Resenha as Identidades Do Brasil de Varnhagen a Fhc

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As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC RESENHA CRÍTICA Por Mauro J N Pitanga José Carlos Reis, em seu livro As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC publicado pela editora FGV mostra-nos a importância e a contribuição de cada historiador e pensador social na descoberta e na formação das identidades do Brasil. Reis afirma que todo o conhecimento histórico produzido por esses historiadores tiveram e continuam tendo o seu valor. Desde que, dentro de uma perspectiva contextualizada no próprio tempo. Ou seja, o conteúdo e a relevância da obra devem ser analisados dentro do tempo em que suas idéias foram escritas. O presente no qual foram escritas refletia “justamente” àquele panorama. Àquelas abordagens estão sendo refletidas no retrovisor do tempo. Que está posto, fincado, naquele presente. A preocupação mora no presente. O presente é o lugar das indagações e não o tempo que já passou, ou, o tempo que ainda vai chegar. Praticamente o livro está dividido em dois blocos principais: o primeiro é o mais teórico e o segundo o mais prático. O quadro teórico analisado: 1. Os homens e as sociedades no tempo ; 2. O passado como referência da realidade ; 3. A necessidade da reescrita contínua da história ; 4. A história como sucessão processual dialética e não linear. O primeiro e o segundo ponto demonstram a necessidade da reescrita da história dá- se devido ao próprio tempo que não apaga. Que não se desfaz. Terceiro que a investigação histórica faz com que novas fontes, novas técnicas, novas teorias, novos conceitos e pontos de vistas sejam descobertos e aprimorados. O passado sempre sinalizará o que será do presente, assim como o presente terá no passado o seu principal colaborador. O quarto ponto é que as análises devem ser confrontadas, processadas e depuradas de maneira que uma dará luz à outra. O quadro prático analisado: Este por sua vez divide a historiografia brasileira em dois grupos principais: PRIMEIRO GRUPO: Descoberta/Continuação (1850-1930) Varnhagen e Gilberto Freyre Os que representam esse grupo trabalharam na identificação das forças que reproduziram e renovaram a dependência. “preferem o Brasil português ao Brasil

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As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC

RESENHA CRÍTICA

Por Mauro J N Pitanga

José Carlos Reis, em seu livro As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC publicado pela editora FGV mostra-nos a importância e a contribuição de cada historiador e pensador social na descoberta e na formação das identidades do Brasil. Reis afirma que todo o conhecimento histórico produzido por esses historiadores tiveram e continuam tendo o seu valor. Desde que, dentro de uma perspectiva contextualizada no próprio tempo. Ou seja, o conteúdo e a relevância da obra devem ser analisados dentro do tempo em que suas idéias foram escritas. O presente no qual foram escritas refletia “justamente” àquele panorama. Àquelas abordagens estão sendo refletidas no retrovisor do tempo. Que está posto, fincado, naquele presente. A preocupação mora no presente. O presente é o lugar das indagações e não o tempo que já passou, ou, o tempo que ainda vai chegar. Praticamente o livro está dividido em dois blocos principais: o primeiro é o mais teórico e o segundo o mais prático.

O quadro teórico analisado:

1. Os homens e as sociedades no tempo –; 2. O passado como referência da

realidade –; 3. A necessidade da reescrita contínua da história –; 4. A história como

sucessão processual dialética e não linear.

O primeiro e o segundo ponto demonstram a necessidade da reescrita da história dá-

se devido ao próprio tempo que não apaga. Que não se desfaz. Terceiro que a

investigação histórica faz com que novas fontes, novas técnicas, novas teorias, novos

conceitos e pontos de vistas sejam descobertos e aprimorados. O passado sempre

sinalizará o que será do presente, assim como o presente terá no passado o seu

principal colaborador. O quarto ponto é que as análises devem ser confrontadas,

processadas e depuradas de maneira que uma dará luz à outra.

O quadro prático analisado:

Este por sua vez divide a historiografia brasileira em dois grupos principais:

PRIMEIRO GRUPO: Descoberta/Continuação – (1850-1930) Varnhagen e Gilberto Freyre Os que representam esse grupo trabalharam na identificação das forças que reproduziram e renovaram a dependência. “preferem o Brasil português ao Brasil

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brasileiro”. “O Brasil tradicional ao Brasil moderno”. Preferem o passado brasileiro ao seu futuro. José Reis afirma que a tese desse grupo é a tese do progresso linear e gradual. Ou seja, também são conservadores na interpretação. Quanto ao progresso linear, tudo indica influência do positivismo. SEGUNDO GRUPO Redescobrimento/Mudança – (1900—1960-1970) Capistrano de Abreu; Caio Prado Jr.; N. W. Sodré; S. B. de Holanda; Florestan Fernandes; F.H.C.

Representado por aqueles que trabalharam para identificar as forças que produziram a autonomia e a emancipação. “Preferem a ruptura com o passado”. “Preferem o Brasil brasileiro ao Português”. “O Brasil moderno ao tradicional” – “o futuro não será luso-brasileiro, mas brasileiro: uma nação livre, soberana, autônoma, habitada por um povo novo, com interesses e sentimentos singulares”. Nesse grupo, muitos foram influenciados por marxistas. Daí o progresso dialético e não linear.

CONCLUSÃO:

Dos oito principais intérpretes analisados, todos deixaram marcas indeléveis na análise e na contribuição do pensamento social brasileiro. Reis afirma que cada síntese desses intérpretes pertence a um presente. E esse presente vivido do Brasil refletiu-se em cada uma das interpretações do Brasil: “não há continuidade pura”. “A originalidade não é pura”. O tempo não se deixa cortar como o espaço, pondo de um lado o passado e de outro lado o futuro. Vale a pena conferir essa obra, justamente, porque ela não exclui nem inclui nenhum dos pesquisados à deriva.

Um fato importante que não deixou de ser sublinhado é a questão da influência que os pesquisados receberam, tanto de alguns teóricos, como da própria linhagem intelectual e social das quais descendiam (positivismo, marxismo, comunismo, socialismo, Weber, Ranke,...) e não menos importante, da posição política que ocupavam. Jose Reis sabe muito bem delinear a importância do legado desses intelectuais no tempo, sem expandir sua importância - dando-lhes demasiado valor -, assim como sabe também, esquivar-se do pré-conceito - não os delimitando a uma importância insignificante e controvertida -; por isso e muito mais vale a pena conferir essa obra.

Mauro J N Pitanga Professor de História em Manaus/AM [email protected]