Retrato Da Juventude Em Portugal

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Edição 2015 Revista de Estudos Demográficos n.º 54

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Sobre a Juventude em Portugal

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Edio 2015Revista de Estudos Demogrficosn. 54.Editora Chefe:Maria Jos Carrilho - Insttuto Nacional de Estatstca I.P.Editores Adjuntos:Fernando Casimiro - Ex-Insttuto Nacional de Estatstca I.P.Maria Filomena Mendes - Universidade de voraConselho Editorial:Alfredo Bruto da Costa - Universidade Catlica, LisboaAna Nunes de Almeida - Insttuto de Cincias Sociais (ICS), LisboaAntnio Barreto - Insttuto de Cincias Sociais (ICS), LisboaFernando Casimiro - Ex-Insttuto Nacional de Estatstca I.P.Gilberta Rocha - Universidade dos AoresJoaquimManuelNazareth-CentrodeEstudosdaPopulao, Economia e Sociedade (CEPESE), PortoJorge Arroteia - Universidade de AveiroKarinWall-InsttutoSuperiordeCinciasdoTrabalhoeda Empresa (ISCTE), LisboaMaria Filomena Mendes - Universidade de voraMaria Jos Carrilho - Insttuto Nacional de Estatstca I.P.Secretria:Liliana Martns - Insttuto Nacional de Estatstca I.P.TtuloRevista de Estudos DemogrfcosEditorInsttuto Nacional de Estatstca, I.P. Av. Antnio Jos de Almeida1000-043 LISBOAPortugalTelefone: 21 842 61 00Fax: 21 845 40 84Presidente do Conselho Diretvo Alda de Caetano CarvalhoDesign, Composio e Impresso Insttuto Nacional de Estatstca, I.P.Tiragem 150exemplaresISSN 1645-5657Depsito legal n: 185856/02Periodicidade SemestralPreo 11,00(IVA includo)Ospontosdevistaexpressosnestapublicaosoda responsabilidade dos autores e no refectem necessariamente a opinio do Insttuto Nacional de Estatstca. Por questes de arredondamento, os totais de alguns quadros podem no corresponder soma das parcelas. O INE, I.P. na Internetwww.ine.pt INE, I.P., Lisboa Portugal, 2014 A reproduo de quaisquer pginas desta obra autorizada, excepto para fns comerciais, desde que mencionando o INE, I.P., como autor, o ttulo da obra, o ano de edioe a referncia Lisboa-Portugal.FICHA TCNICADIREO EDITORIAL3ApresentaoOdeclnioeoadiamentodafecundidade,oaumentodalongevidade,aintensidadeeadiversidadedos fuxos migratrios, o progressivo envelhecimento demogrfco, os novos modelos familiares, a igualdade de oportunidadesentrehomensemulheres,oacessodosjovenseducao,formaoeaomercadode emprego,osgrupospopulacionaismaisvulnerveisasituaesdediscriminaoepobrezasoreasque preenchem, de modo direto ou indireto, a agenda poltca nacional e a internacional devido s consequncias e aos desafos que colocam s sociedades. A Revista de Estudos Demogrfcos (RED) tem, desde 2002, dois nmeros anuais, sendo um nmero temtco, o do primeiro semestre, e outro generalista. Onmero54daRED,2semestrede2013,inicia-secomumartgoqueprocuraretratarasituaodos jovens portugueses e identfcar as principais tendncias no campo demogrfco, escolar e laboral ocorridas noperodocompreendidoentreosCensosde2001e2011.Aretraodestegrupopopulacional,asua progresso no sistema escolar e as difculdades que enfrentam no acesso ao mercado de trabalho so aspetos realados. Segue-se um estudo sobre a surdocegueira que carateriza as pessoas afetadas por esta defcincia em Portugal e tenta conhecer as suas necessidades especfcas a partr de um inqurito conduzido junto de uma amostra de pessoas portadoras desta defcincia rara, identfcadas por insttuies nacionais. Com base nos resultados encontrados traado um perfl das pessoas surdocegas. Apresenta, ainda, um estudo sobre o aumento do nmero de estudantes estrangeiros em Portugal que descreve a evoluo das inscries destes alunosnoensinosuperiorentreosanosletvos2005/6e2012/13,comenfoquenasprimeirasinscries. A anlise, assente nos dados ofciais disponveis, incide sobre quatro agrupamentos de nacionalidades que compreendemospasesafricanosdelnguaportuguesaeTimor-Leste,oBrasil,aEuropaeosrestantes pases. Finalmente, divulga a situao demogrfca do pas, com base em informao atualizada, destacando as mudanas mais relevantes e os fatores que as determinam, sendo este um artgo sistemtco no segundo semestre de cada ano.Os nossos agradecimentos endeream-se s autoras e aos autores dos artgos que integram este nmero da revista, estendem-se aos membros do Conselho Editorial que connosco colaboraram, dando sugestes que permitram melhorar os trabalhos divulgados.Maria Jos CarrilhoEditora Chefenovembro 20144Revista de Estudos Demogrfcos, n 54ndiceArtgo 1Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 20115A portrait of youth conditon in Portugal: highlights and trends in the 2001 and 2011 censusesMaria Manuel Vieira Vtor Srgio FerreiraJussara Rowland Artgo 2A Surdocegueira em Portugal: caracterizao da populao segundo a idade e sexo 27Deaflindness in Portugal: characterizaton of the populaton according to age and sexGaspar, T.Rebelo, A.Antunes, M.Martnho, F.Liques da Silva, P. Oliveira, A.Branquinho, C.Artgo 3 Estudantes Estrangeiros em Portugal: Evoluo e Dinmicas recentes (2005/6 a 2012/13)39Recent Trend Concerning Foreign Students in Portugal (2005/6 to 2012/13)Isabel Tiago de OliveiraMadalena Ramos Ana Cristna FerreiraSofa GasparArtgo 4A Situao Demogrfca Recente em Portugal57Demographic Changes in PortugalMaria Jos CarrilhoMaria de Lourdes Craveiro Lista dos artgos divulgadosLista de artgos divulgados nos nmeros 32 a 53 da Revista de Estudos Demogrfcos111Demographic Studies Review from no. 32 to 53 5 Artigo 1_ pginaRetrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011A portrait of youth conditon in Portugal: highlights and trends in the 2001 and 2011 censusesAutores: Maria Manuel Vieira, Insttuto de Cincias Sociais, Universidade de [email protected] Srgio FerreiraInsttuto de Cincias Sociais, Universidade de [email protected] RowlandInsttuto de Cincias Sociais, Universidade de [email protected]:Oartgopretenderetratarasituaodosjovensportugueses naatualidade,bemcomoidentfcarasprincipaistendnciasde permanncia e mudana ocorridas nesta populao na ltma dcada, emtrsdomniosrelevantesdemogrfco,escolarelaboral.Para tal,optou-seporretercomoarcotemporaloperodocompreendido entre2001e2011,tomandocomorefernciaosdadosrelatvosaos recenseamentos da populao desses mesmos anos. Aanlisedetaisdadospermitediscernirtrsgrandestendncias longitudinais,estruturantesdasituaosocialdosjovensdehoje,em Portugal. Em primeiro lugar, a sua compresso demogrfca, revelando uma tendncia de decrscimo da populao jovem em todos os grupos etrios,maisacentuadanosescalesentre20e24anoseentre25e 29anos.Umasegundatendnciaidentfcadaanotvelprogresso dapopulaojovemportuguesanosistemaescolar,evidenciadano apenasnaalunizaodosjovensadolescentes,comotambmno aumentodaproporodeestudantesentreosjovensadultos.Por ltmo,osdadospermitemaindaverifcardifculdadesacrescidasno 6Revista de Estudos Demogrfcos, n 54acessodosjovensportuguesesaomercadodetrabalho.Porumlado, observa-se que a insero laboral dos jovens se encontra difcultada no s entrada do mercado de trabalho, mas tambm na sua permanncia econtnuidadedentrodeste.Comoconsequnciaoprocessode inseroprofssionaldosjovenstemvindoasercadavezmaistardio, crescendo e prolongando-se as situaes de dependncia fnanceira da famlia.Palavras-chave: Populao juvenil Censos Demografa Educao Trabalho Meios de vidaAbstract:TheaimofthisartcleistoportraythesocialsituatonofPortuguese youthnowadays,andidentfythemaintrendsofpermanenceand changethathaveoccurredinthispopulatonoverthepastdecade,in three important domains - demography, educaton and work. Tothisend,wefocusedontheperiodbetween2001and2011,when populatoncensusestookplace.Theanalysisofthesedataenables ustodiscernthreemainlongitudinaltrends.Firstly,itsdemographic compression,revealingatendencytowardsadecreaseinyoung populaton, more accentuated in ages between 20 and 24 years and 25 and29years.Asecondtrendidentfedistheremarkableprogression of Portuguese youth in the school system, as evidenced not only in the considerably high enrollment rates among young adolescents, but also in the increasing number of students among young adults.Finally, the datarevealsincreaseddifcultesforPortugueseyoungpeopleinthe access to the labor market. In fact, the process of transiton to the labour marketishinderednotonlyattheentry,butalsoinitspermanence and contnuity. As a consequence the process of transiton to the labour markethasbeenincreasinglydelayed,extendingthesituatonsof fnancial dependence on the family.Keywords:YouthCensusDemographyEducatonWork Livelihoods7Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011IntroduoSujeitos em rarefao demogrfca, mas com visibilidade social acrescida, os jovens so protagonistas de um conjunto assinalvel de dinmicas que tm marcado profundamente a sociedade portuguesa.Por um lado, contrariamente pujana demogrfca que at h bem pouco tempo caracterizava a populao jovem portuguesa, assiste-se nos ltmos anos e de forma acelerada ao seu contnuo decrscimo, quer em nmero, quer em peso relatvo, no conjunto total da populao. Tal fenmeno assume, de resto, mltplas facetas. Para alm de um desequilbrio inter-geracional evidente que afeta, desde logo, a sustentabilidade do contrato social em que se apoia o Estado Providncia, a reduo do nmero de crianas e de jovens provoca, igualmente, outros impactos sociais negatvos. A contrao de equipamentos e servios destnados aos mais novos - de que a recente reorganizao da rede escolar, com o encerramento de um nmero signifcatvo de escolas , apenas, disso um exemplo - , justamente, uma faceta do (re)ajustamento demogrfco acelerado ocorrido em Portugal.Simultaneamente,estaintensacontraodemogrfcaassumefacetasdesinalcontrrio.Ararefaoda populao juvenil tem sido concomitante com a signifcatva valorizao social e simblica conferida aos mais novos, na sociedade portuguesa - e de que , em parte, produto (Almeida, 2005; Cunha, 2007; Wall, 2005). Arepresentaotendencialmenteinstrumentaldascrianasedosjovenscomoadultosemminiaturae, porisso,comomo-de-obraindispensvelsobrevivnciaeconmicadafamlia,cedeagoralugarauma representaopredominantementeexpressivaefontedeinvestmentoafetvoparental,queequaciona ascrianasejovenscomoadultosemdevir,naqualidadedeseresvulnerveisarequererproteoea necessitar de preparao para poderem aceder plena adultcia. Nessa medida, o diferimento progressivo do acesso ao mercado de trabalho e independncia econmica, decorrente do perodo de moratria formatva tutelada,ouseja,daescolaridadeprolongada,temvindoaremeterosjovenscondio(exclusiva)de consumidores e estmulado a proliferao de um indito mercado de produtos e servios a eles consagrados. Um dos refexos da forte valorizao social das geraes mais novas , justamente, o acrescido investmento realizado na sua preparao formatva. Partndo de nveis de escolaridade e de formao confrangedoramente baixos, fortemente ancorados na predominncia naturalizada do modelo de insero profssional precoce, os jovens tm vindo a protagonizar uma verdadeira revoluo escolar silenciosa propiciada pela conjuno de poltcas educatvas promotoras da democratzao escolar, da alterao sensvel da estrutura produtva nacionalemelhoriadascondieseconmicasdapopulaoportuguesa,comaconversodasfamlias bondade da escolarizao dos flhos enquanto passaporte para um futuro melhor (Almeida e Vieira, 2006).Noobstante,osjovensconsttuemumadascategoriassociaismaisvulnerveissrecentesalteraes nomercadodetrabalho,emfunodasdifculdadesacrescidasdeinseroprofssionalcomquesetm confrontado1.Na convergncia de transformaes recentes como a compresso do emprego e a proliferao de diferentes estratgias de fexibilizao laboral, consubstanciadas em modelos de organizao do trabalho baseadosemformascadavezmaisprecriaseintermitentesdeemprego,ositnerriosdeinsero socioprofssional dos jovens tm sido bastante afetados, tornando-os menos lineares e padronizados, mais longoseintermitentes,sujeitosamaioresriscoseturbulncias(Alvesetal.,2011;GuerreiroeAbrantes, 2004; Pais, 2001). Essesitnerriosdeinserocomearamasercadavezmaiscaracterizadosporsucessivosadiamentosna entradanomercadodetrabalho,arrastando-semuitosjovensemcarreirasescolaresinterminveis,ou caindoemsituaesnem-nemnemestudam,nemtrabalham,sequerprocuramatvamenteemprego (nointegrando,porisso,asestatstcasdodesemprego).Depoisdaentradanomercadodetrabalho,os itnerrios juvenis so cada vez mais marcados pela alternncia entre a inatvidade, o desemprego, o trabalho informal, o emprego precrio e de curta durao, os estgios e cursos de formao profssional, confrontando cada vez mais jovens com a difculdade em desenvolver projetos profssionais e pessoais a mdio ou longo prazo.1O conceito de insero profssional dos jovens, em termos genricos, d conta do perodo que medeia a sada dos sistemas de ensino ou de formao e a obteno de um emprego, durante o qual o jovem negoceia, no mercado de trabalho, os saberes, competncias e qualifcaes sancionados por um diploma (Alves, 2008).8Revista de Estudos Demogrfcos, n 54O artgo que aqui se apresenta pretende identfcar, com base em trs domnios relevantes demogrfco, escolar e laboral - a situao dos jovens portugueses na atualidade, em comparao com o passado recente. Paratanto,optou-seporretercomoarcotemporaloperodocompreendidoentre2001e2011,para evidenciar os principais traos evolutvos da sua situao ocorridos nos ltmos dez anos. Aestabilizaodosdadosapuradosnoltmorecenseamentodapopulao,em2011-edasestmatvas demogrfcas que a partr dele foram atualizadas permite cartografar com rigor as principais tendncias de permanncia e mudana ocorridas no espao desta ltma dcada, tomando como referncia comparatva os dados do recenseamento da populao de 2001.A anlise realizada, na linha da tradio de trabalhos similares desenvolvidos pelo Observatrio Permanente daJuventudedoInsttutodeCinciasSociaisdaUniversidadedeLisboa(OPJ)combaseemapuramentos doINE(Ferreira,2006;Ferreiraetal.1999),utlizoucomofonteprincipalosdadoscensitriosrelatvos especifcamentepopulaoinscritanoescaloetriodos15aos29anosdisponibilizadospeloInsttuto Nacional de Estatstca.POPULAO RESIDENTE JOVEM EM PORTUGALJovens e menos jovensAoanalisarasnovasestmatvasdapopulaoresidente,atualizadasluzdosresultadosdoltmoato censitrio de 2011, constata-se que entre 2010 e 2011, pela primeira vez desde os fnais dos anos 80, verifcou-se um decrscimo da populao portuguesa, tendo esta perdido 30.323 habitantes. Este decrscimo deveu-se, por um lado, aos efeitos prolongados da diminuio das taxas de natalidade no nosso pais, mas tambm, por outro lado, ao impacto da crise econmica, que veio fomentar novos fuxos de emigrao da populao portuguesa para o estrangeiro e reduo no nmero de imigrantes em Portugal (Peixoto, 2013).Emparte,estarecentealteraode tendncia de crescimento da populao residente (que entre 2001 e 2010 tnha contnuadoaaumentar,mesmoque deformatnue)vemacompanharum outrofenmenojemcursodesde meados da dcada de noventa do sculo passado:aprogressivaeacelerada diminuiodapopulaojovem nacional (Ferreira, Figueiredo e Lorga da Silva, 1999; Ferreira et al., 2006). Entre 2001 e 2011 essa tendncia confrmou-se, tendo a populao portuguesa entre os15eos29anosdecrescido21,3% (fgura 1).Figura 1ndice de Crescimento da populao total residente e da populao jovem residente por ano, Portugal, 2001-2011 (2001=100)(%)100,0100,5100,8101,0101,1101,3101,5101,6101,7101,7101,4 105110115120TOTAL GERAL TOTAL 15-29100,0100,5100,8101,0101,1101,3101,5101,6101,7101,7101,498,396,393,891,288,786,484,382 480859095100105110Fonte: INE, Estimativas Anuais da Populao Residente.91,288,786,484,382,480,378,7707580852001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 20119Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011Considerandoarepresentatvidade dapopulaojovemnoconjuntoda populao geral portuguesa, verifca-se que o seu peso tem vindo a diminuir de forma progressiva. Em 2001 a populao entreos15eos29anosrepresentava 21,7%dapopulaoportuguesa;em 2011essevalorsituava-senos16,8%, indicando um decrscimo de 4,9 valores percentuais(fgura2).Estesdados vmconfrmarnosadiminuio progressivadopesorelatvoda populao jovem no total da populao, comooacentuardessatendncia. Recorde-sequenadcadaanterior, entre1991e2001,odecrscimodo peso da populao jovem sobre o total dapopulaoresidentetnhasidode 2%(de23.7%em1991para21.7%em 2001) (Ferreira et al., 2006). Isso signifca que em 20 anos, entre 1991 e 2011, os jovens deixaram de representar quase da populao, para passar a representar apenas 1/6.Jovens e subgrupos etriosA evoluo demogrfca da populao jovem por grupos etrios (fgura 3) revela uma tendncia de decrscimo para todos os grupos etrios. Mas com algumas especifcidades: o grupo dos jovens entre 15-19, que durante a dcada de noventa tnha sofrido uma diminuio do ndice de crescimento mais acelerada, em torno dos 22% (Ferreira et al., 2006), teve uma quebra menos acentuada entre 2001 e 2011, perto dos 17%. Os escales etriossuperiores(jovensentreos20e24anoseentreos25e29anos)sofreramumadescidamaiordo ndice de crescimento: 24,8% para o escalo 20-24 e 23,6% para o escalo 25-29. Estes valores signifcaro, para o caso dos jovens entre os 15 e os 19 anos, um ligeiro abrandamento dos efeitos da reduo da taxa de fecundidade sobre esta faixa etria.No caso dos jovens mais velhos, devemos ter em conta os efeitos recentes da crise econmicanoaumentodasadade jovensportugueseseestrangeirosde Portugal.Defacto,entre1991e2001, estesgruposetriostnhamvistoo seundicedecrescimentomanter-se relatvamente estvel (no caso do escalo 20-24), ou aumentar (no caso do escalo 25-29),devido,provavelmente,ao saldo migratrio positvo e ao aumento considerveldataxadeimigraode origemestrangeira,quecompensoua quebradanatalidade(Peixoto,2013). Osefeitosdosaldomigratriosentem-se no sentdo inverso entre 2001 e 2011, sobretudoapartrdofnaldadcada. Defacto,comacriseeconmica,eo aumentodataxadedesemprego,no s o nmero de imigrantes permanente em Portugal tem vindo a diminuir, como astaxasdeemigraodapopulao Figura 2Peso da populao jovem residente em relao populao total residente, por ano, Portugal, 2001-2011 (%)25303540TOTAL 15-2951015202530Fonte: INE, Estimativas Anuais da Populao Residente.05102001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011Figura 3ndice de crescimento da populao jovem residente, por ano, segundo grupo etrio, Portugal, 2001-2011 (2001=100)(%)100,0909510010515-19 20-24 25-2984,375,277,4707580859095Fonte: INE, Estimativas Anuais da Populao Residente.75,2606570752001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 201110Revista de Estudos Demogrfcos, n 54portuguesa dispararam, criando assim uma situao de saldo migratrio negatvo em 2011 (INE, 2013). Estas alteraes tero um impacto acentuado nmero de jovens (portugueses e estrangeiros) dos escales etrios mais velhos, muitos dos quais em processo de insero no mercado de trabalho, ou em processo de defnio dos seus percursos profssionais.Distribuio da populao jovem pelo territrio nacionalA distribuio dos jovens pelo territrio portugusem2011noapresenta grandesvariaesfacea2001,mas vemconfrmaratendnciadoreforo da concentrao de jovens em distritos marcadamenteurbanos,comoLisboa ou Porto. Em 2011, 38.7% da populao jovemportuguesaresidianestasduas regies,valoresquesemantveram estveisaolongodaprimeiradcada do novo sculo.OsdistritosdeFaro,Leiria,Setbal easregiesautnomasdaMadeira edosAoresforamosque,naltma dcada,viramasuarepresentaono totaldapopulaojovemportuguesa aumentar. Na situao oposta esto os distritosdeCoimbra,VilaReal,Viseu, Bragana,CasteloBrancoeAveiro (fgura 4).Apesardeasvariaesteremsido pequenas,estasvmnoentanto consolidar a tendncia para a crescente urbanizao e litoralizao da populao jovemportuguesaemcursodesde pelomenosadcadade60dosculo passado(Ferreira,FigueiredoeLorga da Silva, 1999) de facto, dos distritos dolitoral,apenasVianadoCasteloe Aveiroviramasuacontribuioparaa populao jovem portuguesa diminuir.Figura 4Populao jovem residente por Distrito e Regio Autnoma, 2001 e 2011 (% em relao ao total de jovens residentes em Portugal)7,01,36,91 3AveiroBeja2001 20117,01,39,11,21,74,06,91,39,11,11,63 7AveiroBejaBragaBraganaCastelo BrancoCoimbra1,74,01,53,61,54,31,63,71,54,11,34,4Castelo BrancoCoimbravoraFaroGuardaLeiria4,320,51,018,24,01,34,420,61,018,24,0GuardaLeiriaLisboaPortalegrePortoSantarm4,07,72,32,03,718,24,07,82,31,83,5PortoSantarmSetbalViana do CasteloVila RealViseuFonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.3,72,72,61,83,53,02,90 5 10 15 20 25ViseuR. Aut. AoresR. Aut. Madeira11Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011No que se refere representao juvenil napopulaodistrital,verifcamos queoprocessodeenvelhecimentoda populaoemcursogeneralizadoe refete-seemtodasaszonasdopas (fgura5).Algunsdistritosevidenciam-se,noentanto,porapresentarum decrscimodopesodapopulao juvenil acima da mdia nacional (-0,3% entre2001e2011):Faro,Coimbra, Lisboa, a Regio Autnoma da Madeira eCasteloBrancosoosdistritosonde oquocientedepopulaoentreos15 eos29anosnototaldapopulao dodistritomaisdecresceu.Denotar queaszonasquemelhorresistram aestatendnciadediminuiodo pesodapopulaojuvenilforamos distritosdointeriornortedePortugal, nomeadamenteVilaReal,Bragana, Guarda,Viseu,paraalmdaRegio AutnomadosAoresedodistritode Viana do Castelo.ARegioAutnomadosAores evidencia-se,tambm,porserazona dopasondeapopulaojuveniltem umpesomaiorsobreapopulao local (21,6%), situao que se mantm desde2001.Seguem-se-lheaRegio AutnomadaMadeira,Braga,Portoe Aveiro,todoscomumarepresentao dejovensnasuapopulaoacimada mdia nacional (16,9% em 2011). OS JOVENS FACE ESCOLAA alunizao da juventudeA anlise dos indicadores relatvos escolaridade da populao residente com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos confrma o lugar central que a escola detm nas trajetrias juvenis contemporneas. A taxa de escolarizao segundo o grupo etrio - defnida como a relao percentual entre o nmero total de alunos de um dado grupo etrio matriculados no sistema educatvo e o nmero total de populao residente desse mesmo grupo etrio mede justamente o grau de incluso da populao no sistema e, por conseguinte, Figura 5Populao jovem residente sobre a populao total residente, por ano segundo o Distrito e a Regio Autnoma, 2001 e 2011 (%)17,315,919,217,115,619 0AveiroBejaBraga2001 201115,919,215,015,116,015,619,014,914,815,5BejaBragaBraganaCastelo BrancoCoimbra16,016,016,715,016,816,615,515,616,114,816,5CoimbravoraFaroGuardaLeiriaLisboa16,816,615,618,115,816,616,516,215,417,815,516,2LeiriaLisboaPortalegrePortoSantarmSetbal,16,616,716,016,921,815,516,216,516,016,721,6SantarmSetbalViana do CasteloVila RealViseuR. Aut. AoresFonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.21,819,617,26,21,619,216,90 5 10 15 20 25R. Aut. AoresR. Aut. MadeiraTOTAL12Revista de Estudos Demogrfcos, n 54permiteapuraraamplitudedaquelacentralidade.Comoseobservanofgura6,paraageneralidadedos adolescentes (neste caso, os que esto inscritos no escalo etrio dos 15 aos 19 anos) ser estudante consttui uma atvidade que impregna duradouramente a sua vida quotdiana. Se tal j era a norma em 2001, quando 71% dos portugueses desse grupo se encontrava no sistema de ensino, dez anos depois a tendncia refora-se: a condio estudantl abarca 83,9% dos jovens daquele escalo etrio (fgura 6). E, como alguns estudos tm sublinhado, esta alunizao da juventude (Correia e Matos, 2001) no deixa de produzir importantes efeitos nos adolescentes: para alm de a experiencia escolar passar a estruturar decisivamente as suas vidas e a condio de aluno defnir doravante a sua identdade social (Vieira, 2005), o contacto dirio e duradouro com outros pares propiciado pela escola refora a importncia socializadora que o grupo de colegas e amigos -porvezesemoposioaomundoadulto-adquirenaconfguraodevalores,prtcaseestlosdevida (Abrantes, 2003; Lopes, 1996; Pasquier, 2005; Rayou, 2000; Resende, 2010; Vieira, 2011). O mesmo j no sucedecomosmaisvelhos.Acondioestudantlrareiajuntodapopulaojuvenilcommaisde20anos esobretudoapsos25anosevidenciandoosconstrangimentos(nomeadamenteeconmicos)auma escolaridade prolongada que aindasubsistem junto de largos grupos da populao portuguesa. Noobstante,observam-sealguns progressos:acondioestudantl expande-sesemprequesecompara 2001com2011,qualquerque sejaogrupoetrioconsiderado. Entreapopulaocomidades compreendidasentreos20eos24 anos,aproporodeestudantes passa de 33,8%, em 2001, para quase 40%em2011.Porsuavez,como seriadeprever,nogrupoetrio maisvelho(dos25aos29anos)os valores revelam-se mais tmidos, mas mesmoassimpositvos:aproporo dessapopulaoqueseencontraa estudarpassade10.9%,em2001, para 14.1%, em 2011. Taistendnciaspodemresultarda confunciadevriosfatoresque marcaram decisivamente esta dcada equesopropciosaumreforo dacomponenteescolardastrajetriasjuvenis:porumlado,oefeitoconjugadodaambiodeacedera patamaressuperioresdeensinocomaconstataodacrescentedesvalorizaodosdiplomas,tendera empurrar alguns jovens para nveis mais avanados de ensino, como forma de manter a raridade relatva da sua formao e o seu valor de mercado (Duru-Bellat, 2006); por outro, as difculdades acrescidas colocadas aosjovensnoacessoaoempregopoderopotenciarorecursoaosistemadeensinocomoparquede estacionamento por parte de populaes em situao de desemprego real ou virtual. A esta conjugao de fatores alia-se, neste perodo, um conjunto de medidas de poltca educatva que potenciam a escolarizao juvenil. Salientamos, entre outros, a reduo do tempo de durao dos estudos superiores e consequente acessibilidade a um nmero maior de candidatos - por fora da generalizao das prerrogatvas do Processo de Bolonha ao conjunto das insttuies de ensino superior portugus; e a aposta na diversifcao das ofertas escolares para adultos, promotoras do seu regresso aos estudos - Programa Maiores de 23 Anos, Programa Novas Oportunidades, Cursos de Educao e Formao de Adultos, para s citar os mais populares.Figura 6Taxa de escolarizao da populao jovem residente, segundo o grupo etrio, Portugal, 2001 e 2011 (%)71,083,9607080902001 201133,839,414 1203040506070Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.10,914,1010203015-19 anos 20-24 anos 25-29 anos13Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011Oquadrogenricotraadorefrata-seem variaesporgnero:emambososanos censitriosconsideradosasraparigas permanecem mais tempo na escola do que os rapazes (fgura 7).Sabe-secomoaprogressivaparidadeentregnerosemtermosdeprtcas,representaesedestnos sociais exercitada cada vez mais pelas famlias junto dos flhos tem benefciado partcularmente as raparigas e a sua escolarizao (Wall, 2005). Ultrapassando esteretpos que outrora as afastavam duradouramente da escola, as raparigas tm nas ltmas dcadas protagonizado uma silenciosa revoluo escolar, ao progredirem velozmente no sistema educatvo, suplantando em sucesso e em longevidade escolar os seus pares masculinos graas a um investmento mais efcaz nos estudos (Almeida e Vieira, 2006; Ferrand, 2005; Ribeiro, 2007).Astaxasdeescolarizaoporsexocomprovam-no.Em2001,adisparidadeentrerapazeseraparigasera partcularmente acentuada, ascendendo a 8% a diferena entre os dois sexos, no escalo etrio dos 15 aos 19 anos: 75,3% das raparigas, contra apenas 66,9% dos rapazes, estava no sistema de ensino. Dez anos depois, eparaomesmogrupoetrio,semelhantepadroatenua-se,masnodesaparece.Adistnciaentreos dois sexos reduz-se para 4%, permanecendo as raparigas frente dos rapazes, no que toca a escolarizao: 86% das raparigas esto a estudar, contra 81.9% dos rapazes. O mesmo sucede no escalo etrio seguinte. Emperfeitahomologiacomogrupoanterior,nogrupoetriodos20aos24anosobserva-seidntca preponderncia feminina e idntca distncia relatva entre os dois sexos 8% em 2001 e 4% em 2011 ainda queematenuao,noperodoconsiderado.Apenasnogrupoetriomaisvelho(25-29anos)astaxasde escolarizao, signifcatvamente mais baixas, apresentam valores muito prximos para os dois sexos nos dois anos em referncia - sendo mesmo mais favorvel para os rapazes (com 14,7%), comparatvamente com as raparigas (que atngem 13,5%) em 2011.Estesdadosparecemiraoencontrodosestudosatrsmencionados,queassinalamumaduplavantagem escolardasraparigas,umavezqueestasprosseguemosestudosatnveismaisavanadoseobtmmais sucesso, o que faz antever trajetrias escolares mais lineares, sem interrupes ou compassos de espera (via reprovaes), no deixando arrastar os estudos para alm da idade esperada.No entanto, estes dados revelam tambm que, no espao de uma dcada, as acentuadas disparidades escolares entre os dois sexos diminuram. Tal parece confrmar as anlises que sublinham o papel dos cursos de carcter profssionalizante (cursos de educao e formao, cursos profssionais, cursos de especializao tecnolgica) uma clara aposta de poltca educatva nesta dcada na adeso e fxao escola das populaes escolares em risco de abandono (Capucha et al., 2009) como sejam, nomeadamente, os rapazes.Emsuma,daleituradastaxasdeescolarizaodapopulaojuvenilconstata-seque,emPortugalepelo menos desde o comeo do sculo XXI, o fm do perodo da adolescncia coincide, para a maioria dos jovens, com o fm da sua condio de estudante.Figura 7Taxa de escolarizao da populao jovem residente por grupo etrio, segundo o sexo, Portugal, 2001 e 2011 (%)66,975,381,986,070809010029,937,8 37,341,510,7 11,114,713,50102030405060Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.0Homens Mulheres Homens Mulheres2001 201115-19 20-24 25-2914Revista de Estudos Demogrfcos, n 54Insiders e outsiders: escolaridade e separao das juventudesComo evidencimos, a condio estudantl hoje parte consttutva da condio juvenil. Mas a experincia escolar, que consolida um grupo etrio numa dada condio social (a juventude), tambm separa, desagrega, distngue desde logo, entre os que contnua a acolher e os que (mais ou menos precocemente) a abandonam. Dosdadosapuradosatravsdoscensos,doisgrupossedestacam:apopulaoresidenteque,datado inqurito, ainda est a estudar e aquela que j no frequenta o sistema de ensino. Vejamos os contornos que cada grupo apresenta.Afgura8representaogrupodos jovenscomidadescompreendidas entreos15eos29anosquese encontraaestudar,pornvel deinstruofrequentado.No espaodeumadcadaobserva-seumaretraodaproporo dejovenscomestudosatrasados relatvamenteidadeostentada ouseja,osqueapresentamuma escolaridadearrastada2no1e 2ciclodoensinobsico(porfora derepetnciasouintermitnciasde entradasesadasdosistema)-ea concomitanteprogressodosjovens paranveisulterioresdeensino (cicloterminaldobsicoeensino secundrio).Defacto,deentreos jovenscomidadescompreendidas entre os 15 aos 29 anos que ainda se encontram a estudar, h um aumento da proporo daqueles que esto nos nveis intermdios do sistema de ensino: de 57%, em 2001, essa proporo passa para 60% em 2011. Este reforo da concentrao da populao jovem nos nveis intermdios de ensino faz neste perodo decrescer, em 1,2 pontos percentuais, a proporo daqueles que frequentam os escales de topo do sistema. Em suma, verifca-se neste grupo uma tendncia para trajetrias escolares mais longas e sequenciais.Por sua vez, a populao residente do mesmo grupo etrio (15-29 anos) que j no se encontra a estudar data censitria, apresenta um perfl contrastante entre 2001 e 2011. Pode-se afrmar que, no espao de dez anos,diminuiufortementeaproporodosjovensquesaemdosistemadeensinocomttulosescolares maisrudimentares,ouseja,at6anosdeescolaridade(osvalorescaemde34,6%para11,3%)eeleva-se signifcatvamenteaproporodaquelesquesaemdaescolacomdiplomaointermdiaesuperiorde 52,1% para 62,5% no caso dos possuidores de 9 a 12 anos de escolaridade; de 13,3% para 26,3%, no caso dos que saem do sistema com ttulos de ensino mdio, ps-secundrio ou superior (fgura 9). Apesar de o abandono escolar desqualifcado (abandono da escola sem concluso da escolaridade obrigatria) contnuarafazerpartedapaisagemeducatvaportuguesa,inegvelqueosjovensportuguesesdehoje benefciam de uma formao escolar mais longa e mais bem-sucedida.2 Expresso retrada de A. Sedas Nunes no seu clssico estudo sobre o ensino superior (NUNES, 1968). A populao universitria portuguesa: uma anlise preliminar. Anlise Social, 22-23-24, pp. 295-385). Figura 8Populao jovem residente a frequentar o ensino, por nvel de instruo frequentado, Portugal, 2001 e 2011 (%)57,060,05060702001 20113 639,438,21020304050Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.3,61,901020Baixo1 e 2 cicloIntermdio3 ciclo e secundrioAvanadoEnsino Mdio/Ps-sec e Superior15Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011No entanto, e replicando tendncias estruturais j enunciadas, de entre os jovens que j no se encontram aestudarregistam-sediferenasdegneronotrias(fgura10).Asraparigastendemasairmaistarde dosistemadeensino,munidasdemelhorttulaodoqueosrapazes,comosecomprovanosdoisanos censitrios considerados. Neste perodo, as raparigas reforam signifcatvamente o seu investmento escolar aonveldosttulosdeensinomdio,ps-secundrioesuperior,comparatvamentecomaproporode rapazes que os obtm. Comparatvamente,humamaior proporo de rapazes que abandonam osestudoscombaixosnveisde instruo,apesardosprogressos alcanados.Seentre2001e2011, oabandonoescolardesqualifcado (at6anosdeescolaridade)na populaojovemmasculinasofre uma signifcatva reduo (cai de 37% para 13,5%), a elevao geral do nvel dediplomaoobtdopelosrapazes concentra-senosnveisintermdios deensino-enotantonosnveis superiores,comosucedecommais intensidade na populao feminina.Diferentementequalifcados,rapazes eraparigasencontrarodistntas oportunidadesnomercadode emprego?Vejamosoque,aeste respeito, os dados nos desvendam.Figura 9Populao jovem residente que no frequenta o ensino, por nvel de instruo possudo, Portugal,2001 e 2011 (%)52,162,55060702001 201134,652,113,311,326,3102030405060Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.13,311,301020Baixoat 2 cicloIntermdio3 ciclo e SecundrioAvanadoEnsino mdio/Ps-sec e SuperiorFigura 10Populao jovem residente que no frequentao ensino, por nvel de instruo possudo, segundo o sexo, Portugal, 2001 e 2011 (%)53,750,266,957,95060708037,032,013,59,0 9,317,819,633,201020304050Homens Mulheres Homens Mulheres2001 2011Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.Homens Mulheres Homens Mulheres2001 2011Baixo - at 2 cicloIntermdio - 3 ciclo e SecundrioAvanado - Ensino mdio/Ps-sec e Superior16Revista de Estudos Demogrfcos, n 54INSERO PROFISSIONAL E MEIOS DE VIDA DOS JOVENSQuandocomparadacomastendnciasdesenhadasparaopassado(Ferreira,FigueiredoeLorgadaSilva, 1999; Ferreira et al., 2006; DGEEP/MTSS, 2006), a dcada que mediou os censos de 2001 e de 2011 parece caracterizar-se pelo acentuar de situaes de fexibilizao e precarizao laboral, expressos em itnerrios deinserosocioprofssionalmaislongos,marcadospelaintermitnciaesujeitosamaioresriscos,oque determina, por sua vez, maiores constrangimentos conquista plena de independncia econmica. para este cenrio que remetem os dados produzidos no mbito desses momentos censitrios, no que respeita evoluo da estrutura de condies perante o trabalho da populao jovem portuguesa, e dos seus principais meios de vida.Condio perante a atvidade econmica dos jovensA estrutura da condio perante a atvidade econmica, repartda em funo de duas grandes categorias - a populao inatva e a populao atva -, permite a identfcao de diferentes tpos de relao entre os jovens e a atvidade econmica, dando conta de diferentes etapas do seu processo de insero profssional e, em ltma instncia, das suas condies de emancipao social. A partr desse indicador, fca-se a saber a dimenso e a composio da populao jovem: 1) em situao de inatvidade, ou seja, os jovens que, na semana de referncia no momento censitrio, no so considerados economicamente atvos, ou seja, que no esto empregados nem desempregados, englobando estudantes, domstcos, reformados, incapacitados e inatvos noutras situaes; 2) bem como em situao de atvidade, ou seja, que trabalham ou esto no desemprego.A primeira tendncia que os dados relatvos a estes indicadores revelam para a ltma dcada uma crescente desatvao dos jovens em relao ao mundo do trabalho, o que implica um progressivo retardamento etrio do incio do processo de insero profssional.Jovens inatvosConsiderandoaprogressivaescolarizaodasmaisjovensgeraes,nosurpreendeocrescimentoda populao jovem inatva na ltma dcada, que aumenta de 36.8 % para 44.1%. De fato, a grande maioria da populao juvenil inatva contnua, em 2011, na condio de estudante (81.2%) (fgura 11). O crescimento da populao jovem inatva acontece no apenas por via do aumento da condio de estudante, mas sobretudo com o aumento da categoria que remete para outras condies perante a atvidade econmica, que passa de11.4%para13.8%.Correspondendoasituaesperanteaatvidadeeconmicaatpicas(segundoa classifcao utlizada pelo INE no questonrio censitrio), estaremos aqui, provavelmente, face ao aumento dos jovens vulgarmente designados nem-nem, ou seja, que nem estudam, nem esto em formao, nem trabalham, nem se encontram procura de emprego.Observa-se um importante efeito de idade na condio de estudante, que decresce notoriamente medida que a idade avana: ser estudante abrange 91.1% dos jovens inatvos entre os 15 e os 19 anos, descendo para 29.4% para o grupo etrio dos 25 e 29 anos. Esse decrscimo mais acentuado entre as mulheres do que entre os homens, estes tendendo a protagonizar mais do que elas uma dinmica de arrastamento dos seus percursos escolares (entre os 25-29 anos, so ainda 40.3% os jovens inatvos do sexo masculino, proporo que desce para 23.5% entre as mulheres).17Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011Constata-setambmumefeitodeidadenacategoriaoutrascondiesperanteaatvidadeeconmica, mas em sentdo diverso ao da condio de estudante, aumentando de 7% dos inatvos entre os mais jovens para 43.4% da populao jovem inatva entre 25 e 29 anos. tambm nesta faixa de jovens adultos que o conjuntodesituaesatpicasperanteaatvidadeeconmicamaiscrescenaltmadcada,pratcamente paraodobro-em2001fcava-sepelos29.4%.Eseem2001,nessafaixaetria,talconjuntodesituaes atpicas predominava entre os jovens do sexo masculino (40.9%, contra apenas 23.1% entre o sexo feminino), em 2011 essa diferena de gnero tende perder a sua fora (atngindo 46.5% dos jovens adultos homens e 40.8% das jovens adultas mulheres).Por ltmo, e em linha com os resultados dos censos anteriores, a condio de domstco volta a decrescer na ltma dcada, de 6% para 2.5%, contnuando a englobar tpicamente as jovens do sexo feminino. No caso especfco das jovens com idades compreendidas entre 25 e 29 anos, esta condio desce dos 45.3% (2001) para os 22.3% (2011) - indicador de um maior investmento nos estudos e/ou de insero na vida profssional.Jovens AtvosA populao atva corresponde ao conjunto de indivduos com idade mnima de 15 anos que, no perodo de referncia no inqurito censitrio, consttuem a mo-de-obra disponvel para a produo de bens e servios que entram no circuito econmico. , assim, consttuda pelos indivduos nas condies de empregado e de desempregado.Figura 11Populao jovem residente inativa por condio perante o trabalho, Portugal, 2001 e 2011 (%)Estudantes79,92001 2011Reformados, aposentados ou na reservaDomsticos0,72,581,20,76,0Outras condiesIncapacitados permanentes para o trabalho13,81,711,42,0Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.05010018Revista de Estudos Demogrfcos, n 54Entre2001e2011,apopulaojuvenil economicamenteatvaemPortugal desceude63,2%para55,9%.Dentro desta, e no mesmo perodo, destaque-se o aumentoassinalveldapopulaojovem desempregada(fgura12)de9.5%para 20%.Esteaumentosentdosobretudo entre a faixa etria mais jovem: em 2001, 81.9% dos jovens atvos entre 15 e 19 anos encontravam-seempregadose18.2% desempregados;em2011aproporo dejovensempregadoscaipara54.7%e adedesempregadossobepara45.3%., de facto, nesta faixa etria que a insero profssionalsedemonstracadavezmais difcil.Do ponto de vista das qualifcaes acadmicas dos jovens atvos desempregados, de assinalar, na ltma dcada, a subida da proporo de jovens desempregados com o 3 ciclo do ensino bsico (de 19.3% para 27.2%), mantendo-se, contudo, o lugar cimeiro dos jovens com o ensino secundrio, com percentagens na ordem dos 34%. Por outro lado, ainda que, no cmputo geral, a proporo de jovens desempregados com ensino superior no tenha subido muito nesses dez anos (de 20.1%, em 2001, para 23.7% em 2011), verifca-se contudo uma crescentediferenadegnero:seem2001apopulaoatvadesempregadacomidadescompreendidas entre25e29anoseramuitoequivalenteentrehomensemulheresdiplomados(respetvamente,24%e 25.6%), em 2011 a diferena assinalvel: 34.2% de mulheres diplomadas desempregadas, contra 28% de homens nessa faixa etria. Constata-se, assim, que a tendncia recente de feminizao no ensino superior no foi acompanhada de equidade no processo de insero profssional, penalizando as mulheres no acesso ao mercado de trabalho numa situao de compresso do emprego.Osefeitosdacrescenteescolarizaodasmaisjovensgeraessentem-setambmaonveldaestrutura socioeconmicadapopulaojovematvaresidentenopas(fgura13).Considerandoavarivelgrupo socioeconmico3,entre2001e2011,notrioodecrscimodopesodosjovensoperrios(de34.6% para21.5%).Estatendnciaacompanhada,porsuavez,peloaumentopulverizadodaproporode jovens integrados nas categorias diretores, quadros e chefas (de 17.6% para 21.5%, sendo esse aumento maissignifcatvoentreasmulheresnafaixaetria25-29anos,de27.5%para33.4%)etrabalhadores administratvos do comrcio e dos servios (de 33.2% para 36.9%, sendo esta categoria substancialmente maisfrequenteentreasmulheres-47.5%-queentreoshomens26.1%).Ahiptesedocrescimento destascategoriasdecorrerdeefeitosdarecenteescolarizaodamo-de-obrajuvenilancora-senofacto de,quandoanalisadasaodetalheenoapenasemgrandesgrupossocioeconmicos,seperceberqueo crescimento acontece sobretudo ao nvel dos empresrios com profsses intelectuais, cientfcas e tcnicas, profssionais intelectuais e cientfcos independentes, e quadros intelectuais e cientfcos.Por fm, nota-se ainda na composio da populao jovem atva residente em Portugal um aumento ligeiro daproporodejovensempresrios(de1.1%para1.9%).Aumentamigualmenteosoutrosatvosno classifcados que, em 2011, chegam aos 35.2% entre os jovens de 15 aos 19 anos, indicando tratar-se de situaes atpicas de emprego, eventualmente de natureza informal, prprias dessa faixa etria.3Segundo os critrios metodolgicos dos Censos, a varivel grupo scio-econmico estabelecida atravs de vrios indicadores que procuram refetr o universo da atvidade econmica, visto sob o ngulo da insero profssional dos indivduos. Esto presentes as seguintes variveis primrias: profsso, situao na profsso e nmero de trabalhadores da empresa onde trabalha. Note-se que para efeitos de sistematzao analtca a totalidade dos 28 grupos foi agregada em 9 grandes grupos.Figura 12Populao jovem residente ativa por condio perante o trabalho, Portugal, 2001 e 2011 (%)90,580,07080901002001 201120,020304050607080Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.9,520,00102030Pop. Empregada Pop. Desempregada19Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011Os jovens e seus meios de vidaNum contexto em que os processos de insero profssional dos jovens tendem a complexifcar-se, interessa identfcarassuasmodalidadesdeobtenoderendimento,nomeadamentedaquelesjovensqueesto desempregados,bemcomoaseventuaistransformaesnoseuprincipalmeiodevidahavidasnaltma dcada.Entende-se por principal meio de vida, segundo o INE, a fonte principal de onde o indivduo retrou os seus meios fnanceirosouemgnerosnecessriossuasubsistncianosltmosdozemesesanterioresaomomento censitrio. No censo de 2001 este indicador era obtdo com a pergunta qual o seu principal meio de vida; no censo de 2011 a formulao da questo passou a ser mais especfca no tempo que pretende abranger: qual a sua principal fonte de rendimento nos ltmos 12 meses (anteriores ao momentos censitrio). Ora, os dados mostram que, em 2001, mais de metade da populao jovem entre 15 e 29 anos tnha como principal meio de vida o trabalho (55.7%), sendo ainda muito signifcatva a proporo daqueles que viviam acargodafamlia(43.7%)(fgura14).Naltmadcada,todavia,observa-seumainversodatendncia, diminuindo a proporo de jovens que tm o trabalho como principal meio de vida, e aumentando o peso daqueles que esto a cargo da famlia. Tm aumentado, portanto, os nveis de relatva dependncia econmica da populao jovem portuguesa relatvamente famlia de origem.44Relatvizamos aqui a noo de dependncia econmica na medida em que nos limitamos a apresentar o principal meio de vida, no permitndo os dados censitrios dar conta das vrias formas de dependncia/independncia mitgada ou parcial subjacentes aos meios de vida dos jovens portugueses. Dados anteriores j chamavam a ateno para que as situaes hbridas de semidependncia se tornam quase fases necessrias como consequncia de um processo de insero profssional moroso e atribulado e at por vezes regressivo, em que os jovens no dispensam as ajudas familiares (Schmidt, 1990: 649).Figura 13Populao jovem residente ativa por grupo socio-econmico (grandes grupos), Portugal, 2001 e 2011 (%)Empresrios1,91,12001 2011Diretores, quadros e chefiasProfissionais liberais e trab. independentesPequenos patres22,12,53,017,62,63,9Pessoal das Foras ArmadasAssalariados agrcolasTrab. administrativos do comrcio e serviosOperrios1 81,536,921,51,11,433,234,6Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.010203040Outras pessoas ativas, no especificadas8,81,84,5Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.20Revista de Estudos Demogrfcos, n 54Como seria de esperar, medida que a idade avana, aumenta a proporo de jovens cujo trabalho consttui o meio de vida prioritrio. de notar, contudo, a diminuio substancial de jovens entre 15 aos 19 anos que tm o trabalho como seu principal meio de vida (de 20.4% em 2001 passam a apenas 6.2% em 2011), passando a grande maioria desta faixa etria a fcar a cargo da famlia (de 76.3% em 2001 aumenta para 86.1% em 2011). Tal acontece, certamente, devido ao prolongamento das carreiras escolares e ao consequente adiamento das inseres profssionais no curso de vida dos jovens.Esta ordem de fatores ter tambm produzido, na ltma dcada, uma certa homogeneizao das diferenas degneronoquerespeitasituaodeindependnciaeconmicaemrelaofamlia,bemcomo paralela substtuio da famlia pelo rendimento do trabalho como principal meio de vida. Se em 2001 35% da populao jovem masculina vivia a cargo da famlia, proporo essa que atngia 43.7% entre a populao feminina,jem2011essedesfasamentoquasenosenota,sendopratcamenteequivalenteaproporo de rapazes e raparigas que encontram na famlia o seu principal meio de vida (46% e 47%, respetvamente). Do mesmo modo, se em 2001 60.5% dos rapazes j tnham no trabalho a sua principal fonte de rendimento, sendo 50.3% a populao jovem feminina em situao equivalente, em 2011 essa diferena de gnero diminui substancialmente (para 45.4% e 42%, respetvamente).Osdadosdenotam,portanto,oprogressivodesvanecerdocenriodeautonomizaofnanceiraporvia de uma insero no mercado de trabalho mais tardia por parte das raparigas relatvamente aos rapazes. O decrscimo da situao de dependncia econmica face famlia, bem como de acrscimo no rendimento do trabalho como principal fonte de rendimento, hoje, igualmente, proporcional entre rapazes e raparigas medida que se avana na idade, ao contrrio do que se passava h dez anos atrs. A, de facto, notava-se ainda os rapazes a comearem a viver do rendimento proveniente do trabalho mais cedo que as raparigas, que permaneciam na dependncia da famlia at mais tarde e em maior escala.Figura 14Populao jovem residente por principal meio de vida, Portugal, 2001 e 2011 (%)Trabalho43,755,72001 2011A cargo da famliaOutros subsdios temporrios (doena, maternidade, etc.)Subs. Temporrio por acidente de trabalhoSubsidio de desemprego0,60,12,239,30,30,21,8R di i id /Rendimentos de propriedade e da empresaApoio SocialPenso/ReformaA cargo da famlia0,10,80,546,60 40,90,40,5Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.0204060Outro meio de vidaRendimento mnimo garantido /Rendimento social de insero4,11,21,40,4Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.21Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011Naanlisedastransformaesrecentesnoprincipalmeiodevidadosjovensportugueses,aindade considerarofactodemeiosdevidaresiduaisentreapopulaojovemat2001teremassumidomaior importncia na ltma dcada: o rendimento mnimo garantdo, atualmente rendimento social de insero, em 2001 abrangia apenas 0.4% da populao entre os 15-29, passando a abranger 1.2% em 2011 (proporo queaumentapara1.5%nosescalesetriosentre20-29anos).Osjovensquevivemdeapoiossociais tambm passaram de 0.4% para 0.8%, atngindo 1.4% no escalo etrio entre 15-19 anos. Destaque-se ainda o notrio aumento de jovens que tm outras situaes como meio de vida, situaes atpicas no previstas no inqurito censitrio, as quais abrangiam 1.4% da populao jovem em 2001, aumentando para 4.1% desta em 2011.Quandosetomaporrefernciao principalmeiodevidadapopulao jovememsituaodedesemprego, seriaplausvelahiptesedeum aumentodasuadependnciaface famliaconsiderandoofranco crescimentododesempregonoatual contextoportugus.Ora,embora amaioriaseencontreacargoda famlia,ofactoqueseverifcauma ligeiradiminuiodestainstncia comoprincipalmeiodevidapara esta populao entre 2001 e 2011 (de 63.4%descepara58.7%)(fgura15). Diminui tambm a proporo de jovens quetmnosubsdiodedesemprego aprincipalfontederendimento(de 20.8% em 2001 para 12.4% em 2011).Emcontraponto,interessante verifcaroaumentodepopulao jovemque,emboraemsituaode desemprego,temnotrabalhooseu principalmeiodevida,vislumbrando-seocrescimentodeumasituao queassumecontornosdetrabalho informal:sobede8.1%em2001para 15.2% em 2011, atngindo os 20.2% na faixaetriaentreos25e29anos.No espaodeumadcada,estasituao detrabalhoinformaltorna-semais frequentequeorecursoaosubsdio de desemprego, o que poder sugerir que as crescentes difculdades de acesso a este subsdio por parte dos jovens conduzem ao trabalho informal como forma de sobrevivncia num mercado formal de trabalho em compresso.ConclusesA anlise realizada permite discernir trs grandes tendncias estruturantes da situao social dos jovens de hoje, em Portugal. Em primeiro lugar, a sua compresso demogrfca. Se verdade que a anlise das estmatvas da populao residente, atualizadas luz dos resultados do ltmo ato censitrio de 2011, revelam que entre 2010 e 2011, pela primeira vez desde os fnais dos anos 80, verifcou-se um decrscimo da populao portuguesa; no menos verdade que esta quebra da populao geral vem acompanhar um outro fenmeno j em curso desde meados da dcada de noventa do sculo passado: a progressiva e acelerada diminuio da populao jovem Figura 15Populao jovem residente ativa, desempregada, por principal meio de vida, Portugal, 2001 e 2011 (%)Trabalho15,28,12001 2011A cargo da famliaOutros subsdios temporrios(doena, maternidade, etc.)Subs. Temporrio por acidente de trabalhoSubsidio de desemprego58 70,90,112,463,40,70,120,8Rendimentos de propriedade e da empresaApoio SocialPenso/ReformaA cargo da famlia1,20,04,858,70,50,21,8Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.0 10 20 30 40 50 60 70Outro meio de vidaRendimento mnimo garantido / Rendimento social de insero6,60,14,40,1Fonte: INE, Recenseamentos da populao 2001 e 2011.22Revista de Estudos Demogrfcos, n 54nacional. Esta tendncia confrmou-se nestes ltmos censos, tendo a populao portuguesa dos 15 aos 29 anos decrescido 21,3% entre 2001 e 2011. No mesmo sentdo, assistmos diminuio progressiva do peso da populao jovem no conjunto da populao geral portuguesa entre 2001 e 2011. Os jovens representam neste momento apenas 1/6 da populao total geral.Numaanlisemaisdesagregada,verifca-sequeaevoluodemogrfcadapopulaojovemporgrupos etrios revela igualmente uma tendncia de decrscimo para todos os grupos etrios. Neste contexto, a forte quebraregistadanondicedecrescimentodosescalesentre20e24anoseentre25e29anos,poder dever-se ao facto de possivelmente serem mais afetados pelos efeitos da crise econmica na descida do saldo migratrio do pas. Finalmente, e no que toca distribuio dos jovens pelo territrio portugus, os censos de2011noapresentamgrandesvariaesfaceaosde2001,masvmconfrmartendnciasjemcurso h algumas dcadas, nomeadamente a consolidao da crescente urbanizao e litoralizao da populao jovem e do processo generalizado de envelhecimento da populao portuguesa em todas as zonas do pas.Um segundo trao estruturante da evoluo recente da populao jovem portuguesa reside na sua notvel progresso no sistema escolar. Os dados apurados atestam-no, inequivocamente. Neste perodo, no apenas sereforaaalunizaodosjovensadolescentesem2011,eramjquase84%osjovenscomidades compreendidas entre os 15 e os 19 anos que contnuavam no sistema de ensino como aumenta tambm, embora a menor ritmo, a proporo de estudantes entre os jovens dos escales etrios subsequentes. A este respeito observam-se, como vimos, variaes de gnero: no espao de uma dcada, as raparigas progridem maisnosistemadeensino.Noobstante,osprogressostambmverifcadosnomasculinoconseguiram atenuar as acentuadas disparidades escolares que, no incio da dcada, separavam rapazes e raparigas.Porsuavez,osprogressosnaescolaridadejuvenilnesteperodosoatestados,querpelaqualidadedas trajectrias educatvas ostentadas pelos jovens que ainda frequentam o sistema de ensino diminuio dos percursos de atraso nos estudos face idade ostentada, avano para nveis subsequentes de ensino quer, ainda, pela melhoria do perfl de diplomao obtda pela populao juvenil que j no se encontra a estudar- reduodrstcadoabandonoescolardesqualifcado,reforodosdiplomasdeescolaridadeintermdiae avanada. Mais uma vez, neste caso tambm, as diferenas entre os dois sexos evidenciam-se neste perodo: as raparigas reforam signifcatvamente o seu investmento ao nvel dos ttulos escolares avanados (ensino mdio,ps-secundrioesuperior),aopassoqueosrapazestendemmaisaabandonarosestudosaps completarem o 3 ciclo do ensino bsico ou o ensino secundrio.Porltmo,verifcam-sedifculdadesacrescidasnoacessodosjovensportuguesesaotrabalho.Como pudemos verifcar, a relatva generalizao do acesso ao sistema educatvo aumentou o contngente de jovens estudantes e prolongou a sua estadia na escola. Este contexto favoreceu a crescente desatvao dos jovens em relao ao trabalho, sem dvida, mas tambm o aumento de condies atpicas de inatvidade entre os jovens, decorrente dos condicionalismos estruturais que determinaram a recente compresso do mercado de trabalho, difcultando o processo de insero profssional de cada vez mais jovens. O processo de insero profssional dos jovens no se encontra apenas difcultado entrada ( junto do grupo etrio entre 15-19 anos que encontramos os maiores ndices de crescimento de inatvidade e de desemprego entreosjovensnaltmadcada),mastambmnasuapermannciaecontnuidade,considerandoo aumento muito assinalvel de situaes atpicas de atvidade e de inatvidade nesse perodo de tempo (que podero remeter para situaes de informalidade laboral e/ou de nem trabalhar, nem estudar), bem como de situaes de recurso a apoios sociais como meio de vida principal.Osnveisdedependnciafnanceiradosjovensemfunodafamliadeorigemcresceramigualmente relatvamente ao trabalho como meio de vida principal, verifcando-se o crescimento deste ltmo como meio de vida de muitos jovens desempregados, o que remete para o aumento das situaes de trabalho informal e precrio nos itnerrios juvenis.Desta caracterizao, conclui-se que os jovens portugueses, no plano da insero profssional, foram bastante vulnerveis s mutaes econmicas e sociais que ocorreram em Portugal nos ltmos 30 anos. De facto, as camadas juvenis tm-se confrontado cada vez mais, nos ltmos anos, com o prolongamento da sua situao 23Retrato da juventude em Portugal: traos e tendncias nos censos de 2001 e 2011de dependncia da famlia de origem, vendo-se simultaneamente complexifcada e retardada a sua insero estvel e duradoura na vida atva.Ocenriotraadoindicia,assim,umretardamentoetrionaentradanomundodotrabalho,bemcomoo prolongamentodessacondiosocialquesetomacomojuventude,considerandoqueaquelemarcador em Portugal um dos mais valorizados socialmente na passagem ao estatuto de adulto, implicando em outras dimenses da transio para a adultcia (Ferreira e Nunes, 2010).Comefeito,asdifculdadesacrescidasdeinserosocioprofssionaldosjovens,asnovasmodalidadesde entrada no mercado de trabalho, mais fexveis, precrias e at mesmo informais, a falta de proteo social a que esto sujeitos, tm consequncias na sua vida quotdiana, afetando as formas de transio para a vida adulta nas suas vrias esferas: as difculdades de autonomia fnanceira por que passam resultam na dilatao temporal da sua situao de dependncia da famlia de origem, no adiamento de projetos de conjugalidade e de parentalidade, na procura de alternatvas laborais no estrangeiro, identfcando, em suma, a ausncia de condies favorveis sua emancipao e autonomia social. 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