Resumo - 1º Capítulo - Ética - Dietrich Bonhoeffer
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Seminário Teológico Batista SergipanoCurso: Bacharelado em TeologiaDisciplina: Ética cristãProfessor: Nelma AquinoAluno: Tiago Barreto SilvaAtividade: Resumo do capítulo “O amor de Deus e a decadência do mundo”, do livro “Ética” de Dietrich Bonhoeffer
O amor de Deus e a decadência do mundo
A noção do bem e do mal parece ser o alvo de toda reflexão ética. A primeira
tarefa da ética cristã consiste em suspender esse saber, estando, portanto, em posição solitária,
enquanto crítica de toda ética, assumindo-se como única ética.
A ética cristã reconhece já na possibilidade do bem e do mal o rompimento com a
origem, Deus. O ser humano, no início, conhecia tudo só em Deus e Deus em tudo. A noção
do bem e do mal constitui, portanto, a separação de Deus. Do bem e do mal o ser humano só
pode saber contra Deus.
Como não se livra de sua origem, em vez de reconhecer sua origem de Deus,
entende-se a si próprio como a própria origem do conceito de bem e mal (Gn 3.22). Embora
como imagem de Deus, devesse viver exclusivamente de sua origem no Eterno, ao procurar
igualar-se à Divindade, transformou-se o homem em seu próprio “criador” e “juiz”. Saber o
bem e o mal significa compreender a si mesmo como origem do bem e do mal, como fonte de
uma eterna de escolha e eleição. Contudo, como ele não é a origem, como adquire esse saber
unicamente na separação da origem, o bem e mal que conhece não são o bem e mal de Deus,
mas bem e mal contra Deus. Por isso, o homem está separado da vida unificadora e
conciliadora em Deus, entregue à morte (Gn 3.22).
Em lugar de Deus, o ser humano enxerga a si mesmo e o faz em desunião em
relação a Deus e ao seu semelhante. Sem a proteção de Deus, sente-se exposto, nu. Nasce o
pudor, que é a indestrutível e dolorosa lembrança da sua separação da origem e o impotente
desejo de desfazê-la. Envergonha-se do que perdeu. Vergonha (pudor) e arrependimento são
diferentes. O ser humano arrepende-se quando erra, mas sente vergonha porque lhe falta algo.
A vergonha é mais original do que o arrependimento. O pudor procura encobrimento para
superar a cisão. No entanto, esse encobrimento demonstra a confirmação da separação e não
pode curar o mal. O ser humano esconde-se, portanto, de Deus e dos semelhantes. Debaixo da
máscara, no entanto, continua vivo o desejo pelo restabelecimento da unidade perdida. Sob o
manto do pudor, está tudo o que vem a ser e brota do desejo do ser humano de recuperar a
unidade perfeita.
A superação do pudor só acontece ao suportar um ato de extremo
envergonhamento, qual seja, a revelação do saber diante de Deus (Ex 16.63). O pudor só é
vencido na humilhação pelo perdão do pecado, isto é, pelo restabelecimento da comunhão
com Deus e perante os semelhantes.
Enquanto o pudor lembra o ser humano de sua desunião com Deus, a consciência
é o sinal da desunião do ser humano consigo mesmo. Interessante notar que a consciência só
não fica tranquila quando a proibição não é transgredida, mas nada diz sobre a separação da
origem. Ela não nos deixa perceber que, além da proibição transgredida, a própria proibição,
como voz da consciência, nasce da separação da origem. Consequentemente, a consciência
não trata da relação do ser humano com Deus e com o semelhante, mas do relacionamento do
ser humano consigo mesmo. A consciência se diz voz de Deus e norma do relacionamento
com os outros, uma vez o próprio homem se tornou origem do bem e do mal.
Trazendo em si o conhecimento do bem e do mal, o homem tornou-se juiz de
Deus e dos seres humanos, como é também seu próprio juiz. O autoconhecimento tornou-se
parâmetro e objetivo da vida. Todo conhecimento do homem baseia-se agora no
autoconhecimento, que é o interminável esforço do ser humano de superar, mediante o
pensamento, a desunião consigo mesmo, distinguindo-se incessantemente de si mesmo, ou
seja, de chegar à unidade consigo mesmo. Como a experiência ética tem como ponto decisivo
o conflito. Ora, no conflito, invoca-se o juiz. Esse, no entanto, é o conhecimento do bem e do
mal, é o ser humano.
No Novo Testamento, este mundo de divisão quase está ausente, vez que se trata o
evangelho de unidade reencontrada, reconciliação.
É no encontro de Jesus com o fariseu que o antigo e o novo ficam claramente
evidentes. O fariseu é o ser humano digno de admiração, que é juiz rigoroso de si e dos
outros, sendo cada momento para ele como decisivo em escolher o bem e o mal. E, com base
em descobrir os juízos de bem e mal, que os fariseus sempre procuravam enredar Jesus em
suas armadilhas, em situações delicadas da vida.
É interessante notar que Jesus não se deixa arrastar para nenhuma dessas decisões
conflituosas. Suas respostas refletem unidade com Deus. Jesus e os fariseus falam de níveis
completamente diferentes. Por isso, as respostas de Jesus não parecem respostas, mas
acusações aos fariseus. Jesus não quer ser invocado como árbitro em questões da vida (Lc
12.14). Sua resposta não diz respeito à pergunta, mas inteiramente ao interlocutor. A liberdade
Jesus não é a escolha arbitrária de uma entre várias possibilidades, mas uma ação simples,
para Ele não existia várias alternativas, só uma: fazer a vontade de Deus. Era isso que o
alimentava. Para o ser humano em desunião, o bem consiste no julgar, cujo parâmetro ultimo
é o ser humano. O bem a que Jesus se refere, no entanto, consiste integralmente na ação, não
no julgamento. Assim, nem mesmo a ação do fariseu é autêntica, porque ação que procurar
acabar com a cisão do ser humano, só aprofunda a divisão.
Há, no entanto, um “julgar” sadio. Esse brota do reconhecimento de Jesus Cristo
como reconciliador. O homem passar a julgar a partir da origem e não da cisão (1 Co 2.15; 1
Jo 2.20). Esse julgar não produz nova cisão, mas reconciliação. Através desse saber novo, o
conhecimento do bem e do mal está superado. Como não-sabedor, o homem torna-se sabedor
somente de Deus e, nele, de tudo. Ele conhece Deus como a suspensão de todo julgar e
condenar, como aquele que ama e vive. O saber dos fariseus é a destruição de toda ação
autêntica, o saber de Deus e dos seus consiste apenas na ação (Mt 6.3ss). Jesus proíbe a quem
faz o bem saber desse bem. Quando Jesus efetuar o julgamento, os seus não saberão que lhe
deram de comer, de beber, que o vestiram e visitaram. Não conhecerão o próprio bem; Jesus o
revelará a eles (Mt 25.31ss).
O examinar da vontade de Deus só pode surgir através de uma metamorfose
completa no homem interior, a partir da renovação da mente (Rm 12.2). É a superação do
modelo conforme o homem caído Adão e a conformação ao novo modelo: Cristo. Somente
conhece a vontade de Deus aquele que desistiu de saber por si mesmo o bem e o mal, mas
vive somente pela vontade de Deus. Assim, esse examinar nasce do saber-se guardado,
sustentado e guiado pela vontade de Deus, do saber acerca da graciosa unidade, já concedida,
com a vontade de Deus, e procura robustecer esse saber dia após dia na vida concreta. O
autoexame cristão só existe sob a pressuposição de que Jesus Cristo está em nós, deixando ao
seu juízo a conclusão.
É no cumprimento da vontade de Deus que o homem desiste de todo direito
próprio, de toda autojustificação. Há duas posturas diante da lei: julgar e fazer; ambos se
excluem reciprocamente. Ao se arvorar em legislador e juiz, revoga a Lei de Deus. O
praticante da lei, ao contrário, submete-se à lei. Óbvio que o cumprimento da lei pressupõe
que se a ouça. Um ouvir que não se converte em fazer, transformasse em uma “saber” para
julgar e assim dissolve-se todo o verdadeiro saber. Praticante, portanto, é aquele que não
conhece outra postura diante da Palavra de Deus ouvida do que o cumprimento.
O amor descrito em (1 Co 13.2s) é a palavra chave que distingue o ser humano na
dissensão do ser humano na origem. Há um conhecimento de Cristo, uma poderosa fé em
Cristo, uma grande mentalidade e dedicação até a morte - sem amor. Sem esse amor, tudo é
reprovável. Dentro desse amor tudo está unido e é agradável a Deus. Deus é amor, ou seja,
não um comportamento humano, uma mentalidade, uma ação, mas Deus mesmo é amor. Só
sabe o que ó amor quem conhece a Deus e, por consequência, ninguém sabe o que é o amor a
não ser na autorrevelação de Deus. A revelação de Deus é Jesus Cristo. O que vem a ser o
amor só reconhecemos em Jesus Cristo, mas precisamente em sua ação por nós (1 Jo 3.16).
Assim, toda a reflexão natural sobre o amor só tem verdade e realidade na medida em que tem
sua origem no amor que o próprio Deus é em Jesus Cristo e na medida em que participa desse
amor. O nosso amor pelo próximo se baseia então no fato de sermos amados por Ele (1 Jo
4.19). É com o amor de Deus, e nenhum outro - porque não há outro amor, autônomo ou livre
diante deste -, que o ser humano ama a Deus e ao próximo.