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resumo do texto de Florestan Fernandes, A dinâmica da mudança sociocultural no Brasil.

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  • RESENHA

    189DIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO em D E B A T ED E B A T ED E B A T ED E B A T E

    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    A DINMICA DA MUDANASOCIOCULTURAL NO BRASIL

    Para melhor explicitar o processo da dinmica sociocultural no Bra-

    sil, Fernandes (1972) divide o assunto em trs grandes tpicos: 1 vign-

    cia e eficcia da civilizao ocidental; 2 o elemento poltico na mudana

    sociocultural espontnea; e 3 os requisitos dinmicos da integrao na-

    cional.

    Sobre a vigncia e eficcia da civilizao ocidental o autor relata:

    Os pases do Novo Mundo herdam da Europa, simultaneamente: 1)

    um conjunto de tcnicas, instituies e valores sociais que caracteri-

    zam, material e moralmente, o estilo de vida humana na chamada

    civilizao ocidental moderna; 2) um conjunto de tendncias para

    explorar e desenvolver as potencialidades dessa mesma civilizao nas

    relaes dos homens com as foras da natureza, da sociedade e da

    cultura (p. 94).

    FERNANDES, Florestan. Sociedade de Classes e Sub-

    desenvolvimento. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.

    Pricles Brustolini

  • PRICLES BRUSTOLINI

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    O que se verificou na prtica, contudo, foram duas formas bsicas

    relativas aos fenmenos sociais. A primeira, em que a ordem social

    correspondia ao padro de civilizao vigente, mas de modo incompleto e,

    no raro, deformado e aberrante, na qual o homem aceitava tais condi-

    es, o padro de civilizao transplantado ficava, naturalmente, conde-

    nado estagnao, ou a substituio. A segunda forma relata exemplos

    onde o homem se opunha a tal degradao e procurava corrigi-la, ou pelo

    menos det-la, e que com o tempo era capaz de promover o desenvolvi-

    mento equilibrado autnomo caso do ocorrido nos EUA (Fernandes,

    1972).

    Quanto ao elemento poltico na mudana sociocultural o autor afir-

    ma o seguinte:

    ... o Brasil j atingiu um nvel de diferenciao social que converte os

    seus problemas de mudana em problemas fundamentalmente polti-

    cos. Eles so problemas polticos em trs sentidos distintos: a) por

    dependerem ou resultarem de mecanismos de ao grupal que tradu-

    zem as posies dos grupos na estrutura de poder da sociedade na-

    cional; b) por exprimirem a natureza e o grau de poder alcanado por

    determinados grupos tanto na universalizao de seus interesses, ideo-

    logias e valores sociais quanto no controle dos processos que afetam

    socialmente, de modo direto ou indireto, a manifestao daqueles

    interesses, ideologias e valores sociais; c) por indicarem em que senti-

    do e dentro de que limites a organizao da sociedade absorve, prote-

    ge e expande, institucionalmente, as condies que so essenciais para

    o seu equilbrio interno (p. 101-102).

    Nesse sentido o pas registra ainda a presena do elemento tradi-

    cionalista que anula as influncias inovadoras e tende a reduzir seu im-

    pacto positivo sobre o desenvolvimento da ordem social competitiva.

    No Brasil as elites tradicionais repeliram na prtica a igualdade

    jurdica-poltica e se apegaram tenazmente s formas tradicionais de

    mandonismo, mantendo, com isso, seu poder dominante na estrutura de

    poder da sociedade nacional (1972).

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    Sabe-se que os imigrantes estabelecidos no Brasil tinham por obje-

    tivo fazer fortuna e voltar a sua terra natal, mas, quando viram que o re-

    torno era uma utopia, trataram de dar continuidade ao processo

    mandonista nas pequenas cidades da expanso capitalista. Nesse senti-

    do, o autor relata que influncias tradicionalistas poderosas tiveram am-

    pla continuidade na organizao das relaes humanas atravs da revolu-

    o burguesa (1972).

    Todo este cenrio serve para compreender e explicar a sobrevivn-

    cia das relaes conservantistas no sentido de obstruir o desenvolvimento

    de novas formas nas relaes sociais.

    So tambm as presses conservantistas que barram o processo

    inovativo/modernizador. Estes ltimos tendem a ser repelidos ou, quando

    muito, so aceitos num contexto de extrema irracionalidade, o que de-

    forma completamente suas caractersticas inovativas/produtivas.

    Por fim, os requisitos dinmicos da integrao nacional. Sob o pon-

    to de vista da Sociologia, integrao nacional representa, acima de tudo,

    que uma sociedade capaz de realizar, como e enquanto nao, o padro

    de equilbrio dinmico inerente a dada ordem social (1972).

    Prossegue o autor dizendo que o Brasil j teve em dois momentos a

    integrao nacional. O primeiro iniciado com a Proclamao da Indepen-

    dncia e implantao do Estado Nacional at a Abolio da Escravatura.

    Esse perodo perdurou praticamente durante todo o sculo XIX. O segun-

    do momento inicia-se com a Proclamao da Repblica (fim do sculo

    XIX), at os dias de hoje (1972).

    Segundo Fernandes (1972), a integrao nacional implica duas va-

    riveis distintas, porm interdependentes. Num primeiro momento ela es-

    timula e orienta a mobilizao social dos fatores psicossociais,

    socioeconmicos ou socioculturais necessrios para promover e dar sus-

  • PRICLES BRUSTOLINI

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    tentao ao desenvolvimento integrado da ordem social competitiva. Num

    segundo instante a integrao nacional coordena a expanso e a

    universalizao da ordem social competitiva (1972).

    O autor encerra o captulo dizendo que o Brasil precisa atingir um

    mnimo de integrao interna visando assegurar certo embasamento para

    projetar-se como sociedade nacional autnoma, e que o pas caminha agin-

    do contra os fenmenos que emperram a mudana, e que vm absorvendo

    de forma significativa padres de organizao social coerentes com

    uma sociedade aberta (1972).

    CRESCIMENTO ECONMICOE INSTABILIDADE POLTICA NO BRASIL

    Intensidade e limitaes do crescimento econmico

    Do ponto de vista da Sociologia, a expresso quantitativa da riqueza

    adquire importncia quanto integrao econmica da civilizao. Nesse

    sentido o autor destaca dois grandes pontos a serem considerados. O pri-

    meiro trata das externalidades (positivas e negativas) nao devido

    incorporao da grande lavoura ao capitalismo comercial. Nesse item

    Fernandes (1972) destaca os principais efeitos na sociedade brasileira:

    rgida especializao econmica; associao do latifndio ao trabalho es-

    cravo ou ao trabalho livre com remunerao nfima; extrema concentra-

    o da renda; mercado interno restrito a alguns poucos produtos de sub-

    sistncia; controle exterior do fluxo das atividades econmicas e da ri-

    queza.

    Mais recentemente trs acontecimentos provocaram um certo avano

    nas relaes socioeconmicas brasileiras. A Independncia, que deu ori-

    gem a um Estado Nacional, e promoveu um certo crescimento econmico,

    mediante a intensificao do comrcio interno dos produtos de subsistn-

    cia. Nesse momento surgem tambm as especializaes regionais.

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    O trabalho livre pressionou formas preexistentes de redistribuio

    da renda, alm da ampliao e diversificao do mercado interno. A pro-

    duo cafeeira, por sua vez, forou a internalizao de diversas ativida-

    des antes desenvolvidas no exterior, como os mecanismos de financia-

    mento.

    O segundo ponto trata dos fatores e efeitos da neutralizao e

    descontinuidade das funes construtivas da revoluo burguesa no plano

    econmico. Nesse sentido trs grandes acontecimentos contriburam de

    forma decisiva para o xito da Revoluo Burguesa: os cafeicultores, que

    auferiam grandes lucros, passaram a investir em diversos setores da eco-

    nomia interna; os imigrantes, que ocuparam os espaos deixados pelos

    primeiros servindo inclusive como mo-de-obra, e o capital financeiro

    internacional, que se internalizou vislumbrando o alargamento das oportu-

    nidades internas. Contudo o impulso econmico provocado pela Revolu-

    o Burguesa no construiu uma base slida, porque continuou a depen-

    der exclusivamente da grande empresa agropecuria para captao de re-

    cursos econmicos externos e acumulao de riquezas. Alm disso, o com-

    plexo econmico colonial continua como forte elemento concentrador de

    renda e gerador de pobreza no meio rural. Este tambm impede a diversi-

    ficao de outras atividades produtivas, barrando o desenvolvimento das

    regies e do pas como um todo.

    Por fim, a dependncia socioeconmica do exterior deixou a econo-

    mia nacional vulnervel ao mercado internacional com destaque para as

    perdas nas relaes comerciais de troca e das perdas na esfera dos centros

    de deciso econmica.

    Ao discorrer sobre a segunda fase da Revoluo Burguesa iniciada

    em meados de 1929 (grande crise econmica mundial) e acelerada pelas

    duas grandes guerras, o autor destaca o xito na correo substancial dos

    desequilbrios supracitados.

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    194DIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO em D E B A T ED E B A T ED E B A T ED E B A T E

    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    Nessa fase ocorreram dois eventos de magnitude. Primeiro, o advento

    do que se poderia chamar de a segunda revoluo industrial pro-

    priamente dito. Por meio de empreendimentos estatais, do capital

    estrangeiro e da iniciativa nacional, supera-se a fase da produo de

    bens de produo, ou seja, penetra-se verdadeiramente na era da civi-

    lizao industrial e da economia de escala na produo industrial

    (Fernandes, 1972, p. 127-128).

    O segundo grande evento refere-se integrao da economia nacio-

    nal via interligaes entre os sistemas de transportes e comunicaes, pos-

    sibilitando a circulao, atravs do mercado interno de riquezas, produ-

    tos primrios e industriais. Este segundo impulso, no entanto, tambm

    deixou lacunas significativas na economia nacional. O pas continua depen-

    dendo significativamente da grande empresa agropecuria, fato que po-

    deria ser corrigido via revoluo agrcola. Outra grande lacuna refere-se

    ao processo substitutivo de importaes. Este se deu por condies exter-

    nas, e no pelo dinamismo industrial interno. Alm destes, o ciclo substitutivo

    de importaes deu-se com recursos da iniciativa privada interna e estran-

    geira. Dessa forma estes investiram em indstrias que possibilitaram maio-

    res retornos e no nas indstrias consideradas vitais que de fato poderiam

    corrigir as distores econmicas estruturais seculares. Estas mesmas in-

    dstrias contriburam para elevar as disparidades socioeconmicas regio-

    nais, uma vez que instalaram suas plantas em algumas poucas regies do

    territrio nacional (Fernandes, 1972).

    SIGNIFICADO E FUNESDA INSTABILIDADE POLTICA

    Ao discorrer sobre a instabilidade poltica Fernandes (1972) diz

    que no o crescimento econmico que provoca a instabilidade, mas a

    forma de apropriao deste. Nesse sentido, o autor discorre sobre a ne-

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    cessidade de certos mnimos sociais na democratizao da renda e expli-

    ca que as classes sociais prejudicadas tm sempre o desejo de conquistar

    posies na ordem social competitiva.

    Os que se beneficiam, contudo, da desigualdade na distribuio da

    riqueza, so os que tm poder de influenciar as instituies polticas, jurdi-

    cas e o prprio regime democrtico no sentido de obterem cada vez mais

    benefcios sempre custa (prejuzo) dos trabalhadores, operrios, ne-

    gros, entre outros. Por fim este ltimo grupo social, no anseio de promover

    uma menor desigualdade, tende a desacreditar no regime democrtico e

    procurar outras formas de governo, gerando a instabilidade poltica.

    ...a inexistncia de canais polticos de absoro de divergncias, ten-

    ses e conflitos sociais e a ausncia de formas propriamente demo-

    crticas de institucionalizao do poder, que pudessem incluir todas

    as classes da sociedade nacional em ocorrncias de interesse comum,

    que respondem e explicam substancialmente o carter inevitvel e

    secular da instabilidade poltica (1972, p. 136).

    Visto sob outra tica, o autor afirma que a diferena de polariza-

    es em face dos interesses representados pelo crescimento econmico

    aumentou at o clmax a instabilidade poltica. Dessa forma verifica-se

    no caso brasileiro que o cenrio socioeconmico e do crescimento da

    economia comandado por classes e seus interesses e que quem logra

    maior xito so as classes que ocupam posies estratgicas nas estruturas

    de poder. O mesmo crescimento econmico, porm, que contribui de for-

    ma imediata para agravar e acelerar a instabilidade poltica, tambm pro-

    voca mudanas de atitudes e comportamentos mais racionais nas mudan-

    as sociais. Isto posto, o autor afirma que a superao de impasse existente

    uma questo de tempo (1972).

    Ao fazer referncia s funes construtivas da instabilidade polti-

    ca, Fernandes 1972 diz que, no caso brasileiro, esta s ser superada via

    eliminao dos entraves socioculturais que sufocam, constrangem ou de-

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    196DIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO em D E B A T ED E B A T ED E B A T ED E B A T E

    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    formam o crescimento econmico. Quanto aos aspectos positivos da ins-

    tabilidade poltica, o autor destaca que esta dever construir certa filoso-

    fia poltica nacional, capaz de integrar econmica, social e culturalmente

    as diversas classes da sociedade. Outro item positivo diz respeito s tenses

    e conflitos que so, em si mesmos, educativos e construtivos.

    O DESENVOLVIMENTO COMO PROBLEMA NACIONAL

    Para a Sociologia o termo desenvolvimento pode ser entendido

    sob duas formas. A primeira refere-se anlise estrutural-funcional, em

    que desenvolvimento equivale a diferenciao das formas da integrao da

    ordem social ou da multiplicao das formas de interao numa determi-

    nada sociedade. Na segunda o conceito de desenvolvimento descrito pela

    anlise histrico-sociolgica. Nesse item, desenvolvimento significa o

    modo pelo qual os homens transformam socialmente a organizao da

    sociedade, ou ainda, como a forma histrica pela qual os homens lutam,

    socialmente, pelo destino do mundo em que vivem, com os ideais corres-

    pondentes de organizao da vida humana e de domnio ativo crescente

    sobre os fatores de desequilbrio da sociedade de classes (1972).

    Pases como o Brasil que so marginalizados e importadores de

    formas organizativas socioeconmicas e polticas da civilizao ocidental

    moderna encontram srias dificuldades para engendrar culturas nacio-

    nais integradas, dotadas de relativa autonomia de crescimento interno e de

    certa auto-suficincia na reproduo dos dinamismos socioculturais em

    que repousa o padro de equilbrio de sua civilizao. Alm disso, os pases

    marginais ficam dependentes do processo civilizatrio dos pases centrais,

    o que provoca incompatibilidade de interesses e os primeiros so, de certa

    forma, coagidos a adotar polticas socioeconmicas prejudiciais a si pr-

    prios, mas beneficiam significativamente os formuladores dos processos.

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    OS CICLOS REVOLUCIONRIOSDA EVOLUO DA SOCIEDADE BRASILEIRA

    A evoluo da sociedade brasileira marcada por dois grandes ci-

    clos. O primeiro durou aproximadamente oito dcadas (de 1808 a 1888),

    tendo incio com a transferncia da Corte Portuguesa e trmino com a

    Abolio da Escravatura. Teoricamente neste ciclo extinguiu-se o pacto

    colonial e ascendeu um Estado Nacional independente. Na verdade o que

    se verificou foi o fim do controle do pas pela Metrpole e pela Coroa por

    um sistema mais sutil, porm implacvel de controle, baseado em mecanis-

    mos puramente econmicos e estabelecendo nexos de relaes comerciais

    de importao e exportao. Alm disso, nessa poca, o pas passou por

    um processo intenso de internalizao e absoro de instituies econ-

    micas inexistentes at ento e que estabeleceram ramificaes por todo o

    territrio nacional visando manipular o pas de acordo com os interesses

    dos pases centrais (1972).

    O segundo ciclo perdurou por aproximadamente sete dcadas de

    1890 a meados de 1960. Esse ciclo tem incio com o arranjo de foras

    econmicas sociais e polticas, alm da expanso interna do capitalismo

    comercial e financeiro. Alm destes, a associao entre a produo agrria

    exportadora e os negcios de importao e exportao aliados expanso

    do mercado interno, a qual, marca de fato, a primeira grande transforma-

    o da economia brasileira. Em outras palavras, a integrao do capitalis-

    mo comercial e financeiro como um processo histrico, lastreado na orga-

    nizao da sociedade brasileira (1972).

    Este ciclo, porm, continuou com o processo de dependncia exter-

    na via montagem de mecanismos comerciais e bancrios controlados a

    partir de fora. Nesse sentido, o autor escreve:

  • PRICLES BRUSTOLINI

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    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    Ao mesmo tempo em que o capitalismo alcana sua maior complexi-

    dade e maturidade, como capitalismo industrial, exprimindo uma eco-

    nomia de mercado especificamente moderna e afirmando-se como

    algo irreversvel nas atividades humanas ou nas aspiraes sociais,

    tambm revela, ao mximo, que o crescimento econmico de uma

    economia nacional dependente completa-se dentro de um crculo vi-

    cioso (1972, p. 159).

    Dessa forma o autor explica que a revoluo burguesa e o capita-

    lismo s conduzem a uma verdadeira independncia socioeconmica quan-

    do existe uma vontade nacional que se afirme coletivamente por meios

    polticos e tenha por objetivo supremo a construo de uma sociedade

    nacional autnoma (1972).

    O DESENVOLVIMENTOCOMO PROBLEMA NACIONAL

    Ao discorrer sobre o desenvolvimento brasileiro Fernandes (1972)

    diz que o pas vem apresentando crescimento econmico significativo, o

    problema apresenta-se devido no integrao do Brasil como uma socie-

    dade nacional. Nesse sentido, o ponto de estrangulamento o modo de

    participao da sociedade como um todo nas suas diversas classes e ori-

    gens. Outro item que tende a impedir o processo desenvolvimentista so os

    estamentos e grupos sociais privilegiados.

    Prossegue o autor afirmando que para que haja uma mudana de

    fato fazem-se necessrias alteraes internas e externas. O processo de

    mudana, contudo, deve originar-se internamente via modificao das

    estruturas socioeconmicas e polticas. Nesse sentido, o desenvolvimento

    constitui-se em um problema macrossociolgico que ultrapassa os limi-

    tes econmicos, sociais, culturais e polticos.

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    199DIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO emDIRE I TO em D E B A T ED E B A T ED E B A T ED E B A T E

    Ano XI n 20, jul./dez. 2003

    No momento em que o desenvolvimento passa a ser encarado como

    um problema nacional, o diagnstico e a atuao prtica implicam um

    querer coletivo polarizado nacionalmente (1972).

    Portanto, a democratizao da renda, do prestgio social e do po-

    der aparece como uma necessidade nacional, a qual fornecer as bases

    para um querer coletivo rumo ao processo desenvolvimentista (1972).