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Resposta Imune Humoral

Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação

Professora Ana Paula Peconick Tutor Karlos Henrique Martins Kalks

Lavras/MG 2011

Espaço a ser preenchido pela biblioteca

Ficha catalográfica preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA

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______________Mecanismos efetores da resposta imune humoral______________

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Índice

UNIDADE 12 .......................................................................... 5

12.1 Introdução ..................................................................... 6

12.2 Neutralização de antígenos ............................................ 7

12.3 Opsonização mediada por anticorpos ............................. 8

12.4 Citotoxidade celular dependente de anticorpos ............ 10

12.5 Sistema complemento .................................................. 12

12.5.1 Componentes do complemento .............................. 14

12.5.2 Via clássica do complemento ................................. 15

12.5.3 Via alternativa do complemento ............................. 18

12.5.4 Via das lecitinas do complemento .......................... 20

12.5.5 Complexo de ataque a membrana .......................... 21

12.6 Ativação de mastócitos, basófilos e eosinófilos

Erro! Indicador

não definido.

12.7 Conclusão .................................................................... 25

12.7 Bibliografia .................................................................. 26

______________Mecanismos efetores da resposta imune humoral______________

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UNIDADE 12

OBJETIVO: Conhecer os mecanismos responsáveis pela resposta imune

humoral destacando seus componentes.

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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4.1 Introdução

Moléculas de anticorpos produzidas pelo organismo

são as responsáveis fundamentais na resposta

imunológica humoral desenvolvida contra micróbios

extracelulares e toxinas microbianas. Para serem efetivos

contra patógenos os anticorpos não devem somente

reconhecerem o antígeno, mas também devem invocarem

respostas (funções efetoras) que irão resultar na remoção

e morte dos patógenos.

Enquanto regiões variáveis nos anticorpos são

responsáveis pelo reconhecimento e ligação destes aos

antígenos, regiões constantes na cadeia pesada (CH) são

responsáveis por uma variedade de interações

colaborativas com outras proteínas, células e tecidos, que

resultam na ativação dos mecanismos efetores da

resposta imune humoral.

São várias as formas como os anticorpos participam

nos mecanismos efetores da resposta imune humoral,

como na interação entre a resposta imune celular e

humoral, dentre elas: neutralização de micróbios e

toxinas, opsonização de micróbios, citotoxidade celular

dependente de anticorpos, ativação do sistema

complemento e ativação de mastócitos, basófilos e

eosinófilos.

Leia o capítulo sobre anticorpos no livro texto,

observando com atenção as estruturas responsáveis pela

indução dos mecanismos efetores da resposta imune

humoral.

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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4.2 Neutralização de antígenos

Fundamentalmente, existem duas formas dos

anticorpos neutralizarem (inibirem atuação) antígenos.

Eles podem atuar através da ligação direta aos antígenos

ou então, pela interação com os receptores celulares que

seriam utilizados para ligação dos antígenos.

Quando anticorpos ligam-se a estruturas sobre os

microrganismos, ele podem neutralizar estes por

obstáculo estérico, ou seja, eles inibem a ligação das

estruturas dos antígenos aos seus receptores sobre as

células alvo, impossibilitando por exemplo a adesão de

células bacterianas através da interação de seus pili com

as células dos hospedeiros. Um outro mecanismo de

neutralização conhecido como efeito alostérico, também

pode ser desencadeado pela ligação dos anticorpos aos

antígenos. Neste, a ligação do anticorpo sobre a partícula

microbiana ou toxina leva a indução de uma alteração na

conformação, o que inibe a interação da partícula com o

receptor específico, dessa forma impossibilitando a

atuação do patógeno ou toxina.

É interessante destacar que neste tipo de

mecanismo efetor da resposta imune humoral apenas dois

componentes são requeridos, o antígeno e o anticorpo.

Além do mais, nenhum envolvimento da região constante

do anticorpo também é necessária, sendo assim, a

neutralização pode ser executada por qualquer isotipo de

anticorpo presente na circulação ou secreções mucosas.

Neste mecanismo o que importa é a afinidade do

anticorpo pelo antígeno. Anticorpos de alta afinidade

executam a função melhor do que anticorpos de baixa

afinidade, sendo assim, IgGs que possuem em média

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maiores afinidades que outras imunoglobulinas funcionam

como melhores agentes da neutralização de antígenos.

Figura 1. Neutralização de micróbio e toxinas por anticorpos (modificado de ABBAS et al., 2007).

4.3 Opsonização mediada por anticorpos

Opsoninas são substâncias que aumentam as

funções de fagócitos ativados. Entre as opsoninas os

anticorpos se destacam, pois ligam-se com alta afinidade

a antígenos específicos colaborando assim com o processo

de fagocitose realizados por células do sistema

imunológico.

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O mecanismo de atuação dos anticorpos como

opsoninas inicia quando esses se ligam aos antígenos

através de suas porções Fabs. Quando muitos anticorpos

complexam com o mesmo antígeno alvo, como a parede

bacteriana, eles produzem uma interação que resulta na

ligação do patógeno à membrana das células fagocitárias.

Células fagocitárias possuem em sua membrana

receptores chamados Fc (FcR), os quais são específicos na

ligação com a porção Fc das moléculas de

imunoglobulinas. Muitos diferentes tipos de receptores Fc

têm sido identificados sendo que oito deles são

conhecidos em participar nos mecanismos efetores da

fase humoral da resposta imune. Entretanto, alguns

isotipos de anticorpos são melhores opsoninas que outros.

Geralmente, anticorpos IgGs funcionam como melhores

opsoninas.

A ligação cruzada entre os FcR das células

fagocitárias e a porção Fc dos anticorpos inicia uma via de

transdução de sinal, iniciada pela cadeia γ do FcR. A

cadeia γ como a cadeia ζ do TCR, contém motivos de

ativação baseados em imunoreceptores de tirosina

(ITAMs) em sua porção citoplasmática, os quais são

requeridos para a transdução do sinal. O agrupamento de

FcRs por agregados de anticorpos ligados ao antígeno

resulta na ativação da família de Src-quinases que

fosforilam os resíduos de tirosina sobre os ITAMs

presentes na porção citoplasmática da cadeia γ dos FcRs.

Assim, ocorre o recrutamento e ativação de SyK tirosinas

quinases e consequentemente várias outras sinalizações,

que resultam na fagocitose do complexo antígeno

anticorpo. Dentro dos fagócitos, o patógeno torna-se alvo

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para uma variedade de processos destrutivos que incluem

a digestão enzimática, dano oxidativo e efeitos de ruptura

na membrana.

Figura 2. Via fagocítica em macrófagos – fagocitose mediada por FcRs. (a) Opsonização via anticorpos; (b) Ligação do FcRs inicia cascata sinalizadora que resulta na polimerização da actina e extensão da membrana plasmática, até completo englobamento do antígeno; (c) Fusão do endossomo precoce resulta em um ligeiro abaixamento do pH provocando o desacoplamento dos ligantes aos seus receptores facilitando a reciclagem dos receptores pela proteína Rab; (d) Fusão com o endossomo tardio provoca acumulo de fofoslipídeos resistentes ao ambiente ácido e uma queda no pH; (e) que resulta na ativação de um número de enzimas proteolíticas; (e) Sob certas condições o fagossomo pode conter marcadores de superfície para o retículo endoplasmático,o qual contribui diretamente para criação da membrana fagocítica em algumas circunstâncias (modificado de WILLIAM et al., 2008).

4.4 Citotoxidade celular dependente de anticorpos

A ligação dos anticorpos aos seus antígenos alvo,

como células do hospedeiro infectadas por vírus, através

dos FcRs de um número de células, particularmente

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células Natural Killers (NK), podem direcionar atividades

citotóxicas de células efetoras contra células alvo. Este

processo é chamado citotoxidade celular dependente de

anticorpos (ADCC), no qual o anticorpo atua como um

receptor possibilitando o reconhecimento e a morte das

células alvo. Ente as células que medeiam a ADCC além

das células NK, os macrófagos, monócitos, neutrófilos e

eosinófilos também executam essa função.

Quando macrófagos, neutrófilos, ou eosinófilos

ligam-se a células alvo por uma via do receptor Fc, eles

tornam-se mais ativos, e como resultado, enzimas líticas

dos seus lisossomos como os grânulos no seu citoplasma

aumentam. Posterior liberação dessas enzimas e grânulos

contendo perfurinas e granzimas no sítio de contato

mediado pelo FcR, resulta em danos a célula alvo, que

pode ser uma célula infectada por um patógeno.

Células natural killers expressam o receptor FcγRIII

(CD16) através do qual podem executar a ADCC em

células marcadas com imunoglobulinas G (IgGs). As

moléculas transmembranas FcγRIII são fisicamente

associadas com FcεRIγ e menos comumente com CD3ζ,

além de se associarem com heterodímeros γ –ζ. A

associação com essas moléculas são necessárias para

uma ótima expressão superficial do receptor como

também para uma boa indução da via sinalizatória que

ativará os mecanismos celulares necessários para a

ADCC. Após a ligação com o anticorpo o receptor FcγRIII

ativa eventos bioquímicos que levam a exocitose dos

componentes presentes nos grânulos das células NK,

além de ativar a produção de citocinas como IFN-γ. Assim

apesar das células NK serem consideradas células do

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sistema imune inato, através de sua ativação pelos

receptores CD16 elas também constituem uma parte da

resposta imune adaptativa contra patógenos.

Figura 3. Citotoxidade celular dependente de anticorpos. Receptores sobre células natural killers (a) e eosinófilos (b) permitem a eles aderirem e destruírem células infectadas e parasitas sobre os quais os anticorpos se ligaram (modificado de DOAN et al., 2007).

Procure e revise junto aos seus colegas quais são os tipos

celulares envolvidos nas respostas imunológicas inata e

adquirida.

4.5 Sistema complemento

A quase um século atrás, o pesquisador Jules

Bordet identificou componentes protéicos no soro livre de

anticorpos importantes na atividade bactericida. A estes

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constituintes foi dado o nome de complemento, pois eles

completavam os efeitos de anticorpos específicos na lise

de bactérias e células vermelhas do sangue.

A origem do sistema complemento é muito anterior

aquela da imunidade adaptativa, a qual foi encontrada

somente em vertebrados mandibulados. Um sistema

complemento foi identificado em alguns invertebrados

deuterostômios, constituindo nesses animais um dos

sistemas imune inato mais organizado.

O sistema complemento representa uma família de

mais de 35 proteínas do soro e receptores de superfície

celular que atuam em cascata de forma a ativar tanto

funções da imunidade inata como da imunidade

adaptativa. Uma variedade de estímulos pode ativar o

sistema complemento, como a presença de complexos

imunes, células apoptóticas, presença de tecidos não

próprios, como a que ocorre após transplantes, e padrões

moleculares antigênicos. Um grande espectro de funções

efetoras são executas após estímulo do complemento,

como retirada “limpeza” dos imune-complexos e células

apoptóticas, aumento da inflamação e cooperação com

outros mecanismos de defesa do hospedeiro, bem como

direto ataque antimicrobiano com subsequente

opsonização e/ou lise.

Três vias metabólicas ativam o sistema

complemento, elas são conhecidas como, via clássica,

alternativa e das lecitinas. Todas as três vias

compartilham um passo comum, que é correspondente a

ativação do componente central C3. Contudo, cada via é

diferenciada essencialmente de acordo com a natureza do

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reconhecimento. Assim, a via clássica é ativada pela

liberação de anticorpos após a resposta imune humoral,

ou por anticorpos naturais na resposta inata. A via das

lecitinas é ativada após o reconhecimento e ligação de

PAMPs pelas proteínas lecitinas. Já a via alternativa,

contrasta com ambas as vias citadas, pois nela a ativação

do componente C3 ocorre espontaneamente.

Dadas as múltiplas vias de ativação e a natureza

catalítica dos vários passos envolvidos no metabolismo do

sistema complemento observa-se que a regulação desse

sistema é complexa. Para limitar a atuação do

complemento na atuação sobre o patógeno são

requeridas variadas proteínas regulatórias. Quase todas

as células de mamíferos expressam proteínas reguladoras

que as protegem contra o ataque de seu próprio sistema

complemento. O conhecimento da atuação dessas

proteínas contribuiu para o entendimento na participação

delas na regulação da imunidade adaptativa. Assim, o

sistema complemento corresponde a uma ligação entre os

mecanismos metabólicos envolvidos na resposta imune

inata e aqueles relacionados na reposta adaptativa.

4.5.1 Componentes do complemento

A maioria dos componentes do sistema

complemento são sintetizados pelos hepatócitos no

fígado, exceto a proteína C1 (produzida pelo epitélio

intestinal) e o fator D (produzido na tecido adiposo).

Esses componentes constituem 5% (p/p) da fração das

globulinas do soro sanguíneo. Sendo que a maioria deles

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circulam como proenzimas, ou seja, na forma inativa.

Após uma clivagem proteolítica, que remove um

fragmento inibitório, a forma inativa se torna ativa

expondo seu sítio ativo.

Os componentes do sistema complemento são

designados por numerais (C1-C9), por letras (ex.: fator

D), ou por nomes comuns (ex.: fator de restrição

homólogo). Quando ocorre a clivagem para ativação de

um determinado componente, o pequeno fragmento

formado é designado por letras minúsculas e é

responsável pelo início da resposta inflamatória local

através de sua ligação com receptores específicos. Já o

fragmento maior gerado liga-se a molécula alvo e através

de interações com outras moléculas forma complexos

protéicos que possuem atividade enzimática. Eles são

designados por números ou símbolos contendo uma barra

acima (ex.: C4b2a, C3bBb).

4.5.2 Via clássica do complemento

O início da via clássica normalmente requer a

interação (ligação) do anticorpo com o antígeno alvo,

formando complexos imunes. Em humanos, as

imunoglobulinas IgM e algumas subclasses de IgGs

podem ativar esta via. Várias moléculas estão envolvidas

nesta via sendo que C1, C4, C2 e C3 nesta ordem,

representam a cascata de ativação; já C1-INH, C4bp,

CR1, fator 1, DAF e MCP são proteínas regulatórias.

Durante a ativação da via a formação do complexo

antígeno-anticorpo induz uma alteração conformacional

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na porção Fc do anticorpo que expõe o sítio de ligação

para a proteína C1 do sistema complemento.

C1 consiste de uma molécula C1q ligada não

covalentemente a duas duplas de outras proteínas

chamadas C1r e C1s. Elas mantêm-se unidas em um

complexo estável que necessita de íons de cálcio para

estabilização. Cada C1q é constituída de 6 subunidades

idênticas. Cada subunidade consiste de três cadeias

homólogas (A, B, C) que possuem um domínio globular na

sua porção C- terminal, seguida de uma estrutura em

forma de “pescoço” e talo (figura 4). As estruturas em

forma de talo interagem com o tetrâmero C1r2C1s2. Cada

C1s e C1r possuem um domínio catalítico (serina

protease) e um domínio de contato.

Figura 4. Montagem do complexo C1 (modificado de WILLIAM

et al., 2008).

No início da ativação da via clássica, cada molécula

de C1 deve ligar seu domínio globular à no mínino dois

sítios Fcs para formar uma interação estável C1-

anticorpo. Para isso, C1q liga-se ao domínio CH2 da

molécula do anticorpo. Quando a ativação da via inicia-se

com moléculas de IgGs, que possuem apenas um sítio de

ligação para a C1q, é necessário que duas moléculas de

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IgGs estejam a uma distância ideal de 30-40nm, ou em

complexos imune, de maneira a prover dois sítios de

ligação para C1q.

Lembrem-se que as moléculas que IgGs e IgM possuem

estruturas diferentes. Reveja o capítulo sobre estrutura

dos anticorpos.

A ligação de C1q a porção Fc do anticorpo induz

uma mudança conformacional de C1r convertendo-a na

sua forma ativa. Ela então cliva C1s que se torna ativa

para atuar sobre duas moléculas, C4 e C2. C4 é

convertida em duas moléculas C4a e C4b pela ação da

C1r. O fragmento C4b adere-se sobre a superfície do

antígeno alvo, próximo ao local onde se encontra C1.

Então, C2 na sua forma de proenzima, adere-se a C4b

formando o complexo C4b2a, pois após a adesão, C2 é

clivado por C1s em C2a e C2b, sendo que a primeira

molécula mantém-se aderida e a segunda é liberada. O

complexo C4b2a também é conhecido como C3

convertase.

Duas cadeias polipeptídicas fazem parte da

molécula C3 chamadas α e β. A convertase C3 cliva a

porção amino terminal da cadeia α gerando dois

fragmentos, C3a e C3b. C3b, então, liga-se ao complexo

C4b2a formando C4b2a3b também conhecido com C5

convertase. Uma única molécula de C3 convertase pode

gerar mais de 200 moléculas de C3b, dessa forma, este

passo significa uma grande amplificação na via metabólica

envolvida. O componente C3b do complexo da C5

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convertase liga-se a C5 alterando a sua conformação.

Posteriormente, C4b2a cliva C5 em C5a e C5b que

prende-se a C6 e inicia a formação do complexo de

ataque a membrana.

Como citado anteriormente, C1-INH está envolvida

na regulação da via clássica do complemento controlando

finamente C1s e C1r. Essa proteína é um membro da

família das serpinas (inibidores de serinas proteases) e

inativa estas enzimas através da formação de uma ligação

covalente com o aminoácido serina no sítio ativo das

proteases. Normalmente C1-INH já encontra-se associada

com a forma nativa de C1, que tende-se para uma auto-

ativação. C1r e C1s ativados são rapidamente ligados à

C1-INH de forma que existe uma relação proporcional de

2:1 nas concentrações de moléculas C1rC1s(C1-INH)2 e

C1 não ligada, respectivamente. Dessa forma ocorre a

regulação na quantidade de moléculas ativas disponíveis.

Outros inibidores como C4bq, DAF e CR1 atuam na

regulação de C1 em passos posteriores a ativação dessa

molécula. A molécula de C4b2a desmonta-se

espontaneamente, contudo seu decaimento é acelerado

por CR1 ou DAF. C4b é inativada pelo Fator I.

4.5.3 Via alternativa do complemento

A via alternativa do sistema complemento recebe

este nome, por ser uma via com passos peculiares

quando comparada a via clássica. Para sua ativação,

nenhum anticorpo é requerido, logo esta via é parte do

sistema imune inato. A via alternativa é iniciada na

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maioria dos casos por constituintes da superfície celular

que são estranhos para o hospedeiro. Quatro

componentes do soro estão envolvidos nesta via: C3,

fator B, fator D e properdina.

Na via alternativa o componente C3 do soro contém

uma ligação tio-ester instável, a qual é susceptível a uma

hidrólise lenta espontânea, produzindo C3a e C3b. Por

causa dessa hidrólise, uma pequena quantidade de C3b

está sempre disponível na circulação, e uma pequena

fração dessas moléculas liga-se as superfícies

microbianas. Após a ligação de C3b covalentemente ao

seu alvo, a ligação tio-ester é estabilizada e C3b torna-se

ativado. Na sua forma ativada C3b se liga a uma proteína

do plasma chamada Fator B. Após essa ligação o Fator B

é então clivado por uma enzima do soro chamada Fator

D. Um pequeno fragmento do clivagem do Fator B

chamado Bb, continua aderido ao C3b ativado resultando

no complexo C3bBb que é a C3 convertase da via

alternativa de ativação do complemento. A C3 convertase

possui um tempo médio de atividade de somente 5

minutos a menos que a proteína properdina ligue-se a ela

estabilizando-a elevando seu tempo médio para 30

minutos.

A C3bBb gerada na via alternativa pode ativar C3

não hidrolizados para gerar mais C3b autocataliticamente.

Como resultado, o passo inicial é repetido e amplificado,

podendo ocorrer o depósito de mais de 2 x 106 moléculas

de C3b sobre a superfície antigênica em menos de 5

minutos. A atividade da C3 convertase gera o complexo

C3bBb3b,o qual exibe atividade C5 convertase, análogo

ao complexo C4b2a3b na via clássica. O componente C3b

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liga-se a C5, e o componente Bb subseqüente hidrolisa o

C5 ligado para gerar C5a e C5b que posteriormente liga a

superfície antigênica.

Devido a sua auto capacidade de amplificação, o

C3b circulante no plasma está sujeito a um fino controle.

O decaimento espontâneo da C3 convertase é acelerado

pelas moléculas CR1, Fator H e DAF. Considerável

redundância no controle das proteínas existe para esses

passos, embora CR1 pode ser substituída por todas outras

proteínas regulatórias RCA. O fator I e seus cofatores são

responsáveis pela inativação por clivagem do C3b, após a

ligação do fator H. Assim, a degradação de C3b elimina

C3b ativo, mas os fragmentos produzidos por esse

processo irão desempenhar novas funções.

4.5.4 Via das lecitinas do complemento

A via das lecitinas de ativação do complemento é

muito similar a via clássica de ativação, embora ela se

desenvolva na ausência de anticorpos. A essência dessa

via constitui-se no fato que uma lecitina do plasma,

chamada lecitina ligada a manose (MBL), é

estruturalmente e funcionalmente homóloga a C1q.

As lecitinas são proteínas que reconhecem e ligam-

se a moléculas de carboidratos alvo. Resíduos de manose

sobre glicoproteínas ou carboidratos estão presentes

sobre as superfícies de vários microrganismos incluindo

certas linhagens de Salmonella, Listeria, e Neisseria, bem

como Cryotococcus neoformans e Candida albicans. MBL é

uma proteína da fase aguda produzidas por respostas

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inflamatórias. Após a ligação da MBL sobre a superfície

dos patógenos, serinas proteases associadas a MBL,

MASP-1 e MASP-2, ligam-se ao MBL. O complexo ativado

formado pela associação causa clivagem de C4 e C2. A

MASP-1 e -2 possuem uma estrutura similiar a C1r e C1s

e mimetizam suas atividades. Isso implica na ativação dos

componentes C2 e C4 na formação da C5 convertase sem

a necessidade, como dito anteriormente, da presença de

anticorpos. Dessa forma, a via das lecitinas de ativação

do complemento representa um importante mecanismo

de defesa do sistema imune inato.

O controle da via das lecitinas mostra ser executado

através da ligação covalente de C1-INH às MASPs ativas.

Em geral, o mecanismo é muito similar àquele para a via

clássica. A ativação do complemento parece não ser

somente uma atividade da MBL. Um receptor MBL ou

receptor das colecitinas têm sido postulado estar

envolvido nessa ativação, porém ainda não foram

identificados. Um receptor de MBL também tem sido

sugerido mediar um efeito opsonisante independente de

C3b em fagócitos.

Agora que já estudamos as três formas de ativação do

sistema complemento, no quadro abaixo, descreva as

principais diferenças entre as vias de ativação que você

observou.

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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Via Clássica

Via alternativa

Via das lecitinas

4.5.5 Complexo de ataque a membrana

O passo final da ativação do complemento envolve

as moléculas C5b, C6, C7, C8 e C9, as quais interagem

sequenciamente para formar uma estrutura

macromolecular chamada complexo de ataque a

membrana (MAC). Este complexo forma um grande canal

através da membrana da célula alvo, possibilitando que

íons e outras pequenas moléculas se difundam livremente

através da membrana o que provoca a morte celular.

A ativação da via final do sistema complemento é

iniciada com a clivagem da proteína C5 pelas C5

convertases C3bBb3b, formada na via alternativa,

C4b2a3b, formada na via clássica e pela via das lecitinas.

Após a clivagem de C5, a molécula C5b gerada submete-

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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se a alterações conformacionais e expões sítio de ligação

para C6. Uma vez ligado, C6 estabiliza a formação do

complexo C5b6. Esse por sua vez liga a C7 resultando na

exposição de sítios de ligação a membrana e incorporação

nas membranas alvo. Se a concentração de C7 próximo

ao local de ativação do complemento for limitada, o

complexo C5b6 se dissocia e é acumulado em solução.

Caso contrário ele liga-se a C8 e então submete-se a uma

transição estrutural hidrofílica-amfipática expondo uma

região hidrofóbica, a qual interage com a membrana. O

complexo C5b678 cria um pequeno poro que pode lisa

células vermelhas do sangue contudo é incapaz de lisar

células anucleadas. O passo final na formação do MAC

consiste na ligação e polimerização de C9 (molécula

parecida com a perfurina) com C5b678.

O controle da formação do complexo de ataque a

membrana é executado na fases anteriores à associação

de C8 e polimerização de C9. Várias proteínas são

capazes de ser associarem ao complexo C5b7

impossibilitando a formação do MAC. Dentre elas pode-se

citar: proteína S, clusterina, lipoproteínas, antitrobina III,

proteoglicanos como heparina e protamina. Quando o

MAC já está firmemente inserido na bicamada lipídica,

uma proteínas chamada CD59 é capaz de interferir na

polimerização de C9, assim protegendo a célula alvo

contra a lise mediada pelo complemento.

Veja a animação do sistema complemento!

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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Figura 5. Vias de ativação do sistema complemento. Da

esquerda para direita, via alternativa,, via clássica e via das

lecitinas (modificado de ABBAS et al., 2007).

Figura 6. Via terminal do sistema complemento – Formação do

complexo de ataque a membrana (modificado de WILLIAM et

al., 2008).

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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4.7 Conclusão

Destaque as principais funções da resposta imune

humoral:

______________ Mecanismos efetores da resposta imune humoral ______________

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4.7 Bibliografia

ABBAS, A. K.; LICHTMANA, A. H.; PILLAI, S. Celular and

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