Resumo filosofia (3)

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Epistemologia – o conhecimento A epistemologia (=teoria do conhecimento) é a área da filosofia que investiga a natureza

e a possibilidade do conhecimento. A palavra epistemologia tem a sua raiz no termo grego

episteme, que significa conhecimento.

Entre as questões principais a que tenta responder estão as seguintes: “O que é o

conhecimento?”; “O que podemos conhecer?”; “Como alcançamos o conhecimento?”; “Como

distinguimos o conhecimento da mera crença?”; “Será o conhecimento possível?”.

As questões epistemológicas são tão antigas quanto a própria filosofia. Filósofos como

Platão, Descartes, Hume e Kant são alguns dos pensadores que se debruçaram sobre esta temática.

O que é o conhecimento proposicional?

Existem três tipos de conhecimento:

o Conhecimento por contacto

Conhecimento direto de alguma realidade

Ex.: “conhecer Paris”

o Saber-fazer (saber como)

Conhecimento prático ou conhecimento de atividades

Ex.: “saber cozinhar”

o Saber-que (proposicional)

Conhecimento de proposições ou pensamentos verdadeiros

Ex.: “saber que 2+2=4”

Análise fenomenológica do conhecimento proposicional (saber-que)

CONHECIMENTO: etimologicamente, o termo conhecimento tem a sua raiz na palavra

latina cognitio (cum+gnosco), que significa «captação conjunta». Em termos gerais, refere-se à

relação estabelecida entre um sujeito que conhece (cognoscentes – aquele que conhece) e um

objeto que é conhecido (cognoscido – aquilo que é conhecido). Conhecer é, assim, tornar presente

um objeto e formar uma representação dele. O sujeito apreende um objeto.

FENOMENOLOGIA: estuda a estrutura dos fenómenos, procurando evitar quaisquer

pressupostos, sejam eles ideias, teorias ou crenças. Sendo passível de aplicação em vários

domínios, é no campo do conhecimento que a fenomenologia husserliana (de Husserl –

desenvolveu o método fenomenológico) se afirma, descrevendo o fenómeno do conhecimento

como um conjunto de relações entre um sujeito e um objeto.

1. O sujeito sai de si;

2. O sujeito está fora de si e apreende as características do objeto;

3. O sujeito regressa a si, modificado, trazendo uma representação mental do

objeto.

Definição tradicional de conhecimento

O conhecimento é crença verdadeira justificada.

Segundo Platão, conhecer implica formar uma ideia acerca de algo, crer em algo; implica

que a ideia que temos acerca de algo seja verdadeira; implica poder explicar ou fundamentar o

que acreditamos ser verdade. Porém, segundo Gettier, o conhecimento, para além das três

condições – crença, verdadeira, justificada -, é necessária uma condição extra para que exista

conhecimento.

Perguntas e respostas sobre a matéria referida atrás:

o O que é a fenomenologia?

A fenomenologia é um método de análise dos fenómenos, isto é, daquilo

que se dá à consciência, entre os quais se encontra o fenómeno do

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conhecimento. O método fenomenológico foi criado e desenvolvido pelo

filósofo Edmund Husserl.

o Em que consiste a análise fenomenológica do conhecimento?

A fenomenologia encara o conhecimento como o resultado de uma

relação irreversível entre um sujeito e um objeto, em que o sujeito

apreende o objeto e este é apreendido pelo sujeito.

O sujeito, ao apreender as características do objeto, constrói uma imagem

ou representação do objeto, que corresponde ao conhecimento. O objeto

é determinante para que haja conhecimento e o sujeito é determinado por

esse conhecimento.

o Como é definido tradicionalmente o conhecimento?

Tradicionalmente, o conhecimento é definido como uma crença

verdadeira justificada.

A definição foi proposta por Platão há mais de dois milénios.

Inicialmente, parece uma definição plausível. Primeiro, para saber é

preciso acreditar, não há dúvida, pois, se nem sequer acreditar que tenho

teste amanhã como posso saber que tenho teste amanhã? Depois, não faz

sentido saber algo que é falso. Se sei que 2x2 são 22, então não sei,

mesmo que acredite saber. Por fim, faz sentido defender que a crença

verdadeira deve ser sustentada, ou justificada, para que possamos falar

em conhecimento. Um simples palpite não é conhecimento. É

fundamental saber explicar o que sabemos e como sabemos.

o Que problemas levanta a definição tripartida de conhecimento? O problema que a definição tripartida levanta, e que foi colocado por

Gettier, relaciona-se com as condições que são exigidas para que o

conhecimento seja definido desta forma. À primeira vista, parecem ser

condições necessárias para definir o conhecimento. O problema reside

em saber se, em conjunto, estas condições são suficientes para definir

conhecimento.

o Como se ultrapassam os problemas levantados por Gettier? Vários epistemólogos tentaram ultrapassar as questões levantadas por

Gettier. As teorias contemporâneas centram-se sobretudo na terceira

condição – a justificação. Afirmam que, se o conjunto de factos que

justificam a crença assegurar simultaneamente a necessidade da sua

verdade, o problema desaparece.

O problema da origem do conhecimento

a priori vs.

a posteriori

O conhecimento a priori é independente da experiência. O conhecimento a posteriori é dependente da experiência.

analítico vs.

sintético

Uma afirmação analítica é aquela em que o predicado está contido no conceito do sujeito. Uma afirmação sintética é aquela em que o predicado não está contido no conceito do sujeito.

necessário vs.

contingente

Uma verdade necessária tem de ser verdadeira em quaisquer circunstâncias ou em todos os mundos possíveis. Uma verdade contingente é verdadeira, tal como as coisas são num dado lugar ou tempo, mas poderia não o ser.

inato vs.

a priori

Inato é apenas uma noção temporal que se refere a certos conceitos, crenças ou capacidades que são possuídos à nascença. A priori diz-se um conhecimento que, embora possa envolver a intuição, não necessita da experiência para ser justificado.

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Racionalismo

Para os racionalistas, a razão (entendimento) é a fonte principal do conhecimento. Esta

razão é fonte de um conhecimento totalmente independente da experiência sensível – necessário

e universal. A matemática constitui o modelo do conhecimento. No racionalismo, o sujeito impõe-

se ao objeto.

Características do racionalismo:

Ideias inatas: as ideias fundamentais já nascem connosco

Intuição e dedução: as ideias fundamentais descobrem-se por intuição

intelectual. O conhecimento constrói-se de forma dedutiva

Desconfiança dos sentidos: eles são fonte de crenças confusas e, muitas

vezes, incertas

Otimismo racionalista: há uma correspondência entre pensamento e

realidade. Toda a realidade pode ser conhecida

René Descartes e o racionalismo

Para Descartes, o espírito, na procura do conhecimento verdadeiro, deve proceder de

forma metódica, de modo a dissipar toda e qualquer dúvida que possa existir.

Descartes instituiu a dúvida como um método na procura de verdades indubitáveis.

Descartes também disse que, mesmo que haja a menor dúvida, devemos duvidar, pois isso não é

uma verdade absoluta.

Esta dúvida, para Descartes e para os racionalistas, deve ser metódica e provisória (meio

para atingir a certeza e a verdade); deve ser hiperbólica (rejeitar como falso aquilo onde existe a

mínima dúvida); deve ser universal e radical (incide no conhecimento geral e nos seus

fundamentos).

Contudo, como não existe conhecimento sem justificação, Descartes justificou esta

dúvida, tendo em conta as seguintes razões: os sentidos são enganadores; alguns homens

enganam-se nas demonstrações matemáticas; não temos um critério que permita discernir o sonho

da vigília; é possível que exista um deus enganador ou um génio maligno que nos iluda a respeito

da verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados, seja no que toca às verdades e às

demonstrações da matemática, seja no que se refere à própria existência das coisas.

Porém, causa repugnância imaginar que aquele que duvida possa não existir, pois para

duvidar é preciso pensar e para pensar é preciso existir: penso, logo existo. O cogito é, pois, a

primeira verdade que emerge do método cartesiano e constituir-se-á como pilar central do

conhecimento. Deste modo, o cogito é uma intuição racional, isto é, uma evidência que se impõe

ao espírito humano de forma absolutamente clara e distinta.

Em síntese, o cogito: é uma verdade absolutamente primeira; é uma verdade estritamente

racional; é uma verdade exclusivamente a priori; é uma verdade indubitável; é uma verdade

evidente, uma ideia clara e distinta; revela a natureza ou essência do sujeito – pensamento ou

alma; refere-se a toda a atividade consciente, distinguindo-se do corpo.

Porém, além de existir o método (da dúvida), é necessário um critério que permita

identificar um conhecimento como verdadeiro. Descartes responde a este problema dizendo que

todo o conhecimento, para ser considerado verdadeiro, deve ser claro e distinto, ou seja, deve ser

evidente.

Segundo Descartes, cada indivíduo possui três tipos de ideias: adventícias (as que nos

chegam a partir dos sentidos); factícias (as que são provenientes da imaginação); inatas (as que

possuímos à nascença). Porém, apenas as ideias inatas é que são claras e distintas, ou seja, são

aquelas que se apresentam com tal evidência ao espírito humano que não podemos duvidar da sua

verdade, nem as confundir com outras verdades.

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Contudo, apesar de existir o critério, precisamos de alguém que o garanta, ou seja,

precisamos de um deus que não seja enganador. Através desta problemática, Descartes tenta

provar a existência de Deus através dos seguintes argumentos:

Parte da constatação de que na ideia de ser perfeito estão compreendidas todas as

perfeições. A existência é uma dessas perfeições e, por consequência, Deus

existe. O facto de existir é inerente à sua essência, de tal modo que este ser não

pode ser pensado como não existente. A sua existência apresenta um carácter

necessário e eterno. Esta prova é designada argumento ontológico, sendo

desenvolvida a priori, sem recurso à causalidade ou à experiência.

Toma igualmente, como ponto de partida, a ideia de ser perfeito. Podemos

procurar a causa que faz com que essa ideia se encontre em nós. Tal causa não

pode ser o sujeito pensante: sendo finito, não é a causa da realidade objetiva de

tal ideia. O nada também não pode ser a sua causa, nem qualquer ser imperfeito.

A causa da ideia de Deus é Ele próprio. Com efeito, Deus é uma realidade que

possui todas as perfeições representadas na ideia de ser perfeito; é Ele o próprio

ser perfeito e a causa originária da ideia de perfeição. A este argumento dá-se o

nome de argumento da marca impressa.

Baseia-se, igualmente, no princípio da causalidade. O que agora se procura saber

é qual a causa da existência do ser pensante, que é um ser finito, contingente e

imperfeito. Essa causa não é o sujeito que pensa. S o fosse, com certeza que ele

daria a si próprio as perfeições das quais possui uma ideia. Ora, isso não se

verifica. Por outro, e partindo do princípio de que a criação é uma ação contínua

– já que a natureza do tempo é descontínua, e nada garante ao sujeito pensante

que existirá no momento a seguir – o sujeito finito apercebe-se de que não possui

o poder de se conservar no seu próprio ser. Tal só aconteceria se ele fosse causa

de si mesmo. Por isso, o Criador (e conservador) do ser imperfeito e finito, assim

como de toda a realidade, é Deus. Por sua vez, sendo perfeito, Deus não necessita

de ser criado por outro ser: Ele é a causa de si mesmo.

Deste modo, sendo perfeito, Deus não é um ser enganador, pelo que nos encontramos

libertos da dimensão hiperbólica e mais corrosiva da dúvida. Deus é garantia da verdade objetiva,

das ideias claras e distintas, pois ele constitui, afinal, a garantia de que não nos enganamos. Sendo

Criador das verdades eternas, a origem do ser e o fundamento da certeza, Deus garante a

adequação entre o pensamento evidente e a realidade, legitimando o valor da ciência e conferindo

objetividade ao conhecimento. Deus é o princípio do ser e do conhecimento.

Além disso, Deus é também infinito, a fonte do bem e da verdade, é omnipotente, é eterno,

é omnisciente e, embora sendo o Criador do Universo, não é autor do mal, nem é responsável

pelos nossos erros.

Uma vez provada a existência de Deus, Descartes irá também provar a existência do corpo

e das coisas exteriores, em geral, apoiado na certeza de que Deus não o engana. Poderá, assim,

superar todos os argumentos dos céticos radicais.