RESUMOS DAS OBRAS LITERÁRIAS DO VESTIBULAR UNEB …RESUMOS DAS OBRAS LITERÁRIAS DO VESTIBULAR UNEB...

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REVISÃOUNEB RESUMOS DAS OBRAS LITERÁRIAS DO VESTIBULAR UNEB 2020 ORGANIZAÇÃO: PROFESSORA VERA CEZAR “ESSA TERRA” – Antônio Torres A história tem seu início com o relato da lembrança de Totonhim, o narrador da história, acerca do retorno do irmão Nelo ao Junco, uma pequena cidade do interior da Bahia onde moravam. O irmão havia fugido para São Paulo em busca de melhores condições de vida. A condição da família era de extrema pobreza, principalmente quando se mudaram para Feira de Santana em busca de estudo para os filhos. A princípio, Nelo mandava dinheiro para a mãe, mas, com o tempo, não mandou mais. Por morar em São Paulo, toda a família acreditava que Nelo estava rico. Mas ele retorna fracassado. A família era composta pelos pais e doze filhos, mas apenas três permaneceram em Feira de Santana com a mãe, o pai não achava importante o estudo e ficou um bom tempo sozinho no Junco, os outros irmãos estavam espalhados. A mãe falava de Nelo de forma carinhosa, diferente dos outros irmãos. Totonhim havia saído de Santana e voltou para a roça para morar com o avô. Um dia, Nelo se embebedou e enquanto o irmão o ajudava, contou-lhe a trágica história de como perdeu os filhos e a mulher para um primo e ainda foi espancado pela polícia. Dias depois, Totonhim foi chamar Nelo para ir tomar banho no rio e encontrou-o enforcado, pendurado numa corda no armador da rede. O pai é quem constrói o caixão, pois era carpinteiro. Enquanto isso, ele recorda suas desgraças, lembra-se de como perdeu as terras para o irmão e ficou sem nada. Totonhim faz uma reflexão sobre quem ele é e também relembra suas desgraças. A mãe começa a dar sinais de loucura com a morte do filho no qual depositava todas as esperanças. O romance termina com a internação da mãe, o enterro de Nelo e a partida de Totonhim para São Paulo. CONTEXTO

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RESUMOS DAS OBRAS LITERÁRIAS DO VESTIBULAR UNEB 2020

ORGANIZAÇÃO: PROFESSORA VERA CEZAR

“ESSA TERRA” – Antônio Torres

A história tem seu início com o relato da lembrança de Totonhim, o narrador da história, acerca do retorno do irmão

Nelo ao Junco, uma pequena cidade do interior da Bahia onde moravam. O irmão havia fugido para São Paulo em busca de melhores condições de vida.

A condição da família era de extrema pobreza, principalmente quando se mudaram para Feira de Santana em busca de estudo para os filhos. A princípio, Nelo mandava dinheiro para a mãe, mas, com o tempo, não mandou mais. Por morar em São Paulo, toda a família acreditava que Nelo estava rico. Mas ele retorna fracassado.

A família era composta pelos pais e doze filhos, mas apenas três permaneceram em Feira de Santana com a mãe, o pai não achava importante o estudo e ficou um bom tempo sozinho no Junco, os outros irmãos estavam espalhados. A mãe falava de Nelo de forma carinhosa, diferente dos outros irmãos. Totonhim havia saído de Santana e voltou para a roça para morar com o avô. Um dia, Nelo se embebedou e enquanto o irmão o ajudava, contou-lhe a trágica história de como perdeu os filhos e a mulher para um primo e ainda foi espancado pela polícia. Dias depois, Totonhim foi chamar Nelo para ir tomar banho no rio e encontrou-o enforcado, pendurado numa corda no armador da rede.

O pai é quem constrói o caixão, pois era carpinteiro. Enquanto isso, ele recorda suas desgraças, lembra-se de como perdeu as terras para o irmão e ficou sem nada. Totonhim faz uma reflexão sobre quem ele é e também relembra suas desgraças. A mãe começa a dar sinais de loucura com a morte do filho no qual depositava todas as esperanças. O romance termina com a internação da mãe, o enterro de Nelo e a partida de Totonhim para São Paulo.

CONTEXTO

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Sobre o autor Antônio Torres é um jornalista e escritor brasileiro. Nascido no interior da Bahia, tem os temas rurais como os mais recorrentes em sua obra. Faz uma releitura do regionalismo, mostrando de forma irônica as paisagens e os estereótipos locais.

Importância do livro O romance Essa Terra, lançado em 1976, tem um caráter autobiográfico por ter seu autor vivido a mesma trajetória do

personagem principal: a migração do sertão para a capital. A obra traz à tona a dificuldade vivida por uma família no interior da Bahia e, com isso, retrata a diferença entre a capital e o interior. Tem uma temática regionalista, porém num teor crítico, já que os personagens vivem uma crise de identidade e não nutrem amor pela sua terra. O narrador-personagem conta a trajetória de seu irmão Nelo, o personagem principal que migra para São Paulo em busca de melhores condições.

ANÁLISE

Pode-se dizer que a obra se aproxima de uma autobiografia, já que o próprio autor viveu a experiência do personagem principal ao sair do interior da Bahia para buscar uma vida melhor nas metrópoles do sudeste. O romance aborda o drama da migração nordestina para São Paulo, relatando o impacto da "cidade grande" sobre o retirante e também as consequências sociais e psicológicas que envolvem a família que permanece.

O romance apresenta o panorama do país no século XX, ao tratar do contraste dos grandes centros desenvolvidos em comparação ao sertão esquecido. Contribui, assim, não só para uma reflexão sobre as diferenças sociais, mas também sobre a questão da identidade do ser humano.

O personagem Nelo, ao se afastar do sertão, acaba se esquecendo de sua identidade e de suas raízes, ao retornar sem cumprir as expectativas de enriquecimento de sua família, acaba pondo fim a sua vida. O suicídio sintetiza o impasse: com o desenraizamento, ao retornar derrotado, não lhe resta mais nada e a frustação põe fim ao personagem. Apesar da caracterização sertaneja do Junco e a presença de uma temática regional, não se trata de uma obra propriamente regionalista, podemos afirmar que o regionalismo, neste caso, é problematizado. Ocorre uma desconstrução do espaço regional identitário a partir da falta de identidade regional. Não existe aqui uma nostalgia do sertão, como em outras obras regionalistas, mas sim um olhar crítico.

A crítica é construída através do narrador-personagem Totonhim, a partir da sua visão é possível observar o Junco como figura de crise, instabilidade e de pobreza. Tal crise é estendida também à família, pois ambos sofrem pela seca, em ambos a migração se faz presente. Desta forma não tem como separar bem o sofrimento da terra do sofrimento das pessoas. Totonhim é o narrador-personagem que evidencia uma distância crítica em relação aos problemas do Junco e se posiciona de modo reflexivo em relação à terra (o Nordeste) e aos outros.

PERSONAGENS

Totonhim: narrador-personagem. Através de sua visão percebemos a realidade da cidade de Junco e a falta de esperança em relação a sua terra.

Nelo: personagem principal que sai do Junco para São Paulo em busca de melhores condições, mas retorna fracassado e acaba cometendo suicídio.

A mãe: vive brigando com o marido e se queixando dos filhos, menos de Nelo, a quem trata diferente, tendo esperanças que ele a tirasse do sertão. Com a morte do filho, enlouquece.

O pai: perde as terras para o irmão e acaba ficando sozinho no Junco quando a família se muda para Feira de Santana por causa do estudo dos filhos. Acaba sozinho com Totonhim partindo para São Paulo.

Zé da Botica: farmacêutico do lugar, ajuda Totonhim no enterro de Nelo. Pedro Infante: amigo de infância de Nelo, arrepende-se de não ter feito as pazes com o amigo ainda vivo. Não se

falavam por conta de uma surra que Nelo levou sozinho por uma travessura que ambos fizeram juntos por ideia de Pedro.

Zé do pistom: baiano, primo de Nelo que rouba sua mulher em São Paulo. “ALÉM DE ESTAR” – Helena Parente Cunha

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BIOGRAFIA

Helena Gomes Parente Cunha (Salvador BA 1930).

Ensaísta, poeta, contista, romancista, professora e tradutora. Em 1949, ingressa no curso de graduação em letras neolatinas da Universidade Federal da Bahia - UFBA, que conclui em 1952. Dois anos depois, ganha bolsa de estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior - Capes para se especializar em língua, literatura e cultura italiana em Perúgia, Itália. Muda-se para o Rio de Janeiro em 1958, e, dez anos depois, publica seu primeiro livro de poemas, Corpo no Cerco. Segue carreira acadêmica na área de letras. Começa a trabalhar como professora adjunta na UFRJ no ano seguinte e torna-se titular em 1984. Ainda em 1979, publica seu primeiro livro de ensaios, Jeremias, a Palavra Poética: Uma Leitura de Cassiano Ricardo. O primeiro livro de contos, Os Provisórios, é publicado em 1980. Desenvolve desde o fim dos anos 1980 pesquisa sobre a representação feminina na literatura e a produção de escritoras brasileiras do século XIX ao início do XXI.

Características da Poesia:

Poesia lírica Linguagem fragmentada Poesia experimental Influência da poesia concreta Discurso concentrado Linguagem marcada por associações de ideias e pela síntese. ALÉM DE ESTAR

vesti-me com a luz pendida nas espumas que mais brancas nas ondas que mais ondas descontei o meu ficar nas pedras depois das pedras meu deixar-me por deixar nos azuis de mais que azul meu estar-me além de estar CREPUSCULAR

perpendicular ao caminho insisto andar circunscrita na hora duro o percurso horizontal cheguei para me crepuscular Corpo no cerco

“os quatro pontos do globo os quatro cantos do céu as quatro esquinas do quarto o corpo todo travado” e “os meus membros quatro exatos quatro minhas as paredes cerco do corpo no quarto meu corpo cortado em quatro”. Verdade

no desmentir de cada mito me tomba um véu no desencontro de cada aurora rompo um pedaço no que refaço cada verdade mais me desfaço.

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Nesse poema longe de aceitar a identidade como algo acabado, fixo, a voz que enuncia se apresenta reflexiva e consciente do jogo de mentiras e verdades, do mascaramento, por meio do qual as pessoas vivem socialmente. O véu, símbolo feminino, usado para ocultar a face da mulher, portanto a sua identidade, com o passar do tempo vai sendo retirado, levando a mulher a se defrontar com a verdade.

Mas o que é a verdade? A verdade e a mentira não são feitas da mesma substância? A diferença é que a voz feminina constrói para si aquilo que ela considera como verdade sobre ela mesma. A mentira é o que foi dito sobre a mulher e que ela rejeita, tem uma relação de "desencontro". A verdade, ao contrário, é tudo aquilo que ela define para si mesma como pertencimento e por meio da qual ela se afirma. "O LARGO DA PALMA" - Adonias Filho

BIOGRAFIA

Adonias Filho faz parte da terceira fase do Modernismo. Foi também jornalista, ensaísta, romancista e crítico literário. Seu universo ficcional tem invariavelmente como palco a região cacaueira do sul da Bahia. Foi eleito para a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras. Adonias Filho (1915-1990) nasceu em Itajuípe, Bahia, no dia 27 de novembro de 1915. Sua linguagem obedece um estilo áspero e seco, é a marca que distingue os romances de Adonias Filho. O palco da região cacaueira dá vida e cor a personagens relacionados com a cultura do cacau. Foi diretor do Instituto Nacional do Livro entre 1954 e 1955, do Serviço Nacional de Teatro de 1954 a 1956. Dirigiu a Biblioteca Nacional em 1961 e a Agência Nacional em 1964. Neste mesmo ano foi eleito para a cadeira nº 21 da Academia Brasileira de Letras, antes ocupada por Álvaro Moreira. Entre seus livros mais conhecidos estão os romances "Os Servos da Morte" (1946), "Memórias de Lázaro" (1952), "Corpo Vivo" (1962), "O Forte" (1965) e o ensaio literário "Modernos Ficcionistas Brasileiros" (1958). Adonias Aguiar Filho faleceu em Ilhéus, Bahia, no dia 2 de agosto de 1990

São seis narrativas tendo como cenário o Largo da Palma, em Salvador. A prosa de Adonias Filho é elegante, sutil, contida. Não há exageros. As emoções, mesmo as mais fortes, são

expressas com admirável parcimônia. São histórias marcadas pelo lirismo, pela nostalgia, pela aceitação do sofrimento como parte inevitável da vida. 1ª Narrativa: “A moça dos pãezinhos de queijo”

Em um certo dia, Gustavo vai à mando da avó comprar meio quilo de pãezinhos de queijo na tão bem afamada loja que ficava no Largo da Palma. Quem comandava a loja era a viúva Joana, que fazia os pãezinhos no segundo andar da casa, e sua filha Célia, moça bela e de voz musical, que os vendia na loja no andar de baixo. Gustavo, que era mudo, ficou encantado com a voz de Joana e volta para casa a sonhar com a menina. Assim, no dia seguinte o moço vai em direção ao Largo da Palma com a intenção de ouvir mais uma vez a voz da moça dos pãezinhos de queijo. Gustavo lamenta ser mudo, mas avança mesmo assim. Estando à sós com ela, Gustavo pede os pãezinhos escrevendo em um papel, mas a moça diz que eles acabaram. Célia percebe que ele não foi ali pelos pães, mas sim com intenção de encontrá-la. Apesar de ser hora de fechar, a moça fica paralisada a admirar a beleza de Gustavo, com seus cabelos negros e olhos de avelã. Ao ser perguntada se ele pode voltar no dia seguinte, Célia responde que sim e marca hora e local para se encontrarem. Joana percebe que a filha está distante, mas nada pergunta. Assim, Célia dorme pensando no encontro que terá no dia seguinte e se o sentimento que invadiu seu coração era mesmo amor.

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Gustavo, após andar muito pela cidade, volta para casa e conversa com sua irmã, Márcia, sobre sua namorada. Márcia fica mais preocupada do que feliz, pois uma moça que aceita como namorado um surdo só pode ser uma criatura extraordinária ou então uma vigarista que está de olho no dinheiro do rapaz. A irmã, por fim, forçou um sorriso para tentar animar Gustavo. Após esse primeiro encontro, Célia e Gustavo passaram a se encontrar todos os dias por semanas. Enquanto isso, os pais de ambos se preocupavam com o futuro dos dois. Até que um dia, Célia falou que Gustavo não deveria mais escrever para se comunicar, mas sim falar. A partir de então, ele abandonou o caderninho e passou a gesticular, num esforço descomunal para tentar falar. Um dia, ela entendeu que Gustavo queria os pãezinhos de queijo. Então, Célia acordou bem cedo e fez os pãezinhos com todo o amor do mundo. Até criou inconscientemente uma canção enquanto cozinhava: “é preciso querer e querer muito para alcançar”. Os dois passaram o dia inteiro inquietos pensando no encontro que teriam naquele dia. Até que ao se encontrarem, numa rua escura pela falta de iluminação, Célia entregou a cesta de pãezinhos. Ao dar a primeira mordida, ela diz que agora ele poderia falar. Em um misto de angústia, dor e suor, quase como um parto, Gustavo diz em uma voz trêmula a palavra “amor”. 2ª Narrativa: “O Largo de Branco”

Após trinta anos sem terem contato, um dia Eliane recebe uma carta de Odilon pedindo um encontro. Ela havia sido deixada por seu amante, Geraldo, e estava pobre, morando em um quartinho e tendo que vender suas últimas joias para pagar o aluguel. Ela atendeu prontamente e foi ao local de encontro com um saco de farelo de milhos para alimentar os pombos enquanto esperava. Ela se perguntava porque não era um pombo. Seria tão mais fácil viver. Eliane e sua irmã foram criadas por seus pais sob muito custo. O pai, homem humilde que tinha dois empregos para poder sustentar a família, não entendia as mulheres da casa e nem procurava entende-las, ficando sempre fumando a um canto. Até que começou a chegar tarde do trabalho, depois a beber uma vez ou outra, até que por fim chegava todos os dias bêbado. Um certo dia o pai de Eliane tem um derrame e é levado ao hospital. Lá, eles conhecem Odilon, um aluno de medicina feio, baixinho e gordo. Odilon passa a cuidar do pai de Eliana e se não fosse por ele tudo faltaria ali na casa, de dinheiro à comida. Mesmo após a morte do pai, Odilon, já formado médico, continuou a frequentar a casa de Eliana todos os dias. Os dois casaram apenas no cartório e não teve nem bolo. Ela percebeu com o tempo que Odilon vivia apenas para seus pacientes e não ligava para nada que acontecia a seu redor. Porém, ele a tratava com carinho e a colocava acima até mesmo dos doentes. Um dia Eliana descobriu pelo marido que não poderia ter filhos e os dois foram passar três dias fora. Nesse período, ela percebeu que apesar do imenso amor que Odilon sentia por ela, Eliana se sentia cada vez mais distante dele. Até que no terceiro dia, durante uma briga, ele que nunca reagia aos insultos de sua esposa, bateu a porta com força na cara dela e a deixou para fora. Eliana foi até a praia e ficou encantada com um belo homem que ali estava, completamente o oposto de seu marido. Esse homem era Geraldo. Eliane encontra-se no Largo da Palma e ainda faltam trinta minutos para se encontrar com Odilon. Ela tem fome e se pergunta se “A Casa dos Pãezinhos de Queijo” não estaria aberta. Fica pensando o que Odilon queria com ela depois de trinta anos. Até que ela o avista, velho e com a roupa desarrumada, com um buquê na mão, parecendo um palhaço. Estava velho, mas continuava o mesmo homem. Ao se encontrarem, ele apenas diz “vamos, Eliane, vamos para casa”. Ela ainda com o coração a bater muito forte, tem certeza que o Largo está vestido de branco naquele dia tão ensolarado. 3ª Narrativa: “Um avô muito velho”

O velho negro Loio sempre viveu em volta do Largo da Palma. Seu pai tinha uma venda no Mercado Modelo e tinha total confiança no filho. Tanto que ele não ligou quando Loio começou a ter um caso com uma prostituta chamada Aparecida. Ela era uma moça linda, que trabalhava como prostituta apenas aos sábados e nos demais dias tocava sanfona ou tirava a sorte de quem passava pela rua. Aliás, foi a sanfona que os ligou. Loio aprendera desde criança a tocar o instrumento. Um certo dia, Loio pediu que Aparecida tirasse sua sorte. Ela, com o rosto sério de sempre, disse que ele “tinha uma morte em suas mãos”. Aparecida não conseguia viver sem os bares, a noite, as festas, e acabou voltando a se prostituir e se afastar de Loio. Até que um dia acharam seu corpo esfaqueado numa rua. Loio acabou se fechando em seu mundo, sempre a trabalhar na venda do pai e a tocar sanfona. Até que um dia seu pai morreu e deixou, junto com um dinheiro e um terreno, a venda como herança. Com o dinheiro ele comprou a loja ao lado da sua e conseguiu fazer com que a venda prosperasse, um dos únicos no Mercado Modelo a conseguir isso. Algum tempo depois, Loio conheceu Verinha em um espetáculo de circo. Não demorou muito para que casassem e ele fosse morar com ela. Pouco tempo depois tiveram uma filha, Maria Eponina, e viveram todos juntos uns dez anos ali. Até que um dia Verinha acabou falecendo devido ao tifo. Algum tempo depois, sem que Loio nem reparasse, a mãe de Verinha faleceu e Maria Eponina já era uma moça e uma grande dona-de-casa. Sem conseguir levar a venda sozinho, Loio contratou um ajudante. Chico Timóteo era um rapaz e tanto, que em pouco tempo já cuidava de tudo como se fosse sócio. Quando a mãe do moço faleceu, ele passou a comer na casa de Loio e, como era de se esperar, em pouco tempo já estava casado com Maria Eponina. Os dois tiveram uma filha, Pintinha, que se tornou o segundo amor do velho Loio. O outro era a sanfona. Pintinha e Loio estavam sempre juntos a conversar e a tocar sanfona. Ele a levava e a buscava da escola. Mesmo quando Pintinha passou a ir com as amigas para a escola, quando ela voltava para a casa era com o avô que ficava. E quando o avô adoecia, ela era que cuidava dele. Loio fazia o mesmo se o contrário ocorresse. E assim Pintinha foi crescendo até que se tornou professora.

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Sendo professora nova, colocaram-na para trabalhar em uma escola bem afastada. Pintinha nascera para a profissão e logo havia conquistado todos os alunos e professores, voltando para casa tarde da noite muitas vezes com presentes que ganhava deles. Porém, um dia ao invés de Pintinha veio um policial informando que a moça tinha sido violentada e espancada, por um milagre não morreu. Após duas cirurgias e algum tempo no hospital, Pintinha voltou para casa. Mas ela já não reconhecia ninguém e passava o dia sofrendo de dores. Loio resolveu ir ter uma conversa franca com o médico, que lhe contou que Pintinha não tinha como se salvar. As cirurgias apenas prolongaram sua vida, mas ela estaria condenada a passar os dias sofrendo com dor até morrer. Então, ele resolve ir até a venda de um farmacêutico amigo seu no Mercado Modelo e lhe pede o veneno mais forte que tiver, dizendo que era para seu cachorro doente. Como ninguém ousaria duvidar de Loio, ele lhe entregou o veneno e lhe explicou como usar. Chegando em casa, Loio foi deixado sozinho com a neta Pintinha, pois Maria Eponina iria sair. Sem hesitar, Loio mistura veneno com água em um copo e dá para neta beber. Ficou sentado na sala esperando a filha chegar e que viessem os gritos desesperados dela. Porém, Maria Eponina ao ver a filha morta apenas pediu que o pai trouxesse uma vela, sem nenhuma lágrima e quase sem voz. 4ª Narrativa: “Um corpo sem nome”

O narrador, “eu”, vai andando pelo Largo da Palma e avista uma mulher vindo em sua direção tropeçando muito, talvez bêbada ou uma epilética. Próximo à escadaria da igreja, ela tropeça e cai. Mal o narrador se debruça para acudi-la, já sabe que a mulher está morta ali em seus braços. Ele a coloca de volta no chão com todo o cuidado, quando percebe que do nada toda a multidão que estava dentro da igreja, inclusive o padre, está ali para saber o que aconteceu. Enquanto esperam a polícia, ao olhar aquela pobre moça, magra, com a roupa tão suja que mal dá para distinguir a cor e com sinais de quem passou por muita fome e dor, o narrador se lembra de quando foi levado a um bordel por uns amigos para ele perder a virgindade. Quando eles estavam na mesa acompanhados por belas moças, chega uma mulher velha e feia, pobre como aquela outra mulher que se encontrava morta ali no chão do Largo da Palma. A cafetã grita para a pobre mulher que se ela não conseguir nenhum homem para dormir, era para ela ir embora que ali não ficaria mais. A cafetã segue a gritar ofensas e ameaças para a mulher e pergunta aos homens do local se existe alguém que deseja aquela pobre criatura. Ao que o narrador, nesse momento com apenas dezoito anos, se levanta e diz, para o espanto de todos, que a quer. Então, ele sai de lá com a mulher não em direção ao quarto, mas ao Terreiro de Jesus. Lá, a mulher diz que seria melhor morrer, pois morta não passaria fome e nem medo. A polícia já chegara e estava levando o corpo da mulher para o necrotério e o narrador se apresenta como testemunha. O policial pede para que o narrador o acompanhe até a delegacia e ao necrotério, mas desiste ao saber quem era o narrador. Porém, este insiste dizendo que viu a mulher morrendo ali na frente e agora estava curioso para saber o que havia acontecido e quem era essa mulher. No necrotério o médico faz a autópsia e decreta se tratar de uso de tóxico. Ao revistar a bolsa da mulher, o policial encontra apenas alguns objetos pessoais, uma caixinha de fósforos contendo cocaína e uma saboneteira de plásticos com alguns dentes humanos dentro. Não havia nenhum documento que pudesse identificar a mulher, que permaneceu no necrotério para o reconhecimento dentro dos prazos da lei. Dois meses após a morte da mulher, o Largo da Palma já havia se esquecido do fato, pois já era muito velho e não tinha memória para todos os acontecimentos. O narrador sente o cheiro do trigo vindo de “A Casa dos Pãezinhos de Queijo” misturado com o do incenso da igreja e cogita se não foi isso o que atraiu aquela mulher para morrer ali no Largo da Palma.

Então, o narrador encontra o inspetor de polícia na Rua Chile e esse informa que a morte da mulher havia sido realmente causada por tóxico. Além disso, o inspetor diz que os dentes dentro da saboneteira eram da própria mulher, mas não se sabe porque ela os carregava consigo. Ao caminhar pelo Largo da Palma, o narrador pensa que a mulher não havia morrido ali, mas sim que ela morreu em delírio, fora do corpo em um mundo que não o nosso. 5ª Narrativa: “Os enforcados”

O ceguinho da Palma, como todos os chamavam, era um home que de tão magro e pequeno era quase um anão. Morava em umas estrebarias abandonadas junto com índios, negros libertos, ladrões e mendigos. Nas noites quentes dormia pela rua mesmo, mas quando chovia abrigava-se dentro da igreja. Estava sempre ali no Largo da Palma a pedir esmolas. Diziam que ele havia ficado cego por ter falado mal da Santa da Palma e agora estava ali cumprindo castigo há anos, certo de que um dia a Santa o perdoaria e ele voltaria a enxergar. Talvez isso fosse mesmo verdade, já que ele se salvava de todas as pestes, tais como tifo e a varíola, que assombravam a Bahia às vezes, como se a Santa o quisesse vivo para pagar a penitência. Em um certo dia, quando João-o-Manco, vigia da região, veio acordá-lo logo cedo, disse que aquele seria o dia em que iriam enforcar uns condenados no Campo da Piedade. A missa daquele dia tinha apenas umas dez pessoas, e ninguém negou esmola ao ceguinho como se todos temessem alguma coisa. O ceguinho da Palma sentia uma dor no coração, não de sua tristeza, mas de uma tristeza que nascia da cidade a esperar as mortes.

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O ceguinho da Palma juntou-se ao povo que caminhava em direção ao Campo da Piedade. Parecia que naquele dia a Bahia havia parado para acompanhar os enforcamentos. Perto do Convento das Freiras, ele parou na birosca do Valentim e pediu uma bebida. Valentim era um filho de escrava liberta e pai desconhecido, que havia conseguido juntar dinheiro sabe-se lá como e comprado casa, terreno e montado essa bodega. Apesar das muitas especulações que haviam em torno dele, o certo é que Valentim tinha amigos na cidade de Salvador inteira. Então os dois seguiram juntos rumo ao Campo da Piedade para acompanhar os enforcamentos. Para o cego a cidade parecia triste, mas para Valentim a Bahia nunca fora alegre, pois uma cidade que tem escravos não pode ser alegre. Aqueles enforcamentos serviriam para que o povo aprendesse a lição, pois D. Fernando José de Portugal e Castro, governador da Bahia, poderia perdoar ladrões e assassinos, mas não os inimigos do Rei. Já se encontravam no Campo da Piedade, frente à grande forca de madeira da lei, grande o suficiente para que nem mesmo um anão deixasse de ver o espetáculo. E assim, os condenados foram chegando e sendo enforcados rapidamente um a um: Manuel foi o primeiro, depois Lucas, Luís e, por fim, João. O ceguinho da Palma não sabe que fim levou Valentim perdido no meio da multidão. Foi retornando devagar, passo a passo em direção ao Largo da Palma, que reconheceu com os pés descalços ao pisar nas pedras ásperas e a grama macia. Sentiu o cheiro do incenso e imaginou que naquele momento já estariam a cortar as cabeças e mãos dos enforcados para deixar em exposição no Cruzeiro de São Francisco ou na Rua Direita do Palácio. Então o ceguinho ajoelhou-se com as mãos na porta da igreja e essa foi a única vez em toda a vida que agradeceu à Santa da Palma por ter ficado cego. 6ª Narrativa: “A Pedra”

A igreja, mais velha do que as árvores dali, acompanhou o que era um capinzal no topo da ladeira se transformar em Largo da Palma ao longo dos anos. Apesar de muita coisa ter mudado, um terreno sempre ficou abandonado e o fizeram de depósito de lixo. Após a praga invadir a cidade e a caça aos ratos começar, tacaram fogo ao lixo e então proibiram que se deixasse terreno baldio. Como a construção de casas havia ficado mais cara por conta da libertação dos escravos, quem não tivesse dinheiro para construir que vendesse suas terras. E foi então que um especulador português construiu uma casinha ali no terreno para vender. Quem comprou a casa foi Cícero Amaro e sua esposa, Zefa. Cícero era um garimpeiro de Jacobina que não fazia nada e de vez em quando gostava de tomar uma pinga. Sua mulher, porém, era uma negra dura que trabalhava muito e, sabendo do marido que tinha, tratava de economizar um dinheiro para construir uma quitanda. Apesar de gritar com o marido dizendo que um dia o abandonaria por ser tão preguiçoso, no fundo ela acreditava nas desculpas dele de que vida de garimpeiro era assim e sabia que um dia chegaria a hora em que ele apareceria com um diamante. Até que um dia, em uma das raras garimpadas dele, Cícero topou com uma pedra do tamanho de uma azeitona. Falou-se disso o dia inteiro em Jacobina e todos perguntavam o que ele iria fazer com tanto dinheiro que conseguiria com a venda da pedra. Depois de muita discussão, fechou negócio com Salviano e, com o dinheiro no bolso, fez o que todo homem faria e entrou no primeiro botequim e já começou a gastar. No caminho de volta, nem pensou duas vezes e já comprou roupas novas para ele e para a mulher. Ao chegar em casa, Zefa fez um café bem forte para Cícero e só depois que a bebedeira passou ela falou de comprar uma quitanda em Salvador. Foram os dois de trem para a Capital e em coisa de dez dias compraram a casa já mobiliada, pois não eram mais gente para ficar em casa de aluguel. A quitanda, que era mais um pequeno armazém do que uma quitanda, ficava logo ali na própria Ladeira da Palma, perto da casa. Tudo foi pago à vista e posto no nome de Zefa. Enquanto Zefa cuidava da quitanda e de sua vida, Cícero passava as tardes a queimar seu dinheiro. Já era popular nos botecos e no fim da tarde pagava bebida para todos. Até que um dia a consciência apertou e ele resolveu ver quanto de dinheiro que havia sobrado. Cícero só tinha cerca da metade do dinheiro que conseguiu com a venda do diamante. No dia seguinte, todo bem vestido saiu para andar e foi para a Rua Chile sonhando com as belas moças da Bahia. Entrou em uma das casas atraído pelo som da valsa tocada no piano desafinado e mal sentou na mesa e pediu uma bebida, veio uma bela moça de nome Flor se juntar a ele. E de riso em riso, palavra em palavra, Cícero acabou se apaixonando por Flor. Ele se perguntava como poderia ter ficado tanto tempo com a negra Zefa. Porém, essa paixão não durou nem sete dias. No primeiro ela exigiu uma pulseira de ouro, no segundo nada pediu, no terceiro foi um par de brincos e dinheiro. No quarto, sem nem que Flor pedisse, ela ganhou três belos vestidos de seda. No quinto ela pediu um anel. No sexto, como já tinha o que queria, pediu mais dinheiro e assim ela descobriu que Cícero já quase não tinha mais dinheiro algum. Então ela o mandou embora. Chegando em casa foi recebido por Zefa de cara amarrada. Ela já iria mais tolerar as mentiras e a folga dele, e muito menos que ele comesse todo o lucro da quitanda. Cheia de tanta mentira e malandragem, Zefa o mandou embora. Assim, Cícero deixou a mulher falando sozinha e foi-se embora com a roupa já toda suja e gasta. Foi andando pela rua pensando na ingratidão de Zefa e no desprezo de Flor, pensava que todos iriam pagar por tremenda maldade. E aí pensou em como conseguir dinheiro. Não muito, apenas o suficiente para voltar a Jacobina e voltar à vida de garimpeiro.

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TENDA DOS MILAGRES (1970) JORGE AMADO

CARACTERÍSTICAS DA OBRA DE JORGE AMADO

1ª FASE

Preocupação político-social: denúncia da miséria e da opressão das classes populares; Temas: infância abandonada, miséria do negro, cais e pescadores de Salvador, denúncia do coronelismo latifundiário

do Recôncavo baiano (sul da Bahia); OBRAS MAIS IMPORTANTES: O país do carnaval (1931), Cacau (1933), Suor (1934), Jubiabá (1935), Mar morto

(1936), Capitães da areia (1937), Terra do sem-fim (1942), São Jorge dos Ilhéus (1944). 2ª FASE

Abandona os esquemas ideológicos, o radicalismo político; As obras são crônicas de costumes: povo baiano, seus costumes e tradições; Romances mais “apimentados”, “neonaturalistas”; OBRAS MAIS IMPORTANTES: GABRIELA, CRAVO E CANELA (1958), A morte e a morte de Quincas Berro d’água

(1961), Dona Flor e seus dois maridos (1967), Tenda dos milagres (1970), Tereza Batista cansada de guerra (1977), Tieta do agreste (1978), Tocaia grande (1984), Navegação de cabotagem – Apontamentos para uma autobiografia que jamais escreverei” (1992), A descoberta da América pelos Turcos (1992), Milagre dos pássaros (1992).

LINGUAGEM: Linguagem ora lírica ora feroz, transcreve a fala popular.

O livro conta várias histórias que se cruzam ante a luta de Pedro Archanjo: a amizade com Lídio Corro, a luta contra o

preconceito racial dos poderosos, a perseguição pela polícia aos terreiros de candomblé, a relação de Pedro Archanjo com as mulheres, a história de Tadeu Canhoto, os embates com o Professor Nilo Argolo;

O romance apresenta dois planos narrativos: 1º - No presente: preparação para a comemoração do centenário de Pedro Archanjo; 1ª pessoa (Fausto Pena). 2º - A vida de Pedro Archanjo vai sendo rememorada; narrativa em 3ª pessoa.

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Em Tenda dos Milagres, segundo romance de Jorge Amado, publicado em 1969, o autor apresenta a violência dos brancos

diante de rituais de origem africana, e oferece o ingresso para um outro mundo, onde a mistura não é só de raças, mas também de religiões. É um grito contra o preconceito racial e religioso. E na ânsia de nos apresentar a figura de um certo Pedro Archanjo em sua inteireza, o autor encheu-se de ambição, quis abarcar o mundo com as pernas, misturou tempos e espaços romanescos. Tenda dos Milagres é uma obra em que o diálogo com as teorias da identidade nacional é explorado em sua máxima potência. Seu personagem principal, Pedro Archanjo, transita entre teorias populares e eruditas, torna-se autor (sem jamais ser inserido formalmente na academia, entrando pela porta de trás) e debate com personagens que podem ser reconhecidos em teóricos como Nina Rodriques e Manoel Querino. O candomblé, a capoeira e as festas populares da Bahia fazem parte do universo de Pedro Archanjo, escritor, sábio, malandro e personagem central da obra. Os tipos folclóricos das ladeiras de Salvador estão presentes também em Tenda dos Milagres. É um dos maiores e mais perfeitos personagens da literatura universal. Ele é descrito como Ojuobá (ou "olhos

de Xangô"). Mulato e capoeirista, mestre Archanjo, como também era conhecido, tocava viola, era bom de cachaça e pai de muitas crianças com as mais lindas negras, mulatas e brancas. No romance, é ele quem percorre as ladeiras de Salvador e recolhe dados sobre o conhecimento dos negros africanos sua cultura. Pedro é um mulato sociólogo que combate os preconceitos da Salvador do começo do século e que continua frequentando os terreiros mesmo depois que deixa de acreditar nos orixás. Tudo para não deixar esmorecer o ânimo dos perseguidos e evitar o triunfo da polícia e da elite racista. Romance sociológico, esta obra segue a linha típica dos romances de Jorge Amado, que tem, como já citado, a cidade de Salvador como cenário e é, basicamente, a narrativa das proezas e dos amores de Pedro Archanjo, bedel da Faculdade de Medicina da Bahia, que se converte em estudioso apaixonado de sua gente, publicando livros sobre a mestiçagem genética e os sincretismos simbólicos do povo baiano. Mostra sua luta pela afirmação da cultura popular. Em Tenda dos Milagres a vida do povo baiano é apresentada em um enredo fascinante e pleno de personagens os mais variados e interessantes, que vão dos mestres da capoeira à gente do candomblé, professores, doutores e boêmios. E muitas são as mulheres que encheram de encanto a narrativa do escritor: Rosa de Oxalá, Dorotéia, Rosenda, Risoleta, Sabina dos Anjos, Dedé, a maioria mulatas baianas, e a nórdica Kirsil. Mas dentre tantos tipos que povoam a história, se sobressai, sem dúvida, a figura de Pedro Archanjo. Personagens Principais:

- PEDRO ARCHANJO: nasceu em 18 de dezembro de 1868, morreu em 1943, enquanto as rádios anunciam a iminente

derrota do III Reich, pobre, com 75 anos de idade, deixou muitos filhos, teve muitas mulheres (Dorotéia, Rosália, a finlandesa Kirsi etc), mas só amou Rosa de Oxalá (mulher de Lídio Corró); era bedel da Faculdade de medicina; guiado por sua mãe-de-santo “Magé Bassan”, que lhe revela a missão de ser “a luz de seu povo” (Ojuobá). Publica quatro livros que buscam proteger e valorizar a cultura africana e integrá-la à sociedade brasileira. Livros: “A vida popular na Bahia” (1907), “Influências africanas nos costumes da Bahia” (1918), “Apontamentos sobre a mestiçagem nas famílias baianas” (1928) e “A culinária baiana – origens e preceitos” (1930). O 3º livro custa-lhe o emprego devido à reação racista do Professor da Faculdade de Medicina, Nilo Argolo de Araújo. Archanjo dedica o livro “Ao ilustríssimo senhor professor e homem de letras, doutor Nilo d’Ávila Oubitikô Argolo de Araújo, em contribuição aos seus estudos sobre o problema de raças no Brasil, oferece as modestas páginas que se seguem seu primo Pedro Archanjo Oubitikô Ojuobá”.

- LÍDIO CORRÓ: Amigo e compadre de Pedro Archanjo, proprietário da Tenda dos Milagres, oficina que pinta com tinta

óleo, tinta de água e lápis de cor os milagres alcançados pelas pessoas. Na oficina também são produzidas capas e folhetos de literatura de cordel. Lídio Corró imprimiu pequenas tiragens dos livros de Pedro Archanjo e os mandava para bibliotecas, Universidades e estudiosos do Brasil e do exterior, tornando Pedro Archanjo mais conhecido no exterior que na Bahia. Lídio morre antes de Pedro Archanjo.

- JAMES D. LEVENSON: Prêmio Nobel Norte-Americano, vem ao Brasil para conhecer melhor a obra de Pedro Archanjo,

pois a considera indispensáveis para a compreensão do problema de raças no Brasil. É responsável para que os baianos conheçam a importante obra de Archanjo.

- FAUSTO PENA: Narrador que, no presente, faz pesquisa, encomendada por James Levenson, em torno da vida e da

obra de Pedro Anchanjo. - ANA MERCEDES: poeta, jornalista, ex-namorada de Fausto Pena, ajudou Levenson na pesquisa sobre a vida e a obra

de Archanjo. - ROSA DE OXALÁ: mulher de Lídio Corró; o grande amor (platônico) de Pedro Archanjo;

- KIRSI: sueca que vive um tempo na Bahia. Apaixona-se e vive com Pedro Archanjo. Volta para a Suécia grávida dele.

- TADEU CANHOTO: filho de Dorotéia, entregue a Pedro Archanjo para que o encaminhe aos estudos. Trabalha com

Lídio Corró na Tenda dos Milagres; faz seus estudos, consegue formar-se na Faculdade de Engenharia Civil, consegue trabalho no Rio de Janeiro, de onde vem para casar-se com seu grande amor, Luiza, filha de uma família rica, tradicional e preconceituosa de Salvador. O casal vai morar no Rio de Janeiro e quase nunca mais manda notícias para Archanjo.

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- ZABELA: pertence à aristocracia decadente; amiga de Archanjo. Em conversa, revela que sua avó, Virgínia Argolo,

fora casada com o negro Fortunato Araújo. Comprovando, portanto, que o racismo do Professor Nilo Argolo, não faz sentido diante da miscigenação existente na Bahia.

Tenda dos Milagres termina com a homenagem póstuma do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia ao centenário de nascimento de Pedro Archanjo. Mais condizente com sua vida vivida nas ruas e ladeiras da Bahia, foi a homenagem prestada pela escola de samba Filhos do Tororó, no carnaval de 1969, em Salvador, com o enredo “Pedro Archanjo em Quatro Tempos”.

“Pedro Archanjo Ojuobá vem dançando, não é um só, é vário, numeroso, múltiplo, velho, quarentão, moço, rapazola, andarilho, dançador, boa-prosa, bom no trago, rebelde, sedicioso, grevista, arruaceiro, tocador de violão e cavaquinho, namorado, terno amante, pai-dégua, escritor, sábio, um feiticeiro. Todos pobres, pardos e paisanos.”

“A MORTE E A MORTE DE QUINCAS BERRO D’ÁGUA” JORGE AMADO

Publicada pela primeira vez em 1959, na revista "Senhor", essa obra é classificada de “novela”. A morte e a morte de Quincas Berro D'Água, de Jorge Amado, é, antes de tudo, uma crítica aos comportamentos burgueses.

A obra está inserida na segunda fase do Modernismo. FOCO NARRATIVO: O autor se põe na condição de observador que redige na terceira pessoa, que colhe os fatos e

suas interpretações sem neles interferir.

Sua linguagem é bem simples, evitando os exageros dos puristas da Língua e registrando a naturalidade dos discursos praticados no cotidiano por diferentes camadas sociais. Esse senso de observação do que se passa nas ruas da Bahia fez com que o autor inserisse um vocabulário mais regionalizado (abrangendo desde gírias a expressões da cultura baiana).

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PERSONAGENS PRINCIPAIS:

Joaquim Soares da Cunha ou Quincas Berro D'Água - (protagonista) Otacília – mulher Vanda – filha Leonardo Barreto – genro Eduardo e Marocas – irmãos Sua amante - Quitéria do Olho Arregalado Curió – fazia propagandas em portas de lojas Negro Pastinha – ajudante de bicheiro Cabo Martim – jogador “profissional” de baralho Pé-de-vento – capoeira e fornecedor de pequenos animais para pesquisas. Joaquim Soares da Cunha foi funcionário público, pai e marido exemplar até o dia em que se aposentou do serviço público, com 50 anos. A partir daí, jogou tudo para o alto: família, respeitabilidade, conhecidos, amigos, tradição. Caiu na malandragem, no alcoolismo, na jogatina. Trocou a vida familiar pela convivência com as prostitutas, os bêbados, os marinheiros, os jogadores e pequenos meliantes e contraventores da ralé de Salvador. Sua sede era saciada com cachaça e seu descanso era no ombro acolhedor da prostituta. Fez-se respeitado e admirado entre seus novos companheiros de infortúnio: era o paizinho, sábio e conselheiro, sempre disposto a mais uma farra ou bebedeira. Sua opção pela bandalha representa o grito terrível do homem dominado e cerceado por preconceitos de toda sorte e que um dia rompe as amarras e grita por liberdade. Morreu solitariamente sobre uma enxerga imunda e sua morte detonou todo o processo de reconhecimento/desconhecimento por parte da família real e da família adotada. Os amigos durante o velório se embriagam e resolvem, bêbados, levar o defunto para um último "giro" pelo baixo-mundo que habitavam. O passeio passa pelos bordéis e botecos, terminando em um saveiro, onde há comida e mulheres. Vem uma tempestade e o corpo de Quincas cai ao mar.

Ao renunciar à família, mudar de ambiente e de costumes, Quincas morreu pela primeira vez; na solidão de seu quartinho imundo, envolvido por farrapos e curtindo a última bebedeira, morreu pela segunda vez; ao cair ao mar, não deixando qualquer testemunho físico de sua passagem pela vida, morreu pela terceira vez.

A narrativa poderia chamar-se A morte e a morte e a morte de Quincas Berro D'Água, acrescentando-se uma

morte ao protagonista, que ficaria bem de acordo com a progressão da trama. “Quincas e Quitéria iam juntos, respirando o ar marinho. Maria Clara, mulher de Mestre Manuel estaca junto do

marido. De repente, cinco raios sucederam-se no céu, a trovoada reboou num barulho de fim do mundo, uma onda sem tamanho levantou o navio. As pessoas gritaram ("Valha-me Nossa Senhora!"). No meio do ruído, do mar em fúria, do saveiro em perigo, à luz do raio, viram Quincas atirar-se e ouviram sua frase derradeira.

"CADA QUAL CUIDE SEU ENTERRO, IMPOSSÍVEL NÃO HÁ."

A única testemunha desse fato teria sido Quitéria do Olho Arregalado. Penetrava o saveiro nas águas calmas do quebra-mar, mas Quincas ficara na tempestade, envolto num lençol de ondas e espuma, por sua própria vontade.

No dia seguinte não houve enterro. Não devolveram o defunto à família. A funerária não quis receber o caixão de volta. Vanda aproveitou as velas que sobraram. Quanto à frase derradeira há versões variadas. Mas quem poderia ouvir direito no meio daquele temporal? Segundo um trovador do Mercado, passou-se assim:

No meio da confusão Ouviu-se Quincas dizer:

"- Me enterro como entender na hora que resolver. Podem guardar seu caixão Pra melhor ocasião. Não vou deixar me prender Em cova rasa no chão. Ë foi impossível saber O resto de sua oração.”

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“O DESTERRO DOS MORTOS” ALEILTON FONSECA

Nasceu em Firmino Alves, Bahia, em 1959. Reside em Salvador. Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo, é professor de Literatura Brasileira na Universidade Estadual de Feira de Santana. É coeditor de Iararana – revista de arte, crítica e literatura. Ensaísta em enredo romântico, música ao fundo (1996), organizou, com o escritor Cyro de Mattos, o livro O triunfo de Sosígenes Costa – estudos, depoimentos e antologia (2004, Prêmio Marcos Almir Madeira, da União Brasileira de Escritores). Como contista, lançou Jaé dos bois e outros contos (1997); O desterro dos mortos (2001) e O canto de Alvorada (2003, Prêmio Nacional Herberto Sales, da Academia de Letras da Bahia). Em 2006, publicou Nhô Guimarães: romance homenagem a Guimarães Rosa, e, em 2009, o romance O pêndulo de Euclides.

Em tempos modernos, Aleilton Fonseca tem a sabedoria de narrar, e alguns dos seus temas caros e universais são os mistérios da vida, a velhice e a morte. Os contos, geralmente, têm o tom da oralidade, regidos pela vivência, pela lembrança e pela transmissão do saber. No conto, a morte do pai do narrador é o seu sofrimento por perda, haja vista que já havia passado por isso quando o avô morreu. É a partir da perda do pai que o narrador faz uma reflexão sobre a velhice como uma fonte de sabedoria latente de experiências que podem ser trazidas à tona pela arte de narrar. Observamos a personificação desse conceito de ancianidade é seu avô: cabelos alvos e histórias a contar. As pessoas morrem...mas até seu avô morreria? Desiludiu-se e aprendeu com os olhos fitos em seu herói, agora no caixão: cena forte que seu pai fazia questão que presenciasse. Mas os tempos passam e mudam, mudam tanto que até o ritual de morte não é mais como outrora; a modernidade empurra o moribundo para mãos outras, ditas técnicas e não ditas mecânicas, privando-o dos últimos contatos com os entes queridos. E foi assim com a morte do seu pai, mesmo com o pedido de sempre para falecer no seio da família. “Outro é nosso tempo”, murmura o narrador a questionar a ausência dos filhos no sepultamento do avô deles. A dor seria mesmo inevitável! E, traduzida em lágrimas, pode ser também um ensinamento, daí a importância das lágrimas, segundo o conto.

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Existem certas experiências que só a dor de perder um ente querido pode trazer. Entretanto, na sociedade moderna, as ideia de velhice e de morte são negadas e, consequentemente, a noção da transmissão das experiências também são: mesmo com os olhos cheios de palavras, permanece em silêncio e sepulta-se a narrativa; isso pode tornar o humano incapaz de desterrar a memória, de desterrar o saber. O desterro dos mortos constitui-se de um conjunto de 12 contos escritos numa linguagem simples e elegante, com uma

profusão de vivências e experiências experimentadas por personagens emblemáticos do cotidiano. As histórias são surpreendentes, cheias de humanidade e busca de compreensão do outro. E os narradores estão sempre empenhados em desvendar e compreender as vicissitudes da existência humana. Em cada conto, o leitor se depara com situações em que as personagens enfrentam os confrontos e os dilemas da vida – a aceitação, o amor, a dor, a finitude, a compaixão. A morte aparece não apenas como perda e dor, mas como experiência profundamente humana, rica em significados e sabedoria. Os narradores trazem à tona as diversas questões que envolvem as relações interpessoais, entre amigos e familiares, em que a reflexão sobre as pessoas e os seus afetos transformam-se em conhecimentos e experiências para a compreensão do mundo e da vida. O livro é todo vazado em uma prosa simples, atraente, poética, que narra os fatos com a leveza, detalhes e uma enorme solidariedade para com as personagens e o leitor. A morte marca as narrativas e instiga o leitor a pensar na existência humana e na importância de tentar compreender e aceitar as diferenças no convívio com as pessoas próximas e com os semelhantes. A palavra exata associada a uma vivência profunda; a observação arguta e sutil da vida, expressa através de um olhar marcado por um profundo lirismo, que compõe, passo a passo, e com extremo cuidado, uma construção artística plena de significados. Isto é o que se pode dizer, logo de partida, dos 12 contos do escritor Aleilton Fonseca, reunidos neste livro O desterro dos mortos. A obra inclui cinco histórias anteriormente publicadas em Jaú dos Bois e Outros Contos, que obteve considerável reconhecimento por parte da crítica, com referências entusiasmadas à elegância da linguagem simples, justa e densa de significados (Luís Antônio Cajazeira Ramos), à leveza e à criatividade dos textos “combinadas com a habilidade de quem sabe equilibrar as palavras” (Kátia Borges), à junção da “profusão de sentimentos vivos do seu universo ficcional num espaço definido e preciso: o espaço da escrita…” (Cid Seixas), à “simplicidade de alto nível, como se quer a simplicidade literária” (Gláucia Lemos), ao “domínio da técnica formal a serviço de uma sensibilidade aguçada” (Luís Ruffato) e à sutil análise psicológica que lhe dá um caráter universal (Dominique Stoenesco). Os contos são relatos de vivências poderosamente nossas e ao mesmo tempo universais, porque falam dos mistérios da vida e da morte, e é isso que eleva a nossa alma e nos faz pensar na necessidade de intercambiar experiências e ouvir conselhos”. As contradições – muitas vezes ilusórias – entre tradição e modernidade, regional e urbano ou local e universal desaparecem, aqui, na alquimia que une experiência e linguagem. Experiência profunda, linguagem depurada – eis a base sobre a qual se constrói o edifício ficcional do autor. Os tijolos são os velhos e inextinguíveis temas: a solidão, a loucura, o amadurecimento, a amizade, o ciclo de nascimento, amadurecimento e morte, o amor. Há nos contos vários narradores e personagens emblemáticos: o menino que só compreende a irmã “doida” – que lhe ofertava uma estrela – depois da sua morte; o menino que acompanha a luta do avô contra um rio, que avança mais e mais sobre suas terras; o homem que retorna, após muitos anos, à fábrica inexistente, agora apenas um terreno tomado pelo mato, na qual sempre fora proibido de entrar; a avó que, docemente, espera a volta do marido morto, após tantos anos… histórias tocadas pelo mais intenso lirismo e que, como num conto de Tchekov, livre de qualquer sentimentalismo fácil, nos restituem o direito de chorar e rir, esquecidos de que estamos diante de uma ficção. LINKS Videoaulas das obras literárias da UNEB:

https://www.youtube.com/watch?v=XaMYWoFZ5qE https://www.youtube.com/watch?v=75PD9701DQs https://www.youtube.com/watch?v=NFd2qe270p4 https://www.youtube.com/watch?v=lqcu3WBAcNM https://www.youtube.com/watch?v=Wy6V4xTh418 https://www.youtube.com/watch?v=_EYJ1j2_Z1E