Resumos Sociologia - KARL MARX

37
1 KARL MARX INTRODUÇÃO Este autor foi multifacetado pelo que se torna difícil catalogá-lo como sociólogo, filósofo, economista ou historiador. Ele foi isso e muito mais ainda: panfletarista, jornalista, político e revolucionário as suas ideias obtiveram disseminação mundial e influenciaram decisivamente o nosso século. Marx Sociólogo Um dos principais argumentos para rejeitar Marx com sociólogo é o enviesamento ideológico das suas teorias. Contudo como já vimos logo nas primeiras aulas, os sociólogos ao teorizarem sobre a sociedade em que vivem não conseguem ser neutros. Comte, Spencer e Durkheim também apontavam nas suas análises para um tipo de sociedade que consideravam ideal. A grande diferença é que Marx não pretende esconder esse facto, pelo contrário afirma-o e faz dele a principal diferença para todos os «cientistas sociais» que o precederam Outro dos argumentos é o seu apelo ao derrube violento da sociedade capitalista. Mas também este é um argumento que não colhe já que Marx foi sobretudo um humanista magoado cm o sofrimento e a exploração que o rodeavam e que foram admiravemente descritos por escritores seus contemporâneos como o francês Émile Zola ou o inglês Charles Dickens. Ao contrário do que a maioria pensa, para Marx o fim do

description

Resumos Sociologia - KARL MARX

Transcript of Resumos Sociologia - KARL MARX

Page 1: Resumos Sociologia - KARL MARX

1

KARL MARX

INTRODUÇÃO

Este autor foi multifacetado pelo que se torna difícil catalogá-lo como

sociólogo, filósofo, economista ou historiador. Ele foi isso e muito mais

ainda: panfletarista, jornalista, político e revolucionário as suas ideias

obtiveram disseminação mundial e influenciaram decisivamente o nosso

século.

Marx Sociólogo

Um dos principais argumentos para rejeitar Marx com sociólogo é o

enviesamento ideológico das suas teorias.

Contudo como já vimos logo nas primeiras aulas, os sociólogos ao

teorizarem sobre a sociedade em que vivem não conseguem ser neutros.

Comte, Spencer e Durkheim também apontavam nas suas análises para

um tipo de sociedade que consideravam ideal.

A grande diferença é que Marx não pretende esconder esse facto, pelo

contrário afirma-o e faz dele a principal diferença para todos os

«cientistas sociais» que o precederam

Outro dos argumentos é o seu apelo ao derrube violento da sociedade

capitalista. Mas também este é um argumento que não colhe já que Marx

foi sobretudo um humanista magoado cm o sofrimento e a exploração

que o rodeavam e que foram admiravemente descritos por escritores

seus contemporâneos como o francês Émile Zola ou o inglês Charles

Dickens. Ao contrário do que a maioria pensa, para Marx o fim do

Page 2: Resumos Sociologia - KARL MARX

2

capitalismo não precisava de ser necessariamente sangrento – era

possível que a transição para o socialismo fosse pacífica.

Várias interpretações de Marx

Há hoje uma multiplicidade de interpretações dos escritos de Marx: umas

relevam da interpretação dos seus trabalhos iniciais incidentes sobretudo

sobre o potencial humano, enquanto que outras atendem mais aos seus

trabalhos posteriores que dão especial atenção às estruturas da

sociedade e à economia.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

A DIALÉCTICA

Marx adopta a lógica dialéctica de Hegel mas enquanto que este a aplica

ao mundo das ideias aquele aplica-a ao mundo material. Esta

transformação do pensamento de Hegel permite-lhe passar a lógica

dialéctica do mundo da filosofia para o mundo das ciências sociais.

Está aqui uma das principais contribuições marxistas para a

Sociologia.Com efeito há dois elementos fundamentais na sua análise

dialéctica que contrastam com a maior parte dos pensadores

sociológicos, tanto os que o precederam como os que lhe sucederam:

1 O método dialéctico vai deixar de encarar o mundo social como

explicável através de uma relação de causa e efeito entre

variáveis independentes e variáveis dependentes. De facto para

Page 3: Resumos Sociologia - KARL MARX

3

um pensador dialéctico as influências sociais não ocorrem nunca

apenas num sentido. Por exemplo – a exploração capitalista dos

trabalhadores tenderá a tornar estes mais militantes. Ao mesmo

tempo esta militância tenderá a levar os capitalistas a pensar em

intensificar a exploração de novas formas. Não significa isto que o

pensador dialéctico não pense em relações causais mas apenas

que está sempre atento às relações recíprocas entre as variáveis e

à totalidade social em que estão inseridas.

2 Para a análise dialéctica os valores sociais não são separáveis dos

factos sociais. E não só não são separáveis como não é bom que o

sejam: a sociologia não deve ser desapaixonada porque isso torná-

la-á desumana ao mesmo tempo que não fornecerá às pessoas

solução para os problemas com que se confrontam. Para Marx

factos e valores estão indissociavelmente ligados e o resultado é

que o estudo dos factos sociais está assente em valores.

Desta visão marxista resultam ainda mais algumas características do

pensamento marxista:

3 Não há uma linha clara a dividir os fenómenos no mundo social: de

facto para Marx os vários componentes do mundo social vão-se

fundindo gradualmente uns nos outros – trabalhadores e

capitalistas não estão claramente separados: à medida vão tendo

sucesso há operários que se podem tornar capitalistas e vice-versa

– os capitalistas falidos pelas reviravoltas do mercado tornam-se

proletários.

4 Os marxistas têm uma visão relacional do mundo social focando a

sua atenção nas relações que se estabelecem entre os fenómenos

sociais. Como consequência os marxistas nunca analisam uma

Page 4: Resumos Sociologia - KARL MARX

4

parte da vida social ou um fenómeno ou agente social isolado do

contexto em que se insere.

5 Os marxistas interessam-se não apenas pelas relações entre os

fenómenos sociais no mundo contemporâneo mas também pelas

relações dessas realidades contemporâneas quer com os

fenómenos sociais passados e futuros.

Desta última característica decorrem por sua vez duas grandes

implicações:

a) Marx é mais um possibilista político do que um

determinista histórico. Dito de outro modo Marx considera

que o futuro pode ter a sua semente no presente; mas esta

tanto pode estiolar como desenvolver-se

b) O verdadeiro dialéctico está interessado no estudo das

relações reais e não no estudo das grandes abstracções. Ao

analisar o conflito entre capitalistas e trabalhadores, Marx

apesar de prever uma revolução e em última instância o

advento de um novo tipo de sociedade não a encara como

resultado inevitável. O proletariado teria que trabalhar e lutar

por essa nova sociedade; e mesmo isso não seria suficiente

para assegurar que lá chegariam – as sucessivas vitórias

que os trabalhadores foram obtendo na sua luta contra a

exploração capitalista mitigaram o seu fervor revolucionário e

o seu militantismo adiando a possibilidade de uma revolta

geral.

Page 5: Resumos Sociologia - KARL MARX

5

CONFLITO E CONTRADIÇÃO

A maior das contradições no seio do capitalismo reside na relação entre

a burguesia e o proletariado. Para Marx a burguesia produz o

proletariado e ao fazê-lo cava a sua própria sepultura.

Ao expandir-se o capitalismo, o número de trabalhadores explorados e o

grau de exploração aumentam. O aumento do grau de exploração leva

os trabalhadores a aumentarem a sua resistência. Esta resistência

conduz por sua vez a uma intensificação da exploração e da opressão. O

resultado desta escalada será um confronto final entre estas duas

classes que, Marx alvitra, será ganho pelo proletariado.

A SOCIEDADE COMUNISTA

Apesar do interesse que tinha para si Marx perdeu muito pouco tempo

com a descrição da sociedade comunista. Na realidade Marx foi sempre

crítico dos chamados «Socialistas utópicos», que escreveram livro atrás

de livro sobre os seus sonhos sobre uma sociedade futura, autêntico

paraíso na terra. Para Marx o mais importante era a análise crítica da

sociedade capitalista contemporânea. Acreditava que tal crítica ajudaria a

destruir o capitalismo e a criar condições para o nascimento de um novo

mundo socialista.

Havia tempo para construir o comunismo uma vez destruído o

capitalismo.

Para Marx o comunismo era basicamente uma sociedade sem classes.

Page 6: Resumos Sociologia - KARL MARX

6

O MODELO DIALÉCTICO

Os pensadores dialécticos interessam-se normalmente pelas estruturas

da sociedade e pelos agentes que actuam enquadrados por essas

estruturas, bem como pelas relações que se estabelecem entre esses

agentes e essas estruturas.

Ao considerar as circunstâncias passadas presentes e futuras e a forma

como se interrelacionam com os agentes sociais e a estruturas em que

se movem os marxistas chegam a um modelo complexo que pode ser

graficamente representado como segue

Estruturas no passado

Agentes no passado

Estruturas no presente

Agentes no presente

Estruturas no futuro

Agentes no futuro

Dos escritos de Marx resulta claramente que trabalhou com um modelo

deste tipo: as estruturas condicionam as pessoas mas estas contribuem

para alterar as estruturas. No dizer de Marx, que hoje ainda ouvimos na

boca de alguns dirigentes comunistas « as circunstâncias fazem o

homem tanto quanto o homem faz as circunstâncias».

Marx começa a dedicar grande parte da sua atenção à estruturas da

sociedade capitalista e constrói a sua análise crítica da estrutura da

sociedade capitalista baseada nas suas premissas acerca dos agentes,

da acção e da interacção.

Page 7: Resumos Sociologia - KARL MARX

7

O POTENCIAL HUMANO

A base das ideias de Marx reside nas suas ideias acerca do potencial

humano.

Acreditava que até ao seu tempo a humanidade não e tinha sequer

aproximado daquilo que poderia ser. A natureza das sociedades

anteriores à sociedade capitalista era demasiado rude para permitir ao

homem realizar o seu potencial. Os seres humanos estavam demasiado

ocupados em garantir a sua sobrevivência (arranjando alimentos ou

abrigo) para poderem desenvolver todo o seu potencial.

O capitalismo resolveu alguns destes problemas mas criou um ambiente

social demasiado opressivo para permitir o pleno desenvolvimento do

potencial humano.

Era convicção de Marx que será o comunismo que, aproveitando base

tecnológica do capitalismo, permitirá o pleno aproveitamento do potencial

humano.

FACULDADES HUMANAS E NECESSIDADES

As faculdades humanas são definidas para Marx de um ponto de vista

histórico – o que são actualmente resulta do que foram e do que poderão

ser em condições históricas alteradas.

As necessidades humanas são os desejos que as pessoas sentem por

coisas que não estão imediatamente disponíveis. Também estas

necessidades são historicamente definidas.

Nem estas faculdades nem as necessidades humanas podem ser

discutidas fora do contexto histórico-social em que as pessoas vivem.

Page 8: Resumos Sociologia - KARL MARX

8

CONSCIÊNCIA

Para Marx o ser humano é diferente do animal por possuir uma

consciência que consegue ligar às suas acções.

Esta ênfase na consciência está ligada ao relacionamento de Marx com a

filosofia Hegeliana.

Marx criticou Hegel por este discutir a consciência como se esta existisse

independentemente do homem inserido num mundo real. Para Marx,

Hegel constrói o homem a partir da auto-consciência em vez de construir

a consciência como a consciência do homem real, vivendo num mundo

objectivo e determinado por esse mundo. Assim Hegel vai construir um

mundo às avessas, assente sobre a sua cabeça.

Desta inversão resulta para Marx uma barreira intelectual à acção política

que considerava imperativa.

Para Marx, Hegel via o mundo de cabeça para baixo e, ao fazê-lo, erigia

uma barreira intelectual à acção política. Esta era, para Marx, imperativa

como forma de transformar o mundo e por isso a filosofia de Hegel era

conservadora.

Marx considerava que as principais diferenças que separavam o homem

do animal eram:

� os animais fazem. Os homens conseguem abstrair-se

daquilo que estão a fazer

� os homens conseguem escolher entre acção e inacção

precisamente pelo facto de se conseguirem abstrair

daquilo que estão a fazer

� os homens conseguem planear as suas acções

� os homens têm flexibilidade física e mental

Page 9: Resumos Sociologia - KARL MARX

9

� os homens conseguem concentrar-se no que estão a

fazer durante grandes períodos de tempo.

� A mente humana leva os homens a tornarem-se seres

gregários

� Só os homens têm consciência

Esta última característica torna-se fundamental para Marx. É que

segundo ele a consciência resulta da acção e interacção humanas. É por

isso um produto social. A consciência é para Marx uma consciência da

vida material do homem que se processa em sociedade através da

interacção dos indivíduos e destes com a natureza.

Na relação com a natureza Marx distingue:

� PERCEPÇÃO – é o contacto imediato que o homem

tem com a natureza

� ORIENTAÇÃO - organiza os padrões e impõe um

quadro de referência às várias concepções

(percepções) do mundo

� APROPRIAÇÃO – percebido o mundo e organizadas

as suas diferentes percepções está preparado para ser

apropriado

Temos então que, para Marx, a natureza das faculdades e necessidades

humanas condicionam a forma como o mundo é percebido (as diferentes

percepções do mundo); estas diferentes percepções são organizadas

umas relativamente às outras (uma são consideradas mais verdadeiras

do que outras, por exemplo). Esta organização das percepções é

socialmente determinada (serão as percepções dos mais fortes ou mais

poderosos que tenderão a serem consideradas verdadeiras) . Finalmente

a forma como a sociedade se vai apropriar da natureza vai resultar quer

Page 10: Resumos Sociologia - KARL MARX

10

da forma como o mundo é percebido quer da organização dessas

percepções. A forma de apropriação da natureza, ou seja aquilo que a

natureza é para o homem vai então resultar tanto da própria natureza,

como das faculdades e necessidades humanas quer da forma como

a interacção humana, na sua relação com a natureza, determina a

organização da percepção que os homens têm natureza.

MODO DE PRODUÇÃO

É a relação dialéctica que se estabelece entre um dado tipo relações

sociais de produção e um determinado nível de desenvolvimento das

forças produtivas.

Marx fala-mos do Modo de Produção Antigo, do Modo de Produção

Feudal, do Modo de Produção Capitalista e do Modo de Produção

Socialista/Comunista.

AS TRÊS ÉPOCAS BÁSICAS DE RELACIONAMENTO ENTRE O

POTENCIAL HUMANO E OS PROCESSO DE APROPRIAÇÃO DA

NATUREZA

A partir destas ideias Marx vai então distinguir 3 épocas básicas de

relacionamento entre o potencial humano e os processos de percepção,

orientação e apropriação da natureza:

� Sociedade primitiva

Nesta sociedade o homem usa apenas os recursos naturais

para produzir aquilo de que necessita (alimentação, abrigos,

armas)

Dado que poucas coisas são produzidas e a produção é

ineficiente o homem desenvolve pouco as suas capacidades

Page 11: Resumos Sociologia - KARL MARX

11

– passa a maior parte do seu tempo a produzir de forma

ineficaz aquilo de que necessita. As suas necessidades

permanecem a um nível básico – “nos estádios mais baixos

do desenvolvimento poucas necessidades foram já

desenvolvidas e por isso poucas necessidades têm de ser

satisfeitas”.

A capacidade humana de pensar pouco excede a do animal

nestes estádios iniciais de desenvolvimento.

� Capitalismo

É o sistema económico caracterizado por um domínio dos

meios de produção pela burguesia facto que obriga o

proletariado a vender a sua força de trabalho para

sobreviver.

É para Marx um sistema em que a capacidade humana

expressa no acto de apropriação da natureza é quase

virtualmente eliminada. A maior parte da humanidade vê-se

reduzida a querer ganhar dinheiro e a fazer seja o que for

necessário para isso. O objectivo humano deixa de ser a

expressão do potencial humano para passar a ser “possuir

algo”. Esta ideia é expressa por Marx ao dizer que “enquanto

o mundo primitivo “proporciona uma satisfação escassa” o

mundo moderno do capitalismo “nos deixa insatisfeitos”.

� Comunismo

É o sistema em que as forças estruturais que levam à

distorção da natureza humana são aniquiladas e o homem

pode finalmente exprimir todo o seu potencial. Para Marx:

Page 12: Resumos Sociologia - KARL MARX

12

� A sociedade primitiva limitava, pela sua

ineficácia económica, os desejos e

necessidades que podem ser expressos e

satisfeitos, limitando, assim, a expressão do

potencial humano.

� A sociedade capitalista vem com a sua eficácia

económica libertar o homem das suas limitações

primitivas – trata-se para Marx de uma etapa

importante do desenvolvimento humano na

medida em que desenvolve brutalmente as

forças produtivas que a sociedade comunista vai

poder utilizar para libertar o homem. Erige no

entanto e ao mesmo tempo inúmeras barreiras à

expressão de muitos desejos e necessidades,

nomeadamente através da substituição do

processo humano de apropriação da natureza

por uma sociedade em que as pessoas se

vendem para adquirirem mercadorias produzidas

por um sistema económico sem rosto.

� É a sociedade comunista que, libertando o

homem das limitações da sociedade primitiva e

acabando com as peias económicas e sociais

que agrilhoam os pés do homem na sociedade

capitalista, vai permitir a realização de todo o

potencial humano.

Page 13: Resumos Sociologia - KARL MARX

13

A ACTIVIDADE

Consiste nos meios através dos quais o homem se apropria da natureza.

Ao discutir a actividade Marx sai do reino objectivo da consciência e

passa para o reino objectivo.

Deve notar-se que em Marx, devido ao carácter dialéctico, é difícil

separar os vários aspectos da realidade social. Trabalho e consciência

são conceitos interdependentes. O trabalho é uma actividade consciente

e deliberada num processo produtivo. Surge assim como uma expressão

do potencial humano.

Marx não distinguiu claramente entre os conceitos de actividade,

criatividade e trabalho. Mas para ele cada um dos conceitos evidenciava

um aspecto das relações do homem com a natureza:

� Actividade

Refere-se a movimentos utilizados em

empreendimentos deliberados

� Trabalho

Refere-se ao processo de produção

� criatividade

refere-se à capacidade que as pessoas têm de

fazer produtos únicos

No capitalismo, o trabalho tende a estar separado da actividade e da

criatividade. Será o comunismo que permitirá que o trabalho e a

actividade venham a incorporar a criatividade humana. Ou seja, dito de

outro modo, na sociedade comunista aqueles que fazem o trabalho são

também aqueles que o planeiam realizando-se assim plenamente na sua

execução.

Page 14: Resumos Sociologia - KARL MARX

14

OBJECTIFICAÇÃO

No processo de apropriação do meio natural todo o homem se envolve

naquilo a que Marx chama a “Objectificação”, ou seja a produção de

objectos.

A relevância deste conceito para Marx deve-se a várias razões:

� reafirma a orientação materialista das suas teses

� é a verdadeira arena em que o ser humano

exprime as suas capacidades reais – o potencial

humano concretiza-se na objectificação de

produtos

Este processo de objectificação tem algumas características:

� deve envolver a consciência dos agentes

� os agentes devem poder exprimir as suas

capacidades

� os agentes devem poder exprimir o carácter

inerentemente social do processo de

objectificação

� o processo de objectificação não deve ser

apenas um meio para atingir um fim (o dinheiro

no modo de produção capitalista), deve pelo

contrário envolver as capacidades criativas dos

indivíduos;

Page 15: Resumos Sociologia - KARL MARX

15

AS CONSEQUÊNCIAS IMPREVISTAS

O homem dotado, com vimos, de todas as características que o

preparam para a liberdade acabou por gerar uma estrutura social como o

capitalismo que distorce completamente a sua natureza essencial. Só é

possível compreender isto através da noção de “consequências

imprevistas”

Em Marx é a dialéctica que opera este processo: o homem capaz de se

aperceber das consequências imediatas das suas acções falha

redondamente na previsão das consequências mediatas.

De um modo geral, podemos dizer que para Marx, o próprio capitalismo

foi uma consequência imprevista de um grande conjunto de acções: os

homens não pretendiam criar um sistema que lhes distorcesse a sua

própria natureza. Não obstante foi isso que fizeram.

Como tantas outras coisas na obra de Marx, esta ideia está ligada a um

contexto social que no caso do capitalismo tem a seguinte tradução:

O motor do capitalismo é a busca incessante do lucro máximo. Pensam

os seus agentes, os capitalistas, que esta procura incessante melhora as

condições de funcionamento do sistema, melhorando ao mesmo tempo a

vida de toda a gente. Para Marx o que acontece é exactamente o

contrário: ao erigir a busca do lucro como objectivo a perseguir os

sistema capitalista cria as condições da sua própria destruição ao criar

uma classe social que o aniquilará – o proletariado.

A ALIENAÇÃO

Nos seus primeiros escritos Marx chama ALIENAÇÃO às distorções da

natureza humana causadas pela dominação dos trabalhadores pela

vontade alheia do capitalismo.

Page 16: Resumos Sociologia - KARL MARX

16

Marx oferece-nos assim uma teoria da alienação baseada na estrutura

social. É a estrutura social do capitalismo que quebra as interacções que

caracterizam a natureza humana: o sistema de duas classes sociais em

que uma delas detém os meios de produção e por essa via obriga a outra

a vender a sua força de trabalho e a espolia do excedente criado corta as

interacções existentes entre trabalho, criatividade e actividade.

AS 4 COMPONENTES DA ALIENAÇÃO

A alienação tem para Marx 4 componentes básicas:

� Os trabalhadores encontram-se alienados da sua

actividade produtiva.

Não trabalham para si nem para satisfazer as suas

necessidades básicas. Trabalham para os fins que os

capitalistas detentores dos meios de produção lhes

determinam. Ao pagar-lhes um salário pela sua força de

trabalho os capitalistas tornam-se donos da actividade do

trabalhador.

� Os trabalhadores encontram-se alienados do próprio

objecto da actividade produtiva, ou seja do seu produto

Esta alienação tem um duplo significado:

� O produto da actividade dos trabalhadores não

lhes pertence para com ele satisfazerem as suas

necessidades básicas. Esse produto pertence

aos donos dos meios de produção – os

capitalistas.

Page 17: Resumos Sociologia - KARL MARX

17

� Com a divisão do trabalho os trabalhadores

deixam de conhecer os aspectos essenciais do

próprio processo de produção dos produtos.

Com a perda do controlo da sua actividade

passam a desempenhar tarefas muito

especializadas e perdem por isso a noção do

seu papel no processo de produção total.

Acabam assim por ficar com a noção de que é “a

fábrica” e não eles que fabrica os produtos.

Os trabalhadores encontram-se alienados dos seus

próprios colegas de profissão

Para Marx o homem é um ser gregário que trabalha em

cooperação para se apropriar da natureza no processo de

satisfação das suas necessidades. No capitalismo e ainda

como consequência do perda do domínio da actividade pelos

trabalhadores a cooperação é impedida e substituída por

uma competição sem tréguas. Os trabalhadores passam a

trabalhar ao lado uns dos outros como estranhos. A criação

de prémios de produtividade ou a simples ameaça de

despedimento aos que produzem menos quantidades,

coloca os trabalhadores uns contra os outros. O isolamento e

a hostilidade interpessoal tornam assim os trabalhadores

alienados de si próprios.

O trabalhador encontra-se alienado do seu próprio

potencial humano

Alienado da actividade, do produto e da criatividade que está

associada à sua concepção e alienado de si próprio e do seu

semelhante, o trabalhador no sistema capitalista trabalha

Page 18: Resumos Sociologia - KARL MARX

18

cada vez menos como um ser humano e cada vez mais

como um animal.

A consciência é adormecida e destruída à medida que as

relações com a natureza e com os outros homens são

diminuídas. O resultado é uma massa de pessoas incapaz

de exprimir as suas qualidades humanas essenciais, uma

MASSA DE ALIENADOS.

A EMANCIPAÇÃO

Como vimos já mais atrás Marx defendia o empenhamento político do

cientista social. Vemos agora porquê.

O capitalismo, como descrito nos parágrafos anteriores, quebra a

interconexão entre actividade, trabalho e criatividade, essencial à

natureza humana. A essa quebra chama Marx ALIENAÇÃO. A sociedade

comunista passa pelo restabelecimento dessa rede de ligações

essencial. Ao restabelecimento dessas ligações chama Marx

EMANCIPAÇÃO.

Vimos também que Marx é um possibilista político e que isso decorre da

aplicação do método dialéctico à explicação da história: significa isto que

do seu ponto de vista a emancipação, a dar-se, seria obra dos

trabalhadores.

A crítica que Marx faz à sociedade capitalista não deve por isso ser

encarada como um fim em si mesmo mas como uma tentativa de permitir

a emergência de uma sociedade que possibilite a realização plena do

potencial humano. O fim último da análise marxista da história e da

sociedade é a libertação humana daquilo que o autor considera a

escravatura da sociedade capitalista.

Page 19: Resumos Sociologia - KARL MARX

19

Este fim último levou Marx à crítica da sociedade capitalista e a um

programa político orientado no sentido de ultrapassar o capitalismo.

A transição da sociedade capitalista para a sociedade socialista far-se-ia

através da acção informada pela teoria – a Praxis. Este conceito significa

que para Marx, quem quer transformar a sociedade não se pode

contentar com filosofar acerca do capitalismo e os seus crimes e agruras,

mas antes criar uma instância intelectual que actue como catalisador da

acção necessária para o seu derrube. O capitalismo só pode ser

derrubado pela acção – o proletariado deve agir para derrubar

capitalismo.

Page 20: Resumos Sociologia - KARL MARX

20

ASPECTOS ECONÓMICOS DO CAPITALISMO

AS MERCADORIAS

Para Marx o a mercadoria constitui o problema central da sociedade

capitalista. Vejamos como ela é caracterizada por Marx:

Em contacto com a natureza o homem produz os bens de que necessita

– a objectificação é uma necessidade do homem para sobreviver. Os

objectos que o homem produz para sobreviver são sobretudo e antes de

mais valores de uso. São controlados pelos seus produtores e têm assim

uma existência independente.

Sob o capitalismo o processo de objectificação assume uma nova forma.

Em vez de produzir para si para os seus parceiros imediatos, o produtor

começa a produzir para terceiros. Isto acontece porque os produtos

passam a ter um valor de troca. Significa isto que os bens produzidos em

vez de serem consumidos podem ser trocados por outros.

Estes bens são as mercadorias e têm a propriedade de, através do

mercado se tornarem independentes do produtor, de terem de alguma

forma uma existência que lhes é exterior.

FEITICISMO E MERCADORIA

O processo de mercadorização começa com o desenvolvimento da

produção. Na base do processo de produção está o trabalho que é o que

dá valor às mercadorias.

Page 21: Resumos Sociologia - KARL MARX

21

Aquilo a que aqui chamamos feiticismo consiste na atribuição de valor às

coisas por si próprias. Explicitemos: o que dá valor aos objectos é o

trabalho que neles está incorporado, é o trabalho que é necessário à sua

produção – isto funciona assim enquanto os objectos são apenas valores

de uso e um indivíduo quer trocar um bem de que não precisa por outro

de que precisa para satisfazer as suas necessidades.

Mas quando os indivíduos começam a produzir bens para terceiros que

não conhecem – quando começam a produzir bens que são

predominantemente valores de troca então o que parece conferir valor ao

bem produzido é o mercado.

O mercado fica assim com o papel que só o trabalho e os trabalhadores

podem desempenhar – dar valor às mercadorias. Nas palavras de Marx,

“aquilo que não passa de uma relação social assume aos olhos dos

homens a forma de uma relação entre coisas”.

Eis o “feiticismo das mercadorias” que lhes atribui a elas e ao mercado

uma existência independente e objectiva que passa a coagir os agentes

sociais que nele acreditam.

A REIFICAÇÃO

É um processo semelhante ao do feiticismo mas aplicado a toda a

sociedade.

A reificação aparece como o processo de acreditar que coisas criadas

pelo homem são naturais, universais e absolutas o que leva

consequentemente as formas sociais reificadas a adquirirem

características também naturais, absolutas e universais.

Aplicado às estruturas sociais este conceito significa que as pessoas

pensam que a estruturas sociais estão para além do seu controlo e que

Page 22: Resumos Sociologia - KARL MARX

22

são imutáveis. Então as estruturas sociais adquirem de facto essas

características.

A base deste conceito de reificação encontra-se na própria discussão do

trabalho que Marx levou a cabo. Para ele, o trabalho como fenómeno

social, transforma-se numa mercadoria sob as circunstâncias particulares

do capitalismo. Isto acontece por que os detentores do trabalho aceitam

que seja normal vendê-lo como mercadoria. Admitida a possibilidade de

um fenómeno social poder ser reificado o mesmo se pode passar com

outros fenómenos sociais como, por exemplo, o estado.

O CAPITAL

O capital é a relação social entre os compradores e vendedores da força

de trabalho. O sistema capitalista é o sistema eu emerge dessa relação

social.

Como estrutura independente o capital explora os trabalhadores através

de agentes que actuam por sua conta (a burguesia) e que foram e são

responsáveis pela sua criação.

Também o capital é reificado acreditando os trabalhadores que é natural

que o capital lhes seja exterior e coercivo.

Os trabalhadores são assim explorados por um sistema que se

esquecem que foi criado por eles e que têm capacidade para modificar.

O exemplo máximo desta reificação é a forma como o trabalhador se vê

confrontado, durante o processo de trabalho, por instrumentos de

trabalho que assumem a forma de trabalho morto (imobilizado) que

dominam e exploram o trabalho vivo (os trabalhadores).

Page 23: Resumos Sociologia - KARL MARX

23

A CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS

Para Marx a circulação de mercadorias é o ponto de partida do

Capitalismo. Analisou basicamente dois tipos de circulação de

mercadorias:

� A) C1 - M - C2

Este é o segundo tipo de circulação de mercadorias

que existiu na história humana. O primeiro era do tipo

C1 – C2.

Note-se que:

�C1 representa mercadoria 1

�C2 representa mercadoria 2

�M representa quantidade de moeda

A fórmula em epígrafe representa a troca de valores

de uso no mercado. A fórmula mais simples representa

a troca directa de valores de uso (troca de mercadoria

por mercadoria). Nenhum destes tipos de circulação

de mercadorias é típico do capitalismo.

� B) M1 - C - M2

Esta é uma circulação de mercadorias típica do

capitalismo.

�M1 representa uma quantidade inicial de

moeda

�M2 a quantidade final de moeda

Page 24: Resumos Sociologia - KARL MARX

24

�C representa mercadoria que foi utilizada

para transformar a quantidade de moeda inicial

M1 na quantidade final de moeda M2

A esta fórmula chamou Marx, comprar para vender – o

indivíduo compra mercadoria para a vender por mais

dinheiro e não para satisfazer as suas necessidades.

A fórmula B é caracterizada por duas fases antitéticas mas

complementares: num determinado momento a compra de um é a venda

de outro. A circulação de mercadorias no capitalismo começa com uma

compra e acaba com uma venda – o fim do circuito não é o consumo do

valor de uso mas a simples circulação de mercadorias com vista a obter

o aumento do dinheiro inicialmente investido. Resulta deste processo que

na circulação de mercadorias típica do capitalismo decresce o significado

da mercadoria real ao mesmo tempo que a essência do capital fica

reduzida a uma circulação abstracta de dinheiro. Este carácter mais

abstracto da circulação de mercadorias torna a reificação mais fácil.

A PROPRIEDADE PRIVADA

Ela é para Marx o produto necessário do trabalho alienado. Os

trabalhadores não o percebem e em vez de a controlarem são por ela

controlados. Uma vez criada, a propriedade privada vai exacerbar a

alienação impondo-se entre o homem e o processo produtivo – é a

propriedade privada dos meios de produção que leva os trabalhadores a

terem de vender a sua força de trabalho, que os leva a perder o controlo

da sua actividade, do processo produtivo e do próprio produto.

Percebe-se então porque é que para Marx, é necessário que a

propriedade privada acabe para que o homem realize o seu pleno

potencial: a propriedade privada é a chave do processo de alienação.

Page 25: Resumos Sociologia - KARL MARX

25

A DIVISÃO DO TRABALHO

Marx vai buscar o início da divisão social do trabalho à primitiva divisão

de tarefas entre homens e mulheres. Mas para ele a divisão de trabalho

fundamental é a que toma lugar entre burguesia e proletariado, ou seja

entre detentores dos meios de produção e aqueles que são obrigados a

vender a sua força de trabalho. É esta divisão de trabalho fundamntal

que impede o homem de realizar o seu potencial.

Eis algumas críticas de Marx à divisão do trabalho capitalista:

Separa o indivíduo da comunidade como um todo

as pessoas vivem para a sua especialidade, para a sua

empresa e esquecem as necessidades da comunidade como

um todo;

O processo de trabalho é quebrado desintegrando as sua

funções

as funções intelectuais são separadas do trabalho manual;

Os indivíduos são reduzidos a meros instrumentos

trabalho vivo (salários) e trabalho morto (imobilizado) são

colocados em pé de igualdade no processo produtivo;

Cada indivíduo apenas dá uma pequena contribuição para o

produto final

Os produtores perdem o controlo da sua actividade e do seu

produto.

Numa sociedade comunista ninguém teria de se especializar. Cada um

poderia realizar-se no ramo que desejasse. Seria a sociedade a regular a

Page 26: Resumos Sociologia - KARL MARX

26

produção geral e tornar-se-ia possível hoje fazer uma coisa e amanhã

outra.

CLASSE SOCIAL

As classes sociais eram para Marx relações sociais reificadas.

Para compreendermos esta definição temos de recorrer às seguintes

definições dadas atrás

� reificação como o processo de levar a sociedade a acreditar

que as coisas feitas pelo homem são naturais

� capital como uma relação social entre os compradores e

vendedores da força de trabalho

� feiticismo como atribuição de valor às coisas por elas

próprias

Só a partir destas definições podemos compreender o que quer

dizer Marx com a sua definição de classe social.

Na realidade o feiticismo das mercadorias atribui, como vimos, ao

mercado a capacidade de dar valor aos bens, assim transformados em

mercadorias. Aceite desta forma o mercado como entidade

independente, com existência por si sem vermos que ele é uma relação

entre pessoas antes de ser uma relação entre coisas, está dado o

primeiro passo para deixarmos de perceber de onde provém a existência

do capital. Ora este é uma relação social e escondida a sua origem é

uma relação social reificada, com o carácter natural, universal e imutável

que isso implica.

Page 27: Resumos Sociologia - KARL MARX

27

Definida desta forma e tendo um papel crucial em todo o marxismo deve

no entanto registar-se que Marx não lhe dedicou uma análise detalhada

como mais tarde faria Weber, por exemplo.

A ECONOMIA SEGUNDO KARL MARX

A economia marxista é talvez a melhor exemplificação da sociologia

marxista.

O conceito de partida para Marx é o de valor de uso e valor de troca. O

homem desde sempre criou valores de uso – produtos que servem para

lhe satisfazer directamente as suas necessidades. Um valor de uso é por

isso definido qualitativamente – é uma coisa que ou é útil ou é inútil. Por

outro lado um valor de troca é qualquer coisa que é definida

quantitativamente. Mais concretamente, é definido pela quantidade de

trabalho necessária para a apropriação de qualidades úteis. Enquanto

que os valores de uso são produzidos para satisfazer necessidades, os

valores de troca são produzidos para trocas por outros valores de uso.

Para Marx enquanto que a produção de valores de uso é natural no

homem, a produção de valores de troca coloca em marcha um processo

social que vai distorcer a humanidade – todo o edifício capitalista

incluindo mercadorias, o mercado, o dinheiro etc., é construído assente

nos valores de troca.

Para Marx a fonte última de todo o valor é a quantidade de trabalho

(medido em horas) socialmente necessária para produzir um bem nas

condições médias de produção e com a capacidade técnica média

prevalecente na sociedade. Esta é a conhecida teoria do VALOR

TRABALHO.

Page 28: Resumos Sociologia - KARL MARX

28

Embora seja relativamente claro que o trabalho é a fonte última de todo

valor este facto torna-se progressivamente menos claro à medida que

nos movemos para os valores de troca, para as mercadorias, para o

mercado e para o capitalismo. O valor torna-se então:

«um segredo, escondido sob as flutuações aparentes nos

valores relativos das mercadorias»

Significa isto que para Marx, sob o capitalismo, o trabalho enquanto fonte

de todo o valor é o segredo que permite que os capitalistas explorem os

trabalhadores.

Marx coloca assim no âmago da sua teoria sociológica o tema da

exploração. Os capitalistas pagam ao trabalhadores menos do que o

valor do que eles produzem e ficam com o resto para eles. Os

trabalhadores não sabem isto, tal como os capitalistas também não na

maior parte das vezes:

Os capitalistas atribuem este excedente de que se apropriam à sua

esperteza e sentido da oportunidade, ao prémio merecido pelo risco que

correm. É o próprio Marx que o diz:

« enquanto o comércio é lucrativo capitalista está

demasiado entretido em esgravatar tudo à procura de

mais um tostão para se aperceber que recebe trabalho

gratuito»

«O capitalista não sabe que o preço normal do trabalho

inclui uma quantidade definida de trabalho não pago que é

a fonte do seu ganho. Este trabalho não pago, chamado

mais valia, não existe para ele já que é incluída no dia

normal de trabalho, que ele pensa que pagou através do

salário»

Page 29: Resumos Sociologia - KARL MARX

29

Este conceito de mais valia é definido como a diferença entre o valor do

bem quando é vendido e o valor dos elementos consumidos na produção

desse bem. Apesar de no processo produtivo se consumirem, além do

trabalho humano, matérias primas e amortizações, é do trabalho humano

que provém a mais valia.

A taxa de mais valia é assim uma medida exacta do grau de exploração

a que o trabalhador está submetido.

Marx retira daqui uma metáfora que todos os trabalhadores do mundo

(unidos ou não) já utilizaram:

«o capital é trabalho morto, que qual vampiro, vive de

sugar o trabalho vivo e vive tanto mais quanto mais suga»

Esta mais valia é utilizada pelos capitalistas para pagarem encargos

como a renda fundiária e juros aos bancos. Mas a maior parte constitui

os lucros. Os capitalistas poderiam usá-los se quisessem em consumo

sumptuário mas esse tipo de aplicação não permitiria expandir o capital.

Em vez disso o que o capitalista faz é investir essa mai valia no aumento

da sua empresa por forma a que esta gere maiores volumes de mais

valia. A este desejo insano de mais lucro e mais mais valia com o

objectivo último de expansão contínua chamou Marx A LEI GERAL DA

ACUMULAÇÃO CAPITALISTA.

O capitalista procura explorar o trabalhador o mais possível aproximando

tanto quanto puder o custo do trabalho de zero.

Para Marx a estrutura e a moral capitalista levam os capitalistas na

direcção de uma acumulação progressivamente mais intensa de capital.

E para o fazer, dado que é a mais valia a fonte de todo o valor, os

capitalistas vão intensificando a exploração dos trabalhadores, do

proletariado.

Page 30: Resumos Sociologia - KARL MARX

30

Há no entanto um problema: é que uma exploração cada vez maior leva

a ganhos cada vez mais pequenos – há um limite à exploração. Além

disso à medida que a exploração se torna insuportável os próprios

governos dos países são obrigados a intervir. Restringindo a actuação

dos trabalhadores (por exemplo fixando limites à duração do trabalho).

Como resultado destas restrições os capitalistas procuram outras

maneiras e aumentar os seus ganhos – substituindo homens por

máquinas por exemplo. Esta substituição é fácil pois a maior parte dos

trabalhadores já não eram mais do que máquinas humanas,

desempenhando tarefas extremamente simples.

A produção capitalista torna-se assim predominantemente capital-

intensiva. Este facto provoca a queda da taxa de lucro que como vimos

era alimentada pelo trabalho vivo e respectiva mais valia.

À medida que a mecanização prossegue, cada vez mais pessoas vão

para o desemprego alimentar aquilo que Marx chama o exército

industrial de reserva.

Ao mesmo tempo a competição tecnológica leva à falência os capitalistas

mais fracos, ficando assim cada vez mais reduzida em número a classe

capitalista.

No fim Marx vê um mundo constituído por “meia dúzia” de grandes

capitalistas e uma massa enorme de proletários e membros do exército

industrial de reserva. Nestas circunstâncias a revolução seria

extremamente fácil e a queda do capitalismo uma questão de tempo. A

expropriação das massas seria substituída pela expropriação de meia

dúzia e usurpadores.

Page 31: Resumos Sociologia - KARL MARX

31

Contudo os capitalistas vão sempre procurando adiar a sua queda. Uma

das maneiras é patrocinar aventuras coloniais que ao desviar uma parte

significativa da exploração para o exterior alivia pelo menos

temporariamente, os conflitos sociais.

O ponto crucial nesta visão Marxista sociedade industrial é a lei geral da

acumulação capitalista e a forma como ela impele os agentes sociais,

tanto capitalistas como proletários a cumprirem os seus papéis e selarem

o seu destino.

Marx não culpa os capitalistas individuais pelas respectivas acções –

antes as encarava como sendo determinadas em grande medida pela

lógica de funcionamento do sistema.

Esta forma de ver as coisas era compatível com a sua opinião de que no

capitalismo os agentes não são dotados de independência criativa. Seria

o desenvolvimento do processo capitalista que criaria as condições

necessárias à emergência de uma acção criativa – a revolução – que

derrubaria a distorção da humanidade iniciada pelo predomínio dos

valores de troca.

É isto que é importante e Marx – não as suas teorias económicas, mas a

base do comportamento sociológico dos agentes que nelas está

implícito.

Page 32: Resumos Sociologia - KARL MARX

32

PARA ALÉM DA ECONOMIA

ASPECTOS CULTURAIS DA SOCIEDADE CAPITALISTA

Marx concentrou a sua atenção nas estruturas de grande escala da

sociedade capitalista e no seu impacto alienante nos seres humanos.

Não tinha muito para dizer acerca do domínio cultural mas não era

insensível à importância deste aspecto da realidade social. O

materialismo de Marx afastou-o da preocupação com a cultura que foi

muitas vezes releigada como associada às preocupações idealistas dos

hegelianos de direita.

Ouçamos estas palavras de Marx

«A totalidade destas relações de produção constitui a

estrutura económica da sociedade, a fundação real onde

assentam as superestruturas legal e política e às quais

correspondem formas definidas de consciência social. O

modo de produção da vida material condiciona os

processos gerais da vida social, política e intelectual. Não é

a consciência dos homens que determina a sua existência,

mas a sua existência social que determina as suas

consciências.»

Marx pode aqui ser interpretado como falando de consciência no sentido

cultural do termo e não no sentido dos processos mentais e da

construção social da realidade.

Page 33: Resumos Sociologia - KARL MARX

33

Dada esta interpretação Marx parece aqui estar a relegar a cultura para o

estatuto de um epifenómeno determinado pelas estruturas sociais e

económicas. Isto aprece ser confirmado por estas outras linhas em que

Marx parece reduzir toda a mudança à mudança da base material em

que se apoia a superestrutura cultural:

«Então começa uma era de revolução social. As

mudanças na infraestrutura económica levam mais cedo

ou mais tarde à transformação da imensa superestrutura.

Ao estudar estas transformações é sempre necessário

distinguir entre a transformação material das condições

económicas de produção que podem ser determinadas

com a precisão de uma ciência natural e as formas

ideológicas (leis, políticas, religiosas e artísticas) através

de que os homens tomam consciência deste conflito e o

resolvem. Tal como não podemos julgar um homem a

partir daquilo que ele pensa de si próprio também não

podemos julgar uma determinada época pela sua

consciência. Pelo contrário esta consciência é que deve

ser explicada pelas contradições da vida material.»

Neste parágrafo Marx parece uma vez mais reduzir os aspectos culturais

a um epifenómeno da infraestrutura económica.

Aqui uma vez mais apenas podemos contrapor o carácter dialéctico e

portanto antideterminístico das teorias marxistas que aponta para o

estudo das interrelações entre os fenómenos sociais.

Poder-se-á argumentar que a natureza do capitalismo conduz a

preeminência do nível estrutural, com o resultado de que os outros níveis

lhe fiquem subordinados.

Page 34: Resumos Sociologia - KARL MARX

34

CONSCIÊNCIA DE CLASSE E FALSA CONSCIÊNCIA

Para Marx, no capitalismo, ambas as classes têm percepções erradas

sobre o modo de funcionamento do sistema e do seu papel e interesse

nesse funcionamento (falsa consciência).

Na evolução para o comunismo há a possibilidade de que o proletariado

venha a desenvolver uma concepção exacta de como o capitalismo

funciona e o afecta enquanto classe – chame-se a isto a CONSCIÊNCIA DE

CLASSE.

O que é característico do capitalismo quer para o proletariado quer para

a burguesia é e FALSA CONSCIÊNCIA. Não nos surpreendemos que os

trabalhadores tenham falsa consciência mas por vezes é surpreendente

que o mesmo aconteça aos capitalistas. É que eles estão a explorar o

sistema e o proletariado. Mesmo assim LuKács apontou vários

elementos da falsa consciência da burguesia. Esta não tem consciência

da sua história e do seu papel na formação do capitalismo. Tampouco

reconhece as contradições irresolúveis que existem no seio do

capitalismo nem o seu papel na sua criação. E por isso subestima a

durabilidade do capitalismo. A burguesia tal como o proletariado não

compreende as consequências das suas acções. Os seus sistemas de

ideias estão cheios de ilusões acerca do seu controlo sobre o sistema

capitalista – nomeadamente ignoram que as suas acções como o

aumento da exploração dos trabalhadores contribuem em última análise

para a queda do capitalismo. O sistema de ideias do proletariado está

igualmente pejado destas ilusões acerca dos efeitos das suas acções.

Há contudo uma diferença fundamental entre os dois sistemas de ideias:

é que a burguesia nunca conseguirá transformar a sua falsa consciência

numa verdadeira consciência enquanto que isto é possível para o

proletariado. Do ponto de vista de Marx o proletariado ocupa um lugar

privilegiado porque o seu afastamento da propriedade é o modelo do

Page 35: Resumos Sociologia - KARL MARX

35

futuro em que não haverá propriedade de todo ou esta pertencerá à

colectividade. No auge do capitalismo o proletariado é já uma classe de

oposição ao capital mas não é ainda uma classe em si. Este se pretende

assumir o seu papel histórico tem que se transformar numa classe não

apenas contra o capital mas para si própria - ou seja a luta de classes

deve ser elevada do nível da necessidade económica para o nível do fim

consciente e da consciência de classe efectiva.

Ao falar de consciência de classe e de falsa consciência de classe, Marx

não falava de consciências individuais mas da consciência de uma

classe no seu todo. Além do mais os conceitos de consciência e falsa

consciência de classe são em Marx , conceitos dinâmicos que apenas

fazem sentido em termos de mudança e desenvolvimento social. O

conceito de falsa consciência de classe descreve a situação ao longo da

época capitalista enquanto a consciência de classe é a condição que

permitirá ao proletariado transformar a sociedade capitalista na

sociedade comunista.

IDEOLOGIA

Outra das principais dimensões económicas da obra de Marx é a

Ideologia. Uma ideologia pode ser definida como um sistema integrado

de ideis que são exteriores e coercivas relativamente aos agentes

sociais.

Marx referiu-se também na maior parte das vezes a este conjunto de

ideias da mesma forma que se referiu à consciência de classe e à falsa

consciência ou seja como meros reflexos da sua base material. Aqui é no

entanto mais claro que as ideologias aparecem por vezes na sua obra

com uma existência independente.

Eis um exemplo da abordagem mais determinística de Marx sobre as

ideologias:

Page 36: Resumos Sociologia - KARL MARX

36

«As ideias da classe dominante são em cada época as

ideias dominantes , isto é a classe a classe que é a força

material dominante da sociedade é ao mesmo tempo a

força intelectualmente dominante. A classe que tem os

meios de produção à sua disposição controla ao mesmo

tempo os meios da produção mental e daí resulta que as

ideias daqueles que se encontram privados dos meios de

produção também se lhes encontram subordinadas. As

ideias dominantes não são mais do que a expressão

intelectual, ideal, do domínio das relações materiais, não

são mais do que as relações materiais dominantes

percebidos sob a forma de ideias»

Há 3 ideias básicas interrelacionadas na concepção que Marx faz das

ideologias:

� As ideologias representam os interesses da classe

dominante o que não significa que estas ideias não tenham

um impacto recíproco nos interesses materiais propriamente

ditos.

� As ideologias são um reflexo truncado (parcial) e invertido da

realidade

As ideologias têm uma existência própria que coage as

pessoas.

O papel das ideologias será assim, para Marx, assegurar o assentimento

dos explorados e oprimidos. As ideologias apresentam o mundo a estes

últimos de forma a que estes se sintam em paz com ele, de forma que o

aceitem e até achem justo e necessário.

Page 37: Resumos Sociologia - KARL MARX

37

Um sistema ideológico funciona de forma a alterar os pensamentos e

acções dos membros da classe oprimida abrigando desta forma a

exploração do proletariado.

As ideologias não funcionam no vácuo – operam através de agentes.

Desta forma as ideologias afectam também as acções dos agentes da

classe dominante, que por seu turno afectam os pensamentos e acções

do proletariado.