RESENHA CRÍTICA DO FILME "ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA"

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UNITRI- CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO PATRICIA IZILDA SILVA LITERATURA PORTUGUESA II RESENHA CRÍTICA DO FILME ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA DE JOSÉ SARAMAGO UBERLÂNDIA 2010

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UNITRI- CENTRO UNIVERSITÁRIO DO TRIÂNGULO

PATRICIA IZILDA SILVA

LITERATURA PORTUGUESA II

RESENHA CRÍTICA DO FILME ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

DE JOSÉ SARAMAGO

UBERLÂNDIA 2010

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Ficha Técnica Filme: Ensaio sobre a Cegueira Título original: Blindness Gênero: Drama Duração: 02 hs Ano de Lançamento: 2008 Site oficial: htpp://www.ensaiosobreacegueirafilme.com.br Estúdio: O2 Filmes/Rhombus Media/ Bee Vine Pictures Distribuidora: 20th Century Fox Brasil/ Miramax Films Direção: Fernando Meirelles Roteiro: Don Mckellar, baseado na obra de José Saramago Produção: Andrea Barata Ribeiro, Niv Fichman e Sonoko Sakai Música: Marco Antonio Guimaraes Fotografia: César Charlone Direção de arte: Joshu de Cartier Figurino: Renée April Edição: Daniel Rezende

Elenco: Mark Ruffalo, Julianne Moore, Alice Braga, Gael García Bernal, Danny Glover

Um pouco sobre José Saramago

José de Sousa Saramago nasceu em 16 de Novembro de 1922 em Azinhaga,

aldeia ao sul de Portugal, e faleceu no dia 18 de Junho de 2010 em Lanzarote, nas ilhas

Canárias, aos 87 anos.

Autodidata, antes de se dedicar exclusivamente a literatura trabalhou como

serralheiro, mecânico, desenhista industrial e gerente de produção em uma editora.

Iniciou sua atividade literária em 1947, com o romance “Terra do Pecado”,

depois desse romance, Saramago apresenta a seu editor o livro “Clarabóia”, que,

rejeitado, permanece inédito até hoje.

Saramago persiste nos esforços literários e, dezenove anos depois, então como

funcionário do Editorial Estudos da Cor, troca a prosa pela poesia e lança “Os Poemas

Possíveis”, depois lança mais dois livros de poesia, “Provavelmente Alegria”(1970) e

“O Ano de 1993”(1975).

. Atuou como crítico literário em revistas e trabalhou no Diário de Lisboa. Em

1975 tornou se diretor adjunto do jornal Diário de Notícias. Acuado pela ditadura de

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Salazar, a partir de 1976, passou a viver de seus escritos, inicialmente como tradutor,

depois como autor.

Em 1980, alcança notoriedade com o livro “Levantado do Chão”, visto hoje

como seu primeiro grande romance. “Memorial do Convento” confirmaria esse sucesso

dois anos depois. Em 1991, publica “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, livro

censurado pelo governo português, o que leva Saramago a exilar- se em Lanzarote, nas

Ilhas Canárias (Espanha).

Foi ele o primeiro autor da língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de

Literatura, em 1988.

Entre 1995 e 2005, Saramago publica mais de seis romances, dando inicio a uma

fase em que os enredos não se desenrolam mais em locais ou épocas determinadas e

personagens dos anais da história se ausentam. “Ensaio sobre a Cegueira” (1995);

“Todos os Nomes” (1997); “A Caverna” (2001); “O Homem Duplicado” (2002);

“Ensaio Sobre a Lucidez “(2004); “As Intermitências da Morte” (2005) e “Caim”

(2009). Nessa fase, Saramago penetra de maneira mais investigava nos caminhos da

sociedade contemporânea.

O Mundo Literário de Saramago é constituído por quatro elementos

fundamentais. Primeiro, a dúvida do homem moderno numa dupla lógica de assumir

uma posição crítica sobre o passado e, ao mesmo tempo, aprender com o passado.

Segundo, a introdução de elementos sobrenaturais, ou seja, fantásticos, não se

distanciando, no entanto, do mundo real. Terceiro, a tentativa de uma nova linguagem

que altera a sua expressão gráfica e pontual, respeitando a sintaxe da narrativa comum.

Por último, a viagem não só no mundo real, mas também no interior do homem através

da imaginação.

Com esses elementos de tempo, sobrenatural, torrencialidade da narrativa e a

viagem que se interpenetram as suas obras procuram a utopia através de alusões

alegóricas, criticas e éticas.

Assim, Saramago busca em suas obras publicadas desde “Levantando do Chão”,

a harmonia entre a realidade e a imaginação através de trabalhos que pretendem unir

numa só empreitada os planos expressivos da fala, do pensamento e da escrita. Por isso,

uma relação de quase simbiose entre o narrador e a matéria narrada, o discurso interior e

as tensões internas do discurso narrativo são importantes na compreensão das suas

obras. O que se denota facilmente nos seus romances é o espírito renovador e

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experimental em procurar um estilo muito pessoal e, ao mesmo tempo, solto e

torrencial.

Na realidade utiliza só vírgula e ponto final, não distinguindo discursos diretos e

indiretos, de modo que os seus romances têm que ser lidos diferentemente dos outros

romances. Isto significa que o texto exige uma atenção especial dos leitores, dando-lhes

a impressão de estarem envolvidos diretamente no mundo real e, ao mesmo tempo,

fictício, ambos construídos nas suas obras.

Em suas obras o autor procura a identidade do homem perdida na sociedade

moderna, para citar tais características podemos destacar a obra de Saramago “Ensaio

Sobre a Cegueira”, adaptado para o cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles.

O diretor de “Ensaio Sobre a Cegueira” é brasileiro e já foi indicado ao Oscar

pelo filme “Cidade de Deus”. Antes de ser famoso, Fernando Meirelles já havia feito

vários trabalhos. Fundou com grupo de amigos a produtora Olhar Eletrônico, que arejou

a televisão brasileira nos 1980 e por uma década, o grupo produziu programas para uma

grande variedade de canais de televisão

Para televisão Meirelles seguiu dirigindo comerciais e programas de TV, sua

produtora independente O2 Filmes, que se tornou a maior do Brasil, recebeu os mais

prestigiados prêmios nacionais e internacionais.

Seu primeiro longa-metragem foi “O Menino” em 1997, depois veio

“Domesticas” (2000) e “Cidade de Deus” em 2002 que foi o ganhador de mais 52

prêmios ao redor do mundo, recebendo 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor diretor,

melhor fotografia e melhor roteiro adaptado.

Em 2004 Meirelles dirigiu “O Jardineiro Fie”l baseado em um romance de John

Le Carré e que teve quatro indicações ao Oscar e acabou ganhando o Oscar de melhor

atriz para Rachel Weisz.

“Ensaio Sobre a Cegueira” narra à história de uma misteriosa epidemia de

cegueira. O filme começa de uma forma inusitada; no meio do trânsito um homem

perde a visão sem motivo aparente. Um fato curioso é que a cegueira que para muitos é

a imersão na escuridão, no filme é ao contrário; o indivíduo ao ficar cego mergulha

numa espécie de luz, tão forte que ele não consegue enxergar a não ser uma imensidão

branca (por isso, no filme, o nome é cegueira branca).

O desenrolar das ações no filme são frenéticas, o primeiro a ficar cego é ajudado

por um homem que o leva para casa, em seguida sua mulher o leva para o

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oftalmologista, o contágio se dá dessa forma, todos que tiveram contato com o homem

ficam cego.

À medida que a doença se espalha, começa o pânico que contagia toda a cidade,

e todas as pessoas que apresentam a cegueira branca são colocadas em quarentena em

um velho hospício desativado, e nele que o filme mostra o caráter de cada um dos

indivíduos.

O grande diferencial dentro do hospício é que uma mulher (Julianne Moore)

pode enxergar; de alguma forma, ela, é imune ao que causa a cegueira e é ela que passa

a ajudar a todos, inclusive o seu marido que é oftalmologista e que é o motivo para ela

fingir que está cega.

A convivência entre eles no primeiro momento é pacífica, todos tentam ajudar

como podem uns aos outros, até o momento que chegam outros “contaminados” no

hospício. Os recém chegados tomam o “poder” no hospício e exigem que as outras

pessoas lhe dêem o que tiver de valor para que possam receber comida.

Porém, quando os pertences de valor acabam, as mulheres são obrigadas a ir até

a ala dos “bandidos”, onde são molestadas sexualmente em troca de comida, uma das

cenas mais chocantes do filme.

Depois de muito abuso, a personagem de Julianne Moore, vai até a ala e acaba

matando o chefe dos “bandidos”. Depois tudo passa muito rápido, o fogo no hospício

até a liberdade de sete pessoas, que são guiadas pela própria Julianne.

Quando eles chegam à rua, o cenário é de desolação, a cidade está destruída, e as

pessoas andam pela cidade em busca de comida e água, já que a lei da sobrevivência

fala mais forte.

Os sete, então, são guiados pela personagem de Julianne Moore até a casa em

que ela mora com o marido, onde depois de passarem a noite, o primeiro infectado

volta a enxergar, supondo, assim, que todos irão voltar a enxergar também.

O filme abre um leque de interpretações, alguns acreditaram que se trata do fim

do mundo e da punição de Deus contra os homens, a segunda hipótese que o homem

precisa ficar cego para poder realmente enxergar, ou seja, enxergar além das aparências.

Primeiramente, os personagens no filme não têm nomes, eles são identificados

por acessórios (óculos, venda preta, etc.), esta estratégia usada pelo autor é para exaltar

o comportamento dos personagens, porque o que interessa naquele momento não são

aparências, já que estão todos cegos, e sim os seus comportamentos e valores. Em uma

das cenas do filme um dos personagens está andando em fila segurando em um

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companheiro e diz que o “bandido do filme” é negro, simplesmente pelo seu

comportamento, deixando transparecer a visão preconceituosa que ele tem do ser

humano, o mais curioso dessa cena, e que o amigo que o está guiando é negro.

A aparência no filme é o que menos importa o que vale são os valores já

interiorizados; por exemplo, a personagem da Julianne é quem cuida de todos, e mesmo

sendo traída pelo marido, ela em nenhum momento demonstra ressentimento por

nenhum dos dois. Ela possui sentimentos como solidariedade e a compaixão que estão

agregados a ela e, em situações extremas tais valores são exaltados para melhor.

Porém, os personagens que exploram os outros no filme revelam o modelo

inverso, aproveitam da situação para tirar vantagem, de forma extremamente suja e

cruel, demonstrando que eles não possuem nenhum tipo de valor, e que, antes da

cegueira, o comportamento deles já era duvidoso, e só a piorou com a epidemia.

Quando acontece esse tipo de situação na qual toda a sociedade perde um dos

sentidos mais importante na qual está totalmente baseada (vivemos sempre em busca da

aparência perfeita, seja física, profissional, amorosa, etc.), o que irá predominar é a

barbárie, uma sociedade sem leis, na qual cada um irá querer tirar algum tipo de

vantagem.

Outro ponto explorado no filme que é importante é a forma como pessoas

completamente diferentes são colocadas em um mesmo local, devido a uma situação tão

difícil como aquela. Tal encontro não foi realizado meramente por acaso, nele o autor

faz uma crítica de como realmente tratamos uns aos outros, ou seja, mesmo convivendo

todos os dias com várias pessoas, passamos por elas sem enxergá-las realmente, e caso a

situação ou a pessoa nos desagrade de alguma forma, aí sim, fingimos ainda mais que

ela não existe.

Outro fato que deve ser salientado é o da única personagem que enxerga no

filme ser uma mulher; isso pode estar relacionado ao fato da mulher ter o instinto

materno, de cuidar e proteger todos ao seu redor, e é o que a personagem de Julianne faz

durante todo o filme, perdoando até a traição do marido.

O filme ainda tem muitas outras cenas que poderiam ser interpretadas de formas

variadas, a principal ideia do filme é mostrar como o ser humano é mesquinho, e como a

sociedade capitalista só se preocupa com as aparências, pois são elas que conseguem

mante-lá viva. Entramos em nossas casas confortáveis, nos carros do ano, as viagens ao

exterior, a busca pelo corpo perfeito e esquecemos facilmente da verdadeira essência da

vida. Fingimos não ver o que é feio, o que é diferente, queremos tirar proveito de

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qualquer situação que nos beneficie não importando o quão prejudicial ela possa ser

para os outros.

Saramago era um homem lógico, dizia que a morte é simplesmente a diferença entre o estar aqui e já não mais estar. Combatia as religiões com fúria, dizia que elas nos

embaçam nossa visão, mesmo assim não consigo deixar de pensar que adoraria que neste momento ele estivesse tendo que dar o braço a torcer ao ser surpreendido por

algum outro tipo de vida depois desta que teve por aqui. “A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do clichê, mas definitivamente o mundo ficou

ainda mais burro e ainda mais cego hoje". Fernando Meirelles, cineasta

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Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Saramago http://pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio_sobre_a_Cegueira http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2010/06/meirelles-diz-que-morte-de-saramago-deixa-o-mundo-mais-burro-e-cego.html