resenha variação linguistica

4
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I LETRAS VERNÁCULAS E LITERATURAS DA LINGUA PORTUGUESA INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA HISTÓRICA LUISA CAROLINA NUNES PINTO RESENHA CRÍTICA MONTEIRO, José Lemos. A variação linguística. IN: _____. Para compreender Labov. Petrópolis, Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 2008. Segundo Labov, a questão da variação linguística, embora não seja ignorada pelos linguistas, é deixada de lado durante os estudos científicos da área pela falta de um método adequado que a estude. O teórico também afirma que a variação é requisito ou condição do próprio sistema linguístico, e não apenas um acidente da língua. A falta de variação numa determinada língua é que deveria ser explicado, e não a variação em si. O modelo laboviano permite a compreensão de que as estruturas variantes revelam padrões de regularidade que não podem ser devidos ao acaso, muito mais que as estruturas invariantes. A heterogeneidade linguística reflete a variabilidade social e o fato impossível de duas pessoas possuírem a mesma experiência linguística. As diferenças no uso das variantes linguísticas correspondem às diversidades dos grupos sociais e às suas respectivas sensibilidades mantidas em termos de uma ou mais normas de prestígio.

Transcript of resenha variação linguistica

Page 1: resenha variação linguistica

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – CAMPUS I

LETRAS VERNÁCULAS E LITERATURAS DA LINGUA PORTUGUESA

INTRODUÇÃO À LINGUÍSTICA HISTÓRICA

LUISA CAROLINA NUNES PINTO

RESENHA CRÍTICA

MONTEIRO, José Lemos. A variação linguística. IN: _____. Para compreender Labov. Petrópolis, Rio de Janeiro. Ed. Vozes, 2008.

Segundo Labov, a questão da variação linguística, embora não seja ignorada pelos linguistas, é deixada de lado durante os estudos científicos da área pela falta de um método adequado que a estude. O teórico também afirma que a variação é requisito ou condição do próprio sistema linguístico, e não apenas um acidente da língua. A falta de variação numa determinada língua é que deveria ser explicado, e não a variação em si. O modelo laboviano permite a compreensão de que as estruturas variantes revelam padrões de regularidade que não podem ser devidos ao acaso, muito mais que as estruturas invariantes. A heterogeneidade linguística reflete a variabilidade social e o fato impossível de duas pessoas possuírem a mesma experiência linguística. As diferenças no uso das variantes linguísticas correspondem às diversidades dos grupos sociais e às suas respectivas sensibilidades mantidas em termos de uma ou mais normas de prestígio.

O teórico também defende o conceito de regra gramatical enquanto especificação do que é e o que não é possível na língua. Todo sistema linguístico é dotado de um conjunto de regras que não podem ser infringidas, sob pena de dificultar ou inviabilizar a compreensão do enunciado, as quais chamamos de invariantes. Porém, existem também, e em maior número, regras variáveis, que se aplicam quando duas formas estão em concorrência num mesmo contexto e a escolha entre uma delas depende de um determinado fator, que pode ser tanto de ordem estrutural quanto de ordem social. A essas formas alternantes, dá-se o nome de variantes linguísticas. Os sociolinguistas em geral entendem que, em vias de se estabelecer o conceito de variável linguística, é necessário que as duas ou mais variantes tenham o mesmo

Page 2: resenha variação linguistica

significado referencial ou denotativo. No entanto, para Labov, os falantes não aceitam facilmente o fato de que duas expressões distintas signifiquem a mesma coisa, havendo forte tendência a atribuir-lhes sentidos diferentes. As atribuições de valores sociais às regras linguísticas são dadas quando ocorre variação. Logo, as variantes, embora idênticas quanto à referência ou valor de verdade, são opostas por significação social e/ou estilística.

No plano da sintaxe há muitas discordância quanto à possibilidade de variação. Mas para Labov, a base da variação tem de estar na identidade lógica das variantes e em seu paralelismo quanto ao significado sintático, semântico e pragmático, e propõe enfraquecer a condição de que o significado deva ser o mesmo para as formas variantes, substituindo-a por uma condição de comparabilidade funcional.

Nem toda variável, no entanto, merece ser objeto de investigação empírica, havendo condições para que o pesquisador inicie seu trabalho sobre ela, a saber: a frequência de ocorrência na língua, a sua estruturalidade (quão mais integrado esteja o elemento a um sistema maior de unidades em funcionamento, maior a sua importância) e a estratificação da distribuição do traço.

Separam-se, na teoria de Labov, dois tipos de variantes: a livre (confundida com a estilística) e a combinatória (contextual). A distinção entre as duas formas é dada da seguinte forma: se duas unidades linguísticas figuram no mesmo ambiente e podem ser intercambiadas sem que haja diferença no sentido referencial da palavra ou da frase, as duas formas estão em variação livre; caso não se apresentem nunca no mesmo ambiente, diz-se que estão em distribuição complementar, e são variantes combinatórias ou contextuais.

O autor ressalta a observação de Labov segundo a qual as estruturas linguística e social não são rigorosamente co-extensivas, havendo regras linguísticas que não têm nada a ver com qualquer valor social, sendo possível que estejam abaixo dessas apreciações, e sua distribuição irregular ou idiossincrática em qualquer população espelha esse fenômeno. De qualquer forma, o investigador deve interpretar a ocorrência das duas formas variantes levando em consideração de que uma delas pose se manifestar em uso mais ou menos frequente em determinado contexto ou grupo social.

As variantes, em geral, adquirem prestígio quando associada a um falte ou grupo social de status considerado superior, passando a ser usada por pessoas de classe inferior, tal como se verifica na moda. A variedade das classes dominadas tende a se desestruturar quando em contato com a variedade das formas dominantes, gerando sentimentos de culpabilidade ou inferioridade linguística. São estigmatizadas, então, as variações linguísticas empregadas pelos falantes dos estratos mais baixos da população, sendo o preconceito maior à medida em que ocorrem identificações da forma com a classe discriminada. O estigma diminui à medida em que passa a ser usada por outros grupos até ser aceita pelo grupo dominante, desaparecendo.

Quando ocorrem duas formas de se transmitir determinada informação, configura-se o processo de mudança linguística. Ocorre, então, um conflito entre a forma antiga (chamada consevadora) e a nova forma (chamada inovadora). Em geral, tratando-se do dialeto padrão, a forma conservadora é mais prestigiada que a inovadora, que até ser aceita, sofre de restrição ou estigma.

Page 3: resenha variação linguistica

Labov define, ainda, os conceitos de estereótipos, indicadores e marcadores, a saber: estereótipos são formas linguísticas massivamente etiquetadas pela sociedade e que recebem forte estigmatização, sendo patrimônio de grupos específicos sobre as quais atuam atitudes e crenças; indicadores constituem traços linguísticos que apresentam distribuição regular nos grupos socioeconômicos, étnicos e etários, mas que são utilizados pelo individuo mais ou menos da mesma forma em todos os contextos, limitando-se a assinalar uma diversificação social sem interferência da avaliação subjetiva ou da alternância estilística; os marcadores são variantes que apresentam não só distribuição social, mas também diferenciação estilísticas, revelando forte estratificação tanto com relação aos grupos sociais quanto aos estilos. Os marcadores estão abaixo do nível de controle consciente, mas produzem respostas regulares nos testes de reação subjetiva e se convertem em estereótipos, comumente identificados por uma frase característica. As atitudes e crenças face aos fenômenos linguísticos dependem muito do grau de coesão dos grupos sociais, e muito comumente, uma variação pode sofrer estigma da classe dominante, mas sendo símbolo de identificação de um grupo, adquire prestígio e pode até ser imitada.

Pressupõe-se, então, que variáveis de ordem social influenciam na escolhas das variantes, mas nem sempre essa escolha é condicionada por fatores socioculturais. Dos possíveis fatores externos, os mais discutidos são o estilo de fala, o sexo, a idade, a escolaridade, a profissão, a classe social, a região ou zona de residência e a origem do falante. Aparentemente, não são fatores de influência o clima e a raça.

A leitura do capítulo mostra-se de grande valia aos estudiosos da sociolinguística e profissionais da área de educação. O texto possui fruição, sendo de fácil entendimento ao leitor pela sua clareza de ideias, objetividade e organização.