RESGATANDO A CULTURA POPULAR (Por: Luka Severo) · Ai a gente veio correndo praqui pra cima. ANA...

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RESGATANDO A CULTURA POPULAR (Por: Luka Severo) CENA 1. RUA, PORTÃO DA ESCOLA. EXTERIOR. MANHÃ. Clara e sua amiga ana paula saem da escola. Vão caminhando quando ouvem uma música vindo de traz delas. Elas param para ver que o que é. Passa por elas um grupo de brincantes do reisado. Uma criança do grupo para, se encosta na parede junto delas para descançar, ele esta muito cansado. CLARA – (Olhando para o menino, curiosa, assustado) Oi, porque você está tão cansado? MATEUS – (Falando e respirando rápido) Porque estava brincando o reisado lá em baixo, na pracinha perto de casa. Ai a gente veio correndo praqui pra cima. ANA PAULA: - E porque vocês tem que vir correndo tão rápido assim? MATEUS – porque hoje é a ultima apresentação do nosso grupo. ANA PAULA: Ah, esse é o grupo do mestre João, não é mesmo? Eu soube que vai acabar mesmo. CLARA: E porque o grupo vai acabar?

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RESGATANDO A CULTURA POPULAR

(Por: Luka Severo)

CENA 1. RUA, PORTÃO DA ESCOLA. EXTERIOR.

MANHÃ.

Clara e sua amiga ana paula saem da escola. Vão caminhando

quando ouvem uma música vindo de traz delas. Elas param

para ver que o que é. Passa por elas um grupo de brincantes

do reisado. Uma criança do grupo para, se encosta na parede

junto delas para descançar, ele esta muito cansado.

CLARA – (Olhando para o menino, curiosa,

assustado) Oi, porque você está tão cansado?

MATEUS – (Falando e respirando rápido)

Porque estava brincando o reisado lá em baixo, na pracinha

perto de casa. Ai a gente veio correndo praqui pra cima.

ANA PAULA: - E porque vocês tem que vir

correndo tão rápido assim?

MATEUS – porque hoje é a ultima

apresentação do nosso grupo.

ANA PAULA: Ah, esse é o grupo do mestre

João, não é mesmo? Eu soube que vai acabar mesmo.

CLARA: E porque o grupo vai acabar?

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MATEUS: O vovô João já está velho e não tem

mais condições de brincar o reisado. E os filhos dele

nenhum se interessam ou não tem tempo para brincar. Ele diz

que eu sou novo de mais para me preocupar com essas coisas.

CLARA: Ah, que pena. O reisado é uma dança

tão bonita, paulinha, a gente não pode deixar que esse

grupo acabe.

ANA PAULA: E o que é que a gente pode

fazer, clarinha? Nós somos apenas duas menininhas.

MATEUS: Ei, eu preciso ir, meu avô pode

ficar preocupado se ele me caçar e não me achar. Se vocês

quizerem ver a apresentação do grupo, vai ser lá na praça

padre cícero daqui a uma hora. Agora já vou. Até mais.

ANA PAULA: É uma pena que acabe, mas é

assim mesmo.

CLARA: Não é não, e nós precisamos fazer

alguma coisa.

ANA PAULA: Clarinha, o que você vai

aprontar dessa vez em?

CLARA: Eu não sei ainda, mas já, já eu

descubro. Vamos. (pega na mão da amiguinha e sai correndo

puxando-a)

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ANA PAULA: ai meu deus, lá vamos nós

novamente.

CENA 2. COZINHA DA CASA DE CLARA. MANHA.

Clara chega, puxando ana paula pelo braço,

dona Cicera está no fogão cozinhando. As meninas entram,

clara está muito eufórica e ana paula está sem conseguir

respirar. Elas sentam-se nas cadeiras em volta da mesa.

CLARA (entra gritando) – Mãe, mãe, mãe.

CICERA (saindo do fogão, e indo abraçar as

meninas. Terna, Abraça clara e dar um beijo na testa) – ei,

que correria é essa minha filha? Você vaia acabar se

machucando e machucando a paulinha. (beija paulinha também)

ANA PAULA: Já estou me acostumando dona

Cicera.

CARA: mãe, preciso que você me ajude em uma

coisa.

CICERA: o que foi dessa vez minha filha?

CLARA: Mãe, quando nós saímos da escola,

vimos o grupo de reisado do seu joão.

CICERA: Hum, que bom, eu soube que ele

estava muito doente.

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ANA PAULA - Isso mesmo dona Cicera, e por

isso o grupo vai acabar.

CLARA - É, o neto dele nos disse que hoje é

a ultima apresentação deles.

CICERA (preocupada) – Nossa!

ANA PAULA - Porque ele está doente e

ninguém da família tem tempo nem interesse de continuar com

o grupo.

CICERA - Que coisa!

CLARA (chorosa) – Mãe, nós não podemos

deixar que isso aconteça. O grupo é muito importante para a

nossa comunidade, mãe.

CICERA: Mas filha, o que nós podemos fazer?

CLARA: Bom, mamãe, eu não sei ainda, mas a

senhora não é a diretora do nosso colégio? Pensa em alguma

coisa lá.

CICERA (pensativa) – é uma proposta

interessante, mas o que se pode fazer?

ANA PAULA: Já sei! Porque a senhora não vai

hoje assistir a apresentação do grupo e conversa com o

próprio seu João e descobre o motivo pelo qual ele quer

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acabar com o grupo? Dependendo da resposta dele, a senhora

pode pensar em alguma ação na escola.

CLARA – Isso mesmo, mamãe.

CICERA: É uma boa idéia. Mas quando vai ser

essa apresentação?

ANA PAULA (olhando no relógio) – daqui a

meia hora, na praça padre Cícero.

CICERA (Tira o avental, ajeita o cabelo e

pega a bolsa) - Ah, então vamos antes que termine.

CLARA (Dá um salto da cadeira) – Iupi, por

isso que eu amo a minha mãezinha.(puxa o braço de Ana

Paula) Vamos paulinha...

ANA PAULA – E lá vamos nós, mesmo!

CENA 3.PRAÇA PADRE CICERO. MANHA.

Elas chegam a praça. Vêm muitas pessoas

juntas esperando a apresentação começar. Mateus vem

encontra-las.

MATEUS (falando com clara e ana paula) –

que bom que vocês vieram!

ANA PAULA – Sim, e temos uma ótima noticia

para você e para o seu grupo.

MATEUS: É mesmo? E o que é?

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CLARA: Essa aqui é a minha mãe, ela é a

diretora da nossa escola e acha que pode dar uma forcinha

para que o grupo não acabe.

MATEUS (triste) – Mas se meu avô não pode

continuar com as atividades, não tem como o grupo não

parar, porque não tem quem continue.

CICERA – Calma, não fique triste assim

agora, o que eu puder fazer para que isso não aconteça eu

vou fazer. Vocês fazem um trabalho muito importante de

inclusão que não pode parar. Mas para que eu possa ajudá-

los eu preciso falar com seu avô. Você me leva até ele?

MATEUS – Agora ele não pode porque ta se

preparando para a apresentação, mas pode ser depois?

CICERA – pode sim.

CLARA – Pois vamos procurar um lugar para a

gente poder ver direito, mamãe. Vem paulinha!

CENA 4.PARAÇA PADRE CICERO. MANHÃ.

A câmera mostra o grupo brincando o reisado

com riqueza de detalhes dos corpos dos brincantes, das

roupas de cada um e também as expressões de quem está

assistindo. Quando eles terminam de brincar, mestre João

pede a palavra a todos.

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JOÃO (triste, cabisbaixo) – Para mim, hoje

é um dia muito triste. É o dia em que eu vejo o trabalho de

toda uma vida chegar ao fim. Vivemos em um país que não dá

o apoio suficiente que nós, artistas, principalmente os que

vivem no interior dos estados, possamos continuar o nosso

trabalho. (chorando) É com muita dor no meu coração sofrido

e chagado pela vida, que eu encerro as atividades do meu

grupo.

(...) AS PESSOAS FICAM INDIGNADAS.

JOÃO (chorando) – É triste, quando eu me

lembro quando eu era menino e meu pai juntava toda a

família para podermos confeccionarmos as roupas que íamos

usar na brincadeira da tradicional folia de reis. Todos os

anos era a mesma alegria. Mas hoje, depois de me dedicar

tanto, não tenho quem se interesse na minha arte e hoje,

também não tenho mais condições físicas de brincar o

reisado, nem a quem ensina-los. É muito doloso, mas o grupo

FILHOS DO REI, se encerra aqui.

(...) O Mestre João vai saindo em meio às

pessoas, enxugando o rosto segurando a mão do seu neto

Mateus. Cicera, Clara, Ana Paula abordam ele, eufóricas.

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CICERA - Mestre João, eu gostaria de falar

com o senhor. Eu sei como fazer para que não seja preciso

acabar com as atividades do grupo FILHOS DO REI.

JOÃO – Minha cara senhora, isso é

inevitável. Eu já estou cansado. Não tem como evitar isso.

Não tem nem que me substitua nesse trabalho. O FILHOS DO

REI chegou ao fim.

CLARA – Mestre João, escuta ela.

MATEUS – Vô, elas são minhas amigas, por

favor escuta elas.

JOÃO – Agora não posso, estou muito

cansado. Preciso ir pra casa.

CICERA - Eu levo o senhor e seu neto pra

casa. Estou de carro. Venham. Clarinha, abra a porta do

carro pra gente.

CENA 5. SALA DA CASA DO MESTRE JOÃO. TARDE.

As crianças estão na mesa, como plano de

fundo, desenhando em um caderno e rindo baixinho. Estão se

divertindo. Cicera e Ms. João estão conversando, tomando

café.

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JOÃO – A senhora está me dizendo que pode

mobilizar os alunos de sua escola para aprenderem o

reisado?

CICERA: isso, lá na escola não temos aulas

relacionadas a praticas artistas, e acho que já estamos

mais que na hora de começarmos. É uma pena não termos

profissionais capacitados ainda, mas como o senhor já tem

uma experiência vasta com o reisado, além do respeito e

confiança de toda a comunidade, acho que seria uma boa para

começarmos com uma oficina. E então, o que o senhor me diz?

JOÃO: Tudo que eu sei, aprendi sozinho,

fazendo, me encantando a cada dia com o que aprendia. Eu

faço por amor, por que me identifico e por que leva a minha

identidade, minha vida, o que eu aprendi com meus pais que

já traziam de suas gerações. Essa criançada de hoje em dia

não liga pra essas coisas não.

CICERA – então ensine isso a elas, esse

amor e essa admiração que elas precisam ter por essa arte

que elas ainda não tem acesso. Talvez não é que elas não

gostem, é porque elas ainda não sabem se gostam por falta

de acesso a ela.

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JOÃO: Eu não sei se consigo, já estou muito

velho.

(...) as crianças vem com os cadernos e os

lápis nas mãos. Mateus fica no meio das pernas do avô.

MATEUS (choroso) – Vô, eu não gostaria que

o grupo acabasse. Eu me divirto muito brincando. Todos os

meus amigos estão muito tristes com isso porque eles não

vão ter mais o que fazer as a tardes. E eu também, quando

eu chegar em casa que fizer o dever, eu vou fazer o que?

(chora no peito do avô).

(...) Clara e Ana Paula acariciam a cabeça

de Mateus. Ms. João olha para as crianças, olha para a

professora, olha pra cima e dá um suspiro.

JOÃO (depois do suspiro)- Eu faço.

(...) Euforia de todos.

JOÃO – Mas vocês vão ter que me ajudar. Eu

já estou velho e não posso estar me esforçando muito.

CLARA (eufórica) – Mas é claro que a gente

vai ajudar sim, divulgação, chamar todo mundo.

ANA PAULA – E você também Mateus.

MATEUS – Oba!

CICERA – Vai dar tudo certo, Ms. João.

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CENA 6. VIDEO DE TODOS TRABALHANDO NA

DIVULGAÇÃO/EXECUÇÃO DA OFICINA. SEGUINDO A SEQUENCIA

ABAIXO:

1.Cícera em reunião com os professores

explicando como vai se dar a oficina. Os professores ficam

interessados.

2. Os professores explicando aos alunos, na

sala de aula. Os alunos ficam interessados.

3. Ana Paula, Clara e Mateus, cada um em um

local diferente da comunidade, entregando panfletos as

pessoas.

4. Mestre João feliz com a mobilização. As

crianças correndo de um lado para o outro com panfletos na

frente dele. As crianças caem sentadas cansadas aos pés

dele.

JOÃO (Acariciando a cabeça das crianças)- É

meninada, é cansativo mesmo.

(...) Cicera chega com uma bandeja e quatro

copos de suco.

CICERA - E é por isso que esses

atletazinhos precisam ficar fortinhos.

AS TRÊS CRINAÇAS – Oba!!!

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JOÃO – Dona Cicera, a senhora não sabe o

bem que está fazendo para a nossa comunidade, para essas

crianças. É muito importante que elas aprendam desde cedo

mesmo à importância da valorização de sua cultura e de sua

arte. E na melhor de que valorizar as suas raízes. A sua

identidade.

CICERA - É mestre João, mas não é fácil

não. É muito difícil ensinar uma coisa na escola e quando

eles chegam lá na rua, ou em casa mesmo, tudo é

desconstruído.

JOÃO – É. É um trabalho de todos. Todos nós

temos uma parcela de culpa e de crédito.

CICERA – Por isso mesmo, meninada, vamos

continuar que ainda tem que arrumar a sala para as aulas de

amanhã. Vão lá pegar balde e rodo pra gente ajudar na

limpeza.

(...) As crianças saem apostando corrida.

CICERA – Preparado para o inicio da

oficina?

JOÃO – Um pouco nervoso, mas muito feliz.

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CENA 7. ALMOXARIFADO DA ESCOLA. INTERIOR.

TARDE.

os três chegam no almoxarifado, cansados.

Clara e Ana Paula começam a pegar os materiais de limpeza e

Mateus fala uma coisa para elas.

MATEUS – Meninas, eu queria falar uma coisa

para vocês.

CLARINHA – Fala, o que é?

MATEUS – Eu estou muito feliz por ter

conhecido vocês e por tudo que vocês estão fazendo pelo meu

avô e pela nossa comunidade.

ANA PAULA: Que nada, deixa disso, ta sendo

muito divertido fazer tudo isso aqui.

CLARINHA – e no final da oficina vamos

fazer uma linda apresentação com você e seu avô dançando.

ANA PAULA – é, vai ser lindo.

MATEUS – Ei, por que vocês duas não dançam

também?

ANA PAULA – Nós? E pode?

MATEUS – Claro, vocês fazem parte da

oficina e no final dançam com a gente.

AS DUAS MENINAS – Oba!!!

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ANA PAULA (feliz)- E lá vamos nós de novo.

MATEUS – Vocês são minhas melhores amigas.

(...) os três se abraçam.

CENA 8. FRENTE DA ESCOLA. MANHA.

Cicera vem chegando à escola, com Ana Paula

e Clara correndo na frente. Ela para em frente à caixa do

correio e coloca o pacote.

CICERA (torcendo)- Tomara que dê tudo

certo.

CLARA – mamãe, você não vai mesmo contar

pra gente o que tem nesse envelope?

CICERA (Se abaixando, ficando no mesmo

plano que as meninas) - Meninas, agora é melhor não, mas se

correr tudo bem, vocês serão as primeiras a saber do

resultado. Ta certo?

ANA PAULA (abraçando cicera)– Ta certo.

CICERA (levantando e ficando em pé) – Agora

vão pra sala que o Ms. João já deve ter começado a oficina.

(...) As meninas saem correndo.

CICERA – Essas meninas são fogo.

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CENA 9. PORTA DA SALA DE AULA. MANHÃ.

Mateus está esperando as meninas na porta.

Elas vem correndo no final do corredor. Ele está

preocupado.

MATEUS – Fiquei preocupado, pensei que

vocês não viriam.

ANA PAULA – A clarinha ficou escolhendo a

roupa ainda.

MATEUS – Pois entrem que o vovô ta

esperando só vocês, agora.

(...) as meninas entram e ele fecha a

porta.

CENA 10. SALA DA OFICINA. INTERIOR. MANHÃ.

As crianças vão organizando, sentados no

chão em forma de semi-circulo. Ms. João está em pé na parte

da frente da sala e começa a explicar a importância de se

fazer a oficina.

JOÃO – Eu gostaria de agradecer a presença

de todos vocês, espero que gostem das aulas, vai ser

difícil tanto para mim quanto para vocês. Estudar a arte e

a cultura de nossa região é uma forma de não sermos

estrangeiros em nosso próprio espaço. O que é isso...

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(...) música. Só a imagem da oficina de

vários dias.

CENA 11. PÁTIO DA ESCOLA. EXTERIOR. MANHÃ.

Mateus, Ana Paula e Clara se encontram no

pátio da escola. Eles estão preocupados.

MATEUS – Ai, eu estou muito nervoso, amanhã

é o dia da apresentação.

CALARA – Estou muito ansiosa.

ANA PAULA – Pois vamos logo, que o Ms. João

deve estar esperando a gente para a prova das roupas.

(...) Vídeo com cortes rápido, ao som de

uma música das crianças provando os figurinos da

apresentação. Corta para o Ms. João sentado numa mesa

esperando o lanche. Chega Cicera com uma bandeja com o

lanche dele.

CICERA – As crianças estão muitos felizes

com a oficina.

JOÃO – É uma pena.

CICERA – o que?

JOÃO – Depois da oficina, vai ficar a mesma

coisa. Essas crianças são novas e não tem maturidade

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suficiente para fazer o grupo andar. E também os pais não

vão deixar eles virem pros ensaios sem ganhar nada.

CICERA (coloca a mão no ombro do Ms. João.

Esperançosa) – Confie em Deus, ele sempre providencia tudo.

Agora vamos nos preocupar com a apresentação de amanhã. As

respostas para os nossos problemas estão mais próximas do

que nós imaginamos.

JOÃO – Como assim?

CICERA – Tome o seu lanche. E deixe o resto

comigo.

CENA 12. PRAÇA PADRE CICERO. NOITE.

Está o maior tumultuo causado pelas pessoas

que se ajeitam para ver a apresentação. As crianças se

arrumado. Muitas luzes. Um parquinho. Crianças com algodão

doce.

CLARA (pedindo para que paulinha aperte a

parte de trás de sua roupa, ela não consegue)– Ai, aperta

aqui Paulinha.

ANA PAULA (depois de apertar) – Pronto!

Estamos lindas.

MATEUS (chega) – Até que enfim chegou o

dia. Vocês estão lindas.

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CLARA – Você também está bonito. (os três

se abraçam).

CENA 13. PRACA PADRE CICERO. CORETO. NOITE.

Cicera está em cima do coreto. Ela vai

anunciar o inicio da apresentação. A apresentação começa.

CICERA – Boa noite, gente. Hoje é uma data

muito feliz para todos nós. É o dia em que provamos que

resgatar e dar valor a cultura e a arte, e ensinar isso

principalmente as nossas crianças, é o que vai fazer com

que teremos um futuro e uma construção da família e assim

de uma sociedade melhor. A arte é cultura. É fruto de

sujeitos que expressam sua visão de mundo, visão esta que

está atrelada a concepções, princípios, espaços, tempos,

vivências. O contato com a arte de diversos períodos

históricos e de outros lugares e regiões amplia a visão de

mundo, enriquece o repertório estético, favorece a criação

de vínculos com realidades diversas e assim propicia uma

cultura de tolerância, de valorização da diversidade, de

respeito mútuo, podendo contribuir para uma cultura de paz.

É com muito, mas muito orgulho que eu apresento os novos

alunos do Ms. João.

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(...) Inicia-se a apresentação. Recorte de

imagens do período da oficina se mesclam com as caras de

felicidade tanto da platéia quantos alunos que estão

brincando. Quando termina a apresentação eles são

ovacionados pelo público. Ms. João sobe para o palco para

dar as palavras de agradecimento. Ele está pensativo.

JOÃO – Hoje, é a prova do quanto é

importante se trabalhar em equipe e de acreditar no empenho

e dedicação do nosso semelhante. Hoje, também, é o

resultado de um aprendizado de que nós sempre precisamos

unir o conhecimento que temos, até mesmo sem saber que

temos, com o do outro, com o que ele nos oferece. Por que

sozinho, na nossa realidade, não podemos fazer muita coisa,

mas juntos, em equipe, com pessoas que acreditam em nós e

que tem o mesmo objetivo que nós, nós podemos fazer muita

coisa, e isso eu pude compreender depois de ver o que nós

fizemos aqui nessa noite.

(...) aplausos e gritos eufóricos do

público. A câmera mostra as crianças que sobem no palco.

Clara e Ana Paula abraçam Cicera. Mateus abarca o avô.

JOÃO – fico muito feliz com a dedicação de

cada criança que participou da oficina e que realmente se

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dedicou a aprender, e aprendeu a verdadeira essência dessa

dança que faz parte da nossa tradição. Agradeço muito a

diretora Cicera por sua dedicação e pelo empenho, por ter

nos aberto as portas da sua escola para que pudéssemos

realizar essa oficina, mas seria muito orgulhoso de minha

parte ficar somente aqui. Esse aprendizado tem que sair as

ruas, mas sem incentivo financeiro não tem como estimular

as crianças e, principalmente, os seus familiares a

participarem. Pelo que vejo voltamos a estaca zero. O grupo

FILHOS DO REI não tem mais como continuar as suas

atividades.

(...) Ms. João chora. A platéia se indigna.

Cicera pega o microfone das mãos dele e começa a falar.

CICERA – Bom, realmente eu concordo com as

palavras do Ms. João: É muito importante o trabalho em

equipe; o conhecimento precisa sair de dentro da escola e

tomar outros rumos; as crianças precisam de incentivo pra

virem e sem dinheiro não tem como tudo isso funcionar. Mas

eu sei de uma solução para que possamos sim continuar as

atividades do grupo.

(...) Platéia indignada. Acha que Cicera

está louca ou debochando.

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CICERA – Calma, eu não estou louca. (para o

Ms. joão) – Ms. João, conhecer o senhor e seu trabalho, e

perceber todo o amor com que o senhor faz o que gosta me

fez ver o reisado com outros olhos: os do respeito. E em

meu papel de educadora tomei a iniciativa e inscrevi o seu

grupo no edital desse ano do governo do estado. E ele foi

aprovado.

JOÃO – Como?

CICERA – O grupo, FILHOS DO REI agora é

Ponto de Cultura FILHOS DO REI.

(...) crianças e platéia ficam eu

eufóricas.

JOÃO – Você não sabe o bem que fez para

todos nós. Deus vai lhe dá a recompensa.

CICERA – Ele já fui presenteada em conhecer

a sua comunidade e mudar minha compreensão com relação a

cultura.

(...) todos, crianças, platéia, grupo, seu

João, cicera, começam a dançar o reisado. Sai a imagem fica

só a música.

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(...) Tela preta, vaia aparecendo

lentamente a frase: “Valorizar sua arte e sua cultura é não

se tornar estrangeiro em sua própria comunidade.”