Resumo - História Da Música Popular

17
Resumo da disciplina História da Música Popular Professor: Daniel Ribeiro Campos Email: [email protected] 1. Jairo Severiano divide a história da MPB em quatro fases: A Formação (1770-1928) A Consolidação (1929-1945) A transição (1946-1957) A Modernização (1958-) 2. FORMAÇÃO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1770 – 1928) 1) Primeira fase (1770 – 1845) 2) Segunda fase (1845 – 1870) 3) Terceira fase (1870 – 1910) 4) Quarta fase (1910-1928) Formação dos primeiros gêneros Chegada gêneros estrangeiros Formação de novos gêneros através do hibridismo e adaptação formação e/ou transformação de outros gêneros Modinha Lundu Europa: Polca Tango Scottish Mazurca Valsa Cuba: Habanera Maxixe Tango Brasileiro Choro Scottish Brasileiro Marchinha Samba Ritmos regionais Toada/Embolada/ Música Caipira

description

Resumo sobre a historia da música popular brasileira.

Transcript of Resumo - História Da Música Popular

Resumo da disciplina História da Música Popular

Professor: Daniel Ribeiro Campos

Email: [email protected]

1. Jairo Severiano divide a história da MPB em quatro fases:

• A Formação (1770-1928)

• A Consolidação (1929-1945)

• A transição (1946-1957)

• A Modernização (1958-)

2. FORMAÇÃO DA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA (1770 – 1928)

1) Primeira fase (1770 – 1845)

2) Segunda fase (1845 – 1870)

3) Terceira fase (1870 – 1910)

4) Quarta fase (1910-1928)

Formação dos primeiros gêneros

Chegada gêneros estrangeiros

Formação de novos gêneros através do hibridismo e adaptação

formação e/ou transformação de outros gêneros

Modinha Lundu

Europa: Polca Tango Scottish Mazurca Valsa Cuba: Habanera

Maxixe Tango Brasileiro Choro Scottish Brasileiro

Marchinha Samba Ritmos regionais Toada/Embolada/ Música Caipira

3. Surgimento da Música Popular Brasileira

• A música popular constitui uma criação contemporânea do aparecimento de cidades

com certo grau de diversificação social. Nos primeiros duzentos anos da colonização

não havia um “povo”. Por exemplo, em Minas Gerais, as criações culturais se

restringiam aos campos da arquitetura, escultura, pintura e música religiosa. Devido à

exploração das minas, dividia-se a população mineira em trabalhadores escravos e

nobreza proprietária-elite. Havia música folclórica dos escravos e música europeia

erudita por parte da nobreza e a igreja ao centro para unificar as classes. Portanto, a

música popular surgiu principalmente nos centros em que se houve uma diversificação

social que eram nas cidades coloniais de Salvador e do Rio de Janeiro durante o século

XVIII.

• Povos e culturas existentes no Brasil no período colonial:

o Indígenas: viviam em estado de nomadismo ou em reduções administrativas

com caráter de organização teocrática pelos padres jesuítas:

� Danças rituais dos indígenas acompanhadas por instrumentos de

sopro (flautas de várias espécies, trombetas e apitos);

o Negros africanos: eram considerados “mercadorias” e só possuíam

representatividade social enquanto membros de irmandades religiosas;

� Batuques africanos;

o Brancos e mestiços livres: empregados na cidade, minoria sem expressão;

� Canções europeias.

• Portanto, para surgimento de um gênero reconhecível como brasileiro e popular: seria

necessária uma resultante destes elementos musicais e, consequentemente, um novo

público com uma expectava cultural.

4. Raízes principais da música popular brasileira: Modinha e Lundu

• Ambas do início no final do século XVIII

• A modinha e o lundu são os primeiros gêneros de música popular brasileira

a. Modinha:

• Há muito pouca informação sobre a música deste período;

o Conotação genérica: qualquer tipo de canção

o Moda caipira ou moda de viola (ainda hoje presente na música brasileira)

• José Miguel Wisnik:

o A palavra vem da "moda" portuguesa, tipo de canção de salão baseada em

fórmulas melódicas possivelmente italianas. Abrasileirada, ganha uma

"sensualidade mole", movimentos sincopados, palavras de gosto tropical e

afro-brasileiro, além de uma carga de linguagem afetiva, a começar do

diminutivo aplicado ao próprio nome do gênero - "modinha". Ao introduzi-la

com grande efeito em Portugal, na corte de D. Maria I, na altura de 1775,

Caldas Barbosa estaria condensando uma tendência difusa já presente no

Brasil de maneira assistemática, entre "mestiços, negros, pândegos, tocadores

de viola”.

• A modinha de origem na colônia, foi levada por Domingos Caldas a Europa, passou por

influências cameríticas da ópera italiana e retorna para o Brasil com a corte de Dom

João VI em 1808;

• Foi durante praticamente todo o século XIX o meio de expressão poético-musical mais

popular com a temática amorosa;

• Não se prendeu a esquemas rígidos de forma, resultando em muitas variações.

• Indícios de que a modinha tem origem popular: A canção “Declaração de Lereno”

“Eu sou Lereno De baixo estado, Choça nem gado Dar poderei”

• “De Baixo estado”: Nesta canção, Domingos dá indícios de sua origem das camadas

populares; Quem era desta classe social, dificilmente teria acesso à educação musical

erudita. A formação erudita na época só era possível se o indivíduo estudasse em

universidades europeias que eram reservadas à nobreza e à nascente alta burguesia

de Portugal

• Transformação da modinha: Influência europeia - Italianização da modinha

o Na segunda metade do século XVIII, os melhores músicos portugueses eram

enviados para a Itália para estudar;

o A modinha passou a interessar aos músicos de escola;

o Transformou-se em canção camerística tipicamente de salão;

o “O que iria acontecer com a modinha, a partir dos últimos anos do século

XVIII, até a segunda metade do século seguinte, seria o fato de que, passando

a interessar aos músicos de escola, o novo gênero acabaria realmente se

transformando em canção camerística tipicamente de salão, precisando

aguardar depois o advento das serenatas à luz dos lampiões de rua, nos

últimos anos do século XIX para então retomar a tradição de gênero popular,

pelas mãos dos mestiços tocadores de violão.”

• Modinha de salão:

o Trazida pela corte do príncipe Dom João, a partir de 1808;

o Eram confundidas com árias de óperas italianas;

o “Enquanto isso não se deu, a modinha de salão – trazida de torna-viagem ao

Brasil com a corte do príncipe Dom João, a partir de 1808 – enfrentou durante

mais de meio século o equívoco dos compositores ligados à Capela Real e, a

partir de 1841, ao Conservatório de Música da capital do Império, chegando a

confundir-se com árias de óperas italianas, o que explica a sua voga inclusive

nos teatros, interpretada por cantores líricos estrangeiros, como a famosa

soprano Augusta Candiani (...)”.

• Alguns compositores de Modinha:

o Manoel da Câmara

o Foi o momento de ver-te

o Se me desses um suspiro

o Se queres saber a causa

o Cândido José de Araújo Viana – “O marquês de Sapucai” (1793-1875) – Minas

Gerais

o Já que a sorte destinara

o Mandei um eterno suspiro

o Cãndido Inácio da Silva (1800-1838): Compositor, letrista e cantor, tocador de

viola francesa (nome que era dado ao violão da época). Modinhas:

o Batendo a linda plumagem

o Cruel Saudade

o Minha Marília não vive

o Um só tormento de amor

• Todas estas Modinhas foram publicadas em Modinhas Imperiais de Mário de Andrade

• Há também muitas modinhas de autores desconhecidos

b. Lundu

• Surgiu da fusão de elementos musicais de origens branca e negra;

• Tornou-se o primeiro gênero afro-brasileiro da canção popular;

• Raiz da formação de nossos gêneros, processo que culmina com a criação do samba;

• Originalmente uma dança sensual e tomou forma de canção no final do século XVIII;

• Referência mais antiga está na coletânea Viola de Lereno;

• Música alegre com versos satíricos, maliciosos;

• Variação nos esquemas formais;

• Praticamente todos os autores de modinha compuseram também alguns lundus;

• Exemplo

o Lá no Largo da Sé de (Cândido Inácio da Silva com letra de Araújo Porto Alegre)

o Lundu de marrequinha (Francisco Manoel da Silva com letra de Francisco Paula

Brito) Autor também do Hino Nacional Brasileiro

o Os beijos do frade (Henrique Alves de Mesquita com letra de E.D Villas Boas)

• O termo era usado também para denominar uma dança derivada das rodas de

batuque dos negros africanos;

• Há poucos documentos sobre a história do Lundu

• Variedades na grafia: Lundu, lundum, landu, landum, londu, londum, loudum

• As referências ao lundu como gênero de música cantada são raras até meados do

século XIX; O que se tem, é que a grafia lundum existiu desde o fim do século XVIII se

referia a uma cantiga cuja letra indicava uma procedência brasileira;

• Outras características:

o A aceitação pessoal ou indireta do caráter negro;

o Preocupação humorística dos temas tratados.

• A influência do batuque ia se revelar na entoação das chulas “de ritmo cadenciado

onomatopaico” ao final das quais se acrescentava o estribilho, que traduzia a parte

cantada em coro, com acompanhamento de palmas;

• “A música, em compasso binário, apresenta muitas vezes uma parte de estrutura

declamatória, com valores rápidos e intervalos curtos (estrofes), a que se segue uma

outra de caráter coreográfico nítido, e sincopada (refrão)”

• Em alguns versos de Caldas revela que a dança do lundu era praticada em Lisboa nos

fins do século XVIII assim como no Brasil;

• Alguns Versos:

“Quem me havia de dizer Mas a coisa é verdadeira; Que Lisboa produziu Uma linda brasileira”. “Tomara que visse a gente Como nhanhã dança aqui; Talvez que o seu coração Tivesse mestre d’ali”. “Ai companheiro Não será ou sim será O jeitinho é brasileiro” “Uns olhos assim voltados Cabeça inclinada assim, Os passinhos assim dados Que vêm entender com mim”

“Ai rum rum Vence fandangos e gigas A Chulice do Lundum”

• Mário de Andrade:

o “Este lundu tem um movimento muito coreográfico. A palavra “lundu” está

desaparecendo. Aqui no centro do país indica especialmente uma cantiga

praceana de andamento mais vivo que o da modinha e com texto de caráter

cômico, irônico, indiscreto”.

• Referência mais antiga à dança do Lundu (1780):

o O ritmo de acompanhamento básico era o da percussão dos batuques dos

negros escravos e a coreografia imitava bastante alguns passos da dança

espanhola “fandango”

• Em 1834 – o cantor concertista Cândido Inácio da Silva compões o lundu intitulado Lá

no Largo da Sé (letra de Araújo Porto Alegre) – Já não incluía os negros como tema;

• Dissociação do lundu-canção com o lundu-dança:

o O lundu-dança continuou a existir, cultivado pelos negros e mestiços (e por

brancos de camadas sociais mais baixa);

o Apoiado por estribilhos curtos;

o Inclusão eventualmente de uma chula;

• O lundu passou a interessar os compositores eruditos (que o desfiguraram a ponto de

ser confundido com a modinha de sabor erudito: “Dessa forma, enquanto na área dos

entremezes de teatro (que atendia ao gosto de um público mais heterogêneo e ligado

ao povo) o lundu se transformava numa canção de brancos para ser cantada em língua

de negro, explorando a graça da posição especial dos escravos na sociedade patriarcal,

nos salões das elites o lundu sofria o mesmo processo de distorção experimentado

também pela modinha, acabando, no plano musical, por transformar-se, no Segundo

Império, em canções ainda risonhas, mas de estrutura erudita, para cravo ou piano.”

c. Domingos Caldas Barbosa (Rio de Janeiro, 1740-1800)

• Primeiro nome associado à música popular brasileira. Mulato carioca, filho de

português com escrava angolana, Caldas Barbosa foi o responsável por levar a

modinha e o lundu para Portugal na década de 1770, onde permaneceu até sua morte;

• Em 1798 publica “Viola de Lereno”, uma coletânea com suas cantigas, em sua maioria

modinhas. O músico cantava acompanhando-se à “viola de arame”, um precursor da

viola. Depois de fazer sucesso em Portugal, esses gêneros retornam ao Brasil com a

corte portuguesa em 1808;

• Estudou com jesuítas;

• Sua veia satírica acarretou-lhe, como punição, uma vivência militar;

• Por volta de 1770 deixou o Brasil, rumo a Portugal;

• Adotou o nome de Lereno Selinuntino;

• “O que mais choca os europeus da corte da Rainha Dona Maria I é exatamente o tom

direto e desenvolto com que o trovador se dirigia às mulheres e a malícia dos

estribilhos com que rematava os seus versos”;

• São os manuscritos de Antônio Ribeiro dos Santos (de fins do século XVIII) que revelam

grande parte do tipo de música lançada nesta época:

o Rompimento declarado com as formas antigas de canção;

o Rompimento com o quadro moral das elites.

• Fator social:

o O ouro brasileiro que ia pra Portugal permitiu em meados do século XVIII uma

ampliação do círculo das famílias da burguesia e da nobreza;

o Isto resultou em uma mudança no comportamento, libertando estas classes de

algumas restrições morais. Proporcionou uma maior aceitação dos versos de

Domingos Caldas Barbosa.

• Causou grande impacto, principalmente nas damas que eram cortejadas por ele.

• Suas canções eram diferentes de tudo que já havia sido feito;

• Também foi criticado por alguns artistas da época:

o “Eu não conheço um poeta mais prejudicial à educação do que o trovador de

Vênus e Cupido: a tafularia do amor, a meiguice do Brasil, e em geral a moleza

americana, que faz o caráter das suas trovas, respiram os ares voluptuosos de

Pafus e Cítara e encantam com venenosos filtros a fantasia dos moços e o

coração das damas”.

• Em 1798 foi publicado em Lisboa o volume I da Viola de Lereno: coleção de improvisos

e cantigas de Domingos Caldas Barbosa. O livro registra o que de melhor se conhece

de sua obra. O material publicado na Viola de Lereno foi musicado por Barbosa.

Porém, nenhuma de suas melodias chegou até os dias atuais;

• Adotou o nome de Lereno Selinuntino (uma homenagem ao também poeta Francisco

Rodrigues Lobo (1580-1622);

• O compositor morreu no dia 9 de Novembro de 1800.

5. Família Real, o piano e as danças de salão:

• Corte portuguesa – fuga das tropas de Napoleão para o Brasil em 1807 – chegaram no

dia 07 de março de 1808 no Rio de Janeiro;

• Houve um “surto de civilização e desenvolvimento” por parte da corte portuguesa:

• Fundações:

o Da Academia Belas Artes;

o Da Biblioteca Pública;

o Do Banco do Brasil;

o Do Jardim Botânico.

a. O piano no Brasil:

• Na música: a introdução do piano, da valsa e de outras novidades europeias;

• Breve histórico do Piano:

o Inventado pelo italiano Bartolomeu Cristofori em 1711, a princípio com o nome

de gravecembalo col piano e forte que significava “cravo com a faculdade de

produzir sonoridades fracas e intensas”;

o Depois o nome foi simplificado para pianoforte;

o Após alguns ajustes, ele se tornou um dos instrumentos mais completos do

século XIX;

o Os primeiros que chegaram no Brasil eram exemplares de 6 oitavas (os atuais

tem 7 oitavas e um terço num total de 88 teclas);

• Década de 1820: impressão musical de partituras e venda de pianos;

• Tornou-se presença obrigatória nas salas das famílias nobres;

• Frase: “tocava-se, cantava-se, recitava-se e dançava-se com fundo pianístico”

• Tornou-se símbolo de status social;

• Entre 1850 a 1930 – período em que o piano ocupou lugar de destaque nas casas e

salões brasileiros;

• Decadência: expansão e popularização do rádio, substituindo os pianos das casas pelos

aparelhos transmissores de rádio;

• O violão, por ser mais barato e portátil, ganhou lugar na preferência popular;

b. As danças

• Algumas danças trazidas da Europa:

o Minueto;

o Gavota;

o O solo inglês;

o A valsa;

o A contradança (Denominação dada à coreografia tradicional em salões

principescos ao som de minuetos ou peças musicais especialmente compostas

em que os pares avançam e recuam em fileiras opostas ou se intercalam, com

evoluções características e, às vezes, fazendo o rodízio entre damas e

cavalheiros. Semelhante movimentação e rotatividade de dançarinos

acontece, outrossim, em festas populares, como nas quadrilhas juninas. Exs:

� O cotillon;

� Quadrilha.

• As que vingaram: a valsa e a quadrilha

i. Valsa: origem alemã

o Composição ternária;

o Primeira a ser dançada em pares enlaçados;

o Ganhou estilos distintos pelos países em que se estabeleceu;

o No Brasil, marcou presença no folclore, no popular e no erudito;

o Indícios que era tocada nos bailes de máscaras no Rio de Janeiro em 1836

o Em 1841, chegam as valsas vienenses dos dois Johann Strauss (pai e filho);

o Na virada do século ganha uma popularidade maior, pois se torna música com

letra;

o Alguns compositores de valsas:

� Cândido Inácio da Silva, José Joaquim Goiano, Henrique Alves de

Mesquita, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Anacleto de

Medeiros.

ii. Quadrilha: origem francesa

o Teve forte prestígio no começo do século e declinou com a queda da

monarquia;

o Dança que abria os bailes das cortes europeias

o Ao sair de moda, a dança trocou os salões pelos terreiros juninos,

sobrevivendo de variantes popularescas;

c. Outras danças estrangeiras:

• Em meados do século XIX chegam ao Brasil:

o A polca

o A mazurca

o A schottisch

o A habanera

o O tango

i. Polca:

o Origem camponesa na Boêmia por volta de 1830 – depois foi introduzida

em Praga e se espalhou pelo mundo

o Ritmo: Binário alegro

o Chega ao Brasil no ano de 1840 e no final deste ano, já era utilizada nas

composições de alguns brasileiros

ii. Mazzurca

o Dança ternária polonesa difundida através da Alemanha;

o Foi estilizada por Chopin

o Obteve uma certa popularidade em Pernambuco no final do séc.XIX

o Luiz Gonzaga: Dança da Mariquinha, Cortando Pano

iii. Schottisch:

o Dança polonesa

o Chegou ao Brasil em 1851

o Um pouco semelhante à polca, foi chamada pelos ingleses de polca alemã;

o Caiu em desuso por parte dos compositores brasileiros, sobrevivendo

apenas na música rural sulina e nordestina;

iv. Tango e habanera:

o Surgem na década de 1860;

o Tango-chanson havanaise

o Ambos binários

o Muito populares na Espanha e na América Latina

o “o tango andaluz e a habanera cubana têm provavelmente origem em

cantos remotos da África do Norte, levados pelos árabes para a Espanha e

pelos negros para Cuba”.

6. Terceira fase (1870 – 1910) – Fusão de gêneros

• Fusão das danças com formas nativas da cultura africana, chamadas de batuque: Isso

explica o surgimento do tango brasileiro, maxixe e do choro;

a. Tango brasileiro:

• O mais antigo tango brasileiro de que se tem notícia é “Olhos matadores” de Henrique

Alves de Mesquita;

• O tango brasileiro seria uma mistura de hananera com o tango espanhol com alguns

elementos da polca e do Lundu;

• Henrique Alves de Mesquisa: O compositor estudou na França (foi em 1857 e retornou

em 1866), compôs também polcas e outros gêneros como quadrilhas e lundus;

Composições:

o Polcas: Aurora, Minha Virgínia e Corrupio;

o Quadrilhas: Carnaval no Rio, Coquette, Soirée brésilienne e Raios de Sol;

o Lundus: Nono mandamento, Os beijos do frade;

o Tangos: Batuque.

• Frase de Baptista Siqueira (biógrafo de ambos): “O maestro Mesquita é o verdadeiro

criador do tango brasileiro, sendo Nazareth o seu sistematizador genial”.

• Nazareth “abrasileirou” a rítmica do tango brasileiro, mais próxima do batuque e do

lundu, diferentemente de Mesquita que seus tangos possuíam características mais

próximas da habanera e do tango espanhol; Eram também chamados de “polca-

lundu”;

o Alguns tangos: Brejeiro, Bambino, Fon-fon, Odeon e Turuna

• Obs: Tango argentino: também tem origem na habanera e no tango espanhol e

fundiram-se com a milonga crioula com uma influência da polca e da schottish – surgiu

na década de 1870, um pouco depois do tango brasileiro;

b. Maxixe

• Nasceu como a primeira dança urbana brasileira e começou a ser dançado ao ritmo de

outros gêneros como: polca, tango, polca-lundu, tango-lundu e o tango-batuque;

• É a primeira grande contribuição das camadas populares do Rio de Janeiro à música do

Brasil;

• Nasceu de uma maneira livre de dançar os gêneros de música da época;

• Surgiu de “sincopações” por parte dos músicos de tangos, polcas e habaneras;

• A princípio, muitos músicos ignoraram a nomenclatura, pois a consideravam ordinária,

desprezível, preferindo chamar suas composições de polcas-lundu, tangos-lundu ou

simplesmente tango;

• Praticamente desapareceu na década de 1930. Motivos:

o Chegada de novos ritmos americanos

o Crescimento do samba

• Compositores e composições:

o Chiquinha Gonzaga e Sinhô:

� Corta-Jaca (Chiquinha Gonzaga)

� Amapá (Chiquinha Gonzaga)

� Ora vejam Só (Sinhô)

� Jura (Sinhô)

c. Choro

• Invenção carioca e aperfeiçoado por gerações de músicos até os dias atuais;

• Presença do improviso;

• Sua maior influência é a polca (no início, eram “polcas tocadas à moda brasileira”).

• Ao longo do tempo, foi se tornando mais sincopado e mais próximo do samba;

• Geralmente na forma “rondó” de três partes, herdada da polca;

• Passou de música dançante para música virtuosística;

• Figura de maior expressão no período inicial de formação do choro: Joaquim Antônio

da Silva Calado (1848-1880) “Caladinho ou Calado Junior” – flautista virtuose;

• Calado interessava-se mais pela formação de conjuntos a base de violões e

cavaquinhos; Daí que surgiu a formação tradicional do choro – denominação: Choro do

Calado – uma flauta ou outro solista, dois violões e um cavaquinho;

• O solista geralmente lia partitura e os demais improvisavam sobre as cadências

harmônicas;

• Calado dedicava-se a composição também; Muito desse repertório foi perdido por não

ter sido editado:

o No seu repertório predominam polcas e quadrilhas, várias com nomes

femininos (Conceição, Ernestina, Florinda, etc...)

• Chiquinha Gonzaga o admirava e ganhou uma composição em sua homenagem a polca

“Querida por todos”;

• Outras composições: Lundu característico, Cruzes, minha prima, Lembrança do Cais da

Glória, Linguagem do Coração, Saudosa, A flor amorosa;

• Morreu em 1880 aos 31 anos – uma epidemia meningo-encefalite

• Apesar do seu falecimento, muitos grupos de choro já haviam se consolidado;

• O termo como gênero só se fixou em 1910;

• Os conjuntos se proliferaram e, além de tocarem em festas para ser dançado,

passaram a acompanhar cantores de modinha e serenatas acarretando no surgimento

dos conjuntos regionais que atingiram grande popularidade na Era do Rádio;

• Calado foi também um dos fundadores da escola de flauta brasileira;

• A maioria dos chorões da época eram funcionários públicos dos Correios, da

Alfandega, do Tesouro Nacional, da Casa da Moeda.

• Alguns compositores deste período:

o Chiquinha Gonzaga

o Viriato Figueira da Silva

o Virgílio Pinto da Silveira

7. Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e Anacleto de Medeiros

• São as maiores figuras da música popular brasileira no século XIX

a. Ernesto Nazareth (1863-1934)

• Ernesto Júlio Nazareth, filho de funcionário público, nasceu em 20 de março 1863 no

Morro do Nheco (atual bairro carioca de Santo Cristo);

• Iniciou os estudos de piano com sua mãe, e, após a morte dela, continuou os estudos

com um professor de música; Após seguiu como autodidata;

• Em 1877, com 14 anos, compõe a polca Lundu “Você quem sabe” dedicada ao pai;

• Aos vinte anos já tinha 8 composições editadas: 7 polcas e uma valsa;

• Após um predomínio de polcas no seu repertório, em 1892 compõe uma polca-tango:

Rayon d’or;

• O tango é o segmento mais importante de sua obra;

• Nazareth captou o esquema rítmico-melódico criado pelos chorões, levando-o para o

piano, enriquecendo-o com belas melodias;

• Sua música tem características tanto eruditas como populares;

• Compôs várias valsas também, nacionalizando a influência dos compositores europeus

como Berger e Strauss;

• Incorporou nestas valsas a melancolia brasileira das canções seresteiras;

• Por volta de 1907 trabalhou no serviço público, pois a profissão de músico não lhe

proporcionava uma estabilidade financeira que precisava, pois sustentava a mulher e

os quatro filhos;

• Em 1917, muda-se para Ipanema devido a uma enfermidade de sua filha, o que causou

um trauma no compositor;

• Além de compositor, foi um instrumentista virtuose;

• Morre em 1934 ao fugir de um Sanatório.

b. Chiquinha Gonzaga (1847-1935)

• Francisca Edwiges Neves Gonzaga nasceu em 17 de outubro de 1847 no Rio de Janeiro

• Teve uma educação formal com iniciação no piano;

• Fez sua primeira composição aos 11 anos: Canção dos pastores

• Sua família era pobre, por isso foi arranjada para um casamento que se realizou

quando ela completou 16 anos de idade com Jacinto Ribeiro do Amaral

• Começou a ter uma vida independente e sempre era cortejada por Joaquim Calado;

porém sua grande paixão foi o engenheiro João Batista de Carvalho Júnior; Viviam

juntos sem serem casados, prática intolerante para a época; o relacionamento logo

terminou também;

• Em 1877, ela começa sua vida profissional como musicista e compositora;

• Nesta época compôs a música “Atraente” em reunião de chorões na casa de Henrique

Alves de Mesquita;

• Passou a tocar em bailes e a lecionar piano

• Foi a primeira profissional a levar o choro para o piano;

• Compôs valsas, polcas e tangos;

• Em 1880, ela começa a participar de campanhas abolicionistas e republicanas além de

compor para o teatro musicado (esta sendo uma das vertentes mais importantes da

sua obra); Obras:

o Com parcerias: Abacaxi, A mulher homem, Amapá, Cá e lá;

o Sozinha: Não venhas, A bota do diabo, Pudesse esta paixão, A sertaneja,

Forrobodó;

• Morreu aos 87 anos no dia 28 de fevereiro de 1935;

• Composições:

o LUA BRANCA

o O abre-alas

c. Anacleto de Medeiros (1866-1907)

• Anacleto Augusto de Medeiros nasceu na ilha de Paquetá (Rio de Janeiro)

• Filho de uma escrava liberta;

• Estudou desde cedo com o Maestro Pinheiro Freire;

• Tocava flautim e saxofone e clarinete;

• Em 1896 foi convidado pelo comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro

para dirigir a banda da corporação;

• Formou a banda:

o Luís de Souza e Caseiro Rocha (cornetim)

o Edmundo Otávio Ferreira (requinta)

o Manoel Salgado (fagote)

o João Ferreira de Almeida (bombardino)

o Oscar José Luís de Souza (saxofone)

• Foi uma das melhores bandas do país na época e depois acabou participando das

primeiras gravações dos discos brasileiros;

• As bandas militares só começaram a se organizar com a permanência da corte

portuguesa no Rio de Janeiro no início do século XIX. Após a independência do país, as

bandas não ficaram mais restritas à atender a corte passando a difundir a música

popular e popular no país;

• Deixou cerca de 90 composições; principalmente feitas para bandas de metais,

revelando-se ótimo melodista e harmonizador;

• Schottisch brasileiro: Iara

• Foi considerado o sistematizador do schottisch brasileiro;

• Composição mais conhecida: Iara

• Tinha também o dom de educador musical;

• Morreu em 14 de Agosto de 1907 aos 41 anos.

8. Entrada do teatro de revista

• A Revista é um género de teatro, de gosto marcadamente popular, que teve alguma

importância na história das artes cénicas, tanto no Brasil como em Portugal, que tinha

como caracteres principais a apresentação de números musicais, apelo à sensualidade

e a comédia leve com críticas sociais e políticas, e que teve seu auge em meados

do século XX.

• Música tocada no teatro: Durante um tempo, o lundu foi um gênero em forma de

espetáculo cômico-musical – sátira política e social com humor livre, malicioso;

• O teatro de revista nasceu em Paris no início do séc XIX – depois passou por países

como Espanha, Inglaterra e a Alemanha até chegar a Portugal no ano de 1856; 3 anos

depois, chega ao Brasil;

• No Brasil foi mal recebido – a primeira peça ficou em cartaz por 3 ou 4 dias e foi

cancelada por falta de público ou por proibição Policial. A partir disto, até 1875, não

houve mais revistas no teatro brasileiro, porém a música popular ainda esteve

presente nos palcos: Alcázar Lyrique (que depois mudou o nome para Teatro Lírico

Francês – diretor: José Arnaud – muitos teatros deste período traziam música lírica,

porém este trouxe as últimas novidades parisienses como os músicos, os comediantes,

e as vedetes;

• Remodelou os hábitos burgueses da cidade ajudando a criar a vida noturna e a

primeira geração de boêmios;

• Em 1878 – A partir de tentativas alguns anos antes desta data, o teatro começa a

voltar aos palcos – A companhia do ator José Antônio do Vale estreia com a peça “O

Rio de Janeiro em 1877” (Artur Azevedo e Lino da Assunção) – Marchas e Lundus

compostos pelo maestro João Pedro Gomes Cardim;

• Gênero que surgiu do teatro de revista: Cançoneta

o O gênero surgiu na França e chegou ao Brasil em 1860;

o Decaiu quando apareceu a Marchinha;

o Continuou no repertório de Carmen Miranda nos anos 1930;

o Canções de maior sucesso: As laranjas da Sabina (Artur e Aluísio Azevedo)

• Outros compositores do teatro de revista: Moreira Sampaio, Machado Careca, Souza

Bastos;

• Outros sucessos que perduraram no final do século:

o “Gaúcho” (Corta-Jaca) de Chiquinha Gonzaga;

o “O Mungunzá” de Fernando Carvalho;

9. Os primórdios do disco no Brasil:

• Em agosto de 1902: Lançamento dos primeiros discos brasileiros pela Casa Edison;

• Os discos foram gravados pelo sistema mecânico no estúdio da Casa Edison e

prensados em Berlim pela International Zonophone Co.

• Registros de modinhas, lundus, tangos, valsas interpretados por Bahiano, Cadete e a

Banda do Corpo de Bombeiros;

• Frederico Figner (1866-1946): Dono da Casa Edison, criou as bases da indústria

fonográfica brasileira; a empresa dominou a indústria fonográfica brasileira por

aproximadamente 30 anos;

o Nasceu na Boêmia e foi morar nos EUA;

o Em 1892 chega ao Brasil e 8 anos mais tarde funda a Casa Edison

• Além de discos, a Casa Edison vendia máquinas de escrever, geladeiras, fonógrafos,

gramofones, cilindros e discos importados

o Curiosidade: a prática de gravação musical em Cilindros surgiu em 1897 com o

próprio Figner que concorria com o comerciante Artur Augusto Vilar Martins;

• Em 1904, Figner substitui a marca Zon-O-phone pela Odeon;

• Em 1913 a fábrica da Casa Edison foi aberta, consolidando a hegemonia no mercado

fonográfico;

• Outras gravadoras que se instalaram no país: Casa Faulhaber, Brazil-Grand Record,

Savério Leonetti, Popular, Phoenix e as americanos Victor e Columbia;

• Período inicial da indústria fonográfica: 1902 a 1927 – sistema de gravação mecânica;

foram lançados por volta de 7000 discos; Pouco se restou deste acervo;

a. Cantores e músicos pioneiros do disco:

i. Cantores

• Opções de trabalho para o profissional de música popular no início do séc. XX:

o Artistas consagrados: Teatro de variedades, café cantantes.

o Artistas menos conhecidos: picadeiros circenses, casas de chope e bandas.

• Surgimento de uma nova classe: os cantores de disco;

• Primeiros integrantes: Bahiano (Manoel Pedro dos Santos) e Cadete (Manoel Evêncio

da Costa Moreira);

• Sucessos de Bahiano:

o Pelo telefone (primeiro samba); O meu boi morreu; Caboca de Caxangá;

o Curiosidade: Além de inúmeras gravações, o cantor participou de peças de

teatro, pontas em alguns filmes; Tinha fama de conhecer mais de 1000

modinhas; Nasceu em Santo Amaro da Purificação (1870-1944)

• Cadete (1874-1960) – Pernambucano

o “Maior rival” de Bahiano

o Cantor, compositor e repentista;

o Excursionou pelo Brasil e foi morar no Paraná; Atuou em outras profissões,

mas não abandonou completamente a carreira musical;

• Eduardo das Neves (1871-1919)

o Primeiro artista negro de maior sucesso no início do séc.

o Após ser demitido do Corpo de Bombeiros, passou a atuar como palhaço e

cantor de circo;

o Após ficar conhecido neste meio, estreou pela Odeon em disco; Ler p. 61

Severiano;

o Foi o primeiro a explorar personagens e fatos da vida brasileira nas suas

canções;

o Natural de São Paulo;

• Mário Pinheiro (1880- 1923):

o Iniciou a carreira atuando em circos de baixa categoria como palhaço;

o Começou a gravar na Casa Edison em 1904

o Entre 1910 e 1917 – Viveu no exterior (EUA, Itália).

• Por causa da sociedade machista da época, não houve uma classe de cantoras a se

destacar; Porém havia algumas atrizes do teatro musicado;

• Em 1912 - Apesar de existir esta classe dos cantores, 60% dos fonogramas desse

período da indústria fonográfica são de música instrumental; Em 1914 aumenta com

os grupos de choro;

ii. Instrumentistas

• Patápio Silva (1880-1907):

o Flautista e compositor;

o Nascido em Itaocara (RJ);

o Começa a tocar profissionalmente aos 14 e em 1901, chega ao Rio

matriculando-se no curso de flauta do Instituto Nacional de Música; O curso

era de 6 anos, porém ele o realizou em 2.

o Morre aos 27 anos – Mito de que foi envenenado por um político;

o Músicas que gravou: Serenata d’amore, Zinha, Primeiro Amor;

• Canhoto (Américo Jacomino – 1889-1928)

o Primeiro violonista de sucesso nacional;

o Músicas: Abismo das Rosas, Marcha Triunfal brasileira;

o Deixou razoável discografia na Casa Edison;

b. Catulo da Paixão Cearense (1866-1946)

• Nasceu em 31 de janeiro de 1866;

• Sua família mudou-se para o Rio de Janeiro em 1880, o que fez com que se

interessasse por música;

• Neste período como estudante, fez alguns amigos como o cantor Cadete, Anacleto de

Medeiros, entre outros;

• Compôs ainda adolescente a modinha “Ao luar”;

• Após morte do pai, passou a trabalhar no cais do porto sem abandonar a música.

Publicou o seu primeiro livro: “O cantor fluminense”;

• Tornou-se bastante popular na virada do século e publicou mais livros: Cancioneiro

Popular, Lira dos salões, Novos cantores, Lira brasileira, entre outros.

• Sua falta de talento em compor melodias foi compensada pelo talento em fazer

poesias;

• Canções com letras de Catulo:

o Por um beijo, Iara, Três estrelinhas, Benzinho, Implorando – Anacleto de

Medeiros;

o Nenê, Bambino e Brejeiro – Ernesto Nazareth;

o Luar do Sertão e Caboca Caxangá – João Pernambuco;

o A flor amorosa – Calado.

• Em 1908 no auge da carreira, apresenta-se em um recital no auditório do Instituto

Nacional de Música; Apresenta-se acompanhado por um vziolão quebrando o

preconceito que havia em relação a este instrumento;

• Fases de sua obra:

o Modinheira (1880 a 1910) – essencialmente letrista de música popular

o Poética (a partir de 1918) – pormas sertanejos

• O poeta foi pobre durante toda a vida, com um padrão de vida de classe.