Resumo KLEIMAN Trajetórias

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Érica Neri Camargo – Matrícula 201613450154 – PROFLETRAS Profa. Ana Lúcia de Campos Almeida – Alfabetização e Letramento (2LET836) KLEIMAN, Angela B. Trajetórias de acesso ao mundo da escrita: relevância das práticas não escolares de letramento para o letramento escolar. In: PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 28, n. 2, 375-400, jul/dez 2010. SÍNTESE DO TEXTO Neste artigo, a autora apresenta as duas linhas de pesquisa desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Letramento do Professor, tendo a primeira como objetivo o desenvolvimento, análise e documentação de projetos de letramento e seus efeitos no letramento escolar e, a segunda, o objetivo de focalizar práticas de letramento locais e seus impactos nas identidades de líderes e agentes comunitários. Ambas visam contribuir para o desenvolvimento de programas de ensino favoráveis aos alunos socialmente mais vulneráveis, cujo acesso ao mundo da escrita encontra múltiplos obstáculos. Discute também os aspectos do letramento escolar, apontando implicações dessa concepção para o ensino e a pesquisa, com base em uma concepção sócio-histórica do letramento, que se opõe a uma concepção instrumental dos usos da escrita. A premissa desse grupo é que o letramento é um processo identitário, já que a inserção na cultura da escrita equivale a um processo de aculturação, em que a violência simbólica está pressuposta. Para a perspectiva identitária, interessam tanto as trajetórias singulares de sujeitos que atuam como agentes de letramento em suas comunidades de origem quanto os esforços coletivos de inserção na cultura letrada por parte de determinados grupos, movidos por finalidades políticas, econômicas, sociais e culturais, geralmente em trajetórias coletivas ou individuais de luta e resistência. Examinar essas trajetórias é relevante para entender o papel da coletividade, da resistência, da subversão no letramento desses grupos, o que se opõe a uma concepção instrumental, funcional da escrita, centrada nas capacidades individuais. Tais letramentos, denominados de resistência, de coloração local e singulares, às margens da educação formal, que moldam a vida cotidiana das pessoas, são menos visíveis e recebem menor apoio. O artigo traz os resultados de pesquisas sobre esses letramentos em três grupos: comunidades quilombolas do Sul do país; grupos de jovens ativistas negros do movimento hip-hop na cidade de São Paulo; e alfabetizadores populares, sem diploma, ensinando adultos a ler e escrever na periferia da cidade de São Paulo. Para Kleiman, o elemento- chave é a escrita para a vida social, sendo necessário sugerir práticas e atividades que de fato visem ao desenvolvimento do letramento do aluno,

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Érica Neri Camargo – Matrícula 201613450154 – PROFLETRASProfa. Ana Lúcia de Campos Almeida – Alfabetização e Letramento (2LET836)

KLEIMAN, Angela B. Trajetórias de acesso ao mundo da escrita: relevância das práticas não escolares de letramento para o letramento escolar. In: PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 28, n. 2, 375-400, jul/dez 2010.

SÍNTESE DO TEXTO

Neste artigo, a autora apresenta as duas linhas de pesquisa desenvolvidas pelo grupo de pesquisa Letramento do Professor, tendo a primeira como objetivo o desenvolvimento, análise e documentação de projetos de letramento e seus efeitos no letramento escolar e, a segunda, o objetivo de focalizar práticas de letramento locais e seus impactos nas identidades de líderes e agentes comunitários. Ambas visam contribuir para o desenvolvimento de programas de ensino favoráveis aos alunos socialmente mais vulneráveis, cujo acesso ao mundo da escrita encontra múltiplos obstáculos. Discute também os aspectos do letramento escolar, apontando implicações dessa concepção para o ensino e a pesquisa, com base em uma concepção sócio-histórica do letramento, que se opõe a uma concepção instrumental dos usos da escrita.

A premissa desse grupo é que o letramento é um processo identitário, já que a inserção na cultura da escrita equivale a um processo de aculturação, em que a violência simbólica está pressuposta. Para a perspectiva identitária, interessam tanto as trajetórias singulares de sujeitos que atuam como agentes de letramento em suas comunidades de origem quanto os esforços coletivos de inserção na cultura letrada por parte de determinados grupos, movidos por finalidades políticas, econômicas, sociais e culturais, geralmente em trajetórias coletivas ou individuais de luta e resistência. Examinar essas trajetórias é relevante para entender o papel da coletividade, da resistência, da subversão no letramento desses grupos, o que se opõe a uma concepção instrumental, funcional da escrita, centrada nas capacidades individuais. Tais letramentos, denominados de resistência, de coloração local e singulares, às margens da educação formal, que moldam a vida cotidiana das pessoas, são menos visíveis e recebem menor apoio.

O artigo traz os resultados de pesquisas sobre esses letramentos em três grupos: comunidades quilombolas do Sul do país; grupos de jovens ativistas negros do movimento hip-hop na cidade de São Paulo; e alfabetizadores populares, sem diploma, ensinando adultos a ler e escrever na periferia da cidade de São Paulo. Para Kleiman, o elemento-chave é a escrita para a vida social, sendo necessário sugerir práticas e atividades que de fato visem ao desenvolvimento do letramento do aluno, entendido como o conjunto de práticas sociais nas quais a escrita tem um papel relevante no processo de interpretação e compreensão dos textos orais ou escritos circulantes na vida social, contextualizando os objetos de ensino e proporcionando um marco para a atribuição de sentidos pelos alunos.

A autora define o letramento vernacular como aquele não institucionalizado, menos prestigiado e visível que as práticas escolares. Nesse processo de autoafirmação identitária, a interação é determinante e, analisando práticas de líderes de movimentos populares, Kleiman aponta os conflitos daqueles que presenciam constantemente os abusos de poder infringidos por meio da escrita, mas que devem aderir a essas práticas, sem identificar-se ou ser identificado com grupos alheios aos interesses de suas comunidades de origem. As análises realizadas ajudam a compreender o dinamismo e a riqueza cultural dos eventos de letramento e mostram a necessidade de ruptura com os pressupostos do currículo tradicional a fim de promover experiências de acesso, circulação e dinamização das práticas de letramento para a vida social. Esses estudos permitem observar outros modos de acesso e distribuição dos bens culturais, de trajetórias de formação, de inserção nas práticas culturais hegemônicas que culminam na apropriação das práticas de letramento. Esses projetos apresentados são um ponto de partida para formular experiências de letramento escolar que favoreçam alunos mais frágeis do ponto de vista social e econômico e diminuam as dificuldades e tensões no processo de acesso aos universos da escrita.