Resumos Hunt

download Resumos Hunt

of 66

Transcript of Resumos Hunt

Evolucao das Id ias Econ micas e Sociais: e o Notas de AulaRoberto Ellery Jr. Universidade de Braslia Departamento de Economia 7 de fevereiro de 2003

Vers o incompleta e n o submetida a revis o, deve ser utilizada a a a apenas como refer ncia para os alunos de Evolucao das Id ias e e Econ micas e Sociais do primeiro semestre de 2002. o

1

Conteudo Program tico a 1. Objeto e M todo da Economia e De que Trata a Economia? A Objetividade da Ci ncia Econ mica e o Unidades de Decis o Econ mica e sua Coordenacao a o Capitalismo e outras Formas de Organizar a Producao Postulado da Racionalidade 2. Economistas Cl ssicos e a Teoria do Valor Trabalho a Antecedentes: Mercantilistas e Fisiocratas Adam Smith Thomas Malthus David Ricardo Karl Marx 3. Utilitaristas e Marginalistas As Teorias Utilitaristas de Benthan e J.S. Mill O Marginalismo de Jevons e Menger Walras e o Equilbrio Geral Apanhado Geral da Teoria Neocl ssica a Alfred Marshall Economia do Bem-Estar 4. Keynes e a Macroeconomia Antecedentes: A Lei de Say e a Macroeconomia Cl ssica a A Teoria Geral do Emprego, da Moeda e dos Juros A Crtica de Lucas Rumos da Macroeconomia

2

Parte I Objeto e M todo da Economia e

3

Captulo 1 Aspectos Metodol gicos oEsta primeira unidade segue o texto Objeto e M todo da Economia de Oskar e Lange, este texto pode ser encontrado no livro Cl ssicos do Pensamento Econ mico a o editado pelo IPEA. O objetivo desta unidade e colocar para os alunos os principais problemas metodol gicos relacionados a Ci ncia Econ mica. o e o

1.1 De que trata a economia A economia e a ci ncia da administracao de recursos escassos na sociedade hue mana. Para entender esta denicao e preciso deixar claro o quer dizer recursos e escassez. Em uma sociedade existem objetos que atendem as necessidades das pessoas, estes s o chamados de bens, outras necessidades s o atendidas com o uso a a de objetos ou de pessoas, nesse caso diz-se que ecorreu um servico. Os recursos correspondem a soma dos totais de bens e servicos existentes em uma determinada economia. Quando o total de recursos e insuci nte para atender as necessidades dos que e deles dependem diz-se que os recursos s o escassos. Desta forma pode-se dizer a que a economia e aci ncia que estuda como administrar bens e servicos que n o e a existem em quantidade suciente para atender as necessidades de todos que os desejam. A administracao de recursos escassos depende dos padr es de civilizacao e da o organizacao e instituicoes da sociedade em pelo menos dois aspectos: i. as necessidades s o produtos de padr es historicamente desenvolvidos; a o ii. as maneiras que os recursos escassos s o procurados, adaptados e distribuia dos resultam da organizacao e das instituicoes sociais. Levando em consideracao esta dependencia entre o objeto de estudo da econo mia e as condicoes hist ricas e sociais de uma determinada sociedade e que se o 4

classica a economia como uma ci ncia social. e Existem dois grandes ramos nos quais se divide o estudo da economia, a economia te rica e a economia aplicada. O primeiro tem como objetivo a busca o de padr es uniformes de repeticao na atividade econ mica, suas proposicoes s o o o a conhecidas como leis econ micas. Estas leis s o proposicoes condicionais, ou o a seja, se aplicam somente sob determinadas condicoes. Entre tais condicoes est o a as organizacoes sociais e as instituicoes, desta forma as leis econ micas s o his o a toricamente delimitadas a certos tipos de sociedade. O outro ramo da economia, a economia aplicada, estuda e descreve os meios ` e m todos particulares de administrar recursos escassos a medida que eles ocore rem na hist ria da sociedade humana. A economia aplicada permite o teste das o leis econ micas desenvolvidas pela economia te rica, a parte da economia que se o o dedica a estes testes e chamada de econometria. Finalmente alguns economista se dedicam a utilizar a ecnomia te rica e aplicada para determinar a melhor forma o de se administrar os recursos escassos, esta area de estudo e conhecida como economia do bem-estar.

1.2 A objetividade da ci ncia econ mica e oAs leis econ micas possuem uma validade objetiva, no sentido que duas ou mais o pessoas que concordem em acatar as mesmas hip teses e as regras de procedio mento cientco dever o chegar as mesmas conclus es. Um exemplo para obje a o tividade seria de dois engenheiros onde um deseja construir um estrada e o outro est preocupado com os impactos da estrada sobre o meio-ambiente. A objea tividade requer que, dadas as caractersticas da estrada, os dois concordem sobre qual ser o impcato sobre o meio-ambiente ou qual ser a quantidade de esfalto a a necess ria para que a estrada suporte o futuro tr fego de veculos. a a Uma vez enunciada uma lei econ mica, o veredicto sobre a mesma depender o a dos fatos. Desta forma, e preciso que exista uma an lise empirica para validar a os resultados da economia te rica. Na realidade, segundo o cenceito moderno de o ciencia, qualquer lei cientca deve poder ser testada, e o crit rio de aceitacao e a e capacidade da lei se conformar aos fatos. Apesar da objetividade da ci ncia econ mica e comum ocorrer diverg ncia e o e entre os economistas. Tais diverg ncias n o devem ser vistas como consequencia e a da subjetividade de leis econ micas, como dito estas s o objetivas. Dentre as o a causas de diverg ncia entre os economistas tr s podem ser destacadas: e e Diverg ncia sobre objetivos sociais. e Diverg ncia sobre os fatos. e

5

Fracasso em ater-se as regras da l gica, da identicacao e da vericacao. o Nenhuma destas fontes de diverg ncias implica que as leis econ mcias n o sejam e o a objetivas. Alguns autores questionam as leis econ micas sob o argumentos de que estas o seriam ideol gicas e n o cientifcas. A ideologia decorre da racionalizacao de o a motivos subconscientes, suas proposicoes n o decorrem de argumentos l gicos de a o forma que n o possuem validade interpessoal. Proposicoes ideol gicas costumam a o ser aceitas por pessoas pertencentes a um determinado grupo. Desta forma tais proposicoes n o atendem ao crit rio da objetividade. A exist ncia de quest es a e e o ideol gicas, apesar de consistir um perigo, n o impede a objetividade das leis o a econ micas. o

1.3 Unidades de decis o econ mica e sua coordenacao a o Os recursos econ micos podem ser usados para: o Consumo Producao ou preparacao e adaptacao dos recursos para atender necessidades Troca ou uso para obter outros recursos O uso que ser dado aos recursos e decidido pelas unidades de decis o da a a economia, s o elas: a Famlias Firmas ou Empresas Servicos p blicos u As famlias tomam decis es relativas ao consumo. As rmas decidem como ser o a feita a producao, suas decis es s o tomadas visando obter lucros. Os servicos o a p blicos, assim como as rmas, s o respons veis pela producao, no entanto estes u a a buscam atender a objetivos sociais. A coordenacao das unidades de decis o econ micas pode ser feita pelo mer a o cado ou com uso de planejamento, tamb m admite-se casos onde a coordenacao e e feita simultaneamente pelo mercado e por planejadores. A acao coordenadora do mercado e suas eventuais falhas, foram uns dos problemas intelectuais que levaram ao surgimento da ci ncia econ mica. e o

6

1.4 Capitalismo e outras formas de coordenacao da economia Uma economia onde a maior parte da producao e realizada por empresas e chamada economia capitalista. A organizacao econ mica que delega a producao para as o empresas e chamada capitalismo. O capitalismo pode ser classicado em dois tipos. O capitalismo privado que ocorre quando a producao e realizada por em presas privadas, enquanto no capitalismo estatal a producao e feita por meio de empresas p blicas. u Para que toda producao seja realizada por empresas, ou seja por unidades de cis rias que possuem lucro como unico objetivo, e necess rio que estas empresas o a sejam inteiramente separadas das famlias a quem pertecem. Mais ainda, todos os servicos das pessoas empregadas pela rma devem ser comprados no mer cado. Esta particularidade da denicao de capitalismo apresentada acima a torna compatvel com outras denicoes nas quais o capitalismo e caracterizada pela separacao da posse dos meios de producao e do trabalho. E fato que em nenhuma economia real todas as rmas se adequam a descricao acima, no entanto, para efeitos de modelagem, tal descricao e a hip tese de maximizacao o de lucros parecem razo veis. a Uma outra forma de organizar a atividade econ mcia e o socialismo. Nesta a o producao e realizada por servicos p blicos operados para a satisfacao das neces u sidades da comunidade.

1.5 Postulado da racionalidade Foi visto que o objetivo das empresas e maximizar o lucro, entretanto n o parece a ser t o simples denir qual seria o objetivo das famlias. Em geral as famlias a buscam v rios objetivos e seria pouco prov vel que umm deles pudesse ser isolado a a como o objetivo mais importante das famlias. Entretanto, como os recursos s o escassos as famlias precisam escolher quais a de seus desejos ser o atendidos e at que ponto ser o atendidos. A alocacao de a e a recursos feita pelas famlias dever ser compatvel com estas escolhas. E por a meio de prefer ncias que as famlias podem determinar como utilizar seus recure sos, desta forma prefer ncias ser o entendidas como uma maneira de permitir a e a comparacao entre duas alocacoes de recursos. Caso as prefer ncias possam ser ordenadas de acordo com alguma escala, e torna-se possvel denir o objetivo das famlias como alcancar o mais alto nvel na escala de prefer ncias. Isto e equivalente a armar que o objetivo das famlias e e maximizar utilidade.

7

Considera-se que uma unidade de decis o e racional quando seu objetivo a e maximizar alguma vari vel. No caso das rmas a racionalidade ocorre por a denicao. As famlias s podem agir racionalmente quando e possvel ordenar o as prefer ncias, o que e apenas uma hip tese. e o Postulado da Racionalidade: Todas as unidades de decis o econ mica agem a o racionalmente. Caso o Postulado da Racionalidade seja observado, as decis es das unidades o econ micas podem ser previstas pela aplicacao de regras da l gica e da matem tica. o o a Na aus ncia do Postulado da Racionalidade estas previs es apenas s o possveis e o a por meio de umm cuidadoso estudo emprico das uniformidades dos padr es de o decis o de cada unidade. Desta forma o Postulado da Racionalidade permite o uso a da deducao l gica para descoberta de leis econ micas. Entretanto e importante o o lembrar que as leis assim deduzidas precisam da conrmacao dos fatos observa dos, uma vez que o postulado pr priamente dito dicilmente pode ser avaliado o empricamente. O uso de Postulado da Racionalidade sem vericacao emprica transforma a economia te rica em um ramo da l gica pura ou da matem tica, sem o o a implicacoes empricas de quaisquer esp cie. e Apesar de n o poder ser vericado empiricamente o Postulado da Racionalia dade parace razo vel em relacao as rmas. Da mesma sua aplicacao para famlias a vivendo em grandes centros urbanos capitalistas parece apropriada. O dia-a-dia de competicao faz com que estas famlias sejam mais propensas a se comportar como moaximizadoras de utilidade. Um problema mais delicado e aplicar o Postulado da Racionalidade para estudar os servicos p blicos. Como foi visto o uso deste postulado pressup e a capaci u o dade de ordenar as prefer ncias, tal ordenacao n o parece razo vel quando do trato e a a com prefer ncias sociais. A impossibilidade de usar o Postulado da Racionalidade e poderia fazer que o estudo dos servicos p blicos (e da economia do bem-estar) s u o pode ser feito a partir da observacao, e n o da deducao l gica. a o Uma forma de contornar este problema e assumir a exist ncia de uma ese cala ideal de prefer ncias sociais, ou seja, assumir a exist ncia de uma funcao e e de utilidade social. Neste caso poderamos usar a l gica no sentido de deduzir o propriedades desej veis para administracao de recursos escassos. a

1.6 Quest es para Revis o o a1. O que estuda a economia? Como o objeto de estudo da economia faz dela uma ci ncia social? e 2. Em que sentido as leis econ micas s o historicamente delimitadas? o a 8

3. Considerando a objetividade das leis econ micas quais as possveis causas o de diverg ncia entre os economistas? e 4. Dena e descreva cada uma das unidades de decis o econ micas. a o 5. Qual a denicao de capitalismo proposta por Oskar Lange? Esta denicao incorpora a separacao entre trabalho e meios de producao? Explique. 6. Enuncie o postulado da recionalidade. Por que este postulado e importante para a elaboracao de leis econ micas? o 7. A partir da an lise de Oskar Lange discuta como e possvel justicar a a utilizacao do postulado da racionalidade em economias capitalistas. Em sua resposta tenha certeza de enunciar o postulado da racionalidade, discutir a possibilidade de testar empiricamente este postulado e comentar como o postulado pode ser utilizado na an lise do comportamento de cada unidade a de decis o. a

9

Parte II Economistas Cl ssicos e a Teoria do a Valor Trabalho

10

Captulo 2 Mercantilismo e os FisiocratasEsta unidade segue a apresentacao do segundo captulo do livro Hist ria do Pen o samento Econ mico de E.K. Hunt. O objetivo desta unidade e dicutir o pensao mento dos mercatilistas. As ideias mercantilistas marcram os s culos XVII e XVIII, epoca em que os e trabalhadores ainda eram donos dos meios de producao, o capital consistia quase que completamente em dinheiro e estoques de mercadoria. O capital industrial, entendido como a propriedade dos meios de producao, ainda era insignicante. Nestas condicoes e razo vel que apareca a tese mercantilista de que o lucro a era originado na atividade de troca. Segundo esta vis o uma atividade apresentava a lucro quando o preco de venda da mercadoria e maior que o preco pago mais as as despesas de manuseio, armazenagem e venda da mercadoria. Alternativamente pode-se dizer que o lucro decorre das diferencas entre os precos de compra e de venda. Como o lucro depende de diferencas de precos, compreeder os determinantes dos precos torna-se a maneira mais adequada de se compreender os lucros. De forma que o estudo de como s o formados os precos consiste na principal preocupacao a dos mercantilistas. A teoria do valor dos mercantilistas considerava que o valor natural ou simplesmente valor era o preco natural de mercado, sendo este determinado pelas forcas de oferta e de procura. Nesta abordagem a procura tinha um papel funda mental para determinar o valor, sendo que o principal determinante da procura era o valor de uso deste bem, ou seja, a utilidade do bem. Os principios mercantilistas discutidos geraram propostas de poltica econ mica o que buscavam garantir super vites comerciais (visto que o com rcio era a fonte a e das riquezas) e proteger os pobres. Dentre as medidas de poltica econ mica dos o mercantilistas destacam-se: Busca do pleno emprego 11

Estimulo ao com rcio exterior como forma de estimular o emprego, a riqueza e e o poder da nacao Notavam que o super vte comercial produzia inacao, de forma que estaba eleceram uma relacao entre inacao e desemprego Estatuto dos Monop lios, 1624 o Incentivar e proteger invencoes Garantir monop lios que ajudem a criar super vites comerciais o a Estatuto dos Artfcies, 1563 Dene valores m ximos para os sal rios a a Lei da Pobreza, 1601 Estado e respons vel pelos pobres a

2.1 Individualismo e MercantilismoCom o desenvolvimento do capitalismo ocorreu uma reducao do diferencial de precos entre as regi es, eliminando parte das fontes de lucro na vis o mercantilista o a tradicional. Outra consequencia do desenvolvimento capitalista foi a integracao sob controle dos donos do capital dos processos de producao e de comercializacao. Finalmente, parte da producao de car ter quase familiar comandada por mestres a de ofcio assume a forma capitalista a medida que estes mestres passam a ser propriet rios do capital, ou seja, os mestres de ofcio tornam-se capitalistas. a Os efeitos destas mudancas sobre o pensamento econ mico se manifestaram o de duas forma distintas. Surge a id ia de que precos e lucros s o determinados no e a processo de producao e, o advento do individualismo, permite o questionamento do id ia de que o estado seria respons vel pelos pobres. e a Do ponto de vista da etica o protestantismo possibilitou a justicativa das proposicoes individualistas. Estas encontram respaldo nas id ias reformistas que e os homens s` o justos pela f e n o pelas obras e que acumular riquezas na terra a e a seria a melhor maneira de agradar a Deus. As novas id ias associadas ao individualismo modicam as regras de polticas e econ micas, dentro dos espirito de que individuos agindo em busca de seus pr prios o o interesses levariam a sociedade a melhor situacao possvel, as linhas da poltica econ mica passam a ser dadas por: o Condenacao aos monop lios o 12

Garantia da livre concorr ncia como a melhor forma de garantir maiores e ganhos para toda a sociedade Fim do estado regulador, as leis especiais para proteger determinado ramo da producao e do com rcio beneciam apenas os mercadores e capitalistas e deste ramo em prejuizo ao rentante da sociedade.

2.2 FisiocratasOs siocratas consistem em um grupo de pensadores franceses que viam a terra como a origem de todo o valor. O principal representante desta escola foi Quesnay que elaborou uma relacao entre todas as atividades prodotivas da economia. Esta relacao, conhecida como Tableau Economique foi uma esp cie de precursora das e matrizes de insumo e produto, al m disto, o Tableau Economique apresentou um e prot tipo de modelo econ mico de dois setores. Dentre as conclus es de Quesnay o o o destacam-se: O valor criado pela ind stria era igual ao valor dos insumos consumido pela u ind stria, ou seja, a producao industrial n o cria valor. u a Apenas atividades agrcloas geravam excedentes (tamb m chamodos de pre e sente da terra), estes eram repassados ao propriet rio da terra. a A sociedade era dividida em tr s classes: e classe produtiva capitalistas e trabalhadores ligados a terra classe est ril capitalistas e trabalhadores ligados a ind stria e u classe ociosa propriet rios da terra a A alocacao de insumos e produtos requer a contnua circulacao da moeda. A partir das id ias de Quesnay os siocratas elaboraram um conjunto de polticas e econ micas, entre estas destacam-se: o A sociedade e governada pela lei natural, de forma que a producao e o com rcio devem ser regulados de acordo com esta lei. e O m das corporacoes de ofcio, impostos, subsdios e quaisquer regulamentacoes que prejudicassem a ind stria e o com rcio. u e A substituicao da agricultura de pequena escala pela agricultura capitalista de grande escala. Toda a renda do governo deveria ser obtida por um unico imposto sobre as atividades agrcolas. 13

2.3 Quest es para Revis o o a1. Descreva a teoria do lucro dos mercantilistas. Como os mercantilistas acreditavam que os precos eram determinados? Que tipos de polticas advinham da teoria do lucro proposta pelos mercantilistas? 2. Como os mercantilistas se posicionavam em relacao aos monop lios? Esta o posicao foi alterada depois do advento do individualismo? De que forma? 3. Segundo os siocratas quais as classes de uma economia. Quais os argumentos apresentados para esta classicacao?

14

Captulo 3 Adam SmithEsta unidade segue a apresentacao do terceiro captulo do livro Hist ria do Pen o samento Econ mico de E.K. Hunt. O objetivo desta unidade e dicutir o pensao mento de Adam Smith. Considerado como o pai da economia, Adam Smith nasceu na Esc cia em 1723, vindo a falecer o no ano de 1790. Cursou as universidades de Glasgow e Oxford, sendo posteriormente professor na Universidade de Glasgow. Em viagens pela Franca conheceu Quesnay e o pensamento dos siocratas. Adam Smith foi o primeiro pensador a dar um tratamento acad mico para economia, ou seja, prove idenciou um conjunto de postulados a respeito de economia que apresentavam coerencia entre si e Figura 3.1: Adam Smith estavam de acordo com o m todo cientco da e epoca. Dentre suas obras duas destacam-se: The Theory of Moral Sentiments, 1759 An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of the Nations, 1776 sendo esta ultima a obra que fundou a economia.

3.1 Contexto hist rico o Adam Smith escreveu sua obra no nico da Revolucao Ind strial, epoca em que u a ind stria textil comecava a se desenvolver na Inglaterra, abrindo espaco para o u desenvolvimento da ind stria siderurgica e, em ultima inst ncia, a industrializacao u a do ocidente. Neste perodo a reducao dos custos de producao como forma de 15

aumentar lucros comeca a ser percebida pelos produtores. Trata-se de uma nova concepcao bastante diferente da id ia mercantilista de que os lucros derivam das e diferencas entre precos de compra e de venda. A necessida de reduzir custos estimulava o desenvolvimento t cnico e cientco, e v rias invencoes relacionadas a ind stria, particularmente a textil, apareceram a u nesta epoca. Dentre as invencoes deste perodo o motor a vapor, de 1769, se destaca. Este permitiu a instalacao de ind strias longe das correntes de agua, per` u mitindo que as rmas se instalassem perto dos mercados consumidores, o que levou a criacao das cidades ind striais inglesas. u Al m das invecoes t cnicas mudancas na organizacao do trabalho possibile e itaram o grande aumento de produtividade observado no perodo. Uma destas novidades, que impressionou bastante a Adam Smith, foi a manufatura. Esta consistita em um centro de producao em que um capitalista possua o pr dio, e os equipamentos de producao e as mat rias primas, a m o-de-obra consistia em e a oper rios assalariados contratados por este capitalista. A manufatura permitia a a divis o do trabalho em linha de montagem, o que causava um grande aumento da a produtividade.

3.2 Teoria hist rica e sociol gica o oA teoria de Adam Smith est relacionada as id ias individualistas que cresciam a e na Europa. Desta forma Adam Smith acreditava que os indivduos agiam bus cando o melhor para si ou para o grupo a que pertenciam, ou seja, a sociedade era caracterizada pelo conito. Entretanto tais conitos eram ajustados pela m o a invisvel, esta seria a forma da natureza ou da providencia divina gerar harmonia na sociedade. Isto fazia com que a teoria de Adam Smith apresentasse aspectos de conito e harmonia simultaneamente1 . De particular relev ncia e a proposicao a decorria da m o invsvel que, por sua vez, era consequ ncia de uma lei natural. a e Um outro aspecto importante das teorias hist rica e sociol gicas de Adam o o ` ` Smith e que d o enfase a producao e a distribuicao. Em particular, a quest o da a a producao e da distribuicao encontrava-se relacionada a forma de propriedade. A maneira que as sociedades evoluiam apresentava quatro est gios, quais sejam: a caca caracterizava os grupos primitivos pastoreio apresentava a possibilidade de acumular riquezas, necessitava de instituicoes agricultura propriedade da terraAs escolas de pensamento dos s culos XIX e XX ir o se dividir entre os que acreditam na e a harmonia social e os que acreditam no conito social.1

16

com rcio cidades, liberdade do produtor e riqueza individual e Note que a necessidade de instituicoes est relacionada a forma de producao, a em particular a exist ncia de propriedade. Isto coloca a teoria de Adam Smith e ao lado das que acreditam que a economia determina o aparato institucional, e n o o contr rio. Entretanto e importante lembrar que Adam Smith relativisa a a a importancia da economia ao considerar que fatores culturais e geogr cos tamb m a e poderiam determinar a forma das intituicoes sociais e do governo em uma dada sociedade. Associada a esta abordagem paras as instituicoes est a id ia de que a e o governo surge como uma forma de proteger a propriedade dos ricos, ou ainda, que o governo existe para proteger os ricos dos pobres. Quando uma sociedade atinge a fase comercial aparece a possibilidade de qualquer indivduo acumular riquezas pessoais, esta possibilidade acaba agindo com um grande motivador para que o indivduo busque trabalhar mais e ser mais produtivo. Esta id ia sugere que o aumento da produtividade agrcola associado e ao cercamento das terras inglesas teria sido impulsionado pela ascens o da soa ciedade comercial. De acordo com a id ia de que o estimulo a acumular riqueza e e que motiva as pessoas a produzirem encontra-se a seguinte passagem: Uma pessoa que n o pudesse adquirir propriedade alguma n o podea a ria ter outro interesse que n o o de comer o mais que pudesse e traa balhar o mnimo possvel. Um ultimo aspecto relevante da teoria social de Adam Smith diz respeito a quest o do conito de classes e da distribuicao funcional da renda. Uma das a contribuicoes de Adam Smith para o pensamento econ mico foi relacionar as ren o das aos fatores de producao, desta forma Adam Smith identica tr6es fatores de producao e a cada um associa um renda, s o eles: a terra alugu is e trabalho sal rios a capital lucros Apesar de existirem tr s fatores e tr s rendas apenas o trabalho seria capaz de e e produzir valor, desta forma ca a quest o de como dividir o valor da producao a ` 2 entre sal rios e lucros . a Na teoria de Adam Smith esta divis o era determinada por meio do conito a entre capitalistas e trabalhadores. Entretanto n o tratava-se de uma luta entre a iguais, pelo menos tr s aspectos davam vantagens aos capitalistas, s o eles: a e a capacidade de esperar mais tempo sem producao, o controle da opini o p blica e a u o apoio do governo.Muitas vezes a renda da terra ser desconsiderada em nossa an lise, isto decorre do fato de a a que em economias industrial capital e trabalho s o os principais fatores de producao. a 2

17

3.3 Teoria do ValorA teoria do valor de Adam Smith parte do pincipio que em todas as sociedades o processo de producao pode ser reduzido a uma s rie de esforcos humanos. Neste e sentido pode ser dito que Adam Smith prop e uma teoria onde o valor deriva o do trabalho humano. Os meios de producao utilizados para produzir alguma mer cadoria s o resultantes de trabalhos anteriores, de forma que, ao contribuirem para a producao, estariam apenas transferindo o valor de um trabalho que j tinha sido a realizado. Seguindo esta interpretacao e possvel dizer que ao produzir um tear o trabalho est contribuindo para producao de roupas. a Entretanto a quantidade de trabalho n o determina sozinha o valor de troca a de uma mercadoria. Este e determinado pela quantidade de trabalho contida na o relativa da m o-de-obra direta3 e indireta4 usada na mercadoria mais a alocaca a producao. Em sociedades primitivas, onde a producao n o utiliza trabalho indi a reto (capital), apenas a quantidade de trabalho determina o valor de troca de uma mercadoria. Em sociedades mais complexas, o valor de troca dever ser suciente para rea munerar o trabalho (sal rios), o capital (lucros) e a terra (alugu is). Como o lucro a e n o e proporcional a quantidade de trabalho incorporada na mercadoria5 , o valor a de troca da mercadoria tamb m n o e proporcional a esta quantidade. No caso e a particular em que o valor do capital por trabalhador fosse igual em todas as linhas de producao o valor de troca seria proporcional a quantidade de trabalho incorpo rada na mercadoria, mas Adam Smith descarta esta possibilidade considerando a evid ncia emprica. e A teoria do valor discutida at aqui buscava explicar o que Adam Smith chamou e de preco natural, qual seja, o suciente para pagar os sal rios, os alugu is e os a e lucros socialmente aceitos. O verdadeiro preco de uma mercadoria era denomi nado como preco de mercado, sendo que sua determinacao era dada pelas forcas de oferta e de demanda. Desta forma, Adam Smith acreditava que existia um preco de equilbrio de terminado pelos custos em torno do qual utuava o preco de mercado. O ajuste era feito de forma que quando o preco de mercado estava acima do natural, os lucros seriam maiores que os naturalmente aceitos, isto faria com que novos capitais fossem utilizados para produzir o bem em quest o. A vinda de novos capitais a aumentaria a producao, aumentando a oferta e causando uma queda no preco. Levado por esta l gica de ajustamento do mercado, Adam Smith conclui que o as forcas de procura determinavam a alocacao do capital entre os diversos setores. Entretanto, o preco de equilbrio era determinado pelo custo de producao. Trabalho usado diretamente na producao da mercadoria. Trabalho incorporado aos meios de producao usados para produzir a mercadoria. 5 E importante lembrar que o lucro n o e igual ao valor do trabalho de inspecao e direcao. a 4 3

18

3.4 Crticas a Teoria do Valor de Adam Smith A teoria do valor descrita acima apresenta uma primeira vers o da que veio a a ser conhecida como teoria do valor trabalho. O aperfeicoamento desta teoria foi trabalho de David Ricardo e Karl Marx, dois economistas que ser o estudados a mais a frente, estes apontaram algumas inconsist ncias na teoria do valor de Adam e Smith que ser o discutidas nesta secao. a

3.4.1 Circularidade da Teoria do ValorComo foi visto, para Adam Smith, o preco natural de todas as coisas era de terminado pelos sal rios, alugu is e lucros. Entretanto alugu is, sal rios e lua e e a cros tamb m s o precos que precisam ser determinados, e claro que n o se pode e a a determina-los a partir deles mesmo, logo devem ser determinados por outros precos. Desta maneira a teoria de Adam Smith cria uma sequencia de precos que s o determinados por outros precos, o que estabelece a circularidade da teoria. a Uma quest o que deve ser explicada e que a teoria de conito usada para detera minar sal rios e lucros n o resolve a quest o acima. Considere um situacao onde a a a capital e trabalho produzem 20 macas, a teoria do conito busca explicar quan tas macas pertecem ao capitalista e quantas pertecem aos trabalhadores. Suponha que a divis o seja de 15 macas para os trabalhadores e 5 para os capitalistas, o a problema da circularidade diz respeito a como devemos dar valor as 15 macas. Se determinarmos a partir do preco da maca, que suponha seja R$ 2,00, diriamos que o lucro foi de R$ 10,00 e os sal rios foram R$ 30,00. Por m ca a quest o a e a de como foi determinado o preco da maca, segundo a teoria de Adam Smith este preco foi determinado pelos sal rios e lucros, mas como foi visto o preco destes a ultimos foi determinados pelo preco da maca. Este efeito, precos explicados por precos, consiste a circularidade da teoria do valor de Adam Smith. Uma solucao para o problema da circularidade seria encontrar uma medida ex terna de valor, ou seja, uma medida de valor que n o dependa de precos. Alguns a autores como David Ricardo e Karl Marx adotaram o trabalho como medida externa de valor, por outro lado os marginalistas adotaram a utilidade como medida externa de valor. Ambos podem ser considerados herdeiros de Adam Smith.

3.4.2 A Teoria de Adam Smith Explica Apenas o Nvel Geral de Precos Segundo Adam Smith um aumento no preco dos cereais levaria a um aumento nos sal rios (pois aumentaria o custo de subsist ncia dos trabalhadores), este aua e mento poderia ser visto como uma queda no valor da prata. Esta interpretacao,

19

se analisada com cuidado equivale a armar que um aumento nos cereais (ou em qualquer insumo amplamente utilizado) levaria a uma aumento em todos os precos na mesma proporcao. Os crticos de Adam Smith, particularmente David Ricardo, discordavam desta abordagem para os precos. De sada pode-se argumentar que o preco da prata de veria subir tamb m pois os trabalhadores da minas tamb m teriam um auamento e e em seus sal rios, entretanto isto n o e tudo. Na realidade, o que se espera e que a a o aumento no insumo leve aaumentos diferenciados nos precos, alguns produtos que utilizam muito do insumo em sua producao devem sofrer um grande aumento de precos, mas os produtos que n o dependem tanto do insumo devem sofrer um a menor aumento de precos. A consequencia disto e que, considerando a teoria de Adam Smith, o impacto de um aumento no preco de umm insumo amplamente utilizado depende da mercadoria escolhida como numer rio. a Este problema est associado a busca de uma teoria que explique n o apenas a a os precos relativos mas, tamb m, o valor total do produto. A solucao para este e problema, que afetou todos os economistas cl ssicos, s ser possvel se existir a o a uma medida invariante de valor.

3.5 Teoria do Bem-EstarNa concepcao de Adam Smith o bem-estar de uma sociedade dependia da quanti dade do produto do trabalho em um ano e do n mero de pessoas que deveriam u consumi-lo. Outro fator importante era a capacidade dos produtos atenderem as necessidades e desejos do compradores. Seguindo a linha dos pensadores individualistas, Adam Smith acreditava que o m ximo de bem-estar ocorre quando o governo permite a liberdade dos agentes a econ micos, ou seja quando adotava-se a estrat gia de deixar fazer ou laisseso e faire. A consquencia deste principio e que Adam Smith defende polticas que garantam a livre concorr ncia. e Para se entender a proposicao de que o livre mercado garantiria o maior nvel de bem-estar possvel e preciso conhecer o que Adam Smith considerava ser as causas do crescimento, s o elas: a Acumulacao de capital e trabalho; Aumento da produtividade, obtido por meio da divis o do trabalho. a A maneira de conseguir aumentar a acumulacao de capital era por meio dos lucros, uma vez que esta era parcela da renda que cabia aos capitalistas que, por sua vez, eram os respons veis pela acumulacao de capital. Tamb m admitia-se que a busca a e

20

por atingir objetivos egoistas faria com que o capitalista continuasse acumulando capital e procurasse sempre os investimentos mais produtivos. Desta forma, a livre concorr ncia faria com que o capital fosse inicialmente e utilizado na atividade mais produtiva de todas, a agricultura, depois na segunda mais produtiva, a ind stria, posteriormente no com rcio interno, que seria menos u e produtivo que a agricultura e a ind stria, e, nalmente, no com rcio externo, que u e Adam Smith considerava ser a atividade menos produtiva de todas. Esta ordem seria seguida conquanto o governo n o intervisse na economia. a A import ncia que Adam Smith dava ao lucro como fonte de acumulacao de a capital fez com que ele apresentasse uma nova denicao para trabalho produ tivo6 , no novo conceito um trabalho era produtivo quando gera lucro ou quando e incorporado a alguma mercadoria palp vel. Segundo esta denicao os servicos a prestados as famlias ou ao governo n o consistem em trabalho produtivo. a Apesar de sua posicao crtica em relacao ao governo, Adam Smith reconhece que a presenca deste e de fundamental import ncia em algumas areas, quais sejam: a Proteger a sociedade dos inimigos externos; Garantir que, na medida do possvel, a justica se extenda a todos; Providenciar obras e instituicoes p blicas, sendo estas as obras que, apesar u de import ntes, n o geram lucros. a a

3.6 Quest es para Revis o o a1. Na teoria de Adam Smith, quais s o os est gios da evolucao de uma soa a ciedade? Descreva cada um deles. 2. Por que Adam Smith acreditava ser importante a possibilidade de acumular riquezas? 3. Dena preco natural e preco de mercado. Como cada um deles e determi nado? 4. Explique o argumento usado por Adam Smith para justicar o abandono da teoria do valor trabalho nas sociedades modernas. Sob quais circunst ncias a esta teoria poderia ser utilizada em sociedades modernas? Por que Adam Smith n o considera tais circunst ncias como hip teses razo veis? a a o a 5. No que consiste a circularidade da teoria do valor de Adam Smith?6

Lembre que para os siocratas apenas o trabalho na terra era produtivo.

21

Captulo 4 Thomas MalthusNesta unidade continuaremos a estudar o livro Hist ria do Pensamento Econ mico o o de E.K. Hunt. O objetivo e avaliar a obra de Thomas Malthus. Um dos grandes pensadores de sua epoca, Thomas Malthus nasceu em 1766 e faleceu em 1834. Sua teoria da populacao inspirou uma s rie de es e tudos em v rias areas da ci ncia, com destaque a e para a teoria da evolucao de Charles Darwin. Na economia teve inuencia n o apenas com sua teoa ria de populacao, mas tamb m por ter sido o pri e meiro a apontar para a possibilidade de superproducao. Thomas Malthus estudou em Cambridge e foi Pro Figura 4.1: Thomas Malthus fessor de Economia Poltica no East Indian College, cargo que assumiu em 1805 e que manteve at sua morte. Suas principais obras s o: e a An Essay on the Principle of Population (1798), onde formulou sua teoria da populacao; Principles of Political Economy (1820), onde pontou a possibilidade de superproducao. no restante da unidade ser o discutidas as principais id ias relacionadas as obras a e acima.

4.1 Teoria da Populacao Em principio e importante saber que, para Malthus, a exist ncia de classes fazia e parte da Lei Natural, de forma que sua teoria, em momento algum, considera a 22

possibilidade de eliminacao das classes sociais. De fato sua teoria da populacao ressalta este aspecto de sua teoria, nalmente cabe lembrar que Malthus se apre sentava como um defensor da classe propriet ria de terras e e nesta condicao que a sua obra deve ser avaliada. Observando a sociedade, Malthus, considerou que as pessoas tinham um impulso natural para o sexo e, consequentemente, para reproducao. Deste modo era de se esperar que o crescimento da populacao ocoresse a taxas geom tricas, por e outro lado a fertilidade da terra diminui a cada novo lote cultivado, isto fazia com que, na melhor das hip tese, os meios de subsist ncia crescessem a uma taxa o e aritm tica. E claro que desta forma algu m sempre ir ter passar necessidades, e e a este e o principal resultado da teoria da populacao de Malthus. A partir desta conclus o Charles Darwin elaborou sua teoria da selecao natural a e da sobreviv ncia das esp cies mais adaptadas ao meio ambiente. Outro exemplo e e da inu ncia de Malthus e a teoria da renda da terra de David Ricardo, que ser e a estudada na pr xima unidade. o

4.2 Teoria da Superproducao Apesar dos impactos causados pela teoria da populacao de Malthus, esta n o re a certo que a populacao da Europa cresceu um bocado sistiu a prova do tempo. E desde a epoca de Malthus, por m novas tecnologias agrcolas permitiram que a e oferta de alimentos acompanhasse o crescimento da populacao. Uma outra teoria de Malthus, entretanto, e objeto de discuss o entre os economistas at os dias de a e hoje. Trata-se da possibilidade de existir superproducao, ou seja, um excesso de oferta agregada. Em tempos modernos Keynes, que ser estudado mais a frente, a ressuscitou esta possibilidade na forma do prncipio da demanda efetiva. Malthus comeca sua teoria da superproducao argumentando que as forcas de oferta e procura n o s o capazes de fazer com que o preco de mercado se iguale a a ao preco natural, questionando a capacidade da m o-invisvel de Adam Smith de a equilibrar os mercados. Depois Malthus, que usa a teoria do valor de Adam Smith, considera que s haver demanda para todo o valor do produto se todas as classes o a estiverem dispostas a gastar suas rendas ou em consumo ou em investimento. Caso alguma classe resolva entesourar parte de sua renda na forma de moeda, o total demandado n o seria igual ao valor da producao. Neste caso ocorreira um excesso a de oferta agregada, ou uma superproducao, em termos modernos diz-se que ocorre uma falta de demanda efetiva. Sendo o gasto de toda a renda a maneira de evitar a superproducao, Malthus passa a avaliar como cada classe gasta sua renda. Inicialmente ele considera que os trabalhadores gastam toda sua renda em subsist ncia, de forma que estes n o e a seriam candidatos a entesourar parte da renda como moeda. Depois s o analisados a 23

os propriet rios de terra, estes possuem uma renda xa e permanente, de forma a que n o precisam se preocupar em poupar. Isto faz com que a renda da terra seja a usada para consumo, compra de servicos improdutivos e gastos nobres, como, por exemplo, as artes. Finalmente Malthus estuda o gasto dos capitalistas, estes usam grande parte de sua renda para acumular mais capital, por formacao os capitalistas n` o s o perdul rios, procuram consumir o mnimo possvel como forma de poder a a a investir o m ximo possvel. Caso existam possibilidades de investimento toda a a renda dos capitalistas seria gasta em consumo e investimento, de forma que n o a existira excesso de oferta, por m Malthus argumenta que nem sempre o capitalista e consegue investir. A crescente acumulacao de capital faz com que grandes parcelas da renda virem lucros. Entretanto os capitalistas n o conseguem investir de forma cresa cente, pois a m o-de-obra n o acompanha o crescimento do capital, e acabam a a guardando parte de sua renda como moeda a espera de novas possibilidades de investimento. Este poderia ser considerado o principio da demanda efetiva de Malthus. Esta falta de oportunidade de investimento, e a consequente crise de superproducao, ocorre com ou sem progresso tecnol gico. Caso a tecnologia n o avance faltaria o a trabalhadores para operar as m quinas, caso a tecnologia mude ocorreria uma a reducao no total de sal rios e uma queda na demanda. a Como visto, Malthus considera que os lucros excessivos s o a causa das crises a de superproducao, desta forma sua recomendacao e pela adocao de polticas que reduzam os lucros. A reducao dos lucros deveria ser revertida em renda da terra, pois os propriet rios usariam parte desta renda com trabalhadores improdutivos. a Estes consomem suas rendas mas n o geram nenhum produto, desta forma ao a contratar servicos improdutivos os propriet rios estariam escoando parte da renda a do sistema produtivo, isto faria com que n o ocorresse excesso de oferta. a

4.3 Quest es para Revis o o a1. Como Malthus justica a possibilidade de superproducao?

24

Captulo 5 David RicardoDando sequencia ao estudo do livro Hist ria do Pensamento Econ mico nesta o o secao estudaremos a obre de David Ricardo, que consiste no tema do quinto captulo do referido livro. David Ricardo nasceu em 1772 e faleceu em 1823. Durante sua vida obteve sucesso na bolsa de valores, onde ampliou a fortuna herdada do pai. Ricardo apresentou um rigoroso modelo com uma estrutura abstrata-dedutiva em sua an lise da a economia, desta forma Ricardo foi um precursor dos modernos m todos dedutivos utilizados e em economia. Sua principal obra foi o livro The Principles of Political Economy and Taxation de 1817. A seguir ser o apresentadas as principais a Figura 5.1: David Ricardo id ias de Ricardo. Algumas destas id ias formam, e e at os dias de hoje, a base do pensamento econ mico, este e o caso do princpio e o dos rendimentos decrescentes e da teoria das vantagens comparativas.

5.1 Teoria da Renda e do Lucro Na vis o de Ricardo o principal problema da economia poltica e determinar as a leis que regem a distribuicao da renda entre sal rios, lucros e alugu is. Como a e a maioria dos economistas cl ssicos Ricardo acreditava que os sal rios eram dea a terminados de forma a garantir a subsist ncia dos trabalhadores, desta forma o e problema maior seria explicar como s o determinados os lucros e a renda da terra. a E nesta perspectiva que Ricardo elabora sua teoria da renda da terra. Para Ricardo a renda da terra era denida como a parte do produto da terra que e paga ao seu propriet rio pelo uso dos poderes originais e indestrutveis a 25

do solo. A partir desta denicao Ricardo argumenta que a renda da terra seria decorrente do excesso de fertilidade que a terra tem em relacao as outras, ou seja, quanto mais f rtil a terra maior ser a renda da terra. e a Para construir seu argumento Ricardo precisou de duas hip teses, s o elas: o a i. A terra e diferente em sua fertilidade e todas as terras podem ser ordenadas a partir da mais f rtil para a menos f rtil. e e ii. A concorr ncia iguala a taxa de lucro dos fazendeiros capitalistas que are rendam a terra dos propriet rios. a Al m destas hip teses e necess rio denir o que Ricardo chamou de produto e o a lquido, este seria dado pela quantidade total produzida menos todos os custos de producao necess rios, inclusive a substituicao do capital utilizado na producao e a os sal rios dos oper rios, de outra forma o produto lquido pode ser visto como a a a soma dos lucros e da renda da terra. Tendo em mente as hip teses e a denicao acima considere uma economia que o possua tr s lotes de terra que diferem em sua fertilidade. Com a mesma quantidade e de capital e trabalho o primeiro gera um produto lquido igual a 100 unidades do produto, o segundo lote gera um produto lquido igual a 90 unidades do produto e o terceiro, e menos produtivo, lote gera um produto lquido igual a 80 unidades do produto. Quando o segundo lote comeca a ser cultivado o propriet rio do primeiro lote a comeca a receber uma renda de 10 unidades do produto. Se a renda for menor do que esta o lucro do primeiro lote seria maior que 90, de forma que arrendat rio a do segundo lote, que pode lucrar no m ximo 90, ofereceria uma quantidade maior a que a paga pelo atual arrendat rio por m menor que 10 para utilizar o primeiro a e lote. Da mesma forma, se a renda for maior que 10, que equivale a um lucro menor que 90, o arrendat rio do primeiro lote iria preferir trabalhar no segundo a lote. Desta maneira a concorr ncia faz com que a renda do primeiro lote seja e 10. Um raciocinio semelhante mostra que quando o terceiro lote comecar a ser cultivado a renda do primeiro lote ir para 20 unidades do produto e a do segundo a lote ser de 10 unidades do produto. A Figura 5.2 ilustra este argumento. a

5.2 Produtividade Decrescente na AgriculturaO princpio da produtividade decrescente que Ricardo aplicou para a agricultura consistia na id ia de cada novo lote de terra cultivado deveria ser menos f rtil que e e o anterior. Note que isto equivale a armar que quanto maior o n mero de lotes u cultivados, menor ser a produtividade da terra. A Figura 5.3 ilustra este princpio. a

26

10 10 80

10 80 80

Produto Lquido = 100

Produto Lquido = 90

Produto Lquido = 80

Lote 1

Lote 2

Lote 3

Figura 5.2: Renda da Terra em Ricardo

Produto 6 Lquido por Lote

N mero de Lotes u

Figura 5.3: Produtividade Decrescente na Agricultura

Se considerarmos tamanhos cada vez menores para os lotes, o gr co da a Figura 5.3 poder ser descrito por uma linha contnua que ligue o meio de cada a uma das barras, esta linha representar o produto lquido por lote. Assumindo a que os sal rios sejam os unicos custos do capitalista, ou seja n o existem custos a a intemedi rios, torna-se possvel representar o produto adicional total para cada a unidade sucessiva de terra por meio de uma reta que seria igual ao produto lquido mais o sal rio. A Figura 5.4 representa esta reta. a Quando a quantidade de terra cultivada e igual a x, o produto total corresponde a area a esquerda de x e abaixo da reta. A parte do produto que corresponde a renda da terra e dada pela area do triangulo, enquanto a area do retangulo representa o total de lucros e sal rios. A medida que a quantidade cultivada de terra a aumenta dois fatores colaboram para o aumento da renda da terra. O primeiro diz 27

Produto 6 adicional total para cada unidade Renda sucessiva de da Terra terra Sal rios a + Lucros x Quantidade de terra

Figura 5.4: Produto, Sal rios, Lucros e Renda da Terra a

respeito ao fato que existem mais terras cultivadas, o segundo que a renda de cada lote aumenta. O argumento acima explica como a renda da terra era determinada. Para a determinacao dos sal rios, Ricardo seguia a proposta de Malthus que o cresci a mento da populacao faria com que os sal rios baixassem at o nvel de sub a e sist ncia. Como o lucro deve ser igual em todos os lotes cultivados, este ser e a dado pelo que sobra do produto da terra menos produtiva descontado os sal rios, a ou seja, lucro = produto da terra menos produtiva - sal rios. a Al m do lucro propriamente dito, Ricardo dene a taxa de lucro como a raz o e a entre produto lquido da terra menos produtivo (que e igual ao lucro) e o total de sal rios, ou seja: a taxa de lucro = produto lquido da terra menos produtiva sal rios a

Como o sal rio era xado ao nvel de subsist ncia e a produtividade da terra era a e decrescente, a taxa de lucro devia cair com o passar do tempo. Este resultado e conhecido como tend ncia declinante da taxa de lucro em Ricardo. e

5.3 Acumulacao de Capital e Prosperidade Na teoria de Ricardo a acumulacao de capital era o motor do crescimento em uma economia capitalista, desta forma quanto maior o lucro maior a acumulacao e mais pr spera seria a sociedade. Ao contr rio de Malthus, Ricardo n o considerava que o a a lucros excessivos poderiam causar uma crise de superproducao. De fato Ricardo acreditava que os rendimentos decrescentes na agricultura e a queda na taxa de lucro seriam os respons veis pela estagnacao. a 28

Segundo este argumento os perodos de acumulacao e prosperidade fariam com que ocorresse um aumento na demanda por trabalho, este acabaria por elevar os sal rios reais. Com os sal rios acima do nvel de subsist ncia a populacao a a e cresceria mais rapido, de forma a tornar necess rio o cultivo de novas terras. A a medida que terras menos f rteis s o cultivadas a taxa de lucro tende a cair de forma e a a reduzir o total de lucros e o ritmo de acumulacao at chegar a um ponto onde e os sal rios retornam ao nvel de subsist ncia e acaba a acumulacao de capital. A a e Figura 5.5 ilustra este processo.

Produto 6 adicional total para cada unidade sucessiva de terra w w

x1

x2

x3

Quantidade de terra

Figura 5.5: Acumulacao e Estagnacao Na Figura 5.5 quando x1 unidades de terra s o cultivadas existe um lucro a 1 positivo , ocorre um processo de acumulacao e a demanda por trabalho faz com que o sal rio real seja w , que encontra-se acima do sal rio de subsist ncia. A a a e medida que a populacao cresce novas terras ser o cultivadas de forma que o lucro a cai, quando o total de terras cultivadas e igual a x 2 n o e mais possvel pagar a um sal rio igual a w , de forma que ocorre uma reducao do sal rio real. Quando a a o total de terra cultivada se iguala a x3 n o e mais possvel obter lucros e o sal rio a a encontra-se ao nvel de subsist ncia, dado por w. A partir deste ponto n o existir o e a a mais lucros e a economia entra em estagnacao. A transfer ncia de renda dos capitalistas para os propriet rios ocorria por meio e a do aumento do custo do trabalho provocado pelo aumento do custo dos cereais. O mecanismo de Ricardo partia do principio que a concorr ncia iguala a taxa de e lucro das diferentes atividades. Quando a queda de produtividade no setor agrcola 1

Como exerccio procure determinar a area correspondente a este lucro.

29

forca a uma queda na taxa de lucros neste setor e prov vel que capitais saiam do a setor agrcola para a industria, de forma que deve ocorrer uma queda nos precos da ind stria. Desta forma a presenca de rendimentos decrescentes na agricultura u implicava em um barateamento dos bens industriais em relacao aos agrcolas e uma queda da taxa de lucro em toda a economia. De acordo com esta teoria a melhor maneira de evitar a estagnacao era garantir a oferta de mais cereais sem ter que usar terras com menor fertilidade. A maneira natural de alcancar este objetivo seria com a importacao de cereais.

5.4 Teoria do ValorSegundo Ricardo a quantidade de trabalho socialmente necess ria para produzir a uma mercadoria e quem determina seu valor, entretanto para que uma mercadoria tenha valor e preciso que tenha utilidade. Em outras palavras Ricardo acredita que a utilidade faz com que a mercadoria tenha valor, por m n o estabelece este valor. e a Assim o fato de uma laranja gerar satisfacao para quem a consome fez com que a laranja tenha valor, mas a quantidade de trabalho contida em uma laranja e que determina por quantas macas a laranja ser trocada. a Na construcao de seu argumento sobre a teoria do valor, Ricardo considera que existem duas fontes de valor. A primeira e o grau de escassez da mercadoria e a segunda e a quantidade de trabalho necess ria para obter a mercadoria. Por m a e a escassez s determina o valor das mercadorias que n o podem ser reproduzidas o a livremente, tais como obras de arte, vinhos e tapecarias. Para as outras mercado rias, que segundo Ricardo s o as que interessam, o valor e determinado pela quana tidade de trabalho, de acordo com Ricardo: ... Todo aumento na quantidade de trabalho ter que aumentar o valor da mercadoria em que ele for empregado, e a toda diminuicao ter de baixar este valor.. a Ao assumir a teoria do valor Ricardo tem que explicar o problema que fez Adam Smith abandonar esta teoria, qual seja: como determinar precos a partir da quantidade de trabalho em uma economia que remunera o capital empregado na producao. Para Adam Smith este problema faz com que apenas em sociedades muito primitivas exista uma proporcionalidade entre a quantidade de trabalho e os precos, Ricardo arma que este principio pode ser usado em qualquer economia. Para entender o argumento de Ricardo e importante reconstruir o argumento que levou Adam Smith a abandonar a teoria do valor trabalho. Suponha uma economia onde duas rmas empregam 100 trabalhadores. A rma 1 usa uma tecnologia intensiva em m o-de-obra e a rma 2 usa uma teca nologia intensiva em m quinas. O preco do bem produzido pela rma 1 deve ser a suciente para pagar todos os oper rios desta rma bem como remunerar o capital a

30

adiantado para possibilitar a producao, ou seja: p1 = sal rios + lucros sobre o fundo de sal rios. a a O preco do produto da rma 2, al m destes custos, deve remunerar parte dos e sal rios dos trabalhadores que zeram as m quinas e garantir o lucro sobre o a a dinheiro investido nas m quinas, ou seja: a p2 = sal rios + lucros sobre o fundo de sal rios + a a + parte dos sal rios dos oper rios que produziram as m quinas + a a a + lucro sobre o dinheiro investido nas m quinas a De forma que o preco da mercadoria produzida pela rma 1 (p1 ) e menor que o preco da mercadoria produzida pela rma 2 (p2 ), a guisa de exemplo assuma que p2 = 2p1 . Suponha agora que ocorre um aumento dos sal rios nesta economia. De a acordo com a teoria do valor trabalho os precos relativos deveriam permanecer inalterados uma vez que n o mudou a quantidade de trabalho incorporada nas a mercadorias. Entretanto n o e isso que ocorre neste exemplo, como a rma 1 e a mais intensiva em trabalho p1 deve subir mais do que p2 , de forma que a raz o a entre os precos vai mudar, embora o preco da mercadoria produzida pela rma 2 continue sendo maior que o cobrado pela rma 1, ou seja, e possvel que depois do aumento os precos sejam tais que p1 = 1,8p2 . Foi este o problema que fez com que Adam Smith chegasse a conclus o de que a teoria do valor trabalho n o se a a aplica a economias modernas. Ocorre que abandonar a teoria do valor trabalho poderia ter uma custo muito alto para Ricardo, sua teoria da renda da terra e da prosperidade dependiam de que o aumento da quantidade de trabalho necess ria para cultivar terras menos a ferteis causasse um aumento no preco dos cereais e, portanto, nos sal rios. Abrir a m o da teoria do valor trabalho poderia comprometer este argumento, ent o Ria a cardo busca sobre quais condicoes que ocorre esta diferenca entre os precos rel ativos e os precos induzidos pelas quantidades de trabalho necess ria para obter a a mercadoria. Em outras palavras, Ricardo queria saber sobre quais condicoes um aumento no sal rio causava um aumento nos precos relativos muito embora a a quantidade de trabalho incorporada em cada mercadoia permanecessem as mesmas. Com este prop sito Ricardo identica tr s situacoes onde ocorre o fen meno o e o acima: i. Quando a divis o entre capital xo (m quinas, equipamentos, construcoes a a e etc) e capital circulante (sal rios, mat rias primas e etc) n o for constante a e a entre as rmas. 31

ii. Quando as m quinas apresentam diferentes durabilidades, pois quanto mais a dur vel for a m quina maior ser o valor do capital investido em maquinaria a a a e, portanto, maior ser o lucro. a iii. Quando os prazos para o retornos do capital s o diferentes entre as v rias a a empresas. Em resumo, o preco n o e proporcional ao trabalho quando a raz o entre trabalho a a passado e trabalho presente e diferente entre os setores. Analisando com cuidado cada uma das situacoes acima, que representam o mesmo problema, Ricardo conclui que: Mudancas nos sal rios alteram os precos relativos. a Aumento do sal rio n o aumenta o preco de todas as mercadorias, pois a a este aumento pode implicar em queda nos lucros e na reducao de preco das mercadorias produzidas por rmas intensivas em capital. Quanto maior for a taxa de lucro maior ser o desvio das raz es de preco em a o relacao as raz es de trabalho, se a taxa de lucro for zero a raz o de precos o a ser igual a raz o de trabalho. a a

5.5 Vantagens Comparativas e Com rcio Internae cional Uma outra importante contribuicao de Ricardo foi na area de com rcio interna e cional, sua teoria das vantagens comparativas at hoje e uma das pedras fundae mentais da teoria de com rcio entre as nacoes. O objetivo de Ricardo era avaliar e sobre quais condicoes valia a pena para um pas realizar trocas com outros. Al m e disso, Ricardo busca saber se e possvel que dois pases envolvidos em com rico e possam ganhar com a mesma troca. Para simplicar a an lise assuma que existem dois pases, A e B, que podem a produzir dois bens, x1 e x2 . Existem duas possibilidades, a primeira e que cada pas produz um bem de forma mais eciente que o outro. Por exemplo, o pas A produz 9 unidades de x1 em um dia de trabalho, enquanto no pas B o mesmo dia de trabalho s produz 7 unidades de x1 ; por outro lado em um dia de trabalho o o pas B produz 21 unidades de x2 e o pas A produz apenas 18 unidades. Neste caso existe o que Ricardo chamou de vantagens absolutas, ou seja o pas e mais eciente na producao de um determinado bem. Quando isto ocorre parece claro que o com rcio traz ganhos a ambos os pases. e O pas B pode trabalhar dois dias produzindo x2 , com isto teria 42 unidades deste 32

bem, por meio do com rcio poderia trocar 21 unidades de x2 por 42 unidades e de x1 no pas A (por que?) e terminar com 21 unidades de x2 e 42 unidades de x1 , enquanto que sem com rcio dois dias trabalho produziriam 21 unidades de e x2 e 7 unidades de x1 , o com rcio trouxe para o pas B um ganho equivalente a e 35 unidades de x1 . O mesmo raciocinio pode ser aplicado para concluir que o com rcio tamb m trar ganhos ao pas A. e e a

5.6 Quest es para Revis o o a1. Como Ricardo explica a renda da terra? 2. Por que Ricardo acredita que a taxa de lucro tende a cair com o passar do tempo? 3. Considere o modelo de Ricardo para uma economia agrcola. Suponha que o produto adicional total para cada unidade sucessiva de terra seja dado por q = 40 2t onde q representa o referido produto e t a quantidade de lotes cultivados. Assuma que o sal rio seja igual a 5 unidades do produto e que a 10 lotes s o cultivados. Responda: a i. Quantas unidades de produto s o produzidas? a ii. Quanto e a renda da terra? iii. Qual o lucro dos capitalistas? iv. Qual e quantidade m xima de lotes que ser o utilizados at que o lucro a a e se iguale a zero? Represente gacamente sua resposta. Dica: Voc n o precisa resolver intee a grais para responder esta quest o, nasta calcular areas de triangulos. a 4. Explique como os rendimentos decrescentes na agricultura impedem o crescimento econ mico. o

33

Captulo 6 Karl MarxAssim como as unidades anteriores esta secao segue o livro Hist ria do Pensa o mento Econ mico de E.K. Hunt. A unidade concentra-se nos aspectos econ micos o o da obra de Karl Marx. Karl Marx foi um pensador que desenvolveu uma ampla critica ao modo capitalista de producao, em sua an lise Karl Marx apresentou um cona junto de id ias que buscavam revolucionar, entre e outros, o entendimento sobre economia poltica, losoa e hist ria. Estas notas de aula est o cono a centradas nas contribuicoes relativas a economia poltica e, na medida do possvel, tentar-se- n o a a desviar a discuss o para outros aspectos da an lise a a de marxista. Muito da an lise de Marx sobre econoa Figura 6.1: Karl Marx mia poltica concentra-se em dois livros, quais se jam: O Capital, 1868 Para Crtica a Economia Poltica (conhecido como Grundrisse), 1857 1858. Diferentemente de Adam Smith ou Thomas Malthus, Karl Marx n o teve uma a carreira acad mica de destaque, tamb m n o foi um bem sucedido homem de e e a neg cios. Marx foi um ativista dedicado a causa dos trabalhadores, e com esta o perspectiva que sua obra deve ser analisada.

34

6.1 Crtica a Economia Cl ssica a A maior crtica de Marx aos economistas cl ssicos e que estes n o analisam a a a economia a partir de uma perspectiva hist rica. Desta forma estes economistas o n o viam a producao como uma atividade social que pode assumir muitas fora mas dependendo da organizacao social e das t cnicas de producao. Isto fazia com e que os economistas cl ssicos fossem incapazes de diferenciar as caractersticas a comuns a todos os modos de producao das caractersticas especcas do capital ismo. Esta incapacidade levava a duas grandes falhas na an lise dos economistas a cl ssicos, quais sejam: a A crenca que o capital e um elemento universal comum a todos os processos de producao. A crenca que a atividade econ mica pode ser reduzida a uma s rie de trocas. o e A primeira falha fazia estava na confus o entre capital e intrumentos de producao. a Enquanto o segundo e uma necessidade t cnica presente em todos os modos de e producao, o primeiro e fruto de uma relacao social. No capitalismo a posse do meio de producao garante renda e poder, esta particularidade faz com que o in strumento de producao se torne capital. Desta forma e possvel concluir que o capital e uma caracterstica especca do modo capitalista de producao. Outra consequencia desta interpretacao proposta por Marx e que a propriedade capital ista est delimitada historicamente e n o de forma universal como sup e a an lise a a o a dos economistas cl ssicos. a A segunda falha diz respeito a possibilidade de reduzir a atividade econ mica o a uma s rie de trocas. A consequencia desta hip tese e que as relacoes econ micas e o o ocorrem entre iguais, trata-se de um propriet rio trocando suas mercadorias com a outro, n o importa quem. Mesmo no caso de mercado de trabalho a an lise por a a meio de trocas sugere que a famlia, propriet ria da forca de trabalho, realiza a uma troca com a rma que deseja utilizar esta forca de trabalho, ou seja, trata-se de uma relacao entre iguais. De acordo com Marx esta abordagem usada pelos economistas burgueses1 e que justicava a conclus o de que o mercado leva a a harmonia social.

6.2 Teoria do Valor Partindo do princpio de que o capitalismo e delimitado historicamente e social mente, Marx busca explicar a natureza da relacao social entre capitalistas e tra1

Forma como Marx costumava se referir aos economistas que n o seguiam suas teorias. a

35

balhadores (lucros e sal rios). Para isto Marx busca determinar o que determina o a valor de uma mercadoria. Em geral as mercadorias satisafazem a necessidades humanas, o que lhes garante um valor de uso. Por m as mercadorias tamb m podem ser utilizadas e e para realizar trocas, neste sentido e possvel armar que as mercadorias s o de a posit rias de um valor de troca. Suponha que uma laranja possa ser trocada por a duas bananas e que a banana custe R$ 1,00. O valor de uso da laranja est asa sociada a satisfacao causada pelo consumo da laranja, o valor de troca da laranja equivale a duas bananas ou a R$ 2,00. Na an lise de Marx o valor de troca de uma a mercadoria costuma ser expresso pelo preco monet rio da mercadoria. a Feita a distincao entre valor de uso e valor de troca o pr ximo passo consiste o em determinar o valor da mercadoria2 . Para isto e preciso encontrar algo comum a todas as mercadorias e que n o seja um preco3 . Dois elementos atendem a estas a caractersticas: i. Todas as mercadorias atendem as necessidades humanas, ou seja, possuem valor de uso. ii. Todas as mercadorias s o produzidas pelo trabalho humano. a Uma destas duas caractersticas deve ser utilizada para determinar o valor das mercadorias4 . Apesar de ser uma caracterstica comum a todas as mercadorias, o valor de uso expressa diferencas qualitativas entre as mercadorias, de forma que diferentes valores de uso n o podem ser comparados. Se os valores de uso n o podem ser a a comparados n o h como utiliza-los para determinar as diferencas quantitativas a a expressas nos valores de troca. A conclus o imediata deste argumento e que o traa balho e o unico elemento comum e compar vel presente em todas as mercadorias, a de forma que e o trabalho quem determina o valor de troca de uma mercadoria. A conclus o acima pode ser questionada a partir das diferencas entre os v rios a a tipos de trabalho, como seria feita a comparacao entre o trabalho de um analista de sistemas e um jardineiro? Para tratar deste problema Marx apresenta mais duas denicoes. Por trabalho util Marx entende o trabalho que apresenta carac tersticas especcas de processos especcos de trabalho necess rias para gerar a os valores de uso particulares das diferentes mercadorias. Desta forma falar do trabalho de um engenheiro ou de um tecel o corresponde a falar de trabalho util, aAs express es valor e valor de troca muitas vezes aparecem como sin nimos na an lise de o o a Marx. 3 J foi visto que determinar valor a partir de precos leva ao problema da circularidade da teoria a do valor. 4 A escola marginalista explora a alternativa que o valor e determinado pela utilidade proporcionada pela mercadoria.2

36

o adjetivo caracteriza atributos especcos de um trabalho capaz de criar pontes ou tecidos. Entretanto Marx acreditava que todos os trabalhos possuem um elemento co mum, como se fosse possvel decompor o trabalho util em pariculas cada vez menores at chegar a um ponto onde n o seja possvel diferenciar caractersticas e a especcas no trabalho. Neste ponto todos os tipos de trabalho correspondem a unidades de esforco humano. E claro que trabalhos diferentes devem conter di ferentes quantias destas unidades de esforco humano, o importante e que todo trabalho e composto destas unidades. A estes atomos do trabalho, ou unidades utltimas de trabalho, Marx chamou de trabalho abstrato. E o trabalho abstrato que determina o valor de troca. Um exemplo cl ssico para apresentar a teoria do valor de troca e o de uma a sociedade de cacadores onde para cacar um coelho e preciso um dia de trabalho e para cacar um alce s o necess rios dois dias de trabalho. E de se esperar que a a as pessoas desta sociedade troquem dois coelhos por um alce. Suponha por m e que um grupo de cacadores especializados consiga cacar um alce em um dia de trabalho, de acordo com o explicado acima e de se esperar que o trabalho de caca especializado (um trabalho util) contenha duas unidades de trabalho abstrato, en quanto o trabalho comum de cacar coelho (tamb m um trabalho util) cont m ape e e nas uma unidade de trabalho abstrato. Desta forma mesmo que as duas atividades sejam realizadas em um dia, a troca dever ser de dois para um. a

6.3 MercadoriasAssim como o capital, Marx acredita que as mercadorias s existem em determio nados modos de producao, ou seja, a mecadoria possu uma natureza social. Isto ocorre porque os produtos do trabalho humano s se transformam em mercadorias o quando s o produzidos com o unico objetivo de serem trocados por dinheiro no a mercado e n o para uso ou gozo imediato pelos produtores ou por outras pessoas a diretamente associadas a eles. Logo para que existam mercadorias e preciso que se observem certas condicoes hist ricas, s o elas: o a Alto grau de especializacao na sociedade. Separacao entre valor de uso e valor de troca. Mercado bem desenvolvido com uso generalizado de moeda. Todas estas condicoes implicam que mercadorial s podem existir nos tipos de o sociedades que Adam Smith chamaria de sociedades comerciais. 37

Considerar mercadorias como coisas materiais implica em ignorar o car ter a social da mercadoria. Desta forma o mercado analisado pelos economistas tradicionais aparenta envolver uma troca de coisas materiais (mercadorias) de forma a camuar as relacoes sociais diretas entre indivduos que ocorrem no trabalho. Esta vis o de mercado limitada ao ato de troca e a esfera da circulacao fazia com a que os economistas tradicionais fossem levados a ver o mercado como um criador de harmonia.

6.4 Circulacao de Mercadorias e Mais-Valia A simples circulacao de moeda e mercadorias n o garante as condicoes hist ricas a o perfeitamente possvel que uma sociedade altapara a exist ncia do capital. E e mente especializada apresente trocas por meio de moeda mas n o reconheca o a capital. Neste caso ocorre o que Marx chamou de circulacao simples de mercado rias, ou seja, a troca de mercadorias de mesmo valor. Esta troca consistiria em um indivduo trocando sua mercadoria por uma quantidade equivalente de moeda e posteriormente trocando esta moeda por outra mercadoria de igual valor. Este processo toma a forma: Mercadoria Moeda Mercadoria tamb m chamada Me-Mo-Me. e O que caracteriza a circulacao capitalista e que, al m da circulacao Me-Mo e Me, existe um tipo de circulacao que se inicia e termina com moeda. Trata-se do tipo de circulacao onde o capitalista adianta uma determinada quantidade de moeda para produzir uma mercadoria que ser trocada por uma quantidade maior a de moeda. Este tipo de circulacao tem a forma: Moeda Mercadoria Moeda entretanto a quantidade de moeda no nal do processo e maior que a existente no inicio do processo, por isto costuma-se chamar este tipo de circulacao de Mo-Me Mo. Como a troca visa lucro vale que Mo > Mo. A diferenca entre Mo e Mo foi chamada por Marx de mais-valia. A busca pela mais-valia e a forca motriz do capitalismo, desta forma entender o capital ismo implica em entender a mais-valia. Como a mais-valia e realizada no processo de circulacao e natural que a busca pela explicacao da mais-valia se inicie na circulacao. Entretanto com um pocuo de an lise e possvel perceber que a circulacao n o pode criar mais-valia. Se o a a preco cobrado for igual ao custo de producao (Mo = Mo) n o existe mais-valia, a se o preco for diferente do custo de producao (Mo = Mo.) ent o o ganho de um a 38

capitalista ser compensado pela perda de outro. A explicacao para mais-valia e, a portanto, para o capitalismo deve ser procurada na producao. Desta forma Marx considerava que o capital industrial era a forma de capital mais representativa do modo de producao capitalista, pois constitua no mecan ismo que permitia a criacao e a exploracao da mais-valia no capitalismo. A circulacao deste capital ocorre em tr s est gios: e a i. O capitalista transforma o dinheiro em mercadoria. ii. Ocorre a producao, com a criacao de valor e de mais-valia. iii. O capitalista transforma mercadoria em dinheiro. este tipo de circulacao pode ser representado pela forma: Moeda Mercadoria P Mercadoria Moeda ou de forma resumida como Mo-Me P Me-Mo. Para que seja possvel extrair valor do consumo de uma mercadoria e preciso que o valor de uso desta mercadoria seja a criacao de valor, ou seja, e preciso encontrar uma mercadoria que sirva para criar valor. Esta mercadoria e o trabalho humano.

6.5 Quest es para Revis o o a1. Qual o signicado de capital para Marx? Como Marx justica a diferenca entre capital e meios de producao? 2. Usando o conceito de capital proposto por Marx justique a id ia de que os e cl ssicos erraram ao n o dar o devido destaque a contextualizacao hist rica a a o do capitalismo. 3. Como Marx diferencia a circulacao simples da circulacao capitalista? 4. Dena mais-valia. Como ela e realizada? 5. Por que Marx arma que o capitalismo deve ser entendido na esfera da producao e n o na circulacao. a 6. Qual a diferenca entre trabalho util e trabalho abstrato? 7. No que consiste a composicao organica do capital? 8. Como Marx justica a tendencia declinante da taxa de lucros?

39

Parte III Utilitaristas e Marginalistas

40

Captulo 7 Jeremy BenthamEsta unidade seguir o material apresentado no livro Hist ria do Pensamento a o Econ mico bem como no livro Introduction to the Principles of Moral and Lego islation do pr prio Bentham. o Jeremy Bentham nasceu na Londres de 1748 em uma famlia de bem sucedidos advogados. Crianca prodigio, foi para o Queens College em Oxford no ano de 1760 graduando-se em 1764. Ap s a o graduacao estudou direito no Lincolns Inn, emb ora qualicado para atuar como advogado nunca o fez, preferindo escrever sobre quest es relatio vas a reformas no sistema de leis da Inglaterra. Apesar de ter dedicado grande parte de sua vida a a Figura 7.1: Jeremy Bentham escrever sobre leis e losoa moral, n o mostrava grandes preocupacoes em publicar seus trabalhos. Sua principal obra foi Introduction to the Principles of Moral and Legislation de 1789. Vivia de renda enviada pela famlia e, ap s a morte do pai, obteve indepen o dencia nanceira. Morreu em 1832, deixando parte de suas posses para nanciar o University College de Londres, uma escola criada para receber pessoas excluidas da educacao universit ria (e.g. Cat licos e Judeus). Seguindo suas instrucoes seu a o corpo foi dissecado, embalsamado e vestido de forma, que at hoje pode ser visto e em um gabinete na University College.

7.1 Quest es para Revis o o a 1. Como Benthan explica o paradoxo da agua e do diamante? 2. Como os utilitaristas justicam a remuneracao do capital?

41

3. Qual o argumento de Benthan para justicar polticas de distribuicao de renda? 4. Apresente uma denicao para utilidade.

42

Captulo 8 Stanley JevonsEsta parte das notas de aula toma como refer ncia o livro texto do curso bem e como o artigo A General Mathematical Theory of Political Economy do pr prio o 1 Jevons. Este artigo pode ser encontrado na internet e encontra-se na copiadora do departamento de economia. Tamb m ser o utilizadas passagens do livro A Teoria e a da Economia Poltica, de autoria de Jevons. Willian Stanley Jevons nasceu em 1835 na cidade inglesa de Liverpool. Aos 16 anos entrou para o University College em Londres com o objetivo de estudar quimica e bot nica, devido a dia culdades nanceiras largou os estudos em 1954 para assumir um emprego em Sydney na Australia. Em sua temporada na Australia Jevons desenvolveu interesse por metereologia, geologia e economia poltica. Em 1859 retornou a Inglaterra para completar seus estudos, obtendo o ttulo de Figura 8.1: Stanley Jevons mestre em 1863. Foi neste perodo, precisamente em 1860, que Jevons acreditou ter descoberto a verdadeira teoria econ mica, o como mostra a seguinte passagem de uma carta enviada a seu irm o: ... what a I have no doubt is the true theory of economy, so thorough-going and consistent, that I cannot read other books on the subject without indignation.. Ao sair da University College foi para o Owens Colloge, futura Univeridade de Manchester, ocupando posicoes tamb m no Quenns College em Liverpool, at que em 1876 e e voltou para o College University. Faleceu vitima de afogamento em 1882. Entre seus principais trabalhos se destacam: A Teoria da Economia Poltica, 1871 Principles of Science, 18741

http://www.marxists.org/reference/subject/economics/jevons/mathem.htm

43

8.1 Utilidade e Utilidade MarginalPara Jevons o objetivo da economia era estudar o comportamento das pessoas em sua busca pelo prazer e fuga da dor. Esta percepcao ca clara na seguinte passagem escrita pelo autor: A true theory of economy can only be attained by going back to the great springs of the human action the feelings of pleasure and pain. A large part of such feelings arise periodically from the ordinary wants and desires of body or mind, and from the painful exertion we are continually prompted to undergo that we may satisfy our wants. E importante notar que esta abordagem n o equivale a armar que a dor e o prazer a determinam todas as acoes das pessoas. O pr prio Jevons reconhece que, al m o e destes motivos, o comportamento das pessoas pode ser explicado por motivos de consci ncia, compaix o, morais ou religiosos; entretanto estes o comportamento e a derivado destes motivos n o era objeto de estudo da economia. Um outro ponto a importante na teoria de Jevons e que prazer e dores que acontecer o no futuro a afetam o comportamento presente das pessoas, por m com menor intensidade do e que se estivessem ocorrendo no presente. A percepcao que eventos futuros afetam a utilidade no presente faz com que Jevons apresente em conceito de utilidade bastante semelhante ao que e utilizado atualmente em modelos de economia din mica, qual seja: a An object is usefull when it either affects the senses pleasurably in the present moment, or when, by foresight, it is expected that it will do so at some future time. Thus we must carefully distinguish actual utility in present use from estimated future utility, which yet, by allowing for the imperfect force of anticipation, and for the uncertainty of future events, gives a certain present utility. Desta forma Jevons associa utilidade a prazeres obtidos ou que podem vir a ser obtidos. Por m a maior contribuicao de Jevons para a teoria da utilidade esta relae cionada ao conceito hoje conhecido como utilidade marginal. A id ia parte da e constatacao de que ao receber mais e mais de um objeto a satisfacao adicional pro porcionada por ele diminui. Considere um pessoa que vai ao rodizio de pizza. Ao chegar constuma estar faminto, de forma que nem pergunta o sabor da primeira fatia oferecida, entretanto, ap s consumir uma certa quantidade de pizza, a peso soa prefere n o comer mais nada, mesmo n o tendo que pagar para consumir a a novos pedacos de pizza. Observando este comportamento pode-se concluir que a satisfacao (utilidade) obtida com cada fatia de pizza e diferente da obtida com as 44

outras fatias. Desta forma e preciso diferenciar a utilidade da utilidade associada ao consumo de uma determinada unidade de um bem ou servico. A este ganho de utilidade dado pela unidade especica que est sendo consumida, Jevons chamou a de grau de utilidade e atualmente e conhecido como utilidade marginal. Al m de denir utilidade marginal, Jevons percebeu que o grau de utilidade de e uma mercadoria diminui a medida que consumimos mais e mais desta mercadoria, cada pedaco de pizza tem um grau de utilidade inferior ao do pedaco anterior. Esta relacao inversa entre grau de utilidade e quantidade consumida, conhecida atual mente como lei da utilidade marginal decrescente, foi considerada por Jevons a mais importante lei da economia. Nas palavras do autor: The coefcient of utility2 is, then, some generally dimishing function of the whole quantity of the object consumed. Here is the most important law of the whole theory. De fato toda a teoria de trocas proposta por Jevons, que e utilizada at hoje, dee pende do comportamento decrescente da utilidade marginal. Ao denir grau de utilidade como a utilidade associada ao consumo de mais uma unidade de um bem ou servico, Jevons possibilitou a formalizacao deste con ceito. Se o total de utilidade obtido com o consumo de uma mercadoria pode ser expresso como uma funcao da quantidade consumida desta mercadoria, ou seja, a utilidade e representada por uma funcao u : Q U , onde Q n representa o conjunto com as quantidades consumidas e U representa o conjunto dos totais de utilidade, ent o o grau de utilidade pode ser obtido como a derivada da a q funcao de utilidade, ou seja, o grau de utilidade e u . Esta conclus o pode ser justicada de v rias maneiras, uma consiste em partir a a da denicao de grau de utilidade. Se u(q0 ) e o total de utilidade obtida com o consumo de q0 unidades do produto, o grau de utilidade da pr xima unidade ser o a dado por u(q0 +1)u(q0 ). Se ao inv s de considerar uma variacao de uma unidade e for considerada uma variacao qualquer q, ent o o grau de utilidade seria dado a por: u(q0 + q) u(q0 ) GU = q onde GU representa o grau de utilidade. Tomando variacoes cada vez menores de q, ou seja, fazendo q 0 o grau de utilidade ser dado por: a GU = lim u u(q0 + q) u(q0 ) = q0 q q

Desta forma ca demonstrado que, quando considera-se variacoes innitesimais na quantidade consumida, o grau de utilidade e dado pela derivada da funcao de utilidade.2

Seguindo outros autores traduzi coefcient of utility como grau de utilidade.

45

Uma outra maneira parte de uma representacao geom trica do grau de utili e dade. Como foi visto o grau de utilidade est relacionado de forma inversa com a a quantidade consumida, de forma que poderia ser representado por um gr co do a tipo descrito na Figura 8.2.Grau de 6 Utilidade

Utilidade GU (q) q q

Figura 8.2: Grau de Utilidade e Utilidade Na Figura 8.2 quando o consumo e igual a q o grau de utilidade e dado pela funcao GU (q), a utilidade ser dada pela soma do grau de utilidade de todas as a unidades consumidas at q , ou seja, u = e i GU (qi )(qi+1 qi ), equivalente a armar que a utilidade e dada pela area abaixo do grau de utilidade entre 0 e q . Como se sabe esta area e representada pela integral de GU no intervalo [0, q ], de o de utilidade pode ser expressa como: maneira que a funca q

u(q) =0

GU (q) dq

pelo Teorema Fundamental do C lculo sabemos que se a utilidade e a integral do a grau de utilidade, ent o o grau de utilidade ser dado pela derivada da utilidade. a a Na an lise que segue Jevons argumenta que o grau de utilidade da ultima a unidade consumida e particularmente revelante. Desta forma ele usou a express o a garu nal de utilidade para expressar o grau de utilidade da ultima unidade consumida.

8.2 Teoria das TrocasAntes de apresentar os determinantes das trocas, Jevons dedicou parte de seu trabalho a esclarecer uma s rie de confus es existentes a respeito da teoria do e o

46

valor. Inicialmente argumenta que a palavra valor costuma ser usada para designar coisas que s o essencialmente diferentes, por m todas elas importantes para a a e teoria econ mica. Na sua interpretacao valor corresponde a valor de troca e n o o a consiste em uma propriedade pertencente a nenhuma mercadoria especca. En quanto esta confus o n o fosse esclarecida seria impossvel falar de forma clara a a sobre economia, ou nas palavras de Jevons: Um estudante de Economia n o poder jamais ter esperanca de alcana a car id ias claras e corretas em sua ci ncia se conceber o valor de al e e gum modo como uma coisa ou um objeto, ou mesmo como algo que esteja numa coisa numa coisa ou objeto. As pessoas s o assim levaa das a falar de uma coisa n o existente como valor intrnseco. H , sem a a d vida, qualidades inderentes em subst ncias como o ouro e o ferro u a que inuenciam seu valor; por m a palavra valor, na medida em que e e corretamente usada, expressa s mente a circunst ncia de sua troca o a em certa proporcao por alguma subst ncia. a Caso uma maca seja trocada por uma laranja n o podemos armar que a maca a ou a laranja sejam valor, muito menos isto permite inferir que exista valor na maca oun a laranja. A nocao de valor s e valida nas circunst ncias em que ocorre a o a troca. E errado armar que o valor de uma maca e uma laranja, o correto seria dizer que valor da laranja e igual ao valor da maca, ou, melhor, quos valores da laranja e da maca est o na proporcao de um para um. Assim o valor de troca a expressa apenas uma relacao e, segundo Jevons, n o deveria ser utilizado em nen a hum outro sentido. Uma denido o que seria valor de troca, ou em que circust ncias esta exa press o deve ser utilizada, Jevons prop e que os diversos signicados da palavra a o sejam designados por novas palavras. Assim os tr s signicados de valor seriam e chamados de: Termo Normalmente Usado Termo Cientifco Valor de uso Utilidade total Apreco ou desejo premente por mais Grau nal de utilidade Poder de compra Relacao de troca Usando esta nova terminologia Jevons argumenta que o poder de compra de uma mercadoria est associado ao seu grau nal de utilidade: a Ora, nesse sentido, o valor parece ser id ntico ao grau nal de utile idade de um bem, como foi denido anteriormente; e e medido pela intensidade do prazer ou proveito que seria obtido por um novo aumento do mesmo bem. N o h duvida de que existe uma ligacao a a estreita entre valor nesse sentido e o valor enquanto relacao de troca. 47

A passagem acima, al m de deixar clara a associacao entre Jevons e os utilitaristas, e mostra a import ncia de substituir a palavra valor por outras mais especcas; o a que Jevons faz no restante de seu livro. A teoria de trocas de Jevons considera indivduos que trocam mercadorias buscando maximizar suas utilidades totais, mais uma vez ca clara a relacao en tre Jevons e os utilitaristas. N o se busca uma teoria do valor, esta teoria n o a a faz sentido na perspectiva de Jevons, ao contr rio procura-se saber, para uma dada a relacao de troca, como os indivduos decidem o quanto v o consumir de cada mer a cadoria. Neste ponto, Jevons apresenta o que considera ser a proposicao central para a teoria das trocas: ` A relacao de troca de dois bens quaisquer ser correspondente a a relacao dos graus nais de utilidade das quantidades dos bens disponveis para consumo depois que a troca se completa. Em termos modernos a armacao de Jevons equivale a dizer que um indivduo maximizador de utilidade ir realizar trocas at que a raz o entre a utilidade a e a marginal dos dois bens seja igual a raz o dos precos, ou seja: a U M gx px = U M gy py onde U M gx representa a utilidade marginal do bem x, U M gy representa a utilidade marginal do bem y, px representa o preco do bem x e py representa o preco do bem y. Esta relacao ser cuidadosamente estudada no curso de economia e, a juntamente com a restricao que diz que as pessoas n o podem gastar mais do que a tem, formar as condicoes para solucao do problema do consumidor. a Entretanto Jevons n o se utilizou de t cnicas de otimizacao condicionada para a e chegar a esta equacao, para entender o argumento original e melhor usar o exem plo oferecido pelo pr prio Jevons. Suponha duas famlias tais que uma s tenha o o trigo e outra tenha apenas carne, e claro que a troca pode melhorar a situacao ` de ambas, trocar carne por trigo traria ganhos de utilidade as duas famlias. A quest o consiste em determinar at que ponto esta troca ser feita, ou seja, at que a e a e ponto a troca trar ganhos de utilidade. a Suponha que a relacao de troca e de 10 libras de trigo por uma libra de carne. Se os donos do trigo acharem que 10 libras de trigo s o menos uteis que uma libra a de carne desejar o efetuar a troca, caso os donos da carne achem que uma libra a de carne e menos util que 10 libras de trigo tamb m desejar o realizar a troca, de e a forma que a troca ser feita. Uma vez que ocorreu a troca, o grau nal de utilidade a da carne diminuir para a famlia que tem trigo, enquanto o grau nal de utilidade a do trigo diminu para a famlia que tem carne. Se mesmo assim ambos acharem a que a troca e v lida, novamente ocorrer a troca de carne por trigo, levando a uma a 48

nova alteracao nos graus nais de utilidade da carne e do trigo. Eventualmente chegar um momento em que n o haver mais ganho em realizar a troca, ou seja, a a a todos os ganhos de troca foram extraidos pelos indivduos. No exemplo este ponto ocorrer quando o grau nal de utilidade do trigo for dez vezes maior que o da a carne.

8.3 Trabalho e CapitalAssim como a maioria dos utilitaristas, Jevons considerava o trabalho com algo desagradavel (uma dor), de forma que as pessoas trabalham apenas se puderem conseguir algum prazer em troca. Desta forma o trabalho, que e desagradavel, tem de ser compensado pelo produto do trabalho, que e algo agrad vel. Nas palavras a de Jevons: A third part of the theory now treats of labor; which, although the means by which we seek pleasure, is always accompained by a certain painful exertion, rapidly increasing as some function of the intensity or the duration of labor Como a recompensa pelo trabalho realizado era o produto do trabalho e de se imaginar que as pessoas v o trabalhar at que o grau nal de utilidade do trabalho a e seja igual ao grau nal de utilidade do produto do trabalho. Em termos modernos isto equivale a proposicao de que as pessoas escolhem o quanto