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RESIDÊNCIA DO REITOR: DOCUMENTAÇÃO DIGITAL DO PATRIMÔNIO PARA O PROJETO DE RESTAURAÇÃO E ADAPTAÇÃO DE USO Ana Paula Ribeiro de Araujo Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro [email protected] 1. A Residência do Reitor A Residência do Reitor integra o conjunto de edificações protegidas definitivamente pelo tombamento estadual desde 17/10/2001 (Resolução SEC n o 051) que são exemplares significativos do estilo neocolonial, em que pese sua manifestação tardia, tendo em vista que as obras do campus Seropédica foram concluídas em 1947 e, definitivamente, ocupado em 1948. O conjunto arquitetônico protegido apresenta um repertório formal e estilístico que remete às tradições construtivas da arquitetura religiosa e civil do período colonial, especialmente o século XVIII. Nesse contexto, destacam-se, as varandas, os beirais encachorrados, arcadas, beirais precedidos por cimalha de boca de telha com duas fiadas (beira e sobeira) e telhas com rabo de andorinha nos vértices, cobogó, janelas venezianas, ladrilhos de piso e telha capa canal em cerâmica vermelha, gradis de ferro forjado, colunas torsas como detalhes de janelas do tipo italianas, esquadrias com guarnição, guarda-corpo em alvenaria, pequeno embasamento sem a presença de cunhal. Não se observa a presença de azulejos e chafariz. A casa do reitor localiza-se no alto de uma pequena colina com vista privilegiada para o Lago Assu, rodeada por bosque, grupamento de palmeiras, maciços de arbustos com grande efeito ornamental inserida em extensas áreas gramadas. Todos os componentes do conjunto arquitetônico protegido, assim como edificação da antiga Residência do Reitor estão situados num grande parque paisagístico, projetado por Reynaldo Dierberger, que abrange uma área de 131.346 m². Em 2020, a instituição completou 110 anos de existência, dos quais 60 anos, foram no campus Seropédica. Figura 01: Foto da Casa do Reitor

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RESIDÊNCIA DO REITOR: DOCUMENTAÇÃO DIGITAL DO PATRIMÔNIO

PARA O PROJETO DE RESTAURAÇÃO E ADAPTAÇÃO DE USO

Ana Paula Ribeiro de Araujo

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

[email protected]

1. A Residência do Reitor

A Residência do Reitor integra o conjunto de edificações protegidas definitivamente pelo

tombamento estadual desde 17/10/2001 (Resolução SEC no 051) que são exemplares

significativos do estilo neocolonial, em que pese sua manifestação tardia, tendo em vista

que as obras do campus Seropédica foram concluídas em 1947 e, definitivamente,

ocupado em 1948. O conjunto arquitetônico protegido apresenta um repertório formal e

estilístico que remete às tradições construtivas da arquitetura religiosa e civil do período

colonial, especialmente o século XVIII. Nesse contexto, destacam-se, as varandas, os

beirais encachorrados, arcadas, beirais precedidos por cimalha de boca de telha com duas

fiadas (beira e sobeira) e telhas com rabo de andorinha nos vértices, cobogó, janelas

venezianas, ladrilhos de piso e telha capa canal em cerâmica vermelha, gradis de ferro

forjado, colunas torsas como detalhes de janelas do tipo italianas, esquadrias com

guarnição, guarda-corpo em alvenaria, pequeno embasamento sem a presença de cunhal.

Não se observa a presença de azulejos e chafariz.

A casa do reitor localiza-se no alto de uma pequena colina com vista privilegiada para o

Lago Assu, rodeada por bosque, grupamento de palmeiras, maciços de arbustos com

grande efeito ornamental inserida em extensas áreas gramadas. Todos os componentes do

conjunto arquitetônico protegido, assim como edificação da antiga Residência do Reitor

estão situados num grande parque paisagístico, projetado por Reynaldo Dierberger, que

abrange uma área de 131.346 m². Em 2020, a instituição completou 110 anos de

existência, dos quais 60 anos, foram no campus Seropédica.

Figura 01: Foto da Casa do Reitor

Fonte: INEPAC. Processo E-18/001540/98, fl. 55

Na visita técnica realizada em 2019 pela arquiteta Andressa Pazianelli Leite da COPEA,

foi possível verificar o estado de conservação da edificação, seguindo o roteiro disposto

no “Manual de Conservação Preventiva para edificações” do IPHAN/Monumenta. Foram

identificados problemas decorrentes da falta de conservação preventiva (torneiras

vazando, fios elétricos soltos na fachada, calhas entupidas, falta de fixação de telhas,

presença de cupins, manchas de água de chuva no embasamento, calçadas sem caimento,

vegetação externa sem manejo, infiltração nas lajes, equipamentos sanitários não fixos,

umidade em paredes). Também foram identificadas intervenções que descaracterizam a

fachada com a instalação de aparelhos de ar-condicionado.

Figura 02: Estado de conservação da Casa do Reitor

Fonte: Relatório do Estado de Conservação da Casa do Reitor elaborado por Andressa

Pazianelli Leite da COPEA/UFRRJ de 22/08/2019

Os colaboradores do LabDoc em conjunto com os técnicos do NUPARQ-COPEA

iniciaram estudos para avaliar a viabilidade de adequar a Residência do Reitor para o

funcionamento do Centro de Memória e do seu anexo como Laboratório de Restauração

de Papel do LabDOC. Em 2019 surgiu a oportunidade de pleitear recursos advindos de

emendas parlamentares do orçamento federal para elaboração de projetos executivos de

arquitetura e instalações prediais. Infelizmente a proposta encaminhada não foi

contemplada. Recentemente, o Centro de Memória foi desmobilizado de sua sede do

prédio central (P1) no campus Seropédica da Universidade e seu acervo já está sendo

armazenado na Casa do Reitor.

O acervo do LabDOC é composto por um conjunto de desenhos de arquitetura, a maioria

desenhos técnicos elaborados para a execução da obra, mas também por desenhos em

perspectiva que utilizam técnicas artísticas como aquarelas e documentos como diários

de obras. O acervo de Desenhos arquitetônicos do LabDOC é composto por 3.363

projetos arquitetônicos. Destes, 166 originais relacionados à memória da construção do

Campus de Seropédica da UFRRJ (LIMA CARLOS et al, 2019). Existem 30 desenhos

arquitetônicos de valor excepcional de Eugênio de Proença Sigaud e Reynaldo

Dierberger. Todos estão armazenados na reserva técnica com dimensão insuficiente para

abrigar o acervo que vem sendo tratado. Em média, o acervo cresce em 1% por ano.

Segundo o Relatório de Condição de armazenamento da Reserva Técnica de Desenhos

Arquitetônicos da UFRRJ (LACERDA, 2021), o espaço físico de 85 m2 apresenta sinais

de deterioração como paredes e teto com umidades, instalação elétrica inadequada e

instalação hidráulica defeituosa. Atualmente não é seguro o transporte da reserva técnica

para outras áreas, além de não haver áreas e infraestrutura para o desenvolvimento das

atividades do Laboratório (escritório, área de pesquisa, quarentena, limpeza, restauração,

preparação do acervo, documentação etc.) conforme indicado pelo RE-ORG,

desenvolvido pelo ICCROM e pela UNESCO. Ainda faltam equipamentos de segurança

contra incêndio e pânico, de controle da temperatura e umidade relativa, controle de

infestações de insetos e roedores e a necessidade de aumento da área de armazenamento

e sistema de vigilância. Por isso pretende-se, além de manter o espaço existente no prédio

da Prefeitura Universitária como reserva Técnica, utilizar a Casa de Hóspedes anexa à

Residência do Reitor, que se encontra sem uso, para a instalação do LabDoc.

O Centro de Memória e o LabDoc atuam na preservação da memória da Instituição, seja

pela preservação do seu acervo, quanto pela divulgação de diferentes narrativas que

contam a trajetória da construção da Universidade. Desenvolvem atividades de educação

patrimonial e de pesquisa científica. Ambos necessitam de um espaço adequado para

abrigar estes acervos e atividades.

No conjunto de objetivos estratégicos contidos no PDI 2018-2022 estão previstas ações

relacionadas à manutenção e difusão do acervo museológico do Centro de Memória e do

LabDOC. Pretende-se também implementar nas obras soluções que aumentem a

eficiência energética, a redução do consumo de água e o desenvolvimento de projetos

sustentáveis.

A Pró-reitoria de Planejamento, Avaliação e Desenvolvimento Institucional –

PROPLADI deu início a implementação de metodologia de Modelagem da Informação

da Construção – BIM na COPEA. Com a implantação do BIM pretende-se dar maior

celeridade, qualidade e assertividade aos projetos de novas construções e reformas

considerando uma documentação consistente e íntegra para processos licitatórios. Além

disso, pretende-se melhorar o processo de coordenação e compatibilização de projetos

tendo em vista o planejamento de obras (4D), a elaboração de quantitativos para

orçamentação (5D) e o suporte ao gerenciamento pós-obra (6D). Esta ação vai ao

encontro do Decreto no 10.306 de 02/04/2020 que estabelece a utilização do BIM na

execução direta ou indireta de obras e serviços de engenharia realizado pelos órgãos e

entidades da administração pública federal.

2. A documentação digital do patrimônio arquitetônico

Assim como ocorre em várias entidades no Brasil, a UFRRJ ainda não documentou

devidamente seu patrimônio. Tampouco previu a utilização de métodos, técnicas e

tecnologias digitais que possibilitem, não somente agilizar o processo de documentação,

mas principalmente, produzir uma base de informação mais detalhada e precisa que sirva

como uma fonte de dados confiável para utilização de todos os envolvidos na conservação

da edificação durante seu ciclo de vida.

É necessário para uma documentação eficiente o atendimento aos princípios que

possibilitem o controle da qualidade da documentação presentes nas cartas e

recomendações internacionais, guias e manuais elaborados por entidades e especialistas

da área de documentação do patrimônio cultural. Contamos com uma diversidade de

princípios como a reunião e disponibilização de inventários (Carta de Atenas, 1931), a

precisão, informações identificadas em relatórios analíticos e críticos (Carta de Veneza,

1964), o inventário como base realista para a conservação (Carta de Amsterdã, 1975), a

completude, precisão, fiabilidade, atualização dinâmica e permanente (Carta de

Lausanne, 1990), nível de detalhamento, definição de responsabilidades e de conteúdos,

difusão e compartilhamento das informações (Carta de Sofia, 1996), fontes de pesquisa

devidamente identificadas, informações suficientes, padronização da documentação

(Carta de Londres, 2006-2009).

Contamos ainda com os princípios de objetividade, valor, continuidade, tecido,

redundância cunhados por D’Ayala & Smars (2003), sistematização, repetibilidade,

verificabilidade, reversibilidade, proveniência (English Heritage, 2007), coerência,

consistência, refinamento, atualização, unidade e clareza (Council of Europe, 2009) e

transparência e interdisciplinaridade (Council of Europe, 2012).

Estes princípios devem ser incorporados aos processos de planejamento, execução,

processamento e disseminação da documentação do patrimônio. Contudo, Araujo &

Vieira (2020) verificaram que nos modelos de inventário elaborados pelo IPHAN (IBA -

1987, o INBI-SU -1989, o INRC -1999 e INCEU -2001) alguns destes princípios são

citados diretamente. Boa parte destes princípios pode ser compreendida apenas

indiretamente (exatidão, exaustividade, sistematicidade, coerência, padronização).

Conforme Araujo (2020) e Tolentino (2018), o IPHAN, como autarquia federal

responsável pela proteção e promoção dos bens culturais para usufruto para as gerações

futuras, ainda não incorporou em suas metodologias de inventariação, as diferentes

tecnologias digitais para a documentação nas etapas de aquisição de dados,

processamento e disseminação (OWEN & BUHALIS & PLENTICKX, 2004) das

informações sobre o patrimônio. Dentre as técnicas e tecnologias que são mencionadas

nos modelos de inventários do IPHAN citamos o uso recorrente da fotografia analógica

e digital, panorâmica, aérea. Também verificamos nos modelos de inventário a indicação

de métodos diretos de registro, analógicos (trenas, níveis, mangueiras) e digitais (EDM-

Eletronic Distance Measurement, ou trena eletrônicas).

Contudo, existem técnicas indiretas de levantamento com auxílio de tecnologias digitais

que possibilitam uma coleta de dados mais detalhada e precisa como o escaneamento a

laser (estático e dinâmico, de luz estruturada, terrestre ou aerotransportado), a

fotogrametria (aérea e terrestre, close-range, stricto senso, esférica, por videogrametria)

e GNSS – Global Navigation Satellite System, que são utilizados considerando-se o nível

de complexidade e tamanho do objeto (ANDREWS at al, 2015).

As técnicas são escolhidas de acordo com os objetivos do levantamento, produtos

requeridos, características do objeto (extensão, altura, complexidade geométrica dos

elementos construtivos, materiais de acabamento, obstáculos, acessibilidade), habilidades

e conhecimentos da equipe executora, recursos financeiros e tecnológicos disponíveis

(hardware e software), tempo disponível para aquisição e capacidade de processamento

dos dados. As técnicas de medição direta, como o levantamento planialtimétrico com

Estação Total e GNSS são adequados para o registro pontos específicos de objetos de

pouca complexidade e em situações que exigem o levantamento de uma menor

quantidade de informações ou informações pontuais. Estas técnicas devem ser utilizadas

de modo combinado com técnicas indiretas (fotogrametria e varredura a laser) quando se

faz necessário um levantamento mais detalhado e preciso.

Apesar de Oliveira (2008) ter elaborado um caderno técnico que detalha diferentes

técnicas de cadastro e levantamento (planialtimétrico, fotografia documental e

fotogrametria) no âmbito do programa Monumenta, os modelos de inventário não foram

atualizados. Imagina-se que o caderno técnico tenha indicado que a técnica da

fotogrametria possa ser utilizada nos levantamentos e nos contratos de projetos

executivos de restauração possibilitando a elaboração de uma documentação detalhada e

precisa.

Uma vez planejado e executado o levantamento físico, o processamento das informações

é uma etapa crucial para que os dados se transformem em informação útil para a

intervenção e gestão da conservação do bem cultural. Buscando uma metodologia capaz

de produzir, comunicar e analisar modelos digitais da construção (EASTMAN, 2008) e

considerando-se a necessidade de se reduzir erros, evitar a omissão de informações,

aumentar a colaboração e integração entre a equipe de trabalho e consolidação das

informações para uso em todo o ciclo de vida da construção, entendemos que a

Modelagem da Informação da Construção, ou Building Information Modelling-BIM, é a

melhor opção que temos para melhorar os processos da gestão pública e da privada. O

BIM fará parte dos processos de trabalho de gestores públicos e prestadores de serviço

no âmbito da arquitetura, engenharia e da construção – AEC conforme previsto na

Estratégia BIM BR (Decreto 9983 de 22/08/2019).

O Decreto 10.306 de 2 de abril de 2020 é o último instrumento normativo que estabelece

a utilização do BIM na execução direta ou indireta de obras e serviços realizada por

órgãos e entidades da administração pública federal. Neste decreto está prevista a

implementação do BIM em projetos (arquitetura, estruturas, instalações hidráulicas,

HVAC, elétricas) com detecção de interferências físicas e funcionais, extração de

quantitativos e geração de documentação extraída do modelo, para a reabilitação já na

primeira fase, a partir de 01 de janeiro de 2021. Já a execução direta ou indireta de

projetos, obras, reformas e reabilitações, incluindo-se a orçamentação, planejamento e

controle da execução de obras está prevista para a segunda fase, a partir de 1º de janeiro

de 2024. Na terceira fase prevista, o BIM deverá ser utilizado para o projeto, a gestão das

obras, o gerenciamento e manutenção do empreendimento, a partir de 1º de janeiro de

2028. A Lei 14.133 de 01/04/21 institui uma nova lei de licitações e contratos

administrativos para as administrações públicas. Prevê que nas licitações de obras e

serviços de engenharia e arquitetura seja preferencialmente adotada a Modelagem da

Informação da Construção.

O HBIM (Historic Building Information Modelling) é uma metodologia para auxiliar a

gestão de bens culturais a ser mais eficaz na preservação do patrimônio. O HBIM integra

o processo de captura da geometria da construção e o processo de modelagem da

informação para dar suporte ao ciclo de vida da construção (uso e operação). É um

processo de engenharia reversa onde os elementos remanescentes são mapeados usando

técnicas diretas e indiretas de registro para que se possa elaborar um modelo paramétrico

contendo informações sobre cada elemento construído. O modelo possibilita a geração de

documentação, bem como serve como uma base de dados para que novas informações

possam ser inseridas no modelo, por exemplo, informações sobre intervenções e reparos

de manutenção.

3. Materiais e Métodos

A pesquisa pretende elaborar um modelo paramétrico da informação da construção da

Residência do Reitor a partir de um levantamento físico detalhado utilizando técnicas de

registro diretas e indiretas. Pretende-se combinar a técnica a fotogrametria para a captura

de dados geoespaciais, juntamente com pontos capturados por meio de Estação Total e

GNSS. A integração dos dados permitirá obter uma base de dados digitais adequada para

elaboração do futuro projeto de intervenção e do planejamento da conservação. Para tal

estabelece-se os objetivos específicos:

O primeiro objetivo específico é o planejamento e execução do levantamento físico

considerando a aplicação de critérios de qualidade para a documentação do patrimônio

referenciados em cartas patrimoniais e guias nacionais.

O planejamento do registro servirá como documento orientador para os procedimentos

do inventário científico a ser construído a partir da metodologia do Programa

Monumenta/IPHAN (levantamento cadastral, documentação histórica, topografia,

elementos integrados, documentação fotográfica), do uso de técnicas diretas e indiretas

para o registro e processamento da informação de baixo custo e não invasivas e dos

critérios de qualidade de documentação do patrimônio (Cadernos Monumenta-IPHAN) e

internacionais (Council Europe, CIPA-ICOMOS, Getty Conservation Institute, English

Heritage, Historic England, ICOM). O planejamento do processo de captura (tomada

fotográfica) utilizará como base o “Metric Survey for Heritage Documentation”

(CIPA/ICOMOS, 2007), “Recording, Documentation and Information Management for

Conservation Heritage Places” (Getty Conservation Institute, 2007) e Minimum

requirement for metric use of non-metric photographic documentation (D’Ayala &

Smars, 2003). As etapas são: levantamento fotográfico para processamento

fotogramétrico, elaboração da nuvem de pontos e transformação em modelo de malha,

importação em software BIM, tratamento do modelo com inserção de parâmetros dos

elementos construtivos e elaboração de documentação.

O segundo objetivo específico é o de capacitação da equipe para elaboração de

levantamento físico combinando técnicas diretas e indiretas de registro de baixo custo e

não destrutivas, capazes de capturar grande volume de informações com precisão.

Planejamos uma capacitação a ser ministrada por docentes e ex-alunos do Curso de

Engenharia de Agrimensura e Cartografia da UFRRJ para que a equipe seja capaz de

conduzir não somente este levantamento, mas outros que serão necessários para a gestão

das edificações da UFRRJ.

O processamento dos dados do levantamento físico seguirá as metodologias propostas

por Groetlaars (2015) e Tolentino (2018) inclui a geração e processamento da nuvem de

pontos obtida por meio da técnica Dense Stereo Matching com a utilização do software

Agisoft Photoscan disponível no Laboratório de Informática Aplicada à Arquitetura e

Urbanismo da UFRRJ. As etapas são: inserção de fotos, correlação das fotografias através

da associação automática de feições, reconstrução da geometria do objeto e da câmera

(Structure from Motion) para geração de nuvem de pontos esparsa, associação densa de

pixels homólogos (Dense Matching), criação do modelo geométrico em forma de “nuvem

de pontos” densa ou malha triangular, preenchimento de vazios, filtragem ou

simplificação da malha, correção da escala e posicionamento espacial do modelo a partir

das coordenadas tridimensionais obtidas por levantamento topográfico, exportar a nuvem

de pontos ou malha TIN para realização do pós-processamento.

O pós-processamento da nuvem de pontos ou malha TIN para a criação de modelo

paramétrico da informação da construção utilizará a ferramenta Autodesk Revit versão

educacional disponível no Laboratório de Informática Aplicada à Arquitetura e

Urbanismo da UFRRJ. As informações sobre os elementos construtivos e estado de

conservação serão codificadas utilizando-se as normas da informação da construção

(NBR 15.965). Soma-se ainda ao modelo as informações técnicas fornecidas sobre a

edificação pela COPEA/UFRRJ, considerando o maior nível de detalhamento (ND) e

Nível de Informação (NI) dos elementos modelados tendo em vista a necessidade de

extração de quantitativos para elaboração de documentação básica para elaboração dos

projetos de intervenção e conservação preventiva.

Para a elaboração do modelo 3d da edificação será necessário que os dados sejam

sistematizados para parametrização em plataforma BIM. Prevemos a utilização das

normas técnicas da informação da construção (NBR 12.006-2 e 15.965), considerando as

propriedades dos materiais e dos elementos construtivos, estado de conservação de modo

que estejam associados às propriedades geométricas. Pretende-se que o modelo digital

seja um representante digital com dados consistentes e não redundantes capaz de

centralizar as informações da construção para que possa ser atualizado continuamente.

Deverá atender aos diferentes usos como para o planejamento de intervenções, projeto,

extração automática de quantitativos, elaboração de orçamentos de obras, planejamento

da utilização e planejamento de manutenções.

O terceiro objetivo é a disseminação das informações do projeto e da Residência do

Reitor. Pretende-se realizar palestras e exposição direcionada aos alunos do CTUR –

Colégio Técnico da UFRRJ, do CAIC - Centro de Atenção Integral à Criança e ao

Adolescente da UFRRJ/Prefeitura de Seropédica e CIEP Brizolão 155 - Maria Joaquina

de Oliveira / Prefeitura de Seropédica. Para tal será necessária a elaboração de material

de divulgação digital com apoio de tecnologia de realidade virtual e aumentada de baixo.

4. Considerações Finais

Este trabalho buscou apresentar o projeto de pesquisa elaborado por uma equipe

multidisciplinar de docentes e técnico-administrativos da UFRRJ que envolverá as três

etapas da documentação do patrimônio da UFRRJ, registro, processamento e

disseminação. É decorrente das pesquisas realizadas pela equipe que busca aplicar os

conceitos teóricos às atividades práticas que subsidiarão não somente pesquisas

científicas no âmbito da formação de arquitetos e urbanistas e de mestres do patrimônio

cultural, mas também, contribuir para a gestão do patrimônio pela administração central

da UFRRJ.

A equipe continuará a busca por apoio financeiro uma vez que os métodos dependem de

equipamentos com alta qualidade para que o registro produza um modelo minucioso e

detalhado e a equipe necessita de treinamento para uso das técnicas e tecnologias.

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