Resenha Do Livro Navegando No Ciberspaço

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Resenha do livro Navegando no Ciberespaço, onde a autora define os tipos leitores existentes no mundo atual e como estes leitores se adaptam aos novos meios de informação.

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Resenha do livro “Navegando no Ciberspaço”

Heitor Santos Pereira

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Com o advento das novas tecnologias como o CD-Rom a informação começa a ser passada de uma nova maneira. Ao invés da maneira tradicional, ou seja, através da tradução linear de linguagem escrita a informação passa a ser transmitida de forma fragmentada e não linear. A autora inicia o texto com a seguinte reflexão: essas novas formas de transmissão de informação irão, em algum momento, tomar o lugar o lugar dos meios de informação tradicionais?

Por “meio de informação tradicional” lê-se livros, revistas, jornais etc. A autora deixa claro que não pretende, de forma alguma, dar a resposta para este questionamento mas sim explicitar as novas formas de percepção e cognição que os novos meio eletrônicos não lineares estão fazendo emergir.

A autora então busca recuperar a história dos meios tradicionais, como o livro, para auxiliar a compreensão dos meios de informação atuais. Também ressalta que devemos dilatar o conceito de leitura. Seguindo essa linha, a autora defende a pluralidade na interpretação da forma de leitura.

“É certo que há, entre os estudiosos da leitura, uma reação contrária à expansão no emprego do termo "leitura", quando alegam que são equivocadas as generalizações da idéia de "leitura" que só contenham alusões metafóricas a processos que guardam pouca ou nenhuma relação com a prática de decifração letrada suposta nela (ver Pécora, 1996: 14; Bourdieu e Chartier, 1996: 234-235). Entretanto, desde os livros ilustrados e, depois, com os jornais e revistas, o ato de ler passou a não se restringir apenas à decifração de letras, mas veio também incorporando, cada vez mais, as relações entre palavra e imagem, desenho e tamanho de tipos gráficos, texto e diagramação. Além disso, com o surgimento dos grandes centros urbanos e com a explosão da publicidade, O escrito, inextricavelmente unido à imagem, veio crescentemente se colocar diante dos nossos olhos na vida cotidiana por meio das embalagens de produtos, do cartaz, dos sinais de trânsito, nos pontos de ônibus, nas estações de metrô, enfim, em um grande número de situações em que praticamos o ato de ler de modo tão automático que nem chegamos a nos dar conta disso. Tendo isso em vista, não há por que manter uma visão purista da leitura restrita à decifração de letras.” - Lucia Santaella, 1981

Existem diversos tipos de leitores em diversos tipos de segmentos diferentes. Há aqueles que leem pintura, fotografia, jornal, revista etc. Porém, no seu intuito de compreender os processos cognitivos que estão presentes nestes leitores Standella os classifica em 3 tipos: Leitor contemplativo, tipo de leitor dos livros e das imagens estáticas. O segundo é o leitor movente, do mundo em movimento que nasce ao fim da revolução industrial. O terceiro tipo é o leitor imersivo que começa a imergir em novos espaços cibernéticos. Estes tipos de leitores não tomam o lugar dos outros, isto é, quando nascem novos tipos de leitores os tipos anteriores não desaparecem. Na sociedade esse processo ocorre de forma cumulativa, porém, cada um com seus tipos específicos de habilidades cognitivas e perceptuais.

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1 – Leitor Contemplativo, Mediativo

No início a leitura era atividade de um grupo restrito de pessoas. Com o nascimento de novas classes a leitura se tornou uma atividade mais ampla. Com a instauração de normas que obrigavam as pessoas a fazerem silêncio nas bibliotecas universitárias, na Idade Média, a leitura transformou-se. Agora os leitores não pronunciavam sons. Isso tornou a leitura uma atividade silenciosa, interna e pessoal. Fora isso, a velocidade dessa leitura também foi aumentada. Com isso, os leitores puderam ler mais livros em menos tempo.

passando rapidamente ou apenas se insinuando plenamente decifradas ou ditas pela metade, enquanto os pensamentos do leitor as inspecionavam à vontade, retirando novas noções delas, permitindo comparações de memória com outros livros deixados abertos para consulta simultânea. O leitor tinha tempo para considerar e reconsiderar as preciosas palavras cujos sons - ele sabia agora - podiam ecoar tanto dentro como fora. E o próprio texto, protegido de estranhos por suas capas, tornava-se posse do leitor, conhecimento íntimo do leitor, fosse na azáfama do scriptorium, no mercado ou em casa (Manguei, 1997: 68).

Outra transformação ocorre com o surgimento de livros impressos. Com isso, o hábito da leitura, mais especificamente a leitura para si, é intensificado. Após, o surgimento de parágrafos também muda a maneira como as pessoas se relacionam com o texto. A informação passa a ser disposta de forma fragmentada e dispõe o texto em unidades separadas. Mesmo com a difusão dos livros impressos a leitura em silêncio, para si, continua existindo, porém, se torna mais individual e solitária. Um mesmo livro pode ser consultado inúmeras vezes e uma imagem vista tanto quanto possível.

Segundo Wittrock (apud Manguei, ibid.: 54), "ler não é um fenômeno idiossincrático, anárquico. Mas também não é um processo monolítico, unitário, no qual apenas um significado está Correto. Ao contrário, trata-se de um processo generativo que reflete a tentativa disciplinada do leitor de construir um ou mais sentidos dentro das regras da linguagem.Além disso, a leitura é também hábito e, por isso mesmo, é a leitura de muitos livros, sempre comparativa, que faz emergir a biblioteca vivida, a memória de livros anteriores e de dados culturais (Goulernot, 1996,: 1l3).

"Ler é cumulativo e avança em progressão geométrica: cada leitura nova baseia-se no que o leitor leu antes" (Manguei, 1997: 33).

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2- O Leitor Movente, Fragmentado

As transformações de Paris e Londres trazem consequências na vida das pessoas. As maquinários tomam conta das fábricas e dos transportes. O profissional dentista, advogado, médico e etc. começa a ter, com a sociedade, uma relação relativa à mercadoria. As classes são divididas em operários e em elite industrial. As cidades, cada vez mais cheias de pessoas necessitam de meios de comunicações eficazes. Então surge o jornal, o telefone, a televisão. Ao mesmo ritmo em que a cidade cresce, as ruas vão sendo tomadas por diferentes signos.

Alegorista da cidade, detentor de todas as significações urbanas, do saber integral da cidade, do seu perto e do seu longe, do seu presente e do seu passado, reconhecendo-a sempre em seu verdadeiro rosto - um rosto surrealista - vendo em todos os momentos seu lado de paisagem, em que ela é natureza, e em seu lado de interior, em que ela é quarto, o flâneur assume sua condição de viajante da modernidade e resolve contar-nos o que viu em sua perambulação (Rouanet, 1993: 23).

Porém, em determinado momento, os produtos que inundam as cidades já não se diferenciam entre si. Dessa forma, a publicidade surge, impulsionada pela nova capacidade de replicação de tiragem, como forma de diferenciar e divulgar produtos e serviços. Nesse contexto surge o leitor movente. Um novo tipo de leitor que possui treinamento para ignorar distrações e que seleciona sua atenção. Com memória curta, este tipo de leitor recebe diversos estímulos por diversos meios. A recepção destes estímulos se intensificam com o surgimento da televisão, rádio e cinema.

3 – O Leitor Imersivo, Virtual

O poder dos dígitos passam a tratar toda e qualquer informação e agora os seres-humanos estão conectados através rede. Esses novos tipos de leitores não manuseiam a tela da mesma forma que os outros tipos de leitores.

A inscrição do texto na tela cria uma distribuição, uma organização, uma estruturação do texto que não é de modo algum a mesma com a qual se defrontava o leitor do livro em rolo da Antigüidade ou o leitor medieval, moderno e contemporâneo do livro manuscrito ou impresso, onde o texto é organizado a partir de sua estrutura em cadernos, folhas e páginas. O fluxo seqüencial do texto na tela, a continuidade que lhe é dada, o fato de que suas fronteiras não são mais tão radicalmente visíveis, como no livro que encerra, no interior de sua encadernação ou de sua capa, o texto que ele carrega, a possibilidade para o leitor de embaralhar, de entrecruzar, de reunir textos que são inscritos na mesma memória eletrônica: todos esses traços indicam que a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas do suporte material do escrito assim como nas maneiras de ler (Chartier, 1998b: 12-13).

É um novo tipo de leitura, que caminha por entre labirintos que o próprio leitor ajuda a construir. Na tela diversos signos são expostos e a quantidade de conteúdo disponível é praticamente infinita. A autora evidencia que, diferente dos outros tipos de leitores o leitor imersivo não possui tantos estudos pois é

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um fato recente. Também nos diz que foi este tipo de leitor que a motivou a iniciar a pesquisa.

11 – Análise Cognitiva do Leitor Imersivo

Graças a revolução digital tudo pode ser recebido, guardado, tratado e difundido através do computador. A maneira como as pessoas se interagem com estes novos meios digitais trás alterações em diversos aspectos, principalmente na forma cognitiva de lidar com os diversos meios de trasmissão de conteúdo.

A aprendizagem em um mundo de navegação, de zapping, de instantaneidade e de realidade virtual não apresenta o perigo de criar seres incapazes de ler textos na sua integridade - de modo definitivo, de ler - indivíduos demasiadamente voltados para a ação, em detrimento da reflexão e do esforço duradouro? Ou então sonhadores, mitõmanos e zumbis, sem discernir a diferença entre o universo da fantasia e o mundo real? - Nora (1997: 324-5) A Conquista do Ciberespaço

1- Um novo modo de ler

A autora parte do pressuposto de que há diversos tipos de leitura e que no ambiente do ciberespaço lidamos com a arquitetura hipertextual.

O funcionamento da máquina hipertextual coloca em ação, por meio das conexões, um contexto dinâmico de leitura comutável entre vários níveis midiáticos. Cria-se, com isso, um novo modo de ler. A leitura orientada hipermidiaticamente é uma atividade nômade de perambulação de um lado para o outro, juntando fragmentos que vão se unindo mediante uma lógica associativa e de mapas cognitivos personalizados e intransferíveis. É, pois, uma leitura topográfica que se torna literalmente escritura, pois, na L hi permídia, a lei tura é tudo e a mensagem só vai se escrevendo na medida em que os nexos são acionados pelo leitor-produtor. Lucia Standella

Segundo a autora os tipos de leitura apresentados até aqui possuem 3 tipos de habilidades: abdutiva, indutiva e dedutiva. Já o perfil cognitivo do leitor imersivo pode ser classificado em: errante, detetive e previdente.

2 – Os estilos de navegação

Internauta errante:

Esse tipo de leitor faz inferências, tenta “adivinhar” o que está por vir enquanto navega entre os conteúdos de informação. Segundo Santaella, é deste tipo de internauta que vem a capacidade de criar. Ele vai encontrando os “insights” e os significados ao longo da navegação, sempre desprendido do ato de memorizar e decifrar.

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Internauta detetive:

Segue as trilhas com disciplina e diferente do internauta errante alcança seus resultados com lógica. Ao longo da sua navegação o detetive utiliza estratégias de autocorreção e avança gradativamente, se adaptando às dificuldades.

Internauta previdente:

Esse tipo de internauta, já possuí tanta familiaridade com o ambiente informacional que consegue deduzir seguindo a lógica e a previsibilidade. Consegue antecipar a consequência de suas escolhas.

INTERNAUTA ERRANTE DETETIVE PREVIDENTEINFERÊNCIA Abdutiva Indutiva DedutivaLÓGICA DO Plausivel Provável PrevisivelCAMPO DO Possível Contingente NecessárioATIVIDADE MENTAL

Entendimento Busca Elaboração

MEMÓRIA Ausente Operativa Longa duraçãoATIVIDADE Exploração Aleatória ExperimentaçãoEMPÍRICA Aleatória Ad hoc CombinatóriaTIPO DE AÇÃO Derivar sem rumo Farejar Indicios Antecipar

ConsequênciasORGANIZAÇÃO Turbulência Auto-organização OrdemTIPO DE EFEITO Desorientação Adaptação FamiliaridadeCARÁTER Deambulador Farejador Antecipador

Segundo a autora, a figura ideal do leitor imersivo é a união destes três níveis de leitura. Apesar disso, em alguns aspectos o leitor imersivo se difere dos outros dois tipos de leitores e, mesmo em sua subdivisão, possui caracteristicas que são pertencentes à todos os níveis. Santaella também ressalta que o leitor imersivo não surgiu do leitor contemplativo. Este tipo de leitor teve suas habilidades de leitura alteradas gradativamente através do leitor de imagens, sons, textos, cores...

4- Especificidades do Leitor Imersivo

Segundo a autora, a grande marca do leitor imersivo está na interatividade, nas transformações sensoriais e perceptivas.

No ciberespaço, a informação transita à velocidade da luz. As reações motoras, perceptivas e mentais também se fazem acompanhar por uma mudança de ritmo que é visível na agilidade dos movimentos multidirecionais, ziguezagueantes na horizontal, vertical e diagonal com que o olhar do infonauta varre ininterruptamente a tela, na movimentação multiativa do ponteiro do mouse e na velocidade com que a navegação é executada. Não há mais tempo para a contemplação. A rede não é um ambiente para imagens fixas, mas para a animação. Não há mais lapsos entre a observação e a

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movimentação. Ambos se fundem em um todo dinâmico e complexo. O autornatismo cerebral é substituído pela mente distribuída, capaz de realizar simultaneamente um grande número de operações. Observar, absorver, entender, )-reconhecer, buscar, escolher, elaborar e agir ocorrem em simultaneidade. – Lucia Standella

O leitor imersivo adquire cada vez mais velocidade na forma como navega pela informação. A junção de imagem e texto criam uma forma de leitura dinâmica e instável. Segundo as previsões da autora, após os computadores, meios de navegação desplugados tomarão cada vez mais espaço. Faremos tudo através desses meios digitais e cada vez mais o leitor imersivo movimentar-se-á física e mentalmente em um mar de signos, mudando suas habilidades cognitivas e adquirindo um novo tipo de sensibilidade.

Conclusão:

Sem dúvida a leitura foi sofrendo mutações através do tempo em um processo de adaptação. Diariamente somos bombardeados por diversos signos e informações e como a própria autora afirma, aprendemos a desviar da maioria deles, selecionando aquilo que for subjetivamente relevante. Fica claro também, que a “leitura” pode ser uma questão subjetiva. Lemos luzes, cores, sons, imagens e palavras, nos apropriando de seus signos.

Hoje estamos em uma era dinâmica onde muitos tornam-se leitores imersivos, lendo e adquirindo as informações de forma não linear e instável. Percorremos um longo caminho até aqui, desde a leitura contemplativa. Com o incremento da tecnologia e o aumento da sua presença em nossas vidas, solucionando problemas existentes ou até mesmo criando novas facilidades, nos tornaremos novos tipos de leitores. Provavelmente leitores mais dinâmicos, seletistas e desorganiziados.