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Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015
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Responsabilidade Social Empresarial:
Programas De Voluntariado Nas Empresas e a Formação de Um Novo Tipo de
Trabalhador
Bruna Tamara de Souza Ferreira1
Resumo
A partir do contexto da reestruturação produtiva e do movimento neoliberal gestado no
Brasil na década de 1990, nota-se um alinhamento das empresas com o chamado
“Terceiro Setor”. Neste trabalho, tem-se por intento compreender o ideário da chamada
“Responsabilidade Social Empresarial”, ao verificar se os programas de voluntariado,
convertidos em “consciência cidadã”, se configuram como aparelhos ideológicos das
empresas. E se neste contexto, em que há um reposicionamento de discurso e postura
das empresas, haveria por parte dos trabalhadores a desejada adesão à ideologia do
trabalho voluntário, que é um produto político de reestruturação do capital. Com vistas a
apreender o novo papel do trabalhador, pesquisou-se um programa de voluntariado na
cidade de Uberlândia/MG. Por meio desta análise, será possível ainda, captar os reais
impactos desses programas, além de constatar se cumprem a sua tarefa em substituir a
ação estatal.
Palavras-chave: Terceiro Setor; Responsabilidade Social Empresarial; Programas de
Voluntariado; Trabalhadores; Reestruturação Produtiva.
1 Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Uberlândia e Mestranda no Programa de Pós
Graduação em Ciências Sociais (PPGCS/UFU). Email: [email protected].
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1. Breve Histórico Do Neoliberalismo
As políticas de ajuste de caráter neoliberal fazem parte de um movimento de
ajuste global, que se desenvolve num contexto de globalização financeira e produtiva.
Esse processo de ajuste global na economia mundial caracteriza-se por um rearranjo da
hierarquia das relações econômicas e políticas internacionais, feito sob a égide de uma
doutrina neoliberal, cosmopolita, gestada no centro financeiro e político do mundo
capitalista. Assim, as políticas de corte neoliberal – consagradas em 1989 pelo
economista norte-americano John Williamson no chamado “Consenso de Washington”
– caracterizam-se por “um conjunto, abrangente, de regras de condicionalidade
aplicadas de forma cada vez mais padronizada aos diversos países e regiões do mundo,
para obter apoio político e econômico dos governos centrais e organismo internacionais.
Trata-se também de políticas macroeconômicas de estabilização acompanhadas de
reformas estruturais liberalizantes”. (SOARES, p. 19, 2003)
Levando em consideração as premissas do neoliberalismo, entende-se seu
nascimento em decorrência a mutações do modelo produtivo e de desenvolvimento,
centrado num Estado intervencionista; sendo assim, observa-se na experiência inglesa
de conservadorismo de Thatcher2, a construção de uma “força estruturadora”
participacionista do processo de acumulação do capital e de desenvolvimento. As
consequências visíveis estruturais da adoção destas políticas podem estar diretamente
ligadas ao desregulamento das condições de trabalho e à flexibilização dos direitos
sociais, – em que há um conjunto de transformações que o capitalismo tem gestado no
âmbito dos processos de trabalho, dos padrões de consumo, da desregulamentação dos
direitos sociais, da expansão de fronteiras da acumulação do capital privado ou, ainda, das
formas de atuação e de intervenção dos Estados e de organismos internacionais
articuladores do capital como FMI, Banco Mundial ou mesmo os blocos econômicos.
2 Segundo Antues (2009), depois da ascensão de Margareth Thatcher e da implantação do projeto
neoliberal, a sociedade inglesa alterou-se profundamente, com graves consequências para o mundo do
trabalho. Mutações ocorreram em seu parque produtivo, passando pela redução das empresas estatais,
pela retração do setor industrial, pela expansão do setor de serviços privados, enfim, pela reconfiguração
da Inglaterra na nova divisão internacional do trabalho. Além, de enormes repercussões na forma de ser
da classe trabalhadora, de seu movimento sindical, de seus partidos, de seus movimentos sociais, de seus
ideários e valores.
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1.1 Neoliberalismo No Brasil
O governo no Brasil inicia, na década de 1990, a rediscussão sobre os princípios
do modelo de Estado vigente e suas funções público-administrativas, e passam a
reformular as parcerias público-privadas. Sendo assim, o fortalecimento do “terceiro
setor” como forma e possibilidade de administração, no Brasil, surge a partir da
pressuposta necessidade de uma Reforma do Aparelho do Estado, e que se estabelece a
partir da percepção do esgotamento do modelo administrativo burocrático.
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi criado o Ministério da
Administração Federal e Reforma do Estado (MARE), onde se consolidou a ideia de
substituição do modelo anterior (considerado burocrático) pelo modelo gerencial. O
“gerencialismo” parte da conjectura de que é necessária uma “flexibilização” na
administração pública, para superar e reduzir o formalismo e a rigidez, ao mesmo tempo
em que se aperfeiçoem os mecanismos de controle do Estado, para se “adequar” aos
governos democráticos contemporâneos.
Segundo Marini (2005), o ano de 1995 sinalizou o marco das reformas
direcionadas à administração pública brasileira. Inicialmente, a Secretaria da
Administração Federal (SAF) foi transformada, por iniciativa do então presidente
Fernando Henrique Cardoso, em um novo ministério, o MARE, que, além das funções
tradicionais de gestão da função pública, assumiu o papel de coordenador do processo
de reforma do aparelho do Estado. O MARE foi assumido pelo ministro Luiz Carlos
Bresser-Pereira a convite de FHC, e, de acordo com o ex-ministro, no período de 1995 a
1998 ele foi o principal responsável por esta reforma. “A reforma é gerencial porque
busca inspiração na administração das empresas privadas, e porque visa dar ao
administrador público profissional condições efetivas de gerenciar com eficiência as
agências públicas” (BRESSER-PEREIRA, 2000, p. 71). Nesse sentido, a administração
do Estado e do setor privado seriam similares na medida em que a reforma descentraliza
e autonomiza as agências do Estado, define indicadores de desempenho para as
organizações resultantes e cria quase-mercados e mecanismos de fiscalização social
para seu controle em adição ao controle gerencial por resultados.
A Reforma Gerencial do Estado abarcou três dimensões: institucional-legal,
cultural e de gestão. De acordo com o ex-ministro, ao mesmo tempo em que as novas
instituições eram definidas, ocorreria à quebra da estabilidade total dos direitos dos
servidores assegurados pela Constituição de 1988 e a ideia de transformar os serviços
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sociais e científicos prestados pelo Estado em organizações sociais, ou seja, em
organizações públicas não-estatais pelo orçamento do Estado e supervisionados por
meio dos contratos de gestão, ganhavam força. O ex-ministro da reforma argumenta que
a carta Magna de 1988 foi um retrocesso na história do país, além de ser responsável
pelo engessamento do aparelho estatal. Assim, já eram sinalizadas as intenções de
desmonte do sistema de proteção social do país e o início da transferência gradual dos
serviços básicos oferecidos pelo Estado e garantidos legalmente à população para a
sociedade civil organizada.
Montaño (2003) demonstra que o discurso de Bresser-Pereira era “pura
retórica”, pois os serviços sociais e assistenciais têm uma clara função social, não
mensurável financeiramente, portanto, não poderiam ser avaliados segundo critérios
gerenciais e nem empresariais.
Efetivamente, a retórica neoliberal (e seus ecos em diversas formas de
pensamento pós-moderno, pós-marxista entre outros) não cansa de
fazer referência ao “esgotamento do Estado - Nação” e/ou à “falência
do Estado - Providência” (ver, por exemplo, Rosanvallon, 1997). Com
isto, justificam a retirada do Estado de certas funções sociais e
providenciais e sua minimização e retração nos “gastos sociais”.
(MONTAÑO, 2007, s/p).
Destarte, na perspectiva de Montaño (2007), justifica-se a (contra-)-reforma do
Estado (seu ajuste fiscal e redução dos gastos e da intervenção social estatal) e o
estímulo às ações do chamado “terceiro setor” e do empresariado. E o que é um
“recorte” de políticas sociais e assistenciais da esfera estatal e uma redução relativa do
seu gasto social, passa a ser visto como uma “passagem” de um setor (o estatal, o
“primeiro”) para outro (o “terceiro setor”, a “sociedade civil”). No entanto, não ocorre
transferência de um setor para outro, mas uma radical mudança na concepção e
fundamentos da ação social. A consequência disso é a precarização dos serviços,
focalização da população atendida e perda dos direitos constitucionais do cidadão. Esta
mudança de concepção e fundamentos é encoberta com a ideia de passagem ou
transferência de responsabilidades e ações de um setor para outro. Como se a tensão
fosse entre “setores” (Estado, sociedade civil) e não entre concepções sobre a política
social.
Bresser-Pereira se considera um social-liberal e critica o modelo neoliberal,
elege a Reforma Gerencial de 1995 como uma alternativa ao neoliberalismo. “Oferece
uma combinação de instrumentos administrativos e políticos, apostando que desta forma
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logrará superar a ineficiência e o autoritarismo da burocracia e oferecer uma alternativa
ao individualismo radical da nova direita liberal” (BRESSER-PEREIRA, 2000, p. 72).
Segundo ele, “a transformação de serviços sociais estatais em públicos não-estatais não
significa que o Estado deixe de ser responsável por eles. Pelo contrário, todas as
evidências apontam para a conclusão de que o financiamento público estatal será cada
vez mais necessário” (BRESSER-PEREIRA; GRAU, 1999, p.34).
Todavia, Montaño (2003) afirma que as medidas tomadas pelo ex-ministro não
configuram um pacto social-liberal, mas sim, a aliança da hegemonia neoliberal que
substituiu com a reforma o pacto social-democrático dos anos 1980.
Nesse sentido, Bresser-Pereira elabora uma argumentação que levaria muitos
leigos no assunto a concluir que sua proposta se remete a uma terceira via, distinta da
social-democrata e da neoliberal, nem estadista, nem mercadista. Esta “terceira via”
remete à teoria de Anthony Giddens3, recriado no Brasil por Bresser. É enunciada como
um novo setor público não-estatal, que se tornaria responsável pelos excluídos e
deserdados que povoam a paisagem brasileira (PAOLI, 2002). A adesão da sociedade
civil a esta nova estratégia se constitui como uma forma do governo legitimar sua auto-
desresponsabilização social.
Montaño (2003) declara que os argumentos do ex-ministro da reforma são “pura
retórica demagógica”, já que Bresser denomina como Reforma Gerencial aquilo que foi
exatamente a continuidade do “ajuste estrutural macroeconômico” acrescido do
desenvolvimento de novas áreas mais de ordem “institucional-legal”, como as reformas
administrativa e da Previdência.
Para Montaño (2003), a reforma na realidade aspira: “Readequar a Constituição
de 1988 aos ditames do FMI, BM, OMC e aos postulados do Consenso de Washigton”
(MONTAÑO, 2003, p. 45). O projeto neoliberal, sob hegemonia do capital financeiro
que orientou a reforma estatal, teve como aspecto principal a substituição dos
postulados constitucionais para a Seguridade Social (Previdência, Saúde e Assistência
Social), por um novo trato à questão social.
Com isto, a constituição de um tripé neoliberal de intervenção social
composto por: a) a política social estatal – centrada na assistência e na
saúde, focalizada na população mais carente, e com um atendimento
precário e municipalizado; b) a ação filantrópico-solidária do
“terceiro setor” – centrado na assistência assistemática, de forte
caráter filantrópico e dirigido à população carente; e c) a intervenção
social empresarial – ora voltada para a venda de serviços sociais
3 (GIDDENS, 1998).
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(remercantilizando a ação social), dirigida à população de recursos, e
fundamentalmente orientada à venda de serviços previdenciários, de
saúde ou de educação, ora direcionada a uma ação tida como
“socialmente responsável”, particularmente na área da assistência ou
de ações de preservação do meio ambiente, mas com claros interesses
no “marketing social”. (MONTAÑO, 2007, s/p).
No próximo tópico, serão esboçadas as formas pelas quais o terceiro setor se
materializa, por meio da adesão do comportamento socialmente responsável.
2. Responsabilidade Social Empresarial
A chamada Responsabilidade Social Empresarial (RSE), forma empresarial
vigente, que no Brasil emergiu em meados da década de 1990, e que passou a fazer da
questão social, também, um mercado, é ao mesmo tempo prática e discurso da nova
modalidade de atuação das empresas.
De acordo com Antunes (2009), no Brasil, país subordinado ao centro do capital,
nas décadas de 1950 a 1970, vigorou a expansão de um capitalismo industrial pautado
na superexploração do trabalho, caracterizado por baixos salários e intensificação de
extração de mais-valia absoluta e relativa. Só a partir dos anos 1980, esse padrão de
acumulação começou apresentar algumas modificações que vão ao encontro da
flexibilização dos processos produtivos e das políticas neoliberais.
De encontro com a constatação supracitada, somente na década de 1990, com
Fernando Collor e, mais precisamente com Fernando Henrique Cardoso, a política
neoliberal foi tomada de forma efetiva pelos governos. E atualmente, ela está mais
expressiva e suas consequências mais significativas. As mudanças se caracterizam pelas
inovações tecnológicas e informacionais na gestão empresarial, enxugamento das
empresas e intensificação das formas de superexploração do trabalho.
A prática e o discurso da RSE, altamente difundidos no meio empresarial e com
repercussão social, têm sido utilizados para conceituar uma nova modalidade de atuação
das empresas que se apresentam como comprometidas com o fortalecimento econômico
e social do país. Dessa forma, empresas passam a ter, através de institutos e fundações,
forte e articulada atuação, sendo claramente funcionais a este movimento. Nesse
processo, a questão do controle social evidencia-se, pois, tanto Estado quanto empresas,
cada um a sua maneira, preocupam-se com a questão social. Nota-se que agora parece
haver outro consenso: um acordo com vistas à legitimação do poder social (do capital) e
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do projeto de sociabilidade das empresas quanto ao tratamento dos fenômenos
englobados pela chamada questão social. (GRACIOLLI & DINIZ, 2010).
Portanto, a racionalização da política neoliberal imprimiu no país um movimento do
qual se fez subsidiar os caminhos para a privatização de bens e serviços públicos e, também, o
caminho reverso, o da publicização do privado (do mercado e das empresas), ou seja,
transformar o que resta de público em privado. Expressão disso é o chamado “Terceiro Setor”.
Logo, a nova maneira de comportamento do Estado com relação à questão social, que emerge
via “terceiro setor”, se apresenta como infraestrutura de apoio que visa minimizar os impactos
da barbárie capitalista num momento em que se desmontam as políticas sociais estatais. Deste
modo, segundo Graciolli & Diniz (2010), o neoliberalismo procura reverter às reformas
desenvolvidas historicamente por pressão de lutas sociais dos trabalhadores, tendo seu ponto
máximo expresso na Carta de 1988.
2.1 O “Terceiro Setor” Na Ótica De Seus Defensores
De acordo com a visão de Melo Neto & Froes (1999), diminuir a pobreza e
eliminar a miséria em nosso país, é o grande desafio social que temos pela frente.
Segundo os autores, não será com o cinismo dos políticos, a incompetência dos
administradores públicos, a indiferença dos empresários e a alienação dos cidadãos de
1ª e 2ª classes, que vamos vencer este desafio e avançar na construção do nosso futuro.
“A solução está no “Terceiro Setor”: um novo campo de atividade a ser explorado pelas
empresas que querem exercer a sua responsabilidade social e tornar-se verdadeiramente
empresas-cidadãs.” (MELO NETO & FROES, 1999). E acrescentam,
Para as empresas o social emerge como um novo campo de
oportunidades onde elas poderão obter mais competitividade através
da agregação de valor social aos seus negócios. Para a comunidade e
entidades representativas e beneficentes, o social surge como um
espaço institucional de afirmação da sua capacidade de mobilização e
de eficiência operacional. Para o governo, a mudança será ainda
maior. É hora de desfazer-se de suas estruturas burocráticas e
ineficientes, de suas práticas clientelistas e assistencialistas e de sua
gestão perdulária. Mas a maior mudança virá das empresas. Muitas
delas já estão surfando na onda do Terceiro Setor. Vêm atuando de
forma inovadora através de ações sociais de grande impacto na
sociedade. [...] Hoje, já não basta satisfazer os clientes, obter
qualidade e agregar valor. Necessário se faz atender aos apelos da
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comunidade e obter o tão desejado “selo social”. (MELO NETO &
FROES, 1999).
A definição do “terceiro setor” apresentada pelos autores (MELO NETO &
FROES, 1999) é a explicitada por Ruth Cardoso na abertura da Assembleia Geral para a
Abertura da 50ª Conferencia Anual do Departamento de Informação Pública – DIP –, da
Organização das Nações Unidas – ONU. A – naquele momento – Presidente do
Conselho da Comunidade Solidária apontou algumas razões para o crescimento do
“Terceiro Setor”: i) “o Estado sozinho não poderia confrontar os desafios do
desenvolvimento equitativo e sustentável”; ii) “o crescimento das organizações não
governamentais no campo de projetos sociais específicos”; iii) “a quebra da dicotomia
tradicional entre as esferas particulares e pública, onde particulares significavam
negócios, e pública significava Estado e governo”; e iv) “o esgotamento dos modelos de
controle impessoal do Estado e da lei do mercado e de lucro”. Ruth Cardoso ainda,
explicitando o conceito e a abrangência do “Terceiro Setor”, discorreu sobre as suas
principais características: - uma nova esfera pública, não necessariamente
governamental; - constituída de iniciativas privadas e benefício do interesse comum; -
com grande participação de organizações não governamentais; e – compreendendo um
conjunto de ações particulares com o foco no bem-estar público. Ao finalizar a sua
apresentação, Ruth Cardoso reforçou o papel do “terceiro setor” como fator ativador da
dinâmica social do país, tornando-a mais diversificada e complexa. (MELO NETO &
FROES, p. 7-8, 1999).
Faço destaque para as observações dos autores quanto ao trabalho voluntário,
segundo eles, cada vez mais as atividades sociais – para populações marginais
desassistidas – atraem um contingente considerável de trabalhadores voluntários. “É o
voluntariado a serviço das causas sociais”. (MELO NETO & FROES, 1999, p. 11).
No exercício da Responsabilidade Social e da Cidadania Empresarial4, o
conceito de responsabilidade social de uma empresa consiste na sua “decisão de
participar mais diretamente das ações comunitárias na região em que está presente e
minorar possíveis danos ambientais decorrente do tipo de atividade que exerce”.
Contudo, só isto não é suficiente, é necessário investir no bem-estar dos seus
funcionários e dependentes e num ambiente de trabalho saudável, além de promover
4 O exercício da cidadania empresarial é resultante das ações internas e externas de responsabilidade social
desenvolvidas pela empresa.
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comunicações transparentes, dar retorno aos acionistas, assegurar sinergia com seus
parceiros e garantir a satisfação de seus clientes e/ou consumidores.
2.2 “Terceiro Setor” E (Suas) Dissonâncias
Após imersão dentro da visão de mundo que adere o “terceiro setor” como uma
alternativa eficaz, torna-se possível verificar altercações acerca dos que se contrapõe a
essa visão.
Ao examinar a análise de Montaño (2003) sobre o “terceiro setor”, o debate é
posto. Pois, o uso desse conceito, segundo ele, parte de uma inspiração pluralista,
estruturalista ou neopositivista que, isola os supostos “setores” uns dos outros e
concentra-se em estudar, o que entende que constitua o terceiro setor, de forma
desarticulada da totalidade social.
O termo “terceiro setor”, como elucida Montaño, possui algumas debilidades
conceituais e teóricas, haja vista que, conceitualmente este setor não deve ser entendido
como superador da dicotomia público/privado – o que é defendido por seus teóricos –,
pois ao considerá-lo historicamente sociedade civil ele deveria aparecer como o
“primeiro”. Outra debilidade, esta de cunho teórico, se refere a quais entidades o
compõem?, o que se apresenta é a falta de rigor na caracterização deste “setor”, e esta
dúvida conceitual, de grande relevância, parece não apresentar consenso sobre a sua
resposta.
O “terceiro setor”, por meio de seus diversos agentes – como organizações não
governamentais (ONGs), organizações sem fins lucrativos (OSFL), organizações da
sociedade civil de interesse público (OSCIPs), empresas cidadãs, instituições
filantrópicas e religiosas, associações, comunidade, família, voluntários –; traz para o
domínio privado supostas soluções para a questão social, retirando do Estado sua
responsabilidade. Assim, se conformaria uma ‘rede de solidariedade’, de forma
descentralizada e focalizada, que minimizaria os prejuízos da exclusão efetuada pelo
capital, embora essa determinação não seja assim apresentada.
Nesse contexto de reorganização do capital e da contrarreforma do Estado, o
“terceiro setor” se torna funcional ao projeto neoliberal. Na qual a retirada da
responsabilidade do Estado no que tange às ações e políticas sociais, se faz
paulatinamente, levando à refilantropização da questão social. Ou ainda, ao ampliar sua
influência, o “terceiro setor” contribui para a desorganização e desmobilização dos
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trabalhadores sobre as causas de reprodução das desigualdades. A RSE ao se apresentar
como a estruturação da influência dos valores de solidariedade e cidadania na ação das
empresas abarca, mais recentemente, as chamadas “empresas cidadãs”.
Outrossim, o fenômeno da RSE, além de se constituir numa prática do
empresariado para fortalecer a imagem da empresa e aumentar o lucro, esconde uma
funcionalidade mais profunda e que tem a ver com a disputa por hegemonia5.
Há, portanto, uma ressignificação da sociedade civil, e torna visível que a RSE,
que se legitima e se desenvolve por meio do discurso do “terceiro setor”, se constitui
como as demais organizações deste, um poderoso aparelho privado de hegemonia, pois
busca, na sociedade civil, a aceitação ativa das classes dominadas ao processo de reestruturação
do capital, por meio da propagação de valores, ideias e concepções de mundo de cunho
neoliberal, tais como a afirmação dos critérios de eficiência e racionalidade das corporações
(grandes empresas) também para a vida política e para a definição de medidas para a questão
social. É a elevação da governança corporativa ao status de parâmetro gerencial. Logo, se
chega à conclusão que a empresa, também, é um aparelho ideológico.
Veremos agora, na terceira parte, como esta prática se concretiza no plano do campo
social.
3. O Fenômeno da Responsabilidade Social Empresarial e a Materialização do
“Terceiro Setor” no Campo Social
O presente trabalho teve por intento analisar o alinhamento de uma empresa
brasileira ao ideário neoliberal, por meio da adesão do comportamento socialmente
responsável em suas práticas; com vistas a apreender o novo papel do trabalhador, em
um programa de voluntariado do Grupo Algar na cidade de Uberlândia/MG6.
5 Deste modo, faço uso das concepções de Antônio Gramsci para realizar uma análise crítica sobre a implicação
político-ideológica da RSE. Gramsci tem, na sua teoria (ampliada) do Estado, uma das concepções mais originais e
fecundas à intelecção acerca do mundo contemporâneo. O Estado, para ele, longe de ser uma esfera autônoma e
estranha às contradições da sociedade capitalista, é concebido como a instituição que garante e reproduz a divisão da
sociedade em classes, preservando os interesses de uma classe particular, tentando afirmá-los como universais. Ao
notar o surgimento dos grandes partidos de massa e sindicatos, percebeu que houve uma consolidação de uma nova
esfera social que possuía uma relativa especificidade e autonomia em relação ao Estado estrito senso e à estrutura
econômica. Isso fez Gramsci perceber que a classe dominante garantia o consentimento das classes populares por
meio de mecanismos que iam além da repressão e que tinham atuação privilegiada nessa nova esfera social, a
sociedade civil. Assim, a sociedade civil foi trazida para a superestrutura
para explicar aquilo que o elemento coerção
por si só não poderia fazê-lo: a dominação sobre as classes populares também se expressa pelo consentimento ativo a
uma ideologia, ou seja, a uma “concepção do mundo, que se manifesta implicitamente na arte, no direito, na atividade
econômica, em todas as manifestações de vida individuais e coletivas” (GRAMSCI, 1981, p. 16).
6 A escolha do Instituto Algar nesta pesquisa se deu, principalmente, devido ao expressivo impacto político-
econômico que o Grupo Algar possui na região onde atua e à representatividade do Instituto no que diz respeito à
prática da RSE. Para exemplificar, no ano de 2007, o Instituto Algar (IAR), em nome das empresas Algar, recebeu o
selo de 50 Melhores empresas em cidadania corporativa, título cedido pela consultoria Gestão & RH. No mesmo
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A organização do Programa é constituída pelo Comitê Gestor e pelos Comitês de
Voluntariado estruturado em cada empresa Algar de Uberlândia e em cada cidade onde
o Grupo atua. Os Comitês de Voluntariado são formados pelos “associados” que se
candidatam a participar da coordenação dos projetos dentro das empresas onde atuam,
realizando as tarefas dentro do horário de trabalho. Assim, a adesão ao Comitê é
voluntária, mas o trabalho é remunerado sendo, portanto, o novo papel do funcionário
dentro da empresa7.
De acordo com a sua autoapresentação, o Algar Inclui é um programa de atuação
voluntária dos associados das empresas Algar com alunos das escolas públicas
parceiras. Ao que se refere às atividades do programa, estas estão dividas em “Clube da
Leitura” e “Clube da Correspondência”8. Os programas têm ciclos de um ano, e as
parcerias com as escolas são estabelecidas pelo Instituto Algar.
3.1 Atual Cenário Da Prática Do Voluntariado
Sendo neste trabalho, o foco central os voluntários de uma empresa privada, que
são incentivados por ela a se envolverem em projetos de responsabilidade social em seu
nome. Nota-se que há uma demanda por sujeitos pensantes, com escolaridade e
criatividade para enfrentar situações inusitadas. Neste novo cenário, fruto da
reestruturação produtiva, são envolvidas sensíveis mudanças no mundo do trabalho, que
constatam que a emergência do “terceiro setor” está intrinsecamente ligada à
reestruturação produtiva em um contexto orientado por políticas de cunho neoliberal
ano, o IAR foi vencedor do II Prêmio Nacional de Excelência na Educação (Educare) em três categorias. Além disso,
desde 1999, o Instituto Algar, por meio da Algar Telecom, mantém o selo Empresa Amiga da Criança, fornecido pela
Fundação Abrinq Direitos da Criança e do Adolescente, pelos programas sociais que desenvolve. A pesquisa incluiu
a investigação do Projeto Algar Inclui, devido à necessidade de analisar o fenômeno da RSE sobre uma realidade
concreta e objetiva. A análise de campo se constitui, sobretudo, na realização de entrevistas com os gestores do
projeto e trabalhadores que participam do voluntariado na empresa. Além disso, foi analisado um vasto material
produzido pelo Instituto, como revistas, sítios virtuais, relatórios, balanços sociais, entre outros. Ao que se refere às
entrevistas, optou-se pela preservação da identidade dos entrevistados.
7 O Instituto Algar de Responsabilidade Empresarial foi criado em 2001, em Uberlândia – MG, com o intuito de gerir
os projetos e investimentos sociais das empresas do Grupo Algar. Com a receita líquida, em 2010, de R$ 2,6 bilhões,
a Algar constitui um dos maiores grupos empresariais do Brasil, e atualmente, atua nas seguintes áreas: TI/Telecom
(Algar Tecnologia e Algar Telecom), agronegócios (Algar Agro – marcas: ABC Minas e farelo de soja RaçaFort),
serviços (Algar Aviation, Algar Mídia, Algar Segurança, ENGESET e COMTEC) e turismo (Rio Quente Resorts). O
Grupo possui, atualmente, cerca de mais de 20.000 “associados” e atua primordialmente nas regiões Sudeste e
Centro-Oeste do País.
8 O Programa é desenvolvido em escolas públicas de Ensino Fundamental, localizadas em 20 cidades de 7 estados
brasileiros: Goiás (Itumbiara); Maranhão (Balsas e Porto Franco); Mato Grosso do Sul (Paranaíba); Minas Gerais
(Araguari, Araxá, Divinópolis, Frutal, Ituiutaba, Iturama, Pará de Minas, Patos de Minas, Patrocínio, Uberaba e
Uberlândia); Rio de Janeiro (Rio de Janeiro); São Paulo (Franca, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto). Além das
escolas, envolve também nessas mesmas cidades Comitês de voluntariado das empresas do Grupo Algar.
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que, aliadas ao processo de globalização do capital e aos novos modos de gestão das
empresas, estão criando um novo tipo de trabalhador e também novas formas de
controle desses funcionários. Este novo sujeito, em função das reduções dos postos de
trabalho – como alguma das consequências do avanço tecnológico –, tem se visto
obrigado a se adequar às novas estratégias delineadas pelas empresas.
Os “valores” e as “atitudes” que permeiam a ação voluntária empresarial
denotam o interesse velado das empresas que os utilizam enquanto mecanismos com
vistas a potencializar a produtividade do trabalhador inserido na “planta produtiva”, pois
incentivam comportamentos como “trabalho em equipe”, “compromisso”, “iniciativa”,
“disciplina”, entre outros, que otimizam os rendimentos da empresa.
3.2 Entrevistas
Segundo a responsável pelo Instituto, atualmente, em Uberlândia contam com
370 voluntários na empresa9, sendo que 29 desses voluntários atuam no Programa Algar
Transforma e 341 atuam no Programa Algar Inclui.
Foram realizadas no total seis entrevistas, sendo uma delas com a gestora do
Instituto Algar, responsável pelo voluntariado na empresa desde o ano de 2007. Uma
segunda entrevista foi feita com o Líder Social de um Comitê de voluntariado, e por
fim, se aplicou um roteiro de perguntas com quatro associados e voluntários do
Programa Algar Inclui, escolhidos e indicados pelo Líder Social do Comitê pesquisado.
A partir das entrevistas foi possível constatar, que o índice de desligamento do
programa é muito pequeno. Sendo um dos desafios relevantes do trabalho voluntário na
empresa, a conciliação das ações do voluntariado com os compromissos pessoais e
profissionais dos voluntários. Apreendeu-se ainda, que os associados entrevistados do
comitê Algar Segurança são pessoas na fase intermediária da vida profissional e que
embora não tenham expressado isso verbalmente, percebem que a atuação como
voluntário é uma boa oportunidade para alcançar cargos mais altos na empresa, além de
serem bem vistos pela diretoria da empresa. O discurso predominante é que a ação
voluntária é uma ação pessoal e não profissional e a empresa é um instrumento que
facilita o engajamento do voluntário nos projetos sociais.
Com relação às atividades, o que existe na verdade são algumas intervenções
que acontecem em dias específicos, combinados anteriormente com a escola, como se
9A Algar conta com aproximadamente 21,2 mil funcionários (associados), com presença em mais de
1.000 cidades em todo o território nacional.
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fosse um evento, um dia que a escola suspende suas atividades para receber os
voluntários. Mesmo que tenham o intuito de influenciar os alunos para maior interesse
na leitura e escrita, essas intervenções não tem o poder de mudar a realidade dos
mesmos e nem fazer uma diferença significativa na escola, pois como informado por
eles, às atividades beneficiam apenas uma turma por ano em ações que são esporádicas.
Nessa direção, eles não têm estrutura e muito menos condições de assumirem serviços
que competem ao Estado, além da falta de estabilidade, pois não há garantias de até
quando estes serviços serão oferecidos. Constata-se, que existe esta grave fragilidade no
bojo das ações desenvolvidas pela esfera mercadológica. Está havendo uma ampla
divulgação de ações que na realidade não se concretizam nessas proporções. São ações
importantes, mas não substituem a ação do Estado, não a ponto de sugerirem como
muitos autores o fazem, de deixar a educação, saúde, cultura, apenas nas mãos da
sociedade civil, isentando o Estado.
Assim, evidencia-se o caráter lucrativo da ação social empresarial, o marketing é
maior do que propagandas na mídia e as isenções de impostos são muito atraentes para
o empresariado e a ideia de que a preocupação com a comunidade está em primeiro
lugar, é falaciosa. Outro elemento refere-se à adesão dos gerentes aos trabalhos
voluntários, que ao convidarem os demais funcionários acabam promovendo certa
pressão psicológica para uma adesão mais ampla10
.
Ao que concerne à categoria trabalho voluntário, foi possível apreender que esse
trabalho não é tão voluntário assim. Ele é interessado tanto pelos empresários quanto
para os funcionários. Além disso, a empresa normalmente tende a redirecionar as ações
que seus funcionários já realizam fora do âmbito da empresa.
Considerações Finais
Há críticas aos programas de voluntariado realizados pelas “empresas cidadãs”
no que concerne a instrumentalização das ações dos trabalhadores. O que resultaria num
10 Para alcançar esse intento, a empresa utiliza um mecanismo denominado por Antunes e Alves (2004) como captura
da subjetividade do trabalhador. Segundo esses autores, o modo de produção capitalista pressupõe um envolvimento
operário, ou seja, formas de captura da subjetividade operária pelo capital. “O que muda é a forma de implicação do
elemento subjetivo na produção do capital, que, sob o taylorismo/fordismo, ainda era meramente formal e com o
toyotismo tende a ser real, com o capital buscando capturar a subjetividade operária de modo integral” (ANTUNES;
ALVES, 2004). Claro que, a rigor, a subjetividade do trabalhador, ou de qualquer outro agente socioeconômico, não
é, em termos absolutos, capturável, pois a resistência e a possibilidade de percepção, em graus diversos, dos
antagonismos que constituem a vida social estão sempre postas, mesmo que de forma latente. Entretanto, a
formulação nos parece procedente, desde que tenhamos essa ressalva em mente.
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fortalecimento da imagem da empresa e de seus produtos e serviços. No entanto, essa
concepção, mesmo que verdadeira, é insuficiente para captar a função real que esses
programas exercem sobre os trabalhadores se tal fenômeno for inserido dentro de um
cenário mais amplo, o da totalidade social. Ao contrário do “gorila amestrado”
apregoado pelo modelo fordista/taylorista de produção, o trabalhador flexibilizado, que
surge a partir da reestruturação produtiva, é reconhecido não mais apenas pela
capacidade física, mas, principalmente, pela sua inteligência, criatividade e habilidade
organizacional, colocadas a serviço das metas e concepções de mundo do capital. Nesses
termos, em torno de um eixo central de adesão, a solidariedade e a vontade de mudança, a classe
dominante, a fim de garantir sua hegemonia sobre os trabalhadores, são responsáveis pela
formação de uma nova subjetividade e de um de novo tipo de trabalhador: o trabalhador
voluntário, o associado voluntário. (GRAMSCI, 1980, p. 376).
Neste aspecto, haveria uma soma da noção de associado a ideia de voluntário, no
qual o ideário de mudança social que se deveria inculcar no trabalhador, seria aquele de
ajuda mútua. As iniciativas de formar os trabalhadores não são, nesse sentido, livres de
compromissos políticos, pois também são lócus de propagação de projetos e concepções
de mundo. O trabalhador voluntário se constitui, portanto, num produto político da
reestruturação do capital.
É sabido que, a nova intervenção da empresa, agora considerada ― cidadã, se
conforma aos imperativos e arranjos neoliberais na medida em que busca o rompimento
com a via público-estatal para a ampliação de direitos e proteção social, e declara o
mercado como o modelo legítimo de atuação e gestão social. A prática da RSE deixou
de ser um simples modismo e se torna, cada vez mais e de fato, um novo “ethos” que
vem reorientando a postura e o discurso das empresas. Principalmente para as grandes
corporações, a ação socialmente responsável é um item quase que obrigatório para sua
sobrevivência no mercado. É neste cenário, que se forma um novo tipo de trabalhador,
o qual além de ter a sua classe desmobilizada, se torna o voluntário associado da
empresa, reproduzindo a visão da classe hegemônica e se tornando o agente ativo desses
programas.
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