor de Mídia da McCann Erickson e presi-dente do Grupo de Mídia de São Paulo . Naentrevista, Franzão salientou as mudança spelas quais o mercado e o profissional pas -saram nas últimas décadas e ressaltou opapel do mídia como um intérprete da sdemandas coletivas dos consumidores ,por um lado, e dos clientes, por outro.Além disso, promovemos um encontro -virtual, é verdade - entre contatos publici-tários e mídias, na sessão Perguntas e Res-postas. Os contatos - muitas vezes queixo-sos que os mídias não os ouvem - pergun-taram o que quiseram . O resultado foi umbelo diálogo. Tal qual deve ser segundo atradição dos mediadores .

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o mês que se comemora oDia do Mídia, o publicitárioAngelo Franzão, que só naMcCann Erickson atua des-de 1979, faz um balanço d aprofissão. Vice-presidente e

diretor de Mídia da McCann e presidente doGrupo de Mídia de São Paulo, Franzão anali-sa o papel do mídia e reconhece que os de-partamentos estão enxutos e com muita sdemandas . Entre suas atividades, Franzão éresponsável pela cadeira de midia em algu -mas universidades do país e está desenvol -vendo uma nova carreira, a de autor . Estemês está sendo lançado seu primeiro livro,Midializaçâo, O Poder da Mídia, que abord aa relação com os consumidores. As mudan -ças do mercado, o crescimento da área d emídia nas agências nos últimos 15 anos e arelação cliente-departamento de mídia sãoassuntos tratados por ele nesta entrevista.

Um olho na mídia,outro no consumidorMAPA DA MÍDIA - A história da mídi ano Brasil se confunde com a históri ada propaganda brasileira . Do ponto devista do papel do profissional de midia,quais são as mudanças mais significati-vas nas últimas décadas ?Angelo Franzão - O mídia se desen-volveu muito rápido . A mudança doperfil profissional, desde a década de80, foi impulsionada pela sofisticaçãodo marketing com a criação de novasmarcas e produtos . Hoje vivemos umapulverização geral de novos canais decomunicação competindo em diverso ssegmentos e o profissional acompanhaessa demanda e responde à altura das

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exigências do mercado .

MAPA DA MÍDIA - O profissional de mídiahoje tem mais importância do que antes ?Franzão - Sim, com certeza . O profis-sional de mídia hoje é um sinalizadorde caminhos, tanto da comunicaçãocomo da estratégia e da divulgação .Eu digo sempre : quem atribui a im-portância ao midia nesse processoé o consumidor. Hoje se você nãoconhece hábitos e atitudes que o pú-blico-alvo valoriza é impossível es-tabelecer um planejamento. Antes ,o mídia era demandado . Hoje elecria espaço para o produto aparecer

e conduz outros setores da agência .O mídia conhece as ansiedades dosveículos e vai arquitetar essas possi-bilidades em beneficio de seus anun-ciantes . Isso ele não faz sozinho . Temuma equipe dentro da agência que fic acada vez mais integrada com o proje-to de comunicação como um todo .

MAPA DA MÍDIA - O planejamento demídia é feito inteiramente pelo pro-fissional ou o cliente sugere ações ?Franzão - O departamento de mídi adeve ser responsável 100% pelo pla-nejamento de divulgação do produtodo cliente . A decisão de onde o cliente

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vai aparecer é da equipe . Você nãovai ao médico com dor de cabeça ediz ` eu quero tomar Doril ' ou ` euquero tomar Melhoral . ' O clientepode e deve opinar . como sem -pre digo: de publicitário, médico elouco todo mundo tem um pouco .Quando alguém apresenta uma re-ceita em mídia ele está colocando osseus hábitos e não levando em cont aque o consumidor daquela marc anem sempre é ele e os hábitos del enão têm a ver com o processo . Porisso, o mídia é o responsável pel oprocesso e, é claro, precisa compro-var tudo que está recomendando .

MAPA DA MÍDIA - Contatos publicitáriosdizem que os departamentos de mídi adas agências estão atolados de trabalh oe com poucos profissionais para atende ra demanda . Isso é verdade?Franzão - Isso é verdade, mas existemprocessos para facilitar esse trabalho ,como a informatização, que está a ípara ser usada e simplifica muito scontatos . Mas precisamos levar e mconta que hoje existe uma segmen-tação muito grande dos canais decomunicação e a relação é inversa -mente proporcional . Acontece qu etodo mundo que se apresenta comocanal de comunicação acha que dev ereceber a atenção e investimento d etodas as marcas do mercado . Se foss eassim, não haveria marca nem ver-ba suficiente para todo mundo . Ecom certeza essa conta não fecharia .

MAPA DA MÍDIA - O que o senhor ach ados veículos segmentados, como, po rexemplo, as revistas especializadas ?Franzão - Eu acho que os veículospulverizados acabam se destacandono processo exatamente pelo fato d eprovidenciar informações adequa-das às marcas, independentementeda sua dimensão . Se ele tem uma in -formação técnica e é adequada a umadeterminada marca, certamente eleserá ouvido pelo profissional de mídia .

MAPA DA MÍDIA - Existe uma preferên-cia em investir no veículo televisão ?Franzão - Claro que não. Eu acho quea preferência é pelo poder de atender oobjetivo de determinada marca. Podeser impresso, telefônico, eletrônico,interativo, digital, pouco importa . Oque interessa é a informação em si.O profissional de mídia está cansadode ver profissionais que procuramo departamento de marketing da sagências e dizem que precisam fala rcom todos para apresentar seu veícu-lo. Não adianta, ele não vai falar co mtodo mundo do departamento, ape -nas com quem realmente interessa .Por exemplo, um cliente A, que te mum produto voltado para homensda classe A/B não vai interessar par aoutro que tenha um produto voltad opara mulheres da classe C/D. Ou el eé muito bom aqui ou muito bom ali .Poucos são os veículos no mundo qu esão bons em ambos os segmentos . Ocontato publicitário precisa saber oque ele quer e nem sempre ele sabe . Ocontato convive com suas necessida-des e ansiedades que é na verdade ge-rar receita e ir atrás do faturamento. Emuitas vezes na cabeça dele tudo é vá -lido, mas ele não pode esquecer jamai sque existe do lado de cá a preocupaçã ocom a técnica, com a relação custo/beneficio, com a otimização de inves -timento e nem sempre é a mesma pre -ocupação que o contato publicitáriotem. Por isso, às vezes, se cria um viés.

MAPA DA MÍDIA - Como é feito o tra-balho de decidir o que vai entrar n oplano de mídia ?Franzão - Primeiro o cliente preci-sa saber quem é o seu público-alv oe qual seu perfil . Os clientes che-gam na agência sem ter isso muitoclaro. E alguns relutam em aceita rque seu produto é consumido numadeterminada classe ou numa deter -minada faixa de idade . Esse mapea-mento é fundamental . A partir daí ,a agência determina o perfil dess econsumidor : hábitos, comporta -mento, atitudes, tudo aquilo qu ecaracteriza esse segmento . O pro-cesso de mídia está ficando cada ve zmais sofisticado e o profissional fa zo contato junto com a área de aten-dimento quando o cliente chega n aagência . Quanto maior for o volu-me de informação e conheciment ode quem é o consumidor, melho rserá a recomendação de mídia .

MAPA DA MÍDIA - O mídia é muitobajulado?Franzão - Ele recebe uma atençãodiferenciada pelos canais de comu-nicação que são muito atenciosos .

MAPA DA MÍDIA - O senhor já passo upor alguma situação de favorecimen-to por ser diretor de mídia de umagrande empresa ?Franzão - Tenho uma história en-graçada . Uma vez bati num carr oque estava na minha frente . Era umfuncionário do departamento d emarketing do SBT. Ele saiu do car-ro e quando me viu nos abraçamos .Tenho certeza que se não fosse umprofissional de mídia que tivessebatido no carro dele a relação teri asido outra, muito mais complica-da. Mas o que é legal ressaltar é qu eexiste uma parceria independente darelação comercial . Eu tenho grandesamigos representantes de veículo sde comunicação e nos relacionamo scom harmonia .

O profissionalde mídia hoje é :

um sinalizador dcaminhos, tanto dacomumcaçao como

da estratégia e dadivulgação"

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