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Em 2005, o Ministério da Cultura (Minc) lançou o projeto Pontos de Cultura, com o intui- to de difundir as mais diferentes culturas pelas cidades do Brasil. Organizações sem fins lu- crativos encaminham seus proje- tos a Brasília, por meio de editais nacionais, abertos para selecio- nar os melhores trabalhos que vi- sam à propagação de cultura em algumas localidades. Com o pro- jeto aprovado, a organização re- cebe o valor estipulado no edital, dividido em parcelas, para ser in- vestido no Ponto de Cultura. Em contrapartida, deve prestar con- tas diretamente com o Ministério. O fato de os pontos es- tarem subordinados apenas ao Minc, as distâncias serem con- sideráveis, em termos físicos, e existir falta de diálogo com a organização desses pontos, sem contar com as diferenças cultu- rais entre as cidades, tornou o processo grandioso. “Então, o Ministério tomou a iniciativa de propor convênios aos governos estaduais e aos governos muni- cipais”, diz o secretário-geral da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul, João Tonus. Vendo a oportunidade de ingres- sar nesse projeto e fortalecer ain- da mais a cultura na cidade, a Prefeitura de Caxias do Sul assi- nou no final de 2009 um convênio direto com o Ministério. Após a assinatura do con- trato, a prefeitura abriu, no início de 2010, o primeiro edital para a escolha dos Pontos de Cultura do município. Nele, foram inscritos oito projetos, e somente cinco tinham características e condi- ções de serem aprovados. Então abriu-se outro edital, no segundo semestre de 2010. “Cinco foram contemplados e, aí, completou-se o número de 10, que é o núme- ro que foi conveniado”, comenta Tonus. Conforme o secretário, cada Ponto de Cultura escolhido tem um foco diferente, mas todos os envolvidos buscam a partici- pação do cidadão na sua comuni- dade ou no seu tipo de fazer cul- tural, “seja na área do vídeo, da cultura popular, como capoeira, na área do circo ou na formação de agentes da cultura”. Em 2011, os Pontos de Cultura escolhidos começaram o processo de organização e fo- ram oficialmente apresentados à comunidade no dia 20 de junho. Nesse mesmo dia, foi empossado o Conselho Gestor dos Pontos de Cultura. Segundo Tonus, esse conselho irá trabalhar para que, coletivamente, se busque o me- lhor resultado. “E cuidar para que a meta de cada um dos 10 pontos possa realmente ser atin- gida”, diz. Os pontos irão começar suas atividades no segundo se- mestre de 2011. Caliandra Paniz Troian, coordenadora do projeto Teia Cultural, no bairro Kayser, já tem uma data prevista. “Pre- tendemos lançar nosso trabalho na segunda quinzena de setem- bro”, afirma. Caliandra foi convidada a desenvolver o projeto junto com a Associação dos Moradores do Bairro Kayser (Amob Kayser). O objetivo é formar agentes cultu- rais. “O curso é aberto ao públi- co e temos a expectativa de trazer tanto pessoas que já trabalham na área como aquelas que dese- jam trabalhar”, diz. Ela comenta que essa é uma oportunidade de profissionalização dos trabalha- dores da cultura e que sua meta é formar 150 agentes em três anos. Os Pontos de Cultura têm locais específicos para acontecer, mas pessoas de toda a cidade po- dem participar, independente- mente do bairro onde residem. A Associação Artística Cul- tural Agosto 17 foi fundada em 1998 e é uma associação com ca- racterísticas de ONG. Desde sua fundação, a Agosto 17 visa a es- timular, incentivar e possibilitar trabalhos relativos a questões artístico-culturais em Caxias do Sul e região. Segundo a vice-pre- sidente da ONG, Liliane Maria Viero Costa, sua trajetória cultu- ral se dá no entendimento de que houvesse um espaço de debate e reflexão. “Isso não significa só artes visuais, só música, só lite- ratura, mas que todos os traba- lhadores da arte pudessem estar conversando independentemente de reunir só segmentos”, afirma. Mas nem sempre a Agosto 17 teve representantes de todos os segmentos, devido a má-com- preensão da sociedade, que tinha a visão de que a cultura deveria ser segmentada. “A Agosto, na sua estrutura de origem, nunca enten- Para fortalecer a cultura em Caxias Atividades, nos Pontos de Cultura, começam no segundo semestre CASSIANE OSÓRIO [email protected] deu a arte como segmentada. Ela pode ser segmentada na produção, mas qualquer manifestação artís- tica tem que dialogar com a outra manifestação”, diz Liliane. Em 2005, quando foi aberto o primeiro edital pelo Ministério da Cultura (Minc), a Agosto 17 encaminhou seu projeto, mas só conseguiu ser contemplada com o título de Ponto de Cultura em 2009. Foi a primeira entidade de Caxias do Sul a participar do pro- cesso, sem nenhuma ligação com a prefeitura. De acordo com Liliane, a ONG se sustenta, hoje, apenas com o dinheiro arrecado com os cursos oferecidos por ela. “Isso é outra coisa que as pessoas não entendem. Veem a Agosto de uma outra forma, e não é, temos altas dificuldades”, diz. O dinheiro re- cebido pelo Ponto de Cultura é investido em atividades artísticas na cidade. ONG independente Pontos de Cultura ■ Capoeira, Cultura que Une Rua Tarumã, 437 (Centro Comunitário), Loteamento Santos Dumont Jocimar Maciel Nunes [email protected] ■ Casa das Etnias Rua Luiz Antunes, s/n (ex-Albergue Municipal), Bairro Panazzolo Ivone Marin [email protected] Comunitário Zona Sul Rua Giovanni Berton, 170 (Centro Educativo Anjinhos da Comunidade), Bairro Bom Pastor II Cassiano Fontana [email protected] Costurando Sonhos Luis Franciosi Sério, 350, Bairro Forqueta Felipe Giron / [email protected] História nas Mãos Estrada do Imigrante, 575, 3ª Légua Luiz Alberto Hockele [email protected] Música para Todos Av. dos Metalúrgicos, 654 (Centro Comunitário), Bairro Belo Horizonte José Pascual Dambrós [email protected] Núcleo Audiovisual TME – Teatro Moinho da Estação Rua Coronel Flores, 810, Sala 103, Bairro São Pelegrino Carolina Campos [email protected] Teia Cultural Rua Vergínio Tonietto, 1290 (Salão Paroquial), Bairro Kayser Caliandra Paniz Troian [email protected] UAB Cultural Rua Luiz Antunes, 80, Bairro Panozzolo Tom Costa / [email protected] Vila Seca em Cultura Rua Ângelo Balbinotti, s./n. (Salão Paroquial), Vila Seca Jairo José Rech / [email protected]

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Resenha - Informativo do Jornal-Laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Caxias do Sul - Ano 2011

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Em 2005, o Ministério da Cultura (Minc) lançou o projeto Pontos de Cultura, com o intui-to de difundir as mais diferentes culturas pelas cidades do Brasil.

Organizações sem fins lu-crativos encaminham seus proje-tos a Brasília, por meio de editais nacionais, abertos para selecio-nar os melhores trabalhos que vi-sam à propagação de cultura em algumas localidades. Com o pro-jeto aprovado, a organização re-cebe o valor estipulado no edital, dividido em parcelas, para ser in-vestido no Ponto de Cultura. Em contrapartida, deve prestar con-tas diretamente com o Ministério.

O fato de os pontos es-tarem subordinados apenas ao Minc, as distâncias serem con-sideráveis, em termos físicos, e existir falta de diálogo com a organização desses pontos, sem contar com as diferenças cultu-rais entre as cidades, tornou o processo grandioso. “Então, o Ministério tomou a iniciativa de propor convênios aos governos estaduais e aos governos muni-cipais”, diz o secretário-geral da Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul, João Tonus.

Vendo a oportunidade de ingres-sar nesse projeto e fortalecer ain-da mais a cultura na cidade, a Prefeitura de Caxias do Sul assi-nou no final de 2009 um convênio direto com o Ministério.

Após a assinatura do con-trato, a prefeitura abriu, no início de 2010, o primeiro edital para a escolha dos Pontos de Cultura do município. Nele, foram inscritos oito projetos, e somente cinco tinham características e condi-ções de serem aprovados. Então abriu-se outro edital, no segundo semestre de 2010. “Cinco foram contemplados e, aí, completou-se o número de 10, que é o núme-ro que foi conveniado”, comenta Tonus.

Conforme o secretário, cada Ponto de Cultura escolhido tem um foco diferente, mas todos os envolvidos buscam a partici-pação do cidadão na sua comuni-dade ou no seu tipo de fazer cul-tural, “seja na área do vídeo, da cultura popular, como capoeira, na área do circo ou na formação de agentes da cultura”.

Em 2011, os Pontos de Cultura escolhidos começaram o processo de organização e fo-ram oficialmente apresentados à comunidade no dia 20 de junho. Nesse mesmo dia, foi empossado

o Conselho Gestor dos Pontos de Cultura. Segundo Tonus, esse conselho irá trabalhar para que, coletivamente, se busque o me-lhor resultado. “E cuidar para que a meta de cada um dos 10 pontos possa realmente ser atin-gida”, diz.

Os pontos irão começar suas atividades no segundo se-mestre de 2011. Caliandra Paniz Troian, coordenadora do projeto Teia Cultural, no bairro Kayser, já tem uma data prevista. “Pre-tendemos lançar nosso trabalho na segunda quinzena de setem-bro”, afirma.

Caliandra foi convidada a desenvolver o projeto junto com a Associação dos Moradores do Bairro Kayser (Amob Kayser). O objetivo é formar agentes cultu-rais. “O curso é aberto ao públi-co e temos a expectativa de trazer tanto pessoas que já trabalham na área como aquelas que dese-jam trabalhar”, diz. Ela comenta que essa é uma oportunidade de profissionalização dos trabalha-dores da cultura e que sua meta é formar 150 agentes em três anos.

Os Pontos de Cultura têm locais específicos para acontecer, mas pessoas de toda a cidade po-dem participar, independente-mente do bairro onde residem.

A Associação Artística Cul-tural Agosto 17 foi fundada em 1998 e é uma associação com ca-racterísticas de ONG. Desde sua fundação, a Agosto 17 visa a es-timular, incentivar e possibilitar trabalhos relativos a questões artístico-culturais em Caxias do Sul e região. Segundo a vice-pre-sidente da ONG, Liliane Maria Viero Costa, sua trajetória cultu-ral se dá no entendimento de que houvesse um espaço de debate e reflexão. “Isso não significa só artes visuais, só música, só lite-ratura, mas que todos os traba-lhadores da arte pudessem estar conversando independentemente de reunir só segmentos”, afirma.

Mas nem sempre a Agosto 17 teve representantes de todos os segmentos, devido a má-com-preensão da sociedade, que tinha a visão de que a cultura deveria ser segmentada. “A Agosto, na sua estrutura de origem, nunca enten-

Para fortalecer a cultura em CaxiasAtividades, nos Pontos de Cultura, começam no segundo semestre

CASSIANE OSÓ[email protected]

deu a arte como segmentada. Ela pode ser segmentada na produção, mas qualquer manifestação artís-tica tem que dialogar com a outra manifestação”, diz Liliane.

Em 2005, quando foi aberto o primeiro edital pelo Ministério da Cultura (Minc), a Agosto 17 encaminhou seu projeto, mas só conseguiu ser contemplada com o título de Ponto de Cultura em 2009. Foi a primeira entidade de Caxias do Sul a participar do pro-cesso, sem nenhuma ligação com a prefeitura.

De acordo com Liliane, a ONG se sustenta, hoje, apenas com o dinheiro arrecado com os cursos oferecidos por ela. “Isso é outra coisa que as pessoas não entendem. Veem a Agosto de uma outra forma, e não é, temos altas dificuldades”, diz. O dinheiro re-cebido pelo Ponto de Cultura é investido em atividades artísticas na cidade.

ONG independentePontos de Cultura

■ Capoeira, Cultura que UneRua Tarumã, 437 (Centro Comunitário),

Loteamento Santos DumontJocimar Maciel Nunes

[email protected]■ Casa das Etnias

Rua Luiz Antunes, s/n (ex-Albergue Municipal), Bairro Panazzolo

Ivone [email protected]

■ Comunitário Zona SulRua Giovanni Berton, 170 (Centro

Educativo Anjinhos da Comunidade),Bairro Bom Pastor II

Cassiano [email protected]■ Costurando Sonhos

Luis Franciosi Sério, 350,Bairro Forqueta

Felipe Giron / [email protected]■ História nas Mãos

Estrada do Imigrante, 575, 3ª LéguaLuiz Alberto Hockele

[email protected]

■ Música para TodosAv. dos Metalúrgicos, 654 (Centro

Comunitário), Bairro Belo HorizonteJosé Pascual Dambrós

[email protected]■ Núcleo Audiovisual TME – Teatro

Moinho da EstaçãoRua Coronel Flores, 810, Sala 103,

Bairro São Pelegrino Carolina Campos

[email protected]■ Teia Cultural

Rua Vergínio Tonietto, 1290 (Salão Paroquial), Bairro Kayser

Caliandra Paniz [email protected]

■ UAB CulturalRua Luiz Antunes, 80,

Bairro PanozzoloTom Costa / [email protected]

■ Vila Seca em CulturaRua Ângelo Balbinotti, s./n.(Salão Paroquial), Vila Seca

Jairo José Rech / [email protected]

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AGENDA CULTURAL■ 3 AGO

Abertura da Exposição Linha dePartida Gravuras de Iberê CamargoHorário: 19hLocal: Galeria de Artes do Centrode Cultura Ordovás

■ 4 AGO

Filme: Cartas para JulietaHorário: 15hLocal: Sala de Cinema UlyssesGeremia Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

■ 5 AGO

Quinteto de Sopros da OrquestraMunicipal de Caxias do Sul120 anos da Capela São CaetanoHorário: 20h30mLocal: Igreja do Bairro São CaetanoEntrada franca

Sexta CulturalShow com os Seresteiros do LuarLocal: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

■ 6 AGO

Roda de Leitura para JovensHorário: das 10h às 11hLocal: Telecentro e Sala doCONTAPETE – 2o andar daBiblioteca Pública MunicipalEntrada franca

Cinema no BairroFilme: Alvin e os EsquilosHorário: 14hLocal: Loteamento São PedroEntrada Franca

■ 7 AGO

Hip Hop CaxiasShows locais com e shows comD’conceito Moral e Revolução RSHorário: às 14h e 17hLocal: Centro Comunitário doBairro Vale da EsperançaEntrada franca

Domingueira ZarabatanaSet com DJsHorário: 17hLocal: Palco do Zarabatana Café/Ba-rentro de Cultura OrdovásEntrada Franca

■ 8 AGO

Concertos DidáticosHorário: 10h e 15h Local: Auditório do Instituto Estadualde Educação Cristóvão de MendozaEntrada franca

Roda de Leitura para AdultosHorário: das 14h às 16hLocal: Telecentro e Sala doCONTAPETE – 2’ andar daBiblioteca Pública MunicipalEntrada franca

■ 11 AGO

Filme: Cidade dos AnjosHorário: 15hLocal: Sala de Cinema Ulysses Gere-mia, Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

■ 12 AGO

Sexta CulturalShow com a Banda Blues HeadsHorário: 21h30mLocal: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura OrdovásEntradafFranca

■ 13 AGO

Quinteto de Metais da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do SulHorário: 9hLocal: Salão Paroquial Terceira LéguaEntrada franca

Quarteto de Saxofones da Orquestra Municipal de Sopros de Caxias do SulHorário: 10hLocal: E.M.E.F. Giusepe GaribaldiEntrada Franca

Cinema no BairroFilme: A Fada do DenteHorário: 14hLocal: Bairro Parque dos VinhedosEntrada franca

■ 15 AGO

Abertura Oficial da IV Semana de Fotografia de Caxias do SulAbertura da Exposição “Lições de um Jovem Fotográfo”Horário: 20hLocal: Sala de Exposições Tempo-rárias do Museu MunicipalEntrada franca

Abertura da Exposição Naturezas, dos alu-nos de Fotografia da UCSHorário: 19hLocal: Shopping IguatemiEntrada franca

■ 16 AGO

Abertura da Exposição Nosso OlharHorário: 19h30mLocal: Sala de Exposições do Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

Oficina Trama de ImagensFotografia e Arte ContemporâneaHorário: das 9h às 12hLocal: Mezanino do estúdioCETEL – Bloco T – UCS

■ 17 AGO

Palestra “Fluxo de Trabalho e diagramação de álbuns fotográficos”Horário: 19h30mLocal: Sala C – 103 – FSG

■ 20 AGO

Cinema no BairroFilme: As férias de Mr. BeanHorário: 14hLocal: Bairro Cidade IndustrialEntrada franca

Show com a Banda Blues de BolsoHorário: 21h30mLocal: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

■ 21 AGO

Espetáculo Teatral In HeavenTeatro do EncontroHorário: 19hLocal: Sala de Teatro – Centro de Cultura OrdovásIngressos: R$ 20,00 e R$ 10,00 estudante e idosos

■ 25 AGO

Série Grandes NomesHorário: 21h30mLocal: Palco do Zarabatana Café/BarCentro de Cultura OrdovásEntrada Franca

■ 26 AGO

Sexta CulturalShow com a Banda CanteriandoHorário: 21h30mLocal: Palco do Zarabatana Café/BarCentro de Cultura OrdovásEntrada franca

■ 28 AGO

Concertos ao EntardecerHorário: 18hLocal: Capela do Santo SepulcroAv. Júlio de Castilhos, s./n.Entrada franca

■ 29 AGO

Roda de Leitura para AdultosHorário: das 14 às 16hLocal: Telecentro e Sala do CON-TAPETE – 2o andar da Biblioteca Pública MunicipalEntrada franca

Domingueira ZarabatanaSet com DJsHorário: 17hLocal: Palco do Zarabatana Café/Bar Centro de Cultura OrdovásEntrada franca

Show com Camila e BrunoHorário: 21h30mLocal: Palco do Zarabatana Café/BarCentro de Cultura OrdovásEntrada franca

Fotos: Divulgação

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Viver em outro tempo pode ser uma armadilha

Há alguns dias assisti ao novo lançamento de Woody Allen, Meia-noite em Paris, que já faz história. É o filme do diretor que mais levou público ao cinema mundial, quebrando o recorde Hannah e suas irmãs, de 1986, e é apontado como o melhor trabalho do cineasta em anos. Woody encabeça a minha lista de diretores e roteiristas prediletos. Em tempos de filmes hollywoodyanos, com excesso de efeitos visuais e especiais, os roteiros ficam esquecidos e as discussões acerca da existência humana, um pouco novelescas para a realidade, tudo para atrair milhões às salas escuras. Discussões à parte, voltemos ao filme.

Antes de ver Meia-noite em Paris, havia lido uma ma-téria na qual Woody declarou: “Querer viver em outras épo-cas é uma armadilha”, e essa frase não saiu da minha cabe-ça desde então. O longa tem belas imagens e uma fotografia encantadora, que refletem a poesia e a história que permeia a capital francesa, locação escolhida para dar vida ao per-sonagem de Owen Wilson (de Marley & Eu), Gil, um escritor apaixonado por Paris e prestes a se casar. Nostálgico, ele acredita que a melhor época para se viver teria sido nos anos 20 do século passado, ao lado de gênios da música, da arte, da literatura e de outras personalidades. Mas, ao voltar ao passado, percebe que não é bem assim, que, na verdade, cada época tem as suas vantagens e desvantagens. Com esse rotei-ro, singular e bem-amarrado, entramos no túnel do tempo, literalmente.

Por um instante, diante de personalidades, como a de Ernest Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, do cineasta Luis Buñuel, do fotógrafo Man Ray, a grande mecenas da arte de vanguarda Gertrude Stein, o pintor Pablo Picasso e sua musa inspiradora, Adriana, fugimos com o personagem e nos trans-portamos a um ambiente de magia, e é praticamente impossí-vel recusar seu convite. Devido a essa sensação de nostalgia e vontade de ficar em outro tempo, nos sentimos questionados.

Engraçado como, no geral, as pessoas acreditam que seriam mais felizes em outra época que não no presente. A grande maioria vive relembrando o passado e pensa que se ainda fosse de tal maneira, seria mais feliz. Dificilmente se concentram no presente, no agora, é mais fácil outro tempo que não o atual, seja no passado ou no futuro. Há aqueles que, assim como Gil, pensam que em algum tempo distante viveriam melhor. Dessa forma, ouvimos certas comparações: “Naquela época sim era boa de viver, não tinha violência, nem estresse, as pessoas eram mais saudáveis”, eis um exem-plo.

Acontece que, como Woody define, todas as épocas têm seus problemas. “Os anos 20 parecem incríveis, mas quando as pessoas iam ao dentista não tinham Novocaína. E também não havia ar-condicionado.” Assim, nos damos conta de que não existe época nem tempo perfeitos. E será mesmo que se pudéssemos escolher em qual tempo viver, seríamos felizes? Independentemente de tempo, ano, se foi na época de ouro do cinema, da arte, da música, se foi quando os Beatles ou Elvis despontaram, a felicidade pessoal depende de cada um de nós e, ainda assim, ela não é plena. Afinal a vida é feita de momen-tos bons e ruins, alguns mais e outros menos, simples assim.

A insatisfação é um mal, não interessa o tempo em que se viva. Algumas coisas não mudam e cabe a cada um perma-necer no presente, para dar-se conta de que as épocas pode-riam ser outras, mas as angústias e indagações são as mesmas, e sempre será assim, afinal, seres humanos são insatisfeitos por natureza, lembra? E tendem a deixar a felicidade e a reali-zação na mão de outros, ou então, buscam uma desculpa para justificar a sua insatisfação, em vez de encarar que somos nós os responsáveis pela nossa vida, realização, felicidade, ou seja lá o que for, e que ela nos segue, onde quer que estejamos, nas décadas de 1920, 1940, 1950 ou no século 21.

Tudo muda o tempo todo. E são dessas equenas coi-sas, que Woody Allen contempla em seus roteiros e filmes, que nos fazem refletir, cada um a sua maneira. Mas adoro as li-ções e pegadinhas que ele expõe na grande tela, como se fosse um exímio conhecer da alma e do comportamento humano, ora brincando, ora revelando aspectos dos quais nem nos da-mos conta. ( Letícia Kirchheim).

Uma lição de (não) jornalismoao longo do tempo

Em A montanha dos sete abutres,Wilder dá um “puxão de orelhas” na mídia

A narrativa cinematográfica de Billy Wilder, comparado com a lingua-gem de hoje, é desproporcionalmente subjetiva. Mas, a construção temática que ele apresenta ao espectador, compensa re-ver A montanha dos sete abutres, que tem Kirk Douglas no papel principal.

Ao representar Charles Tatum, um jornalista de grandes trabalhos feitos no passado, que precisa retirar-se para o interior onde espera recuperar o prestí-gio, Douglas captura a atenção de quem assiste ao filme, mesmo que apenas pelo prazer estético ou curiosidade. Para os profissionais da área de Comunicação, no entanto, a mensagem é mais intensa.

Wilder procura mostrar – e conse-gue – como a mídia pode se transformar em um “grande circo”. Cínico, interes-seiro, arrogante e vaidoso, o jornalista aproveita-se de uma situação inesperada, na modorra do seu primeiro ano no jornal

de Albuquerque, no Novo México, para conseguir o retorno aos grandes veículos estadunidenses.

Para que isso ocorra, ele fere prin-

cípios éticos básicos, como o compromis-so com a verdade, ao controlar a situação, para seu interesse. Ao deixar morrer uma pessoa, Leo Minosa, vítima de um des-moronamento em uma mina, em busca de “relíquias indígenas”, ele deixa a des-coberto a face menor de um jornalista: quando a sede por um “furo” corrompe o espírito cívico e solidário que permeia o ideário da Comunicação Social, inclusive corrompendo o xerife e a esposa de Leo.

Ao retardar o salvamento de “ex-plorador”, ele transforma o resgate em assunto nacional, que atrai curiosos, cine-grafistas de noticiários e comentaristas de rádio – daí a ideia de “circo”, inclusive com a presença de um no local. Mas, em-bora seja a mensagem principal da obra de Wilder, há trechos que passaram a fazer parte do relicário das redações, de-vidamente reformuladas, como “notícia não é o cachorro morder o carteiro, mas o carteiro morder o cachorro”, entre ou-tras, que dão um sabor de atualidade ao discurso.

DINARTE A. [email protected]

O filme é sensacional; mostra como é realmente a vida de um jornalista. O jornalista do filme, Charles Tatum, era inteligente, conhecia a vida jornalística, mas, por uma ambição muito grande, acaba centralizando todo os fatos que fora cobrir e prejudicando al-gumas pessoas. Para conseguir o tão almejado título de jornalista re-conhecido pela sociedade, acabou chantageando alguns, usando ar-tifícios pessoais e até provocando a morte de Leo, que se encontrava soterrado na montanha, para que pudesse ter cada dia mais noticias para escrever em seus artigos. A frase mais marcante do filme é que jornalismo se faz nas ruas, na prá-tica; é o que ouvimos constante-mente na universidade. Fica a dica de filme. (Cassiane Osório).

Assistir à Montanha dos Sete Abutres é mergulhar nas origens do jornalis-mo diário e de conceitos que jamais serão antigos. O filme é de 1951 e, no papel principal, vemos o lendário Kirk Douglas dar vida ao jornalista Charles Tatum. A título de curiosida-de, Kirk é pai do talentoso Michael Douglas, que seguiu os passos do pai.No desenrolar da trama, a ânsia de fa-zer a notícia vender e tentar controlar os rumos dela pode causar um grande impacto na vida de muitas pessoas, levando alguns à morte. Do jorna-lismo responsável ao sensacionalis-mo. Não conto o filme porque vale a pena ver; principalmente deveem fazê-lo aqueles que pretendem ser jornalistas. Assim como temos livros da bibliografia obrigatória, esse filme deveria entrar para a lista de filmes obrigatórios. (Letícia Kirchheim).

O filme mostra tudo que um bom jornalista deve e também o que não deve fazer, propondo diversas refle-xões. Fica até a sensação que poderia ser mais longo. Especialmente para nós, futuros jornalistas, a produção traz nas entrelinhas dicas valiosas de como se deve (ou não se deve) tratar a notícia. Devemos escrever sobre o fato, e não produzi-lo. Até que ponto vale a pena se promover com a des-graça alheia?Resumindo, recomendo a todos que assistam ao filme; é uma ótima pro-dução, do tempo que um bom rotei-ro era a alma do negócio. Soluções criativas para contornar as limitações tecnológicas da época também são interessantes de serem observadas, como alguns enquadramentos que não existem mais hoje em dia. (Gere-mias Orlandi).

Mesmo sendo em preto-e-branco e legendado, o filme me surpreendeu. Sem efeitos especiais, humanoides azuis ou naufrágio de um navio, o longa foi capaz de provocar meu pró-prio ego. Algumas passagens foram marcantes ao longo do filme, como esta: “As más notícias são as que mais vendem, pois as boas notícias não são notícias.” Esta colocação me fez refletir sobre o que é notícia em si; enfoque debatido na primeira aula da disciplina. Lembrei de imediato da frase do jornalista Leandro Fortes, da revista

Comentários

Carta Capital, em uma palestra na Uni-versidade de Caxias do Sul, que dizia o seguinte: “O que as pessoas querem que seja divulgado é publicidade; notícia é o que elas não querem que seja divulgado.” É possível traçar um comparativo entre as duas afirmações, uma da ficção e outra da realidade. O uso de releases, de matérias pré-prontas, por jornalistas é algo que preocupa muito, devido ao fato de não ha-ver seleção rigorosa conforme os critérios de notícia ensinados nas universidades.Outra passagem marcante no filme é quando o Tatum, o protagonista do filme, diz ao seu assistente que o tempo que ele

passou na universidade foi tempo perdido. Quanto a isto não concordo, pois acredito que nada substitui uma instrução teórico-reflexiva, tanto de conteúdo como dos efeitos que repor-tagens geram nos receptores. O desenrolar da história demonstra exatamente isso. Ele, o jornalista sem formação, acabou saindo de Albu-querque, mas indo para a paz eter-na, e não para uma cidade maior. A cobertura e as ações de Tatum foram totalmente contra o princípio básico do jornalismo: não alterar os fatos. (Marco Matos).

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Em Caxias do Sul, dos anos 20 aos anos 80, a grande di-versão era o cinema. A alegria, o choro, o riso e o deslumbramento do público faziam parte dos espe-táculos. “Em alguns cinemas no interior, tinha gente que dava até tiro na tela”, revela a pesquisado-ra e professora Kenia Pozenato sobre a carregada emoção dos espectadores durante os filmes de faroeste.

De acordo com ela, a cida-de conheceu o cinema por volta de 1900, no chamado Teatro Ve-lho, que iniciou-se como uma casa de espetáculos teatrais, onde algumas vezes eram exibidos ví-deos. Com o tempo, os cinemas

surgem com mais força na cida-de. Dentre todas as salas, o Cine Teatro Apollo foi especial: durou mais tempo do que todos os ou-tros e deu espaço a diversos es-petáculos, como óperas, peças de teatro e à Sétima Arte, o cinema.

Independentemente da época, os cinemas sempre deram chance ao romance. O frequenta-dor e admirador da arte, cardiolo-gista e escritor Francisco Michie-lin, explica que o cinema abriu aos jovens um espaço de encon-tro e paquera. “Nós tentávamos segurar a mão da moça, se fôs-semos rejeitados os amigos vaia-vam, era o maior vexame. Mas ali você podia fazer sua “vidinha” de namorado dentro do cinema, lon-ge das sogras e das mamães”, re-lembra sorridente.

Sétima Arte, do Apollo ao ÓperaA história some junto às pessoas que se vão. Deve, então, ser documentada antes que momentos sejam apagados

CLARISSA DE [email protected] É dia de footing

O dia de ir ao cinema também era dia de paquerar. Aos do-mingos, era costume dos jovens se reunirem em torno da praça. As moças caminhavam pela rua como em um desfile. Os rapazes às rodeavam. Se elas cor-respondessem ao olhar, era feita a “aborda-gem”. Essa prática era conhecida como foo-ting. Dora Faé conta as lembranças deixadas por seu sogro, Darcy Faé (foto, com a esposa). “Ele conta que conheceu minha so-

gra, Elsa Bigarella Faé, em um feriado de 7 de Setembro. Ela cami-nhava na praça com uma amiga, ele a viu e foi amor à primeira vista. Ele a olhava, mas ela não correspondia, pois a amiga dizia que ele estava olhando para ela. Até que, no final de semana seguinte, o seu Darcy fez um sinal; ‘Como é? Posso ir até aí, ou não?’ Nesse dia,

eles começaram a conversar. Iam para a missa, para o cinema, até que namoraram, noivaram e casaram.”

Arquivo pessoal

Apresentação do antigo Coral Municipal de Caxias do Sul, que participou da ópera dramática Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, no Cine Teatro Ópera, em 1984, o último grande espetáculo no local

Arquivo pessoal de M

aria Noeli B

iasuz

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Uma tragédia iria interromper a história do cinema caxiense, em 28 de maio de 1927. Um incêndio pôs o Cine Teatro Apollo abaixo. A causa: um ferro à brasa esquecido por uma camareira descuidada. Mas o Apollo iria se reerguer em 1928, porém, sem outras modificações, o que oca-sionou sua deterioração. De acordo com Francisco Michielin houve uma época em que o cinema foi conheci-do como um verdadeiro “pulgueiro”. “Nesse período, quem gostava de ir ao Apollo eram os jovens. A progra-mação priorizava filmes de aventura, mocinhos e bandidos, faroeste, super-herois. A garotada ia mesmo é fazer bagunça. Tínhamos uma brincadeira. Dizíamos que na saída deveríamos devolver as pulgas ao pulgueiro”, conta o escritor.

Em 1953, o Apollo foi reinau-gurado com o nome de Ópera. A par-tir de então obteve o status de cinema e casa de apresentações de primeira classe. Estavam garantidos anos de sucesso. “Diziam até que o nosso Ópera tinha a acústica melhor que a do São Pedro, de Porto Alegre”, diz Maria Noeli Biasuz, que também foi soprano em apresentações do Coral Municipal no Cine Teatro.

A década de 1990 chegou, e trou-xe consigo os cinemas nos shoppings e o fim das grandes salas. Em 1993, era exibido o último filme no Cine Ópera, O Drácula, de Bram Stoker.

Não se pode negar a influência do cinema na vida das pessoas. Mas há diferenças em relação à antigamente. É o que destaca a professora e artis-ta plástica Sônia Regina Adami. “Te-mos filmes de ação, muito rápidos, as pessoas nem percebem o que está lá. Os filmes antigos eram mais calmos, davam importância à arte cinemato-gráfica. Hoje em dia os filmes estão submetidos à técnica, não mais a arte”, opina.

O término das atividades foi cercado de polêmicas sobre a impor-tância do prédio ser tombado como patrimônio histórico. Porém, o tom-bamento não se concretizou. Em 23 de

A queda, o sucesso e o fim do Cine Teatro

Em 1988, na Itália, o cineasta Giuseppe Tornatore lan-çou sua grande obra, o Cinema Paradiso. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1990, foi uma verdadeira homena-gem a magia das grandes salas de cinema. A história se passa em uma Itália pós-guerra. Em um lugar pequeno, onde todos se conhecem, a única diversão é ir ao velho Cinema Paradiso. Parece pretensioso, mas Tornatore poderia ter baseado seu filme na trajetória do Cine Apollo. Caxias do Sul era uma Vila de des-cendentes italianos, onde todos também se conheciam. O cine-ma era o grande ponto de encontro e diversão. Tanto o Cinema Paradiso do filme como o Apollo, da vida real, enfrentaram a mesma infeliz tragédia. No filme, o drama tem início quando uma película pega fogo, incendiando o cinema e cegando o pro-jetista, Alfredo. Em Caxias, um incêndio também pôs o Cine Teatro Apollo abaixo. Mas ambos são reconstruídos e ganham sucesso. Vale a pena assistir.

Sugestão de filme: Cinema Paradiso

Cada sala de cinema da cidade elegia um dia da sema-na para ser o “Dia da Dama”. Era quando as moças tinham privilégio, entravam e assis-tiam ao filme sem pagar; as sa-las lotavam e as filas dobravam as esquinas.

Para entrar, as mulheres precisavam de um ingresso que pegariam na bilheteria durante a semana, mas algumas das damas davam um jeito de “fa-bricar” suas próprias entradas.

É o que conta a antiga frequentadora dos cinemas,

O concorrido “Dia da Dama”

dezembro de 1994, um novo incêndio, agora de causas incertas, consumiu o cinema. Hoje, o local onde foi o gran-de Cine Ópera é um estacionamento, cercado de lojas populares e paradas de ônibus. Atualmente, os cinemas da cidade estão apenas em salas peque-nas e idênticas, nos conglomerados dos shoppings.

O fim do Ópera foi também o fim de uma era, mas a essência do cinema permanece. “Não esqueçam que o cinema nos mostra uma reali-dade além na nossa. A gente conhece outros países, outros costumes, hábi-tos, sem ter estado em outro lugar. O cinema nos transporta”, explica Ke-nia.

Maria Noeli Viega Biasuz, 84 anos. “Nem sempre con-seguíamos ir para o centro durante a semana para pegar as entradas, não dava tem-po”, lembra.

Então, diz ela, “nós pegávamos um papelzinho e escrevíamos ‘Dia da Dama’, com caneta tinteiro, dobráva-mos e entregávamos. Acho que mesmo se não estivesse escrito nada no papelzinho o pessoal da bilheteria também nem olhava”, brinca, ao re-cordar.

Local onde foi o grande Cine Teatro Ópera hoje é estacionamento cercado por lojas populares e paradas de ônibus

Clarissa Biasuz De Antoni

Abraço ao Ópera

Em 1993, um grupo de jovens caxien-ses reuniu-se em frente ao prédio do Cine Tea-tro Ópera. As portas da grande sala de apresen-tações já haviam sido fechadas permanente-mente. O objetivo dos manifestantes era ga-rantir o tombamento do prédio como patrimônio histórico, que, por fim, não se concretizou.

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Ledo engano para quem pensa que a Feira do Livro acon-tece somente quando vai para a praça na data específica de cada ano. A magia, até pode ser, mas o processo de realização do evento é amplo e contínuo. Ou seja, quan-do uma feira termina começa-se a pensar e a planejar a próxima edi-ção. Como acontece com a 27ª edi-ção da Feira do Livro de Caxias do Sul, que está sendo preparada para receber os visitantes no período de 30 de setembro a 16 de outubro, na tradicional praça Dante Alighieri, no centro da cidade. Parte dessa pré-preparação está no projeto Passaporte da Leitura, que serve como um chamariz de público à Feira.

Mesmo com patrono e ho-menageado definidos, a programa-ção oficial da 27ª Feira do Livro de Caxias do Sul (no fechamento desta edição o tema ainda não estava de-finido), está em aberto, para ser di-vulgada somente dois dias antes do início do evento, que ocorre de 30 de setembro a 16 de outubro. En-tre os motivos, as confirmações de participação de alguns autores e es-

O “desenho” da 27a Feira do Livro

RAQUEL [email protected]

critores que ainda devem ser acer-tadas. Mas já é possível visualizar o que vem por aí antes do fechamento de todas as atrações do evento, com a presença confirmada de autores que integram os projetos Passapor-te da Leitura e Proler. Além disso, o evento vai oportunizar bate-papos literários com autores nacionais e internacionais, sessões de autógra-fos, oficinas, seminários, palestras, lançamentos de obras e, claro, mui-tos livros com descontos e preços acessíveis para renovar a biblioteca pessoal.

Sob o comando do patrono Marco de Menezes, a organização tem expectativa de superar o nú-mero de visitação e de vendas em relação ao evento anterior, quando cerca de 300 mil pessoas passaram pelo local e cerca de 70 mil livros foram vendidos.

Inserida no Programa Per-manente de Estímulo à Leitura (PPEL), da Secretaria Municipal da Cultura, desde 2005, a realização da Feira do Livro é o ápice de um pré-trabalho desenvolvido em vá-rios projetos educacionais com estí-mulo à leitura nas escolas públicas do município, meses antes da gran-de festa literária. Como é o caso do projeto Passaporte da Leitura, em sua sétima edição, que une toda a comunidade escolar na leitura de

duas obras, três meses antes do evento, para culminar no encontro, na Feira do Livro, com os autores dos temas estudados. Outro exem-plo é o Proler, seminário que reúne professores de Ensino Fundamental e Médio, bibliotecários, equipes diretivas e pedagógicas, alunos do curso Normal, dos cursos de Gra-duação em Letras e Pedagogia e co-munidade interessada na promoção da leitura.

AUTORES CONFIRMADOS

Doze escritores estarão na sétima edição do Passaporte da Leitura (ver quadro). Este ano, dos 45 trabalhos inscritos, 24 escolas foram contempladas. Cada escola recebeu um kit com 30 livros para trabalhar duas obras em atividades literárias junto com a comunidade escolar e no bairro onde a esco-la está inserida. De acordo com a diretora do PPEL, Luiza Motta, o resultado é a aproximação de pais com a escola e também a melhora do relacionamento entre alunos e pais. “Diante desse quadro positi-vo, estamos alcançando o objetivo da Secretaria da Cultura, que é o de promover o interesse da comu-nidade pela leitura e incentivar o público-leitor a participar da Feira do Livro”, observa.

7º Passaporte da LeituraAutores e obras selecionadas■ Annie Muller

Obra: A turma do Meet

■ Cléo BusattoObras: O florista e a gata Pedro e o Cruzeiro do Sul

■ Gláucia de SouzaObras: Quem quer lamber

panela?Do alto do meu chapéu

■ Ilan BrenmanObras: As 14 pérolas budistas

As 14 pérolas da Índia

■ Índigo Obras: O colapso dos bibelôs

A maldição da moleira

■ Jane TutikianObras: Fica ficandoPor que não agora?

■ Jonas RibeiroObras: Circo faz-de-conta

Palavra de filho

■ Márcia LeiteObras: A menina sereia

Eu sou assim, viu?

■ Márcio VassalloObras: A fada afilhada

Da minha praia até o Japão

■ Roger MelloObras: CarvoeirinhosZubair e os labirintos

■ Stela Maris RezendeObras: Esses livros da gente

Matéria de delicadeza

■ Rosa Amanda Strausz Obras: Fábrica de monstrosUma família parecida com a

da gente

Também participam a Penitenciária Industrial de Caxias do Sul e turmas do EJA das escolas E.E.E.F. Victório Weber, E.E.E.M. Melvin Jones e E.M.E.F. Guerino Zugno, com os escri-tores caxienses Leandro Angonese (Pá de cata-vento e Orações de um ateu); Paulo Ribeiro (As luas que fisgam o peixe) e Rejane Romani Rech (Sê como sândalo).

Luiz Chaves/Divulgação

Praça Dante Alighieri, no centro de Caxias do Sul, servirá novamente de cenário para a 27ª Feira do Livro 2011, com atividades extras que ocorrem em outros pontos da cidade

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■ Adriana Antunes - Caxias do Sul■ Cléo Busatto - Curitiba■ Dilan Camargo - Porto Alegre■ Eliane Moro e Lizandra Estabel - Porto Alegre■ Fabiano Tadeu - Erechim■ Lizandra Estabel - Porto Alegre■ Nóia - Porto Alegre■ Peter O’ Sagae - São Paulo■ Rosa Amanda Strausz - Rio de Janeiro■ Sérgio Napp - Porto Alegre

O médico Marco de Mene-zes, poeta e editor, é o patrono da 27ª Feira do Livro. Vencedor do Prêmio Açorianos de Literatura em 2010, com a obra Fim das coi-sas velhas, é natural de Uruguaia-na, mas adotou Caxias do Sul por cidade. A homenageado é a li-vreira Maria Helena Lacava, que também já foi madrinha. Patrono e homenageada foram escolhidos em reunião, dia 29 de julho, da Associação dos Livreiros de Ca-xias do Sul, Secretaria Muncipal da Cultura e Programa Permanen-te de Estímulo à Leitura (PPEL). O tema do evento literário ainda não estava definido no período de fechamento deste jornal.

Conforme a diretora do PPEL, Luiza Motta, a escolha do representante da Feira do Livro e do homenageado é consenso entre livreiros, PPEL e Prefeitura, após um processo minucioso de obser-vações sobre os indicados. Mas reitera que o patrono não precisa ser necessariamente um escritor. “Um dos critérios considerados para entrar na lista de indicados é a ligação que a pessoa tem com a literatura e seja também uma en-centivadora da leitura”diz.

O argumento é endossa-do por Cristiano Bartz Gomes, livreiro há 18 anos na Feira do Livro e presidente da Associação dos Livreiros. “A pessoa eleita patrono tem que estar disponível para atuar na Feira”, conclui. De acordo com Gomes, na reunião definitiva, os dois nomes mais defendidos dos apresentados vai

Patrono foi vencedor do Prêmio Açorianos em 2010

SERVIÇOO quê?27ª Feira do Livro de Caxias do SulQuando?De 30 de setembro a 16 de outubroOnde?Praça Dante Alighieri

Em sua 18ª edição, o Proler traz 10 escritores para a 27ª Feira do Livro. O evento terá oficinas práticas para professores, bibliotecários, agentes de leitura que atuam nas suas comunidades e leitores.

Proler, de 6 a 8 de outubro

Antonio Lorenzetti/Divulgação

para votação final.Há 26 anos atuando como

livreira na Feira do Livro de Ca-xias do Sul, 16 pela Mercado de Ideias, Maria Helena Lacava diz que adora seu trabalho, alegando que, além de ser uma fã da lite-ratura, a atividade lhe possibilita estar em contato com pessoas. “Gosto de trabalhar com gente, estar no meio dos acontecimen-tos. É gratificante tirar os livros de quatro paredes e levar até o povo.”

A livreira recorda o ex-patrono Mario Gardelin como um de seus indicados no ano de 1992. Já que todos os anos sempre leva nomes para apreciação, vê as in-dicações dos livreiros como cola-boração importante na escolha do representante da Feira.

Trabalho de destaque na Feira do Livro, a função dos li-vreiros vai além do atendimento nas bancas que expõem. Além de indicarem nomes de pessoas a patrono, eles também indicam escritores para a sessão de autó-grafos, auxiliam no processo de definições e temática para a Fei-ra do Livro, fomentam a leitura, assessoram bibliotecas e entida-des, entre outras atividades que envolvem a leitura. Com cerca de 15 associados, a entidade dos livreiros completou um ano em junho. Outro fator importante para a criação da associação é o de promover o fortalecimento das livrarias independentes, segundo Gomes, presidente da Associação dos Livreiros. Neste ano 28 livrei-ros estarão na praça.

Pietro Carlucci de Campos/Divulgação

Passaporte da Leitura promove o encontro da comunidade escolar com escritores na Feira

Público de diferentes idades vai poder conferir as novidades literárias nas bancas de 30 de setembro a 16 de outubro

Fotos Divulgação

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É de Caxias do Sul uma das poucas mulheres que estrelam o cenário nativista, ao dedilhar com maestria sua gaita-piano. Jéssica Thomé, 20 anos, desde pequena de-monstrou afinidade com a música e hoje se notabiliza no meio tradicio-nalista pela sutileza caracteristica-mente feminina de tocar acordeão.

Certa vez, na impulsividade de uma criança, ao ver um acordeão na televisão, a jovem Jéssica disse que iria aprender a tocá-lo. A brin-cadeira foi levada a sério pelo avô, que, uma semana depois, presenteou a neta de 12 anos com o instrumento. As primeiras aulas desenvolveram o gosto da menina. Dois anos depois, Jéssica aproveitaria os preparativos dos bailes organizados pelo pai no Clube Minuano para aprender com a experiência dos artistas convidados.

Logo, Jéssica começou a cha-mar a atenção. Primeiramente, por ser uma menina que gostava de tocar acordeão e, na sequência, pelo talen-to com o instrumento. O caminho na-

tural se seguiu e os antigos mestres começaram a convidar a “jovem pro-missora” para “fazer uma palhinha” em suas apresentações no Clube. Na companhia de grandes nomes da nossa música, como Os Tiranos, Os Mirins e Os Bertussi, Jéssica tomou gosto pelo palco, e a carreira artística tornou-se um caminho natural.

Conforme a menina se torna-va mulher, a artista também amadu-recia. Aos poucos Jéssica passou a compor e cantar juntamente com o acordeão. O próximo passo era regis-trar o talento em forma de disco. Para juntar dinheiro para as gravações, Jéssica não mediu esforços. Um exemplo foi um baile, organizado em Fazenda Souza, quando ela iniciou os trabalhos ao varrer o chão e termi-nou no palco com suas músicas.

O dinheiro conquistado cus-teou um estúdio em Canoas, para onde a estudante de Jornalismo, se deslocava quase toda a semana, du-rante dois meses. A opção pelo cur-so de Comunicação ocorreu porque a primeira opção, a Licenciatura em Música, ainda não era ofereci-da pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Porém os conhecimen-tos adquiridos na faculdade também voltaram-se para a carreira artística: Jéssica se responsabiliza por toda di-

vulgação do CD e atualiza seu blog pessoal e o da gravadora.

O resultado de todo o esfor-ço pôde ser visto em 28 de outubro de 2010, no show de lançamento do álbum Simplicidade, para um públi-co aproximado de 400 pessoas, no Teatro São Carlos, logo seguido por uma turnê de 40 dias, que incluiu 21 cidades gaúchas. “Este CD é o maior exemplo de que eu posso conquistar tudo que eu quero. Sempre que o escuto consigo dizer que ele é meu, que fui eu que gravei, que tem todo o meu sentimento nele”, comenta a orgulhosa acordeonista.

Como toda artista em ascen-são, Jéssica sonha em viver da mú-sica. Algo possível, guardadas as devidas proporções. Além do curso de Jornalismo, a acordeonista iniciou paralelamente as aulas de Licenciatu-ra em Música, finalmente disponibi-lizado em Caxias. Para viver da mú-sica, ela acredita ser necessário um aperfeiçoamento constante e, com os conhecimentos conquistados com a vida artística e a faculdade, espera futuramente, pelo menos, dar aulas. No futuro, Jéssica pretende repe-tir os passos de Renato Borghetti, o Borghetinho, e protagonizar recitais fora do País, espalhando e mesclando culturas.

A estudante do curso de Relações Públicas, da UCS, Ta-tiéle Bueno, 23 anos, começou a cantar ainda adolescente. Tudo teve início em uma brincadeira

com um colega de escola que, na época, já era músico. Ela sempre gostou de cantar, porém nunca tinha pensando em ser realmen-te uma cantora profissional. Até

que o colega, Jonatam Dalmonte, a escutou cantar nos corredores da escola e perguntou se gosta-ria de se apresentar; mais do que depressa, ela disse sim. Após al-

Jéssica Thomé no show de lançamento do seu primeiro CD, no Teatro São Carlos

Talento feminino que encanta a todos Acadêmicas de cursos de Comunicação Social são destaques no cenário da música tradicionalista gaúcha

GEREMIAS [email protected]

LEONARDO [email protected]

Da brincadeira surge um sonho: viver da músicagumas apresentações, a menina de 16 anos já tinha seu interesse consumado pela carreira artísti-ca. Para isso começou a estudar, se aprimorar e apostar no canto como profissão, pois era isso que realmente gostava de fazer.

Sobre a importância da música em sua vida, Tatiéle não tem dúvidas: “A música é minha vida, é o que me faz feliz! Vivo a música diariamente não me ima-gino sem ela.” Acredita que a vida é baseada numa trilha sonora, que todos têm aquela música que re-lembra um momento especial de sua história. Gosta da sensação que ela proporciona, principal-mente quando, pelo seu trabalho e seu canto, pode propiciar esse sentimento a outras pessoas.

Em 2010, venceu o En-contro de Arte e Tradição Gaúcha (Enart), maior festival amador de arte da América Latina, organiza-do pelo Movimento Tradiciona-lista Gaúcho (MTG), na catego-ria Intérprete Solista Vocal. Sem sombra de dúvida, após essas conquistas no festival, sua carrei-ra impulsionou-se. “Ter vencido o Enart serve como uma referên-cia para a qualidade e garantia do meu trabalho”, afirma Tatiéle. Tatiéle Bueno, ganhadora do Enart 2010, lançou seu primeiro disco no Teatro da UCS, em show realizado no ano passado

Com isso, muitas propostas de trabalho surgiram, abrindo diver-sas portas para uma promissora carreira musical. Ela acredita que a carreira musical, assim como qualquer outra atividade, é uma junção de muito trabalho e dedi-cação.

Em outubro, lançou seu primeiro disco, Do Rio Grande do passado ao Rio Grande do futuro, em parceria com Anderson Oli-veira. “Felizmente, a aceitação do trabalho foi muito boa, tanto pelo público em geral quanto pela im-prensa, o que gerou uma grande repercussão dentro e fora do es-tado”, comenta orgulhosa Tatiéle.

E ela arrisca uma recei-ta para o sucesso. É necessário, segundo a intérprete, muita dedi-cação, disciplina e perseverança. Esse parece ser o segredo para quem tem interesse em seguir uma carreira profissional. Além de tudo isso, é claro, ter amor pela música e pelo que ela pro-porciona. “A música também é uma forma de trabalho, e tenho muito orgulho em dizer que hoje a música é o meu trabalho, minha profissão”, finaliza. E adianta que um segundo disco está sendo pla-nejado.

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