[Resumo] Paulo, o Judeu - Entendendo as Cartas Paulinas

download [Resumo] Paulo, o Judeu - Entendendo as Cartas Paulinas

If you can't read please download the document

Transcript of [Resumo] Paulo, o Judeu - Entendendo as Cartas Paulinas

Paulo, o judeu: Entendendo as cartas paulinas

Fl 2,5-11 Frase de abertura do estudo

O curso baseia-se em um livro chamado Paulo, O Convertido Apostolado e Apostasia de Saulo, o Fariseu de Alan Segal.

A novidade do estudo desse autor que, diferente dos outros estudiosos de Paulo, que so versados em cristianismo, ele especialista na cultura judaica e faz o movimento inverso, procurando entender Paulo a partir da cultura judaica. Outro ponto positivo que, por no ser catlico, ele no pretende fazer apologias ao cristianismo ou defend-lo de alguma forma: parte de um ponto neutro.

Existem as cartas de Paulo na Bblia e tambm sculos de interpretao sobre essas cartas. Ser que elas realmente dizem o que a interpretao vm colocando? como se algo tivesse acontecido e algum viesse e contasse, j interpretando-o, dessa forma fazendo com que o fato contado no foi o que realmente aconteceu, mas algo passado por algum. Ao longo da histria, Paulo no foi compreendido, nem pelos judeus, nem pelos cristos (ao longo dos 2 mil anos de interpretao). Diz-se que Paulo estava dizendo uma coisa ou que no estava dizendo. H toda uma teologia crist dizendo que Paulo rompeu com os judeus, que odeia os judeus, sento anti-semita, etc, etc. E h quem diga que Paulo um judeu, que no rompeu com eles.

A Nova Perspectiva to nova que da poca de Paulo. Trata de v-lo como um judeus, que ele realmente o era. - AlaHistria da Nova Perspectiva (trata-se de v-lo como judeus)1. Como Paulo foi sendo interpretado em sua relao com a Lei (Torah):- judeu de Benjamin, do grupo dos fariseus: praticava a Lei de Moiss para obter mritos tendo em vista a salvao;- combateu os cristos ele diz que o chefe dos pecadores e que combatia os cristos, nas cartas no diz que tipo de perseguio ele fazia;- converso radical;- combateu o judasmo depois da converso passou a combater o judasmo;A Velha Perspectiva dizia que Paulo precisava sempre estar combatendo algum: como judeu, combatia os cristos; como cristo, passou a combater os judeus. Ento, tinha ele como um perturbado, nas palavras da Irm Ala.- teria realizado a separao entre judasmo e cristianismo at Paulo ningum teria compreendido que a mensagem do Evangelho deveria ser levada aos gentios e que eles, os gentios, poderiam continuar sendo os gentios, ou seja, os Evangelhos no eram s para os judeus. Jesus havia desejado que a sua mensagem chegassem at os confins da Terra, o que os judeus entenderam como chegar a todos os judeus espalhados por todas as naes, que era inclusive o entendimento dos judeus da poca: o Messias deveria juntar todos os judeus que estavam separados e ento uni-los em uma nao, como era antigamente. Ento, para os judeus da poca, os pagos deveriam se converter para o judasmo para se inclurem dentro da Nova Aliana.

2. Uma separao radical entre Lei e Graa foi instaurada a partir da Reforma (1517):- Jesus e os discpulos: oponentes do judasmo;- A Reforma foi Escritura e ao hebraico, mas radicalizou a separao entre Antigo e Novo Testamento;- Essa separao radical prevaleceu nos sculos posteriores.

3. A cincia moderna questionou a verdade da bblia e da doutrina crist:- Isto desencadeou uma pesquisa cientfica realizada por cristos e ateus, a respeito de Jesus;- A pesquisa sobre Jesus: diversas fases, a atual Jesus e o NT a partir do judasmo;- Os escritos de Paulo so os mais antigos, mas Paulo se ele combatia o judasmo?

4. O debate se concentrou na expresso obras da Lei:- 6 vezes em Glatas (2,16;3,2.5.10) e 2 vezes em Romanos (2,20.28);- essa expresso ocupa posio central no contexto argumentativo;- usada em conotao negativa.Caso da parbola do filho prdigo (o filho mais velho que fica indignado com a postura do pai em dar o novilho para o filho mais novo sem nunca ter recebido nada) e a parbola dos trabalhadores da ltima hora (em que o trabalhador da primeira hora fica indignado com o fato do trabalhador da ltima hora receber o mesmo tanto que ele).

Rudolph Bultmann (1884-1976):- adotou uma posio diferente;- conotao negativa sobre a Leis e as obras da Lei era porque ambas levam autoconfiana e justia prpria (ou seja, Obras da Lei no todo o judasmo, mas apenas o que se faz para ganhar certa arrogncia: eu serei salvo; eu cumpri a lei > o caso da parbola do fariseu e do publicano: um diz senhor, eu no sou como aquele publicano, sou aquele que faz tudo certinho, etc, etc) ;- at os esforos para guardar a Lei eram pecaminosos.

Enquanto os estudiosos judeus afirmavam que Paulo no havia entendido o judasmo (eles no chegavam a ler Paulo, tudo o que eles sabiam era o que os cristos escreviam sobre paulo: ele combatia o judasmo porque o judasmo era apenas praticar as obras da Lei para ter mrito, para obter a salvao. Da, os judeus diziam, Paulo no sabe nada, judasmo no isso. Dar o exemplo do caso de Abrao, que no teve nenhum mrito para sair de Ur e ser chamado por Deus para fundar uma nova f.), os estudiosos cristos comeavam a assegurar que a Reforma no havia entendido Paulo.E os defensores da hermenutica da Reforma acusavam os novos estudiosos de Paulo de no entender a doutrina da graa e da justificao.

Krister Stendahl (1921-2008):- a interpretao protestante usa os culos de Lutero para interpretar Paulo;- Convertido ou chamado? (prottipos de convertidos: Paulo, Agostinho e Lutero);- Agostinho contra os pelagianos e Lutero contra os catlicos;- Livro: Paul Among Jews and Gentiles and Other Essays (1977)

1. Ed Parish Sanders (1937-):- livro: Paul and Palestinian Judaism (1977)- Baseando-se na literatura rabnica afirma que o judasmo palestino da poca de Jesus no era uma religio legalista;- Era uma religio baseada na graa revelada nas alianas, praticar as obras da Lei era manter-se dentro do crculo da aliana-graa;- Sobre qual base os gentios podem ser includos no povo de Deus?

Uma pedra no meio do caminho: Hyram Maccoby (1924-2004)- em 1986 publicou o livro The Mythmaker: Paul and the Invention of Christianity;- Fundamenta-se na ideia exagerada, que tem sua origem na Reforma, de que Paulo ensinava que em Cristo a Lei foi anulada;- e que Paulo era um ferrenho opositor do judasmo e suas prticas.

2. James Dunn (1939-): livro: The Theology of Paul the Apostle (1998).- Paulo ataca as obras da Lei no porque elas expressam algum desejo de alcanar mrito por parte dos judeus, mas porque entende que elas fazem distino entre os judeus e os gentios;- obras da Lei: emblemas que caracterizam o judasmo enfatizam uma separao que Cristo veio abolir.

3. Nicholas Thomas Wright (1948-): h vrias novas perspectivas sobre Paulo- a velha perspectiva (Luterana) incorreta;- Quando lemos Paulo dentro da histria encontramos diversos significados novos, que estavam l e que no tnhamos visto;- Paulo v Israel como representante da humanidade e Jesus como representante de Israel. Jesus o israelita fiel.- livro: Paulo Novas Perspectivas.

Alan F. Segal (1945-2011): os escritos de Paulo tm sido rejeitados por estudiosos do Judasmo que o consideram um apstata antagonista;- a vida de Paulo pode ser mais bem compreendida ao se considerar seriamente sua qualidade judaica;- a histria judaica pode ser grandemente iluminada pelo exame dos escritos de Paulo.

LUCAS E PAULO: CONVERSO/VOCAO

Icor 13: Ainda que eu falasse lnguas, a dos homens e a dos Anjos, se eu no tivesse amor, seria como o bronze que soa ou como um cmbalo que tine. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistrios e de toda a cincia, ainda que tivesse toda a f, a ponto de transportar montanhas, se eu no tivesse amor, eu nada seria. Ainda que eu distribusse todos os meus bens aos famintos, ainda que eu entregasse meu corpo s chamas, se eu no tivesse amor, isso nada me adiantaria. O amor paciente, o amor prestativo, no invejoso, no se ostenta, no se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, no procura o prprio interesse, no se irrita, no guarda rancor, no se alegra com a injustia, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo cr, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passar.Quanto s profecias, desaparecero, quanto s lnguas, cessaro, quanto cincia, tambm desaparecer.

1. Introduo:- H diferenas importantes entre ambos, por causa dos propsitos diferentes;- Lucas quer retratar o progresso da Igreja: dos judeus aos gentios; (os escritos de Lucas seguem essa inteno de que, de dentro do templo de Jerusalm, o cristianismo segue para o resto do mundo. Nessa perspectiva, o judasmo seria apenas o ponto de incio, pois o esprito santo impeliu os apstolos a irem alm dos judeus e pregarem o evangelho para todas as naes. Essa perspectiva enfatizada demais em Lucas, como se a fase dos gentios fosse uma superao da fase judaica; pelo menos de acordo com a antiga perspectiva.)- Paulo quer justificar sua posio como apstolo; (Paulo, ao narrar que era perseguidor e se tornou defensor do cristianismo, ele pretende justificar sua posio de apstolo, j que ele no conheceu o jesus histrico, e, por isso, era muito questionado. Nessa condio, Paulo narra uma experincia, diferente da narrao de Lucas, onde, em um encontro com Jesus, ele recebe a misso de ser tornar apstolo. Paulo tambm usa esse ponto para tentar justificar a posio dos novos discpulos de Jesus, por exemplo, os gentios, que tambm no conheceram jesus histrico.)- O cristianismo depois de Lucas considera Paulo o primeiro e mais famoso cristo convertido;- Nova perspectiva: a f crist de Paulo foi consequncia de sua f judaica, um chamado proftico e no uma converso;- Nova perspectiva minimiza a converso de Paulo porque ele no fala dela com a clareza de Lucas;- Mas vrios textos paulinos mostram a importncia daquela experincia como fonte da teologia paulina;- O ponto central em Atos e nas Cartas a experincia que Paulo teve com o Cristo ressuscitado ou o xtase (o sair de si), a experincia mstica.

2. Lucas- 50 anos depois, longe das controvrsias, escreve sobre Paulo quando o cristianismo gentlico estava mais confiante; (no tempo de Lucas, Paulo j era tido como um apstolo, pois j tinha dado a sua vida pela f, j tinha sido o apstolo que mais evangelizou e j tinha sido um mrtir do cristianismo. Por isso, Lucas no busca justificar a posio de Paulo como apstolo.)- relata 3 vezes a converso de Paulo para colocar a misso de Paulo o mais prximo da converso; (De acordo com Paulo, em suas cartas, o encontro com o Ressuscitado no deu, ao momento, a conscincia de que ele seria o apstolo dos gentios; esse encontro apenas mostrava que Jesus era o Messias. Ento, essa condio de ser o apstolo para os gentios foi um amadurecimento contnuo, de acordo com a nova perspectiva. Esse processo contnuo se deu atravs da prpria vida de Paulo, como, por exemplo, ele quase nunca ser bem recebido quando pregava aos judeus, mas ter uma receptividade muito grande frente aos gentios. No entanto, Lucas busca resumir a vida de Paulo nesse encontro com Jesus, dando, inclusive, que a misso de paulo vem ao mesmo momento que a sua converso.)- dramatiza o efeito da converso ao retratar seu resultado no caminho para Damasco; (Lucas quer colocar a ida de Paulo aos gentios como resultado de sua converso.)- narra a converso como um chamado proftico: a revelao do Senhor a Paulo anloga viso de Ezequiel. (Essa viso est no incio do livro de Ezequiel.)- Ezequiel: contemplou a glria de Deus (kavod), numa figura em forma de homem, caiu no cho e ouviu uma voz. O Senhor ordenou que ficasse de p; deu-lhe uma ordem de ir nao rebelde; (Essa viso vem contrapor uma crena da poca que dizia que a glria de Deus estava circunscrita ao templo de Jerusalm apenas. E esse templo foi destrudo pelo imprio da Babilnia, quando passou a se pensar onde estaria ento essa glria. a que entra a viso de Ezequiel para demonstrar que a glria de Deus est junto ao povo, e no, presa ao templo. Quer dizer, um Deus que no est preso a uma casa, mas possui um relacionamento com o povo. Lucas, ento, faz com que a vida de Paulo possua esses elementos da vocao de Ezequiel, porque o que acontece quando Lucas rene no encontro com o Messias a converso de Paulo e a revelao de sua misso, fazendo com que o paralelismo com Ezequiel surja. Vide tambm os elementos de paralelismo com o livro de Macabeus.)- Paulo: revelao da glria de Deus (o Ressuscitado), caiu, ouviu uma voz reveladora, ficou de p e recebeu a incumbncia de ir s naes rebeldes;- O movimento de Paulo em direo aos gentios interpretado como resultado de uma revelao da imagem da glria de Deus (o Ressuscitado); (Interessante que, se interpretarmos a glria de Deus como sendo o Cristo Ressuscitado, passamos a assumir, na histria do povo judeu, a presena de Jesus na conduo do povo antes da sua encarnao entre os homens - Fbio)- Paulo um novo profeta, mas tambm teve uma converso radical.- experincia de Paulo teria sido uma audio reveladora, distinta radicalmente das aparies do Ressuscitado aos apstolos; faz parte das experincias no Esprito; (isso porque Lucas quer enfatizar o que Paulo ouviu referente a sua misso perante os gentios. E, tambm, Lucas pretende demonstrar que o tipo de aparies visuais, tpica ao tempo dos judeus, j no mais o mesmo, sendo uma nova fase, essa das manifestaes auditivas.)- No tempo de Lucas, a rapidez da converso enfatiza o poder do Esprito. Por isso ele retrata o xtase a caminho de Damasco como uma converso sbita, paradigma de convertido e modelo de missionrio; (Lucas faz com que a converso de Paulo, sbita, seja o modelo de converso dos gentios, porque os judeus que se convertiam, na verdade, estavam ampliando suas concepes acerca de Deus e de sua mensagem, j os gentios, tinham que mudar radicalmente, para o oposto, suas convices. Por isso tambm, Lucas enfatiza que Paulo cidado romano, de Tarso, querendo demonstrar que Paulo est realmente mais prximo aos gentios.)- O tema principal o arrependimento dos pecados muito apropriado misso gentlica. (Lucas faz de Paulo um grande pecador, que estava presente morte de Estevo, que, inclusive, a apoiou. J, quando Paulo d o seu testemunho, diz: Irrepreensvel perante a Lei. Se fazia algo de errado era por excesso de zelo para com a Lei. Ento, Lucas, queria colocar Paulo como pecador para transform-lo, como os gentios deveriam ser convertidos.)

3. Paulo- Nunca descreve sua converso diretamente. Muitos detalhes de sua vida nunca nos foram informados por ele (p. 26); (Paulo geralmente s passa suas informaes biogrficas quando est no meio de uma polmica em que sua autoridade de alguma forma questionada)- apenas nos diz ser judeu, circuncidado ao oitavo dia, da tribo de Benjamin, fariseu irrepreensvel e perseguidor da Igreja (Fl 3,4-8); (Dizer que circuncidado ao oitavo dia dizer que nascido judeu, e no, um gentio convertido ao judasmo, pois que quem se converte circuncidado quando adulto, quando decide se tornar judeu)- a descrio que faz de si mesmo como fariseu no deixa espao para culpa, ele perseguia os cristos mas era por excesso de zelo, e quanto Torah era irrepreensvel (Fl 3,6).- ele sempre esteve comprometido com a Torah, tanto antes quanto depois de sua f crist. Mas a natureza desse compromisso mudou radicalmente;- quando menciona a prpria converso Paulo usa o termo metamorfosis, transformao de um estado de ser para outro, ou seja, um processo que terminar em um corpo glorioso (Fl 3,7-11. 17-21); (Para Paulo, o que aconteceu no seu encontro com o Cristo Ressuscitado deu incio a um processo de transformao que s ter fim quando ele ressuscitar. - seria a nossa reforma ntima - Fbio)- ao contrrio, quando fala sobre a converso dos gentios usa o termo epistrfo (1Ts 1,9-10, Gl 4,8) quer dizer retorno a Deus, se voltar a Deus (a vocao principal do ser humano) e metania ampliao da mente - para se referir mudana de status dos judeus que passam a seguir Jesus Cristo - como de gentios (quando os gentios amavam a Deus mas no se transformavam verdadeiramente) (2Cor 7,9-10, 12,2x). (ou seja, Paulo no fala de si mesmo como fala dos judeus e dos gentios)- sempre que menciona sua converso, o aspecto central o seu novo status e sua misso vem diretamente dela;- ele obtm autoridade diretamente de Deus, que revela a ele o Cristo, portanto, sua converso impele sua misso;- a experincia que Paulo teve com o Ressuscitado, aconteceu sem a ajuda da carne e do sangue (no teve ajuda de nenhuma pessoa concreta), mas isso no significa que ele tenha percebido imediatamente todas as implicaes daquela experincia;- o pensamento e a teologia de Paulo so moldados por sua experincia religiosa pessoal e pelos ataques dos adversrios;- compreendia a si mesmo como algum que tinha um chamado para uma misso, que a misso era converter os gentios para Cristo, depois de longa caminhada no cristianismo, reivindica ter recebido a sua misso desde o ventre materno;- mas embora Deus tivesse esse propsito de escolh-lo desde o nascimento, a transformao da vida do apstolo foi uma ao do Esprito ao longo do tempo;- embora Paulo considere sua misso aos gentios como um mandato proftico, ele nunca chama a si mesmo de profeta, sempre chama de apstolo;- Paulo chama sua experincia de revelao (apocalipse); ao contrrio de Lucas, se inclui na lista de todos que receberam a revelao do Cristo Ressuscitado. Paulo se sente como um aborto, no sentido de que ele tinha sido o contrrio do que o Cristo esperava dele; (Lucas quer destacar que o que aconteceu com Paulo em seu encontro com Jesus diferente do encontro de Jesus com os outros que o viram ressuscitado. Para Paulo, essa experincia dele a mesma coisa que a dos outros discpulos com o ressuscitado. Isso porque cada um tem um objetivo nas suas narrativas: Paulo quer se justificar como apstolo e Lucas quer fazer de Paulo o modelo de convertido para os gentios)

4. Concluso- Paulo um convertido, no sentido moderno, de quem passou por uma experincia de transformao e chamado para uma misso maneira dos profetas;- A converso no implica uma mudana radical da experincia de uma pessoa, nenhum profeta se desviou de sua experincia anterior; (o profeta Ezequiel j era sacerdote, j era membro do povo de Israel, e teve uma vocao de falar s pessoas que estavam na Babilnia, mas a vocao est dentro de sua prpria experincia de f, na mesma religio como se fosse apenas um direcionamento -, da mesma forma que com Paulo.)- o tema central das sesses autobiogrficas sempre o contraste entre a vida anterior e a vida de agora. (Ao invs do que o Lucas diz, Paulo se coloca como o perseguidor e, depois, o defensor da f cristo, quando lucas diz como se fosse o pecador e o homem santo.)- a conexo entre a experincia com Cristo ressuscitado e a vocao de evangelizar no foi percebida logo por Paulo, mas sim, ao longo de sua vida;- a compreenso que Paulo teve pode ter sido resultado de sua experincia de sucesso entre os gentios e de rejeio por parte dos judeus; (at Lucas diz que quando Paulo se torna seguidor de Jesus, ele vai primeiro aos judeus, que no querem saber daquela mensagem.)- Paulo certamente o apstolo dos gentios, como Lucas o retratou, mas os relatos fragmentados de Paulo sobre sua misso diferem do que Lucas disse; (porque Lucas diz que sua percepo acerca de sua misso foi imediata, quando, na verdade, no foi.)- Paulo no um gentio, um judeu, fariseu;- a diferena entre Lucas e Paulo emerge da funo que se d experincia de xtase em seus escritos;- Para Lucas o xtase de Paulo o modelo de converso dos gentios, e diferente das aparies do ressuscitado aos discpulos e apstolos;- Para Paulo, a viso reveladora de Cristo funo de uma luta por sua aceitao como discpulo;- provvel que a converso de Paulo no tenha sido to repentina quanto Lucas afirma e no to isolada do contato humano;- a revelao que Paulo recebeu veio de Deus, a comunidade que o ajudou a entender a funo dessa revelao;- Paulo tambm aprendeu da comunidade o contedo da revelao (1Cor 15,1-11). Mesmo nessa situao, Paulo age como fariseu, pois receber e passar adiante so usados para a tradio oral dos fariseus.- infrutfero psicanalisar Paulo, se ele possui problema mental ou se tem conscincia culpada, se veio de uma famlia autoritria ou no;- O que deve ser destacado a dimenso comunitria de sua experincia de co. (incompleto)

EXPERINCIA MSTICA COM CRISTO

1. Introduo- Quanto mais tempo distante da experincia, mais a pessoa aprende o significado social do que se passou.- o passado reavaliado a partir do significado (Paulo s fala de sua experincia, em suas cartas, 14 anos depois II Cor)- Paulo sobre seu passado: influenciado pelos seus compromissos presentes- Lucas enfatiza o indivduo convertido por poderes sobre os quais ele no tem controle- Paulo focaliza a dimenso social da experincia de converso como indivduo que desenvolve um novo mundo de significado a partir de sua entrada num novo grupo. (Paulo analisa o processo longo de se tornar o seguidor de Jesus; Lucas enfatiza a experincia mstica em si, o fato de o ressuscitado subjugar Paulo atravs de seu poder, convertendo-o)

2. Contexto histrico no qual Paulo fez sua experincia mstica com o Ressuscitado- Durante o perodo helenista (iniciado em 333aC), a sociedade israelita se dividiu em seitas (faces) que diferiam sobre vrias questes- Essas seitas competiam ferozmente entre si- Nessa atmosfera a converso religiosa era to comum quanto hoje- Na migrao entre seitas estava a busca religiosa pessoal (Flvio Josefo pertenceu a algumas seitas: essnios, fariseus. O que tinha por eixo era a busca pessoal do indivduo)- O relato de Paulo sobre a experincia mstica deve considerar os fenmenos religiosos judaicos e greco-romanos de seu tempo (o autor d muitas informaes sobre fenmenos de migraes entre religies ou entre faces; e informaes sobre fenmenos msticos que levam as pessoas a sair de um grupo para outro. Os rabinos no so muito chegados a esse ltimo tipo de converso: preferem que seja atravs da educao e doutrinao do indivduo do que pela experincia mstica. Ento isso pode ser transposto para a experincia de Paulo que, por ser perseguidor dos cristos, no foi aceito logo de pronto pelos grupos cristos, independente de sua experincia mstica com o Ressuscitado. - Isso explica inclusive Paulo ter convivido no deserto com um casal cristo sem falar-lhes sobre sua experincia mstica, para apenas mostrar no convvio dirio sua mudana e adequao ao cristianismo (fbio))

3. Os relatos de Paulo sobre a experincia mstica dele (p. 69-130):- Paulo tanto um convertido quanto um mstico e o misticismo na Judia do primeiro sculo era apocalptico (convertido no sentido de passar por um processo, mais ou menos longo, de converso e adequao nova seita; mstico no sentido de quem teve uma experincia mstica como a sua, extraordinria, fora da rotina) (o misticismo ser apocalptico quer dizer que quem passava pelas experincias msticas geralmente usava os elementos do gnero apocalptico para traduzir a sua experincia. Por exemplo, o gnero apocalptico geralmente demonstra a ida de algum at o trono de Deus, uma viagem celeste.)- Paulo o nico mstico apocalptico, no primeiro sculo, cujo escrito confessional e pessoal chegou at ns (p. 94, 99-100) (O autor sugere aos judeus a leitura e estudo de Paulo, pois ele o nico judeu que teve seus escritos msticos apocalpticos trazidos at a nossa poca)- Escassez de textos: rabinos proibiram a discusso pblica do fenmeno mstico (p. 111) (Essa escassez de textos do gnero de Paulo aconteceu pelo fato dos rabinos da poca terem proibido a discusso pblica dos fenmenos msticos)- Paulo relata viagens celestiais nas quais segredos lhe so revelados (revelao dita atravs da palavra apocalipse)- Ele acredita que sua salvao se encontra em uma identificao do seu prprio corpo com seu Salvador. (Um mstico da poca de Paulo Cabbalah tinha tcnicas para ter vises e revelaes, que eram entendidas como viagens uma dimenso celeste, dimenso de Deus. Eles dividiam o universo em 3 andares: xeol andar de baixo, onde esto os mortos-, ns estamos no andar do meio, e h o andar de cima o andar de Deus. O andar de baixo dividido em 7 nveis, mas o judeu no pode descer tanto, a no ser at o quinto nvel. Por isso s se pode ir at o quinto dos infernos, abaixo disso para os pagos. A morada celeste tambm tem 7 nveis, no stimo cu apenas Deus que habita. A partir disso, construiu-se na Cabbalah uma coisa chamada rvore da vida em que suas razes esto aqui na nossa realidade, mas seu corpo se estende para alm dela, em direo a essas dimenses espirituais. Esse mesmo simbolismo poderia ser dito de outra forma, atravs da figura de um palcio, o palcio da sabedoria com suas 7 colunas. Essas viagens so, ao mesmo tempo, uma viagem para fora de si, como para dentro de si, pois, para ir at Deus, preciso estar muito consciente de si, exige-se uma interiorizao, quanto maior ela for, talvez mais alta seja a viagem para alm de si) (para os judeus msticos, dizer que esse corpo feito de barro, dizer que ele pertence a essa dimenso, que, para viajar a outra dimenso, o esprito deve servir-se de outro corpo, eles no concebiam o esprito sem um corpo) (eles acreditavam no seguinte: quando uma pessoa passa por uma experincia mstica em que vai at uma das dimenses celestes, quando ela retorna, ela passar por uma metamorfose que a levar gradualmente para a condio daquele corpo que lhe serviu quando em viagem dimenso celeste) (Por isso que Paulo diz que ir se transformando at assumir, depois da morte, seu corpo celeste, essa seria a sua salvao) (Por outro lado, o processo acontecido com Ado o inverso do descrito por Paulo, pois Ado tinha um corpo celeste, incorruptvel, e o perde por ter transgredido a lei de Deus, e afastado-se Dele, em troca desse comportamento, ele recebe uma veste de pele, que significa o corpo fisiolgico que possumos. Ento, quando um judeu diz querer rasgar ou rasgar suas vestes que ele no deseja mais esse corpo corruptvel, pecaminoso que possui)- Embora enfatize uma vida de disciplina espiritual, ao invs de um nico evento (para Paulo, atravs da disciplina espiritual que ele alcanar aquele corpo espiritual de sua experincia mstica)- Em 2 Cor 12,1-9, ele descreve essa experincia:> no para gabar-se, um homem: retrica exige modstia, trata-se de Paulo mesmo; (Paulo fala em terceira pessoa, por sua modstia)> um apocalipse (revelao);> h quatorze anos;> terceiro cu;> no corpo ou fora do corpo: no um transporte fsico (p. 78), mas uma jornada por meio de um corpo espiritual (p. 95).> ouviu informaes secretas (p. 71-73)- possvel que esse texto de 2Cor 12 registre a experincia de converso original de Paulo (p. 73), embora no a descreva definitivamente (p. 74) (essa experincia provavelmente a que est descrita em Paulo e Estevo, do encontro de Paulo com Abigail, em um desdobramento e, portanto, nada tem a ver com o seu encontro com Jesus)- Apocalipticismo e misticismo tem sido tratados como categorias separadas. Mas textos msticos judaicos esto repletos de apocalipses. (Quem tinha uma experincia mstica, traduzia essa experincia em linguagem apocalptica)- A literatura apocalptica antiga baseada em vises, havia prticas especiais para alcan-las (p. 103).- A imagem central do misticismo judaico (Ez 1) a glria de Deus em forma humana (p. 100-101) no trono-carruagem (merkabah).- da se derivou a figura do filho do homem no apocalipticismo, como uma figura anglica (chefe dos anjos)- A experincia de Paulo diferente da de outros msticos judeus porque ele identifica essa figura com Cristo (p. 110).- O resultado da jornada celeste: identificao de Cristo com a glria de Deus (p. 115).- O apostolado de Paulo, que um chamado proftico, proclamar que a face de Cristo a glria de Deus. (a face de Cristo ser a glria de Deus, quer dizer que Cristo aquilo que podemos ver de Deus, remetendo ao episdio de Ez 1, em que ele v a glria de Deus como se fosse uma forma humana, ou seja, a manifestao divina atravs de uma forma humana que Paulo, posteriormente, assume ser Jesus)- A legitimidade do apostolado de Paulo est nesta revelao que recebeu (p. 129).- Nas jornadas celestiais geralmente aparece o tema da transformao angelical. (Para os msticos judaicos a pessoa vai se transformando um anjo, at que morre e torna-se definitivamente semelhante a um anjo; enquanto para o Catolicismo a pessoa vai se transformando semelhante Cristo, at que morre e se transforma realmente semelhante a ele no corpo ressuscitado)- A transformao da pessoa feita semelhana de uma mudana de veste, uma metamorfose (p. 94).- A transformao de algum em seu estado imortal descrita como esse algum se tornando uma figura anglica (p. 96).- A discusso mais longe de Paulo sobre esses temas acontece em 2 Cor 3, 18-4,6: (engraado utilizar a palavra transformao, porque nos lembra da nossa transformao moral no Espiritismo)> refletimos como num espelho a glria do Senhor> somos transfigurados nessa mesma imagem (p. 112-121).- Daqui se inicia a transformao como evento contnuo que culminar na Parusia.- Havia cristos cuja f em Jesus somente completou suas crenas anteriores, no judasmo.- Paulo um fariseu cuja f em Cristo transformou seu judasmo, e mais ainda, sua converso faz uma diferena palpvel em seu cristianismo, criando uma nova compreenso sobre a misso de Jesus (p. 130). (para Paulo, ento, foi diferente a experincia, porque o seu judasmo foi transformado, enquanto que, para outros discpulos, o cristianismo apenas completou o seu judasmo.)

4. A converso na sociedade de Paulo (p. 131-194):- Paulo falou dos estados internos atravs de vocabulrios profticos, extticos ou msticos, que se aproximam dos termos modernos da converso.- A expresso que Paulo mais usa nos seus escritos para descrever essa experincia transformao.- No judasmo (e depois no cristianismo), a converso era uma escolha nova para uma ressocializao:- devido a uma falta encontrada no mundo;- Resultando na construo de uma nova estrutura de identidade a partir do novo grupo;- o convertido no tinha amnsia, mas dava novo significado a tudo que havia conhecido;- a converso inicia um processo de compromisso com o grupo- A converso gradual era o padro tpico e esperado, pedagogicamente as seitas ofereciam suas verdades.- O cristianismo no foi a nica seita judaica a fazer proselitismo, seu estilo proselitista estava enraizado no judasmo, embora tenha feito misso mais que todas as outras seitas (atualmente, o proselitismo carrega um significado pejorativo, quando, na poca, significava apenas um convite para que integrassem sua comunidade, um convite para a migrao verdadeiro significado da palavra proslito a partir do grego)- os outros grupos: pouco interessados numa misso gentlica, se limitavam a judeus de outras seitas.- As primeiras lies que os proslitos recebiam eram desprezar os deuses.- O judasmo foi acusado de intolerncia, ou seja, de provocar antipatriotismo e desamor s famlias.- Por isso os judeus tentavam provar superioridade moral atravs de regras de comportamento. (para no fazer o proselitismo e criar antipatias, os judeus se apegavam s suas regars de comportamento tico-morais para demonstrar superioridade)- Dentre os judeus helenistas exigiam apenas ritos simblicos da vida judaica em geral e no representativos de um ritual especfico de converso (os helenistas exigiam apenas a transformao moral, dizendo que, se ela houvesse, eles j seriam amados pelo Deus nico de Israel)- O apcrifo Jos e Asenath o modelo do proselitismo no mundo helenista. (nessa obra prima o autor demonstra como o modelo de circunciso de um gentio e, para evitar o assunto da circunciso, ele adota uma personagem feminina para o papel de convertido, fazendo com que esse assunto seja deixado de lado)