Resumo do livro rudimentos de Homilética

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RESUMO DO LIVRO “RUDIMENTOS DE HOMILÉTICA” DE NELSON KIRST Capítulo 1) De acordo com o livro, Homilética é a “ciência que se ocupa com a pregação cristã e, de modo particular, com a prédica proferida no culto, no seio da comunidade reunida.” Seu significado vem do grego “HE HOMILIA” que designa “estar junto”, ou “relacionar-se”. A homilética enquadra-se na área da Teologia Prática. Pregar é, em boa parte, artesanato. E artesanato só se aprende praticando. Por que a Igreja prega? Porque ela vem de um Deus que fala, se comunica e se expressa através da sua Palavra; Palavra esta que se fez humana por meio de Jesus. Então Jesus é a Palavra de Deus e que nos diz tudo o que Deus quer nos dizer. Nós entendemos a comunicação de Deus através do Espírito, o seu Espírito se comunica com o nosso. Conhecemos a Palavra através das Escrituras; e ambas não são a mesma coisa, pois “a Escritura é apenas Palavra de Deus na medida em que ela impulsiona a trata de Cristo”. E cremos por meio da fé. Deste modo a pregação é um laço que une Deus com as pessoas, pois se não houver quem fale, como invocarão a Deus? Assim, Cristo é o critério julgador tanto das Escrituras quanto das pregações. Também podemos perguntar: Por que a pregação possui autoridade na Igreja? Porque Deus deu à Igreja a tarefa de pregar a sua Palavra. E esta reconhece que sozinha, sem a ajuda do Espírito Santo, não pode cumprir com êxito tal 3

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RESUMO DO LIVRO “RUDIMENTOS DE HOMILÉTICA” DE NELSON KIRST

Capítulo 1)

De acordo com o livro, Homilética é a “ciência que se ocupa com a pregação cristã e, de

modo particular, com a prédica proferida no culto, no seio da comunidade reunida.” Seu

significado vem do grego “HE HOMILIA” que designa “estar junto”, ou “relacionar-se”. A

homilética enquadra-se na área da Teologia Prática. Pregar é, em boa parte, artesanato. E

artesanato só se aprende praticando.

Por que a Igreja prega? Porque ela vem de um Deus que fala, se comunica e se

expressa através da sua Palavra; Palavra esta que se fez humana por meio de Jesus. Então

Jesus é a Palavra de Deus e que nos diz tudo o que Deus quer nos dizer. Nós entendemos a

comunicação de Deus através do Espírito, o seu Espírito se comunica com o nosso.

Conhecemos a Palavra através das Escrituras; e ambas não são a mesma coisa, pois “a

Escritura é apenas Palavra de Deus na medida em que ela impulsiona a trata de Cristo”. E

cremos por meio da fé.

Deste modo a pregação é um laço que une Deus com as pessoas, pois se não houver quem

fale, como invocarão a Deus? Assim, Cristo é o critério julgador tanto das Escrituras quanto

das pregações.

Também podemos perguntar: Por que a pregação possui autoridade na Igreja?

Porque Deus deu à Igreja a tarefa de pregar a sua Palavra. E esta reconhece que sozinha,

sem a ajuda do Espírito Santo, não pode cumprir com êxito tal tarefa. Pelo mover do

Espírito, o ouvinte da pregação se sente desafiado a buscar a Deus. Pelo mover do Espírito,

nossas palavras humanas se transformam em palavras vivas do Evangelho.

A pregação é um conceito abrangente para definir a fala nas diversas formas de

expressões nas programações e encontros cristãos. Já a prédica é especificamente a fala

litúrgica no culto. A definição de Karl Barth para a prédica é clara e auto-explicadora: “A

prédica é a tentativa – ordenada à Igreja – de servir à Palavra de Deus através de uma

pessoa vocacionada para tal finalidade; e isto, de tal modo que um texto bíblico seja

explicado em fala livre a seres humanos da atualidade, como algo que lhes diz respeito e

como anúncio daquilo que eles têm a ouvir do próprio Deus”.

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Capítulo 2)

A prédica é o filho problemático da Igreja Evangélica. Ninguém gosta dela, mas, não

se pode deixá-la de lado. A comunidade de hoje está cansada da prédica, ela está se

tornando enfadonha, desprezível e por diversas vezes perde seu efeito. Nos tempos antigos,

ou nas cidades do interior, a prédica se constitui um importante momento para a

comunicação social, pois traz informações cabíveis para as pessoas da sociedade local. Ela

era importante apenas para reafirmar a fé que já existia, bem como explicar seus detalhes, e

não possuía a tarefa de atrair as pessoas para o cristianismo, como vemos hoje.

A situação da prédica hoje está afundada na onda gigantesca da publicidade, da TV,

do rádio e da mídia. Ela não só se misturou a isso tudo como também não se destaca nestes

meios. Outro fator preocupante é que a prédica de hoje deve levar em consideração que a

sociedade está desvinculada do cristianismo. Por isso o pregador não deve criar ilusões

sobre suas palavras, mas deve conhecê-las e dedicar-se a elas ao ponto de fazerem sentido.

O principal efeito da prédica está na capacidade que esta tem de fortalecer as

posições e os papéis que o ser humano ocupa em seu meio. Este fortalecimento atua na área

existencial-emocional e nem sempre resulta em transformações. A prédica é necessária para

dar ao indivíduo os estímulos iniciais que o levem às transformações. Ela pode ser o veículo

que conduz as informações necessárias para que haja não só o encontro com novos rumos,

mas também para que haja a reorganização dos novos conceitos no equilíbrio existencial-

emocional. A prédica é necessária, sobretudo, para dizer e mostrar ao outro o que ele não

pode dizer e mostrar pra si mesmo. E apesar de toda a dificuldade que ela tem passado, ela

é e sempre será um relevante método de pregação; pois ainda hoje, pessoas se dispõem a ir

á igreja para ouvir e se defrontar com o que a prédica tem a dizer.

Capítulo 3)

O esquema básico da prédica resume-se em: fonte – mensagem – receptor. A

comunicação divide-se em verbal e não verbal, e a prédica está no campo verbal. Ela é o

resultado dos diversos fatores que agem dentro deste sistema comunicativo. O livro trata de

princípios básicos à toda comunicação verbal.

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3.2) Emissor, receptor, mensagem, meio

Toda mensagem possui estes quatro componentes. O emissor é quem leva a

mensagem. O receptor quem a recebe. A mensagem é o objeto da fala e se compõe pelo

conteúdo levado. E o meio é o canal da comunicação.

3.3) Signos

É o princípio de comunicação entre o emissor e o receptor. Os signos são os sons com

significados, e para que o receptor os compreenda é necessário que os conheça.

3.4) Repertório comum de signos

A comunicação será estabelecida se os signos forem comuns ao receptor e ao

emissor. Por exemplo, um estrangeiro tem dificuldades de conversar num país que não

possui sua língua como língua materna.

3.5) Codificação e decodificação

Para o conteúdo ser transmitido, o emissor deve traduzi-lo em signos. Isto se chama

codificação, e os códigos são um conjunto de signos as combinações destes signos. A

decodificação fica por parte do receptor, que recebe os signos e os traduz.

3.6) Etapas da comunicação verbal

a) o emissor quer passar uma determinada idéia; b) ele codifica esta idéia com signos

que o receptor entenderá; c) ele emite estes signos do repertório; d) o receptor recebe a

cadeia de sons; e) decodifica a mensagem através dos signos; f) e assim o receptor entende

a idéia que o emissor pretendeu passar.

3.7) Repertório comum de experiências

O emissor e o receptor não possuem uma cadeia de signos perfeitamente igual; pois

o significado dos signos varia pela diversidade das experiências do emissor e do receptor. A

perfeita comunicação ocorre quando ambos possuem as mesmas experiências, assim fala

praticamente a mesma linguagem.

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3.8) O meio

O meio em que a mensagem é levada é muito importante, pois cada lugar possui seus

próprios meios particulares de funcionamento. Uma mesma mensagem é transmitida de

forma diferente numa roda de amigos e num púlpito.

3.9) Expectativa do receptor e imagem do emissor

As intenções da fala do pregador devem ser transmitidas, ao mesmo tempo em que

são levadas em consideração, na medida do possível, as expectativas do ouvinte. O receptor

espera que o emissor confirme, em nome de Deus, as suas convicções fundamentais e

valores, dando assim forças para vencer as adversidades do dia-a-dia. Esta expectativa não

pode ser de todo negada (pois senão há o rompimento da comunicação), nem confirmada;

pois senão a prédica perde seu caráter crítico e desinstalador. Também a imagem que o

pregador passa de si como pessoa influencia na receptividade da mensagem.

3.10) A situação individual

A situação individual também é decisiva no estabelecimento da comunicação, tanto

por parte do emissor quanto do receptor, e consiste em: a) características psíquicas

pessoais; b) biografia social; c) biografia religiosa; d) concepções teológicas fundamentais; e)

concepções políticas e sociais fundamentais; f) Concepção profissional e eclesiológica a

respeito da comunidade, culto, prédica, pastores e o pregador; e g) grupos primários no qual

estão inseridos.

3.11) A situação sócio-cultural

Tanto o emissor quanto o receptor estão inseridos num mesmo meio global. A

sociedade, política, economia, cultura e tudo o mais, vai influenciar ambos nos seus

interesses pessoais e na comunicação da prédica. Influenciará na decodificação dos

conceitos e na leitura desta mensagem transmitida.

3.12) O ambiente

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É o lugar e a situação na qual a mensagem está sendo transmitida. A situação de

comunicação pode ter efeitos favoráveis ou desfavoráveis à prédica dependendo do lugar

onde a comunicação se estabelece.

Capítulo 4)

O pregador, antes de ir até a comunidade, precisa escolher o conteúdo de sua

mensagem. Nem toda pregação cristã necessita ser textual; mas toda a prédica deve ser

bíblica. A Bíblia sempre é a fornecedora do conteúdo da prédica; pois o depoimento das

testemunhas bíblicas é a fonte e o critério para tudo o que se disser em nome de Deus e de

Jesus.

As vantagens para o uso do texto bíblico nas pregações é que assim o pregador

conhece a Bíblia aprofundadamente. Outra vantagem é que assim o pregador entra em

sintonia com os testemunhos bíblicos; além de fazê-lo perceber que o que está pregando

não é fruto de sua própria visão, mas resultado de uma longa tradição. O texto ajuda o

pregador a descobrir e clarear a situação dos indivíduos da comunidade em tempo atual; e

assim pode melhor ajudá-los. E principalmente o uso do texto é importante para lembrar ao

pregador que ele não está pregando de si mesmo, mas á Palavra de Deus.

O uso do texto não dá vantagens apenas para o pregador, mas também à comunidade

receptora: contribui para que ela conheça e aprenda mais da Bíblia; e lhe dá base para

avaliar a veracidade da prédica. E o que não pode haver no uso de textos bíblicos? Levar o

pregador a fazer da prédica o resultado de seus estudos exegéticos nem fazer da prédica um

tratado dogmático-sistemático. Também não pode limitar-se ao passado e esquecer-se da

atuação de Deus nos dias de hoje. E principalmente não pode se utilizar da gíria religiosa,

que consiste num palavreado religioso convencional o qual é lançado aos ouvintes sem

maiores explicações.

O pregador deve estar atento ao legalismo e não se valer dele em momento algum. O

legalismo acontece quando o Evangelho ou o indicativo não recebem destaque suficiente em

relação ao que a prédica traz como imperativo e lei. O legalismo vem por meio de

expressões como “devemos” ou “temos que”.

Toda boa prédica possui uma certa tensão entre o Evangelho (o novo, o qual o ouvinte é

desafiado a experimentar) e o que é velho e existente (do qual deve ser liberto). O

Evangelho deve ser levado de maneira que o ouvinte possa ter um encontro com Jesus, e

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assim saber que pode pedir, esperar e receber mais dele. Mas também deve ser levado de

uma maneira séria, pois ainda permanecerá seu caráter crítico e desafiador.

Capítulo 5)

Os signos transmitidos ao ouvinte podem deparar-se com seu aparelho receptor

ligado ou desligado. O desligamento pode: a) ocorrer a qualquer momento na pregação, e b)

ser breve ou prolongado. Ele ocorre por fatores exógenos ou inerentes à prédica, que são

fatores localizados fora do sistema da prédica, na maior parte se disposições físicas,

psicológicas...E o ouvinte pode decidir desligar seu aparelho receptor temporariamente se a

prédica estiver demorando muito ou cansativa, abstrata demais ou monótona. O

desenvolvimento da prédica não pode ser tão rígido que toda idéia emitida dependa da

captação e compreensão da anterior, pelo ouvinte. Os signos que não foram apagados no

estágio de entrada, atingem um segundo estágio. Do conjunto de signos que o ouvinte

consegue captar, ele seleciona os que mais o interessa, aquilo que faz sentido para ele. Na

prática desta seleção são importantes para o ouvinte: a) o desejo de confirmação. O ouvinte

quer que sejam confirmadas as convicções básicas de sua própria fé ou do seu sistema de

valores. O desejo de estabilização está contido na decisão mesma de ir ao culto. O ouvinte

deseja reter aquilo que confirma o que para ele, é o correto. Mas o que acontece com as

informações que contradizem o seu pensamento?

Temos aqui três reações possíveis do ouvinte: Se for exposto sem muita ênfase, o que não

serve em seu sistema de convicções próprias, será simplesmente ignorado. Se vier de

maneira bem enfatizada e bem exposta, então é provável que o ouvinte interprete da

maneira dele, como “acho que ele não quis dizer bem assim”. Mas, se o ponto de vista

contrário for apresentado de forma tão incisiva que não possa ser rejeitado e nem

reinterpretado, então o ouvinte tenta inutilizá-lo com o seguinte artifício: exagera a

contradição a ponto que a posição contrária à sua aparece forçosamente como absurda.

b)A mentalidade dos grupos primários e dos líderes de opinião

Todas as pessoas têm a necessidade de fazer parte de um grupo, família, colegas, amigos. De

um lado recebemos aconchego e proteção deles, mas, de outro, chega um momento em que

exigem de nós que abandonemos nossa própria fora de entender as coisas em detrimento

deles. Daí ou abandonamos o grupo ou desistimos de nossos novos pontos de vista.

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Nossos pensamentos são influenciados principalmente por lideres de opiniões, pastores,

chefes, pessoas que exercem grande influencia sobre outras, modificando sua forma de

pensar. Na prática do enunciado da prédica, o ouvinte terá mais facilidade de aceitar aquilo

que ele já está acostumado a ouvir de seus lideres de opiniões, ou dos grupos que ele

freqüenta, e terá sérias reservas para aceitar aquilo que vai contra a mentalidade que lhe foi

incutida através de seus contatos.

c) a diminuição de tensões insuportáveis

Certas tensões, que constituem as características da vida psíquica, perturbam muitas

pessoas que andam em busca de alívio. Estas pessoas procuram de várias formas encontrar

alivio para suas tensões, e neste caso, o pastor e a pregação desempenham um papel muito

especial. Então a pessoa extrai da pregação aquilo que alivia suas dores internas, aquilo que

traz alivio e que muitas vezes nem está sendo proferido. Ela extrai aquilo que a ajuda dar

conta de sua tensão, e ai acontece outra prédica, diferente da que está sendo pregada.

d) a imagem do pregador

O que o ouvinte irá reter da pregação, também depende muito do pregador. As condições

serão boas se o ouvinte considerar o pregador como alguém digno de confiança, simpático e

competente para tal, se isso não acontecer, a prédica terá pouca ou nenhuma chance de

comunicar algo ao ouvinte.

A elaboração

A elaboração dos signos captados pelo ouvinte ocorre em dois níveis: emocional e racional. E

freqüentemente o ouvinte consegue assimilar mais conteúdos pelo primeiro.

O pregador deve compreender que a sua frente ele não tem apenas seres humanos, mas

pessoas complexas, com pensamentos e ideologias bem diferentes, experiências de vida,

problemas e preocupações. Por isso o pregador precisa ser muito atento, observar a

comunidade, a situação em que ela está e prestar atenção em fatores como: a idade dos

ouvintes, o sexo, as profissões representadas, as camadas sociais, os níveis de instrução. O

pregador precisa conhecer a sua comunidade, saber o contexto da igreja. Outro fator

importante é saber a teologia dos ouvintes, saber como vêem a Deus.Só com um bom

conhecimento da situação, da eclesiologia, da teologia daquela igreja, suas alegrias e

preocupações, que o pregador poderá tornar-se seu advogado em relação ao contexto.

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Obstáculos de comunicação do pastor

O pastor pode trazer uma série de obstáculos que o prejudicarão na hora da prédica, como a

linguagem. Por exemplo, um jovem que veio do interior e ficou seis ou mais anos restrito aos

seus contatos sociais do seu lugar de estudo, terá dificuldade de comunicar-se com pessoas

de outras camadas sociais, como a classe média urbana ou classe operária urbana. Também

podemos citar a barreira que existe entre o teólogo e um leigo. E por fim, a vida do pastor

pode ser completamente diferente das dos membros, pois, se ele tem casa e salário

garantido, não vive a mesma experiência dos outros que precisam lutar pela sobrevivência e

um lugar na vida profissional.

Ao pastor quase não é dada a oportunidade de manter contatos informais com os membros.

Ele é sempre visto como o pastor, que está sempre em exercício de sua função. E o que ele

pode fazer para superar estes obstáculos? Primeiro, ele não pode negar a si mesmo em

detrimento dos outros. Querer imitar os outros para melhor se comunicar com eles. E

segundo, o pregador deve admitir, reconhecer seus obstáculos de linguagem e assim, ele

chega à conclusão que precisa de ajuda de seus ouvintes para compreendê-los. Pois não

adianta só saber de teologia e Bíblia, ele precisa viver a fé na comunidade.

Capítulo 6)

Pra que a prédica possa ser entendida, é preciso que ela esteja dentro de uma estrutura, que

tem a função de auxiliar o pregador a comunicar ao ouvinte o conteúdo de sua prédica, e

este, a captar e gravar o que foi dito. Existem alguns pressupostos que deixarão as coisas

mais claras: O pregador deve se preocupar com o nível de atenção dos ouvintes, estudados

por Lerle, que verificou as variações dos níveis de atenção dos ouvintes no momento da

prédica.

O nível mais alto se verifica nos primeiros minutos da prédica, e por isso, o pregador não

deve gastar este tempo com pensamentos introdutórios, pois é um tempo precioso. A

primeira manifestação de cansaço dos ouvintes acontece logo após alguns minutos. Depois

de dez minutos a atenção cai sensivelmente, chegando ao ponto mais baixo, depois de 16.

Quando este nível cai não é bom que o pregador explane doutrinas ou abstrações que

exijam muita reflexão. Depois de 20 minutos o decréscimo de atenção é muito expressivo,

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mas isso não pode ser seguido à risca, até porque a prédica não tem que ser medida no

relógio. Ao encaminhar-se para o fim da mensagem, os ouvintes retomam atenção, pois

percebem que a prédica está para terminar.

Antes de fazer a prédica, o pregador deve se perguntar qual a intenção, porque irá se dirigir

aos ouvintes, onde ele quer chegar com a comunidade, para onde pretende conduzi-la?

É importante que ele estabeleça claramente o que quer, qual a intenção a seguir. E então,

partindo dessa intenção, deve traçar uma linha que perpasse a prédica toda como um fio,

que é chamada de linha de intenção que deve seguir critérios lógicos e psicológicos.

Para que o ouvinte tenha uma percepção geral da prédica é importante que o pregador

utilize os recursos de fazer uma indicação expressa de como pretende desenvolver a prédica.

Fazer uma antecipação que conteúdos que ainda estão por vir e relembrar o que já foi

falado. Também o resumo e a repetição de enunciados básicos devem ser postos em prática,

pois são de grande eficiência. O pensamentos da prédica devem ser corretamente

interligados, destacados, de forma que tenham sentido. Normalmente, um parágrafo ou um

complexo de pensamentos contém um enunciado que é o principal, e todas as demais frases

contribui para introduzi-lo ou desenvolvê-lo. Outro fator a refletir é que o ouvinte precisa de

tempo para digerir as palavras. Só conseguimos captar e assimilar algo se o orador ficar um

certo tempo falando sobre aquilo. Se em casa frases ele introduzir uma novidade, não há

como o ouvinte assimilar. O pregador precisa fugir do esquema convencional, que a maioria

das pessoas já está cansada ou não entende. O inusitado é o que comunica. Quanto mais

inconvencional o sermão, há mais chances de comunicar algo às pessoas. Também é

aconselhável que o pregador não faça promessa que não cumpra, como anunciar algo muito

interessante no início da prédica, mas depois não traz nada de significativo. Outro caso

também é quando o pregador levanta uma questão muito importante e faz as pessoas

pensarem, mas no decorrer da mensagem, não diz mais nenhuma palavra sobre o assunto. O

ouvinte precisa sentir que a prédica vai em frente. Se ele sentir o pregador anda em círculos,

como a ficar aborrecido e sem atenção.

Os modelos de estrutura variarão de acordo com os seguintes fatores: texto, situação dos

ouvintes e objetivo do pregador. Os modelos mais aplicados são:

A homilia: é o modelo mais antigo, que é a explicação do texto, versículo por versículo; à

interpretação de cada versículo segue-se a sua explicação. Na homilia pura verifica-se o

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seguinte; enquanto os versículos apresentam freqüentemente uma cadência bem

concatenada, o mesmo quase nunca acontece na prédica.

A prédica temática: Tem um contraste com a homilia e podemos distinguir dois tipos de

prédica temática. A primeira: muitas perícopes, principalmente das epístolas, contêm uma

tal variedade de pensamentos diferentes, que o pregador é levado a colocar certos

conteúdos em primeiro plano. Ele deve extrair cuidadosamente o escopo, com seus diversos

pontos altos. Para a prédica, pode dar destaque a um ou outro aspecto, mas sem deixar de

corresponder ao escopo. A segunda: é aquela em que o pregador opta pelo

desenvolvimento de um tema, e neste caso, via de regra, o tema é formulado no inicio da

prédica, e, então desenvolvido em duas ou, geralmente três partes.

A prédica indicativo- imperativo: Na primeira parte, indicativa, é atualizada a promessa que

o texto contém, que é a parte mais longa. A Segunda parte traz um apelo, a reivindicação

que o texto contém. É uma parte imperativa. O apelo não pode ter nunca um caráter de

imposição ou condição.

Outro modelo é a situação atual + texto+ explicação- aplicação. A primeira parte desenvolve

a situação atual, só problemas existentes, a pergunta do homem de hoje. A segunda parte

vem o texto com a respectiva explicação. E na terceira, aparece a resposta teológica à

situação levantada no inicio.

A Lei –Evangelho é um modelo em dois passos que é o que segue da lei para o Evangelho e

proclamação do juízo para a proclamação da graça. Na primeira parte é exposta e

desenvolvida a construção de que todos nós estamos imersos no pecado, e na segunda, é

exposta a afirmação de que Cristo nos livra do pecado.

O inicio da prédica deve ser feito com bastante empenho, pois é a parte que consegue ou

não captar a atenção dos ouvintes. Portanto, o pregador jamais deve começar uma prédica

com uma explicação exegética enfadonha.

O fim da prédica também é um momento em que o ouvinte está prestando muita atenção, e

o pregador, por sua vez, deve aproveitar para destacar mais uma vez, suas firmações

principais.

Capítulo 7)

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O pregador deve fazer uma prédica que alcance as pessoas. Algo que possa ser

entendido.Ele precisa reconhecer sua complexidade teológica e saber quem nem todos ali

entendem o que ele estudou. Desta forma, é apropriado que o pregador tenha uma

linguagem mais comum ou a linguagem certa para aquele tipo de comunidade para qual ele

fala. Também se faz significante as condições acústicas da igreja, climáticas e até se a rua é

movimentada ou não, pode fazer a diferença. Estar atento ao “feedback” da igreja pode

mostrar ao pregador o resultado da emissão da mensagem, se foi recebida ou não,

compreendida ou não.

Existem 7 qualidades essenciais ao estilo de qualquer comunicação, seja oral ou escrita:

A correção:A mensagem precisa adaptar-se aos receptores, o critério, embora não muito

preciso, deve ser, também aqui, o da língua comum, que é mais acessível a todos ouvintes.

A originalidade: Deve-se original e não vulgar, não utilizar lugares-comuns, vícios de

linguagem, expressões sempre usadas.

Clareza: Deve-se utilizar a clareza e não vocábulos inexatos, inexpressivos, que não podem

ser compreendidos facilmente. As idéias devem ser expostas com nitidez e correta

pontuação.

Concisão: Deve-se preciso e conciso no que se quer dizer, e jamais prolixo.

Vivacidade: Vivacidade em lugar de frouxidão, o estilo deve ser dinâmico, vivo.

Harmonia: Deve-se ter harmonia ao invés de aridez de vocábulos e expressões.

Naturalidade: Naturalidade em lugar de preciosismos, de arcaísmos pedantes, de

neologismos extravagantes e desnecessários.

Capítulo 8)

A bissociação deve ser utilizada pelos pregadores como forma de sair do modelo

convencional e cansativo. O bom pregador é aquele que consegue surpreender o ouvinte e

provocar a sensação da descoberta. Alguns passos metodológicos para a bissociação:

Definir ou formular precisamente o problema ou idéia.

Colecionar diversas imagens. Selecionar uma delas e desenvolvê-la.

Superposição da imagem com problema ou a idéia. Desenvolver as possibilidades de

combinação e aplicação.

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O pregador que prepara sua prédica ofensivamente tem mais chances de ser criativo.Ele

desenvolve sempre uma certa sensibilidade quanto à urgência de temas e problemas que

possam ou devam ser abordados na próxima prédica.- e que talvez até o levem a abandonar

o texto prescrito pela Igreja.

A metáfora tem por objetivo: encontrar uma maneira de descrever plasticamente uma

realidade que, de outra forma, só encontramos descrita em termos abstratos. É bom

lembrar: os ouvintes querem ver, apalpar, sentir – e não tanto pensar. Normalmente, os

ouvintes de nossas prédicas, a partir do seu cotidiano, não estão acostumados a seguir uma

cadeia de pensamentos abstratos. Com a metáfora podemos ajudá-los a ver, apalpar e

sentir.

A figura é uma metáfora ampliada. Neste caso, a metáfora, em vez de servir apenas para

uma parte, torna-se o molde ou padrão para toda a prédica. O sermão é, então, montado

em cima de imagem, que é desenvolvida nos seus diversos detalhes.

Jogar com papeis: A parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32), por exemplo, traz três

personagens de destaque. A percepção de tais personagens e de seus papeis pode aclarar as

perícopes e abrir novas possibilidades de abordagem para a prédica.

O pregador comenta, um após o outro, os diversos personagens, relacionando-os, depois,

com os ouvintes.

Pensar em voz alta é, portanto, um bom caminho para a descoberta da idéia. O ouvinte

desse pensar em voz alta pode ser uma pessoa ou então o gravador, ou as paredes, ou a

paisagem lá fora. O processo se desenvolve mais ou menos assim: o pregador tem diante de

si uma perícope, um escopo, ou então um pensamento, um experiência, uma noticia de

jornal, e começa a tecer comentários a respeito. Provavelmente começará com lugares-

comuns, soletrando obviedades, depois talvez formule perguntas – até que, de repente ,

explode a idéia

Contar historias

A historia deve ser preferencialmente verdadeira. Se não for, o ouvinte provavelmente ficara

desconfiado, porque bem poucos pregadores conseguem entregar um historia inventada

como se fosse verdadeira. Por isso melhor ir dizendo logo: “poderíamos imaginar a seguinte

situação.

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Leitura criativa: vai descobrindo coisas, ela tem perguntas, estabelece combinações e

associações, desenvolve estímulos recebidos. Esta leitura pode e deve ser exercitada. Ela é

necessária para o constante abastecimento da criatividade do pregador.

Capítulo 9)

Passo 1 – Reflexão própria sobre o texto

Consulta ao texto original e a outras traduções.

O texto está próximo ou distante de mim? Soa-me agradável ou estranho?

Paráfrase do texto com próprias palavras.

Estrutura do texto.

Contexto (consideração deste na medida em que auxilia a compreensão do texto).

Situação dos ouvintes/leitores originais e intenção do autor.

Palavra (explicação do conteúdo do texto, versículo por versículo ou parte por parte).

Escopo.

Pontos que permanecem obscuros e devem ser esclarecidos no passo seguinte.

O passo 2 é a consulta de material exegético, onde deve haver confronto de textos e busca

por comentários, enciclopédias, artigos e a parte exegética de auxílios homiléticos.

O passo 3 é um confronto pessoal com o texto, onde antes da mensagem chegar à

comunidade, deve passar pelo pregador.

O passo 4 é o confronto da comunidade co o texto, onde o pregador procura imaginar quais

reflexos terão sobre os ouvintes.

O passo 5 é a consulta a auxílios homiléticos e prédicas, que é uma procura de idéias, onde

deve-se verificar como os outros empreenderam a aplicação do texto.

Passo 6 , aqui o pregador deve se fixar em definitivo nos conteúdos e objetivos (e,

eventualmente, algum grupo específico ao qual queira dirigir-me).

Passo 7, aqui entra a estrutura e o recheio. Está na vez do empenho pedagógico. Deste

empenho faz parte: estabelecer a estrutura geral e o desenvolvimento da prédica; estudar

metáforas, ilustrações, exemplos, pensar no inicio e no final da prédica, detalhar cada parte.

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Passo 8 é a formulação do rascunho, a primeira redação da prédica.

Passo 9 é o controle do rascunho e a formulação definitiva. Deve transcorrer um certo lapso

de tempo entre a primeira redação e o controle do rascunho, para que o pregador consiga a

distância necessária para uma apreciação razoavelmente objetiva.

Capítulo 10)

O papel que pode exercer um grupo homilético no preparo de uma prédica tem suas

limitações. Limitações inerentes àquilo que é sua maior riqueza: a vivência de fé de seus

membros. Esta é o seu forte e sua fraqueza. É sua fraqueza, porque a sua pregação jamais

poderá restringir-se a meramente repetir as experiências de fé da comunidade. Ela deve

veicular também, e, antes de mais nada, a interpelação que vem do extra nos. Com isso, a

prédica precisa ir além da vivência de fé dos seus ouvintes. Sobretudo, deve ela ultrapassar

os limites estritamente individuais, dentro dos quais freqüentemente se articula tal vivência.

Capítulo 11)

Para Lutero, o conteúdo da pregação só pode ser Cristo: “Bem, se pregamos Cristo, irritamos

o mundo, a carne e o sangue; se, porém, pregamos o que agrada à carne e ao sangue,

irritamos Cristo e desviamos muitos milhares de almas para o abismo do inferno. É melhor

irritar o mundo do que aquele ‘que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o

corpo’ diz Cristo em Mateus 10”.

Se Cristo deve ser o conteúdo da prédica, a fonte para a pregação é, antes de mais nada, a

Bíblia.

Mas, como se sabe, em relação à Bíblia Lutero tem a liberdade de ser eclético. Perguntando

sobre que livros se deveria pregar, preponderantemente, respondeu: “O Saltério, o

Evangelho de São João e São Paulo, para aqueles que precisam combater os hereges; mas,

para o homem comum e os jovens, os outros evangelistas”.

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Page 15: Resumo do livro rudimentos de Homilética

Em termos de conteúdo da pregação, a questão “lei e evangelho” merece consideração

especial. Lutero define-a da seguinte maneira: “A prédica da lei é necessária para os maus,

mas seguidamente e de um modo geral ela atinge os piedosos, que a tomam a si, mesmo

que ela não lhes seja de proveito, pois abusam dela e, por seu meio, se tornam ainda mais

seguros”.

A tarefa exige antes de mais nada, que o pregador anuncie uma doutrina pura e sã. E a

tarefa do pregador é muito difícil pois, exige serviço e retribui com a ingratidão e o desprezo

dos ouvintes. Por isso, o exercício dela só é possível, se feito por amor a Deus.

Mais especificamente, Lutero fala de algumas virtudes de um bom pregador. A) Saber

ensinar direito e corretamente. B) deve ter boa cabeça. C) Deve ser bem articulado. D) Deve

ter boa voz. E) Ter boa memória. F) Deve saber parar. G) Deve estar certo do que fala e ser

aplicado. H) Deve investir na sua tarefa o corpo e a vida, os bens e a honra. I) Deve saber

aturar o desprezo de todos.

Lutero não cansa de acentuar que a perspectiva do ouvinte é um dos fatores determinantes

da prédica. Esta precisa orientar-se pelos ouvintes: o pregador é como o marceneiro; seu

instrumento é a Palavra de Deus. Entre os ouvintes da pregação há pessoas diferentes e de

diversos tipos. Por isso, o pregador não deve cantar sempre o mesmo canto e ensinar

sempre da mesma maneira. Dependendo dos ouvintes, deve ele, conforme as

circunstâncias, ameaçar, atemorizar, repreender, advertir, consolar, reconciliar. Como

principio básico vale o seguinte: “Deve-se ensinar e pregar aquilo que é conveniente e

próprio, de acordo com o tempo, o lugar e as pessoas.”

No entender de Lutero, o pregador tem sobre si uma tarefa que é, na verdade, impossível.

Por isso, a oração tem lugar essencial, no preparo da prédica. Ele diz que quando formos

pregar temos que falar com Deus que queremos pregar para glória Dele, queremos falar

Dele, louvar, exaltar o nome Dele, embora não saibamos como fazer, mas, gostaríamos.

Antes de se preocupar com qualquer aspecto formal, é importante que o pregador saiba

exatamente o que quer dizer, que conheça o assunto de que quer falar. Dois elementos de

maior importância para a pregação são a dialética e a retórica: “O pregador deve ser um

dialético e um retórico, isto é, deve saber ensinar e admoestar.”

Outro ponto que Lutero acentua é a necessidade de o pregador ficar no assunto principal,

sem divagações desnecessárias. Ele é contra o palavreado vazio, pregadores que falam

muito, mas que no fim das contas não dizem nada. Também não simpatizava muito com

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Page 16: Resumo do livro rudimentos de Homilética

gesticulação exagerada. Para ele o pregador deve ser simples. E ser capaz de ensinar pessoas

simples e iletradas.

As tentações e dificuldades abordadas por Lutero em suas “falas de mesa” podem ser

classificadas em algumas categorias. Comecemos pelo medo que aflige o pregador

principiante: “Quando alguém sobe ao púlpito pela primeira vez, ninguém imagina o medo

que ele passa. Principalmente, porque vê tantas cabeças à sua frente!’”.

Uma das maiores cargas para o pregador é a indiferença e o desprezo dos ouvintes. Como

diz Lutero: “Nós, pregadores, temos um ministério difícil. Por um lado, devemos prestar

contas da salvação (...) das almas dos ouvintes, e, por outro, esperam que nos curvemos aos

seus desejos e deixemos que viva como bem entenda. Se o fizermos, tornamo-nos participes

de seus pecados; se não o fizermos e os repreendermos, dizem que estamos difamando e

caluniando”.

Lutero também condena o orgulho dos pregadores, disse que eram malditos todos os

pregadores que procuravam por coisas altas, difíceis e sutis. Ele diz que Deus usa de

métodos pedagógicos com os homens, como o sofrimento e muitas cruzes, para que se

tornem humildes.

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