Resenha Harvey, D. Condição Pós-moderna

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Resenha DARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Eduções Loyola, 1989. 1) Qual seria a tese do Livro? Vem ocorrendo uma mudança abissal nas práticas culturais, bem como político-econômicas, desde mais ou menos 1972, e embora a simultaneidade nas dimensões mutantes do tempo e do espaço não seja prova de conexão necessária ou causal, podem-se aduzir bases a priori em favor da proposição de que há algum tipo de relação necessária entre a ascensão de formas culturais pós-modernas, a emergência de modos mais flexíveis de acumulação do capital e um novo ciclo de “compressão do tempo espaço” na organização do capitalismo. 2) Desenvolvimento do livro [recorte da análise]: O seguinte esboço visa dar uma análise do primeiro e principalmente o segundo capítulo do livro, a saber: Passagem da modernidade à pós-modernidade na cultura contemporânea e a transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX, respectivamente. 3) Passagem da modernidade à pós-modernidade na cultura contemporânea 3.1 Modernismo Ser moderno é ver tudo novo, é a transformação de si e do mundo, enquanto que modernidade une toda a humanidade, vai além das fronteiras geográficas, das raças, da religião, da ideologia e da nacionalidade. Ser moderno é ser parte de um Universo, é livre dono de sua razão. Modernismo é uma resposta estética a condições de modernidade produzidas por um processo particular de modernização em uma sociedade, ou seja, um fenômeno urbano. Um dos pontos conceituados pelo autor que chama a atenção, se refere a compreensão da imagem da “Destruição Criativa” para entender a modernidade, isto é: como poderia um novo mundo ser criado sem se destruir boa parte do que viera antes? O novo, a reconstrução nasce a partir das cinzas do antigo. Embora o termo “moderno” tenha uma história bem mais antiga, o que Habermas (1983,9) chama de projeto entrou em foco durante o século XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário esforço intelectual dos pensadores iluministas (legado da racionalidade para os modernistas) “para desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a lei universais e a arte autônoma nos termos da própria lógica interna”. Pág. 23 O iluminismo influenciou diretamente o modernismo, e em um primeiro momento havia dentro do

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Resenha de alguns capítulos do livro de Harvey. Durante o livro, o autor tenta demostrar como os valores/cultura/relações sociais e de produção se reconfiguram a partir de um novo padrão de acumulação, todavia, sem novas relações que não rompem com o capitalismo.

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Resenha

DARVEY, David. Condição Pós-Moderna. São Paulo: Eduções Loyola, 1989.

1) Qual seria a tese do Livro?

Vem ocorrendo uma mudança abissal nas práticas culturais, bem como político-econômicas, desde

mais ou menos 1972, e embora a simultaneidade nas dimensões mutantes do tempo e do espaço não

seja prova de conexão necessária ou causal, podem-se aduzir bases a priori em favor da proposição

de que há algum tipo de relação necessária entre a ascensão de formas culturais pós-modernas, a

emergência de modos mais flexíveis de acumulação do capital e um novo ciclo de “compressão do

tempo espaço” na organização do capitalismo.

2) Desenvolvimento do livro [recorte da análise]: O seguinte esboço visa dar uma análise

do primeiro e principalmente o segundo capítulo do livro, a saber: Passagem da modernidade

à pós-modernidade na cultura contemporânea e a transformação político-econômica do capitalismo

do final do século XX, respectivamente.

3) Passagem da modernidade à pós-modernidade na cultura contemporânea

3.1 Modernismo

Ser moderno é ver tudo novo, é a transformação de si e do mundo, enquanto que modernidade une

toda a humanidade, vai além das fronteiras geográficas, das raças, da religião, da ideologia e da

nacionalidade. Ser moderno é ser parte de um Universo, é livre dono de sua razão. Modernismo é

uma resposta estética a condições de modernidade produzidas por um processo particular de

modernização em uma sociedade, ou seja, um fenômeno urbano. Um dos pontos conceituados pelo

autor que chama a atenção, se refere a compreensão da imagem da “Destruição Criativa” para

entender a modernidade, isto é: como poderia um novo mundo ser criado sem se destruir boa parte

do que viera antes? O novo, a reconstrução nasce a partir das cinzas do antigo.

Embora o termo “moderno” tenha uma história bem mais antiga, o que Habermas (1983,9) chama

de projeto entrou em foco durante o século XVIII. Esse projeto equivalia a um extraordinário

esforço intelectual dos pensadores iluministas (legado da racionalidade para os modernistas) “para

desenvolver a ciência objetiva, a moralidade e a lei universais e a arte autônoma nos termos da

própria lógica interna”. Pág. 23

O iluminismo influenciou diretamente o modernismo, e em um primeiro momento havia dentro do

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modernismo uma influência axiomática da existência de uma única resposta possível a qualquer

pergunta. O mundo poderia ser controlado de uma forma racional. O capitalismo, por exemplo, com

a mão invisível de Adam Smith poderia racionalmente trazer os benefícios da modernidade para

todos. Todavia, a posteriori, há rupturas com essa concepção modernista, após o manifesto

comunista de 1848 de Marx, há a inserção de uma dimensão de classe no modernismo. Essa ruptura

é causada pela cada vez mais evidente desigualdade produzida pelo sistema capitalista . Págs 34 e

35.

E foi, afinal, como reação à profunda crise da organização, do emprobrecimento e dacongestão urbanos que toda uma tendência de prática e pensamento modernista foidiretamente moldada (TIMMS; KELLEY, 19885 apud HARVEY, 1989)

Essa ruptura, no entanto, não deixa escapar a essência de uma universalidade. Os artistas, por

exemplo, no período de Pré-Primeira Guerra Mundial, mesmo sob diferentes perspectivas,

exprimiam impressões de cunho universais, criticando valores burgueses, como o consumismo e a

alienação que seria fruto do novo sistema de produção. Esse período ficou caracterizado como

modernismo heroico, todavia, com a primeira guerra mundial e a devastação da Europa, há um

aumento do descontentamento geral e na tentativa de dar alguma resposta o movimento (bastante

heterogêneo, por sinal) se aproxima do positivismo. A destruição criativa, que na busca de um novo

mundo, destruía outro, abandonou alguns mitos, como o mito da máquina. [De alguma maneira,

podemos analisar que essas mudanças também foram paralelas ou fruto das mudanças do modo de

acumulação. A hegemonia inglesa e o padrão libra ouro declinando – comentários meu]

E foi exatamente assim que uma forma virulenta de “modernismo reacionário” veio a tero encanto

que teve na Alemanha nazista. E em uma tentativa de frear o crescimento do nacionalismo, os

socialistas também passaram a usar a arte modernista para fins “mais” nacionalistas. A estetização

da política através da produção desses mitos todos abrangentes (de que o nazismo era apenas um

exemplo) foi o lado trágico do projeto modernista.

Após a Segundo guerra mundial, o modernismo universal apresentou uma relação mais confortável

com os centros de poder dominantes da sociedade. A arte, a arquitetura, a literatura tornaram-se

artes e práticas do establishment numa sociedade em que uma versão capitalista corporativa do

projeto iluminista de desenvolvimento para o progresso e a emancipação humana assumira o papel

de dominante político-econômica.

Em relação as cidades, na análise em retrospecto, suas reconstruções produziram impecáveis

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imagens de poder, habitações populares subhumanizadas, entretanto, é possível dizer que se

desejavam encontrar soluções capitalistas para os dilemas do desenvolvimento e da estabilização

político-econômico pós-guerra. Pág. 42.

Com a guerra fria, há a despolitização do modernismo, ocorreu a ascensão do expressionismo

abstrato. Há uma absorção de uma espécie particular do modernismo pela ideologia oficial. Porém,

há também movimentos que se contrapõem a esse movimento – contraculturais e antimoda nos anos

60.

Por fim, é preciso enfatizar que o modernismo não esteve apartado do modo de produção e

acumulação da época, quer dizer, mercadificação e comercialização de um mercado de produtos.

3.2 Pós-modernismo

O movimento pós-moderno surge entre 68 e 72 após emancipar-se dos movimentos antimodernistas

dos anos 60. Ele vem contrapor a ideia de totalidade, das ideias e verdades universais e eternas. O

pós-modernismo aceita o efêmero, o fragmentário, o descontínuo. O pós-modernismo rompe com a

ideia de que o poder esteja situado em última análise no âmbito do Estado.

O pós-modernismo se opõe as meto narrativas marxistas, freudianas e todas as modalistas de razão

iluministas e as verdades eternas e universais, se é que existam, não podem ser conectadas ou

representadas.

Foucalt é um dos grandes teóricos apontados por Harvey. Nas obras de Foucxalt, por exemplo, há

uma abrangência de diversos movimentos surgidos nos anos 60, como a luta das feministas, gays,

autonomistas, regionais, dentre outros movimentos, no entanto, não há uma teoria holista do

capitalismo. […] múltiplas fontes na sociedade e múltiplos focos de resistência à dominação.

O predomínio desse motivo no pensamento pós-moderno tem várias consequências. Já não

podemos conceber o indivíduo alienado no sentido marxista clássico, porque ser alienado pressupõe

um sentido centrado de identidade pessoal podem os indivíduos se dedicar […] um futuro

significativamente melhor.

Para Bell e Tourine (apud Harvey, 1989) situa a ascensão do pensamento pós-moderno no cerne do

que vê como uma dramática transição social e políticas linguagens da comunicação em sociedades

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capitalistas avançadas.

Charles Newman (1984,9) vê boa parte da estética pós-modernista como uma resposta ao surto

inflacionário do capitalismo avançado. Há uma integração da cultura pós-modernista à cultura

popular através do tipo de comercialização aberta. Na Inglaterra, é aberto um museu a cada três

semanas. A invocação de Jameson nos traz, por fim, à sua ousada tese de que o pós-modernismo

não é senão a lógica cultural do capitalismo avançado – taxas de transferência cada vez maiores,

agora, atribui uma função estrutural cada vez mais essencial à inovação e à experimentações

estéticas.

Seja como for, a evolução cultural que vem ocorrendo a partir do início dos anos 60 e que se

afirmou como hegemônica no começo dos anos 70 não ocorreu num vazio social, econômico ou

político. A promoção da publicidade como “a arte oficial do capitalismo”, traz para a arte estratégias

publicitárias e introduz a arte nessas mesmas estratégias. […] Portanto, é necessário deter-se sobre a

mudança estilísticas que Hassan estabelece com relação às forças que emanam da cultura do

consumo de massa: a mobilização da moda, da pop arte, televisão, dentre outras formas de mídia.

4) Transformação político-econômica do capitalismo do final do século XX

4.2 Do Fordismo à Acumulação Flexível

Em retrospecto, parece que havia indícios de problemas sérios no fordismo já em meados dos anos

60. De modo geral, o período de 1965 a 1973 tornou cada vez mais evidente a incapacidade do

fordismo e do keynesianismo de conter as contradições inerentes ao capitalismo.

4.3 E por que o fordismo estaria em crise? Destrinchando a crise de 1973:

1. A rigidez do padrão dólar ouro em confrontação com as políticas pautadas pelo fordismo

keynesianismo – despesas públicas cresciam

2. Luta por mais direitos sociais nos EUA – [Demonstração do Welfare State limitado –

comentário meu].

3. Recuperação das economias europeias e japonesa – aumento das importações e diminuição

das exportações estadunidenses.

4. Guerra do Vietnã.

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5. Aumento do preço do Petróleo pela OPEP em 1973.

6. Petrodólares que aumentaram em demasia a liquidez do mercado internacional, aumentando

a inflação.

7. *Diminuição do medo comunista [comentário meu] – [o autor não deixa explícito esse

ponto].

Dentro desse contexto, a profunda recessão de 1973, exarcebada pelo choque do petróleo,

evidentemente retirou o mundo capitalista do sufocante torpor da estagflação e pôs em movimento

um conjunto de processos que solaparam o compromisso fordista. Em consequência, as décadas de

70 e 80 foram um conturbado período de reestruturação econômica e de reajustamento social e

político.

No espaço social criado por todas essas oscilações e incertezas, uma série de novas experiências nos

domínios da organização industrial e da vida social e política começou a tomar forma. Essas

experiências podem representar os primeiros ímpetos da passagem para um regime de acumulação

inteiramente novo, associado com um sistema de regulação política e social bem distinta.

A acumulação flexível é marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia

na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de

consumo.

Os horizontes temporais da tomada de decisões privada e pública se estreitam, enquanto a

comunicação via satélite e a queda dos custos de transporte possibilitaram cada vez mais a difusão

imediata dessas decisões num espaço cada vez mais amplo e variado. Esses poderes aumentados de

flexibilidade e mobilidade permitem que os empregadores exerçam pressões mais fortes de controle

do trabalho sobre uma força de trabalho qualquer maneira enfraquecida por dois surtos selvagens de

deflação. O trabalho organizado foi pela reconstrução de focos de acumulação flexível em regiões

que careciam de tradições industriais anteriores e pela reimportação para os centros mais antigos de

normas[…] O desemprego nos países dominantes diminuiu.

4.4 Estrutura de mercado de trabalho

Centro – mercado de trabalho primário – cada vez menor e flexibilidade funcional – goza dos

benefícios.

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Periferia (subgrupos bem distintos) :

1. Empregados em tempo integral: setor financeiro, secretariado. Alta rotatividade, podendo

também ser flexibilizado.

2. Empregados em tempo parcial, contrato por tempo determinado, temporário. Menos

segurança de emprego em relação ao primeiro grupo da periferia.

Na Inglaterra, os trabalhadores flexíveis aumentaram em 16%, alcançando 8,1 milhões entre 1981 e

1985, enquanto os empregados permantes cairam em 6%, ficando em 15,6 milhões (Financial

Times, 1987)

4.5 Ressurgimento de sistemas antigos (eu diria subsistemas – comentário meu)

A transformação da estrutura do mercado de trabalho teve como paralelo mudanças de igual

importância na organização industrial. Por exemplo, a subcontratação organizada abre oportunidade

para a formação de pequenos negócios e, em alguns casos, permite que sistemas mais antigos de

trabalho doméstico, artesanal, familiar (patriarcal) e paternalista floresçam.

[…] Com efeito, uma das grandes vantagens do uso dessas formas antigas de processo de trabalho e

de produção pequeno capitalista é solapamento da organização da classe trabalhadora e a

transformação da base objetiva da luta de classes ???

De acordo com a Fortune em 1983, 75% das máquinas são produzidas hoje em lotes de cinquenta

ou menos. Mas isso não diminui a importância, o peso das corporações, há na verdade, uma

mudança de estrutura fordista, para uma estrutura mais integrada, de subcontratações de empresas.

Aumento de empresas terceirizadas – consultorias, marketing, dentre outras.

O novo modo de acumulação acelerou o tempo de giro da produção (recomposição orgânica do

capital, de acordo com Marx – comentário meu), e com isso exigiu um novo modelo de consumo,

muito mais voraz, rápido. Diante disso, intensificou a importância do controle dos fluxos de

informação e veículos de propagação de gosto – não é a toa que esse mercado é altamente lucrativo.

Há também um aumento e proliferação dos mercados negros, nesse período, de acordo com o autor.

Pág. 145.

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4.6 Universidade

Conhecimento como mercadoria – universidade muitas vezes é bastião do conhecimento a ser usado

em favor do capital privado.

4.7 Países periféricos

Países precisam enfrentar o dilema de atraírem o capital financeiro e se adequarem ao capital

corporativo.

Os petrodólares de 1973 ocasionaram o aumento da dívida dos países periféricos.

Ocasionaria as políticas neoliberais na A.L.

4.7 Retirada de direitos sociais

Para o autor, Nixon e Health já tinham reconhecido esse problema e já tinham reduzido as despesas

governamentais. Para o autor, Reagan e Thatcher vieram apenas para ratificar um processo em

andamento.

• Aumento do trabalho subcontratado na Inglaterra, Japão.

• Ataque aos sindicatos

• Ataque ao salário real

4.8 Intervenção do Estado na Economia

O Estado precisou intervir para salvar a economia da instabilidade a partir da década de 80, intervir

em um processo que já vinha acontecendo anteriormente, como o autor coloca ao longo do texto.

Dados:

1979 – Aumento do preço de petróleo e taxa de juros FED.

Maior volatilidade das taxas de câmbio.