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Estado de Mato Grosso Setembro 2006 • nº 02 1 Carlos Souza Jr. & Adalberto Veríssimo (Imazon) Laurent Micol & Sérgio Guimarães (ICV) Resumo Neste segundo número do boletim Transparên- cia Florestal do Estado de Mato Grosso, apresenta- mos o desmatamento de agosto de 2006 para o Es- tado de Mato Grosso que corresponde ao primeiro mês do calendário anual de desmatamento. Nesse mês, de acordo com os dados do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) desenvolvido pelo Imazon, o desmatamento foi de 106 quilômetros quadrados. Houve uma queda expressiva (63%) em relação aos desmatamentos ocorridos em agosto de 2005 e agosto de 2004 (71%). A grande maioria (89%) desse desmatamento detectado pelo SAD em agosto de 2006 ocorreu em propriedades rurais. Nos assentamentos de reforma agrária, atingiu 9% e 2% nas Áreas Protegidas. E, nas propriedade rurais, a maioria (63%) do desmatamento ocorreu nas pro- priedades não cadastradas no SLAPR. A situação do desmatamento ilegal em Áreas Protegidas foi mais crítica na Terra Indígena Kayabi. Os dez mu- nicípios que mais desmataram em agosto de 2006 foram Alta Floresta, Apiacás, Nova Bandeirantes, Paranaíta, Peixoto de Azevedo e Marcelândia (Ex- tremo Norte do Estado); Nova Mutum e Nova Maringá (Centro-Norte); e Aripuanã e Colniza (No- roeste). Os dados do Prodes (Inpe) revelam que 60% do desmatamento ocorrido na Amazônia Legal em 2005 foi maior que 50 hectares. Além disso, na me- dida em que as classes de tamanho de desmatamento aumentam, a contribuição relativa do Mato Grosso cresce em relação aos outros Estados da Amazônia. Por exemplo, o Mato Grosso contribuiu com quase 65% para os desmatamentos maiores que 500 hec- tares nos anos de 2004 e 2005 na Amazônia Legal. Finalmente, os dez maiores desmatamentos ocorri- dos em Mato Grosso em 2005 ficaram entre 2 e 4 mil hectares. Estatísticas de Desmatamento O desmatamento detectado pelo SAD no Estado de Mato Grosso foi de 106 quilômetros quadrados (Figura 1). Houve uma queda expressiva de 63% se comparado ao mês de agosto de 2005 (288 quilôme- tros quadrados) e de 71% em relação a agosto de 2004 (369 quilômetros quadrados). Entretanto, em relação a julho de 2006 (31 quilômetros quadrados), Figura 1. Desmatamento mensal no período de agosto a julho para os anos de 2005 e 2006 e mês de agosto de 2006 obtido por meio do SAD (Imazon). o desmatamento de agosto de 2006 mais que triplicou (Figura 1). Com base nos dois períodos anteriores (agosto 2004 a julho 2006), constatamos que os meses de setembro a novembro concentram mais de 50% do desmatamento (Figura 1). Portanto, os esforços de fiscalização para reduzir a taxa de desmatamento do calendário atual do desmatamento devem ocorrer nesse período.

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Estado de Mato Grosso

Setembro 2006 • nº 02 1

Carlos Souza Jr. & Adalberto Veríssimo (Imazon)Laurent Micol & Sérgio Guimarães (ICV)

ResumoNeste segundo número do boletim Transparên-

cia Florestal do Estado de Mato Grosso, apresenta-mos o desmatamento de agosto de 2006 para o Es-tado de Mato Grosso que corresponde ao primeiromês do calendário anual de desmatamento. Nessemês, de acordo com os dados do SAD (Sistema deAlerta de Desmatamento) desenvolvido peloImazon, o desmatamento foi de 106 quilômetrosquadrados. Houve uma queda expressiva (63%) emrelação aos desmatamentos ocorridos em agosto de2005 e agosto de 2004 (71%). A grande maioria(89%) desse desmatamento detectado pelo SAD emagosto de 2006 ocorreu em propriedades rurais. Nosassentamentos de reforma agrária, atingiu 9% e 2%nas Áreas Protegidas. E, nas propriedade rurais, amaioria (63%) do desmatamento ocorreu nas pro-priedades não cadastradas no SLAPR. A situaçãodo desmatamento ilegal em Áreas Protegidas foi

mais crítica na Terra Indígena Kayabi. Os dez mu-nicípios que mais desmataram em agosto de 2006foram Alta Floresta, Apiacás, Nova Bandeirantes,Paranaíta, Peixoto de Azevedo e Marcelândia (Ex-tremo Norte do Estado); Nova Mutum e NovaMaringá (Centro-Norte); e Aripuanã e Colniza (No-roeste). Os dados do Prodes (Inpe) revelam que 60%do desmatamento ocorrido na Amazônia Legal em2005 foi maior que 50 hectares. Além disso, na me-dida em que as classes de tamanho de desmatamentoaumentam, a contribuição relativa do Mato Grossocresce em relação aos outros Estados da Amazônia.Por exemplo, o Mato Grosso contribuiu com quase65% para os desmatamentos maiores que 500 hec-tares nos anos de 2004 e 2005 na Amazônia Legal.Finalmente, os dez maiores desmatamentos ocorri-dos em Mato Grosso em 2005 ficaram entre 2 e 4mil hectares.

Estatísticas de Desmatamento

O desmatamento detectado pelo SAD no Estadode Mato Grosso foi de 106 quilômetros quadrados(Figura 1). Houve uma queda expressiva de 63% secomparado ao mês de agosto de 2005 (288 quilôme-tros quadrados) e de 71% em relação a agosto de2004 (369 quilômetros quadrados). Entretanto, emrelação a julho de 2006 (31 quilômetros quadrados),

Figura 1. Desmatamento mensal no período de agosto a julho para os anos de 2005 e 2006 e mêsde agosto de 2006 obtido por meio do SAD (Imazon).

o desmatamento de agosto de 2006 mais que triplicou(Figura 1).

Com base nos dois períodos anteriores (agosto2004 a julho 2006), constatamos que os meses desetembro a novembro concentram mais de 50% dodesmatamento (Figura 1). Portanto, os esforços defiscalização para reduzir a taxa de desmatamento docalendário atual do desmatamento devem ocorrernesse período.

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2 Setembro 2006 • nº 02

Geografia do Desmatamento

A grande maioria (89%) do desmatamento detec-tado pelo SAD em agosto de 2006 ocorreu em pro-priedades rurais. O desmatamento nos assentamen-tos de reforma agrária atingiu 9%, enquanto nas ÁreasProtegidas representou 2% (Figura 2, Tabela 1).

Propriedades RuraisDo total desmatado

nas propriedades rurais(95 quilômetros quadra-dos), a maior parte(63%) ocorreu nas pro-priedades não cadastra-das no SLAPR, enquan-to o restante aconteceunas propriedades que fa-zem parte do SLAPR.

Desmatamento Ile-gal. Em agosto 2006,cerca de 18% quilôme-tros quadrados foramdesmatados nas áreas deReserva Legal das pro-priedades cadastradas noSLAPR. A Sema deveavaliar esse fato, pois oCódigo Florestal proíbedesmatamento nessasáreas.

Áreas ProtegidasNas Áreas Protegidas, 230 hectares foram

desmatados ilegalmente em agosto de 2006 (Figura2, Tabela 1). A maioria do desmatamento nessas áre-as aconteceu em Terras Indígenas (86% ) e o restantenas Unidades de Conservação (14%).

As Terras Indígenas mais afetadas pelodesmatamento foram Marâiwatse e Kayabi, ondeocorreu 76% (176 hectares) do desmatamento de-tectado. Essas áreas já foram reportadas no Bole-tim Transparência Florestal Nº.1 como as maisameaçadas pelo desmatamento. Imagens do saté-lite CBERS-2 foram usadas para avaliar a situa-ção da Terra Indígena Kayabi.

Nas Unidades de Conservação houve um peque-no desmatamento (22 hectares) no Parque Nacionaldo Juruena. Esse desmatamento parece ser a exten-são de um desmatamento já detectado pelo Prodes epela Sema. Uma boa notícia: não foi detectadodesmatamento no Parque Estadual do Cristalinho II,a Unidade de Conservação mais desmatada nos últi-mos dois anos.

Figura 2. Desmatamento detectado pelo SAD em Mato Gros-so em agosto de 2006.

Tabela 1. Desmatamento detectado pelo SAD por tipo de pro-priedade em Mato Grosso em agosto de 2006.

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Setembro 2006 • nº 02 3

Municípios CríticosA maioria dos dez municípios (60%) que mais

desmataram em agosto de 2006 está situada na re-gião do Extremo Norte de Mato Grosso (Alta Flo-resta, Apiacás, Nova Bandeirantes, Paranaíta, Pei-xoto de Azevedo e Marcelândia). Dois municípios(Nova Mutum e Nova Maringá) ficam na região Cen-tro-Norte e outros dois (Aripuanã e Colniza) noNoreste (Figura 3).

Tabela 2. Dez municípios mais desmatados em Mato Gros-so em agosto de 2006 (Fonte:SAD).

Figura 3. Dez municípios que mais desmataram em Mato Grosso em agosto de 2006 (Fonte: SAD).

Os municípios de Aripuanã, Colniza, Nova Bandei-rantes, Marcelândia e Peixoto de Azevedo também es-tavam na lista dos dez municípios que mais desmataramem 2005, o que mostra que há uma concentração dodesmatamento nesse último período (ver Boletim No.1). Portanto, a fiscalização e o combate ao desmatamentodevem concentrar esforços nesses municípios nos pró-ximos meses (outubro e novembro) —apontados comomeses críticos para o desmatamento.

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4 Setembro 2006 • nº 02

Desmatamento por Classede Tamanho

Quais são os tamanhos de desmatamento que pre-dominam em Mato Grosso? Essa questão é relevan-te porque a expansão da agricultura mecanizada (es-pecialmente, soja), a qual requer grandesdesmatamentos, tem sido recentemente apontadacomo o principal vetor de desmatamento no Estado.Um estudo recentemente publicado em agosto de2006 revela que o desmatamento para agricultura(predominantemente para soja) em Mato Grosso é,em média, duas vezes maior que o desmatamento parapastos e que a conversão direta de floresta para agri-cultura emite mais rápido maior quantidade de car-bono para atmosfera do que a conversão de florestapara pastagem.1

Para responder essa questão, avaliamos a distri-buição dos incrementos de desmatamento para osanos de 2004 e 2005. A área de abrangência da aná-lise correspondeu à área de sobreposição das cenasLandsat, ou seja, as cenas não mapeadas em um dosanos não entraram na análise. Isso permitiu avaliarapenas os incrementos de desmatamentos entre asdatas de aquisição das cenas. Usamos os dados doProdes para essas análises, pois isso permite compa-rar os tamanhos de desmatamento em Mato Grossoem relação aos outros Estados.

Classificamos os incrementos de desmatamentodo Prodes (dados de 2004 e 2005) em seis classes detamanho (<25 hectares; 25-50 hectares; 50-100 hec-tares; 100-250 hectares; 250-500 hectares; e >500hectares) (Tabela 3, Figura 4):

Desmatamento <25 hectares2. Esses desmatamentospequenos representaram 24% do total desmatado naAmazônia Legal em 2004 e 27% em 2005. Taisdesmatamentos são mais significativos no Pará.

Desmatamento 25-50 hectares. Na Amazôniacomo um todo, esses desmatamentos representaram12% do total desmatado em 2004 e 15% em 2005.Os Estados de Mato Grosso e Pará têm participaçãosimilar, contribuindo com cerca de 62% dodesmatamento nessa classe.

Desmatamento 50-100 hectares. Na AmazôniaLegal, esses desmatamentos representaram apenas13% do total desmatado nos dois anos analisados. Aparticipação do Mato Grosso foi maior nessa classe,representando 37% do desmatamento em 2004 e 2005.

Desmatamento 100-250 hectares. Essa classe detamanho respondeu em média por 12% dodesmatamento total da Amazônia. A contribuição doMato Grosso aumentou, atingindo 47% do totaldesmatado nessa classe.

Desmatamento 250-500 hectares. Essa classe detamanho respondeu em média por 11% dodesmatamento total da Amazônia. Em Mato Grossocresceu ainda mais, atingindo 57% do total desmatadonessa classe.

Desmatamento >500 hectares. Esses mega-desmatamentos contribuíram com 25% dodesmatamento total nos dois últimos anos. O MatoGrosso participou com cerca de 65% do totaldesmatado nessa classe na Amazônia.

Em resumo os desmatamentos maiores que 50 hec-tares responderam em média por 60% do desmatamentoda Amazônia em 2004 e 2005. Além disso, à medidaque as classes de tamanho de desmatamento aumen-tam, cresce a significativamente a contribuição relativado Estado de Mato Grosso. Por exemplo, o Estado con-tribui com quase 70% para os desmatamentos maioresque 500 hectares (Figura 4).

1 Ver Morton, D.C. et al. (2006) Cropland expansion changes deforestation dynamics in the sourthern Brazilian Amazon. PNAS. 103 (39):14637-14641.2 De fato, captura desmatamentos maiores que 6,25 hectares e inferiores ou iguais a 25 hectares.

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Setembro 2006 • nº 02 5

Figura 4. Desmatamento por classes de tamanho na Amazônia Legal em 2004 e 2005.

Tabela 3.Desmatamento por classes de tamanho na Amazônia Legal em 2004 e 2005.

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6 Setembro 2006 • nº 02

Os Mega-Desmatamentos emMato GrossoEm 2005, foram detectados pelo Prodes 249

polígonos de desmatamento maiores que 500 hecta-res em Mato Grosso (Figura 5). Desse total, 64polígonos apresentaram desmatamento maiores quemil hectares.

Os dez maiores desmatamentos detectados peloProdes em 2005 têm área entre 2 e 4 mil hectares

(Figura 6). A maioria desses desmatamentos ocorreuem propriedades cadastradas no SLAPR, o que faci-lita a verificação das autorizações de desmatamentopela Sema (Tabela 4). Cinco desses desmatamentosafetaram integral ou parcialmente a Reserva Legal,e dois ocorreram em área de entorno de Unidade deConservação e de Terra Indígena. Esses desmatamentosnão foram autorizados pela Sema, portanto sãodesmatamentos ilegais.

Figura 5. Desmatamentos maiores que 500 hectares detectados pelo Prodes em 2005 em Mato Grosso(n=249).

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Setembro 2006 • nº 02 7

Figura 6. Desmatamentos maiores que 500 hectares por classes de tamanhoem Mato Grosso em 2005.

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Colaboraram nesta edição: Carlos Teodoro José H. Irigaray –UFMT; Amintas Brandão Jr. e Anderson Costa (Sensoriamento Re-moto) e Rodney Salomão (Geoprocessamento) – Imazon; RobertaRoxilene dos Santos (Geoprocessamento) – ICV; RL|2 Comunicaçãoe Design (Diagramação e Projeto Gráfico) e Tatiana Veríssimo (Revi-são de Texto).

Fontes de Dados: Para as estatísticas mensais de desmatamentoforam utilizados os dados do SAD (Imazon). Para as análises dodesmatamento por classe de tamanho foram utilizados os dados doProdes (Inpe) (www.obt.inpe.br/prodes/). Utilizamos dados do satéli-te CBERS-2 (Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) para validar odesmatamento detectado na Terra Indígena Kayabi. Informações so-bre o CBERS podem ser encontradas na página http://www.obt.inpe.br/cbers.htm.

Apoio:Fundação Lucile and David Packard

Embaixada do Reino dos Paises Baixos