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Epidemiologia e Serviços de Saúde R E V I S TA D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L | Volume 14 - Nº 3 - julho / setembro de 2005 | ISSN 1679-4974 3

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artigos neste número

Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 14 - Nº 3 - julho / setembro de 2005 |

ISSN 1679-4974

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» Utilização de dados censitários em substituição a informaçõessocioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica

Guilherme L. Werneck e Carlos H. N. Costa

» Aspectos demográficos do processo de envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

Gilberto Berguio Martin, Luiz Cordoni Júnior e Yara Gerber Lima Bastos

» Considerações sobre a qualidade de informações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá,Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998

Thais Aidar de Freitas Mathias, Maria Helena Prado de Mello Jorge, Ruy Laurenti e Tirza Aidar

» Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreascontempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil

Lena Lillian Canto de Sá, Iracina Maura de Jesus, Elisabeth C. Oliveira Santos,Elivam Rodrigues Vale, Edvaldo Carlos Brito Loureiro e Elisa Viana de Sá

» Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987 a 1996

Silvana Tadeu Casagrande, Maricene Garbelloti, Alice Mori Kobata,Maria Lúcia Rocha de Mello e Neuma T. Hidalgo

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Epidemiologia e Serviços de Saúde

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| Vol u me 14 - No 3 - julho / setembro de 200 5 |

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R E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

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Editor GeralJarbas Barbosa da Silva Júnior - SVS/MS

Editora ExecutivaMaria Regina Fernandes de Oliveira - SVS/MS

Editores AssistentesAna Maria Johnson de Assis - SVS/MSErmenegyldo Munhoz Junior - SVS/MSMargarida Maria Paes Alves Freire - SVS/MSMaria Margarita Urdaneta Gutierrez - SVS/MS

Editor de TextoErmenegyldo Munhoz Junior - SVS/MS

Editor GráficoFabiano Camilo

Comitê EditorialDenise Aerts - Ulbra/RSEliseu Alves Waldman - FSP/USP/SPJosé Cássio de Moraes - FCM-SC/SPMaria Cecília de Souza Minayo - Fiocruz/RJMaria Fernanda Lima-Costa - NESP/CPqRR/Fiocruz/MGMarilisa Berti de Azevedo Barros - FCM/UnicampMaurício Lima Barreto - ISC/UFBA/BAMoisés Goldbaum - FM/USP/SPPaulo Chagastelles Sabroza - ENSP/Fiocruz/RJPedro Luiz Tauil - FM/Unb/DF

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Projeto EditorialAndré FalcãoTatiana Portela

Projeto GráficoFabiano Camilo

Revisão de TextoWaldir Rodrigues Pereira

Normalização BibliográficaRaquel Machado Santos

Editoração EletrônicaEdite Damásio da Silva

Tiragem25.000 exemplares

© 2003. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.Os artigos publicados são de responsabilidade dos autores.É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.

ISSN 1679-4974

Epidemiologia e Serviços de Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde. - Brasília : Ministério da Saúde, 1992- Trimestral ISSN 1679-4974 ISSN 0104-1673 Continuação do Informe Epidemiológico do SUS. A partir do volume 12 número 1, passa a denominar-se Epidemiologia e Serviços de Saúde 1. Epidemiologia.

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Sumário

Editorial

Utilização de dados censitários em substituição a informações socioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica

Use of Census Information to Proxy Individual Socioeconomic Characteristics: an Empirical Evaluation

Guilherme L. Werneck e Carlos H. N. Costa

Aspectos demográficos do processo de envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

Demografic Aspects of Ageing Process in a Brazilian Southern City

Gilberto Berguio Martin, Luiz Cordoni Júnior e Yara Gerber Lima Bastos

Considerações sobre a qualidade de informações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998

Aspects Concerning the Quality of Mortality Information in the Elderly Population Resident in the Municipality of Maringá, Paraná State, Brazil, from 1979 to 1998

Thais Aidar de Freitas Mathias, Maria Helena Prado de Mello Jorge, Ruy Laurenti e Tirza Aidar

Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreas contempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil

Microbiolgical Quality of Drinking Water in two Areas Following Sanitation Interventions – Belém, Pará State, Brazil

Lena Lillian Canto de Sá, Iracina Maura de Jesus, Elisabeth C. Oliveira Santos, Elivam Rodrigues Vale, Edvaldo Carlos Brito Loureiro e Elisa Viana de Sá

Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987 a 1996

Laboratorial Diagnosis of Diphtheria and the Practice of Material Collection from Contacts as a Strategy of Epidemiological Surveillance - Metropolitan Area of São Paulo, 1987 to 1996

Silvana Tadeu Casagrande, Maricene Garbelloti, Alice Mori Kobata, Maria Lúcia Rocha de Mello e Neuma T. Hidalgo

Normas para publicação

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Editorial

A complexidade da configuração epidemiológica brasileira e o SUS

Diferentemente do previsto por Omran (1971),1 as mudanças na configuração epidemiológica dos países não ocorreram no sentido da substituição das doenças infecto-parasitárias pelas doenças não transmissíveis e pelas causas externas. Em vez disso, observa-se a sobreposição de

padrões, revelando a complexidade da realidade sanitária dos países. Convivem, lado a lado, doenças transmissíveis há muito existentes, doenças emergentes e re-emergentes, com os acidentes de trânsito, homicídios, neoplasias, doenças do aparelho circulatório, diabetes e suas complicações.

A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde traz, nesta edição, artigos que retratam a complexa configuração epidemiológica brasileira. Em “Utilização de dados censitários em substituição a informações socioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica”,2 os autores comparam a qualidade dos dados secundários e dos coletados por meio de questionários individuais. Para tanto, utilizam o banco de dados de um estudo de casos e controles que foi, inicialmente, desenvolvido para investigar o impacto da ocupação urbana e degradação ambiental na incidência da leishmaniose visceral em Terezina, Piauí.

No artigo “Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987-1996”,3 os pesquisadores demonstram que, em função da importante redução da incidência dessa doença nas últimas décadas, os profissionais de saúde apresentam pouca experiência no diagnóstico da difteria, sendo de vital im-portância o uso de exames laboratoriais na confirmação de casos suspeitos.

Em “Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreas contempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil”,4 os autores investigam a qualidade da água, enfatizando a necessidade de sua vigilância na prevenção de doenças de veiculação hídrica.

Somando-se às necessidades geradas pelas doenças transmissíveis, o aumento da população de idosos determina novas necessidades, demandando a reorganização do Sistema Único de Saúde, SUS, frente a essa diversidade. Essa situação é explicitada nos artigos “Aspectos demográficos do processo de enve-lhecimento populacional em cidade do sul do Brasil” 5 e “Considerações sobre a qualidade de infor-mações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998”.6 Os seus autores apontam a importante contribuição dos idosos na população geral, retratando o momento de consolidação da transição demográfica brasileira.

Se, por um lado, é preciso ampliar a cobertura vacinal, intensificar a vigilância de doenças transmissíveis e da saúde ambiental, por outro, cada vez mais, necessita-se de uma rede de serviços e de profissionais de saúde capacitados para o atendimento e prevenção das doenças não transmissíveis. Nesse sentido, é de vital importância que se promova, desde a infância, a adoção de hábitos alimentares saudáveis e atividades físicas, e o combate ao consumo de tabaco, álcool e drogas.

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A complexa configuração epidemiológica brasileira demanda o contínuo investimento em estudos sobre as condições de vida e saúde da população e seus determinantes, bem como na avaliação de tecnologias, programas e serviços disponíveis. Nesse contexto, a Epidemiologia e Serviços de Saúde cumpre importante papel na disseminação de informações e conhecimentos, proporcionando a troca de experiências em todo território nacional.

Denise AertsMembro do Comitê Editorial

Referências bibliográficas

1. Omran, AR. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change. Milbank Mem. Fund. Q. 1971; 49:509-83.

2. Werneck G, Costa CHN. Utilização de dados censitários em substituição a informações socioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3):153-60.

3. Casagrande ST, Garbelloti M, Kobata AM, Rocha de Mello ML, Hidalgo NT. Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987-1996. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3):191-200.

4. Canto de Sá LL, de Jesus IM, Santos ECO, Vale ER, Loureiro ECB, Viana de Sá E. Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreas contempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3):181-90.

5. Martin GB, Cordoni Jr L, Bastos YGL. Aspectos demográficos do processo de envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3):161-8.

6. Mathias TAF, Mello Jorge MHP, Laurenti R, Aidar T. Considerações sobre a qualidade de informações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3):169-79.

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Resumo

A obtenção de informação socioeconômica em nível individual nem sempre é uma tarefa de simples execução. Muitos pesquisadores optam por substituir a informação individual por dados socioeconômicos derivados de recenseamentos censitários. O objetivo deste artigo é avaliar a validade do uso de dados censitários em substituição às informações geradas em nível individual. Com base em estudo de caso-controle de base populacional para investigar o impacto da ocupação urbana e degradação ambiental na incidência de leishmaniose visceral no Município de Teresina, Estado do Piauí, Brasil, são comparadas estimativas de efeito para diferentes fatores de risco quando controladas, ora para variáveis censitárias, ora para variáveis obtidas mediante entrevistas individuais. Considerando-se uma discrepância relativa de 10% ou menos como critério de similaridade entre as razões de chance [odds ratios (OR)] obtidas com dados individuais (ORi) e dados censi-tários (ORc), percebe-se que 47% das estimativas de ORc poderiam ser consideradas medidas diferentes daquelas obtidas pela ORi. Tomando-se a ORi como “padrão-ouro”, a especificidade e a sensibilidade da ORc foram de apenas 60%. O uso de variáveis “censitárias” tende a não prover correção efetiva para fatores de confusão socioeconômicos. Dados censitários não devem ser considerados, por si só, bons substitutos de dados individuais, mas expressões de conceitos que operam em outro nível hierárquico de determinação.

Palavras-chave: fatores socioeconômicos; censos; fatores de confusão; viés; falácia ecológica.

Summary

Gathering socioeconomic information at the individual level is not a simple task. Many researchers use census data as a proxy for individual characteristics. The objective of this report was to evaluate the validity of the use of census information as a proxy for individual socioeconomic characteristics. Using data from a population-based case-control study to investigate the impact of land occupation and environmental degradation on the incidence of visceral leish-maniasis in the Municipality of Teresina, Piauí State, Brazil, this report compares measures of effect for different risk factors, controlling for census variables and individual-level variables. Considering a relative discrepancy of 10% or less as a criterion of similarity between the odds ratios (OR) obtained by using individual level socioeconomic variables (ORi) and census data (ORc), some 47% of the estimates of ORc could be considered as a different estimate, compared to the ORi. Considering the ORi as the gold-standard, the specificity and sensitivity of the ORc were both approximately 60%. The use of census variables does not necessarily provide effective control for socioeconomic confounding. Cen-sus data should not be considered by themselves good substitutes for individual-level data as they represent different concepts that operate in another level of determination.

Keywords: socioeconomic factors; censuses; confounding factors; bias; ecological fallacy.

Use of Census Information to Proxy Individual Socioeconomic Characteristics: an Empirical Evaluation

ARTIGO ORIGINAL

Guilherme L. WerneckInstituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJNúcleo de Estudos de Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ

Carlos H. N. CostaInstituto de Doenças Tropicais Nathan Portella , Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI

Utilização de dados censitários em substituição a informações socioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica

Endereço para correspondência: Rua São Francisco Xavier, 524, 7º andar, Bloco D, Maracanã, Rio de Janeiro-RJ. CEP: 20559-900E-mail: [email protected]

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Introdução

A utilização de informações socioeconômicas na pesquisa epidemiológica é de importância capital. Sua necessidade sucede das substanciais evidências de conexões entre estrato social, emprego, educação e renda e eventos ligados à saúde.1-10 O interesse nesse tipo de informação não é privilégio dos estudos que exploram o papel de fatores socioeconômicos na determinação do adoecer. Mesmo naqueles estudos que não focalizam essas relações, é praticamente inevitável que algumas dessas variáveis cumpram os requisitos básicos para serem consideradas fatores de confusão e devam, portanto, ser incluídas na análise dos dados.11

A obtenção de dados socioeconômicos em nível in-dividual nem sempre é uma tarefa de simples execução. Entrevistas individuais associadas à inspeção detalhada da habitação são estratégias comumente utilizadas na pesquisa epidemiológica, mas esses procedimentos apresentam limitações inerentes à dificuldade de operacionalização de conceitos complexos como os de classe social, poder de compra, mobilidade social, entre outros.12-15

Mesmo que se ignorem tais restrições conceituais, alto custo e as dificuldades logísticas na coleta de dados, ainda assim, nem sempre há garantia de que sejam obtidas informações válidas. O problema é mais evidente na medida em que se amplia, progressiva-mente, a disponibilidade de grandes bancos de dados informatizados sobre morbidade e mortalidade e a sua utilização como fonte de dados para estudos epide-miológicos.16 Essas bases de dados podem contribuir para ampliar nossa compreensão acerca da qualidade da assistência à saúde e do papel desempenhado por diferentes fatores na produção do adoecimento. Infe-lizmente, informações socioeconômicas válidas nem sempre estão disponíveis nos instrumentos utilizados para a coleta desses dados.

Para superar esses problemas, muitos pesquisado-res optam pela utilização de dados socioeconômicos derivados de recenseamentos censitários.11,17-19 Na abordagem deste estudo, os indivíduos são caracteri-zados pelo perfil socioeconômico do setor censitário onde está localizada a sua residência. Se essa solução não é a ideal, pode-se aventar que, pelo menos do ponto de vista do controle do confundimento em estu-dos epidemiológicos, é possível que algumas variáveis

obtidas no nível agregado sejam boas aproximações daquelas que seriam obtidas mediante entrevista indivi-dual. Como conseqüência, sua inclusão em modelos de regressão permitiria a estimação acurada das medidas de associação de interesse.

Resultados de alguns estudos sobre a validade do uso de informações socioeconômicas derivadas do censo em substituição à informação individual são conflitantes.20-23 Até o momento da conclusão deste relato, não foram detectados estudos desse tipo no contexto brasileiro. Nesse sentido, torna-se relevante a elaboração de trabalhos sobre o tema, gerando informações que possam ampliar as oportunidades de desenvolvimento de estudos epidemiológicos em nosso meio.

Aqui, são relatados os resultados de uma avaliação empírica da validade do uso de dados censitários, em substituição às informações geradas em nível indi-vidual, sobre um estudo de base populacional para investigar fatores de risco para leishmaniose visceral no Município de Teresina, Estado do Piauí.

Metodologia

Entre 1995 e 1996, um estudo de caso-controle de base populacional para investigar o impacto da ocu-pação urbana e degradação ambiental na incidência de leishmaniose visceral (LV) foi desenvolvido em Teresina, Piauí. Entre julho de 1995 e fevereiro de 1996, todos os novos casos de leishmaniose visceral notificados à representação da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em Teresina foram selecionados. O diagnóstico baseou-se no quadro clínico, na identifi-cação de Leishmania chagasi em aspirado de medula óssea ou na presença de testes sorológicos positivos para L. chagasi. Foram consideradas elegíveis para participar do estudo apenas as pessoas acima de um ano de idade e residentes em Teresina à época do diagnóstico. Entre os 62 pacientes elegíveis, seis (10%) morreram imediatamente após o diagnóstico e 12 (19%) não puderam ser localizados. Este estudo inclui resultados para 44 casos de leishmaniose visceral.

Entre junho de 1995 e maio de 1996, 200 resi-dências foram amostradas aleatoriamente, a partir de uma lista de endereços registrada na companhia elétrica do Estado do Piauí (Cepisa). Naquela época, essa lista cobria cerca de 93% das habitações urbanas de Teresina. Uma pessoa em cada residência acima

Uso de dados censitários em substituição a informação individual

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de um ano de idade e sem evidência clínica de LV foi selecionada como controle. Um total de 176 (88%) controles elegíveis ou adultos responsáveis comple-tou as entrevistas. Oito pessoas (4%) recusaram-se a participar do estudo e 16 (8%) não puderam ser localizadas.

Um questionário, estruturado com perguntas pré-codificadas, foi utilizado para entrevista, incluindo diversos fatores relacionados, potencialmente, à ocorrência de leishmaniose visceral, como idade, sexo, presença de cão doméstico e outros animais, tipo de moradia, entre outros. Informações detalhadas sobre condições sanitárias e sociais também foram levantadas em inspeção direta do interior da habitação e do peridomicílio.

A localização dos domicílios foi determinada utilizando-se um sistema de posicionamento global. Dados socioeconômicos em nível de setor censitário, provenientes do Censo de 1991, foram vinculados às residências dos indivíduos mediante sistema de infor-mação geográfico.24

Com o objetivo de avaliar a aplicabilidade de dados censitários em substituição às informações obtidas em nível individual para fins de controle de confundimento, procedeu-se da seguinte maneira: (1) seleção das vari-áveis socioeconômicas disponíveis em nível individual e censitário; (2) estimativa dos riscos relativos associados a cada uma das variáveis socioeconômicas; (3) seleção de variáveis de interesse primário do estudo – ou seja, aquelas para as quais se desejam obter estimativas de risco relativo, controladas para confundimento socio-econômico –; (4) estimativa dos riscos relativos asso-ciados às variáveis de interesse primário, controlando, ora para variáveis socioeconômicas no nível individual, ora para aquelas derivadas do censo; e (5) comparação dos resultados entre os modelos.

As seguintes variáveis socioeconômicas estavam disponíveis nos níveis individual e censitário: esco-laridade do chefe da família; abastecimento de água com canalização interna; esgotamento sanitário ligado à rede geral ou fossa séptica; e recolhimento de lixo. As variáveis socioeconômicas disponíveis em nível individual foram dicotomizadas em sim/não (água e esgoto), regular/irregular (recolhimento de lixo) e até 4a série/>4a série (escolaridade). As variáveis socioeconômicas disponíveis em nível censitário, originalmente expressas como percentuais, foram dicotomizadas segundo critérios apontados por mo-

delos de árvores de classificação,25 da seguinte forma: abastecimento de água (< ou >18% dos domicílios); esgotamento sanitário (< ou >60%); recolhimento de lixo (< ou >2%); e chefes de família sem escolaridade (< ou >35%).26

As variáveis de interesse primário e selecionadas para avaliação foram: relato de recolhimento de cão pela Funasa, em razão da infecção por L. chagasi nos 12 meses que antecederam a entrevista (sim/não); relato de presença de raposas nas redondezas da habitação (sim/não); e grau de exposição domiciliar ao vetor L. longipalpis (alto/baixo). Tanto a presença de cães infectados como a de raposas no peridomicílio são consideradas fatores de risco para leishmaniose visceral, por serem esses animais reservatórios do-mésticos e selvagens da infecção, respectivamente.27 O grau de exposição domiciliar também pode ser considerado um fator de risco, na medida em que reflete a probabilidade de o flebotomíneo invadir a residência para se alimentar em humanos.28 Um domicílio seria classificado como de “alto” grau de exposição ao flebotomíneo se possuísse pelo menos duas das três seguintes características: habitação não completamente coberta por laje e/ou telha; ausência de forro completo na sala e quartos; e mais de quatro moradores permanentes.

Todas as variáveis socioeconômicas incluídas neste estudo são, teoricamente, potenciais fatores carreado-res de confusão. Por um lado, elas têm sido apontadas como fatores de risco para a ocorrência de leishmanio-se visceral,29 por outro lado, estão associadas, na base populacional, às três exposições em questão.

Utilizou-se regressão logística não condicional para obter razões de chance como estimativas dos riscos relativos associados a cada variável de interesse primá-rio.30 Para cada variável socioeconômica, dois modelos foram ajustados: um com a variável “individual” e o outro com a respectiva contraparte “censitária”. Para cada variável de interesse primário, dois grupos de modelos de regressão foram ajustados (um incluindo

Guilherme L. Werneck e Carlos H. N. Costa

A utilização de informações socioeconômicas na pesquisa epidemiológica, como estrato social, emprego, nível de educação e renda, é de importância capital.

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a variável socioeconômica “individual”; e outro, a respectiva contraparte “censitária”). Todos os modelos consideraram idade como co-variável. Comparando-se as razões de chance [odds ratios (OR)] obtidas me-diante a utilização de modelos ajustados com a variável censitária (OR

c) e com a variável individual (OR

i),

pode-se obter uma medida-resumo para quantificar o viés induzido pela substituição da variável “individual” pela “censitária”, que foi denominada de discrepância relativa, definida como:31

Resultados

A Tabela 1 mostra os resultados das associações entre variáveis socioeconômicas e ocorrência de LV. Houve grande variação nas razões de chance, parti-cularmente para as variáveis abastecimento de água e esgotamento sanitário, devendo-se salientar que apenas a primeira dessas duas, além do recolhimento de lixo,

mostrou-se associada com a ocorrência de LV de ma-neira significativa. Nota-se, também, que as razões de chance associadas às variáveis censitárias tenderam, sistematicamente, para o valor nulo (OR=1), quando comparadas com aquelas estimadas utilizando-se mo-delos com variáveis individuais.

Os resultados das associações entre as variáveis de interesse primário e a ocorrência de LV estão apresentados na Tabela 2. Adotando-se, como critério para existência de confundimento, a modificação em mais de 10% da razão de chances estimada com ajustamento apenas para idade, pode-se observar que, em nível individual, a variável abastecimento de água confunde as relações entre ocorrência de LV e recolhimento de cão e presença de raposa; escolaridade confunde a relação entre LV e grau de exposição do domicílio; e a variável recolhimento de lixo confunde a relação entre LV e presença de raposa no peridomicílio. Quando são ajustadas todas as quatro variáveis, simultaneamente, há evidência de confundimento apenas para a relação entre ocorrên-cia de LV e presença de raposa.

Tabela 1 - Razões de chance (OR) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) para leishmaniose visceral associados com variáveis socioeconômicas obtidas em nível individual e censitário, no Município de Teresina, Estado do Piauí. Brasil, 1995 - 1996

Característica OR individual a IC95% OR censitário a IC95% Discrepância relativa

Abastecimento de água

Melhor categoria 1,00 1,00

Pior categoria 6,99 1,32-37,00 3,24 1,19-8,78 -0,54

Esgotamento sanitário

Melhor categoria 1,00 1,00

Pior categoria 2,80 0,39-19,90 1,13 0,41-3,07 -0,60

Escolaridade

Melhor categoria 1,00 1,00

Pior categoria 2,42 0,86-6,78 2,18 0,89-5,33 -0,10

Recolhimento de lixo

Melhor categoria 1,00 1,00

Pior categoria 5,40 1,88-15,50 4,92 1,89-12,90 -0,09

a) Ajustado por idade

ORc - OR

i

ORi

Uso de dados censitários em substituição a informação individual

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Os resultados fornecidos pelo ajuste via variável censitária são, até certo ponto, decepcionantes. Se considerarmos um critério de similaridade entre as OR

i

e ORc baseado em uma discrepância relativa de 10%

ou menos, pode-se perceber que, entre as 15 medidas

calculadas, 47% delas estariam fora desse critério, ou seja, poderiam ser consideradas medidas diferentes daquelas obtidas pela OR

i. Tomando-se a OR

i como

"padrão-ouro", a especificidade e a sensibilidade da OR

c são de apenas 60% (6/10 e 3/5, respectivamente).

Guilherme L. Werneck e Carlos H. N. Costa

Tabela 2 - Razões de chance (OR) e intervalos de confiança de 95% (IC95%) para leishmaniose visceral associados com recolhimento de cão pela Fundação Nacional de Saúde em razão da infecção por

L. chagasi nos 12 meses que antecederam a entrevista, relato de presença de raposas na redondeza do domicílio e grau de exposição domiciliar ao vetor L. longipalpis, ajustados para variáveis socioeconômicas (individual e censitária), no Município deTeresina, Estado do Piauí.

Brasil,1995 - 1996

Variável socioeconômica de ajuste

Recolhimento de cão pela Funasa nos 12 meses anteriores(sim versus não) Discrepância

relativa

Presença de raposa(sim versus não)

Discrepânciarelativa

Grau de exposição do domicílio ao flebotomíneo

(alto versus baixo) Discrepânciarelativa

Nível da variável de ajuste individual censitária individual censitária individual censitária

Ajuste apenas por idade

4,67 a

(1,16-18,67) a

9,90 a

(1,89-51,84) a

3,40 a

(1,32-8,75) a

Abastecimento de água

5,32(1,28-22,1)

4,82(1,23-18,9)

-0,097,78

(1,21-49,9)6,51

(1,11-38,2)-0,16

3,63(1,33-9,93)

3,38(1,30-8,77)

-0,07

Esgotamento sanitário

4,74(1,16-19,3)

5,02(1,23-20,5)

0,069,90

(1,88-52,3)10,1

(1,88-53,8)0,02

3,35(1,30-8,62)

3,41(1,32-8,78)

0,02

Escolaridade 4,30(1,06-17,4)

5,01(1,27-19,8)

0,178,97

(1,67-48,1)7,98

(1,44-44,1)-0,11

3,05(1,17-7,94)

3,26(1,26-8,42)

0,07

Recolhimento de lixo

4,46(1,12-17,8)

5,77(1,43-23,2)

0,293,86

(0,57-25,9)5,21

(0,87-31,3)0,35

3,48(1,32-9,16)

3,49(1,32-9,19)

0,00

TOTAL4,70

(1,12-19,7)5,94

(1,43-24,6)0,26

4,83(0,60-38,7)

5,48(0,85-35,1)

0,133,62

(1,29-10,2)3,79

(1,41-10,2)0,05

a) Razão de chances e intervalos de confiança de 95% ajustados por idade; todas as outras razões de chance e respectivos intervalos de confiaça de 95% apresentados são ajustados por idade e variável socioeconômica.

Page 13: Rev Epi Vol14 n3

148 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Ademais, nas três situações em que a ORc indica a

existência de confundimento em concordância com o OR

i, as duas medidas divergem em mais de 10%,

levando a conclusões bastante diferentes sobre os efeitos postulados.

Discussão

Os resultados deste estudo indicam que os efeitos de variáveis socioeconômicas tendem a ser atenu-ados quando se utilizam dados obtidos em nível censitário, em substituição à informação individual, sugerindo um possível viés de má classificação não diferencial.

Um segundo aspecto evidenciado é o de que, toman-do-se a variável definida em nível individual como a mais adequada para fins de controle de confundimen-to, observou-se que o uso de variáveis “censitárias” tende a não prover correção efetiva para o efeito de confundimento socioeconômico.

Os resultados aqui apresentados não podem ser ge-neralizados facilmente, em função de, pelo menos, dois aspectos: (1) derivam de uma única experiência empí-rica, que, como tal, pode não traduzir as relações de ocorrência estudadas de maneira adequada, em função

de erros sistemáticos e/ou aleatórios; (2) mesmo que esses resultados sejam válidos e confiáveis, a experiência empírica captada é bastante particular, tanto no que diz respeito à população observada quanto às relações de ocorrência estudadas. Tendo em vista esses limites, os resultados apresentados podem ser úteis, como mínimo, para subsidiar reflexões sobre o tema.

Poder-se-ia supor, indutivamente, que a substitui-ção da informação individual pela censitária seria uma estratégia inadequada, seja para estimar riscos associados aos próprios fatores socioeconômicos, seja para permitir um conveniente ajuste para con-fundimento. Considerando os limites de inferência mencionados no parágrafo anterior, talvez seja o caso de se utilizarem esses resultados para questionar até que ponto a substituição de um tipo de informação por outro configura a questão de fundo mais relevan-te. Pode-se argumentar que, como princípio básico, dados censitários não devem ser considerados, por si, apenas bons substitutos de dados individuais. Eles são, também, expressões de conceitos que operam em um outro nível de determinação e que, em certas situações, talvez possam ser utilizados para tal fim. A situação inversa – dados individuais substituindo dados coletivos – deve ser considerada da mesma forma.

Conclui-se, dos resultados apresentados, que, mais do que rejeitar a hipótese geral de que os dados censi-tários servem como bons substitutos para informações individuais, eles apontam para a necessidade de uma reabilitação de abordagens mais integradas, onde o foco de investigação inclua não só fatores sociais e econômicos obtidos em nível individual, mas também as influências de características ambientais, culturais, sociais, grupais, na saúde das populações. Atualmente, o uso de modelos de múltiplos níveis (multiníveis), em que variáveis individuais e contextuais são simul-taneamente especificadas, parece ser a opção prefe-rencial para a análise de dados socioeconômicos em epidemiologia.

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Uso de dados censitários em substituição a informação individual

Os resultados apontam para a necessidade de uma reabilitação de abordagens mais integradas, onde o foco de investigação inclua não só fatores sociais e econômicos obtidos em nível individual, mas também as influências de características ambientais, culturais, sociais, grupais, na saúde das populações.

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[Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3) : 151 - 158] 151

Resumo

O trabalho analisa a evolução demográfica relacionada ao processo de envelhecimento no Município de Londrina, Estado do Paraná, Brasil. Foi estudada a evolução demográfica da população geral no período de 1970 a 2000, por sexo e faixa etária, utilizando-se como fonte de dados os censos populacionais da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Calculou-se o índice de envelhecimento e o índice de dependência, este subdividido em índice de dependência-jovem e índice de dependência-idoso. Os fenômenos observados foram: o processo migratório ocorrido com o êxodo rural (a população rural passou de 52,07% para, aproximadamente, 3%); redução do tamanho da família, com a intensificação da presença da mulher na chefia dos núcleos familiares; alterações na distribuição por faixa etária, com crescimento proporcional da população idosa (de 4,03% para 9,34%, no período estudado); aumento do índice de envelhecimento (de 0,10 para 0,35); e queda do índice de dependência total, basicamente em razão do índice de dependência-jovem e do aumento do índice de dependência-idoso, o que significa um impacto socioeconômico relevante.

Palavras-chave: demografia; envelhecimento populacional; transição demográfica.

Summary

This study analyses the demographic evolution of the population of the Municipality of Londrina, Paraná State, Brazil, in the aging process. The general population was studied over the period from 1970 to 2000 by gender and age, using population census data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics Foundation (IBGE). Ratios of aging and dependency were calculated, the latter ratio divided into youngest (age 0-15 years) and retirees (age 60+). The outcomes indicate: a strong migratory process due to a rural exodus (decline in rural population from 52.07% to 3%); smaller family size rates, and Increase in the number of female heads-of-family; changes in age distribution, with proportional growth of retired (from 4.03% to 9.34% during the period); aging ratio increase (from 0.10 to 0.35); and fall in the total dependency ratio due to the ratio for the youngest category and increase of the oldest, which demons-trating a relevant socioeconomic impact.

Key words: : demography; population aging; demographic transition.

Demographic Aspects of Ageing Process in a Brazilian Southern City

ARTIGO ORIGINAL

Gilberto Berguio MartinSecretaria de Estado da Saúde do Paraná, Curitiba-PR

Luiz Cordoni JúniorUniversidade Estadual de Londrina, Londrina-PR

Yara Gerber Lima BastosUniversidade Estadual de Londrina, Londrina-PR

Aspectos demográficos do processo de envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

Endereço para correspondência: Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências da Saúde, Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva. Rua Robert Koch, 60, Vila Operária, Londrina-PR. CEP: 86038-440E-mail: [email protected]; [email protected]

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152 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Introdução

Até recentemente, a compreensão vigente era a de que população envelhecida constituía uma realidade de países desenvolvidos e que o nosso país era um “país de jovens”. A situação atual, entretanto, é um pouco mais complexa. Vivemos em uma nação com grandes proporções de jovens, ao lado de uma crescente po-pulação que atingiu e passa dos 60 anos de idade. Essa realidade coloca para o Brasil, já há algum tempo, o grande desafio de alocar recursos para fazer frente às necessidades decorrentes desse quadro de sobreposi-ção, onde ambos os grupos etários apresentam intensa demanda por serviços.1,2

No início do século XX, tínhamos uma distribuição etária com 44,4% da população na faixa de zero a 14 anos, 52,3% na faixa de 15 a 59 anos, apenas 3,3% com 60 ou mais anos e uma expectativa de vida de pouco mais de 30 anos. Atualmente, 14.536.029 brasileiros contam com mais de 60 anos, representando 8,6% da população total. O número de idosos existente na nossa população faz do país responsável por um dos maiores contingentes de idosos do mundo.3

Com o processo do envelhecimento populacional, dá-se o fenômeno das chamadas transições Demográ-fica e Epidemiológica.4,5 Se esse processo de transição for comprimido e acontecer em um número menor de anos, as repercussões sociais serão muito acentu-adas, particularmente se os recursos materiais dessa sociedade forem limitados. Nesse caso, o maior desafio será o de absorver e lidar com as necessidades dos idosos, desde que as prioridades continuem como são, claramente relacionadas a outros grupos etários da população.6

O fenômeno também se faz presente no Municí-pio de Londrina, Estado do Paraná, onde, segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de 60 anos ou mais evoluiu de 3,41%, em 1960, para 7,32%, em 1991.7 Essa tendência apresenta uma característica preocu-pante. Se de um lado, observa-se a ausência de uma real melhoria das condições de vida de uma grande parcela dessas populações, de outro, contrariamente ao que ocorreu nos países desenvolvidos, o processo brasileiro dá-se com rapidez muito intensa.5-8

A transição demográfica por que passa o Brasil e a cidade de Londrina, particular objeto deste estudo, e suas conseqüências preocupantes refletem-se neste

trabalho, cujo objetivo é analisar a evolução demo-gráfica relacionada ao processo de envelhecimento da população residente no Município paranaense.

Metodologia

O estudo foi realizado no Município de Londrina, localizado a 380 quilômetros da capital do Estado do Paraná, Curitiba. Sua população, em 2001, era de 447.065 habitantes, dos quais 97%, aproximadamen-te, residentes na área urbana.3 Sua densidade demo-gráfica é de 259,07 hab/km2. O Município é pólo de uma Região Metropolitana de outros sete e referência para uma área de influência estimada em 4,5 milhões de habitantes.9

A população geral de Londrina foi estudada em rela-ção à sua evolução demográfica no período de 1970 a 2000, por sexo e faixa etária, utilizando-se como fonte de dados os censos demográficos brasileiros.3,10-16 Con-siderou-se como população idosa aquela com 60 anos ou mais, de acordo com o que estabelece a legislação brasileira.17 A Organização das Nações Unidas (ONU) também considera como idosas, para os países em desenvolvimento, pessoas acima de 60 anos.18

Utilizou-se o cálculo do índice de envelhecimento, medido pela relação entre o número de habitantes com mais de 65 anos – nível inferior da faixa de idade que, neste trabalho, para uma padronização coerente com a definição de população idosa estabelecida, foi reduzido para 60 anos – e o número de habitantes com menos de 15 anos.19 Também foi utilizado o índice ou razão de dependência, definido como a razão entre a soma da população menor de 15 anos de idade e mais de 65 anos, divididos pela população de 15 a 64 anos, em percentuais.2,19 Para o estudo, pela razão já indicada, foi adotado o ponto de corte de 60 anos. O índice de dependência está subdividido em índice de

Envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

A atual proporção de idosos na população brasileira, que corresponde a 8,6% (14.536.029 cidadãos), posiciona o Brasil entre os países que apresentam os maiores contingentes desse segmento.

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 153

dependência-jovem (razão entre a população menor de 15 anos e a população de 15 a 59 anos) e o índice de dependência-idoso (razão entre a população maior de 60 anos e a população de 15 a 59 anos).19

O projeto do estudo foi submetido ao Comitê de Éti-ca em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina, recebendo parecer favorável à sua realização.

Resultados

Foi possível identificar em Londrina, no período estudado, vários dos fenômenos presentes na evolução do processo de envelhecimento de outras populações, já apontados por diversos autores.5,8,20-22

O primeiro fenômeno observado, e o mais marcante deles, foi o processo migratório ocorrido com o êxodo rural, que se intensificou, principalmente, a partir da década de 60, início do predomínio da população urbana sobre a rural no Município (Figura 1). Em 50 anos, a população rural, que significava 52,07% em 1950, caiu para pouco mais de 3% da população londrinense total no ano 2000.

Além do êxodo rural, houve intensa imigração de contingentes vindos de outros Municípios. Conside-rando-se os dados censitários do IBGE de 1970, ob-serva-se que, naquele ano, nada menos que 60,9% da

população de Londrina era composta de pessoas que não haviam nascido na cidade. Essa proporção repre-sentava 138.862 habitantes, 45.600 dos quais (cerca de 20% da população total desse ano) haviam se mu-dado para Londrina durante os cinco anos anteriores, ou seja, entre 1965 e 1970. Já em 1996, segundo a Contagem da População do IBGE, esse número caíra para 9% da população total.

O quadro migratório de 1970 mostrava, ainda, que 50,25% (69.783 migrantes) vieram de outras regiões urbanas, provavelmente de centros menores que Londrina e de economia rural, predominantemente, enquanto que 49,75% eram originários, diretamente, de regiões rurais de outros Municípios.10

Em 1970, o papel de chefia do domicílio e/ou da família era masculino em quase 92% dos lares; já em 1996, a situação sofre alteração marcante, quando mais de 21% dos domicílios ou famílias passam a ter mulheres assumindo a responsabilidade formal de chefia.

A queda do coeficiente de mortalidade infantil, marcante no processo de envelhecimento populacio-nal, encontra-se bastante evidente em Londrina, onde viu-se reduzida de 66,71 por mil nascidos vivos em 1970,23 para 11,09 por mil nascidos vivos em 2001,24

conforme demonstra a Tabela 1.23,25,26

Gilberto Berguio Martin e colaboradores

Figura 1 - População (%) segundo a zona de residência no Município de Londrina, Estado do Paraná. Brasil, 1950-2000

1950 1960 1970 1980 1991 2000Urbana (%)

Rural (%)47,8352,07

57,4042,60

71,6928,31

88,4811,52

94,006,00

96,963,04

Urbana

Rural

Anos

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos de 1950 a 2000 3 e Contagem da População 1996 15

100,00

80,00

60,00

40,00

20,00

0,00

%

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154 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

O coeficiente de natalidade por mil habitantes em Londrina vem decaindo seguidamente. Era de 41,0 em 1970,23 28,81 em 1980 e 20,91 em 1990, chegando a 18,63 em 2.000.25

Já o coeficiente de mortalidade por causas externas, por acometer, predominantemente, a população mais jovem, tem repercussão de impacto no cálculo da ex-pectativa de vida. Para o mesmo período, considerando a base de 100.000 habitantes, ele foi de 67,94 em 1980 e, muito embora viesse crescendo até 1995 (75,68 em 1990 e 89,53 em 1995), apresenta queda em 2000, quando atinge 57,70.25

Entre as repercussões desses fenômenos sobre o comportamento populacional, há que se destacar as alterações observadas na distribuição por faixa etária, com a gradativa redução do número de habitantes mais jovens e o crescimento proporcional da população com mais de 60 anos (Figura 2). Em 30 anos, a população idosa de Londrina, proporcionalmente, mais do que dobra de tamanho, saindo de 4,03% (9.209 pessoas) em 1970, para 9,34% (41.780 pessoas) em 2.000.

O que chama atenção nas demais faixas etárias é a queda proporcional na faixa dos 0-4 anos, 40% menor em 2000 do que era em 1970. Em 30 anos, esse indicador reduziu-se de 13,94% para 8,35%. Um comportamento semelhante é identificado na faixa dos 5 aos 9 anos, que, nesse mesmo período, cai 39,45%, assim como no estrato dos 10 aos 19 anos, que cai 21,89%.

A distribuição proporcional de habitantes por faixa etária estabiliza-se, praticamente, na faixa dos 20 aos

Envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

Tabela 1 - Coeficiente de mortalidade infantil (CMI por 1.000 nascidos vivos) no Município de Londrina, Estado do Paraná. Brasil, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2001

Ano CMI por 1.000 nascidos vivos

1970 a 66,71

1980 b 33,60

1990 b 22.62

2000 b 14.19

2001 c 11.09

Fonte: a) Soares; 23 b) Paraná; 25 c) Londrina. 26

Figura 2 - Distribuição populacional em percentuais, por grupos de faixa etária, no Município de Londrina, Estado do Paraná. Brasil, 1970, 1996 e 2000

30

25

20

15

10

5

0

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 19 anos

20 a 29 anos

30 a 39 anos

40 a 49 anos

50 a 59 anos

60 ou + anos

1970

1996

2000

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos de 1950 a 2000 3,10 e Contagem da População 1996 15

%

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 155

29 anos, no período compreendido entre 1970 e 2000. A maior variação verificada nesse período de 30 anos foi na proporção de habitantes idosos (60 e mais anos), que cresceu mais de 130%. Já em número de habitantes idosos, a mesma variação passou de 358% (Figura 2).

Paralelamente às modificações constatadas nos grupos etários populacionais, também acontece uma gradativa, porém relevante, redução na taxa de cres-cimento populacional de Londrina. Na década de 50, essa taxa foi de 6,6% ao ano, em média; na década de 60, foi de 5,4%, caindo, drasticamente, na década de 70, para 2,82%; e, depois, para 2,36% na década de 80 e 2,02% na de 90.26

A razão de envelhecimento populacional propicia um quadro evolutivo de aumento durante o período pesquisado: de 0,10 em 1970, para 0,35 em 2000.

Outros parâmetros de repercussão do envelheci-mento populacional são dados pelos índices de depen-dência total, de dependência-jovem e de dependência-idoso. No período estudado (Tabela 2), observa-se que o índice de dependência total cai, basicamente, às custas do índice de dependência-jovem, enquanto o índice de dependência-idoso aumenta.

Entre os desdobramentos desse fenômeno, há que se destacar o crescimento do percentual de pessoas do sexo feminino na faixa etária de 60 e mais anos. Em 1970, 46,56% dos idosos eram do sexo feminino, chegando a uma participação de 53,8% na população geral do Município, no ano de 1996.

Discussão

Todo esse processo migratório gerou uma necessi-dade intensa de espaço de moradia, fato que acabou

desencadeando o fenômeno do crescimento da perife-ria urbana, provavelmente ligado à questão dos valores imobiliários. Os loteamentos regulares tradicionais e desenvolvidos de forma legal, predominantes até final da década de 60, foram sendo substituídos por duas outras formas de solução para a carência habitacional, geralmente freqüentes nas periferias da cidade ou re-giões mais distantes do seu centro.27 A primeira dessas formas de ocupação, que predominou nas décadas de 70 e 80, foi a dos conjuntos habitacionais de moradias populares; e a segunda forma, a das ocupações irre-gulares – assentamentos ou invasões –, intensificadas no final da década de 80 e durante a década de 90, acabando por se transformar em favelas.27

Considerando-se a época de início do fenômeno dessas migrações, principalmente as décadas de 60 e 70, podemos afirmar que a geração idosa apresentada nessa pesquisa é de origem rural. Foi dela, geralmente, que surgiram os principais atores desse intenso mo-vimento social migratório, de característica nacional, porém muito marcante na região objeto deste estudo. Há 30 ou 40 anos, essas pessoas contavam entre 20 e pouco mais de 40 anos de idade e encontravam-se no centro das decisões familiares e iniciativas de ação, como o desencadeamento da mudança da zona rural para a cidade, o que provocou todo o realinhamento urbano apresentado pela Londrina de hoje.

Concomitantemente a esse rearranjo urbano decor-rente do processo migratório, observa-se uma redução do tamanho da família e novas situações são criadas no seu interior – como a redefinição de protagonismos –, com a intensificação da presença da mulher na chefia dos núcleos familiares.

Ao mesmo tempo em que se redesenhavam as carac-terísticas demográficas, os coeficientes de natalidade e

Gilberto Berguio Martin e colaboradores

Tabela 2 - Índice de dependência no Município de Londrina, Estado do Paraná. Brasil, 1970, 1996 e 2000

AnosÍndices de dependência

Total Jovem Idoso

1970 80 73 07

1996 57 44 13

2000 55 41 14

Fonte: Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – Censos Demográficos de 1950 a 2000 3,10 e Contagem da População 1996 11,15 (elaboração do autor)

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156 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

de mortalidade por causas externas, com repercussão importante na expectativa de vida, também passaram a sofrer alterações, interferindo na composição etária da população do Município. Os comportamentos obser-vados são bastante compatíveis com o comportamento em populações que envelhecem coletivamente.

Com todas essas alterações de repercussão demo-gráfica, o resultado final acaba sendo o progressivo envelhecimento da população de Londrina ao longo desses 30 anos pesquisados.

O crescimento da participação proporcional da população idosa no total de habitantes do Município (4,05% para 9,34%) significou um incremento de mais de 130%. E isso tudo em espaço de tempo que pode ser considerado muito curto para a evolução e desenvolvimento desse processo: em 30 anos, mais que dobrou o percentual de idosos na população geral. Foi uma velocidade de crescimento mais intensa que a do Brasil no seu conjunto, cuja população idosa evoluiu de 5,1% para 8,6%, no mesmo período.3

Entre diversas outras repercussões de ordem eco-nômica e social, há que se destacar a interferência desse fato nos índices de dependência e na razão de envelhecimento da população londrinense. O índice de-pendência-idoso aumenta, o que significa um impacto socioeconômico relevante, ao se considerar a afirmação de Veras,2 que diz ser “o ônus financeiro da faixa idosa [...] muito mais alto que o das crianças”.

Quanto ao aumento proporcional de mulheres idosas, Martin & Cabrera 28 também demonstraram o fato em Londrina, mediante análise das informações contidas nas declarações de óbitos de pessoas com mais de 60 anos e que morreram no período de 1980 a 1996. Constataram, em relação ao estado conjugal no momento do óbito, que as mulheres idosas estavam cada vez mais sozinhas que os homens. Segundo os

autores, do total de idosos que se encontravam viúvos ao morrer (e que significavam 39,89% do total de óbitos de idosos), 65,69% eram do sexo feminino, em 1980, 63,23% em 1990 e 69,03% em 1996. Já do universo dos que se encontravam casados ao morrer (49,08%), para os mesmos anos, o sexo masculino tinha a proporção de 72,27%, 72,60% e 76,46%, res-pectivamente, demonstrando a possibilidade de estar ocorrendo, no Município de Londrina, o fenômeno de-finido por Berquó apud Paschoal 1 como a “Pirâmide da Solidão”, decorrente do grande número de idosas viúvas, solteiras ou descasadas – por conseguinte, provavelmente solitárias.

Quanto ao quadro geral dos dados aqui apresenta-dos, pode-se dizer que foi possível identificar e desta-car, em Londrina, fatos que também aconteceram no processo de envelhecimento de outras populações, notadamente fenômenos sociais e demográficos:a) migração, expressão do êxodo rural, conseqüente e

intensa urbanização caracterizada pelo crescimento periférico das cidades; e

b) mudança do perfil familiar das suas populações, marcadamente pela redefinição de alguns papéis, como o da mulher dentro dessa estrutura, refleti-do no crescimento da sua função como provedora (antes reservado, predominantemente, ao sexo masculino), bem como na assunção da chefia da família; além da redução do tamanho dessa nova família, em processo de transformação.Destaque-se, ainda, o que é bastante comum em

outras populações em processo de envelhecimento, igualmente encontrado nos dados aqui apresentados: a identificação da queda das taxas de alguns coeficien-tes de mortalidade, de natalidade e de crescimento populacional, com repercussões sobre a distribuição etária, especialmente na redução do número de jovens e no crescimento do número de idosos, colocando Londrina na atual situação de cidade com população idosa crescente.

Os autores deste trabalho concluem que Londrina e outras cidades brasileiras apresentam um perfil se-melhante em relação ao processo de envelhecimento. Portanto, devem-se estabelecer políticas públicas inter-setoriais, especialmente na área da Saúde Pública, para atender a essa população idosa nas suas crescentes necessidades de saúde e bem-estar.

Nas populações em processo de envelhecimento, é comum a queda nas taxas de alguns coeficientes de mortalidade, natalidade e crescimento populacional, com reflexos na distribuição etária.

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Resumo

O estudo analisa a qualidade de informações sobre mortalidade em idosos, segundo causas mal-definidas e local de ocorrência do óbito, para o Município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil, de 1979 a 1998. Os dados foram obtidos do Sistema de Informações sobre Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM-MS), do Censo Demográfico realizado pela Fun-dação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Núcleo de Estudos de População, da Universidade Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp). No período de referência do estudo, a mortalidade proporcional por causas mal-definidas decresceu 5,7%, como também decresceram os coeficientes para idosos até 79 anos. Entre 1996-1998, exceto para idosos de 85 anos e mais, os coeficientes foram maiores para homens e aumentaram com a idade; para os indivíduos de 60 a 64 e de 85 anos e mais, esses coeficientes foram de 114,1 e 1614,4 para homens e de 33,9 e 1913,9 para mulheres (por 100.000 habitantes), respectivamente para essas datas. O domicílio foi o local mais freqüente de óbito para homens e mulheres (63% e 75,6%, respectivamente). Óbitos sem assistência médica (38,2%) e por senilidade (23,5%) foram mais freqüentes durante o período. Esses resultados evidenciam boa qualidade das informações de mortalidade e aumento de óbitos atribuídos a senilidade e ocorridos em via pública em Maringá-PR.

Palavras-chave: idoso; mortalidade; qualidade de dados; estatísticas de saúde.

Summary

The study analyzes the quality of mortality information for the elderly population, by ill-defined causes and place of occurrence of death, for the Municipality of Maringá, Paraná State, Brazil, from 1979 to 1998. Data were obtained from the Mortality Information System of the Brazilian Ministry of Health (SIM-MS), National Demographic Census, realized by the Brazilian Institute of Geography and Statistics Foundation (IBGE), and Population Study Department of the University of Campinas (Nepo/Unicamp). During the study period, proportional mortality by ill-defined causes decreased 5.7%, and the mortality rate also decreased for ages less than 79 years old. Between 1996-1998, except for ages 85 and over, the mortality rates were higher for men and increased for more advanced ages. For this time period, the mortality rate for the 60-64 year old age-group and over 85 were, respectively, 114.1 and 1614.4 for men, and 33.9 and 1913.9 for women (per 100.000 inhabitants). The residence was the most common place of death for men and women (63% and 75.6%, respectively). Deaths without medical attendance (38.2%) and for senility (23.5%) were the most frequent during the period. These results show good quality of death information and an increase in deaths due to senility, and death occurring in public places in Maringá-PR.

Key words: elderly; mortality; quality of data; health statistics.

Aspects Concerning the Quality of Mortality Information in the Elderly Population Resident in the Municipality of Maringá, Paraná State, Brazil, from 1979 to 1998

ARTIGO ORIGINAL

Thais Aidar de Freitas MathiasDepartamento de Enfermagem, Universidade Estadual de Maringá, Maringá-PR

Maria Helena Prado de Mello JorgeDepartamento de Epidemiologia, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP

Ruy LaurentiCentro Brasileiro de Classificação de Doenças, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo-SP

Tirza AidarNúcleo de Estudos de População, Universidade Estadual de Campinas, Campinas-SP

Considerações sobre a qualidade de informações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá, Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998

Endereço para correspondência: Rua Maringá, 540/18, Jardim Aclimação, Maringá-PR. CEP: 87050-740E-mail: [email protected]

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Introdução

No final do século XVI, por ocasião da epidemia de peste que assolava a Europa, o interesse em conhecer o número de óbitos fez com que surgissem as famosas tabelas mortuárias de Londres. Posteriormente, essas tabelas permitiram conhecer a distribuição dos óbi-tos segundo características importantes, como sexo e idade. Graunt, considerado o pai das estatísticas de mortalidade, e Farr, no século XIX, apresentaram re-sultados de estudos que demonstraram a importância dos óbitos infantis, da sobremortalidade masculina e a relação entre saneamento, situação econômica, di-ferenciais regionais e mortalidade.1 A partir de então, os estudos de mortalidade passaram a ser uma im-portante ferramenta, preferencialmente utilizada para conhecer e descrever as características de saúde das populações.

As estatísticas de mortalidade no Brasil represen-tam uma das mais valiosas fontes de informação em saúde, além de constituírem o mais tradicional e um dos mais eficientes métodos para avaliação do estado de saúde das populações.2 Geralmente, são dados que representam, para muitas regiões do País, a única fonte disponível de análise epidemiológica, planejamento e administração em saúde; ou ainda, de vigilância da freqüência de algumas doenças cuja mortalidade é significativa, como as neoplasias, afecções cardiovas-culares e acidentes.3

As informações sobre mortalidade estão disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade do Mi-nistério da Saúde (SIM-MS), que as obtém, diretamen-te, da Declaração de Óbito (DO), com busca ativa dos dados realizada pelos Municípios. Quanto às causas de morte, estas são codificadas de acordo com as regras internacionais estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Vale enfatizar que a implantação do Sistema de Informações sobre Mortalidade, em 1975, representou um grande avanço na produção de infor-mações sobre a mortalidade no país. Com a utilização do formulário padronizado e individualizado para o registro dos dados – a DO –, houve a possibilidade de se obterem, para todo território nacional, estatísticas de melhor qualidade, com a vantagem de ser possível comparar essas informações entre regiões e países.

Sempre que as estatísticas de mortalidade são uti-lizadas, questionamentos se apresentam com relação à qualidade desses dados. A despeito das disposições

legais relativas à obrigatoriedade do registro dos óbitos, sabe-se que ainda existem falhas, tanto na cobertura como no preenchimento adequado da DO. Conhecer a qualidade dos dados é componente inicial para qualquer análise. Antes, porém, é necessário que se tenha uma idéia básica do que esperar deles.4

No período de 1979 a 1989, para o Brasil, os per-centuais da população coberta com informação regular nunca foram inferiores a 83%, percentual alcançado graças às altas coberturas verificadas nas regiões Sul e Sudeste.5 O percentual de Municípios que apresentam coleta regular das DO é mais estável nos Estados dessas regiões – a exemplo do Paraná, que apresentava, em 1979, 97%, e, em 1989, 99% dos seus Municípios com informação regular para mortalidade.

A qualidade da informação na DO, todavia, é feita mediante a verificação da proporção de óbitos por causas mal-definidas, inscritas no capítulo XVI da CID-9 6 (Sinais, sintomas e afecções mal-definidas) e no capítulo XVIII da CID-10.7 (Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório não clas-sificados em outra parte). Em 1979, o Brasil teve 20% de óbitos classificados nesse capítulo, baixando para 18,2% em 1990; para alguns Estados, como São Paulo, o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, as proporções eram inferiores a 10% em 1990, enquanto todos os Estados do Nordeste apresentavam proporções supe-riores a 30%.8 De acordo com o Ministério da Saúde,9 em 1997, era de 15,1% a participação relativa das causas mal-definidas no Brasil.

Para os óbitos em idosos, as causas mal-definidas variaram desde 67% no Estado da Paraíba, no triênio 1979-1981, até 1,7% no Distrito Federal, no triênio 1993-1995.10 Para a Região Sul, esse percentual foi de 11,1% no sexo masculino e de 11,7% no feminino, no triênio 1993-1995.

No Estado do Paraná, o percentual de óbitos por causas mal-definidas declinou de 17,7%, no triênio 1979-1981, para 12,6% em 1990-1992;11 em 1997, esse percentual foi de 9,8%.10 A variação desses dados é bastante expressiva nos diferentes Municípios do Pa-raná, sendo aqueles do norte do Estado os que detêm informações consideradas muito boas.11

Em relação à qualidade, uma análise prévia dos da-dos registrados nas DO para todos os óbitos de residen-tes em Maringá, no período de 1979 a 1995, constatou que, de maneira geral, houve significativa melhora das informações.12 Para as variáveis demográficas, a infor-

Qualidade de informações sobre mortalidade em idosos

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mação foi considerada boa, visto que, em nenhum ano do período, o não-preenchimento ultrapassou 0,7% para a idade e 0,3% para o sexo. A análise da variável causa básica do óbito mostrou que o percentual de óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, em 1979, foi de 7,5%, caindo para 3,5%, em 1995; os óbitos sem assistência médica representaram 60%, declinando para 12,4% entre esses dois anos, o que denota melhora importante na qualidade dos dados para o conjunto dos óbitos. Esse aprimoramento de qualidade atribui-se, possivelmente, à coleta das DO nos hospitais, feita, semanalmente, por profissionais da Secretaria de Estado da Saúde orientados a não deixar em branco nenhum campo do documento. A codificação das informações é feita por profissional treinado, que, em caso de dúvida, solicita ao médico declarante esclarecimentos sobre o óbito.

Com o avançar da idade, aumenta a proporção de óbitos por causas mal-definidas, fato explicado, entre outros motivos, pela dificuldade de identificação da causa básica que iniciou o processo mórbido, haja vista o complexo encadeamento de causas em pessoas idosas.8

A importância em se conhecer melhor a forma de preenchimento das DO para a população idosa indicou o objetivo deste estudo: analisar a qualidade dessas informações no Município de Maringá, em um período de 20 anos. Esta análise pode contribuir para o aprimoramento da qualidade dessa informação e, indiretamente, promover a avaliação da assistência prestada ao idoso, que deverá subsidiar a formulação de políticas públicas voltadas a essa população.

Metodologia

Maringá ocupa o 3o lugar em número de habitantes, entre as cidades do Estado do Paraná: 288.653, dos quais 97,5% são residentes na zona urbana. Cerca de 99% dos domicílios estão ligados às redes de abaste-cimento de água e de luz elétrica, dispondo de coleta

sistemática de lixo. A cobertura da rede de esgoto gira em torno de 70%.13 Maringá é sede da 15a Regional de Saúde do Paraná, e, a partir de 1998, encontra-se na Gestão Plena do Sistema Municipal.13 Conta com 24 unidades básicas de saúde e dez hospitais: sete priva-dos, com 812 leitos; um filantrópico, com 150 leitos; o Hospital Universitário, com 96 leitos; e o Hospital Municipal, com 30 leitos.13 Por ser o Município um pólo de atração, os recursos de saúde e de educação nele concentrados também atendem expressiva de-manda regional.

Realizou-se um estudo descritivo com o objetivo de avaliar a qualidade das informações sobre mortalidade na população idosa residente em Maringá, entre 1979 e 1998. Foram considerados idosos pessoas com 60 anos e mais de idade, conforme critério da OMS, or-ganização que estabeleceu 60 anos como idade limite ou inicial da etapa de envelhecimento.14

Os óbitos de idosos residentes em Maringá foram identificados nos bancos de dados do Sistema de In-formações sobre Mortalidade, a partir do código do Município de residência. O banco de dados relativo aos óbitos dos anos de 1997 e 1998, que, à época da análise, ainda não tinha sido publicado, foi cedido pelo então Centro Nacional de Epidemiologia da Fundação Nacional de Saúde (Cenepi/Funasa), hoje Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS).

A qualidade das informações foi avaliada mediante análise da informação sobre as causas de óbito re-gistradas no capítulo dos Sintomas, sinais e afecções mal-definidas e das informações do bloco IV da DO, referentes ao local de ocorrência do óbito segundo sexo e faixas de idade. As causas básicas de óbito foram analisadas tendo por referência a 9a Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-9),6 para o período de 1979 a 1995, e a 10a Revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-10),7 para o período de 1996 a 1998, a saber: morte súbita de causa desconhecida (CID-9, 798.0-798.2; CID-10, R96.0-R96.1); senilidade (CID-9, 797.0-797.9; CID-10, R54); morte sem assistência médica (CID-9, 798.9; CID-10, R98); e outras causas mal-definidas e desconhecidas de mortalidade (CID-9, 780.0-796.9 e 799.0-799.9; CID-10, R00-R53, R55-R95 e R99). As informações sobre população foram obtidas dos Anuários Estatísticos da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes aos re-

Thais Aidar de Freitas Mathias e colaboradores

Estudos de mortalidade são uma importante ferramenta, preferencial para se conhecer e descrever as características de saúde da população.

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162 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

censeamentos gerais de 1980 15 e 1991 16 e à contagem populacional de 1996.17 Para os anos intercensitários, foram utilizadas estimativas elaboradas pelo Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp).18 Os dados foram anali-sados por meio da verificação de proporções e coefi-cientes de mortalidade, agrupados em quatro triênios – 1979-1981, 1984-1986, 1990-1992 e 1996-1998 –, com o objetivo de minimizar possíveis flutuações no número de óbitos e na população, durante o período. Para a seleção dos triênios, foram considerados: os primeiros dados, para 1979, disponíveis no Sistema de Informações sobre Mortalidade; os anos censitá-rios nos triênios 1979-1981 e 1990-1992 – meio do período 1984-1986 –; e os últimos dados do triênio 1996-1998, disponíveis à época da pesquisa.

Resultados

Os sintomas, sinais e afecções mal-definidas foram a terceira causa mais freqüente de óbito em idosos residentes em Maringá, na primeira parte do período estudado, triênios 1979-1981 e 1984-1986 (7% e 8,2%, respectivamente); e foram a quarta causa mais freqüente de óbito nos dois últimos triênios, 1990-1992 e 1996-1998 (10% e 6,6%, respectivamente) (Tabela 1). Esse comportamento foi observado para

ambos os sexos. Durante todo o período, na maioria das vezes e para todas as idades, os percentuais de óbito por sintomas, sinais e afecções mal-definidas ficaram abaixo de 10%; e observou-se declínio relativo de 9,7% na mortalidade proporcional, para o sexo masculino (Tabela 2).

Em relação à distribuição dos óbitos por faixas de idade, foi observado que, nos 20 anos estudados, o percentual de óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas diminuiu para os idosos de até 79 anos, com conseqüente aumento a partir de 80 anos de idade. Essa mudança foi mais evidente para o sexo feminino: aproximadamente 41% dos óbitos por sin-tomas, sinais e afecções mal-definidas ocorreram em mulheres idosas de 85 anos e mais de idade (Figura 1). Para os coeficientes de mortalidade, observou-se aumento com a idade, tanto para o sexo masculino como para o feminino (Figura 2). No final do perí-odo estudado, triênio 1996-1998, os coeficientes de mortalidade para idosos de 60 a 64 anos e 85 anos ou mais de idade foram, respectivamente, 114,1 e 1614,4 (por 100.000 habitantes) para os homens e 33,9 e 1913,9 (por 100.000 habitantes) para as mulheres. A Figura 2, especificamente para os triênios extremos de 1979-1981 e 1996-1998, mostra a sobremortalidade masculina por sintomas, sinais e afecções mal-defi-nidas, destacando, com referência ao último triênio,

Tabela 1 - Mortalidade proporcional em idosos segundo causa e sexo, por ordem de importância e por triênios, no Município de Maringá, Estado do Paraná. Brasil, 1979-1998

Ordem

Triênios

1979-1981 1984-1986 1990-1992 1996-1998

Causa a % Causa a % Causa a % Causa b %

1º Circulatório 55,2 Circulatório 47,4 Circulatório 45,5 Circulatório 42,2

2º Neoplasias 12,5 Neoplasias 14,9 Neoplasias 15,5 Neoplasias 17,9

3º Mal-definidas 7,0 Mal-definidas 8,2 Respiratório 10,7 Respiratório 12,9

4º Respiratório 5,9 Respiratório 7,6 Mal-definidas 10,0 Mal-definidas 6,6

5º Digestivo 5,5 Externas 5,3 Externas 4,6 Endócrinas 4,7

6º Infecciosas 4,6 Digestivo 5,2 Endócrinas 4,3 Digestivo 4,6

7º Externas 4,0 Infecciosas 4,4 Digestivo 3,6 Externas 4,0

a) Capítulos CID-9

b) Capítulos CID-10

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Qualidade de informações sobre mortalidade em idosos

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Tabela 2 - Óbitos em idosos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, segundo sexo e idade, por triênios, no Município de Maringá, Estado do Paraná. Brasil, 1979 a 1998

Idade

Triênios Diferença (%) entre

1979-1981 e 1996-1998

1979-1981 1984-1986 1990-1992 1996-1998

N % N % N % N %

Masculino

60-69 14 5,4 28 8,9 53 12,2 29 5,9 9,3

70-79 25 8,6 26 8,4 34 8,4 26 5,0 -41,9

80 e mais 10 7,4 21 10,3 29 10,1 37 9,1 23,0

Total 49 7,2 75 9,1 116 10,3 92 6,5 -9,7

Feminino

60-69 11 7,2 6 2,9 18 7,7 12 4,3 -40,3

70-79 12 5,7 12 5,5 25 7,6 21 5,1 -10,5

80 e mais 12 8,2 25 13,2 41 12,9 45 9,9 20,7

Total 35 6,8 43 7,0 84 9,5 78 6,8 -

Total

60-69 25 6,1 34 6,6 71 10,7 41 5,3 -13,1

70-79 37 7,4 38 7,2 59 8,0 47 5,0 -32,4

80 e mais 22 7,8 46 11,7 70 11,6 82 9,5 21,8

TOTAL 84 7,0 118 8,2 200 10,0 170 6,6 -5,7

a) Percentual calculado em relação ao total de óbitos por todas as causas, em cada faixa de idade e sexo.

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Figura 1 - Distribuição percentual de óbitos em idosos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, segundo sexo e idade, por triênios, no Município de Maringá, Estado do Paraná. Brasil, 1979 a 1998

Masculino Feminino45

36

27

18

9

0

45

36

27

18

9

060 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 - 84 85 e + 60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 - 84 85 e +

%%

Idade

1979-1981 1996-19981979-1981 1996-1998

Idade

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Thais Aidar de Freitas Mathias e colaboradores

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164 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

2200

Masculino Feminino

60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 - 84 85 e +

Idade

1979 a 1981

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

1650

1100

550

0

Coef.2200

Masculino Feminino

60 - 64 65 - 69 70 - 74 75 - 79 80 - 84 85 e +

Idade

1996 a 1998

1650

1100

550

0

Coef.

Figura 2 - Coeficientes de mortalidade em idosos (por 100.000 habitantes) por sintomas sinais e afecções mal-definidas, segundo triênios extremos, sexo e idade, no Município de Maringá, Estado do Paraná. Brasil, 1979 a 1998

que o risco é maior para as mulheres idosas a partir de 85 anos de idade, tão-somente, com 1.913,9 óbitos – contra 1.614,4 óbitos da mesma faixa etária entre os homens, para cada 100.000 habitantes.

A Tabela 3 aponta, para o último triênio (1996-1998), coeficientes de mortalidade maiores por morte sem assistência médica (97,2 por 100.000 hab.), por outras causas mal-definidas e desconhecidas de morta-lidade (82,3 por 100.000 hab.) e por senilidade (59,8

por 100.000 hab.). Chamou a atenção destes autores o aumento relativo dos coeficientes por morte sem assistência médica (266,8 por 100.000 hab.) e dos óbitos por senilidade (43,4 por 100.000 hab.).

Quanto ao local de ocorrência, observou-se, para todo o período, que os óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, no sexo feminino, ocorreram com maior freqüência no domicílio e no hospital; e para o sexo masculino, além de nesses locais,

Tabela 3 - Coeficientes de mortalidade em idosos (por 100.000 habitantes) por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, segundo diagnósticos, por triênios, no Município de Maringá, Estado do Paraná.

Brasil, 1979 a 1998

Diagnósticos

Triênios Diferença (%) entre

1979-1981 e1996-1998

1979-1981 1984-1986 1990-1992 1996-1998

N Coef. N Coef. N Coef. N Coef.

Outras causas mal-definidas e desconhecidas de mortalidade 45 170,6 51 145,3 42 85,0 55 82,3 -51,8

Morte sem assistência médica 7 26,5 52 148,2 94 190,2 65 97,2 266,8

Morte súbita de causa desconhecida 21 79,6 - - 9 18,2 10 15,0 -81,2

Senilidade 11 41,7 15 42,4 55 111,3 40 59,8 43,4

TOTAL 84 318,4 118 336,2 200 404,7 170 254,3 -20,1

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Qualidade de informações sobre mortalidade em idosos

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 165

também na via pública (Tabela 4). Destaca-se que, para o último triênio, 1996-1998, 20 óbitos (11,8% do total dos óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas) foram declarados como ocorridos em via pública, dos quais 16 (80%) do sexo masculino (Tabela 4).

Discussão

A magnitude e a variabilidade dos óbitos por sin-tomas, sinais e afecções mal-definidas, normalmente, estão relacionadas às condições socioeconômicas, culturais e de saúde da localidade. Conseqüentemente,

Tabela 4 - Óbitos em idosos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, segundo sexo e local de ocorrência, por triênios, no Município de Maringá, Estado do Paraná. Brasil, 1979 a 1998

Local

Triênios

1979-1981 1984-1986 1990-1992 1996-1998

N % N % N % N %

Masculino

Hospital 6 12,2 9 12,0 24 20,7 9 9,8

Via pública - - 1 1,3 5 4,3 16 17,4

Domicílio 34 69,4 50 66,7 77 66,4 58 63,0

Outro 6 12,2 15 20,0 10 8,6 8 8,7

Ignorado 3 6,2 - - - - 1 1,1

Total 49 100,0 75 100,0 116 100,0 92 100,0

Feminino

Hospital 5 14,3 9 20,9 11 13,1 12 15,4

Via pública - - - - - - 4 5,1

Domicílio 30 85,7 30 69,8 69 82,1 59 75,6

Outro - - 4 9,3 4 4,8 3 3,9

Ignorado - - - - - - - -

Total 35 100,0 43 100,0 84 100,0 78 100,0

Total

Hospital 11 13,1 18 15,3 35 17,5 21 12,3

Via pública - - 1 0,8 5 2,5 20 11,8

Domicílio 64 76,2 80 67,8 146 73,0 117 68,8

Outro 6 7,1 19 16,1 14 7,0 11 6,5

Ignorado 3 3,6 - - - - 1 0,6

TOTAL 84 100,0 118 100,0 200 100,0 170 100,0

Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Thais Aidar de Freitas Mathias e colaboradores

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a disponibilidade, cobertura e acesso da população aos serviços de assistência à saúde, inclusive para o diagnóstico em todos os níveis de complexidade, influencia a qualidade dos dados.19 Alguns fatores re-lacionados à distribuição da população na zona rural e urbana, e, ainda, ao sistema de saúde, no que diz respeito à qualidade e quantidade de profissionais que trabalham na captação e aprimoramento dos dados oficiais são, igualmente, responsáveis pela qualidade das informações sobre mortalidade.

Os resultados aqui apresentados revelaram me-lhora de qualidade dessas informações no período estudado, no que diz respeito ao percentual dos óbitos registrados como causas mal-definidas de mortalidade. A queda relativa na mortalidade proporcional por sintomas, sinais e afecções mal-definidas em idosos residentes em Maringá foi de 5,7% (Tabela 2), variação que, a princípio, pode parecer inexpressiva para um período de 20 anos. É mister, entretanto, considerar que o percentual de 7,0% do início do período (1979-1981) já não era alto; e que, também, houve tendência de aumento desse percentual no meio do período estudado (Tabelas 1 e 2).

Na grande maioria dos Estados brasileiros, para a população feminina idosa, houve, igualmente, dimi-nuição da participação relativa dos óbitos por causas mal-definidas entre 1980 e 1995.19 Outrossim, mais um estudo destaca melhora significativa nas declarações das causas básicas de óbito para a população brasi-leira acima de 60 anos de idade, embora elas ainda se apresentem elevadas para os Estados nordestinos. As menores proporções foram encontradas para o Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e Paraná, com valores abaixo de 10%.20

Para ilustrar a qualidade das informações sobre mortalidade em idosos residentes em Maringá, no triênio 1996-1998, o percentual de óbitos por causas mal definidas em relação ao conjunto das causas de óbito foi de 6,6%, ao passo que, para a Região Sul e Brasil, foi de 11,2% e 19,6%, respectivamente, con-forme apresentado por Mello Jorge e colaboradores (2001).21 Ainda assim, para Maringá, observando a distribuição dos óbitos segundo local de ocorrência (Tabela 4), poder-se-ia esperar um percentual de cau-sas mal-definidas ainda menor se os óbitos ocorridos no hospital (21 óbitos no último triênio) tivessem sido melhor investigados, considerando a maior facilidade de exames diagnósticos em ambiente hospitalar.

Neste estudo, os óbitos por causas mal-definidas em idosos distribuíram-se de forma crescente, acompa-nhando a idade. Salvo pequenas variações no decorrer do período, para o sexo masculino (triênios 1979-1981 e 1990-1992), no qual o percentual de óbitos foi maior para os idosos de 60 a 69 anos do que para os de 70 a 74 anos, os óbitos por causas mal-definidas aumentaram à medida que a idade avançou. Essa ten-dência pode ser observada, principalmente, no último triênio e para o sexo feminino (Tabela 2 e Figura 1), sendo ainda mais evidente na distribuição dos coefi-cientes de mortalidade por idade (Figura 2).

Existem algumas razões para que a qualidade da informação de óbitos seja inferior em idades mais avançadas. Uma possibilidade reside no fato de que, em pessoas mais jovens, as condições de saúde e a história médica tenham maior possibilidade de serem agudas e mais facilmente associadas com o óbito, gerando diagnósticos claros ou causas de óbitos declaradas de forma mais precisa e completa. Para os óbitos entre os mais idosos, principalmente por doenças crônicas de longa duração, o atestado de óbito teria maior chance de ser preenchido com menor precisão, por desconhecimento do médico sobre a história do falecido; e, possivelmente, em razão da menor dispo-nibilidade de informações, como exames laboratoriais complementares.22

É interessante salientar a sobremortalidade mascu-lina por causas mal-definidas observada, praticamente, em todas as faixas de idade e para os dois triênios ex-tremos (1979-1981 e 1996-1998) (Figura 2). Análise da morbimortalidade por causas para a população idosa residente em Maringá 23 identificou sobremortalidade masculina para a maioria das causas de óbito – com algumas exceções, como as doenças das artérias, arteríolas e capilares, no triênio 1979 –; e para as outras formas de doenças do coração e doenças dos intestinos, no triênio 1996-1998. Destacou-se o diabe-tes mellitus, cujo risco de óbito, sempre, foi superior entre as mulheres idosas residentes no Município.

O fato de as DO serem mais detalhadas para os óbitos femininos deve-se, provavelmente, ao com-portamento diferenciado das mulheres em relação à sua saúde. Quando se sentem doentes, elas procuram os serviços de atenção médica, ocasionando maior número de registros sobre a sua situação de saúde, facilitando o diagnóstico e posterior definição das causas. A esse respeito, estudos populacionais reve-

Qualidade de informações sobre mortalidade em idosos

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lam que são as mulheres que referem maior preva-lência de episódios mórbidos,24 maior incapacidade funcional 25 e maior utilização dos serviços ambula-toriais,26 o que também pode refletir as mudanças fisiológicas que acompanham o envelhecimento na mulher e a prevalência de algumas doenças, como o diabetes.

Em relação ao local de ocorrência do óbito durante o período estudado, não houve mudança importante nos percentuais relativos aos óbitos ocorridos no hospital e no domicílio. Já para os óbitos ocorridos em via pública, observou-se aumento na freqüência para os homens, a partir do triênio 1990-1992; para as mulheres, o aumento da freqüência de óbitos nessa si-tuação apareceu no último triênio, 1996-1998. Outros estudos poderiam ser feitos para melhor explicar o que estaria acontecendo, especialmente trabalhos de busca de informações sobre a possibilidade de melhora da qualidade do preenchimento dos diversos campos da DO; de forma mais específica, do campo local de ocorrência do óbito. Verificou-se que os óbitos por causas mal-definidas registrados como local ignorado foram pouco freqüentes, apenas no primeiro triênio –1979-1981 – e para o sexo masculino; portanto, a possibilidade de melhora no preenchimento desse campo da DO poderia não ter ocorrido. O aumento do número de óbitos de idosos em via pública pode ser decorrente da crescente urbanização, de uma nova condição de maior autonomia e independência das pessoas idosas e da sua presença mais freqüente nas ruas, principalmente dos homens: no triênio 1996-1998, entre os óbitos por causas mal-definidas ocorridos em via pública, 17,4% são de homens contra 5,1% de mulheres (Tabela 4).

Para as causas de morte, merece destaque o aumento proporcional de óbitos sem assistência médica e de óbitos por senilidade. No Brasil, para o período de 1979 a 1995, também houve aumento no percentual de óbitos sem assistência médica, em relação ao total de óbitos por causas mal-definidas. À medida que são implementados programas de cap-tação de óbitos, a qualidade da informação tende a diminuir, gerando, a princípio, maior número de DO com causas mal-definidas, para, posteriormente, pro-mover-se o aprimoramento da qualidade do registro no formulário.10

Em relação ao aumento de óbitos por senilidade, destaca-se, ainda, que a demência senil se encon-

trava no capítulo dos transtornos mentais da CID 9 (CID 9, 290.0); já na CID 10, esse item se encontra no capítulo dos Sintomas sinais e achados anormais de exames clínicos (CID 10, R54). Esse fato pode ser uma possível causa da elevação desse diagnóstico na mortalidade de idosos em Maringá.

Os diagnósticos que poderiam ser atribuídos, de alguma forma, à senilidade ou estados de demência, tornaram-se cada vez mais comuns entre as causas de óbitos em idosos.27 Em 1950, aproximadamente 0,3% dos óbitos entre 70 e 74 anos e 2,8% entre 85 e 89 anos de idade eram atribuídos ao estado de demência. Em 1990, esse percentual já havia aumen-tado para 1,6% e 3,1%, respectivamente para essas faixas etárias.

Ainda se discute se, em idades avançadas, nenhuma causa de morte pode parecer óbvia, sobretudo quando várias doenças de longa duração estão presentes na pessoa idosa, ademais do fenômeno progressivo de declínio das funções fisiológicas, especialmente nessa fase da vida.28 O verdadeiro motivo do óbito, em par-te considerável da população idosa, seria o próprio envelhecimento, velhice, senilidade ou demência senil, senectude, senescência, todos esses termos aceitos e incluídos como senilidade, sob o código R54, CID 10.

A "velhice" não é uma causa de morte aceitável com freqüência, pois as informações clínicas e os testes diagnósticos laboratoriais não são avaliados no sentido de um diagnóstico de velhice ou senilidade. A síndrome da velhice poderia ser considerada como uma doença fatal ou motivo de óbito; ou seja, quando a morte em indivíduos muito debilitados da população idosa não pudesse ser atribuída a qualquer processo mórbido que causasse o óbito em pessoas adultas, o motivo da morte deveria seria descrito como senilidade.28 De fato, idade avançada já foi um diagnóstico aceito no atestado de óbito em 1900, quando 2,5% dos óbitos

Thais Aidar de Freitas Mathias e colaboradores

Apesar de mais de 10% de óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, pode-se confiar na qualidade das informações sobre mortalidade de idosos em Maringá.

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168 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

eram atribuídos a ela e 8% ocorridos em pessoas entre 80 a 89 anos.27 Nos dias de hoje, recomenda-se que os médicos descrevam as causas específicas de morte e reservem o uso dos códigos das causas mal-definidas nos óbitos para os quais não exista informação dispo-nível sobre a sua causa.29

As conclusões acerca da tendência apresentada no Município de Maringá devem ser observadas, lembrando que o período analisado compreendeu vigência de duas revisões da Classificação Interna-cional de Doenças (CID), a 9ª e a 10ª, o que pode ter influenciado a magnitude das mudanças observa-das. Com o início da utilização de uma nova revisão, podem ocorrer eventuais mudanças na tendência da mortalidade por determinadas causas, em razão do surgimento de novas doenças ou por haver transfe-rência de uma determinada doença ou agrupamento de um capítulo para outro; ou, ainda, por uma doença com apenas uma categoria passar a ser representada por um agrupamento (várias categorias).30 Assim, os resultados observados neste estudo podem refletir, em parte, as mudanças nas práticas diagnósticas e no preenchimento dos atestados de óbito durante as duas décadas estudadas.

Essa breve análise das informações sobre mortali-dade na população idosa residente em Maringá, além de subsidiar a discussão sobre a qualidade dessas informações no Município, acrescenta outras ques-tões relevantes ao tema da saúde do idoso, como o aumento dos óbitos em via pública, que, no caso das mulheres, poderia ser chamado de “surgimento”, já que não fora registrado qualquer caso feminino nos três primeiros triênios. A constatação do aumento de óbitos sem assistência médica e por senilidade é, pos-sivelmente, resultado do envelhecimento da população de Maringá ou um reflexo da dificuldade de acesso do seu contingente idoso aos ambulatórios e hospitais; ou, ainda, falta de empenho dos profissionais na busca de informações que completem, com clareza, todos os da-dos exigidos na DO. Porém, encontrar respostas para questões de suma importância, como essas, extrapola os objetivos do presente estudo.

Ainda que tenham sido observados percentuais aci-ma de 10% de óbitos por sintomas, sinais e afecções mal-definidas, em algum momento do período estudado e nas idades mais avançadas – o que, de certa forma, é esperado – é possível confiar na boa qualidade das informações sobre mortalidade para a população idosa residente no Município de Maringá. Também é impor-tante lembrar que as limitações, porventura existentes, na utilização e qualidade das informações sobre morta-lidade não invalidam o esforço dedicado à sua análise. Cabe aos usuários dessas informações conhecer os seus limites, saber interpretá-los e contribuir para a sua superação, quantitativa e qualitativamente.

Qualidade de informações sobre mortalidade em idosos

O estudo destaca questões relevantes para a saúde do idoso, como o aumento dos óbitos em via pública.

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[Epidemiologia e Serviços de Saúde 2005; 14(3) : 171 - 180] 171

Resumo

Este estudo teve como objetivo avaliar, mediante caracterização microbiológica, a qualidade da água que abastece dois bairros atendidos pelo Programa de Macrodrenagem da Bacia do Una, na Região Metropolitana de Belém, Estado do Pará, bem como avaliar a água armazenada no interior dos respectivos domicílios pesquisados. Adotou-se a técnica da membrana filtrante para a pesquisa dos indicadores de contaminação fecal (coliformes totais e termotolerantes) e para a pesquisa de enteropatógenos. Os resultados obtidos mostram que em 18 (48,6%) e 29 (55,7%) residências dos bairros de Maracangalha [Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP)] e do Barreiro, respectivamente, a água do sistema público própria para consumo humano chega ao domicílio. Ao ser armazenada sem os devidos cuidados, entretanto, essa água passa a registrar altos índices de coliformes totais e/ou termotolerantes, configurando risco à saúde da população.

Palavras-chave: qualidade microbiológica da água; água para consumo; indicadores de contaminação fecal; coliformes.

Summary

The objective of this study was to evaluate the quality of the water used for human consumption, based on micro-biological characterizations in Barreiro and Maracangalha neighborhoods attended by the macrodrainage program of Una river´s basin, in the Metropolitan Area of Belém, Pará State, Brazil, as well as evaluate the water stored in the respective households studied. The membrane filter technique was adopted for the research of fecal contamination indicators (thermo-tolerant coliform and total coliform), and for the isolation of enteropathogens. The results obtained showed that in 18 (48.6%) and 29 (55.7%) of residences from Maracangalha [Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP)] and Barreiro neighborhoods, respectively, the public system water arriving at homes was of adequate quality for consumption. However, when stored without proper care, water may become contaminated with high thermo-toler-ant and/or total coliform counts, representing a risk to population health.

Key words: : microbiological quality of water; drinking water; fecal contamination indicators; coliforms.

Microbiological Quality of Drinking Water in two Areas Following Sanitation Interventions – Belém, Pará State, Brazil

ARTIGO ORIGINAL

Lena Líllian Canto de SáInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA

Iracina Maura de JesusInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA

Elisabeth C. Oliveira SantosInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA

Elivam Rodrigues ValeInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA

Edvaldo Carlos Brito LoureiroInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA

Elisa Viana de SáHospital Universitário João de Barros Barreto, Universidade Federal do Pará, Belém-PA

Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreas contempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil

Endereço para correspondência: Av. Almirante Barroso, 492, Marco, Belém-PA. CEP: 66090-000E-mail: [email protected]

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Introdução

A água constitui, atualmente, uma das principais preocupações mundiais no que diz respeito aos seus usos preponderantes e à sua manutenção como um bem de todos, em quantidade e qualidade adequadas.1 A atenção das autoridades sanitárias para com os sis-temas públicos de abastecimento de água, destino de dejetos, tratamento de esgoto, coleta e disposição de resíduos sólidos gerados, principalmente nos grandes centros urbanos, está tradicionalmente direcionada para as conseqüências que os problemas desse contex-to são capazes de causar ao meio ambiente e à Saúde Pública. Já é realidade, em nosso país, a instalação da vigilância da qualidade da água destinada ao consumo humano sob a responsabilidade dos três níveis de go-verno, como parte integrante da vigilância ambiental em saúde. Para essa postura preventiva, a definição de indicadores é fundamental.

Entre as principais causas de contaminação e degra-dação dos ecossistemas aquáticos superficiais e subter-râneos, podemos destacar a progressiva e desordenada urbanização das cidades, que resulta na ocupação de áreas inadequadas para moradia, sem infra-estrutura mínima e saneamento básico necessários. Conseqüen-temente, acumulam-se os problemas relacionados a esse quadro, o que contribui, de diversas formas, para a degradação da qualidade dos recursos hídri-cos disponíveis, para o altíssimo índice de doenças provocadas pelos baixos índices de salubridade, assim como para o agravamento da degradação ambiental em geral. 2 A ausência ou a precária proteção dos recursos hídricos, particularmente das excretas humanas ou de animais, pode introduzir uma série de organismos patogênicos, tais como vírus, bactérias, protozoários ou helmintos de origem intestinal, tornando a água um veículo de transmissão de doenças.3

As condições gerais de saneamento observadas, constatadamente deficientes, sobretudo nos países do mundo em desenvolvimento, são claramente refletidas nos dados disponíveis sobre mortalidade por doenças de veiculação hídrica. No Brasil, mais especificamente na Região Norte, foram confirmados, nos últimos 20 anos, cerca de 11. 613 casos de cólera, 6.653 casos de febre tifóide e 7.219 casos de leptospirose.4 Dentro dos preceitos básicos sobre a melhoria da qualidade de vida de uma população, encontra-se implícita a necessidade de cobertura mais ampla dos serviços

de abastecimento de água potável e de esgotamento sanitário, bem como do seu controle de qualidade.

A classificação ambiental das infecções relacionadas com a água, introduzida por White, Bradley & White 5 e adaptada por Cairncross,6 destaca pelo menos qua-tro categorias: 1) aquelas de transmissão hídrica ou relacionadas com a higiene, da categoria feco-oral, onde podemos assinalar as diarréias e disenterias, fe-bres entéricas, poliomielite, hepatite A, leptospirose, ascaridíase e tricuríase; 2) a transmissão relacionada com a higiene propriamente dita, como as infecções dos olhos e pele; 3) aquela baseada na água, quando o organismo patogênico desenvolve parte do seu ciclo vital em um animal aquático, como no caso da esquistossomose, por exemplo; e 4) a transmissão por um inseto vetor que procria na água ou cuja picada ocorre próximo a ela – nesta categoria, destacam-se a malária, a filariose e as arboviroses (dengue e febre amarela).

O Município de Belém, no Estado do Pará, possui, atualmente, uma população de 1.280.614 habitantes, 1.272.354 dos quais residentes na zona urbana e 8.260 na zona rural. Foram identificados no Município, por ocasião do último censo realizado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),7

296.352 domicílios permanentes, somente 76.177 (25,70%) deles dotados de instalações conectadas à rede geral para esgotamento sanitário, o que implica atendimento de apenas 329.117 habitantes. Sobre a forma de abastecimento de água, observa-se que 218.066 domicílios de Belém são servidos pela rede geral, correspondendo a um total de 942.275 pessoas (73,58%) com acesso a água potável. Utilizam poço ou nascente como fonte de água para consumo, 67.305 residências; o restante de 10.981 domicílios utiliza outras formas de abastecimento.7 Sobre o destino do

Qualidade microbiológica da água para consumo humano

A urbanização progressiva e desordenada e a ocupação de áreas inadequadas para moradia, sem infra-estrutura e saneamento básico, contribuem para o comprometimento dos recursos hídricos e a degradação ambiental.

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lixo no Município, observa-se que, em 282.825 domicí-lios (95,43%), o lixo é coletado pelo serviço público.7

Ressalte-se que 85% dos resíduos sólidos coletados são de origem domiciliar, 7,93% provenientes de feiras e mercados, 3,33% de fontes comerciais, 1,01% de origem hospitalar e o restante de outras fontes.8

Em Belém do Pará, desenvolve-se, desde a década de 80, um projeto governamental de saneamento integrado, denominado Programa de Macrodrena-gem da Bacia do Una (PMD). Essa bacia representa 3.665 hectares (36,65km2) da Região Metropolitana de Belém e, na fase de implementação do programa, compreendia apenas nove bairros – Marambaia, Mar-co, Matinha, Pedreira, Sacramenta, São Brás, Souza, Telegrafo-sem-Fio e Pedreira –, correspondendo à parte mais significativa (40%) de terras alagadas e alagáveis, equivalente a 797,8 hectares (7,98km2) do Município. Os bairros de Sacramenta, Telégrafo-sem-Fio e Pedreira são os que possuem maior porcentagem de terras inundáveis da bacia hidrográfica, com cerca de 20% de suas áreas sob efeito de alagamento cons-tante. Estudos para diagnóstico e acompanhamento dos impactos na saúde produzidos pelo PMD foram realizados ainda na década de 80, por consultoria contratada pela Prefeitura Municipal de Belém.2

Sabe-se que, após a criação dos novos bairros da ci-dade de Belém (Lei nº 7.806, de 30 de julho de 1996), a bacia do Una passou a incluir um total de 20 bairros – Maracangalha, Miramar, Barreiro, Telégrafo-sem-Fio, Pedreira, Sacramenta, Marco, Fátima, Umarizal, Nazaré, São Brás, Souza, Castanheira, Marambaia, Mangueirão, Una, Cabanagem, Bengüi, Val-de-Cães e Parque Verde –, muitos deles criados em função do remanejamento dos domicílios para áreas drenadas e/ou aterradas, assim como da criação de novas áreas urbanizadas para recepção dos remanejados, como é o caso do Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros, no bairro de Maracangalha.

Visando avaliar os impactos socioambientais e na saúde das populações envolvidas nesse processo de alteração do espaço urbano, iniciou-se, em outu-bro de 1999, um estudo interdisciplinar voltado à construção de indicadores em saúde ambiental que contribuíssem para avaliar a qualidade de vida e de saúde de populações urbanas sujeitas a processos de recuperação de áreas alagadas, como é o caso do PMD. No presente estudo, avaliou-se a qualidade da água para consumo humano, por meio da caracteri-

zação microbiológica da água utilizada em duas áreas envolvidas no PMD.

Metodologia

O Município de Belém situa-se a 01º27’20’’ de la-titude sul e a 48º30’15’’ de longitude W-Gr, ocupando uma área de 508,8km2 (50.880 hectares), limitada ao norte pela Baía do Marajó, ao sul pelo Município de Acará, a leste pelos Municípios de Santo Antônio do Tauá, Ananindeua, Santa Bárbara do Pará e Marituba, e a oeste pelas baías do Guajará e do Marajó. A alti-tude da sede municípal é de quatro metros acima do nível do mar. Em função da sua localização no vértice de um estuário e na conjunção de algumas pequenas bacias hidrográficas, o Município é recortado por vários igarapés, o que acaba por determinar, no seu interior, a existência de diversas áreas alagadas, ou áreas baixas (de nível hipsométrico inferior a quatro metros), que, antes das obras já realizadas pelo projeto governamental de macrodrenagem e daquelas ainda em execução, eram fortemente afetadas pelos fluxos e refluxos das águas da baía do Guajará.2,7

A escolha da área de estudo foi a mesma adotada para todos os subprojetos do estudo interdisciplinar, delimitando-se o bairro do Barreiro, por fazer parte da maior área contínua do PMD, e o de Maracangalha, por se situar neste o Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros, para onde foram alocadas as pessoas remo-vidas da área do programa.

O bairro do Barreiro compreende uma área de 107,84 hectares (1,08km2). Devido às condições de ambiente e saúde, além da distribuição desordenada dos domicílios, optou-se por uma amostragem inten-cional de quatro subáreas identificadas em função de diferentes momentos do processo de macrodrenagem, as quais foram delimitadas espacialmente e denomi-nadas de aglomerados – A, B, C e D. A inserção dos domicílios desses aglomerados na pesquisa obedeceu aos seguintes critérios: domicílios habitados por perí-odo igual ou superior a um ano; e domicílios habitados por cinco ou mais pessoas. Considerando a totalidade das residências nos quatro aglomerados, selecionou-se, mediante sorteio simples, 54 residências para avaliação da qualidade microbiológica da água consumida.

O bairro de Maracangalha possui 184,70 hectares (1,85km2). Por se tratar de uma área, na sua maior parte, não sujeita aos alagamentos, mesmo durante

Lena Líllian Canto de Sá e colaboradores

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o período das chuvas, nela foi construído o Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP), destinado à alocação das famílias remanejadas de áreas alagadas da Bacia do Una. Esse conjunto é formado por quatro subconjuntos, organizados em quadras e lotes. A pes-quisa abrangeu os subconjuntos denominados CDP I, CDP II e CDP IV, em virtude de apresentarem tempo de ocupação igual ou superior a um ano, tornando possível a utilização de amostragem aleatória, ainda de acordo com o critério de número de residentes. Para a avaliação da qualidade microbiológica da água consumida pela população do conjunto, selecionaram-se, também mediante sorteio simples, 54 residências considerando os três subconjuntos citados. O Governo do Estado do Pará, utilizando recursos do Governo Federal destinados aos projetos Habitar Brasil e Pro-sanear, construiu, no CRPP, seis poços tubulares com, aproximadamente, 270 metros de profundidade, cuja água é bombeada para um grande reservatório com capacidade de 420.000 litros, onde é processada a cloração e a distribuição, por meio da rede geral, para 100% das residências do CRPP e do Barreiro.

No período de março a maio de 2000, amostras de água coletadas em 95 residências distribuídas no bairro do Barreiro (54) e no CRPP (41) – em razão de haver-se encontrado domicílios fechados após várias tentativas –, tiveram a sua qualidade microbiológica determinada: coliformes totais e coliformes termotolerantes, de acor-do com a anterior Portaria nº 36, de 19 de janeiro de 1990, e a atual Portaria nº 518, de 26 de março de 2004, do Ministério da Saúde. Na segunda fase do trabalho, realizada no período de setembro a novembro de 2000, todas as residências que participaram da primeira fase foram visitadas novamente, e as amostras de água das torneiras reavaliadas quanto à presença dos indicadores de contaminação fecal. Ademais, nessa segunda etapa, a água destinada para beber, armazenada no interior do domicílio, também foi submetida a pesquisa dos indicadores de contaminação fecal.

Para determinação do número de coliformes totais e termotolerantes nas amostras de água coletadas, foi utilizada a técnica da membrana filtrante de acordo com as recomendações da American Public Health Associa-tion dos Estados Unidos da América (APHA/EUA)9 e das normas técnicas L5.22110 e L5.214,11 da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo (Cetesb/SP). Para essa determinação, volumes de aproximadamente

500ml de água foram coletados em recipientes esté-reis, transportados em caixas de isopor contendo gelo e examinados em laboratório, no prazo máximo de duas horas após essa coleta.12 Foram consideradas como impróprias para consumo humano somente aquelas amostras com coliformes totais em 100ml que confir-maram a presença de coliformes termotolerantes, de acordo com a Portaria MS nº 518/04.

Em 12 residências (seis do Barreiro e seis do CRPP), realizou-se a pesquisa dos enteropatógenos bacterianos Escherichia coli enteropatogênica (EPEC), Aeromonas, Vibrio, Salmonella e Shigella.

A pesquisa dos enteropatógenos bacterianos supracitados também foi realizada de acordo com as recomendações da APHA9 e as normas técnicas L5.507,13 L5.21814 e L5.23215 da Cetesb/SP. Para essas determinações, volumes de cinco litros de água de cada ponto selecionado foram coletados em recipientes estéreis e transportados ao laboratório em caixas de isopor com gelo, em um prazo máximo de duas horas após a coleta.12 Em seguida, as amostras foram concentradas em membrana de éster de celulose com 0,45µm de porosidade; esta foi dividida em partes iguais, inoculadas em meios de enriquecimento (APT, pH7,0 Rappaport/42,5ºC-18h; APA, pH8,5; e caldo-GN, pH7,0/35ºC-6h). Posteriormente, os cultivos foram se-meados em meios seletivos-indicadores – ágar TCBS, ágar XLD, ágar SS e ágar MC –, visando ao isolamento e identificação dos enteropatógenos bacterianos em questão. A identificação bioquímica e sorológica seguiu as recomendações de Ewing & Ewing´s.16

Os dados foram organizados em planilhas e anali-sados pelo programa BioEstat 3.0,17 para elaboração da estatística descritiva e utilização dos testes não paramétricos qui-quadrado de homogeneidade; e pelo teste exato de Fisher, para avaliação da qualidade da água oriunda dos dois locais pesquisados, considerado significativo quando p<0,05.

Resultados

No bairro do Barreiro, foi possível a coleta e avalia-ção da qualidade microbiológica das amostras de água no decorrer das duas avaliações de todas as residências sorteadas (54); já no CRPP, 13 das 54 residências selecionadas por sorteio foram encontradas fechadas, após diversas visitas. Desse modo, consideramos, na descrição dos Resultados e na Discussão deste estudo,

Qualidade microbiológica da água para consumo humano

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que 54 e 41 residências foram avaliadas no Barreiro e no CRPP, respectivamente.

Os resultados obtidos por esta avaliação da qualida-de microbiológica da água de abastecimento público dos bairros pesquisados, mediante exame colimétrico realizado em amostras de água de torneira coletadas nos domicílios selecionados, estão demonstrados nas tabelas 1 e 2. Observou-se, em relação à média do número de coliformes totais nas águas de torneira, que as amostras do CRPP apresentaram índices de conta-minação quatro vezes maiores, aproximadamente, do que os encontrados para as amostras do Barreiro na primeira (estação chuvosa) e na segunda (estiagem) avaliações, o mesmo não tendo ocorrido com os coli-formes termotolerantes – Ctermo (Tabela 1).

Na Tabela 2, encontram-se descritos os números de amostras de água de torneiras de residências de ambos os bairros, consideradas impróprias para o consumo humano de acordo com a Portaria MS/GM nº 518, de 26 de março de 2004. Nessa tabela, observa-se que não houve associação estatisticamente significante entre a qualidade da água de consumo (própria/imprópria) com período da coleta (chuvoso/seco) nas duas áreas (p>0,05, teste exato de Fisher), ainda que, na segunda avaliação (período seco ou de estiagem), o bairro do Barreiro tenha apresentado, em números absolutos, um quantitativo duas vezes maior de amostras consi-deradas impróprias para consumo humano.

Sobre as análises realizadas nas amostras de água para beber coletadas de vasilhames no interior dos domicílios, os resultados encontram-se descritos nas tabelas 3 e 4. Na Tabela 3, observa-se que a média de coliformes totais e termotolerantes foi de cerca de 2,7 (CT) e 4.479,05 (Ctermo) vezes maior, respecti-vamente, na amostra do Barreiro quando comparadas à do CRPP. A Tabela 4 destaca o total de amostras coletadas de vasilhames e consideradas impróprias para consumo humano entre as duas áreas. Aqui, as amostras apresentaram-se homogêneas, ocorrendo maior número de amostras contaminadas entre aquelas coletadas de vasilhames, comparativamente às amostras coletadas de torneira, em ambos os bairros (p=0,000, qui-quadrado de homogeneida-de=30,16). O bairro do Barreiro apresentou maior número de amostras impróprias, tanto para a água coletada de torneira quanto para a de vasilhame; neste segundo caso, 66,66% das amostras desse bairro encontra-vam-se fora dos padrões adequados. No Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros, 46,3% das amos-tras de vasilhame encontravam-se impróprias para consumo humano.

Nenhum enteropatógeno bacteriano foi encontrado na avaliação das 12 amostras de água de abastecimento (seis do Barreiro e seis do CRPP). Foram detectadas cepas de Enterobacter, Serratia, Klebisiella, Citro-bacter e Escherichia coli não enteropatogênicas.

Tabela 1 - Resultados das colimetrias realizadas em amostras de água de torneiras de residências no bairro do Barreiro e no Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP), em Belém do Pará. Brasil, 2000

Indicador de contaminação VMP a Estatística

descritiva

Barreiro CRPP

Torneira

1ºavaliaçãomarço-maio

2º avaliaçãosetembro-novembro

1º avaliaçãomarço-maio

2º avaliaçãosetembro-novembro

Coliformes totais b

Apenas uma amostra pode apresentar,

mensalmente, resultado positivo.

Máximo 13 32 743 620

Média 7,4 3,9 34,1 17,2

Mínimo <1 <1 <1 <1

Coliformes termotolerantes c Ausência em 100ml

Máximo 210 10 3 27

Média 0,5 0,6 0,1 0,7

Mínimo <1 <1 <1 <1

a) Valor Máximo Permitido

b) Sistemas que analisam menos de 40 amostras por mês; apenas uma amostra poderá apresentar, mensalmente, resultado positivo, de acordo com a Portaria MS/GM no 518/04.

c) Ausência em 100ml de água, de acordo com a Portaria MS no 518/04.

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Discussão

A escolha de uma variável ou de um indicador de impacto das intervenções de saneamento, que reflita o estado de saúde de um grupo populacional, deve

conciliar o compromisso entre a necessidade de, efetivamente, expressar a condição de saúde coletiva, por um lado, e a sua adequação à pesquisa em ques-tão, por outro.18 A qualidade da água, em si, parece não constituir o melhor indicador de saúde de uma

Qualidade microbiológica da água para consumo humano

Tabela 2 - Qualidade microbiológica das amostras de água de torneira no bairro do Barreiro e no Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP), em Belém do Pará, de acordo com a Portaria MS/GM no 518/04. Brasil, 2000

Avaliação

Torneira

BarreiroN=54

CRPPN=41

Imprópria Própria Imprópria Própria

1º avaliação 5 (9,2%) 49 (90,7%) 2 (4,9%) 39 (95,1%)

2º avaliação 10 (18,5%) 44 (81,5%) 2 (4,9%) 39 (95,1%)

Nota: teste exato de Fisher (unilateral p=0,4750; bilateral p=0,6027).

Tabela 3 - Resultados das colimetrias realizadas em amostras de vasilhames que armazenam água para beber no bairro do Barreiro e no Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros (CRPP), em Belém do Pará.

Brasil, 2000

Indicador de contaminação Estatística descritiva

Vasilhame

Barreiro CRPP

Coliformes totais a/100ml

Máximo 2 X 107 9,8 X 105

Média 819.048,3 295.956

Mínimo <1 <1

Coliformes termotolerantes b/100ml

Máximo 2,0 X 107 1.500,00

Média 388.065 86,6

Mínimo <1 <1

a) Sistemas que analisam menos de 40 amostras por mês; apenas uma amostra poderá apresentar, mensalmente, resultado positivo, de acordo com a Portaria MS/GM no 518/04.

b) Ausência em 100ml de água, de acordo com a Portaria MS/GM no 518/04.

Tabela 4 - Qualidade microbiológica das amostras de água de torneira no bairro do Barreiro e no Conjunto Residencial Paraíso os Pássaros (CRPP), em Belém do Pará, de acordo com a Portaria MS/GM no 518/04. Brasil, 2000

Avaliação

BarreiroN=54

CRPPN=41

Imprópria Própria Imprópria Própria

Torneira 10 (18,5%) 44 (81,5%) 2 (4,9%) 39 (95,1%)

Vasilhame 36 (66,7%) 16 (29,6%) 19 (46,3%) 18 (43,9%)

Nota: qui-quadrado de homogeneidade x2=30,16; p=0,0000.

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população recém-contemplada por alguma medida de saneamento e infra-estrutura relacionada ao seu abas-tecimento;19-21 entretanto, está relacionada, intimamen-te, à qualidade de vida e àquela variável referendada por vários trabalhos que estabelecem roteiros metodo-lógicos para os estudos de impacto de saneamento na saúde: a morbidade e mortalidade por enfermidades diarréicas de diferentes etiologias.6,22,23

A incidência de doenças preveníveis por atividades de saneamento no Município de Belém, como hepatite infecciosa, febre tifóide, leptospirose e doenças diar-réicas, ainda é bastante expressiva ao final da década de 90. Contudo, se considerarmos os dados de um estudo desenvolvido pela Secretaria Especial de Infra-Estrutura do Governo do Estado do Pará,2 sobre a situ-ação de saúde exclusivamente da população envolvida no PMD, houve uma diminuição no percentual de casos declarados de doenças relacionadas ao saneamento básico, de 33% para 12%, antes e depois do PMD, respectivamente.2

A relação epidemiológica entre a má qualidade da água e a ocorrência de surtos de doenças de veiculação hídrica tem sido extensamente pesquisada, mas nem sempre é possível a comprovação dos fatos.

Ao considerarmos a Portaria MS/GM no 36/90 e a atual Portaria MS/GM no 518/04, que tratam do pa-drão de potabilidade da água destinada ao consumo humano, a qualidade microbiológica da água das torneiras de cinco (9,2%) residências do Barreiro e de duas (4,9%) residências do CRPP encontravam-se em condições impróprias para consumo, na primeira avaliação; e da mesma forma, em dez (18,5%) resi-dências do Barreiro e em duas (4,9%) residências do CRPP, na segunda avaliação. Esses resultados, porém, quando submetidos a teste não paramétrico, não mos-traram associação estatisticamente significante entre a qualidade da água e o período da coleta (p>0,05, teste exato de Fisher), provavelmente devido à origem comum dessas amostras. Apesar desses achados, vale ressaltar, no bairro do Barreiro, a ocorrência de um grande número de pontos da rede de distribuição de água com rachaduras nas tubulações, que, além de estarem localizadas no interior de valas a céu aberto, encontram-se nas proximidades dos esgotos sanitários e domésticos, o que constitui uma situação propícia para inoculação de contaminantes no sistema de dis-tribuição de água e para a propagação das doenças relacionadas à água.

No bairro do Barreiro, observou-se, ainda, que em 33,3% (18/54) das residências, a contaminação com coliformes termotolerantes e/ou totais ocorreu em apenas uma das análises realizadas com amostras de água da mesma residência. No CRPP, o mesmo fato foi observado em 26,8% (11/41) dos domicílios, ilus-trando a possibilidade da ocorrência de contaminação eventual do sistema público de distribuição de água. Isso pode ocorrer, por exemplo, em razão da pressão negativa; ou em razão dos pontos onde a rede foi da-nificada pelos próprios usuários, para confecção de ligações clandestinas, o que também foi constatado por ocasião das coletas. Além disso, é importante ressaltar que a inativação de três dos seis poços que compõem o sistema de abastecimento de água desses bairros, fato também observado por ocasião das coletas, resultou no decréscimo da pressão no sistema, impossibilitando o funcionamento do equipamento de cloração da água – acionado apenas quando a água atinge determinado patamar no interior do reservatório principal. Portanto, no ano em que as coletas foram procedidas, a água não estava sendo desinfetada com cloro antes da sua distribuição aos domicílios, o que pode ter contribuí-do para os resultados deste estudo sobre a qualidade apresentada pelas amostras de água analisadas.

Reportando-se ao relatório geral do estudo interdis-ciplinar,22 especificamente no Barreiro, os moradores de 18,5% (10/54) dos domicílios, onde residem 22,4% (67/299) das pessoas envolvidas no estudo, referiram beber a água sem qualquer tipo de tratamento; destes, 6/10 (60%) consomem água em condições impró-prias. Em relação ao restante dos domicílios, 9,2% (5/54) filtram a água antes do consumo, 16,6% (9/54) referiram fervê-la, 1,8% (1/54) utilizam hipoclorito e 53,7% (29/54) referiram outras formas de uso, como a utilização de água mineral ou a técnica de passar a água através de um tecido limpo (coar). Daqueles que

Lena Líllian Canto de Sá e colaboradores

Mesmo que a água, proveniente da torneira, chegue à residência em condições de consumo, a manipulação inadequada dos vasilhames e a falta de higiene pessoal podem significar fator de risco para a transmissão de doenças.

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referiram filtrar, em 2/5 (40%) das oportunidades, a água estava contaminada; dos que referiram ferver, 3/9 (33,3%) consomem água em condições impróprias; e apenas um domicílio referiu utilizar hipoclorito, estando as amostras analisadas em ótimas condições. Entre aqueles que referiram outras formas de uso, 9/29 (31%) dos domicílios utilizavam água em condições impróprias para consumo.

No Conjunto Residencial Paraíso dos Pássaros, em 12/41 (29,3%) dos domicílios investigados, os 51/196 moradores, o que corresponde a 26% da população estudada nesse bairro, referiram não realizar qual-quer tipo de tratamento na água antes de consumi-la, 7/41 (17%) fervem-na, 15/41 (36,6%) filtram-na e 7/41 (17%) referiram coar a água ou utilizar água mineral.24 Entre os domicílios que referiram não realizar qualquer tipo de tratamento, 5/12 (41,6%) consomem água em condições impróprias; e dos que fervem, filtram e que referiram outros usos, em 2/7 (28,6%), 6/15 (40%) e 1/7 (14%) oportunidades, respectivamente, a água estava contaminada.

Ao relacionarmos os resultados obtidos entre as colimetrias realizadas com amostras de água pro-venientes da torneira e aquelas realizadas nas águas armazenadas em vasilhames para beber, observamos que em 18 (48,6%) e 29 (55,7%) residências dos bairros de Maracangalha (CRPP) e do Barreiro, respectivamente, a água do sistema público de abas-tecimento chega ao domicílio em ótimas condições para consumo humano, mas, ao ser armazenada sem os devidos cuidados, é consumida com altos índices de coliformes totais e/ou termotolerantes; outrossim, foi observado que, no Barreiro, o consumo de água contaminada é maior que no CRPP (p=0.000, qui-quadrado de homogeneidade=30,16 (Tabela 4).

Esses dados chamam a atenção para a possibilidade de propagação de inúmeros patógenos (bactérias, vírus, protozoários) entre os moradores do domicílio ou aqueles que o freqüentam. Mesmo que a água, pro-veniente da torneira, chegue à residência em condições de ser consumida, a manipulação inadequada dos vasilhames, aliada à falta de higiene pessoal, podem significar importante fator de risco para a transmissão de doenças, quando essa mesma água é consumida sem nenhum tipo de tratamento.

A influência da falta de higiene pessoal e domés-tica na transmissão de doenças relacionadas com a água vem sendo discutida desde a década de 70,

quando as doenças infecciosas foram distribuídas em diferentes categorias ambientais.5,25 Àquela época, já começou a ficar claro que toda doença transmitida, potencialmente, pela água também pode ser transmi-tida por falta de higiene, constituindo-se no caráter endêmico das infecções entéricas, por exemplo, que representam a realidade diária das populações de baixa renda.

Em Belém do Pará, 100% dos domicílios localiza-dos no bairro do Barreiro e no Conjunto Residencial Paraíso do Pássaros são servidos pelo abastecimento público de água. Em recente inquérito, foi observado que apenas 2,9% (Barreiro) e 3,3% (CRPP) dos en-trevistados referiram diarréia durante os 30 dias que antecediam a entrevista.24

No Estado do Rio Grande do Sul, um estudo realiza-do na cidade de Pelotas, sobre a verificação dos fatores de risco na mortalidade infantil, não mostrou relação significante entre a qualidade da água e a saúde das crianças. Contudo, os seus autores observaram que a mortalidade infantil por diarréias nas residências que não eram servidas pelo abastecimento público de água, era, aproximadamente, cinco vezes maior.21

No Estado do Ceará, uma experiência utilizando a metodologia de intervenção na qualidade da água armazenada para beber no interior dos domicílios, por meio do uso do hipoclorito, foi realizada em co-munidades carentes, para verificação da diminuição da incidência de casos de diarréia. Em uma amostra, os residentes foram orientados e acompanhados no sentido de utilizarem o hipoclorito na água armazenada para beber, em que a amostra-controle permaneceu utilizando água com altos índices de contaminação. Os resultados mostraram pouca significância entre a qualidade da água e a diminuição dos casos de diarréia nas comunidades estudadas.20

A discussão sobre avaliação de impactos na saúde não pode deixar de considerar os diversos paradig-mas que influenciam essa relação. O impacto do abastecimento de água domiciliar para a saúde de uma população, por exemplo, depende de diversas variáveis, como as condições ambientais e de sanea-mento pré-existentes e as condições socioeconômicas dos residentes nos domicílios servidos por esse bem, aliadas aos seus modos de vida. Quando se extrapola essa análise para a avaliação de impacto na saúde em função da qualidade da água distribuída, observa-se que a intervenção humana, seja relacionada a higiene,

Qualidade microbiológica da água para consumo humano

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179 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

obstrução da rede de distribuição ou outras formas, modifica a qualidade da água fornecida.

É possível que as condições de vida relacionadas à situação existente no período que antecedeu o projeto governamental de saneamento em Belém tenham dei-xado aspectos negativos nos costumes diários dessas populações, em termos de cuidados domésticos com a água, por exemplo. De qualquer forma, há necessi-dade de um trabalho interativo de educação sanitária e ambiental, aliado à divulgação de medidas básicas de higiene pessoal, doméstica e comunitária que contri-buam para uma maior redução dos índices de doenças preveníveis por intervenções de saneamento.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Fundação Nacional de Saúde (Funasa/MS), especialmente aos profissionais Nilton César Mendes Pereira, Fernanda do E. Santo Sagica, Sheila Patrícia D. Barbosa, Alaci Costa Pinto, Jeanne V. Alcântara, Iracema dos S. Muniz, bem como aos técnicos da Seção de Meio Ambiente do Instituto Evandro Chagas – Luciano Gomes, Geralda Resende, Dolores Dias, Edna Cabral Trindade, Pio Girard, Maria de Nazaré Fernandes e Maria América Silva Guimarães – pelo apoio às atividades inerentes a esta pesquisa.

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Resumo

Difteria é uma doença aguda causada pelo Corynebacterium diphtheriae. Apesar do conhecimento sobre sua etiopatogenia, seus aspectos clínico, terapêutico e profilático, a difteria permanece endêmica no Brasil. A ampla utilização da vacina tríplice bacteriana há mais de 25 anos, ao lado de melhorias nas condições sanitárias da população, é responsável pela mudança na situação epidemiológica da difteria, particularmente no Estado de São Paulo, promovendo uma drástica redução no número de casos e óbitos pela doença. Embora possa prescindir da confirmação laboratorial valendo-se dos dados clínicos, cada vez mais, a investigação laboratorial é fundamental para o aumento da especificidade do diagnóstico clínico e para que se conheça a freqüência da infecção, a participação de cepas toxigênicas e demais características do agente etiológico. Foram analisados os dados laboratoriais referentes ao período de 1987 a 1996, para a Grande São Paulo, de pacientes suspeitos de difteria e de seus comunicantes, com o objetivo de avaliar a prática da coleta de material como estratégia da vigilância epidemiológica para o controle da doença e diagnóstico dos casos. Na análise do número de casos suspeitos, observou-se, a partir de 1992, significativa diminuição do número de casos, seguida da sua estabilidade em níveis mais baixos a partir de 1994. A análise da toxigenicidade mostrou que eram toxigênicas 91,2% das cepas isoladas dos casos suspeitos e 63,3% das cepas isoladas dos comunicantes. Os resultados apresentados reforçam a norma vigente de que a coleta de material de comunicantes e demais medidas de prevenção da doença não podem aguardar os resultados laboratoriais. Os resultados negativos não devem interferir na decisão do número de amostras a serem coletadas em comunicantes.

Palavras-chave: Corynebacterim diphtheriae; difteria; comunicantes; casos suspeitos.

Summary

Diphtheria is an acute disease caused by Corynebacterium diphtheriae. In Brazil, diphtheria continues to be endemic despite information about its etiology and pathogenicity, clinical aspects, treatment, and prophylaxis. The wide utilization of the di-phtheria-pertussis-tetanus vaccine (DPT) for more than 25 years, along with improved sanitary conditions of the population, is responsible for the change in the epidemiological situation of diphtheria, especially in São Paulo State, with a dramatic reduction in the number of cases and deaths from the disease. Although laboratory confirmation is not always required to validate clinical data, laboratory investigation is essencial for increasing the specificity of the clinical diagnosis and for the determination of frequency of infection, toxigenic strains, and other characteristics of the etiological agent. In the present study, laboratory data concerning patients with suspected diphtheria and their contacts were analyzed for the period from 1987 to 1996 for the Metropolitan Area of São Paulo to assess the practice of sample collection as a strategy of epidemiological surveillance for the control of the disease and the diagnosis of cases. Analysis of the number of suspected cases showed an important decrease in the number of diphtheria cases starting in 1992, and stability at still lower levels beginning in 1994. Analysis of toxigenicity showed that 91.2% of the strains isolated from suspected cases and 63.2% of the strains isolated from contacts were toxigenic. These results support the validity of current regulations concerning the collection of samples from contacts and the remaining measures for disease prevention, which should not be delayed until confirmation. Negative results should not interfere with the decision about the number of samples to be collected from contacts.

Key words: Corynebacterium diphtheriae; diphtheria; contacts; suspected cases.

Laboratorial Diagnosis of Diphtheria and the Practice of Material Collection from Contacts as a Strategy of Epidemiological Surveillance – Metropolitan Area of São Paulo, 1987 to 1996

ARTIGO ORIGINAL

Silvana Tadeu CasagrandeSeção de Bacteriologia, Instituto Adolfo Lutz, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo-SP

Maricene GarbellotiSeção de Bacteriologia, Instituto Adolfo Lutz, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo-SP

Alice Mori KobataSeção de Bacteriologia, Instituto Adolfo Lutz, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo-SP

Maria Lúcia Rocha de MelloCentro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo-SP

Neuma T. HidalgoDivisão de Respiratória, Centro de Vigilância Epidemiológica, Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, São Paulo-SP

Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987 a 1996

Endereço para correspondência: Seção de Bacteriologia, Instituto Adolfo Lutz, Av. Dr. Arnaldo, 351, São Paulo-SP. CEP: 01246-902E-mail: [email protected]

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Introdução

Difteria é uma doença aguda causada pelo Corynebacterium diphtheriae e transmitida pelo contato direto com gotículas ou secreção da naso-faringe. Portadores são importantes na transmissão da doença, pois a imunidade, vacinal ou natural, não previne o estado de portador.1,2 A letalidade dimi-nui, marcadamente, com um diagnóstico precoce, intervenção terapêutica e mudanças na imunidade populacional.2-4

Os Estados Unidos da América, o Canadá e muitos países da Europa Ocidental alcançaram, com a prática da vacinação infantil – iniciada na década de 30 –, uma redução gradual da incidência da difteria. Muitos países europeus não notificam casos da doença há mais de 20 anos.1,2

Nos anos 90, uma epidemia ocorrida na Comu-nidade dos Estados Independentes da antiga União Soviética marcou o ressurgimento da difteria como doença epidêmica em países industrializados. A difteria havia-se mantido controlada naqueles países por mais de duas décadas, a partir da vacinação de crianças em larga escala.2

Na América Latina, também na década de 90, foram observados surtos de difteria. Na Venezuela, foram re-gistrados 742 casos. No ano 2000 e em 2001, foram relatados casos de difteria na Colômbia e no Paraguai, respectivamente. É provável que esses casos estivessem associados a inadequadas condições socioeconômicas da população.5-7

Apesar do conhecimento sobre sua etiopatogenia, seus aspectos clínicos, terapêutica e profilaxia, a dif-teria permanece endêmica no Brasil.3,4,8,9 No Estado de São Paulo, a doença vem apresentando queda persistente na sua incidência, desde meados da déca-da de 70. De um coeficiente de incidência da ordem de cinco casos por 100.000 habitantes, rapidamente passou-se para dois casos/100.000 hab. na metade daquela década e iniciou-se os anos 80 com menos de um caso por 100.000 habitantes.

Esse comportamento pode ser atribuído à melhoria das condições de vida da população do Estado e ao aumento e manutenção de altos níveis de cobertura vacinal (vacina tríplice bacteriana) na população menor de cinco anos, a partir do final da década de 70.10 Paralelamente à diminuição do número de casos, observou-se uma tendência de aumento relativo da

doença nas faixas etárias maiores,10,11 fato também observado no Rio de Janeiro, no ano de 1999.12

A acentuada diminuição de casos tem trazido dificuldades adicionais ao diagnóstico clínico da difteria, desde que, a partir dos anos 80, um número significativo de profissionais não teve oportunidade de ver ao menos um caso da doença em sua formação acadêmica. Por outro lado, a modificação no quadro clínico da doença, pela alteração do padrão de circu-lação de cepas toxigênicas ou pelo uso indiscriminado de antimicrobianos ou, ainda, pela modificação do perfil de imunidade da população, também podem estar exercendo papel importante na identificação de casos nos últimos anos.8,10,11

Embora possa prescindir da confirmação labora-torial valendo-se dos dados clínicos, a investigação laboratorial é, cada vez mais, fundamental para o aumento da especificidade do diagnóstico clínico e para que se conheça a freqüência da infecção, a par-ticipação de cepas toxigênicas e demais características do agente etiológico.

O Instituto Adolfo Lutz (IAL), da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES/SP), referência laboratorial para difteria nos âmbitos estadual e nacional, realiza o diagnóstico dos casos suspeitos de difteria e a vigilância laboratorial de seus comunicantes para o Município de São Paulo e a Grande São Paulo. O objetivo deste trabalho é analisar os dados laboratoriais dos casos suspeitos de difteria e de seus comunicantes, referentes ao período de 1987 a 1996, e a prática da coleta desses materiais como estratégia da vigilância epidemiológica para diagnóstico dos casos e controle da doença.

Metodologia

População de estudoNo período de 1987 a 1996, 964 amostras de nariz

ou garganta de pacientes suspeitos de difteria foram submetidas ao diagnóstico laboratorial para o Coryne-bacterium diphtheriae. Na sua maioria, os pacientes eram provenientes do Instituto de Infectologia Emílio

Diagnóstico laboratorial da difteria

Apesar do conhecimento sobre sua etiopatogenia, seus aspectos clínicos, terapêuticos e profilaxia, a difteria permanece endêmica no Brasil.

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 183

Ribas (IIER) e residiam no Município de São Paulo ou na Grande São Paulo. Em função desses casos sus-peitos de difteria, 2.167 comunicantes também foram analisados, perfazendo um total de 3.131 amostras submetidas a diagnóstico. A coleta de material de comunicantes, até 1988, era feita de forma não sis-temática e apenas pelo IIER; a partir daquele ano, o procedimento de coleta foi incorporado às ações de vigilância e realizado pelas equipes da vigilância epidemiológica local.13

Construção do banco de dadosO banco de dados foi construído com base no

programa Epi Info, versão 6,14 cujo arquivo foi de-nominado dif.rec. Os dados de identificação, dados epidemiológicos e informações relativas às amostras foram obtidos da requisição de exame laboratorial, complementados com informações do prontuário do Serviço de Arquivo Médico (Same), do IIER. As variáveis coletadas foram: nome; gênero; idade; sítio de colheita da amostra; procedência do paciente; diferenciação entre amostra de comunicante e de caso suspeito; e data da coleta. Os dados laborato-riais registrados foram os resultados da coloração de Albert-Laybourn, cultura, prova de toxigenicidade e caracterização do biótipo.

Procedimentos laboratoriais

Isolamento e identificação do agenteA investigação laboratorial foi realizada na Seção

de Bacteriologia do IAL-Central. As amostras de casos suspeitos e de comunicantes foram semeadas, direta-mente, do swab utilizado para colheita em meio de Pai e incubadas, por 24 horas, a 37°C. Nas amostras de casos suspeitos, foram processados esfregaços, subme-tidos à coloração de Albert-Laybourn, com o objetivo de observar, microscopicamente, a presença de bacilos com características morfotintoriais do Corynebcte-rium spp. Essa etapa do diagnóstico laboratorial, para fins de apresentação dos resultados neste trabalho, será denominada “bacterioscopia”.

A partir do crescimento bacteriano em meio de Pai, foi semeado em ágar-sangue-cistina-telurito (ASCT), com a finalidade de se obterem colônias isoladas. Após incubação, por 48 horas, a 37°C, as colônias de coloração negra ou acizentada foram semeadas em outros tubos com meio de Pai e incubadas, por

24 horas, a 37°C. Do crescimento bacteriano nesse meio – após a incubação, por 24 horas, a 37°C –,15-17 foi realizado o teste presuntivo utilizando o meio de Pisu, que detecta produção de H

2S.

O diagnóstico definitivo de Corynebacterium diphtheriae é dado pela identificação bioquímica, baseada na fermentação de açúcares, hidrólise da uréia, redução do nitrato, oxidase e catalase.

BiotipagemA caracterização em biotipos foi realizada pela

fermentação do glicogênio e hemólise em ASCT. Os biotipos encontrados em Corynebacterium diphthe-riae são: gravis; intermedius; mitis; e belfanti.

Prova de toxigenicidade (Elek)O teste de toxigenicidade foi realizado in vitro, por

difusão em ágar, no meio de Elek.16 As cepas de Cory-nebacterium diphtheriae foram submetidas à prova de toxigenicidade. A cepa de Corynebacterium diphthe-riae ATCC 13812 foi usada como controle positivo.

Critério para definição de casoNo presente trabalho, utilizou-se a mesma definição

de caso adotada pela vigilância epidemiológica, cons-tante do manual de difteria,17 a saber:- Caso confirmado laboratorialmente: quando o

quadro clínico é compatível com difteria e é iden-tificado, mediante exames laboratoriais, o bacilo diftérico toxigênico em material obtido do doente ou cultura positiva com prova da toxigenicidade negativa ou não realizada.

- Caso confirmado clínico-epidemiologica-mente: quadro clínico compatível com difteria e resultados dos seus exames laboratoriais negativos – ou não realizados –, e que seja comunicante de um outro caso confirmado laboratorialmente; ou quando identificado o agente etiológico em pelo menos um de seus comunicantes.

- Caso confirmado clinicamente: quando o pa-ciente preenche os critérios de caso suspeitos, os resultados dos seus exames resultam negativos ou não foram realizados e não se conseguiu nenhum outro diagnóstico etiológico.

ComunicantesAssim são definidos: indivíduos assintomáticos,

independentemente de idade e situação vacinal,

Silvana Tadeu Casagrande e colaboradores

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184 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

que convivem com o paciente intradomicílio ou, eventualmente, no ambiente de trabalho ou escola; e aqueles que mantinham contato íntimo com o caso. A seleção destes últimos fica a critério da equipe da vigilância epidemiológica, fundamentada na forma de transmissão da doença e na relação com o caso suspeito. A investigação dos comunicantes terá o seu início, imediatamente, após a notificação do caso suspeito de difteria.

Análise dos dadosA análise de dados e as tabelas foram construídas

com base nos dados do arquivo dif.rec, por meio do programa Epi Info, versão 6. Os cálculos do qui-quadrado (x2) para tendência linear também foram realizados a partir do programa Epi Info, versão 6.14

Resultados

A Tabela 1 apresenta, ano a ano, os resultados obtidos pela “bacterioscopia”, cultura e número total de suspeitos submetidos ao diagnóstico laboratorial. Observa-se que, para o período, não há diferença estatística na diminuição do número de “bacterios-copia” positiva (p=0,567), diferentemente dos resul-

tados da cultura, que apresentaram significância no declínio da positividade (p=0,009).

A Tabela 2 mostra a distribuição anual da “bacterioscopia”, cultura e número total de exames colhidos para os comunicantes, bem como a média de comunicantes submetidos a exame por caso suspeito. Observa-se uma diminuição do número de exame positivo na “bacterioscopia” a partir da década de 90, que não se mostra significativa (p=0,567). Em relação à cultura, apresenta-se uma tendência signifi-cativa de diminuição dos casos positivos nesse período (p=<0,001).

De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, a positividade da cultura e da prova de Elek para os casos de difteria tem variado, a partir de 1989, mostrando números de isolamento de C. diphtheriae inferiores aos anos de 1988 e 1987. O isolamento de cepas toxigênicas nos comunicantes é observado até o ano de 1994, e, nos três anos precedentes, todas as cepas isoladas eram produtoras de toxina. Durante o período de estudo, 91,2% das cepas isoladas de casos apresentaram prova de toxigenicidade positiva; para os comunicantes, essa prova foi positiva em 63,3% das cepas isoladas.

A Tabela 4 apresenta o número de casos de difte-ria e respectivos percentuais, segundo o critério de

Diagnóstico laboratorial da difteria

Tabela 1 - Distribuição anual (número e percentual) dos exames de “bacterisocopia” e cultura dos casos suspeitos de difteria na Grande São Paulo. Brasil, 1987 a 1996

Ano

Resultado da "bacterioscopia" Resultado da culturaTotal

Positiva Negativa Positiva Negativa

No de casos % No de casos % No de casos % No de casos % Casos suspeitos

1987 18 8,5 194 91,5 15 a 7,1 197 92,9 212

1988 11 6,4 160 93,6 8 b 4,7 163 95,3 171

1989 5 3,5 136 96,5 3 2,1 138 97,9 141

1990 3 2,7 110 97,3 1 0,9 112 99,1 113

1991 6 5,4 105 94,6 2 1,8 109 98,2 111

1992 1 1,9 53 98,1 0 0,0 54 100,0 54

1993 4 6,8 55 93,2 3 a 5,1 56 94,9 59

1994 0 0,0 34 100,0 2 a 5,9 32 94,1 34

1995 7 19,3 29 80,6 0 0,0 36 100,0 36

1996 4 12,1 29 87,9 0 0,0 33 100,0 33

TOTAL 59 6,1 905 93,9 34 3,5 930 96,5 964

Nota: x2 (qui-quadrado para tendência linear) para "bacterioscopia":

x2 = 0,328 p= 0,567 α=0,05%

x2 (qui-quadrado para tendência linear) para cultura:

x2 = 6,729 p= 0,009 α=0,05%

a) Um caso com Corynebacterium diphtheriae no nariz e na garganta

b) Dois casos com Corynebacterium diphtheriae no nariz e na garganta

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 185

Tabela 2 - Distribuição anual (número e percentual) dos exames de “bacterioscopia” e cultura para pesquisa de portadores em comunicantes segundo o resultado, na Grande São Paulo. Brasil, 1987 a 1996

Ano

Resultado da bacterioscopia Resultado da culturaTotal de

comunicantes

Média de amostras colhidas

Positiva Negativa Positiva Negativa

No % No % No % No %

1987 15 4,9 291 95,1 15 4,9 291 95,1 306 1,4

1988 3 2,9 101 97,1 4 a 3,8 100 96,2 104 0,6

1989 6 1,8 330 98,2 9 2,6 336 97,4 345 2,4

1990 0 0,0 168 100,0 4 b 2,4 164 97,6 168 1,5

1991 0 0,0 147 100,0 2 a 1,4 145 98,6 147 1,3

1992 1 0,5 210 99,5 1 0,5 210 99,5 211 3,9

1993 0 0,0 212 100,0 4 a 1,9 208 98,1 212 3,6

1994 7 12,1 51 87,9 5 8,6 53 91,4 58 1,7

1995 13 6,0 204 94 5 c 2,3 217 97,7 222 6,2

1996 10 2,5 384 97,5 0 0,0 394 100,0 394 11,9

TOTAL 55 2,6 2.098 97,4 49 2,3 2.118 97,7 2.167 2,2

Nota: x2 (qui-quadrado para tendência linear) para"bacterioscopia":

x2 = 0,207 p= 0,567 α=0,05%

x2 (qui-quadrado para tendência linear) para cultura:

x2 = 6,729 p= <0,001 α=0,05%

a) Um caso com Corynebacterium diphtheriae no nariz e na garganta

b) Um caso identificado como Corynebacterium ulcerans

c) Dois casos com Corynebacterium diphtheriae no nariz e na garganta

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

Tabela 3 - Distribuição (número e percentual) de culturas positivas para C. diphtheriae com toxigenicidade positiva e negativa (prova de Elek) para os casos de difteria e comunicantes na Grande São Paulo. Brasil, 1987 a 1996

AnoCaso confirmado No total

de culturas

ComunicanteTotal de culturasProva de Elek Prova de Elek

Positiva % Negativa % Positiva % Negativa %1987 14 93,3 1 6,7 15 14 93,3 1 6,7 15

1988 7 87,5 1 12,5 8 1 25,0 3 75,0 4

1989 2 66,6 1 33,4 3 3 33,3 6 66,7 9

1990 1 100,0 0 0,0 1 1 25,0 3 75,0 4

1991 2 100,0 0 0,0 2 2 100,0 0 0,0 2

1992 0 0,0 0 0,0 0 1 100,0 0 0,0 1

1993 3 100,0 0 0,0 3 4 100,0 0 0,0 4

1994 2 100,0 0 0,0 2 5 100,0 0 0,0 5

1995 0 0,0 0 0,0 0 0 0,0 5 100,0 5

1996 0 0,0 0 0,0 0 0 0,0 0 0,0 0

TOTAL 31 91,2 3 8,8 34 31 63,3 18 36,7 49

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

Silvana Tadeu Casagrande e colaboradores

confirmação. No período, observa-se variação em relação aos critérios de confirmação laboratorial e clínico-epidemiológico.

Na Tabela 5, para o período de 1987 a 1996, são enu-merados os casos confirmados, por critério laboratorial

ou clínico-epidemiológico, em que houve a colheita de amostras de comunicantes; e o número de comunicantes positivos e negativos no período, acompanhados da sua representação em percentuais. A diminuição do número de culturas positivas entre os comunicantes mostrou ser

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186 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Diagnóstico laboratorial da difteria

significativa (p=0,006). No período de estudo, dos 45 casos confirmados, em 71,1% deles houve colheita de comunicantes. Do total de comunicantes colhidos, em 10,1% deles houve isolamento do C. diphtheriae. Dos 2.167 comunicantes coletados (Tabela 2), para 21,1% (455, conforme a Tabela 5), foi possível estabelecer relação com caso confirmado.

A Tabela 6 mostra os resultados de “bacterioscopia” e cultura, assim como especificidade, sensibilidade, valor preditivo positivo e negativo da “bacterioscopia” em relação à cultura.

Observa-se que a “bacterioscopia” tem sensibilida-de (67,6%), especificidade (96,1%), valor preditivo positivo (38,9%) e valor preditivo negativo (98,7%).

Entre os 3.121 pacientes, a média de idade foi de 14,59 anos, apresentando um desvio-padrão (dp) de 15,91 anos, com 52,9% pertencentes ao gênero femi-nino e 46,9% ao gênero masculino. Em relação aos comunicantes, com uma média de idade de 16,6 anos (dp: 17,05 anos), 55,6% eram do gênero feminino e 44,3% do gênero masculino. E em relação aos comu-nicantes positivos, a média de idade foi de 12,5 anos (dp: 14,10 anos), 42,8% deles pertencentes ao gênero feminino e 57,2% ao gênero masculino. Nos pacientes definidos como caso, a média de idade foi de 10,1 anos (dp: 11,8 anos), com 46,9% pertencentes ao gênero feminino e 52,9% ao gênero masculino. Dos casos com cultura positiva, a média de idade foi de 11,2 anos (dp:

12,16 anos), 58,8% pertencentes do gênero feminino e 41,2% ao masculino. A diferença nos desvios-padrão em relação à média deve-se a subinformação sobre a idade dos pacientes.

Em relação a biotipagem dos casos confirmados, 43,2% das cepas de C. diphtheriae isoladas pertencem ao biotipo intermedius, 40,5% ao mitis e 16,2% ao gravis. Com referência às cepas isoladas de comuni-cantes, 43,5% pertencem ao biotipo mitis, 42,3% ao intermedius e 14,1% ao gravis.

Discussão

Em 1988, a introdução da coleta de material de comunicantes íntimos de casos suspeitos, inicialmente proposta como estratégia de orientação das medidas de controle da doença, também mostrou ser um im-portante recurso para o diagnóstico etiológico, dada a dificuldade de isolamento do bacilo diftérico no caso, em função da utilização prévia de antibióticos quando da suspeita clínica. No período estudado, 11 (24,4%) casos foram confirmados mediante a identificação do C. diphtheriae em seus comunicantes.

A pequena experiência clínica com a difteria que os profissionais dispõem, atualmente, aliada a uma apresentação clínica da doença pouco característica, atribuída, em parte, ao amplo uso de antibióticos e à possível mudança do perfil imunitário da popu-

Tabela 4 - Distribuição anual (número e percentual) dos casos de difteria segundo critério de confirmação, na Grande São Paulo. Brasil, 1987 a 1996

Ano

Critério de confirmaçãoTotal

Laboratorial Clínico-epidemiológico

No de casos % No de casos % No de casos %

1987 15 100,0 0 0,0 15 100,0

1988 8 88,9 1 11,1 9 100,0

1989 3 42,9 4 57,1 7 100,0

1990 1 50,0 1 50,0 2 100,0

1991 2 66,7 1 33,3 3 100,0

1992 0 0,0 1 100,0 1 100,0

1993 3 75,0 1 25,0 4 100,0

1994 2 100,0 0 0,0 2 100,0

1995 0 0,0 2 100,0 2 100,0

1996 0 0,0 0 0,0 0 0,0

TOTAL 34 75,6 11 24,4 45 100,0

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 187

Tabela 5 - Distribuição anual (número e percentual) dos casos confirmados por laboratório ou vinculo epidemiológico, e o número de comunicantes positivos e negativos, na Grande São Paulo.

Brasil, 1987 a 1996

Ano Casos confirmados

Casos confirmados com coleta de comunicantes

Comunicantes positivos Comunicantes negativos Total de comunicantes

coletadosNo de casos % No de casos %

1987 15 10,0 15 16,6 75 83,4 90

1988 9 4,0 4 20,0 16 80,0 20

1989 7 5,0 9 8,9 92 91,1 101

1990 2 1,0 3 33,3 6 66,7 9

1991 3 3,0 2 6,6 28 93,4 30

1992 1 1,0 1 2,8 34 97,2 35

1993 4 4,0 4 9,7 37 90,3 41

1994 2 2,0 5 9,6 47 90,4 52

1995 2 2,0 3 3,9 74 96,1 77

1996 0 0,0 0 0,0 0 100,0 0

TOTAL 45 32,0 46 10,1 409 89,9 455

Nota: x2 (qui-quadrado para tendência linear):

x2= 7,545 p= 0,006 α=0,05%

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

Tabela 6 - Comparação das amostras de casos suspeitos de difteria segundo a “bacterioscopia” e a cultura, na Grande São Paulo. Brasil, 1987 a 1996

“Bacterioscopia”No de culturas

TotalPositivo Negativo

Positivo 23 36 59

Negativo 11 894 905

TOTAL 34 930 964

Nota: Sensibilidade: 67,6%

Especificidade: 96,1%

Valor preditivo positivo: 38,9%

Valor preditivo negativo: 98,7%

Fonte: Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Instituto Adolfo Lutz, Seção de Bacteriologia.

lação, têm representado uma grande dificuldade para o diagnóstico dos casos, aumentando, con-seqüentemente, a responsabilidade do diagnóstico laboratorial.8,10,17,18

Entretanto, o diagnóstico laboratorial sofre pre-juízos com a utilização de antibióticos prévia ao momento em que a hipótese diagnóstica é levantada, dificultando o crescimento bacteriano. Assim, a prática de pesquisar portadores do bacilo entre comunican-tes de um caso suspeito tem-se mostrado de grande importância no Brasil, seja como medida de controle da disseminação da doença, seja como possibilidade

de confirmação etiológica. Para que essa medida permita a recuperação do bacilo, é fundamental que se definam, com precisão, os indivíduos a serem sub-metidos ao exame; e que a coleta de material ocorra em condições apropriadas.3,4

O diagnóstico laboratorial requer técnica adequada de colheita de amostras. Ele é dependente da viabili-dade dos bacilos, fortemente afetada pela utilização de antimicrobianos e por inúmeros procedimentos labo-ratoriais. Essas variáveis, todas relativas ao processo de diagnóstico laboratorial, podem ser responsáveis por resultados falsamente negativos.3,15,16 O laboratório

Silvana Tadeu Casagrande e colaboradores

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188 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

deve fornecer métodos simples, rápidos e confiáveis para complementar o diagnóstico clínico da difteria e auxiliar na eliminação de casos suspeitos ou comuni-cantes, evitando, assim, medidas de controle como o isolamento, por exemplo.15

Na Tabela 5, observa-se, a partir da década de 90 e em todos os casos confirmados, colheita de comunican-tes, análise e resultado de 10% de cultura positiva entre eles. A partir da década de 90, a pesquisa de portadores entre os comunicantes de casos suspeitos vem-se inten-sificando, o que tem contribuído para a confirmação de casos pelo critério clínico-epidemiológico. Dos casos confirmados, em 24,4% (Tabela 4), o critério de con-firmação foi clínico-epidemiológico; houve colheita de comunicantes em 32 dos casos confirmados (Tabela 5), reforçando a importância dessa prática.

O número de casos confirmados clínico-laborato-rialmente, no período, foi de 3,5%. A Tabela 1 mostra, a partir do final da década de 80, uma tendência significativa de declínio do risco de positividade na cultura, nos casos suspeitos (p=0,009).

A “bacterioscopia” no diagnóstico da difteria tem sido utilizada como um resultado parcial, de disponibi-lidade rápida (em torno de 24 horas), para orientação inicial do caso. Posteriormente, o diagnóstico é confir-mado pelo isolamento do C. diphtheriae.17 Os resulta-dos da Tabela 6 reforçam a recomendação do Manual de Vigilância Epidemiológica de que o caso pode ser confirmado mediante “bacterioscopia” positiva e qua-dro clínico compatível com a doença e cultura para o C. diphtheriae negativa.17 Embora a especificidade seja expressiva (98,7%), a confirmação do teste – de forma correta – deve identificar a doença quando ela estiver presente. O valor preditivo positivo (VPP), nesse sentido, é importante porque indica o percentual de falso-positivos na amostragem: como se pode observar na Tabela 6, o VPP foi de 38,9%, demonstrando que 61,1% dos casos suspeitos apresentaram resultado falso-positivo. O VPP depende não somente da acurácia do teste mas também da prevalência.19,20 Estimando-se uma prevalência de 1%, o VPP seria de 14,6%; e o

valor preditivo negativo(VPN), de 99,7%. Utilizando-se a sensibilidade e especificidade obtida no teste, tería-mos, então, 85,4% de falso-positivos, corroborando a nova recomendação do Manual de Vigilância de que a confirmação laboratorial do caso de difteria deva ser feita pelo isolamento do C. diphtheriae.21

Os resultados apresentados reforçam a norma vi-gente de que a coleta de material de comunicantes e demais medidas de prevenção da doença não podem aguardar o resultado da “bacterioscopia”; e que re-sultados negativos não devem interferir na decisão do número de amostras coletadas, porque a sensibilidade é da ordem de 67,6% e o VPP de 38,9%, mostrando que somente 38,9% dos casos serão confirmados como verdadeiros casos positivos.

Conforme a Tabela 1, o número de casos tem diminuído nas últimas décadas, fato que se deve, em muito, à queda da incidência da difteria no Brasil e no mundo.4 No País, no ano de 1999, essa incidência foi de 0,03 por 100.000 habitantes. A introdução da vacina tríplice e DPT no Brasil ocorreu a partir do ano de 1973, o que levou a uma relativização da impor-tância das ações de vigilância desse agravo entre nós, nos últimos anos.22

À medida que a doença torna-se um evento raro, novos desafios são apresentados à sua vigilância e controle. Entre eles, observa-se a existência de regiões e Municípios com baixas coberturas vacinais para a vacina tríplice e dupla bacteriana, o deslocamento de faixa etária mais atingida pela doença para jovens e adultos, a mudança das características dos casos da doença pelo uso da vacina, a piora das condições de vida da população com a formação de núcleos de conglomeração de indivíduos suscetíveis.2,11,22

Embora a difteria seja considerada uma doença da infância, essa característica apresenta-se de forma diferente, principalmente na epidemia ocorrida a partir da década de 90, nos Estados Independentes da União Soviética, onde 70% dos casos ocorreram em pessoas maiores de 15 anos.4,2,11,23 Neste estudo, a média de idade dos 3.131 pacientes foi de 14,59 anos, entre as culturas positivas; para os casos e co-municantes, a média foi de 11,2 anos e de 12,5 anos, respectivamente. No Estado de São Paulo, os maiores coeficientes são em crianças de 1 a 4 anos e de 5 a 9 anos. A partir do final da década de 80, contudo, observa-se o deslocamento da proporção de casos para os maiores de 15 anos.24

À medida que a difteria se torna um evento raro, novos desafios se apresentam à sua vigilância e controle.

Diagnóstico laboratorial da difteria

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 189

Nas Américas, há relatos de surtos de difteria descri-tos, o mais recente no Paraguai: 47 casos confirmados, com a maior incidência em crianças na faixa etária de 5 a 14 anos.7 Esses casos refletem a condição socioe-conômica da população, uma vez que os casos foram relatos em áreas pobres daquele país. No Brasil, áreas de pobreza distribuem-se em todo território e um surto de difteria em país próximo e de condições socioeco-nômicas semelhantes pode ser fator contributivo para um surto de difteria no nosso país.

As mudanças nas distribuições das idades nos casos de difteria, freqüentemente, são explicadas pelo impac-to de um programa de imunização. Dados históricos demonstram, porém, que as mudanças aqui analisadas ocorreram antes da introdução da imunização.1,11 O risco de infecção é semelhante, tanto para a pessoa vacinada como para a não vacinada, mas o risco da doença é maior em não vacinados ou submetidos a um esquema de vacinação incompleto. Observe-se que a cobertura vacinal do Estado de São Paulo vem declinando nos últimos anos.24

Um dos fatores que contribuiu para a emergência da difteria nos Estados Independentes da União Sovi-ética, na década de 90, foi a baixa cobertura vacinal em crianças.2,11 A implementação da rotina de dose-reforço para adultos, a cada dez anos, e a melhoria nas condições de vida de uma população poderão manter a difteria na condição de raridade.1,2,11,24

A recente epidemia nos Estados Independentes da União Soviética demonstra que a difteria pode res-surgir depois de anos de declínio ou mesmo da sua eliminação. Embora o risco de ressurgência da difteria em muitos países possa ser remoto, a capacidade de controle deve ser mantida. O controle e prevenção da difteria é função importante da Saúde Pública, não só para o fortalecimento da vigilância da doença, servindo, também, de estratégia de identificação – e entendimento – do caráter emergente e reemergente desse agravo.

A análise da toxigenicidade mostrou que, das cepas isoladas em casos suspeitos, 91,2% eram toxigênicas,

enquanto entre as cepas isoladas dos comunicantes, apenas 63,3% eram toxigênicas. Durante a recente epidemia na Ucrânia, estudo encontrou 82% de cepas toxigênicas em 1994, 81% em 1995 e 71% em 1996.23 A comparação desses dados reforça a hipótese de que apenas os casos mais exuberantes, clinicamente, estão sendo diagnosticados; e que infecções por cepas de C. diphtheriae não toxigênicas não estão sendo devi-damente diagnosticadas.

O laboratório necessita fornecer resposta rápida para a investigação de casos suspeitos e de comuni-cantes e implementar técnicas de monitoração das possíveis mudanças no perfil do C. diphtheriae em nível molecular. A experiência de dez anos, aqui apre-sentada, também indica a necessidade de incorporação de novas técnicas laboratoriais como a reação de poli-merase em cadeia [Polimerase Chain Reaction (PCR)], amplamente utilizada em outros países, para que se aumente a sensibilidade do diagnóstico laboratorial. A reação da polimerase em cadeia é um excelente método, que, no caso do C. diphtheriae, deve ser uti-lizado em conjunto com os métodos fenotípicos.11,25,26 O isolamento do agente é de grande relevância, prin-cipalmente para a confirmação da toxigenicidade e caracterização molecular do agente, bem como para o aprimoramento do diagnóstico da difteria e para a implementação das ações da vigilância.

Agradecimentos

Os autores agradecem aos profissionais do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, pelo atendimento aos pa-cientes, e aos profissionais do Same pelo apoio técnico no manuseio das fichas dos pacientes; à Rede de Vigilân-cia Epidemiológica do Estado de São Paulo, que realizou a coleta dos comunicantes; a Ângela Pires Brandão, pela valiosa contribuição na elaboração do banco de dados; ao Dr. José Leopoldo Ferreira Antunes, pelo auxílio nas análises estatísticas; e ao Dr. José Cássio de Moraes, pelas sugestões e revisão deste manuscrito.

Silvana Tadeu Casagrande e colaboradores

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Normas para publicação

Introdução

A Epidemiologia e Serviços de Saúde é uma publi-cação trimestral de caráter técnico-científico, priori-tariamente destinada aos profissionais dos serviços de saúde. Editada pela Coordenação-Geral de Desenvolvi-mento da Epidemiologia em Serviços da Secretaria de Vigilância em Saúde (CGDEP/SVS), tem a missão de difundir o conhecimento epidemiológico visando ao aprimoramento dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nela, também são divulgadas portarias, regimentos e resoluções do Ministério da Saúde, bem como normas técnicas relativas aos pro-gramas de controle.

Modelos de trabalhos

A revista recebe trabalhos candidatos a publicação nas seguintes modalidades: (1) Artigos originais nas seguintes linhas temáticas: avaliação de situação de saúde; estudos etiológicos; avaliação epidemiológica de serviços; programas e tecnologias; e avaliação da vigilância epidemiológica (número máximo de 20 laudas); (2) Artigos de revisão crítica sobre tema relevante para a Saúde Pública ou de atualização em um tema controverso ou emergente (número máximo de 30 laudas); (3) Ensaios, interpretações formais, sistematizadas, bem desenvolvidas e concludentes de dados e conceitos sobre assuntos de domínio públi-co, ainda pouco explorados (número máximo de 15 laudas); (4) Relatórios de reuniões ou oficinas de trabalho realizadas para discutir temas relevantes à Saúde Pública – suas conclusões e recomendações (número máximo de 25 laudas); (5) Comentários ou artigos de opinião curtos, abordando temas espe-cíficos; e (6) Notas prévias; e (7) Republicação de textos considerados relevantes para os serviços de saúde, originalmente publicados por outras fontes.

Apresentação dos trabalhos

Cada trabalho proposto para publicação deverá ser elaborado tendo por referência os “Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódi-

cos Biomédicos” Informe Epidemiológico do SUS 1999;8(2):5-16, disponíveis na página eletrônica do Instituto Evandro Chagas (IEC) de Belém-PA, vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), cujo acesso detalhamos a seguir: www.iec.pa.gov.br:8080/scielo.php, na coluna Pe-riódicos, no “link” Pesquisa de títulos. O trabalho apresentado deve estar anexado a uma carta de apre-sentação dirigida ao Corpo Editorial da Epidemiologia e Serviços de Saúde. Para artigos originais, artigos de revisão e comentários, os autores responsabilizar-se-ão pela veracidade e ineditismo do trabalho apresentado. Na carta de encaminhamento, deverá constar que: a) o manuscrito ou trabalho semelhante não foi publicado, parcial ou integralmente, nem submetido a publicação em outros periódicos; b) nenhum autor tem associação comercial que possa configurar conflito de interesses com o manuscrito; e c) todos os autores participaram na elaboração do seu conteúdo intelectual – desenho e execução do projeto, análise e interpretação dos dados, redação ou revisão crítica, e aprovação da versão final. A carta deverá ser assinada por todos os autores do manuscrito.

Formato de um trabalho para publicação

O trabalho deverá ser digitado em português, em espaço duplo, fonte Times New Roman tamanho 12, no formato RTF (Rich Text Format); impresso em folha-padrão A4 com margem de 3 cm à esquerda; e remetido em três vias, ademais de gravação magnética em disquete de 31/2”, por correio. As tabelas e figuras poderão ser elaboradas em programas do tipo Microsoft Office, Corel Draw ou Harvard Grafics, nos formatos BMP (Bitmap do Windows) ou TIFF, no modo de cor CMYK. Todas as páginas deverão ser numeradas, inclu-sive as das tabelas e figuras. Não serão aceitas notas de texto de pé de página. Cada trabalho deverá ser enviado com: PÁGINA DE ROSTO – título completo e resumido, nome dos autores e instituições por extenso, rodapé –; RESUMO e SUMMARY (versão do RESUMO em inglês); e finalmente, o ARTIGO completo – INTRODUÇÃO; METODOLOGIA, RESULTADOS, DISCUSSÃO, AGRA-DECIMENTOS, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e TABELAS/FIGURAS anexas –, nesta ordem:

Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume XX - Nº X - xxx/xxx de 200x ● 191

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192 ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● Epidemiologia e Serviços de Saúde

Página de rostoA página de rosto é composta do título do arti-

go – em português e inglês, em letras maiúsculas – seguido do nome completo do(s) autor(es) e da(s) instituição(ções) a que pertence(m), em letras minúsculas. É fundamental a indicação do título re-sumido, para referência no cabeçalho das páginas da publicação. No rodapé, constam o endereço completo, telefone, fax e e-mail de pelo menos o autor principal, para contato, e do órgão financiador da pesquisa.

ResumoColocado no início do texto, redigido em português

e com um número máximo de 150 palavras, o resu-mo deve conter descrição sucinta a clara do objetivo, metodologia, resultados e conclusão do artigo. Após o resumo, o autor deve listar três ou quatro palavras-chave de acesso, contempladas na lista de Descritores de Saúde definida pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da Orga-nização Pan-Americana de Saúde(Bireme/OPAS).

SummaryCorresponde à tradução em inglês do RESUMO, segui-

do pelas palavras-chave, igualmente em inglês (Key wor-ds). Os artigos originais, na sua estrutura, devem respeitar a seguinte seqüência, além dos tópicos já descritos:

Introdução Apresentação do problema, justificativa e objetivo

do estudo.

Metodologia Descrição precisa da metodologia adotada e,

quando necessário, dos procedimentos analíticos utilizados. Considerações éticas do estudo devem ser mencionadas ao final deste apartado, com menção às comissões éticas que aprovaram o projeto original – desde que o fato seja pertinente ao artigo.

ResultadosExposição dos resultados alcançados, podendo consi-

derar – anexas ao artigo – tabelas e figuras auto-explica-tivas, se necessárias (ver o item TABELAS e FIGURAS).

DiscussãoRelação dos resultados observados, incluindo suas

implicações e limitações, e a sua comparação com

outros estudos relevantes para o tema e objetivos do estudo.

AgradecimentosEm havendo, devem-se limitar ao mínimo indispen-

sável, localizando-se após a DISCUSSÃO.

Referências bibliográficasListadas após a DISCUSSÃO ou AGRADECIMENTOS e

numeradas em algarismos arábicos, na mesma ordem de citação no artigo. O número de cada referência deve corresponder ao número sobrescrito (sem parênteses) imediatamente após a respectiva citação no texto. Títu-los de periódicos, livros e editoras devem ser colocados por extenso. A quantidade de citações bibliográficas deve-se limitar a 30, preferencialmente. Artigos de revi-são sistemática e metanálise não têm limite de citações. As referências também devem obedecer aos “Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos”. Exemplos:

Anais de congresso:1. Wunsch Filho V, Setimi MM, Carmo JC. Vigilância em

Saúde do Trabalhador. In: Anais do III Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva; 1992; Porto Alegre, Brasil. Rio de Janeiro: Abrasco; 1992.

Artigos de periódicos:2. Monteiro GTR, Koifman RJ, Koifman S. Confiabi-lidade

e validade dos atestados de óbito por neoplasias. II. Validação do câncer de estômago como causa básica dos atestados de óbito no Município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública 1997;13:53-65.

Autoria institucional:3. Fundação Nacional de Saúde. Plano Nacional de Controle

da Tuberculose. Brasília: Ministério da Saúde; 1999.

Livros:4. Fletcher RH, Fletcher SW, Wagner EH. Clinical Epide-

miology. 2a ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1988.

Livros, capítulos de:5. Opromolla DV. Hanseníase. In: Meira DA, Clínica de

doenças tropicais e infecciosas. 1ª ed. Rio de Janeiro: Interlivros; 1991. p. 227-250.

Material não publicado:6. Leshner AI. Molecular mechanisms of cocaine

Normas para publicação

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Epidemiologia e Serviços de Saúde ● Volume 14 - Nº 3 - jul/set de 2005 ● 193

addiction. New England Journal of Medicine. No prelo 1996.

Portarias e Leis:7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência

à Saúde. Portaria n. 212, de 11 de maio de 1999. Altera a AIH e inclui o campo IH. Diário Oficial da União, Brasília, p.61, 12 mai. 1999. Seção 1.

8. Brasil. Lei n. 9.431, de 6 de janeiro de 1997. Decreta a obrigatoriedade do Programa de Controle de Infecção Hospitalar em todos os hospitais brasileiros. Diário Oficial da União, Brasília, p.165, 7 jan. 1997. Seção 1.

Referências eletrônicas:9. Ministério da Saúde. Informações de saúde [acessado

durante o ano de 2002, para informações de 1995 a 2001] [Monografia na Intenet] Disponível em http://www.datasus.gov.br

10. Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Emerging Infectious Diseases [Serial on the Internet]; 1(1): 24 telas [acessado em 5 Jun.1996, para informações de Jan.-Mar.1995]. Disponível em http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm

Teses:11. Waldman EA. Vigilância Epidemiológica como prática

de saúde pública [Tese de Doutorado]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 1991.

Tabelas e figurasDispostas em folhas separadas – para cada uma –,

numeradas em algarismos arábicos e agrupadas, ao final da apresentação do artigo, segundo a sua or-dem de citação no texto. As tabelas e figuras devem apresentar título conciso e, se possível, evitar o uso de abreviaturas no seu conteúdo; quando estas forem indispensáveis, serão traduzidas em legendas ao pé da própria tabela.

SiglasAcrônimos com até três letras são escritos com todas

as letras maiúsculas (Ex: DOU; USP; OMS). Ao serem mencionados por primeira vez, os acrônimos desconhe-cidos são escritos por extenso, seguidos da sigla entre parênteses. As siglas e abreviaturas compostas exclu-sivamente por consoantes são escritas em maiúsculas. Siglas com quatro letras ou mais são escritas com todas as letras maiúsculas se cada uma de suas letras é pronun-ciada separadamente (Ex: BNDES; INSS; IBGE). Siglas

com quatro letras ou mais que formam uma palavra, ou seja, que incluem vogais e consoantes, são escritas apenas com a inicial maiúscula (Ex: Sebrae; Camex; Funasa). Siglas que incluem letras maiúsculas e minús-culas originalmente, como forma de diferenciação, são escritas como foram criadas (Ex: MTb; CNPq; UnB). Para siglas estrangeiras, recomenda-se a designação correspondente em português, se a forma traduzida é largamente aceita; ou a sua utilização na forma original, se não há correspondência em português, ainda que o nome por extenso em português não corresponda à sigla. (Ex: OIT = Organização Internacional do Traba-lho; UNESCO = Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura; MRPII = Manufac-turing Resource Planning). Entretanto, algumas siglas, por força da sua divulgação nos meios de comunicação, acabam por assumir um sentido além da representação da sigla; é o caso, por exemplo, de AIDS = Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, sobre a qual o Conse-lho Nacional de Aids, do Ministério da Saúde, decidiu recomendar, dada a vulgarização da sigla original, que os documentos do Ministério reproduzam-na como se tratasse do nome da doença, aids, em letras minúsculas portanto. (Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de editoração e produção visual da Fundação Nacional de Saúde. Brasília: Funasa, 2004. 272 p.)

Análise e aceitação dos trabalhos

Os trabalhos serão submetidos à revisão de pelo menos dois pareceristas externos (revisão por pares). E serão aceitos para publicação desde que, também, sejam aprovados pelo Comitê Editorial da Epidemiologia e Serviços de Saúde. Endereço para correspondência:

Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços-CGDEPEpidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil SEPN, Avenida W3 Norte, Quadra 511, Bloco C, 3º andar, Edifício Bittar IV, Asa Norte. CEP: 70750-543. Brasília-DF Telefones: (61) 3448-8302 / 3448-8242. Telefax: (61) 3448-830

Para se comunicar por e-mail com a editora da Epidemiologia e Serviços de Saúde, o leitor deve es-crever para: [email protected]

Normas para publicação

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artigos neste número

Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 14 - Nº 3 - julho / setembro de 2005 |

ISSN 1679-4974

3

» Utilização de dados censitários em substituição a informaçõessocioeconômicas obtidas no nível individual: uma avaliação empírica

Guilherme L. Werneck e Carlos H. N. Costa

» Aspectos demográficos do processo de envelhecimento populacional em cidade do sul do Brasil

Gilberto Berguio Martin, Luiz Cordoni Júnior e Yara Gerber Lima Bastos

» Considerações sobre a qualidade de informações de mortalidade na população idosa residente no Município de Maringá,Estado do Paraná, Brasil, no período de 1979 a 1998

Thais Aidar de Freitas Mathias, Maria Helena Prado de Mello Jorge, Ruy Laurenti e Tirza Aidar

» Qualidade microbiológica da água para consumo humano em duas áreascontempladas com intervenções de saneamento – Belém do Pará, Brasil

Lena Lillian Canto de Sá, Iracina Maura de Jesus, Elisabeth C. Oliveira Santos,Elivam Rodrigues Vale, Edvaldo Carlos Brito Loureiro e Elisa Viana de Sá

» Diagnóstico laboratorial da difteria e a prática da coleta de material de comunicantes como estratégia da vigilância epidemiológica – Grande São Paulo, 1987 a 1996

Silvana Tadeu Casagrande, Maricene Garbelloti, Alice Mori Kobata,Maria Lúcia Rocha de Mello e Neuma T. Hidalgo