Resgatar O Poder Da Sombra - Emidio Carvalho

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www.emidiocarvalho.com 1 Resgatar O Poder Da Sombra Lição 1 – A Sombra Imagine que, quando nasce, o seu corpo e a sua alma são como um castelo. Com muitos aposentos. Um aposento onde há amor. Outro onde há inveja. Noutro ainda há ganância e noutro a bondade. Dezenas de aposentos, todos eles importantes e úteis à sua maneira. E você sente-se bem em todos eles. Passa um tempo num aposento, depois visita outro, e assim vive. Feliz com todos os seus aposentos! Mas depois os outros, os que estão de fora, os pais e os professores e os líderes religiosos, começam a apontar o dedo e a dizer que este aposento é feio, e o outro fica mal. E você, sem se dar conta (e porque quer ser apreciado pelos outros), vai fechando as portas de vários aposentos. As mensagens que vai recebendo das pessoas à sua volta é de que há algo de errado consigo, por ter este ou aquele aposento no seu castelo. E se tem esses aposentos ‘feios’ não merece ser amado. Todavia, estes aposentos continuam a existir, mas você atirou com a chave para longe. Decidiu que são aposentos feios que ninguém gosta. O problema é que todos os aposentos são importantes, e todos são úteis. Mas você vai passar a sua vida a fingir que estes aposentos não existem, são maus! E gastará muita energia a fazer de conta que não existem. Eventualmente o seu castelo transforma-se em meia dúzia de aposentos. Estes aposentos que faz de conta que não existem irão tornar-se na sua sombra, o seu lado negro. A primeira pergunta que tem que se colocar, meu querido amigo, é esta: prefere ser completo, ou prefere ser bom? Quanto de si terá que ‘desaparecer’ para ser bom? Nós somos todos uma parte do Todo, e em cada um de nós há todas as qualidades e defeitos que vemos nos outros. Já agora, como pode saber o que é o amor sem saber o que é o ódio? Ou a bondade sem a ganância? Como pode saber o que é o bem sem o mal? Ou a coragem sem a cobardia?

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Resgatar O Poder Da Sombra  

 

Lição 1 – A Sombra 

Imagine que, quando nasce, o seu corpo e a sua alma são como um castelo. Com muitos aposentos. Um aposento onde há amor. Outro onde há inveja. Noutro ainda há ganância e noutro a bondade. Dezenas de aposentos, todos eles importantes e úteis à sua maneira.

E você sente-se bem em todos eles. Passa um tempo num aposento, depois visita outro, e assim vive. Feliz com todos os seus aposentos!

Mas depois os outros, os que estão de fora, os pais e os professores e os líderes religiosos, começam a apontar o dedo e a dizer que este aposento é feio, e o outro fica mal. E você, sem se dar conta (e porque quer ser apreciado pelos outros), vai fechando as portas de vários aposentos. As mensagens que vai recebendo das pessoas à sua volta é de que há algo de errado consigo, por ter este ou aquele aposento no seu castelo. E se tem esses aposentos ‘feios’ não merece ser amado.

Todavia, estes aposentos continuam a existir, mas você atirou com a chave para longe. Decidiu que são aposentos feios que ninguém gosta.

O problema é que todos os aposentos são importantes, e todos são úteis. Mas você vai passar a sua vida a fingir que estes aposentos não existem, são maus! E gastará muita energia a fazer de conta que não existem.

Eventualmente o seu castelo transforma-se em meia dúzia de aposentos.

Estes aposentos que faz de conta que não existem irão tornar-se na sua sombra, o seu lado negro.

A primeira pergunta que tem que se colocar, meu querido amigo, é esta: prefere ser completo, ou prefere ser bom?

Quanto de si terá que ‘desaparecer’ para ser bom?

Nós somos todos uma parte do Todo, e em cada um de nós há todas as qualidades e defeitos que vemos nos outros.

Já agora, como pode saber o que é o amor sem saber o que é o ódio? Ou a bondade sem a ganância? Como pode saber o que é o bem sem o mal? Ou a coragem sem a cobardia?

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Cada um de nós possui todas as qualidades humanas que existem. Não há nada que nós possamos imaginar ou ver que não seja já uma parte de nós. O propósito da nossa viagem é regressar ao Todo que sempre fomos e sempre seremos.

O santo e o pecador, o divino e o diabólico, o forte e o fraco. Todos estes aspectos existem adormecidos dentro de nós. E todos eles se irão manifestar nas nossas vidas se não formos capazes de os reconhecer e integrar nas nossas mentes.

Mas quem é a sombra?

A sombra é a parte de si que preferia não ser. A parte de si que, aparentemente, não existe. Ninguém sabe da sua existência.

Quando suprime um sentimento, ou impulso, acaba por suprimir também o seu oposto. Se negar o feio em si, estará também a negar a sua beleza. Se negar a cobardia, estará também a negar parte da sua coragem. Se negar a ganância, estará a diminuir a sua generosidade.

Bill Spinoza disse-o de uma maneira magnífica: “aquilo que não és capaz de ser, será capaz de não te deixar ser.”

É importante que aprenda a dar-se na totalidade e a permitir que quem você é na totalidade exista em si. Se quer ser livre, tem que se permitir ‘ser’ primeiro. Significa isto que tem que parar de se julgar. Tem que se perdoar por ser humano. Perdoar-se por ser menos que perfeito. Porque quando se julga a si, irá sempre julgar os outros. E aquilo que faz aos outros, irá fazê-lo a si mesmo.

O mundo é um espelho do que vai dentro de nós.

Lembre-se que aquilo que não é capaz de aceitar como sendo uma parte de si, irá dominar a sua vida. Aquilo a que resiste, persiste!

Foi Jung que afirmou “Uma pessoa não se torna iluminada a imaginar figurinhas de luz. Uma pessoa torna-se iluminada ao tornar a escuridão consciente”.

Que partes de si tem negado? Que partes de si é incapaz de ver? Que partes de si são tão vergonhosas que nem se atreve a aceitar que existem?

Faça o exercício que lhe proponho na Meditação Activa 1 (www.emidiocarvalho.com/multimedia.htm). Tenha à mão uma folha e lápis, para poder tomar notas. Seja tão sincero consigo quanto seja capaz.

 

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Lição 2 – Ir Ao Encontro Da Sombra 

A nossa sombra usa uma série interminável de disfarces: gananciosa, maldosa, manipulativa, egoísta, controladora, não merecedora, preguiçosa, fraca, hostil, vingativa, destrutiva, etc.

A nossa sombra funciona um pouco como um armazém, onde guardamos todas estas partes de nós que não aceitamos. Todos os aspectos que aparentemente não somos e que gastamos tanta energia a fazer de conta que não existem. São as faces que não queremos mostrar ao mundo. Nem a nós!

Tudo aquilo que odiamos, resistimos ou afirmamos que não somos, toma uma vida própria dentro de nós, destruindo qualquer sentimento de auto-estima que tenhamos.

Quando enfrentamos a nossa sombra pela primeira vez a nossa atitude é quase sempre de negação. Fugimos daquilo que não aceitamos ou não gostamos em nós. Outras vezes optamos por negociar com a sombra. Fingimos que sim, que reconhecemos o potencial para ser isto ou aquilo, mas viramos as costas na esperança de que nunca aconteça.

Mas são estes aspectos escondidos que mais atenção precisam de nós. Temos que fazer as pazes com eles, aceitá-los na totalidade. São os nossos tesouros escondidos.

Dois exemplos. Você poderá pensar que mentir é feio e os mentirosos são pessoas indignas de ser amadas. É capaz de pensar numa situação em que mentir possa ser útil a uma pessoa? Imagine uma criança de dez anos a conversar, na internet, com um suposto ‘amigo’ que vem a descobrir tratar-se de um pedófilo... Se a criança mentisse e dissesse ao agressor que na verdade era um agente da Policia Judiciária? Não lhe parece que nesta situação, mentir, fosse a diferença entre a liberdade e as garras de um predador?

Ou imagine a situação em que um assassino vai matar a pessoa que mais ama. E você tem uma oportunidade para lhe dar com um martelo na cabeça. Seria capaz de o fazer? Claro que sim. É uma questão de sobrevivência.

Começa a ver como a sombra, aqueles aspectos que negamos, podem ser úteis?

Mas tenha cuidado neste processo da sombra! Um dos nossos maiores problemas, nestes dias de informação excessiva, é o sindroma “Eu já sei isso”. Uma coisa é saber, intelectualizar, outra, muito diferente, é sentir. Este processo da sombra não é algo a intelectualizar, mas sim uma viagem que

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tem inicio na cabeça mas cujo destino final é o coração.

A nossa sombra é a porta para a verdadeira liberdade. Temos que tomar a decisão de explorar, reconhecer e aceitar cada faceta da nossa sombra, para sermos verdadeiramente livres.

E quer você goste ou não, enquanto ser humano, possui uma sombra, um lado negro.

Abraçar um aspecto do nosso ser significa amá-lo e aceitá-lo tal como é. Não significa torná-lo mais do que é, nem menos do que é. Simplesmente aceitar que é apenas mais um aspecto de nós.

Vivemos hoje sob a falsa pretensão de que para algo ser divino tem que ser perfeito. Isto é um erro. De facto o oposto é que é verdade. Ser divino significa ser-se completo. E ser-se completo significa ser tudo, o positivo e o negativo, o bonito e o feio, o santo e o pecador.

Quantas vezes, enquanto crescíamos, nos foi dito para não nos portarmos mal? Para não sermos preguiçosos? Para não dizer asneiras? Para não falar alto? Para não sermos egoístas? A mensagem era sempre a mesma: Não ser! Ensinaram-nos a “não ser”!

Você nunca soube o que era ser belo, porque passou a maior parte da infância a esconder o feio! Você nunca soube o que era a verdadeira bondade porque passou a maior parte do tempo a esconder a ganância! E assim foi perdendo uma parte importante de si mesmo.

E como aprendeu tão bem a ‘não ser’, começou a desenvolver uma certa impaciência por aqueles que eram. Os maus da fita. E os maus da fita tinham que existir sempre, para lhe mostrar as partes de si que aos poucos ía escondendo.

E foi assim que você caiu na ratoeira do “se apenas”. Se apenas as pessoas fossem mais simpáticas.. Se apenas as pessoas fossem mais generosas... Se apenas eu tivesse uma relação mais amorosa... Se apenas eu tivesse mais dinheiro...

Querido amigo, vai precisar de algum tempo para sentir amor por quem é na totalidade.

Já reparou que a maior parte das pessoas com problemas sérios de saúde são pessoas que nunca mostram raiva, nem se queixam, colocam sempre os outros em primeiro lugar. E depois têm doenças graves e nem sabem porquê.

Escondido nos seus corpos há toda a raiva, sonhos, desejos, tristezas que

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nunca foram capazes de mostrar ao mundo. Foram ensinados a colocar os outros em primeiro lugar, porque é isso o que as pessoas boas fazem.

Dentro de nós há todos os aspectos, positivos e negativos, que observamos na espécie humana. Cada emoção, cada impulso, cada necessidade.

Quando observar um comportamento humano, qualquer comportamento humano, e for capaz de afirmar “eu sou assim” ao nível mais profundo do seu ser, então será capaz de se aproximar da verdadeira iluminação.

Lembre-se que só saberá verdadeiramente o que é o amor, quando aceitar em si a capacidade para odiar. O ódio só tem poder sobre si enquanto não o reconhecer, enquanto não o aceitar. A partir do momento que aceita a sua capacidade para odiar irá estar livre para amar sem impor condições.

A nossa sombra existe para nos mostrar que somos incompletos. Existe para nos ensinar o amor, a compaixão e o perdão. Não só em relação aos outros mas, acima de tudo, em relação a nós mesmos. E quando abraçamos a nossa sombra, tem início a cura da nossa alma. É que a nossa sombra só é sombra porque permanece escondida. Quando trazemos a nossa sombra à presença da luz, quando descobrimos o presente da nossa sombra, ela transforma-nos. Liberta-nos.

Quando abraçar a sua sombra, dará inicio ao processo da cura. E quando cura a sua sombra torna-se livre para amar na totalidade.

Em cada ser humano há uma divindade à espera de nascer.

Faça a Meditação Activa 2 (www.emidiocarvalho.com/multimedia.htm) apresentada nesta página. Tire tempo para a fazer com calma. Tenha à mão umas folhas e lápis de cor.

Já é perfeito. 

 

Lição 3 – O Mundo Está Dentro De Si 

Nós não estamos no mundo, o mundo está em nós.

Isto significa apenas uma coisa: dentro de cada um de nós estão todos os atributos do comportamento humano. Para além da superfície de cada ser humano encontram-se todas as emoções, comportamentos, qualidades e defeitos de toda a humanidade.

Isto pode parecer, a uma primeira vista, algo poético e sem qualquer significado. Se foi isso o que pensou, aconselho-o a voltar a ler. E mais uma

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vez.

O modelo holográfico do Universo (já referi este modelo em newsletters anteriores) diz-nos que cada um de nós é um microcosmo do imenso macrocosmo. Cada um de nós possui toda a sabedoria do universo. Se examinar um ser humano irá encontrar um holograma do universo. No ADN de cada ser humano encontrará tudo o que precisa para criar toda a humanidade.

Quando conseguir sentir que contém em si tudo aquilo que vê nos outros, todo o seu mundo irá ser alterado. Por isso o objectivo deste curso é descobrir tudo aquilo que ama e odeia nos outros. Quando aceitarmos estes aspectos em nós abrimos a porta para o universo dentro de nós. Quando fizermos as pazes connosco seremos capazes de fazer as pazes com o mundo.

A chave encontra-se em sentir que não há nada que consigamos ver nos outros que não esteja já em nós. Se não possuirmos determinada qualidade ser-nos-á impossível vê-la noutro. Se, por exemplo, você se sente inspirado pela coragem de alguém, essa coragem é um reflexo da coragem que está dentro de si. Se você se sente incomodado pelo egoísmo de alguém, pode ter a certeza que é capaz de mostrar o mesmo nível de egoísmo noutras alturas.

Embora não demonstre todos os atributos da humanidade constantemente, tem a capacidade de o fazer numa determinada altura.

Sendo cada um de nós uma parte deste universo holográfico, somos tudo aquilo que vemos, julgamos e admiramos nos outros.

Todos nós temos poder, força, criatividade e compaixão. Todos nós possuímos inveja, luxúria, raiva e fraquezas. Não há um único atributo, comportamento ou qualidade que não possuamos já. Todos somos inundados com luz divina, amor e sabedoria, e, do mesmo modo, inundados com egoísmo, secretismos e hostilidade.

A sua tarefa, enquanto ser humano, é encontrar o amor e a compaixão por cada aspecto de quem é.

Lembra-se da analogia do castelo? O seu castelo tem aposentos de criatividade, feminilidade, honestidade, integridade, saúde, assertividade, sensualidade, poder, timidez, ódio, inveja, frigidez, preguiça, arrogância, doença, maldade. E cada aposento é uma parte integrante do edifício. Para cada aposento que é capaz de identificar pode ter a certeza que algures existe o seu exacto oposto.

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Este é o motivo da insatisfação para com a vida: andamos à procura de mais, sempre à procura de mais. Mas não sabemos o que é esse mais. Os aposentos que, consciente ou inconscientemente, decidimos que não fariam parte do nosso castelo.

Mas se quer mesmo mudar a direcção da sua vida terá que voltar ao seu castelo e abrir as portas de cada aposento. Tem que estar preparado para explorar o seu universo interior e aceitar tudo aquilo que deserdou de si mesmo. Só na presença do seu Eu Completo será capaz de dar apreço à magnificência de quem é e desfrutar da totalidade da sua vida.

Quando vê, por exemplo, um homem zangado e a discutir na rua. Você tem o potencial para se zangar e discutir. Consegue aceitar isto? Os outros são sempre uma projecção do que está já latente em nós.

O segredo aqui é simples. Quando observa qualquer comportamento humano, e não sente qualquer tipo de reacção emocional significa que aceita em si esse comportamento ou o potencial para o demonstrar. Se, por outro lado, tem uma reacção emocional isso significa um aposento do seu castelo que foi encerrado há muitos anos.

Perante qualquer comportamento humano que observa deverá fazer-se três perguntas: Em que situações do passado já tive este comportamento? Em que situações do presente tenho este tipo de comportamento? Em que situação, hipotética, seria eu capaz de demonstrar este comportamento?

As pessoas que você mais julga são aquelas que lhe mostram os aspectos de si que mais odeia e nega. Lembre-se, se a sua vida tivesse sido diferente, que tipo de comportamentos seria capaz de mostrar ao mundo?

Se você tivesse sido abusado na infância ao ponto de ter a sua vida ameaçada. Se nunca tivesse sentido o apreço, o carinho de outro ser humano, seria capaz de matar outra pessoa a sangue frio? Provavelmente. Isto não significa que matar está certo. Não está. Mas consegue ver em si o potencial latente para matar, se a sua vida tivesse sido diferente?

Será capaz de abraçar a possibilidade de ser qualquer uma das pessoas que julga e critica?

Há um ditado inglês muito interessante que diz “nunca julgues outro ser humano antes de caminhares nos seus sapatos”. É isto o que é pedido de si antes de julgar outro.

Se prestar atenção, no dia-a-dia, irá aperceber-se que apenas julga as pessoas que demonstram atributos que você não é capaz de aceitar em si. E

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há uma forte probabilidade, meu querido amigo, de ser precisamente o atributo que já há muito anda a mostrar aos outros.

Se for capaz de abraçar a totalidade do universo dentro de si, será capaz de abraçar a totalidade da espécie humana também.

Infelizmente, e como afirmou Gunther Bernard tão bem, nós escolhemos esquecer quem somos e depois esquecemo-nos de que nos esquecemos.

O universo irá sempre levar até nós as pessoas com os ‘defeitos’ que não somos capazes de reconhecer em nós. É a forma de o universo nos conduzir de volta à totalidade de quem somos. Por isso é que da mesma maneira que nós somos, assim é o mundo que nos rodeia (uma boa altura para desistir de ver os noticiários na televisão!).

Cada parte de si tem algo a oferecer-lhe. Ao aceitar-se e amar-se na totalidade será capaz de aceitar e amar todos à sua volta.

Está na hora de pegar numas folhas, lápis de cor e caneta. Ouça a Meditação Activa 3 (www.emidiocarvalho.com/multimedia.htm) e siga os passos para o seu Eu Sagrado.

 

Lição 4 – Conhece A Tua Sombra, Conhece­te A Ti Mesmo 

Dentro de cada um de nós existe um verdadeiro tesouro. Este tesouro é o nosso espírito, puro e magnificente, livre e brilhante! Mas este tesouro foi escondido por uma camada espessa de preconceitos. Estes preconceitos têm a sua origem nos nossos medos. É a nossa máscara social: a cara que mostramos ao mundo. Revelar a nossa sombra é colocar a descoberto a nossa máscara. Temos que olhar para esta máscara com amor e compaixão, pois há um enorme tesouro à nossa espera quando compreendemos porque motivo nos escondemos por detrás dela.

Há uma história curiosa que podemos aplicar a este tema. Em 1957 um grupo de monges na Tailândia estava a ser deslocado para outra parte do país. Um dos monges ficou responsável por tratar da deslocação de uma enorme estátua de barro do Buda que se encontrava à entrada do templo. Como a estátua era de barro todo o cuidado era pouco para não a estragar. Ainda por cima notava-se umas rachadelas num dos pés da estátua. O monge não sabia o que fazer. Durante a noite não conseguia adormecer, a pensar como melhor deslocar a estátua sem causar danos. A meio da noite levantou-se, pegou numa lanterna e foi ver mais uma vez a estátua. Ao incidir o foco de luz sobre o barro estalado notou que por

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debaixo do barro reflectia-se um brilho forte. O monge começou a arranhar o barro com as unhas, e o brilho aumentava cada vez mais. Por fim surgiu ouro! Algumas centenas de anos antes, os monges daquele mosteiro foram atacados e saqueados. Para protegerem a única coisa de valor que tinham colocaram barro a cobrir uma enorme estátua de ouro do Buda! E foi essa estátua que o monge tinha tentado manter no seu estado original de barro!

Da mesma maneira que este Buda, o nosso aspecto exterior serve para nos proteger do mundo exterior. O nosso verdadeiro tesouro esconde-se por debaixo! Nós escondemos, inconscientemente, o nosso tesouro. A maneira mais fácil de descobrir este tesouro é arranhando e quebrando a nossa estrutura superficial.

Nos meus seminários encontro muitas pessoas que investem anos e dinheiro em seminários, tratamentos e cursos. Procuram respostas. E quando é que a procura irá terminar? Quando é que obterão as respostas? Estas pessoas não se vêem como um Buda de ouro escondido por detrás de uma camada de preconceitos. Na verdade estas pessoas não suportam a sua camada superficial. Ainda não descobriram que esta camada superficial as protege muito mais do que imaginariam algum dia. Nós precisamos da nossa camada protectora por muitos motivos, e para cada um de nós os motivos são diferentes. Apesar de que o nosso objectivo último é ver-nos livres da camada protectora, primeiro temos que compreender e aceitar estas máscaras.

Acha que o Buda de ouro, depois de lhe terem retirado a camada de barro, disse “porque motivo me tiraram o barro?! Eu gosto deste barro que me esconde!!” Ou será que o Buda sentia uma imensa gratidão pela protecção que o barro lhe tinha dado no passado, e que agora já não precisava?

A sua camada exterior é a face que mostra ao mundo. Esconde todas as características que compõem a sua sombra. As nossas sombras escondem-se tão bem que muitas vezes mostramos ao mundo uma cara, quando no fundo nos sentimos exactamente o oposto. Há pessoas que usam uma camada de frieza, para esconder a sua sensibilidade, ou usam uma camada de humor para esconder a tristeza interior. As pessoas que acreditam que ‘já sabem’, escondem sentimentos de estupidez. Enquanto que aquelas que agem de maneira arrogante, ainda têm que revelar as suas inseguranças. As pessoas ‘cool’ ainda têm que mostrar a sua parte desenxabida. E as pessoas sorridentes, a sua cara de zangadas.

Nós temos que olhar para além das nossas máscaras sociais para poder

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descobrir quem somos de verdade. Nós somos mestres dos disfarces, enganando os outros mas, acima de tudo, enganando-nos a nós mesmos. São as mentiras que contamos a nós mesmos que temos que decifrar. Quando não nos sentimos completamente satisfeitos, felizes, saudáveis ou a viver os nossos sonhos, sabemos que as nossas mentiras estão activas. É assim que descobrimos a nossa sombra em acção.

A mudança que tem que ocorrer é perceptual. Você tem que ver as suas camadas exteriores como estando a servir uma função protectora, e não apenas como algo que o/a impede de viver os seus sonhos. As suas camadas exteriores foram concebidas de maneira divina para o/a ajudar no seu processo espiritual. Ao visitar e explorar cada acidente, emoção e experiência que o/a levou a construir as suas camadas exteriores, será conduzido de volta a casa para que possa abraçar a totalidade do seu ser. As nossas camadas exteriores são o mapa do nosso desenvolvimento pessoal. Contêm tudo o que somos, e tudo o que não queremos ser. Independentemente do quão doloroso tenha sido o seu passado, se olhar para si mesmo com total honestidade e utilizar a informação guardada nas suas camadas exteriores como um guia, irá encontrar o caminho de volta à iluminação.

Quando conhecer o seu Eu Total deixará de ter necessidade das camadas exteriores para protecção. Irá deixar que as suas máscaras caiam naturalmente. Todos os seres humanos que partilham o planeta serão seus iguais. Literalmente.

As nossas camadas exteriores são criadas pelo ego. Ou melhor, são criadas pelo ideal que o ego cria. O ego é o ‘eu’ que se diferencia dos outros. O Espírito une este ‘eu’ com a totalidade de quem é. Quando esta união entre espírito e ego ocorre, tornamo-nos um com nós mesmos e com o mundo.

Muitas pessoas não conseguem ir muito longe neste processo de desvendar a sombra porque não têm a vontade de ser honestas com elas próprias. O ego não gosta muito de perder o controlo! Mas a partir do momento que é capaz de reconhecer todos os aspectos de quem é, o bom e o mau, o ego começa a sentir que perde o seu poder.

Comece por desafiar a pessoa que pensa que é para poder revelar a pessoa que é capaz de se tornar.

Usar as outras pessoas como espelhos ajuda-nos a decifrar as nossas máscaras.

Vá ter com os seus amigos e familiares mais próximos e peça-lhes para

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lhe dizerem as três qualidades e os três defeitos que mais admiram/não suportam em si. É importante dizer-lhes primeiro que não ficará ofendido pelas suas respostas! Torne o espaço das perguntas um local seguro para todos. Só assim os outros se sentirão bem em revelar-lhe o que pensam de si. Descubra depois se aquilo que mostra aos outros é o que mostra a si mesmo. Muitas pessoas conseguem ver mais qualidades em nós do que nós mesmos. E, ao mesmo tempo, vêem mais características negativas em nós do que seríamos capazes de admitir.

Muitas pessoas resistem este exercício. Têm medo de ser julgadas. Em vez de pensar que vai ser julgado, pense neste exercício como uma forma de feedback, informação que lhe será útil. Nós não temos que acreditar naquilo que os outros pensam de nós, mas se temos receio de ouvir o que as pessoas que nos são mais próximas pensam de nós, deveríamos prestar atenção aos motivos.

A maioria das pessoas tem receio de ouvir aquilo que mais as aterroriza. A isto chama-se ‘negação’. Nós só temos medo se, a um outro nível, soubermos que temos andado a enganar-nos a nós mesmos. Se você pensar, do mais fundo do seu ser, que aquilo que outros pensam de si não é verdade, não irá dar qualquer significado ao que é dito.

Pense por instantes na quantidade de energia que necessita para esconder algo de si mesmo e do mundo. Pegue, por exemplo, numa laranja, e ande com ela na mão todo o dia. Mas sempre a tentar não ver a laranja nem deixando que outros a consigam ver. Depois de algumas horas repare na quantidade de energia que gasta para conseguir esconder a laranja! É isto o que os nossos corpos têm que fazer ao longo de cada dia. Com uma excepção: os nossos corpos não têm que esconder apenas uma peça de fruta. Têm que esconder todas as peças de fruta que temos medo de ver e mais medo que outros vejam.

Quando finalmente deixar que a sua verdade surja ao de cima irá descobrir-se livre! Irá ter disponível toda aquela energia que consumia a esconder cada peça de fruta que transportava, e neste processo irá ver-se no caminho dos seus objectivos. Nós só estamos tão doentes quanto os nossos segredos. Estes segredos fazem com que seja impossível sermos nós mesmos.

Outra forma de expor quem é de verdade é fazendo uma lista de três pessoas que admira e três pessoas que odeia. Podem ser amigos, actores, políticos, e até pessoas que já morreram há centenas de anos. As pessoas que mais admira deverão inspirá-lo com qualidades que gostaria de possuir. As pessoas que odeia deverão deixá-lo mal-disposto,

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zangado ou mesmo com raiva.

Depois, numa folha de papel, faça uma lista de todas as qualidades que admira nas primeiras três pessoas e no outro lado da folha as características que não suporta nas últimas três pessoas.

Estas listas são uma boa maneira de descobrir as partes de nós que não aceitamos. Aconselho-o a começar pelas características negativas. De início poderá ter alguma dificuldade em reconhecer em si as características que odeia. Não deve ser fácil descobrir em nós características do Hitler. É importante decifrar qualquer palavra mais abrangente, como por exemplo ‘assassino’. A pergunta que tem que se fazer é “que tipo de pessoa cometeria estes actos?”. Seguindo o exemplo do assassino, poderia ser uma pessoa egoísta, enraivecida, que não valoriza a vida humana. Se lhe surgir a expressão “não valoriza a vida humana”, pergunte-se que tipo de pessoa é que não valoriza a vida humana? Poderá surgir-lhe, como resposta, um narcisista, uma pessoa doente, demente. A parte importante deste processo é tornar a linguagem simples até chegar a uma palavra específica ou uma característica que gosta ou desgosta. Descubra as características que possuem, para si, uma carga emocional.

Mantenha presente as palavras de Nietzsche: “nós não temos nada a dizer sobre as coisas que acontecem nas nossas vidas, mas temos sempre algo a dizer sobre a forma como interpretamos essas coisas:”

Faça agora o exercício que acompanha esta aula, no anexo.

Depois faça ainda o exercício que se segue. Vou dar-lhe duas semanas para completar esta série. É importante que faça tudo o que é pedido por forma a poder continuar na sua caminhada!

O que eu mais detesto

A única maneira de poder conquistar todo o seu maravilhoso poder criativo é resgatando o poder escondido na sombra. Talvez não se sinta infiel ou mentiroso, talvez nunca o tenha sido. Mas o potencial de o ser está dentro de si, como está dentro de mim.

Para este exercício precisará do seu caderno e de uma caneta. Não é necessário criar qualquer ambiente específico, mas coloque-se em frente a um espelho. Deverá estar a olhar-se nos olhos enquanto faz as afirmações.

Neste exercício iremos fazer as pazes com todas aquelas pessoas

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que não gostamos. Sempre que uma afirmação ‘mexa’ consigo, sempre que sentir que não gosta, que sente desconforto, escreva essa palavra no seu caderno.

Está pronto? Vamos começar.

• Eu Sou invejoso! • Eu Sou mentiroso! • Eu Sou fútil! • Eu Sou rancoroso! • Eu Sou vingativo! • Eu Sou nojento! • Eu Sou violento! • Eu Sou controlador! • Eu Sou mau! • Eu Sou uma cabra! • Eu Sou demoníaco! • Eu Sou um tolo! • Eu Sou pudico! • Eu Sou toxicodependente! • Eu Sou coscuvilheiro! • Eu Sou um predador! • Eu Sou alcoólico! • Eu Sou estúpido! • Eu Sou idiota! • Eu Sou amedrontado! • Eu Sou viciado no jogo! • Eu Sou doentio! • Eu Sou gordo! • Eu Sou horrendo! • Eu Sou sádico! • Eu Sou masoquista! • Eu Sou bulímico! • Eu Sou anoréctico! • Eu Sou inconsciente! • Eu Sou inconsequente! • Eu Sou irrelevante! • Eu Sou frígido! • Eu Sou rígido! • Eu Sou abusador! • Eu Sou manipulador! • Eu Sou vítima!

• Eu Sou pomposo! • Eu Sou feio! • Eu Sou desleixado! • Eu Sou linguarudo! • Eu Sou estridente! • Eu Sou passivo! • Eu Sou agressivo! • Eu Sou mal-cheiroso! • Eu Sou cobarde! • Eu Sou sinistro! • Eu Sou ansioso! • Eu Sou invejoso! • Eu Sou manda-chuva! • Eu Sou aluado! • Eu Sou um falhado! • Eu Sou envergonhado! • Eu Sou negligente! • Eu Sou puta! • Eu Sou sujo! • Eu Sou amargo! • Eu Sou desavergonhado! • Eu Sou frio! • Eu Sou inflexível! • Eu Sou velho! • Eu Sou distante! • Eu Sou racista! • Eu Sou snob! • Eu Sou elitista! • Eu Sou coração de pedra! • Eu Sou ladrão! • Eu Sou aldrabão! • Eu Sou ignorante! • Eu Sou um coitadinho! • Eu Sou meio-morto! • Eu Sou um zombie! • Eu Sou sempre um atrasado!

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• Eu Sou egocêntrico! • Eu Sou superior aos outros! • Eu Sou doido! • Eu Sou emotivo! • Eu Sou preconceituoso! • Eu Sou condescendente! • Eu Sou competitivo! • Eu Sou sedento de poder! • Eu Sou xenófobo! • Eu Sou homossexual! • Eu Sou pegajoso! • Eu Sou inseguro! • Eu Sou depressivo! • Eu Sou um caso perdido! • Eu Sou pedinte! • Eu Sou delinquente! • Eu Sou perfeccionista! • Eu Sou intrometido! • Eu Sou ressentido! • Eu Sou um dejecto! • Eu Sou inútil! • Eu Sou traidor! • Eu Sou inferior! • Eu Sou casmurro! • Eu Sou destrutivo! • Eu Sou lésbica! • Eu Sou paneleiro! • Eu Sou desinteressante! • Eu Sou vazio! • Eu Sou diabólico! • Eu Sou ridículo! • Eu Sou um caos! • Eu Sou esquizofrénico! • Eu Sou tarado! • Eu Sou um verme! • Eu Sou descuidado! • Eu Sou mártir!

• Eu não Sou autêntico! • Eu Sou ofensivo! • Eu Sou inapropriado! • Eu Sou selvagem! • Eu Sou incompetente! • Eu Sou preguiçoso! • Eu Sou oportunista! • Eu Sou luxúria! • Eu Sou injusto! • Eu Sou tonto! • Eu Sou traidor! • Eu Sou mesquinho! • Eu Sou infantil! • Eu Sou bisbilhoteiro! • Eu Sou desesperado! • Eu Sou maricas! • Eu Sou cruel! • Eu Sou insensível! • Eu Sou assustador! • Eu Sou perigoso! • Eu Sou explosivo! • Eu Sou perverso! • Eu Sou psicótico! • Eu Sou vampiro energético! • Eu Sou merdoso! • Eu Sou inumano! • Eu Sou triste! • Eu Sou frágil! • Eu Sou impotente! • Eu Sou superficial! • Eu Sou insípido! • Eu Sou castrado! • Eu Sou menino da mamã! • Eu Sou nervoso! • Eu Sou arrogante! • Eu Sou hipócrita! • Eu Sou miserável!

 

 

 

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Lição 5 – Eu Sou Isso 

Uma vez que sejamos capazes de ver as partes de nós que andámos a negar, estamos prontos a avançar para a próxima etapa deste processo. Iremos aceitar cada um destes aspectos negados. Aceitar significa reconhecer que determinada característica lhe pertence. Podemos assim começar a aceitar a responsabilidade pelo todo que somos. Neste momento não tem que gostar de cada parte de si, tem apenas quer estar preparado para reconhecer cada uma delas em si e nos outros. Há três questões que lhe poderão ser úteis nesta etapa: alguma vez demonstrei este comportamento no passado? Ando a demonstrar este comportamento agora? Sob circunstâncias diferentes, seria capaz de demonstrar este comportamento? Uma vez que responda "sim" a qualquer destas questões terá dado início ao processo de aceitação de qualquer comportamento.

Alguns comportamentos são mais fáceis de reconhecer e aceitar que outros. Aqueles aspectos de nós que mais negamos, e que continuamente projectamos nos outros, serão os mais difíceis de aceitar. Daí que é tão importante ser implacável consigo mesmo, sendo, simultaneamente, carinhoso.

Esteja preparado para aceitar que "é" aquilo que menos desejaria ser. Esteja preparado para ver com novos olhos, para além dos mecanismos de defesa, tudo aquilo que lhe diz "eu não sou isso". Olhe, com olhos que digam "eu sou isso. Em que situações sou eu assim?". E resista à tentação de se julgar.

Não crie decisões repentinas e pense que é uma pessoa má, se descobrir que é invejoso ou egoísta. Todos nós possuímos essas características, bem como os seus pólos opostos. Fazem parte da nossa humanidade. Todas estas características existem para nos guiar e ajudar. Pode ser que neste momento esteja céptico, mas dê a si mesmo a oportunidade de descobrir todas as características que o tornam completo. Prometo-lhe que no final irá descobrir o tesouro que sempre esteve dentro de si.

Aceitar é uma etapa essencial deste processo de cura e de criação de uma vida de amor. Nós não podemos abraçar aquilo que não aceitamos. Se quiser manifestar todo o seu potencial tem que ir buscar as partes de si que tem negado, escondido ou dado a outros ao longo dos anos.

Se há um aspecto de si que não aceita pode ter a certeza que irá continuamente atrair as pessoas que lhe irão mostrar esse mesmo aspecto. O Universo irá mostrar-lhe quem é de verdade através dos outros, continuamente até aceitarmos esses aspectos negados.

Já alguma vez pensou porque motivo atrai o tipo de pessoa que não gosta mesmo nada? Não é por acaso.

Há muitas maneiras de descobrir as partes de si que tem negado. Comece por estudar as características que mais o ofendem. Faça uma lista com as palavras que melhor descrevem as pessoas que detesta, ou gosta menos. Não importa o quanto lhe possa custar, enquanto não aceitar estas

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características em si não conseguirá avançar. Descubra uma altura da sua vida em que demonstrou essa característica. Experimente cada um dos aspectos que não é capaz de aceitar como quem experimenta um casaco. Veja como se sente, o que terá que fazer para servir. Imagine como reagiria se alguém que o ama lhe chamasse isso. Terá que analisar que tipo de juízos faz sobre cada aspecto, e ainda que juízos faz sobre as pessoas que demonstram esse mesmo aspecto. Veja quantas pessoas 'eliminou' da sua vida por possuírem esse aspecto. Não tente comparar-se de maneira positiva em relação a essas pessoas. não deixe que o seu ego se justifique ou justifique o seu comportamento. Lembre-se que o mundo vê um invejoso apenas como um invejoso.

Desista de investir tanta energia e tempo em ter razão, em se justificar. É preciso compaixão para aceitar uma parte de nós que negámos, escondemos, ou odiámos durante muito tempo.

As pessoas espelham de volta aquilo que já está dentro de nós porque subconscientemente nós atraímos precisamente esses aspectos. É por este motivo que há um determinado tipo de pessoas e situações que parecem repetir-se. Quando nós somos finalmente capazes de aceitar um determinado aspecto de nós, estas pessoas mudam de comportamento, ou então nós simplesmente tornamo-nos livres para as abandonar. E uma vez que você aceite a totalidade de quem é irá ser atraído pelo campo gravitacional daqueles que também se aceitam na totalidade.

Leve o seu tempo a verificar os aspectos de si mesmo que não aceita. Lembre-se que sempre que descobrir um aspecto em alguém que considere negativo, isto acontece apenas porque você já possui esse mesmo aspecto.

As palavras mais difíceis de aceitar são sempre aquelas relacionadas com incidentes do passado em que sentimos que fomos magoados. O nosso ego irá resistir a aceitação das características daqueles que nos magoaram e que culpamos pelos nossos infortúnios. Em vez de se agarrar ao ressentimento tente aprender com ele. Olhe para a pessoa que o magoou, verifique que aspectos dessa pessoa mexem consigo. E quando conseguir encontrar esses aspectos em si, deixará de ser afectado por essa pessoa.

Muitas vezes, para aceitar um aspecto de si tem que libertar a raiva acumulada – raiva contra a situação, contra a pessoa que o magoou e contra si por ter permitido. Gritar é uma excelente forma de nos libertarmos dessa raiva. Desde que não estejamos a magoar outros deveríamos sempre libertar a nossa raiva. Quando se encontrar cara a cara com um aspecto de que não gosta não tenha receio de demonstrar a raiva sentida. Demonstre-a com a intenção de se libertar, de deixar partir os juízos, a vergonha, a dor, e a sua resistência a aceitar este aspecto de si.

Se nós pudéssemos aceitar a maldade e o ódio dentro de nós não teríamos a necessidade de os projectar nos outros.

Quando negamos um aspecto de quem somos, tentamos compensar essa "perda" tornando-nos no seu oposto. É então que criamos personagens para

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tentar provar a nós mesmos e aos outros que não somos isso. Confesse, se olhar para si com bastante atenção, consegue ver a parte de si que é aborrecida? E a parte de si que é estúpida? Consegue ainda ver a parte de si capaz de mentir ou de atraiçoar? Permita-se gritar quando descobrir estes aspectos em si. Aceite-os e liberte-se do seu peso. Se formos honestos, e não estamos a demonstrar estes aspectos no presente, então teremos que identificar um tempo em que fomos aborrecidos e estúpidos e mentimos e atraiçoamos.

Nós gastamos na totalidade os nossos preciosos recursos quando "tentamos" não ser algo. Nós estamos aqui para aprender algo com cada um destes aspectos e fazer as pazes com cada um. Para sermos pessoas autênticas temos que permitir que os aspectos que amamos e aceitamos co-habitem com todos os aspectos de nós que desprezamos, julgamos e decidimos que estão errados. Quando conseguirmos segurar em todos os nossos aspectos numa mão, sem qualquer juízo, eles irão integrar-se naturalmente no nosso ser. É ai que podemos tirar as nossas máscaras e confiar que o Universo criou cada um de nós com um motivo divino. Poderemos então olhar desde cima, abraçando todo o mundo.

Exercício:

Para que possamos tornar-nos verdadeiramente livres, temos que ser capazes de aceitar e abraçar todas as características que não gostamos de ver nos outros.

1. Volte à lista de palavras do último exercício (sim, aquele que diz "eu sou isto e aquilo" – e nem uma palavra simpática para agradar!). Sente-se em frente a um espelho e diga cada uma das expressões em voz alta uma vez, duas, três, quatro... Diga-o até que a energia à volta da palavra se dissolva. Vai ver que funciona. Se houver uma característica que mexa demasiado consigo, que o deixe com raiva ou medo, ou se fica chateado com essa característica, retire-se e escreva uma carta de ódio a essa característica. Demonstrar ódio desta maneira é muito saudável (como irá descobrir). Estas cartas são só para si, uma forma de se libertar de tensão acumulada. Se não souber o que dizer comece por "Eu estou chateado contigo (por exemplo 'eu sou puta') porque nunca na vida... E depois escreva tão depressa quanto for capaz, sem sequer pensar no que escreve. Escreva tudo o que lhe vier à cabeça. Não se preocupe com a gramática ou erros ortográficos. Foque a sua atenção na libertação de velhas tensões. Este exercício é uma maneira de libertar emoções tóxicas que intoxicam o nosso corpo. Se novos sentimentos surgirem durante o processo, sinta-os. Irá descobrir que tem uma dificuldade especial com aquelas características que julgou mais violentamente. Mesmo que comece a chorar, mantenha todo o processo. Irá surgir uma altura em que sentirá toda a carga emocional a dissipar-se espontaneamente.

2. Recorrendo à mesma lista de palavras, veja se consegue identificar alturas na sua vida em que demonstrou essas características. Se não consegue recordar-se de nenhuma altura, pergunte-se em que circunstâncias seria possível para si demonstrar essa característica. Será que alguém já se referiu a si como estando a demonstrar essa característica? Escreva as respostas

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ao lado de cada característica.

 

Lição 6 – Abraçar A Nossa Sombra 

A maioria das pessoas tem um desejo inato de sentir paz. Mas só conseguiremos essa paz quando formos capazes de abraçar a totalidade de quem somos. Descobrir as qualidades dos nossos aspectos mais negativos é um processo criativo que necessita apenas de um desejo profundo de ouvir e aprender, uma vontade de deixar partir juízos de valor disfuncionais e crenças limitadoras, e a intenção de querer sentirmo-nos melhor. O seu Eu verdadeiro não cria juízos de valor. Apenas o nosso ego, conduzido pelo medo, cria juízos de valor com o intuito de nos proteger – protecção essa que, ironicamente, nos impede de uma realização pessoal plena.

Para poder ultrapassar o ego e as suas defesas tem que procurar o silêncio, ser corajoso, e ouvir as vozes dentro da sua cabeça. Por detrás das nossas máscaras sociais existem milhares de faces. Cada face possui uma personalidade. Cada personalidade possui características específicas. Ao conseguir dialogar com cada uma destas subpersonalidades irá transformar os seus preconceitos egoístas em tesouros valiosos. Quando for capaz de abraçar cada aspecto da sua sombra irá buscar o poder que deu a outros, irá criar uma ligação verdadeira com o seu Eu autêntico.

Quando permitir que as vozes das suas subpersonalidades se tornem conscientes, elas irão criar equilíbrio e harmonia com os seus ritmos naturais.

Para mim foi uma experiência única o descobrir algumas das minhas subpersonalidades. Descobri partes de mim que, acreditava, nunca tinha sequer rejeitado porque nem sabia que existiam!

É importante que comece por identificar cada uma das subpersonalidades e depois dar-lhes um nome. O facto de dar um nome a uma subpersonalidade específica irá torná-la consciente.

A maneira mais interessante de descobrir as suas subpersonalidades é através de um exercício criado por Roberto Assagioli, fundador da Psicossíntese.

Imagine que está numa paragem de autocarro. Pode ser numa cidade, no campo, até, porque não, numa auto-estrada (a sua imaginação decide os seus limites)! Imagine que ao longe se aproxima um autocarro cheio de gente. Haverá nele pessoas novas e velhas, miúdos e graúdos, gente magra e gorda, bonita e feia, inteligente e estúpida. Todo o tipo de pessoas! Só que você ainda não sabe que pessoas estão dentro do autocarro!

O autocarro pára e você entra. Há apenas um lugar vazio, o seu. Repare no ambiente dentro do autocarro. Comece a reparar nas pessoas. Sente-se. O autocarro não arranca. Em vez disso uma das pessoas no autocarro avança até si e estende-lhe a mão, para que a acompanhe. Repare na pessoa que o convida. Verifique o que sente na presença desta pessoa. Depois saia com

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ela para fora. Fora do autocarro, apenas os dois, sentem-se num banco e converse com essa pessoa. Como se chama? O que pretende? Qual a sua prenda para si? Como lhe pode ser útil? Quando tiver terminado a conversa agradeça-lhe a sua presença. Abrace-a se sentir que é apropriado, ou dê-lhe um aperto de mão.

Depois regresse ao autocarro e deixe que outra pessoa se aproxime de si. Repita o processo. Faça por conhecer três ou quatro pessoas de cada vez que faz este exercício.

O meu exemplo... Quando esperava pelo autocarro estava no campo, com árvores frondosas na berma de uma estrada velha, com ervas que cresciam nas bermas. O autocarro era novo e, à medida que se aproximava, tinha a percepção de muito ruído, algazarra, dentro do autocarro. Senti um aperto no peito quando o autocarro parou e as portas se abriram. A primeira pessoa que vi foi o motorista – simpático e sorridente, acenou-me para entrar como se estivesse com pressa. Sentei-me no fim do autocarro – o único lugar vazio. Não me apetecia muito olhar à minha volta. Tinha a nítida sensação de todas as pessoas em alvoroço, irrequietas, barulhentas. Quando levantei a cabeça estava um idoso ao meu lado que me estendia a mão. A sua expressão facial era de preocupação e ressentimento. Confesso que não me apetecia muito sair e conversar com aquela pessoa, mas fui. Perguntei-lhe como se chamava. Disse-me que era o Queirós Queixinhas. Quando nos sentámos no banco, já fora do autocarro, o Queirós começou logo a falar. Não se calava! Queixava-se dos políticos, dos amigos, do tempo, do trabalho, até do autocarro que o transportava! Perguntei-lhe porque se queixava tanto. Respondeu-me que se não se queixasse eu ficaria sempre para o fim! (E de repente apercebi-me que o único lugar no autocarro era mesmo na traseira!). Ele tinha que se queixar porque era a única maneira de eu prestar atenção ás minhas necessidades. Enquanto se queixava senti uma enorme tristeza no meu coração. Quando ele terminou agradeci-lhe a sua presença e prometi-lhe que iria prestar mais atenção ás minhas necessidades. Abraçámo-nos durante bastante tempo. Quando deixei o Queirós Queixinhas regressar ao autocarro reparei que já não caminhava curvado e com andar arrastado. Por outro lado eu sentia-me pesado.

Abri os olhos, escrevi numa folha um pequeno relato e regressei ao trabalho. A segunda pessoa que veio ter comigo (desta vez o lugar vazio no autocarro era muito mais à frente!) era um jovem musculado, com uma feição bruta, ameaçadora. Chamava-se Tomás Teimoso. Mais uma vez, senti alguma resistência em sair para fora do autocarro com esta personagem. Uma vez fora do autocarro preparei-me para me sentar no banco e ouvir o que o Tomás Teimoso tinha para me dizer. A primeira coisa que disse foi que iríamos caminhar! Respondi-lhe que a ideia era de nos sentarmos e termos uma conversa. Ele agarrou-me por um braço e disse que iríamos caminhar! A sua voz era bastante persuasiva. Respirei fundo e lá fui. Perguntei-lhe primeiro porque motivo queria ele caminhar. Respondeu-me que era simples: ele tinha sempre razão! Uma nova pergunta surgiu na minha mente. Mas então ter sempre razão não é algo que sempre combati?... Claro, por isso é que o Tomás Teimoso era forte e bruto! Alimentei-o muito bem ao longo dos

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anos, negando a sua existência! Disse-me que o querer ter razão é um jogo do ego. O ter razão força-nos a aceitar que somos vítimas de uma maneira perniciosa. Quando quis saber qual a sua prenda, informou-me, a sorrir, que muitas vezes a minha intuição me tentava empurrar numa direcção mas, seguindo a lógica do ego, eu ía no sentido oposto! E como não aceitava que era teimoso, o Tomás aparecia de vez enquando, em conversas internas que alimentavam o corpo de dor! Tinha que aceitar que muitas vezes me tornava teimoso em situações mesquinhas quando deveria fazê-lo nos momentos em que estava em jogo o meu desenvolvimento pessoal. Achei curioso quando o Tomás Teimoso me disse que teríamos que voltar a encontrar-nos, ainda era cedo para me dizer tudo o que tinha a dizer... Apertámos as mãos, mais como sinal de respeito mútuo.

Abri os olhos e escrevi um relatório. Depois do Queirós Queixinhas e do Tomás Teimoso, tive a oportunidade de conhecer o Victor Violento, a Zulmira Zangada, o Afonso Alegre, o Manuel Mentiroso, o Carlos Comilão, a Belita Boa-Vida, o Ivo Invejoso, a Maria Mordaz, a Vera Venenosa, o Sebastião Sabichão, o Pedro Parvalhão, a Otília Otária, o Rafael Rancoroso, a Teresa Trombuda, o Nelson Nega-Tudo, o Augusto Arrogante, o Carlos do Contra, o Diogo Deprimido, o Teodoro Tudo-Bem, o Luís Luxúria, a Vânia Vai-com-Todos, o Fernando Faz-de-Conta, o Mário Masoquista, a Sandra Sádica, a Elsa Engraçadinha, o Belmiro Beato, o Angélico Angelical, o Mário Maricas, a Vanda Vaidosa, a Carlota Cobardolas, o Alberto Abandonado, a Inês Insaciável, a Joana Jurista, o Luís Larápio, a Tânia Traiçoeira, a Laura Lapa, o Bartolomeu Bestial...

Ao longo deste processo irá ter momentos divertidos e momentos de tristeza. Irá descobrir facetas que desconhecia e encontrar velhos amigos. No fim irá descobrir que está tudo em si. Depois, é importante que escolha meia dúzia de subpersonalidades que de facto estejam activas ao longo do dia. São aquelas responsáveis pelos nossos hábitos. Por exemplo, se tem o hábito de praguejar a outros condutores, talvez haja em si uma Carla Cabra ou um Pedro Petulante... Da próxima vez que se encontrar na situação habitual fale com essa subpersonalidade! Não só irá ser divertido como a situação se dissolverá muito rapidamente.

Por exemplo, uma das minhas subpersonalidades mais activas era o Sebastião Sabichão. Agora, sempre que alguém comenta algo e eu sinto vontade de elaborar ou oferecer ainda mais informação sobre o assunto, penso qualquer coisa como "Hallo! Sr. Sebastião Sabichão, agradecemos a sua amabilidade mas neste momento os seus serviços não são necessários". Ou quando alguém me fala de uma situação de injustiça e a Joana Jurista começa aos pulos para dizer de sua sentença, posso pedir-lhe que se acalme porque não se trata de uma situação de vida ou morte.

Mas o benefício maior é para as pessoas que estão em relacionamentos estáveis. Se ambos souberem da existência das principais subpersonalidades um do outro, é fácil dissolver situações conflituosas. Por exemplo, a Carlota Chorona chega a casa a choramingar porque teve um dia difícil e o marido, o Sandro Sádico, está à sua espera... Podem imaginar a situação?... Explosiva! Mas se o marido disser qualquer coisa como "Aha!

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Hoje temos a Carlota Chorona no palco!" ou a esposa afirmar "Podias pedir ao Sandro Sádico que se acalme?", a situação mudaria completamente!

Para melhor poder encontrar as suas subpersonalidades, enquanto casal, deixo-lhe o exemplo de um casal meu amigo.

A Andreia encontrou as seguintes subpersonalidades:

Rita Resistente, Zulmira Zangada, Dona Dominante, Paula Polícia, Rafaela Rainha, Carla Controladora, Ana Amante, Sandra Sempre-Certa.

O Paulo encontrou as seguintes subpersonalidades:

Dionísio Dominador, Sebastião Sabe-Tudo, António À-Minha-Maneira, Manuel Musculado, Alfredo Amante, Carlos Competente, Paulo Professor.

Já imaginaram o que acontecia neste casal quando a Dona Dominante se encontrava com o Sebastião Sabe-Tudo?...

A confiança absoluta é algo que tem que existir antes de darmos início a qualquer diálogo interior. Isto porque haverá alturas em que poderá estar a falar com uma das suas subpersonalidades e alturas em que estará a ouvir a vozinha interior (ego) que nunca tem nada de bom para dizer. Como distinguir as duas? A vozinha que está sempre a deitar abaixo nunca terá algo de positivo para lhe dizer, nunca haverá uma prenda ou algo a aprender.

É ainda importante receber as suas subpersonalidades de braços abertos. Isto é mais fácil de dizer do que fazer. Esta é muito provavelmente a única situação em que estar à espera do pior pode funcionar a seu favor.

À medida que for abraçando as partes de si que nunca aceitou, é uma óptima ideia tentar descobrir onde é que essa subpersonalidade teve início. O que o levou a acreditar que determinada característica era má e indesejada.

Se estiver preparado para ouvir, irá descobrir que a grande maioria das suas subpersonalidades são engraçadas, divertidas, cheias de recursos, honestas e capazes de perdoar tudo e todos. Na verdade cada uma das suas subpersonalidades é uma das pessoas mais sábias em todo o Universo (o seu Universo). Isto porque lhe dão respostas que vêm de si, do mais profundo do seu ser. Na verdade você pode ter acesso a qualquer pessoa indo bem dentro de si. Tudo o que tem a fazer é encontrar o silêncio interior e chamar a pessoa à sua presença. Lembre-se, se essa pessoa não tem nada de bom para lhe dizer, é a sua vozinha interna, parte do ego, que mais uma vez tem a oportunidade de vitimizar.

As suas subpersonalidades estão à sua espera. Elas não querem mais nada a não ser a sua atenção e aceitação. São as vozes do seu futuro e nunca do seu passado. Quando conseguir ligar-se ao Todo que sempre foi nunca mais se sentirá só, ser-lhe-á impossível. Temos que procurar o Universo dentro de nós. Honrá-lo, amá-lo e aceitá-lo. Só então seremos capazes de aceitar a magnificência que somos. Temos que parar de julgar a caminhada da nossa alma, confiar no processo da nossa humanidade e abraçar a nossa bondade

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eterna.

Faça o exercício do autocarro. Lembre-se que se a subpersonalidade que aparecer não tiver nada de bom para lhe dizer é o seu ego a falar. Volte a repetir.

 

Lição 7 – Aquilo Que Resiste, Persiste 

Se tem efectuado todos os exercícios dedicados à descoberta da Sombra, é muito provável que comece a observar alterações significativas nos seus relacionamentos.

Lembre-se de dois aspectos importantes de qualquer relacionamento:

1. O seu Corpo de Dor irá sempre atraí-lo para relacionamentos íntimos com as pessoas capazes de alimentar a dor. Os relacionamentos irão causar-lhe sofrimento, quer queira ou não, para que você possa despertar;

2. A partir do momento que aceita plenamente em si as características negativas da pessoa com quem se relaciona, essa pessoa muda de comportamento ou afasta-se, literalmente, de si.

O processo da Sombra não é fácil nem para qualquer pessoa. Ao iniciar este processo irá mergulhar no que muitos mestres chamam de "Noite Escura da Alma". A fase inicial deste processo é dolorosa e todo o sofrimento enterrado ao longo dos anos irá surgir para que você o possa abraçar e abençoar, vendo nele os presentes que encerra.

Não pode parar este processo. Não pode simplesmente dizer "já chega, já sofri o suficiente, quero é viver a minha vida!". Se o fizer, pode ter a certeza que voltará a passar pelo mesmo sofrimento vezes sem conta. Tem que se permitir continuar.

Veja os presentes que cada trauma, cada drama, encerram em si.

Os acontecimentos da nossa infância, por mais traumáticos que tenham sido, encerram o nosso dom. Para lhe facilitar este processo deixo-lhe alguns exemplos.

Qualquer que tenha sido a experiência que o tenha marcado, a lição que aprendeu foi qualquer coisa como:

- Não sou importante;

- Não devo sobressair;

- Não faço nada bem feito;

- Se for eu próprio serei punido;

- Se me respeitar outros irão afastar-se de mim;

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- Se não fizer o que é esperado de mim ninguém me amará;

- Os outros têm sempre razão;

- Para ser amado tenho que abdicar daquilo que gosto;

- O meu corpo é feio;

- Sou mau porque não obedeço ás regras da sociedade;

- Se for atrás dos meus sonhos vou ser criticado;

- Não sou merecedor de fazer o que me dá prazer;

- Devo sacrificar os meus sonhos em favor de segurança;

- Não é seguro ser eu mesmo;

- Nunca vou ser completo;

- Se mostrar o que sinto outros irão rir-se de mim e/ou aproveitar-se das minhas fraquezas;

- Se for bem educado todos me respeitarão;

- Só as pessoas sérias é que são levadas a sério;

- Etc, etc, etc.

Estas lições foram apreendidas através de situações específicas em que, regra geral, um dos progenitores participou. Eis o que acontece:

A criança de seis anos, enquanto brinca, parte um vaso de estimação da mãe. A mãe, porque teve um dia 'pesado', grita com a criança e diz-lhe qualquer coisa como "Esse era o meu vaso favorito, que a tua bisavó me tinha oferecido! Vai já para o teu quarto de castigo!" (ok, provavelmente aconteceu algo muito pior). Qual a lição que a criança aprende? – pode escolher entre "Nunca faço nada bem feito", "Sou uma pessoa má", "Só causo problemas", "É arriscado divertir-me"...

Se os pais não foram capazes de mostrar carinho, afecto, a lição foi ainda mais dura. Apreendeu coisas como "Não sou digno de ser amado", "Ninguém gosta verdadeiramente de mim", "Não sou importante"...

Se os pais discutiam ou não mostravam uma relação amorosa, a lição que apreendeu foi qualquer coisa como "Quando amamos alguém sofremos", "Para ser amado tenho que abdicar daquilo que gosto", "Os outros são incapazes de me amar quando sou eu próprio"...

Começa a perceber a história que foi criando enquanto criança? É capaz de ver situações da sua infância e verificar como está agora a viver essas situações de uma outra forma (embora as emoções sentidas sejam as

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mesmas)?

Todavia, como se isto não bastasse, vamos fazer algo ainda mais absurdo do que o comportamento que os adultos à nossa volta nos mostraram! Vamos mostrar-lhes que não tinham razão, que erraram! E como vamos fazer isso? Repetindo situações em que, inconscientemente, lhes mostramos que o que fizeram estava errado e nós é que temos razão!

Alguns exemplos. Se a lição que o pai ou mãe, através de uma situação específica, mostraram foi algo como "Não sou merecedor de ser amado" então iremos sofrer nos nossos relacionamentos amorosos. Iremos criar relações com pessoas instáveis, ou frias, calculistas, traiçoeiras, falsas. Ou simplesmente não teremos uma relação amorosa com ninguém. Se a lição que nos ensinaram foi "Nunca fazes nada bem feito" iremos criar situações de emprego precário, seremos despedidos com frequência do trabalho, saltaremos de emprego em emprego, teremos dificuldades na escola. Se a lição for "Tu és feio" iremos ter problemas alimentares, um peso muito acima ou abaixo do ideal, problemas de pele ou de saúde, agarrar-nos-emos a vícios que deformem o nosso corpo.

E tudo isto com o único objectivo de podermos apontar o dedo aos progenitores e afirmar "Erraste!".

O seu desafio, neste momento, é descobrir o presente que cada situação da sua infância encerra – o seu Dom.

De que forma é que os seus pais o ajudaram? Vejamos alguns exemplos.

O Pedro, quando criança, presenciou muitas situações em que os pais discutiam violentamente. Hoje o Pedro é um excelente comunicador e tem ajudado, no seu trabalho, muitos casais a resolver os seus conflitos.

A Mariana, aos sete anos de idade, foi entregue a uma família porque os pais, ambos alcoólicos, eram incapazes de cuidar dela. Hoje a Mariana é directora de recursos humanos numa empresa que prima pela atenção e cuidados prestados aos funcionários.

O pai do João disse-lhe, inúmeras vezes, enquanto criança, que não sabia fazer nada e nunca lhe demonstrou carinho. Hoje o João é um juiz num tribunal de família onde é conhecido pelo afecto com que trata vítimas de maus tratos.

A Gabriela foi violada por um tio até aos nove anos de idade. Andou metida no munda da droga e prostituição. Hoje está à frente de uma organização que cuida de mulheres em situações precárias.

E de que maneira é que a sua história da infância lhe está a ser benéfica? Qual a característica que demonstra devido a uma situação dramática da sua infância? Talvez lhe tenham dito que nunca faria nada bem feito e hoje é um homem de negócios de sucesso. Ou talvez lhe tenham dito que não era digna de ser amada, e hoje, é-lhe fácil sentir compaixão por outros e ser-lhes útil.

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Não sei se começa a ver o desenlace da sua sombra. Por um lado irá manifestar-se numa área da sua vida, como a parte de si que não é capaz de aceitar. Por outro lado, irá manifestar-se como o seu oposto numa outra área da sua vida!

E quando for capaz de ver e aceitar ambas, ser-lhe-á fácil descobrir o seu Dom – o motivo divino pelo qual mais ninguém no mundo poderia ocupar o seu lugar.

O exercício desta semana é simples: pegue numa situação dramática da sua vida (ocorrida na infância, adolescência ou juventude). Primeiro veja qual foi a lição 'negativa' que apreendeu e que ainda hoje repete, só para ter razão e poder apontar um dedo acusador. Depois veja qual o benefício dessa mesma situação. De que maneira essa situação o tornou mais ou maior.

Para terminar, permita-se descobrir o que precisa de fazer para deixar partir a situação dramática. Qual o ritual de limpeza necessário. Respire fundo durante dois ou três minutos. Vá dentro de si e aguarde a resposta. Pode ser que o que a sua alma necessite é um pedido de desculpa por parte da pessoa que o/a magoou. Pode ser que seja suficiente ir até à praia e gritar a plenos pulmões. Pode ainda ser que precise de acender meia dúzia de velas e dançar com os braços no ar. Não há um ritual certo ou errado – faça o que sentir ser mais apropriado para si.

Agora é a altura de se libertar da sua história.

 

Lição 8 – Reinterpretar O Seu Eu 

Se deixarmos o passado sem o curar, ele irá destruir as nossas vidas. O passado esconde o nosso dom, a nossa criatividade e os nossos talentos.

Fomos ensinados que é difícil ir atrás dos nossos sonhos. E não nos disseram que é ainda mais difícil viver cada dia sabendo que não estamos a viver os nossos sonhos.

Se não tivermos a coragem de fazer as pazes com o nosso passado, iremos sempre transportar ás costas a raiva, o ressentimento, a culpa, a impotência, a vergonha e o medo.

O poder para fazer as pazes com o passado está já dentro de si, mas só irá surgir quando você estiver preparado e desejoso de fazer as mudanças na sua vida. Quando o desejo de mudar for mais forte que o desejo de querer manter tudo como está. Claro que é sempre mais fácil culpar os outros pela situação que estamos a viver agora, neste momento.

Tem que estar preparado para abraçar o passado se quiser fazer verdadeiras mudanças no seu presente. O nosso passado é o que dá forma ao que vemos, ao que dizemos e à maneira como vivemos.

Saiba que os preconceitos são passados de geração em geração, de

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maneiras muitas vezes subtis. A dor também é passada de geração em geração. O medo, a vergonha, a culpa, a impotência, também são passados de geração em geração. Não sei se já tinha mencionado: o medo é passado de geração em geração. Os seus problemas actuais são seus, ou herdou-os?

Muitas pessoas decidiram já que não seriam como os seus pais! Mas temos que ter sempre presente que passamos os anos mais importantes da nossa aprendizagem a absorver os conhecimentos e comportamentos dos nossos pais. Todas as suas qualidades e defeitos.

Saiba que todos os eventos negativos da sua vida são na verdade bênçãos disfarçadas de problemas. A dor tem um propósito. Ensina-nos e guia-nos a níveis mais elevados de consciência.

Há um ditado chinês que diz “O mundo é um mestre para o homem Sábio, e um inimigo para o louco”. Nenhum evento é doloroso em si. É tudo uma questão de perspectiva. É importante saber que tudo o que acontece no mundo acontece porque tem que acontecer, e é perfeito na forma como acontece. Não há erros. Não há acidentes. O mundo é um paraíso e um inferno. Qual a sua perspectiva?

Não há ninguém neste mundo que diga o que eu digo da maneira que o digo. Ninguém neste mundo faz as coisas que eu faço na forma exacta em que as faço. Eu sou eu e tu és tu. Cada um de nós é único e cada um de nós tem um caminho especial a percorrer.

Por forma a ganhar sabedoria e liberdade do seu passado, tem que aceitar total responsabilidade por todos os eventos que ocorreram na sua vida. Aceitar a responsabilidade significa afirmar: “Fui eu quem fez aquilo.” Há uma grande diferença entre o mundo fazer-lhe coisas a si e você fazer coisas a si mesmo. Quando aceita a responsabilidade pelos eventos na sua vida, e pela sua interpretação desses eventos, sai do mundo da criança e entra no mundo do adulto. Ao aceitar a responsabilidade pelas suas acções e inacções , você desiste da sua história pessoal (que é sempre qualquer coisa à volta de “Porquê eu?”) e transforma-a em “Isto aconteceu-me porque eu precisava de aprender uma lição. Isto faz parte da minha caminhada”.

De acordo com Nietzsche, desejar que o nosso passado não tivesse acontecido é desejar que nós não tivéssemos acontecido. É praticamente impossível mudar de direcção na nossa vida sem antes fazer as pazes com o passado. Cada evento significativo da nossa vida muda a forma como interpretamos a própria vida, e a perspectiva que temos dela.

A ideia de revisitar o passado pode parecer aterradora, mas é uma parte essencial do processo. O nosso passado é uma bênção que nos pode guiar e ensinar, e transporta consigo tantas mensagens negativas como positivas.

A nossa dor pode ser o nosso melhor mestre. Irá levar-nos a lugares que nunca teríamos a coragem de ir de outra maneira. Quantas pessoas estariam dispostas a sofrer durante 20 ou 40 anos só para descobrir a vontade da sua alma?

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Aceitar a responsabilidade total pelo nosso passado é uma tarefa avassaladora. A maioria de nós está preparada para aceitar responsabilidade pelas coisas boas que nos aconteceram, mas resistimos aceitar a responsabilidade pelas coisas más que foram sucedendo. Mas quando aceitamos a responsabilidade total por todos os eventos, tornamo-nos mais fortes com cada evento ocorrido. Mesmo que nos sintamos envergonhados ou magoados por qualquer evento, podemos encontrar paz no saber que de alguma forma o evento está a ajudar-nos a descobrir o nosso dom. Tornamo-nos responsáveis por tudo o que acontece. Dizemos ao Universo: “Eu sou a fonte da minha própria realidade!” Este é o lugar de poder a partir do qual pode alterar a sua vida.

Enquanto não for capaz de olhar o seu passado olhos nos olhos, ele estará sempre por perto, trazendo-lhe mais experiências em tudo iguais ás do passado. Mas tudo o que precisa é de uma mudança na sua perspectiva.

Para alterar a nossa percepção precisamos de encontrar cada momento do nosso passado até encontrar uma interpretação poderosa que nos permita aceitar a responsabilidade. Não faz ideia da energia que gasta para provar a si mesmo que tem razão e que não foi ‘culpa’ sua! É claro que é sempre mais fácil culpabilizar os outros pelas coisas que não gostamos no nosso mundo. Mas esse caminho leva-nos sempre a um único local: nenhures!

Há sempre dor quando somos vítimas das circunstâncias: a dor do desespero e do desalento. Mas você vive num universo onde tudo acontece por um motivo. Procure a bênção em todos os eventos da sua vida e irá dar por si no caminho da gratidão. Irá ter a experiência do que é ser-se abençoado.

Cada palavra, incidente e pessoa em relação à qual ainda sente existir uma carga emocional tem que ser estudada, olhada na cara, reconstruída, re-perspectivada e abraçada. Temos que caminhar até à origem da nossa dor. E tomamos as rédeas da nossa vida ao escolhermos as nossas interpretações.

Ao inventarmos uma nova interpretação estamos a utilizar a forma mais simples de transformar uma experiência negativa em outra, positiva. Tudo o que acontece no nosso mundo é objectivo. Não possui um significado inerente. Mas cada um de nós vê o mundo com um olhar diferente, sendo que cada um irá atribuir um significado diferente a dado evento. É a nossa percepção e interpretação que afecta as nossas emoções, e não o incidente em si. É a nossa percepção e interpretação quem nega a nossa responsabilidade e atribui as culpas.

Cada um de nós tem que tomar uma decisão consciente de alterar o nosso mundo, alterando as nossas percepções. Mude a percepção, a interpretação, de uma palavra ‘má’ apenas, e irá descobrir que não só a palavra perde a sua carga emocional, como esta carga lhe é devolvida com poder.

Vou deixar-lhe um exercício simples para integrar este conceito. Irei pegar numa palavra que, para mim, ainda tem alguma carga emocional. Uma palavra que ainda hoje eu não suporto que me chamem: coitadinho. Eu recuo no tempo para descobrir um incidente na minha vida que me causou dor e

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ajudou a interpretar ‘coitadinho’ como algo mau. Chego a um ponto, quando tinha uns dez anos, em que a minha mãe falava com amigas sobre mim e depois de enunciar todas as ‘asneiras’ que eu tinha cometido terminou com um “coitadinho, se eu e o pai morremos não sei o que será dele!”. Isto causou em mim sentimentos de impotência, raiva e vergonha. A minha interpretação foi a de que a minha mãe não gostava verdadeiramente de mim, e os coitadinhos só fazem asneiras e vivem ás custas dos outros. Então eu tenho que me permitir experienciar novamente as emoções negativas do evento. E só depois começo a criar uma nova interpretação da palavra “coitadinho”

A interpretação negativa:

1. A minha mãe odiava-me e estava sempre a deitar-me abaixo;

2. A minha mãe pensava que eu era inútil e parasita.

A nova interpretação:

1. Eu sou poderoso, o que deixava a minha mãe nervosa. A única forma que ela tinha de lidar com este nervosismo era chamar-me nomes que considerava apropriados;

2. A minha mãe pensava que chamar-me “coitadinho” era uma forma de mostrar-me afecto;

3. A minha mãe gostava tanto de mim que me queria preparar para o mundo duro e cruel que ela imaginava, tentando assim impedir que eu caísse na preguiça.

A questão que se deve colocar é: esta nova interpretação dá-me poder ou retira-me poder? Esta nova interpretação deixa-me mais forte ou mais fraco? Se a vozinha dentro da sua cabeça segue um diálogo que lhe rouba poder, não irá mudar nada enquanto a vozinha não se transformar numa que lhe dá poder, segurança interior e um pensamento optimista.

É por este motivo que é tão importante escrever tudo e olhar para os eventos sob tantos ângulos quantos lhe for possível. Só o simples acto de escrever as coisas obriga a que as palavras e os incidentes comecem a perder uma parte do domínio que detêm sobre si.

É sempre uma responsabilidade sua escolher interpretações poderosas. Quanto mais consciente estiver dos presentes da vida, mais depressa irá escolher uma perspectiva positiva sobre os eventos da sua vida. Quando nega um aspecto que seja de si, está a negar uma parte que o impedirá de ser completo. E todos nós, sem o esforço necessário, iremos sentir a falta da coragem para admitir que estamos errados, que somos inteiramente responsáveis.

E por outro lado, temos receio que o nosso brilho, o nosso poder, nos isole da sociedade. Porque a sociedade que vemos à nossa volta é medíocre a todos os níveis.

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A compaixão por nós mesmos é essencial neste processo. Se a compaixão estiver ausente iremos sentir medo e ódio. E uma vez que é infinitamente doloroso sentirmos medo e ódio por nós mesmos, iremos projectar esse medo e ódio no mundo à nossa volta. É-nos mais fácil ser vítimas do mundo do que vítimas de nós mesmos. E ao culpar o mundo evitamos a dor de nos vermos tal como somos.

Quando abraçamos um aspecto negativo do nosso ser, regra geral, o seu oposto surge espontaneamente. Ao abraçar o aspecto ‘medricas’ trazemos à superfície o ‘corajoso’. Temos que abraçar o nosso lado negro na totalidade para podermos abraçar a luz.

Quando nos abrimos à possibilidade de abraçar, a partir do coração, tudo o que existe, e começarmos a olhar para aquilo que está bem, em vez daquilo que está mal, iremos ver Deus.

E se tu conseguires ver o teu dom no final da caminhada, isso significa que eu conseguirei ver o meu. Porque tu és eu e eu sou tu neste mundo que é espírito momentaneamente a passar por uma experiência como matéria.

Exercício

Lembra-se dos exercícios em que entrava num elevador para poder encontrar o seu eu superior e o ego? Volte a entrar nesse elevador, criando antes um ambiente calmo, tranquilo, em que não será perturbado.

Respire fundo cinco vezes. Imagine-se a entrar no seu elevador interior e descer 7 pisos. Quando as portas se abrirem estará no seu jardim sagrado. Caminhe até ao lugar onde medita. Desfrute um pouco da beleza à sua volta. Depois pergunte-se a si mesmo esta questão: Que crenças de fundo orientam a minha vida? Aguarde uns minutos e depois faça uma lista.

Depois volte a cerrar os olhos e imagine a primeira crença da sua lista. Faça a si mesmo as seguintes questões (leve o seu tempo para ouvir as respostas que virão do seu mais íntimo):

1. Esta ideia é mesmo minha, ou adoptei-a de outra pessoa?

2. Porque motivo tenho esta crença?

3. Esta crença dá-me poder?

4. Do que teria que desistir se alterasse esta crença?

Depois anote as respostas no seu caderno especial.

 

Lição 9 – Deixe Que A Sua Luz Brilhe 

O nosso maior medo não é que sejamos insuficientes, ou que não sejamos merecedores. O nosso maior medo é descobrir que temos um

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poder ilimitado. Estas são palavras de Marianne Williamson, no seu livro “A Return To Love”. É a nossa luz o que nos assusta mais, e não a nossa escuridão. Não há nada de iluminado em encolher-nos ao ponto de que outros não se sintam desconfortáveis à nossa volta. Tu nasceste para manifestar a glória do Universo que está dentro de ti. Não está só dentro de alguns, está dentro de todos. E à medida que deixamos que a nossa luz brilhe permitimos, inconscientemente, que os outros, à nossa volta, brilhem também. Ao mesmo tempo que nos libertamos dos nossos medos, damos autorização aos outros para que façam o mesmo.

Nós vivemos numa época excitante. Está a ocorrer uma oportunidade única de cura. Cura individual, cura da humanidade e cura do planeta. Mas para esta cura ocorrer é imperativo rendermo-nos. Rendermo-nos aos nossos egos e aos velhos padrões comportamentais.

A única coisa que nos impede de sermos completos e autênticos é o medo. O nosso medo diz-nos que não podemos manifestar os nossos sonhos. O nosso medo diz-nos para não corrermos riscos. Impede-nos de desfrutar os nossos maiores tesouros. Na verdade o nosso medo obriga-nos a viver vidas medianas, medíocres, em vez de vivermos todo o espectro de possibilidades disponíveis.

Com medo, criamos situações nas nossas vidas para provarmos a nós mesmos que as nossas limitações, auto-impostas, são apropriadas. Para ultrapassar o nosso medo temos que o enfrentar e substitui-lo com amor.

Nós temos medo da nossa magnificência porque ela desafia todas as nossas crenças. Contradiz tudo aquilo que nos foi ensinado.

Um dos passos mais importantes que deve começar já hoje é reconhecer todo o bem que já faz. Todos os dias, todas as coisas boas que faz.

Compre um boneco chorão e sempre que der por si a criticar-se, a deitar-se abaixo, pegue no chorão e bata-lhe com toda a força! Atire-o contra a parede! E saiba que é isso que está a fazer à criança dentro de si de cada vez que se criticar.

Não só é correcto dizermos coisas boas sobre nós, é imperativo. Temos uma obrigação de reconhecer os nossos dons e os nossos talentos. Aprender a reconhecer os nossos talentos permite-nos apreciar e amar os dons e os talentos dos outros.

Pare agora e acalme a sua mente. Respire fundo meia dúzia de vezes. Depois leia a lista que lhe apresento abaixo. Depois de ler cada palavra diga a si mesmo: “Eu sou...” para cada uma. Por exemplo: “Eu sou brilhante”, “Eu sou saudável”, “Eu sou talentoso.” Inclua ainda palavras que representem pessoas que admira mas que não consegue imitar.

Satisfeito, seguro, amado, inspirador, sensual, radiante, delicioso, apaixonado, alegre, feliz, sexy, capaz de perdoar, cheio de vida, realizado, energético, confiante, flexível, capaz de aceitar, completo, saudável, talentoso, capaz, sábio, honrado, sagrado, poderoso, capaz de abraçar tudo, divino, poderoso, livre, engraçado, afluente, iluminado, equilibrado,

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brilhante, um sucesso, merecedor, aberto, compassivo, forte, criativo, pacífico, justo, famoso, disciplinado, responsável, bonito, desejável, entusiasta, corajoso, precioso, afortunado, maduro, artístico, vulnerável, consciente, capaz de ter fé em mim, magnificente, atractivo, centrado, romântico, um coração amoroso, sortudo, agradecido, gentil, sossegado, querido, extravagante, decidido, terno, irresistível, generoso, belo, calmo, despreocupado, paciente, leal, espiritual, ligado aos outros, espontâneo, organizado, bem humorado, contente, adorado, brincalhão, limpo, pontual, divertido, compreensível, dedicado, activo, glamoroso, destemido, vivaço, caloroso, focado, inovador, super-estrela, magnifico, um líder, sólido, campeão, rico, simples, genuíno, sensível.

Você possui todas estas qualidades. Tudo o que tem a fazer para trazer estas qualidades para a luz é abraçar cada uma, senti-la como sua pertença. Se conseguir ver onde, na sua vida, já expressou determinada qualidade, ou em que situações poderia expressar essa qualidade, pode abraçá-la agora. Tem que estar disponível para afirmar “Eu sou isso!”.

O passo seguinte é ver o presente nessa qualidade. Ao contrário da sombra escura, é fácil e óbvio ver de que maneira esta qualidade lhe pode ser útil.

Mas muitos de nós precisamos de enfrentar o nosso medo e a nossa resistência. Muitos de nós desenvolvemos mecanismos de defesa bastante sofisticados para reforçar as nossas crenças que nos dizem que não somos tão talentosos ou tão criativos como qualquer outra pessoa que escolhemos como comparação.

Se não for capaz de abraçar determinada qualidade é muito pouco provável que consiga manifestar algo nessa área. Se tem um problema de peso e não for capaz de abraçar o eu magrinho dentro de si, é muito pouco provável que consiga obter o peso ideal.

Não importa como se sente, quando estiver a afirmar as qualidades, não fuja. Ao dedicar-se ao processo de resgatar as partes de si que escondeu estes anos todos, está a dizer ao Universo que está preparado para ser completo.

Nós somos ensinados que é errado reconhecer a nossa grandeza. A maioria de nós acredita que possui algumas das qualidades positivas, mas nunca todas. Mas nós somos tudo. Todas as coisas que nos fazem sorrir, e todas as coisas que nos fazem chorar. Nós somos tudo o que é belo e tudo o que é feio num só ser.

Quando conseguir abraçar toda a lista de qualidades, deparará consigo diante dos olhos de Deus. Quando aceitamos em nós todas as nossas projecções positivas iremos experienciar a paz interior – aquela paz que nos diz que somos perfeitos tal como somos. A paz chega a nós quando paramos de fazer de conta que somos quem não somos. Muitos de nós nem nos apercebemos que estamos a fazer de conta que somos menos do que somos de verdade. Convencemo-nos que quem somos é suficiente.

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Permita que o mundo dentro de si se manifeste, e irá ver o caminho para a liberdade plena – a liberdade de ser sexy, de ser desejável, de ser talentoso, de ser saudável, de ser um sucesso!

Quando é incapaz de reconhecer todo o seu potencial não permite que o Universo lhe entregue todos os seus presentes. A sua alma anseia a manifestação plena do seu potencial. E só você pode permitir que isto aconteça. Pode escolher abrir o seu coração e abraçar a totalidade de quem é, ou pode escolher viver a sua vida na ilusão de ser quem pensa que é hoje. O perdão é o passo mais importante neste percurso de amor próprio.

Temos que nos permitir ver-nos com a inocência de uma criança, e aceitar as nossas falhas com amor e compaixão. Temos que por de parte os nossos juízos e castigos e aceitar os erros que cometemos. Temos que sentir que somos merecedores de perdão.

Este presente divino, de nos perdoarmos, ensina-nos que uma parte de ser humano é cometer erros. E o perdão vem do coração e nunca do ego. O perdão é uma escolha. Em qualquer altura podemos deixar partir os nossos ressentimentos e as nossas criticas e optar por perdoarmo-nos e perdoar os outros.

O amor que não inclui a totalidade de quem você é, é um amor incompleto. Muitos de nós somos treinados para procurar o amor que precisamos fora de nós. Mas quando deixamos partir a nossa necessidade de amor no mundo exterior, a única forma de encontrar algum conforto é indo dentro de nós, procurar aquilo que ansiamos tanto que venha de fora. Temos que permitir que o Universo dentro de nós, o nosso pai e a nossa mãe divinos, nos amem e nutram.

Procure dentro de si a raiva que ainda esconde. A raiva só é uma emoção negativa quando é suprimida ou trabalhada de uma maneira pouco saudável. Quando sente compaixão por si mesmo permite-se que todos os aspectos de si, o seu amor e a sua raiva, coexistam dentro de si. Sempre que eu me julgar ou julgar outros, eu sei que estou a agarrar-me a interpretações negativas de um evento qualquer.

Pode custar-lhe a aceitar isto, mas a sua raiva é a chave que abre o seu coração. Quando accionada liberta toda a energia vital que irá fluir por todo o seu ser.

Tem que saber ainda que a cura que procura para os seus relacionamentos não virá nunca dos outros. Tem que vir de si primeiro. Tem que vir da comunhão com todas as qualidades e todos os defeitos que vivem dentro de si.

Está na altura de libertar a paixão por quem é e encontrar o amor por quem é na totalidade. É este o seu objectivo último nesta realidade física e limitada.

Como dar amor a si mesmo... Já reparou como um bebé sorri? Os bebés são excelentes demonstrações do que é viver cada emoção. Podem

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chorar com um desespero ensurdecedor e um minuto depois rir como se fossem reis do mundo! Quando olhamos para os olhos de um bebé que sorri sentimos o nosso coração pleno, e sorrimos de volta. Porque na verdade esse bebé sorri para nós sem juízos de valor, sem criticas nem comparações. Isto é o amor incondicional. Também temos a experiência do amor incondicional com animais. Mas raramente temos essa experiência com outros adultos.

Os bebés projectam-nos a nossa inocência e o nosso amor incondicional. E o que é que nós projectamos de volta? Pensamos na sua beleza, inocência, perfeição, doçura? Ou pensamos que são egoístas, mimados, descontrolados, monstrinhos?... Quaisquer que sejam os nossos pensamentos, iremos projectá-los nos bebés. Lembre-se que são sempre aspectos de quem você é que projecta sobre os outros.

Imagine-se agora a si como um bebé inocente que se sente merecedor de todo o amor que a vida tem para dar. Sinta esse bebé dentro de si. Permita que esse bebé receba todo o amor. Imagine-se todos os dias a dar amor a esse bebé. Feche os olhos e permita que uma imagem de si, quando era bebé, venha até à sua mente. Pergunte-se: “O que posso fazer por este bebé hoje? Como é que posso fazer com que se sinta amado e acarinhado?” Ouça a sua voz interior.

Nós andamos tão ocupados a andar ocupados que nos esquecemos frequentemente de como dar-nos carinho. O início do dia é um momento sagrado para nos ligarmos ao nosso divino, ao nosso bebé interior. À medida que despertamos vamos tomando consciência dos pensamentos e dos sentimentos que irão ditar como será o nosso dia. Em vez de correr e fazer tudo de maneira automática, pare. Dê-se a si mesmo uma massagem antes do duche. Sorria ao bebé dentro de si. Diga-lhe que está tudo bem. Agradeça ao seu corpo por estar presente, por guardar a sua alma, por ser o alicerce de quem você é nesta realidade.

O importante é honrar-se. Dar a si mesmo a mensagem que é importante. Honre e respeite o génio brilhante que há em si. Quando o fizer será capaz de o fazer também aos outros. irá assim atrair pessoas idênticas a si. Situações idênticas a quem se sente por dentro.

Faça a si mesmo aquilo que gostaria que outros lhe fizessem. Se gosta de flores, compre para si um ramo de flores. Se gosta de música, comece o dia com música. Cante! Trate-se como se fosse realeza!

O mundo dá-lhe de volta aquilo que está já dentro de si. Se se amar, nutrir e apreciar interiormente, o mundo exterior irá mostrar-lhe exactamente o mesmo.

Se quer mais amor, ame-se mais. Se quer mais aceitação, aceite-se mais. Se se amar e respeitar a partir do mais profundo do seu ser, irá atrair a si o mesmo nível de amor e respeito.

Exercício

O objectivo deste exercício é identificar e libertar a energia emocional

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tóxica. O foco da sua atenção é o perdão. O seu objectivo é libertar qualquer emoção que esteja bloqueada – raiva, ressentimento, arrependimento, ou culpa. Os sentimentos que o impedem de se perdoar e perdoar outros.

Escrever um diário é uma maneira muito saudável de processar as suas emoções. Encoraja o que vai na sua mente a fluir para o papel. Permite que a toxicidade emocional do corpo e da mente se expressem livremente. Uma vez que permitamos que esta toxicidade exista sem qualquer juízo de valor ela é libertada.

Escolha um momento do dia em que não seja interrompido. Desligue os telemóveis. Pode optar por ter uma música de fundo suave, umas velas acesas, um incenso a arder. Crie o ambiente ideal para si.

Com os olhos fechados, imagine-se dentro de um elevador e carregue no botão que o levará até ao quinto andar. Quando a porta se abre dá por si num maravilhoso jardim. Enquanto olha para as flores, as árvores frondosas, e tudo o que um jardim maravilhoso possa conter, dá-se conta de uma cadeira num lugar perfeito para você descansar e relaxar. Vá até essa cadeira, sente-se, respire fundo. Depois pergunte-se a si mesmo as questões a seguir e permita que as respostas fluam até si. Depois de cada resposta, abra os olhos, escreva no seu diário e regresse ao mesmo lugar.

1. Que história criei eu sobre quem sou de verdade e que explica as circunstâncias da minha vida actual?

2. Que ressentimentos, velhas feridas, raivas, ou arrependimentos transporto ainda no meu coração?

3. Quem é a pessoa na minha vida que eu ainda não quis perdoar?

4. O que tem que acontecer para que eu me perdoe e perdoe os outros?

Faça depois uma lista das pessoas que tem que perdoar e escreva-lhes uma pequena carta. Se a sua lista for muito grande, escreva cartas a todas as pessoas nessa lista. Aquilo que não terminar agora, nunca poderá dar por completo mais tarde!

O que precisa de dizer a si mesmo para estar em sintonia com a sua vida neste momento? Diga-o mil vezes ao dia! (E escreva-o no seu diário!)

Escreva uma carta de perdão a si mesmo. Faça uma lista das três pessoas que mais admira. Escreva depois três qualidades que admira nelas. Faça depois uma lista geral com as nove qualidades. Verifique novamente a lista de qualidades que encontrou no início desta newsletter e anote aquelas que não consegue identificar em si. Adicione estas qualidades ás nove iniciais.

Pegue agora nesta lista e sente-se em frente a um espelho. Olhe-se nos olhos e afirme “Eu sou...” Repita a afirmação até deixar de sentir qualquer

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resistência interior. Escolha abraçar uma ou duas qualidades por dia. Se ficar preso a uma qualidade, e incapaz de a aceitar, passe à qualidade seguinte e regresse a essa mais tarde.

 

Lição 10 – Uma Vida Que Valha A Pena 

Manifestar os seus sonhos só pode ser possível depois de manifestar quem você é de verdade. Como crianças temos a tendência a seguir os ensinamentos dos nossos pais e professores. Muitos de nós aceitamos os seus conselhos e conhecimentos, incluindo qual a melhor carreira, melhor curso ou melhor papel a desempenhar como membro da sociedade que integramos.

A questão é: quando é que deixou de ouvir essas vozes externas e começou a ouvir-se a si? Quando é que começou a ouvir a voz de seu Eu Superior? Quando é que viu que o caminho que está a percorrer não é na verdade o que quer para si? Será por este motivo que muitos de nós nos sentimos desajustados?

Este é o tipo de questões que tanto receamos. A resposta pode levar-nos por caminhos diferentes, estranhos e até arriscados. Alguma vez questionou a sua crença em Deus? Para muitas pessoas questionar a existência de Deus é um pecado mortal. Mas se não estiver disposto a questionar as suas crenças mais básicas nunca poderá crescer como ser espiritual que é. As nossas vidas irão simplesmente ser algo idêntico ás vidas dos nossos pais, dos nossos amigos, daqueles com quem crescemos.

É sempre um risco avançar por territórios desconhecidos. Uma vez, estava eu num seminário nos estados Unidos, ouvi um participante confrontar o formador principal com a afirmação “eu irei arriscar quando me sentir preparado para arriscar!” ao que o formador respondeu: “Se só arriscas quando estás preparado, isso não é arriscar... Estúpido!”

Em vez de dizer a si mesmo algo como “não sou capaz de fazer isto”, tem que se perguntar: “Porque não haveria de fazer isto? De que é que tenho medo?” Este tipo de questão desafia todos os laços que estabelecemos há muito tempo com os nossos familiares e amigos. E abre as portas para descobrir qual o nosso propósito nesta vida.

Perguntar-se se está no caminho certo pode parecer fácil. A parte difícil é ouvir a resposta que chega a partir do coração. A sua cabeça terá uma resposta, mas é muito provável que o seu coração tenha outra. O medo pode levá-lo a manter a direcção actual, e no entanto o amor pode suplicar-lhe para mudar o curso que segue. Tem que aprender a sossegar a mente para poder ouvir a resposta do seu coração. Tem que abrir o seu coração à resposta. Se optar por seguir as suas paixões e desejos, terá que estar o suficientemente calmo para ouvir as respostas da sua alma. Se se meter na água e só for até onde tiver pé, irá ver sempre o mesmo. Mas se optar por nadar, ou agarrar-se a um tronco, irá ver novas paisagens.

O medo de morrer afogado é o que nos mantém acorrentados ás

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experiências repetitivas da vida. O medo de estarmos errados. O medo de falhar. Será que os seus desejos são o suficientemente fortes para fazer com que enfrente os seus medos? Quer mesmo viver os seus sonhos? A escolha é sempre sua.

O primeiro passo é sempre questionar-se. Transformar as suas afirmações mentais em questões. Mude “Eu não presto” para “Será que eu poderia ser um sucesso?”, “Estou aborrecido” para “Poderia eu sentir-me entusiasmado?”, mude “A minha vida não tem qualquer significado” para “Poderia eu ser a diferença no mundo à minha volta?”

A nossa necessidade de ter razão, de nos sentirmos seguros, é o que nos impede de ir atrás dos nossos sonhos. Sentimo-nos inseguros se questionarmos os nossos motivos. Preferiria ter razão sobre o sentir-se fraco ou errado quanto à sua capacidade de brilhar e fazer a diferença? Preferiria ter o controlo absoluto sobre uma pequena quantia de dinheiro ou sentir-se inseguro a gerir as contas de um banco? Preferiria manter-se num trabalho que não gosta ou arriscar criar o negócio dos seus sonhos? É feliz? Está a seguir os desejos do seu coração? Se soubesse que tinha apenas um ano de vida pela frente estaria agora a fazer aquilo que faz? Faria as mesmas escolhas?

Feche os olhos e foque a sua atenção bem dentro de si, num lugar em que se sinta seguro e confortável. Pergunte-se a si mesmo o que gostaria de estar a fazer agora na sua vida. Pergunte-se ainda porque motivo não está a seguir o seu sonho. De que tem medo? Pergunte-se ainda o que faria se soubesse que tem apenas um ano de vida pela frente. O que mudaria? Mantenha as respostas fixas no seu coração e decida-se a fazer algo ainda hoje que o aproxime do seu sonho. Decida que irá sempre ouvir a sua verdade, e irá ainda seguir essa verdade. Decida a deixar que o Universo o guie até ao desejo do seu coração. Com apenas tomar estas decisões irá dar início a mudanças na sua vida. Ao fazê-lo está a dizer a si mesmo e ao Universo “Eu sou merecedor de ter aquilo que desejo e irei fazer o que for preciso para realizar o meu sonho”.

Infelizmente a maior parte de nós não escolhe seguir os nossos desejos. Deitamo-nos à noite na cama e esperamos uma vida melhor, um corpo melhor, um trabalho melhor, mas nada muda. Isto é assim porque mentimos a nós próprios. Aquilo de desejamos e aquilo a que nos dedicamos são coisas opostas. Desejamos mais saúde mas dedicamo-nos a uma vida de sedentarismo. Desejamos uma relação amorosa enriquecedora mas dedicamo-nos a ficar em casa a ver televisão.

Só quando tivermos plena consciência de que ninguém aparecerá para nos ajudar, para fazer as coisas por nós, e que as nossas velhas feridas emocionais continuam abertas, quer as amemos ou odiemos, só então é que iremos saber que só nós mesmos temos o poder para manifestar o nosso potencial. Claro que é sempre mais fácil culpar outros do que assumir a responsabilidade total. “E se eu falhar?”, “E se eu me magoar?”, “O que irão pensar de mim?”

Só poderá mudar a sua vida se tiver a coragem de criar um certo grau de

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desconforto primeiro. Tem que desistir da ideia que é perfeito e só vale a pena fazer as coisas se saírem perfeitas. A sua missão não é ser perfeito. A sua missão é ser completo, perfeito e imperfeito ao mesmo tempo. A sua missão é ouvir a voz do seu coração, amar-se tanto quanto lhe for possível, porque ao fazê-lo irá atrair a mesma quantidade de amor na sua vida.

Não se preocupe se não sabe ao certo o que quer. Simplesmente decida-se a viver o seu potencial máximo. Viva no momento presente e o Universo encarregar-se-á de lhe mostrar o seu dom único. A sua decisão irá guiá-lo a lugares que precisa de visitar, a livros que precisa de ler, a pessoas que precisa de conhecer, a cursos que precisa de aprender. Acredite que cada pessoa que lhe bater à porta, a partir do momento que decida viver o seu sonhos, surgirá para ajudá-lo a curar as suas feridas.

Esteja disponível para ir ao fundo dos seus problemas, para descobrir a verdadeira causa da sua existência, decida viver os seus sonhos, e irá assistir à sua manifestação gradual.

Seja um guerreiro quando for atrás dos seus sonhos. Conheço muitas pessoas que falam dos seus sonhos como se fossem tesouros guardados num museu, atrás de uma barreira protectora. Fazem muita meditação para que os seus sonhos se manifestem. Fazem muitos cursos. Mas os seus medos e resignação tornam-nas passivas. Sabe quem é que tem acesso ao tesouro? Aquela pessoa que faz um plano, a pessoa que escreve num papel a sua missão e decide seguir avante. Preparada para ser ridicularizada por outros, para ter medo, para falhar. Mas mesmo assim, decide-se a ir em frente.

Faça uma lista dos juízos de valor que escolheu para justificar a sua vida actual. Deixo-lhe alguns exemplos:

- Não posso porque não sou o suficientemente criativo / não tenho talento;

- Não é um sonho realista;

- Uma pessoa boa não deve ser soberba e desejar tanto para si;

- Não tenho estudos suficientes;

- Já tentei antes e não consegui nada;

- Ainda sou muito novo;

- Já não tenho idade;

- Não tenho tempo...

São juízos como estes que o impedem de avançar na vida. Descubra quais os juízos que o impedem de avançar. As crenças que aceitou há muito tempo. Questione cada uma.

Pegue numa folha e escreva um objectivo que ainda não conseguiu manifestar. Escreva depois todas as crenças e justificações que explicam

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porque motivo ainda não conseguiu. Escreva rapidamente, sem se esforçar muito, e verá as respostas surgirem facilmente. Depois pegue em cada uma e questione-a. Pergunte se é uma crença baseada num juízo ou num facto. Este passo é importante. Se a crença for baseada num juízo (pista: 99,9% das vezes é um juízo) ficará a saber porque motivo a sua vida está como está. Nós permitimos que os nossos juízos controlem as nossas vidas. Porque motivo pensa que julga os outros? Os amigos, os familiares, os políticos, determinadas profissões, determinados programas de televisão, até mesmo simples livros?... Chama-se comparação e serve para apaziguar o nosso ego ferido. Mas um ego ferido será incapaz de nos levar até aos nossos sonhos.

A decisão de querer alterar a sua vida é algo que deve levar muito a sério. Sei que a maioria das pessoas gosta de falar em mudança, e mudar a vida mas são incapazes de mudar os seus comportamentos responsáveis por mantê-las nas mesmas situações dia após dia.

Reconheça pelo menos uma vez que ninguém irá consertar a sua vida. Mas você pode. Na verdade apenas você pode consertar a sua vida. Você é a pessoa com o poder, as respostas, e a capacidade de mudar a sua vida. Apenas você.

Gastamos muito dinheiro a tentar mudar os nossos corpos, a nossa saúde, os nossos relacionamentos e até os nossos familiares, e continuamos insatisfeitos. Parece que estamos continuamente num estado de querer qualquer coisa inatingível. Este estado de querer, de sonhos por manifestar, é o resultado de fazer de conta que estamos a caminho de qualquer coisa melhor quando na verdade a nossa vida está estagnada. Como pode ter um verdadeiro sonho, uma verdadeira paixão, sem qualquer plano de acção?

Enganamo-nos com afirmações positivas e com a (falsa) esperança de um dia conseguir qualquer coisa. Há pessoa que meditam sobre as suas paixões. Há pessoas que resolvem situações de vidas passadas. Há pessoas que se dedicam a actos de caridade. Não há nada de errado com isto. Mas sem um plano de acção pode ter a certeza que a sua vida jamais mudará. Irá repetir-se incessantemente enquanto caminha para a cova.

Há ainda pessoas que seguem gurus e mestres, ou vão à igreja todos os dias, ou falam com os amigos. Há outras que visitam videntes e tarólogos. Outras ainda dão a sua energia à televisão e ao cinema enquanto os seus sonhos se mantêm em ‘stand-by’.

Tudo isto são maneiras de fugir à verdade. Não querer enfrentar aquilo que nos assusta. A oração sem acção não é oração. É sonhar acordado. Como pode Deus ajudar-nos se não estamos dispostos a ajudar-nos a nós mesmos?

Não há nada de errado com a fé. Não há nada de errado com as afirmações positivas. Mas a dada altura tem que entrar em acção. Tem que dar um passo em frente, por mais assustador que isso lhe pareça. Decida-se a desfrutar na vida daquilo que gosta e depois faça um plano que lhe mostre o que fazer a seguir. E a seguir. E a seguir.

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Se quer saber se está mesmo decidido a viver o seu sonho, a mudar algo na sua vida, pergunte-se se tem um plano de acção. Se a resposta for “não” volte atrás e verifique se tomou a decisão de viver o seu sonho. Um plano de acção tem que estar escrito num papel, num local onde possa ser consultado com frequência. Se o pano de acção estiver apenas presente na sua mente não é mais que um sonho... um sonho acordado.

Conheço pessoas que se queixam de más relações, de falta de dinheiro, de um trabalho precário, de uma saúde pobre. Quando lhes pergunto que planos têm para alterar essas situações olham-me como se estivesse a falar num idioma raro. Pensam que estou a brincar. Como se as mudanças fossem algo que acontece por magia. Acreditam que os outros irão mudar as suas vidas, ou então algo de inesperado irá acontecer.

Fazer um plano de acção é fácil. A parte mais difícil é mesmo encontrar o tempo para o fazer. Sugiro-lhe escolher inicialmente um objectivo que há muito deseja conseguir. O objectivo que lhe parecer mais realizável. Depois divida-o em quatro partes. Um plano diário, um plano semanal, um plano mensal e um plano anual. Pergunte-se: “O que posso fazer todas as semanas para atingir o meu objectivo?” Faça um calendário com projectos diferentes. Quando tiver construído o seu plano de acção indicou ao Universo a sua disponibilidade para viver o seu sonho. Agora cumpra!

Qual é o seu dom? Qual a qualidade que se manifesta em si espontaneamente? Para algumas pessoas é a aceitação. Para outras é a compaixão. Outras ainda é o carinho. Para outras é a alegria. Qual é a sua qualidade divina? Infelizmente não lhe posso ajudar muito aqui a descobrir o seu dom. Este é um processo de várias horas (daí a existência de um seminário). Mas uma vez que descubra o seu dom garanto-lhe que a sua vida muda.

Mantenha a sua palavra. Isto é essencial para manifestar o seu sonho. Aquilo que diz a si mesmo e aos outros conta! Se decidiu perder peso, dizer que um pastel de nata não é nada é mentir a si mesmo! O que diz na verdade é que não merece confiança. Se disser que quer um trabalho diferente do actual e não começa a procurar, está a mentir a si mesmo. Envia uma mensagem que diz “não contem comigo!” Faça aquilo que diz que vai fazer.

Se não vai ser capaz de o fazer, então não diga nada. Decida que a sua palavra é a ferramenta mais importante que possui. Trate-a como se fosse de ouro. Se tratar a sua palavra como se fosse ouro, ela irá trazer-lhe ouro. De cada vez que fizer aquilo que disse que ía fazer está a treinar-se e a afirmar ao Universo que pode contar consigo.

Quando mentimos a nós próprios continuamente é muito difícil acreditar em nós. A sua palavra, se não for levada a sério, nada mais é que ruído. Mas a sua palavra tem um presente muito maior para lhe dar. Pode ajudá-lo a criar a sua vida. Pode dar-lhe o poder e a liberdade. Quando decide fazer algo por si, ou por outro, e sabe que o irá fazer, estará a dar poder a quem é.

O seu dom pode ser ajudar os outros, ensinar os outros, descobrir a cura para uma doença, interactuar com outros de maneiras criativas, educar

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crianças... independentemente do seu dom, se se decidir a encontrá-lo e a manifestá-lo, irá preencher o seu coração e deixá-lo inspirado.

Não entre em pânico se ainda não sabe qual é o seu dom. Decida-se a fazer os exercícios que lhe indico. Estará no bom caminho. Peça ao seu Eu Superior ajuda e ira obter ajuda. Sugiro-lhe criar uma afirmação que represente o seu dom. Algo com meia dúzia de palavras. Por exemplo “Eu sou um músico que alegra a vida dos outros”, ou “Eu sou a possibilidade de ajuda do Universo”. Não se esforce muito de início. Deixe que a afirmação venha até si. Decida-se a entrar em acção.

Exercício

Gostaria que criasse a afirmação do seu dom e missão nesta vida. Esta afirmação deve ser algo que você quer manifestar no futuro. É uma afirmação de poder. Pode focar a sua atenção na sua saúde, trabalho, relacionamentos, desenvolvimento espiritual ou todos ao mesmo tempo.

Feche os olhos e vá ao seu elevador interior. Respire fundo várias vezes e permita-se relaxar na totalidade. Quando estiver pronto vá ao seu Jardim Sagrado. Caminhe lentamente até ao local onde obtém as suas respostas. Quando se sentir completamente calmo peça ao seu Eu Superior que se apresente à sua frente. Permita que esta imagem se torne viva, forte e brilhante. Peça ao seu Eu Superior que se aproxime e lhe entregue uma mensagem que lhe dê toda a força e coragem que precisa para viver a vida dos seus sonhos. Se tiver dificuldades e não receber qualquer mensagem, crie uma que lhe dê poder, que o faça sentir-se corajoso. Permita que palavras de poder cheguem até si. Quando terminar agradeça ao seu Eu Superior pela ajuda e regresse ao seu estado normal. Pegue no seu caderno e anote tudo o que obteve deste encontro. Anote o que conseguiu ver.

Esta afirmação irá dar-lhe poder suficiente para o empurrar até ao próximo nível do seu crescimento em todas as áreas da sua vida. Sugiro-lhe uma afirmação curta. Use-a mil vezes ao dia! Recordar-se-á que é um ser divino a viver a sua expressão física máxima! Deixo-lhe aqui algumas das afirmações criadas por clientes meus:

“Eu sou um ser espiritual merecedor de honestidade, amor e abundância.”

“O Universo é o meu amigo e amante que preenche todas as minhas necessidades.”

“Para onde quer que olhe vejo apenas beleza, verdade e possibilidades.”

“Eu sou sábia e permito que o Universo realize os meus desejos.”

“Não há nenhum desejo genuíno que não seja capaz de manifestar hoje.”

Saiba que já é mais que suficiente. Saiba que é merecedor de amor. Saiba que já é importante. Saiba que pode fazer a diferença. Saiba que o Universo conta consigo para ser completo.

Obrigado por ter seguido este curso online. Obrigado por se ter inscrito na

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minha mailing list. Obrigado por de alguma maneira fazer parte da minha vida. Obrigado pelos e-mails enviados com dúvidas, esclarecimentos e agradecimentos. Termino dizendo-lhe aquilo que uma pessoa que me é querida teve a coragem de me dizer a mim: “Obrigado por existir!”

Emídio Carvalho

 

Este curso é uma adaptação do trabalho de Debbie Ford, inteiramente dedicado à Sombra. Poderá ficar a saber mais em www.debbieford.com. 

Caso esteja interessado em abraçar a totalidade de quem é, poderá fazê‐lo num dos vários seminários que oferecemos, aplicando na prática todo o conhecimento relacionado com a Sombra. 

Lembre‐se que se não tratar da sua Sombra, mais cedo ou mais tarde, ela tratará da sua vida.