Resumo Forum Produção Discente

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Candide ou l'Optimisme e a tradução enquanto obra A prática de tradução tem muito da prática crítica. É uma atividade que envolve profunda reflexão sobre o seu objeto – pois pensar o texto e produzí-lo em outro idioma vai muito além da simples troca de código. Para estudar um texto traduzido, deve-se ter em conta que essa prática envolve diversos contextos e parâmetros culturais, políticos e ideológicos que influenciam e determinam o trabalho do tradutor. A obra traduzida não é apenas o resultado mecânico da prática de tradução, mas o resultado de um complexo jogo de relações entre o texto original, o texto traduzido, o autor e o tradutor – e essas relações significam algo. Tendo- se em conta, então, o trabalho do tradutor como uma atividade crítica produtora de significados, a análise de uma tradução apresenta-se como uma perspectiva crítica de uma atividade já crítica, o que demanda uma postura de leitura da tradução como obra, uma leitura da tradução como obra tradutória. Tendo essas considerações em vista, este trabalho centra-se numa leitura forte de nove traduções diferentes para o português do Brasil da obra Candide ou l’Optimisme , de Voltaire – publicadas entre 1938 a 2013 –, propondo-se a levar às últimas consequências a ideia de ler (intensiva e extensivamente) essas traduções como obras. Para tanto, parte-se da discussão sobre o significado e as possibilidades da leitura de tradução enquanto tal, de forma a perceber as características distintivas de cada texto. Propõe-se ainda ler e trabalhar com cada um dos textos por completo e não apenas com determinados trechos. Ainda que os trabalhos centrados na prática do cotejo pontual de algumas ocorrências paralelas seja absolutamente legítimo e possa ser muito revelador, a proposta, aqui, é trabalhar com uma unidade textual constituída pela íntegra da tradução, de modo a entender cada texto traduzido como obras próprias e a observar em que medida cada tradução se mostra, de fato, singular. Palavras-chave: crítica de tradução; leitura de tradução; literatura francesa; Voltaire.

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Candide ou l'Optimisme e a tradução enquanto obra

A prática de tradução tem muito da prática crítica. É uma atividade que envolve profunda reflexão sobre o seu objeto – pois pensar o texto e produzí-lo em outro idioma vai muito além da simples troca de código. Para estudar um texto traduzido, deve-se ter em conta que essa prática envolve diversos contextos e parâmetros culturais, políticos e ideológicos que influenciam e determinam o trabalho do tradutor. A obra traduzida não é apenas o resultado mecânico da prática de tradução, mas o resultado de um complexo jogo de relações entre o texto original, o texto traduzido, o autor e o tradutor – e essas relações significam algo. Tendo-se em conta, então, o trabalho do tradutor como uma atividade crítica produtora de significados, a análise de uma tradução apresenta-se como uma perspectiva crítica de uma atividade já crítica, o que demanda uma postura de leitura da tradução como obra, uma leitura da tradução como obra tradutória. Tendo essas considerações em vista, este trabalho centra-se numa leitura forte de nove traduções diferentes para o português do Brasil da obra Candide ou l’Optimisme, de Voltaire – publicadas entre 1938 a 2013 –, propondo-se a levar às últimas consequências a ideia de ler (intensiva e extensivamente) essas traduções como obras. Para tanto, parte-se da discussão sobre o significado e as possibilidades da leitura de tradução enquanto tal, de forma a perceber as características distintivas de cada texto. Propõe-se ainda ler e trabalhar com cada um dos textos por completo e não apenas com determinados trechos. Ainda que os trabalhos centrados na prática do cotejo pontual de algumas ocorrências paralelas seja absolutamente legítimo e possa ser muito revelador, a proposta, aqui, é trabalhar com uma unidade textual constituída pela íntegra da tradução, de modo a entender cada texto traduzido como obras próprias e a observar em que medida cada tradução se mostra, de fato, singular.

Palavras-chave: crítica de tradução; leitura de tradução; literatura francesa; Voltaire.