Resenha Filme Assassinato Em Gosford Park
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Evelyn Cristina Rodrigues dos Santos – TURMA 038
Os Três Tipos Puros de Poder Legítimo no filme
Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman.
O filme “Assassinato em Gosford Park” retrata as relações sociais entre as
diferentes classes que coexistem em uma mansão britânica no período entreguerras (o
Filme se passa em 1932). Segundo Max Weber, poder é a possibilidade de encontrar
obediência a uma determinada ordem, e pode ser condicionado por interesses, relações
afetivas, costumes, razões jurídicas, atribuições pessoais do líder, enfim, três são as
principais vertentes que condicionam o poder: Tradição, Carisma e Legalidade.
No poder legal, segundo suas palavras, “A ideia fundamental é que, através de um
estatuto arbitrário formalmente correto, se podia criar qualquer direito e alterar
[opcionalmente o existente]”. E essa regra estatuária confere poder ao “superior”, que pode
ser escolhido ou imposto. O corpo administrativo, altamente hierarquizado, consiste em
funcionários nomeados, os súditos são os membros da associação de poder (um exemplo
são os cidadãos no Estado Moderno), e todos eles obedecem a leis, incluindo-se o superior.
Na própria hierarquia, cada inferior obedece a seus superiores. Encontramos no filme um
forte e claro exemplo de poder legal, do tipo mais puro (burocrático), no detetive, pois ele é
um funcionário contratualmente recrutado e nomeado, e embora transpareça parcial
incompetência ao cargo, o respeito a ele, estabelecido pelo regimento estatuário, é
praticado.
O poder tradicional, por sua vez, ocorre “em virtude da fé na santidade dos
ordenamentos e dos poderes senhoriais desde sempre presentes” (WEBER, Max, Poder
tradicional in: “Três Tipos Puros de Poder Legitimo”, p. 4). O corpo administrativo são os
servidores e a associação de poder é a agremiação. Os súbditos obedecem pela dignidade
do senhor, firmada pela tradição. As ordens também obedecem à tradição, e o desrespeito
ou desconsideração de um aspecto tradicional por parte do senhor seria um enorme risco à
legitimidade de seu próprio poder. É nesse poder, com sua estrutura segundo estamentos,
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que se baseia o filme, pois é o que os visitantes e especialmente os anfitriões da casa
exercem sobre seus funcionários de classe baixa. Aos primeiros, é conferido e consolidado
o poder por meio da tradição. Os segundos, aceitam quase passivamente que deve ser
assim, afinal já estão acostumados e se sentem indignos. Acreditam que realmente essa é a
ordem das coisas. O arbítrio senhorial nesse tipo de poder é máximo. Esse poder também se
observa entre os próprios senhores do filme, os membros da aristocracia, na medida em que
a figura central é sir William, o pai da família que tem mais posses, alguns estão na
dependência pessoal dele, e são bem ou malvistos mediante sua condição financeira.
Entre os empregados há também certa divisão, pois os funcionários que servem
diretamente os patrões e os cozinheiros são considerados melhores do que os faxineiros,
que prestam serviços gerais. Assim, pode-se também dizer que vigora entre eles o poder
tradicional, porém não se pode negar a coexistência do poder carismático, na medida em
que os melhores funcionários, que possuem mais atributos pessoais adequados aos cargos
mais “prestigiosos” é que vão ocupá-los. Além disso, por meio de carisma, inteligência e
bom relacionamento pessoal, os empregados adquirem certo poder entre seus iguais.
É praticamente impossível, mesmo que numa pequena amostra da sociedade,
encontrar apenas um tipo de poder agindo. Eles se unem, se encontram e se entrelaçam
formando a complexa teia de relações sociais que legitimam e consolidam a dominação de
uma maioria por uma minoria exploradora e manipuladora, que termina por realizar apenas
seus desejos em detrimento da necessidade majoritária.