RESUMO (DES)VELANDO ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS...

2
(DES)VELANDO ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS ¿ POSIÇÃO-SUJEITO NO NOTICIADO PELO ZERO HORA SOBRE O INCÊNDIO DA BOATE KISS RESUMO AUTOR PRINCIPAL: ILANA REGINA NICOLODI E-MAIL: [email protected] TRABALHO VINCULADO À BOLSA DE IC:: Pibic CNPq CO-AUTORES: Não há. ORIENTADOR: CARME REGINA SCHONS ÁREA: Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Artes ÁREA DO CONHECIMENTO DO CNPQ: 8.00.00.00-2 UNIVERSIDADE: UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO INTRODUÇÃO: Dentro do projeto ¿Processos de Identificação Sujeito/Língua e Processos de Leitura/Interpretação em Diferentes Mídias ¿ mais especificamente o texto nominado ¿ Corpo, imagem, lingua(gem): um estudo de diferentes materialidades discursivas veiculadas na mídia impressa¿, optou-se por notícias jornalísticas divulgadoras de acontecimentos criminosos, que possibilitassem investigação sobre deslizamentos de sentido produzidos jornalisticamente, no que se refere à responsabilização de agentes supostos ¿culpados¿. A partir do trágico incêndio ocorrido na boate em Santa Maria, RS, na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, encontrou- se uma fonte inesgotável de material, eis que a cobertura do evento foi muito intensa, excessivamente especulativa e sensacionalista. O corpus eleito utiliza o termo ¿humanização¿ do réu e, assim o fazendo, ao mesmo tempo que condena por um lado, produz silenciamentos que liberam de outro, lançando material fértil para crítica e análise discursiva.

Transcript of RESUMO (DES)VELANDO ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS...

(DES)VELANDO ESTRATÉGIAS JORNALÍSTICAS ¿ POSIÇÃO-SUJEITO NONOTICIADO PELO ZERO HORA SOBRE O INCÊNDIO DA BOATE KISS

RESUMO

AUTOR PRINCIPAL:ILANA REGINA NICOLODI

E-MAIL:[email protected]

TRABALHO VINCULADO À BOLSA DE IC::Pibic CNPq

CO-AUTORES:Não há.

ORIENTADOR:CARME REGINA SCHONS

ÁREA:Ciências Humanas, Sociais Aplicadas, Letras e Artes

ÁREA DO CONHECIMENTO DO CNPQ:8.00.00.00-2

UNIVERSIDADE:UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO

INTRODUÇÃO:Dentro do projeto ¿Processos de Identificação Sujeito/Língua e Processos de Leitura/Interpretação em Diferentes Mídias ¿mais especificamente o texto nominado ¿ Corpo, imagem, lingua(gem): um estudo de diferentes materialidades discursivasveiculadas na mídia impressa¿, optou-se por notícias jornalísticas divulgadoras de acontecimentos criminosos, quepossibilitassem investigação sobre deslizamentos de sentido produzidos jornalisticamente, no que se refere àresponsabilização de agentes supostos ¿culpados¿.A partir do trágico incêndio ocorrido na boate em Santa Maria, RS, na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013, encontrou-se uma fonte inesgotável de material, eis que a cobertura do evento foi muito intensa, excessivamente especulativa esensacionalista. O corpus eleito utiliza o termo ¿humanização¿ do réu e, assim o fazendo, ao mesmo tempo que condenapor um lado, produz silenciamentos que liberam de outro, lançando material fértil para crítica e análise discursiva.

METODOLOGIA:O estudo pauta-se pela moderna teoria da Análise do Discurso, para a qual o texto é um efeito-texto, ou um espaçodiscursivo, dotado ilusoriamente de homogeneidade e completude, sendo seu fechamento da ordem do simbólico.O estudo do sentido do texto, assim, vai muito além da materialidade textual, incluindo a observação de suas condiçõessócio-históricas de produção, e considerando o sujeito-autor como um ser historicamente determinado, interpelado por umaideologia. O próprio leitor produz influências na captação dos sentidos, a partir do seu próprio contexto sócio-histórico-ideológico, e dos elementos de memória evocados pelo texto. Além disso, os não-ditos merecem atenção, pois igualmentereveladores do sentido de um texto e da posição-sujeito de seu autor.Por conta de tudo isso, é esta a teoria que ancora a pesquisa, apostando-se em sua amplitude para dar conta de todos osmeandros jornalísticos utilizados para produzir convencimento.

RESULTADOS E DISCUSSÕES:O corpus da investigação é a notícia publicada no jornal Zero Hora, cerca de uma semana após o ocorrido, em 05/02/2013,assinada pelo jornalista Marcelo Gonzatto, com a chamada:

Estratégia da defesa de Kiko, um dos donos da boate Kiss, é a humanização do réu

Íntimo do célebre advogado, já falecido, Lia Pires, o advogado Jader Marques aposta em redes sociais, entrevistas ecríticas a autoridades para obter um indiciamento menos severo para seu cliente

Desde a chamada, infere-se forte carga ideológica. Ao chamar a atenção para a (des)humanização do réu, a notícia ¿cala¿a (ir)responsabilidade do Estado como agente fiscalizador, e a dos próprios bombeiros, como agentes de resgate, além dosdemais direta ou indiretamente envolvidos no fato criminoso. O jornal ZH não diz, silencia, mas ao atribuir ao acusado aimagem de ¿monstro¿, ¿desumano¿, acusa sem acusar, condena sem condenar, e, por outro lado, libera deresponsabilização esses outros co-autores, agora já indiciados.Faz exatamente aquilo que Ducrot ([1987, p.20] apud Orlandi, 1989) definiu como a possibilidade de dizer alguma coisa¿sem, contudo, aceitar a responsabilidade de tê-la dito, o que, com outras palavras, significa beneficiar-se da eficácia dafala e da inocência do silêncio¿. E ¿uma vez que dizer implica em não dizer e, sendo a linguagem determinadaideologicamente, o que é silenciado é tão da ordem do ideológico quanto o dito¿ (LISBOA, 2010, p. 153).Considerando que a missão de um jornalista deveria ser a de apresentar as informações com a máxima isenção possível,para que o leitor pudesse interpretar os ditos e silenciados, o que se vê, em notícias assim, são ¿textos que apresentampequenos nacos de realidade construída, sustentando a tradição da fórmula telegráfica quem-o que-quando-onde, comcada vez menos espaço para o porquê¿. (MITTMANN, 2010, p. 167).

É precisamente o não-dito, neste caso, que revela a posição-sujeito e que tenta bloquear os questionamentos quepoderiam emergir do texto.

CONCLUSÃO:O comportamento da mídia na cobertura de tragédias que causam comoção tem sido fonte de importantes e críticosestudos. Tudo porque, na ânsia de apresentar uma resposta capaz de trazer algum consolo à população comovida, não éincomum que ultrapassem o direito e dever de informar, e se arvorem na posição de detentores da verdade, que é seupapel.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:LISBOA, Noeli Tejera. A oposição silêncio e interdito no funcionamento da linguagem e suas relações com a ideologia. p.151ss. Organon, v. 24, n. 48. Porto Alegre: UFRGS, 2010.MITTMANN, Solange. Funcionamentos discursivos de saturação e omissão na notícia em rede. p. 165ss. Organon, v. 24, n.48. Porto Alegre: UFRGS, 2010.ORLANDI, Eni Pulcinelli. Silêncio e implícito (Produzindo a Monofonia). In: GUIMARÃES, Eduardo (Org.). História e sentidona linguagem. Campinas, SP: Pontes, 1989, p. 39ss.

Assinatura do aluno Assinatura do orientador