Revelação 248

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Jornal laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 03 à 09 de junho de 2003

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2 3 a 9 de junho de 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba ([email protected])

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: Cláudio Maia Leopoldo ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Sana Suzara7º período de Jornalismo

Alunos do primeiro ano e do terceiro períodode Comunicação Social, habilitação emJornalismo, tiveram aoportunidade de debaterno último dia 28 de maio,a necessidade do des-pertar da consciência daimportância do meioambiente para todos osseres vivos. Os pro-fessores Paulo Pucci do curso de Turismo eFrancisco Marcos dos Reis, de Jornalismopromoveram a palestra “A terra em miniatura”,e estimularam o debate

Paulo Pucci alertou a todos para o fato deque o meio ambiente é um fator depreocupação global, mas que tem efeitoslocais. Professores e alunos concordam queem Uberaba particularmente a preocupação

ambiental gira em torno da conservação ereconstituição da mata ciliar. Fundamentalpara a conservação das águas e as formasadequadas para o uso adequado.

A falta de água na cidade foi um dosassuntos que despertouinteresse na plateiaquando professor Puccideclarou que a falta deplanejamento foi umdos motivos daescassez de água. Paraele a construção de um

reservatório é importante, para garantir oabastacimento de água na cidade. Lembrandoque a preservação das as nascentes éfundamental, e que cada um pode contribuircom uma parcela. Reciclar, transformar epreservar. A lista de cuidados com o meioambiente é ampla, estendendo-se desdeaqueles necessários em ambientes edificadose urbanos até aqueles ao ar livre, na natureza.

Universitários debatem

meio ambienteProfessores de Turimo e Jornalismo falaram sobreos motivos da escassez de água na cidade

Em Uberaba, a preocupaçãoambiental gira principalmenteem torno da conservação ereconstituição da mata ciliar

Palestra

André Azevedo,

Paulo e eu estamos fascinados diante doRevelação - Cronologia da Destruição. Im-pecável!!!!!!

Lendo a matéria a gente é penetrado na His-tória do Brasil, de nós mesmos e evidentemen-te dessa cidade tão charmosa que é Uberaba.Quanta riqueza de informação através de cons-truções belissímas, imortais, infelizmente so-mente em nossas me-mórias. É claro que tê-las concretamente nosdá o prazer de reverconstantemente tantabeleza e nos mantémligados ao nosso pas-sado. São patrimôniosde Uberaba, do Brasil,do Mundo. Lamento que pessoas ilustres dessacidade deêm mais valor a estacionamentos ecoisas afins. Não sou dessa cidade, nem desseestado. Mas, em São Paulo, no Rio ou aqui, mesinto também dona de patrimôniosarquitetônicos, culturais e históricos como o

palacete de Antonio Pedro Naves. Tive a felici-dade de chegar à essa cidade em tempo deconhecê-lo, foi tão breve. Teria valido à pena

chegar antes paraapreciá-lo mais, vi-ajar tempo adentroem cada contornodessa construção,que hoje só temos alembrança.

Parabéns peloseu incorformismo e denúncia. Que a socie-dade uberabense seja tocada pela sua mensa-gem e se una na preservação do pouco quenos resta.

Abraços de Laureni Tavares e PauloRezende

Quanta riqueza de informaçãoatravés de construçõesbelissímas, imortais, infelizmentesomente em nossas memórias

O que podemos fazer?A humanidade precisa urgentemente de

um grande esforço conjunto para encontrarformas de desenvolvimento sustentável emudar urgentemente o atual modelopredatório de exploraçãoda natureza. Muitasvezes, parece que nosesquecemos deste sensode urgência, e ficamospreguiçosos, indolentes einsensíveis.

No entanto, é precisoque todos nós, individualmente, somemos osesforços para mudar nossa história. Apenasconscientizar-se do problema não soluciona.É necessário agir, participar e dar exemplo.

Nesta Semana do Meio Ambiente (de 2 a6 de junho) a professora Enedina MariaBorges Silva, a idealizadora do Projeto LixoMania, trouxe a Uberaba o especialista JoséCavalcante Barbosa, para oferecer oficinas de

reciclagem de embalagens descartáveis.Barbosa ensina a confecção de utensílios, –como vassouras e brinquedos – feitos a partirde material reaproveitado.

As oficinas estão sendorealizadas em diversascreches e escolas, como aCreche Comunitária MonikaBudeus e Ricardo Misson,Escola Municipal GeniChaves, Escola MunicipalFrei Eugênio, Escola

Municipal Santa Maria, Educandário EspíritaEstrada de Damasco, Escola Municipal GeniChaves , Casa Acolhida Marista, entre outros.

Essa iniciativa é um precioso exemplo doque podemos fazer para transformar essarealidade. Ficar impassível e fingir que oproblema não é conosco, não vai ajudar em nada.Nunca é demais lembrar que, o que está em jogo,é a permanência ou a extinção da vida na Terra.

Nunca é demais lembrarque, o que está em jogo, é apermanência ou a extinçãoda vida na Terra

A reportagem está disponível na íntegra através do endereço:http://intermega.com.br/andreazevedo/cronologia

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Da redação

Estudantes do 1º ano do curso deEducação Física da Uniube estão realizandouma campanha para arrecadar agasalhos entreuniversitários e moradores dos bairrospróximos ao Campus II. As roupas, cobertorese demais assessórios serão doados paraentidades carentes da cidade. O projetoconquistou o apoio da Uniube e do Plano deAtenção ao Estudante (PAE).

A campanha serárealizada de 2 a 6 de junho,e os pontos de coleta serãoinsta-lados embarraquinhas localizadasao lado da cantina. Acampanha contará tambémcom apresentações deestudantes de EducaçãoFísica, que prepararam atividades para divulgaro projeto. As atividades serão realizadas às10h15 e 21h15, na praça da Cantina, através doprojeto Ars Nova, do PAE.

A iniciativa foi despertada pela aluna BeatrizPinheiro Arduini. Ela sugeriu a idéia à sua turmae, com a ajuda de Mirella Campos Da-grava,passou a organizar a campanha. “A gente nementrou ainda no inverno, e o frio chegou derepente! Pegou muita gente desprevenida.Então, senti a necessidade de ajudar e fazer comque os universitários ajudassem também, porquesei que muita gente sem condições de comprarroupas vão sentir frio se a gente não fizer nada”,disse Beatriz.

As entidades beneficiadas ainda não estãodefinidas, pois dependem do tipo de agasalhoque será doado. “Tem que ver o que vamosreceber, se vai ser roupa de criança, se vãoser cobertores, para poder direcionar melhoras doações”, esclarece.

As estudantes não vêm incompatibilidadeem realizar uma segunda campanha doagasalho ao mesmo tempo em outra já estáem execução. “Quanto mais puder ajudar,melhor. A idéia é somar e levar nossa ajuda a

todos que precisam. Háuma outra campanha doagasalho que recebe asdoações no shopping eem outros pontos.Pensamos que talvezfosse mais prático parao universitário, ou osmoradores próximos da

universidade, doar por aqui perto. É mais umaforma de estimular a participação social”,explica.

As estudantes acreditam que muitagente costuma guardar as rou-pas por anosna gaveta, sem usá-las, ou mesmo lembrarque existem. “Às vezes ficam escondidasno guarda-roupa por mais de cinco anos. Agente sempre tem aquela esperança de quevai emagrecer, ou pensa que vai voltar usarum dia, que a moda vai voltar. Mas o queacontece é que a roupa nunca mais é usada.Fica mofando e enchendo guarda-roupa.”

Elas garantem também que esta iniciativaserá a primeira de várias campanhas sociais

Beatriz e Mirella querem incentivar o curso a participar de atividades sociais

Estudantes de Educação Física fazemcampanha do agasalhoRoupas e cobertores serão distribuídos para entidades carentes da cidade

Muita gente costuma guardaras roupas por anos na gaveta,sem usá-las, ou mesmolembrar que existem

Veja a programaçãoDia 2 (Seg.) Capoeira SenzalaDia 3 (Ter.) Body CombatDia 4 (Quar.) Body JamDia 5 (Qui.) Apresentação de dança AxéDia 6 (Sex.) Dança do Ventre

que o curso pretende realizar no decorrer doano. “Com isso, queremos incentivar oenvolvimento do alunos do curso de EducaçãoFísica em outras atividades sociais.”

A campanha tem o apio do PAE, e é pa-trocinada por Jin.Jin Chinese Fast Food, TodoSuco (Uniube), Medicinal Drogaria Manipu-lação e Homeopatia e Varejão Central de Sa-cramento (MG).

André Azevedo

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Maurício Rosa de Castro6º período de Jornalismo

Por morar em Araxá e estudar emUberaba, percorro diariamente um trajeto de230 km (ida-e-volta) pela rodovia BR-262,que liga as duas cidades. Há quase três anosviajo cinco vezes por semana, totalizandoem torno de 5000 km por mês. Nestamaratona percebo constantemente animaissilvestres mortos à beira da rodovia. Dentreas várias espécies de animais destacam-seos tamanduás-bandeira, lobos-guará, tatus,gambás, sariemas e alguns tipos de aves. Nocomeço cheguei a acreditar que o grandenúmero de animais mortos poderia ser pormaldade de alguns motoristas de caminhão,que acabavam atropelando-os por puroprazer.

Certo dia, numa dessas viagens, quandovoltava de Uberaba para Araxá, acabeiatropelando um lobo-guará. Eramaproximadamente 23h30, estava sozinho eviajava a uns 110 km por hora. Ele surgiuinesperadamente, cruzando a rodovia; todoesforço, não foi suficiente para evitar ochoque. Hoje acredito que dificilmente todomotorista tenha culpa. É tudo muito rápido.Voltei imediatamente na tentativa desocorrer o animal, levando-o para algumveterinário, mas infelizmente não conseguilocalizá-lo. Provavelmente ele sofreu algumferimento, e se arrastou para fora da rodovia.

Uma onça suçuarana, foi atropelada nokm 197 da Br-050, entre as cidades deUberaba e delta. O acidente ocorreu dia 10de maio quando o animal tentava atravessara rodovia. A onça é um animal raro emextinção, foi levada para o Museu deHistória Natural paraser embalsamada.

Laura Teodoro deOliveira Fernandes,médica veterinária,afirma, que sem al-gum socorro dificil-mente o lobo queatropelei sobrevi-veria, qualquer quetenha sido o ferimento, pois é um animalmuito sensível e se estressa facilmente.

Antônio Dérrico, motorista de ônibusque transporta há nove anos estudantes deAraxá que estudam em Uberaba, acreditaque o número de animais silvestresatropelados é muito grande, e a maioria dosatropelamentos ocorre devido à reação dosanimais ser contrária da que imaginamos.

O agravante é que à noite só se consegue vê-los quando já estamos quase em cima. “O tatuparece uma pedra que de repente se move, enão dá tempo de desviar, o Lobo parece quefica bobo com o farol e o gambá é o pior deles.

Desnorteado com osfaróis, passa a correrem circulos.

Dérrico lembraque, certa vez, quasechegando a Uberaba,viu alguma coisa es-cura no asfalto. Acre-ditou ser um saco pretoou algo assim. “Quan-

do fui desviar, passando para a outra pista,percebi que era um tamanduá dos grandes”,conta. Para piorar a situação, quando estavabem próximo, o tamanduá se assustou com obarulho do microônibus e parou de uma vez,ficou em pé e abriu as patas dianteiras. Esta ésua forma de defesa; quando ameaçado, tentaabraçar suas vítimas, cravando suas enormesunhas. “Neste momento, não pude fazer mais

nada, o impacto foi forte e fatal. Umapassageira que estava em um poltrona dafrente, chegou a questionar que eu haviaatropelado uma pessoa; falei para ela seacalmar, que era apenas um animal, lembraDerrico.” A dianteira do microônibusamassou bastante e tinha pêlos de tamanduápor toda a suspensãoe o escapamento.

Era comum veranimais próximos àestrada. Antigamente,quando comecei afazer esse trajeto, aoentardecer, eu via emostrava para os passageiros alguns animais,principalmente tamanduás que ficavamalimentando-se próximo à rodovia. Hoje sóos vejo quando já estão no asfalto, sem vida.Numa segunda-feira, 10 de março, deste anohavia um logo após o viaduto ferroviário,sentido Araxá.

O cabo Melo da Policia Florestal de Araxánão culpa os motoristas pelos atropelamentos.

Ele acredita que, se pudessem, evitariam osacidentes, mas questiona apenas que se osanimais atropelados recebessem algum tipode socorro, pelo menos alguns seriam salvos.Mas dificilmente um animal recebe socorro,Até porque a maioria dos atropelamentosocorre durante à noite, dificultando a ação.

Há ainda o medo e orisco de parar o carroem rodovias à noite.

Para o soldadoflorestal Gabriel, omaior índice de ocor-rência em Araxá éperto de áreas com

algum tipo de reserva, onde à noite os animaissaem para buscar alimento. Na reserva doGalheiro, próximo a Araxá, vemos Gambás,tatus, jaratatacas, cobras e capivarasatropelados. Na BR-262, entre Araxá eUberaba, também são vistos tamanduás-bandeira, lobos-guará e sariemas. “O lobo-guará é mais comum na região deSacramento”, diz Gabriel. “Os fazendeiros,

Faróis inimigosAnimais silvestres são presa fácil nas rodovias brasileiras

Meio ambiente

“O tatu parece uma pedra quede repente se move, e não dátempo de desviar, o Loboparece que fica bobo com ofarol e o gambá é o pior deles”

Dificilmente um animal recebesocorro, porque a maioria dosatropelamentos ocorre duranteà noite, dificultando a ação

fotos: Maurício Rosa de Castro

3 a 9 de junho de 2003

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não apenas os veículos, ameaçam o lobo-guará. Eles caçam os lobos para protegersuas criações,” observa Gabriel.

De Norte a SulO problema de atropelamento de

animais silvestres parece fazer parte detodas as rodovias do país, com pequenasexceções. Um estudo feito na UniversidadeFederal do Mato Grosso do Sul, UFMS,constatou que a BR-262, entre as cidadesde Campo Grande e Corumbá, é arecordista em atropelamento de faunasilvestre no Brasil. Em um ano forammortos mais de 1400 animais de 88espécies diferentes. É uma cifraimpressionante de quatro atropelamentospor dia e mais de três por quilômetro. Asvítimas são tamanduás, tatus, jacarés,capivaras, cervos e até animais raros ouem extinção, como a onça-pintada e o lobo-guará. “É uma tragédia silenciosa, da quala maioria dos brasileiros nunca ouviufalar”, diz o biólogo Wagner Fischer, de27 anos, responsávelpelo levantamento.Sua pesquisa, compa-rada com outra feitaem 1992 pela biólogaRita Herrera, mostraque o número de atro-pelamentos multi-plicou-se por quatro nos últimos cincoanos.

Os projetos das rodovias são traçadosde maneira improvisada, sem nenhumapreocupação com a fauna silvestre. Não hácercas de proteção nem túneis para facilitaro tráfego de animais de um lado para outro.A sinalização é precária e ninguém respeitaos limites de velocidade. O Brasil temmilhares de quilômetros de rodovias queatravessam santuários ecológicos. Emtodas elas, o atropelamento da fauna é umproblema.

Há poucos anos, uma pesquisa feitapelo biólogo Emerson Vieira, da

Universidade de Campinas, estimou em 2.700o total de animais mortos por ano só nasrodovias federais da Região Sudeste. Na

estrada que liga Pelotasa Chuí, no Rio Grandedo Sul, centenas decapivaras e outrasespécies são atropeladastodos os anos no trechode 20 quilômetros sobreo Banhado do Taim, um

mini pantanal perto da divisa com o Uruguai.O mesmo acontece na Manaus-Porto Velho ena Cuiabá-Santarém, rodovias que cruzamextensas áreas de Floresta Amazônica.

ArmadilhaA estrada é uma armadilha mortal para

essa enorme e variada fauna, porque atraios animais antes de matá-los. Alguns delessão atraídos para o meio da rodovia embusca de pequenos animais e insetos quetambém são atropelados pelos automóveise servem de banquete para seus predadores.Em sua singular pesquisa de campo, Fischertestemunhou cenas dramáticas. “Já vi

famílias inteiras de animais atropeladas deuma só vez, e filhotes órfãos vagando pelarodovia” . O maiornúmero de mortesocorre à noite, porqueos faróis dos carrosprovocam cegueiramomentânea nosanimais. Surpreendidospelo facho de luz em meio à escuridão, elesficam imobilizados, em vez de fugir. “Nãodá nem para culpar os motoristas pelosacidentes”, diz Fischer. “A estrada é que nãodeveria estar aqui.”

Ondas ultra-sônicasExperiências de outros países no

assunto, mostram que é possível reverteresta situação. A Alemanha, onde estão asestradas ecologicamente mais corretas doplaneta, combina cercas que impedem oacesso dos animais à pista, com viadutospelos quais eles possam atravessar de umlado a outro, sem ter de enfrentar os carros.Nos Everglades, a imensa área de pântanosao sul da Flórida, nos EUA, as rodovias de

alta velocidade são suspensas nos trechosde maior concentração da fauna. Em outrasregiões, vizinhas de parques nacionais,usam-se até aparelhos que emitem ondasultra-sônicas para afastar os animais darodovia.

Outra solução, mais simples e barata,adotada no mundo inteiro, é estabelecerlimites rigorosos de velocidade e punirmotoristas infratores. “São medidasrelativamente simples, que poderiam seraplicadas no Pantanal brasileiro e reservasecológicas. “Com um pouco de boa vontade,é possível pôr um fim nessa tragédia”, acreditaFischer

PreocupaçãoA diversidade de nossa fauna transmite

uma falsa idéia de abundância, o quecostuma levar à destruição. A expansãodesordenada do país tem provocado adiminuição de várias populações da faunaao ponto de levar algumas espécies a

desaparecerem demuitas regiões.

Muitas espécies seencontram em extinçãodevido a processosnaturais; outras, noentanto, correm o risco

de extinção pela acelerada ocupação edestruição da nossas florestas.o IBAMApublicou a lista oficial das EspéciesAmeaçadas de Extinção. Na lista há animaisbem conhecidos, como a ararinha-azul, aararajuba, o mico-leão-de-cara-dourada,tamanduá-bandeira, tatu-canastra, ariranhae outros.

Espécies em extinçãoMamíferos: 67Aves: 109Répteis: 01Insetos e outros invertebrados:32Total: 218 espécies

Pesquisa estimou em 2.700o total de animais mortospor ano só nas rodoviasfederais da Região Sudeste

“Já vi famílias inteiras deanimais atropeladas deuma só vez, e filhotes órfãosvagando pela rodovia”

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Alessandra Goiaz Mendonça7º período de Jornalismo

A região da Serra da Canastra, no Su-doeste de Minas Gerais, possui algumas dasmais deslumbrantes e desconhecidas pai-sagens do Brasil. Para manter as belezasnaturais do lugar, foi criado em 1972, o Par-que Nacional da Serra da Canastra, com71.525 hectares demarcados e parte do ter-ritório de três municípios: Sacramento,Delfinópolis e São Roque de Minas. É nestaúltima, por ser a cidade mais próxima, queestá localizado o escritório do IBAMA,responsável pela preservação do Parque.

Os parques nacionais, em geral, são áre-as delimitadas, que por suas belezas natu-rais e culturais devem ser preservadas e con-servadas. Os principais objetivos desses par-ques são a preservação ecológica, a prote-ção de espécies raras da fauna e da flora, aproteção dos recursos hídricos (rios, nascen-tes e cachoeiras) edas formações ge-ológicas, além deproporcionaremmeios para a edu-cação ambiental,investigação, pes-quisa, estudos e a conservação de valoresculturais, históricos e arqueológicos.

O da Serra da Canastra, especificamen-te, possui riquezasque revelam aosolhares mais aten-tos, o que a nature-za tem de mais bo-nito. São cachoei-ras, nascentes de

rios, animais e vegetação fazem o cenárioperfeito para passeios e esportes radicais.

Um dos grandes motivos da criação doParque foi a proteçãodas nascentes do rioSão Francisco. A Ser-ra da Canastra é umaespécie de berçario derios situados bem nodivisor de duas baci-as hidrográficas: a do rio Paraná e a do rioSão Francisco. Da bacia do Paraná, um dosrios mais conhecidos que nascem nochapadão é o Araguari. Foi às margens de-les que no século XVIII, surgiu o garimpode ouro que deu origem à história vila doDesemboque, marca de toda a ocupação doBrasil Central.

Segundo Paulo Estevão Pucci, profes-sor de Turismo Ecológico na UNIUBE, oParque possui área delimitada com estru-tura para camping, com luz elétrica, chu-veiros, churrasqueiras. “ O Parque agoraestá passando por uma reestruturação, é in-teressante ligar para os responsáveis paraver se a área do camping está disponível,se não está passando alguma reforma”, avi-sa Paulo.

Além de professor, Paulo Pucci é supe-rintendente do ONG Organização da Pre-servação da Natureza Grupo Kurupira, cujoobjetivo principal é a educação ambiental.

Eles trabalham com projetos na área de tu-rismo ecológico, fazem prestação deconsultoria gratuita a proprietários rurais eindustriais dentre outras atividades relaci-onadas ao meio ambiente. Para a Serra daCanastra, o grupo possui dois projetos, oprojeto São Francisco, integração para oincentivo ao turismo ecológico, e o segun-do é o Operação Serra Limpa, que é a doa-ção de tambores e sacos de lixo com men-sagens ecológicos timbradas para o pesso-al do IBAMA e para turistas.

O CerradoA Serra da Canastra pertence ao Cer-

rado brasileiro. Este se encontra no co-ração do país em área de aproximada-mente dois milhões de quilômetros qua-drados, ou 22% do território nacional. Deacordo com o livro Um olhar sobre oCerrado, idealizado por Beatriz Masson,esta imensidão de terras corresponde a

três Franças ou seisItálias ou ainda 40Holandas. Além dasdiversidades de flora efauna, o Cerrado é oberço das águas brasi-leiras, onde nascem os

rios formadores das três maiores baciashidrográficas da América do Sul – o rioTocantins e o Araguaia, que correm paraa Amazônia; o rio São Francisco, que vaipara o Nordeste e os rios formadores dabacia do Paraná, que segue a direção sulaté chegar ao Uruguai.

No Cerrado, a flora apresenta uma

Criado a 30 anos, o Parque Nacional da Serra da Canastra revelam aos olhos o que a natureza tem de mais belo

Os encantos da SerraTurismo

A região da Serra da Canastra, noSudoeste de Minas Gerais, possuialgumas das mais deslumbrantes edesconhecidas paisagens do Brasil

No Cerrado, a flora apresentauma biodiversidade estimadaentre quatro mil a 10 milespécies de plantas

Veado Campeiro é uma das principais atrações do Parque

fotos tiradas do site www.canastra.com.br

Cachoeira Casca D´Anta de quase 200 metros, é aprimeira grande queda do Rio São Francisco

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biodiversidade estimada entre quatro mil a10 mil espécies de plantas. Em número deespécies vegetais, só perde para as flores-tas tropicais úmidas, como as da Amazô-nia e das matas costeiras. A fauna tambémnão deixa a desejar. Somente entre os ver-tebrados são conhecidos 400 espécies deaves, 70 gêneros de mamíferos e 30 espé-cies de morcegos, e entre os invertebradosforam identificadas 27 espécies de libélu-las, 90 de cupins, 1000 borboletas e 550abelhas vespas. É muito tipo diferente debichinho!

Voltando ao assunto, o Parque Nacio-nal da Serra da Canastra faz parte apenasde um pedacinho do Cerrado brasileiro,possuindo dois maciços importantes: a Ser-ra das Sete Voltas e a Serra da Canastra comatitudes variando entre 900 e 1496 metros.A vegetação típica é de campos de altitu-de, com capões de mata nas grotas e vales.Devido a este tipo de vegetação o Parque épropenso a incên-dios, que na maio-ria das vezes, sãode grande propor-ção, principalmen-te no período dejulho a outubro.

Segundo Paulo Pucci, existe um tra-balho por parte do IBAMA com os pro-prietários de terras que ficam ao redordoParque de fiscalização e conscientizaçãoquanto ao perigo de colocar fogo em pas-tos. Quanto ao Grupo Kurupira, eles aju-dam no que diz respeito ao turistas. “ Agente conversa, pede para tomar cuida-do, pára os veículos na estrada e pedepara tomar cuidado com o tocos de ci-garro. A vezes quebra uma garrafa ou ajoga para fora do carro, isso pode cau-sar, posteriormente, incêndios. O vidrofunciona como uma lente, você já viu quecom uma lente de aumento, consegue fa-zer fogo”, explica.

Um dado curioso a respeito do Cerradoencontrado no livro de Beatriz Masson éque as queimadas, comuns nos períodos deseca, também trazem a vida. Depois deconsumidas as folhas ressecadas e de tor-nadas cinzas as cascas de alguns troncos,

mesmo em plena seca, muitas espécies bro-tam acordadas pela combustão. A cascacortiçosa e grossa das árvores atua comouma espécie de isolante térmico, prote-gendo a integridade do tronco, que voltaa brotar pouco depois de atingido pelofogo. Muitas espécies, como a jacarandaanã, possuem sementes protegidas por rí-gidas estruturas, que se abrem somentedepois da agressão provocada pela altatemperatura.

Porém, isto nãoquer dizer que sedeve colocar fogoem tudo quanto éárvore ou planta doCerrado. Atual-mente, as queima-das só podem ser

feitas mediante autorização oficial, em áre-as delimitadas, para fins agropecuários oucientíficos. Não pode sair botando fogo emtudo porque pode ocasionar seríssimo da-nos ecológicos.

Animais em extinçãoAssim como a flora, a fauna do Parque

da Serra da Canastra também tem as suas

diversidades de espécies. Os animais sãouma das maiores atrações da Serra. A faunatípica da região reúne várias espéciesameaçadas de extinção como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o veado-campeiro,que podem ser vistos com relativa facili-dade. Porém, se o homem não tomar cons-ciência, estes animais só serão vistos emretratos.

O lobo-guará, por exemplo, há algunsanos atrás, podia ser encontrado emgrande parte do território brasileiro. Atu-almente, habita oscerrados abertos daregião Centro Oeste,além de áreas restri-tas das regiões Sul eSudestes. Este ani-mal faz parte das es-pécies da fauna brasileira ameaçada deextinção, restam poucos milhares da es-pécie.

Paulo Pucci conta que, há algum tempoatrás, ele não disse quando, dois lobos-guarás foram capturados em Uberaba. De-pois de passarem por uma quarentena, coma autorização do IBAMA, eles foram sol-tos na Serra. “ Esses dois lobos que nósencontramos foram soltos com coleiras deidentificação, elas são próprias para nãomachucar o animal”.

Assim como o lobo-guará, outro ani-mal que está em risco de extinção devi-do à destruição de seu habitat é otamanduá-bandeira. O crescimentopopulacional, bem como a extensão dapecuária e a caça ilegal estão contribuin-do para a redução de espaço natural e ex-termínio da espécie. As queimadas cri-minosas também são fatais, pois seu pêloe altamente inflamável.

Assim como o lobo-guará, outroanimal que está em risco deextinção devido à destruição deseu habitat é o tamanduá-bandeira

A regra número um para veros bichos e ser atento esilencioso, ou seja, quemestiver a pé terá mais chances

Placa indicando a nascente do Rio São Francisco

Lobo-guará com sua coleira de identificação posta pelos ambientalistasDiversidade da vegetação é um dos atrativos

Parque possui 71.525 hectares demarcados

A preservação de seu habitat natural éfundamental para a sua sobrevivência. Di-ficilmente atinge alta longevidade em ca-tiveiro, já que não há insetos suficientespara satisfazê-lo. Na natureza pode vivermais de 25 anos, enquanto nos zoológicosou cativeiros morrem antes de seacasalarem.

No entanto, mesmo ameaçados elespodem ser encontrados no Parque comfacilidade. Não só eles, como também,cachorro-do-mato, siriema, ema, gavião

carcará, quatis, tuca-nos… A regra núme-ro um para ver os bi-chos e ser atento e si-lencioso, ou seja,quem estiver a pé, acavalo ou de bicicle-

ta terá mais chances do que quem estiverde carro. A maioria dos animais fogequando percebe a presença de movimen-tos estranhos. Alguns são dóceis e curio-sos, permitindo uma aproximação. Nes-se caso, o turista deve ficar calmo, nãofazer barulho nem movimentos bruscose não perseguir os animais. A recompen-sa pode ser uma bela foto.

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Diovana Miziara5 periodo de Jornalismo

O Planeta Terra formando em grande partede sua extensão por grandes massas de águabem que poderia se chamar Planeta Água.Segundo o site www.uniagua.org.br, o volumede água estimado em nosso planeta gira emtorno de 1,35 bilhões de km3, sendo que,97,40% deste volume pode ser consideradocomo água salgada encontrada nos oceanos emares, o restante destas reservas pode serencontrado nas grandes geleiras dos Pólos,em torno de 1,979%, nas águas subterrâneas(0,59%), nos rios e lagos (0,03%) e naatmosfera em forma de vapor d’água(0,001%), totalizando 2,6% de água que podeser considerada como “doce”.

Porém, a diferença entre os volumes deágua disponível no Planeta Água e a águaadequada para consumo humano, pode servisualizada com o exemplo de um barrilutilizado para acondicionar toda águaexistente no planeta; a água doce ocupariaaproximadamente 13,5 latas de refrigerante,já a água que encontramos nos rios, lagos eoutros reservatórios propicia para usos maisnobres ocuparia pouco mais que uma xícarade café.

Portanto, a recente preocupação quanto aescassez de água nas próximas décadas é umaprevisão baseada em fatos concretos,avaliados cientificamente, visto que, o volumede água propício para consumo daspopulações encontradas as margens de rios elagos tem sido reduzido significativamentetanto na quantidade como na qualidade.

De certa forma, o Brasil encontra-se emposição privilegiada com relação a outrospaíses, pois detem cerca de 11,6% da águasuperficial de todo mundo, porém 70% desterecurso se encontra naRegião Amazônicaque se caracteriza pelasua baixa densidadedemográfica, do ladooposto, regiões densa-mente povoadas pos-suem menor disponi-bilidade deste recurso. Um caso brasileiro degrande veiculação na mídia é a cidade de SãoPaulo. Esta metrópole caracterizada pela suaalta densidade demográfica sofre com aescassez das águas em alguns períodos do ano.Além disso, o modelo de desenvolvimento

econômico vigente que privilegia ocrescimento urbano sem levar em conta oequilíbrio ecológico faz com que sejamlançados grande parte dos esgotos domésticose industriais in natura (sem tratamento) no RioTietê, Pinheiros e outros, o que contribuidiretamente para a queda da oferta de água. Poroutro lado, destaca-se a falta de planejamento

dos órgãos públicosligados a esta temáticano passado.

Para manteras ágas clarasEm Uberaba a

situação não édiferente. Hoje a cidade conta com 250 milhabitantes, que consomem de 250 a 300 litrosde água por habitante dia. Segundo oengenheiro do Centro Operacional deDesenvolvimento e Saneamento de Uberaba,CODAU, Osmar Ribeiro de Morais, esta

situação se torna delicada se levamos emconta que temos uma única fonte deabastecimento: o Rio Uberaba.

Uberaba quer dizer “águas claras”, emlíngua indígena. Não foi a cidade que deunome ao rio e sim o rio que deu nome a cidade.Então, para Osmar Ribeiro de Morais issosignifica que a região tem abundância de água.O problema é equi-librar a retirada de águado rio e com cresci-mento da cidade. “Esteé um fator econômicoque o município tem afunção de administrarbem. Quando tirar dorio e até quando per-mitir que a população cresça”, diz ele.

A cidade cresceu em número dehabitantes, mas também em outros setores.Segundo Rogério Stacciarini, engenheirocivil, doutor em recursos hídricos, o

crescimento de Uberaba foi em vários setorese não apenas populacional. “O crescimentoda população acaba ocasionando ocrescimento de outros setores. Se a populaçãocresce surge a necessidade de criar maiscondomínios, mais conjuntos habitacionais,que estarão impermeabilizando, invadindoáreas de nascentes, que alimentam o rio e a

própria cidade”. Se-gundo ele, hoje 75%da água no Brasil éutilizada para o setoragrícola e Uberaba temessa característicamuito forte que é a deprodução agrícola etambém criação de

rebanhos. Muitas áreas que eram de cerrado,de preservação permanente, deram lugar paraas pastagens, para a cultura da cana de açúcar.

Paulo Estevão Pucci, superintendenteexecutivo do Grupo Kurupyra- Associação

O futuro pode irágua abaixoEscassez de água começa a amedrontar

Abastecimento

Recente preocupação quanto aescassez de água nas próximasdécadas é uma previsãobaseada em fatos concretos

Polícia florestal embargou desmatamento na margem do rio Uberaba no ano passado

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No ano passado, nos mesesde setembro e outubro, Uberabapassou pela estiagem maisprolongada dos últimos 50 anos

arquivo: Grupo Curupira

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para Preservação da Natureza- tambémacredita que o crescimento da população temafetado a distribuição de água na cidade. “Aurbanização de áreas de mananciaisdemonstra uma falta de visão das pessoas quepermitem que a cidade cresça. Uma vez quea cidade cresce, aumenta o consumo de água,a geração de esgoto, aumenta a falta deemprego. É uma reação em cadeia”.

De forma geral, nota-se um desperdíciomuito grande de água por parte da população.Para o engenheiro civil, mestre em recursoshídricos, Fabrício Vieira Alves, a água temsido utilizada pela nossa sociedade comgrande desrespeito, mesmo tratando-se de umimportante recurso natural e econômico paraa sobrevivência e desenvolvimento dasgerações presentes e futuras que ocuparão oplaneta.

Rogério Stacciarini diz que, todas asculturas estão “educadas” para o desperdíciode água pelos seus próprios hábitos interiorese domésticos. Para ele isso se estende tambémpara a agricultura e usos industriais. “Apopulação tem o hábito de consumir água deforma excedente ”, diz.

No ano passado, nos meses de setembro eoutubro, Uberaba passou pela estiagem maisprolongada dos últimos 50 anos, maiorinclusive a enfrentada durante a crise deenergia no país. Segundo Carlos SampaioNogueira, Secretário de Meio Ambiente deUberaba, nesse período, a umidade do ardiminuiu, a evaporação aumentou e aindaexistia problemas com as irrigaçõesirregulares, ocasionando a diminuição do leitodo Rio Uberaba. Tal fatoobrigou a retirada de100% da água do rio,sem, contudo, atender apopulação. As medidastomadas foram de reduziro consumo da populaçãoque recebeu água emrodízio de 12 X 12horas, fechamento depontos de retiradas de água do rio eimportação de água do Rio Claro.

Diferentes caminhosPara este ano, mesmo tendo começado

com muita chuva, soluções devem ser toma-das porque do contrário,o abastecimento de águana cidade ficará compro-metido mais uma vez.“O Rio Uberaba não écercado de solos es-ponjosos, é cercado deregiões de mata e a

chuva que cai na mata esoca rapidamente,penetrando pouco no solo. Embaixo do RioUberaba é tudo basalto. A chuva enche muito

transbordando o rio, fazendo com que ele nãoretenha a água. Nos só estamos retirando dorio e não repomos; mas agora e hora de pensarque o rio por si só nãoconsegue abastecer acidade. Precisamosparar de pensar que orio é uma fonte ines-gotável. O rio é umafonte esgotável”, dizOsmar Ribeiro deMorais.

A primeira providência para tentarresolver o problema já foi tomada. O Codauestá desenvolvendo uma campanha deconscientização para tentar reduzir o consumode água a níveis nacionais, que é de 150 litrospor habitante dia. Com isso também seráveiculada uma campanha de economia deágua nas escolas, principalmente entrecrianças, através da distribuição gratuita deuma apostila educativa. “Às criançaspodemos ensinar como economizar água; aosadultos devemos punir financeiramente, paraque percebam que a água é um bem de certaforma caro”, afirma o engenheiro da CODAU.

Outra solução prevista é o controle daocupação da Bacia do Rio Uberaba, para quea vegetação ciliar cresça e tenha capacidadede reter a água no solo, mesmo depois depassada a época das chuvas.” A Bacia do RioUberaba, acima da captação soma 500quilômetros quadrados. Nestes 500 km,quando chove, nos queremos que essa águafique armazenada no solo porque quando a

água penetra no solo, ela demora um prazopara chegar no rio. Quando se tem muitavegetação, a água vai mais devagar para o rio.

Com isso consegui-mos ter uma vazãomais perene. Além domais, a Bacia do RioUberaba é hoje umaárea de preservaçãoambiental. Então aocupação dos solos

será regida por leis, porque precisamos mantera água. É importante que tenhamos uma formade regularização da ocupação urbana ”, dizOsmar Ribeiro de Morais.

Para os técnicos do CODAU estasiniciativas não bastam para resolver oproblema de escassez de água na cidade.Também está sendo estudada a viabilizaçãode uma transposição de águas do Rio Claropara o Rio Uberaba, ou seja será transportadaa água de outra bacia para a Bacia do RioUberaba. Mas para isso deve ser visualizadatoda a questão ambiental do processo. Estatransposição deve seguir alguns critériosambientais e não pode danificar a Bacia doRio Claro, de onde se estaria retirando estaágua e nem a Bacia do Rio Uberaba queestaria recebendo a água. Este processo já estáem fase de pedido de aprovação pelasautoridades e assim que esta aprovação sair,a transposição será feita.

Para Osmar Ribeiro de Morais, só com atransposição não se tem condições desustentar a instabilidade do rio, então será

Rio Uberaba, em foto de outubro de 2002, na seca que mais castigou a cidade

Grupo do Instituto Estadual de Florestas (IEF) na captação para recomposição da vegetação ciliar

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O Codau está desenvolvendouma campanha deconscientização para tentarreduzir o consumo de água

Para Osmar Ribeiro de Morais,só com a transposição não setem condições de sustentara instabilidade do rio

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construída uma represa, chamada represa deregularização, com capacidade de armazenarmais ou menos 2 milhões de metros cúbicos,para sustentar e equilibrar as águas do RioUberaba. “Quando chover essa água vai ficarem cima, quando começar o período da seca,essa água vai começar a descer. Então nósvamos controlar a vazão que precisamos. Avazão do rio é de 1.2 metros cúbicos porsegundo, mas retiramos 0.9 então sobra 0.3para manter o rio. No geral essa represa vairegular a vazão, choveu aqui em Uberaba e oleito do rio cresceu muito, a represa vaisegurar este excesso de água e quando a secachegar, teremos água armazenada”,argumenta Osmar Ribeiro de Morais.

Mas toda essa discussão sobre umapossível transposição de águas e a construçãode uma represa tem causado polêmica entreos estudiosos do assunto.

Para Paulo Pucci a transposição de águasdeve ser feita dentro das exigências dalegislação ambiental vigente, com estudo deimpacto ambiental e um relatório comdiscussão na comunidade, porque a Bacia doRio Claro interessa também ao município deUberlândia. E a construção da represa estarásobrecarregando o rio, trazendo um impactoambiental muito grande para o mesmo. “Vocêtira cada vez mais de um rio para o qual vocêdá cada vez menos”.

Rogério Stacciarini compartilha da mesmaopinião. “A transposição é complicada porquevocê estará transferindo um problema que éseu para outra bacia. Daqui a pouco esta baciavai estar transferindo para outra e daícomeçaremos a ter conflitos por causa daágua, já que a premissa diz que as próximasguerras poderão surgir pela falta de água ecom a questão da transposição isto podeocorrer”, diz ele.

Para o diretor doGrupo Kurupyra assoluções para aresolução do pro-blema de escassezde água são várias.Promover a recu-peração da Bacia doRio Uberaba éessencial, ou seja uma recomposição davegetação ciliar para que ela regenere.Também seria viável trabalhar a questão daeducação ambiental com os proprietáriosrurais, incluindo técnicas de manejo econservação dos solos, a destinação final dosresíduos de sua atividade, o controle depesticidas, herbicidas e fertilizantes, autilização de máquinas agrícolas, que às vezesde uma maneira inadequada, geracompactação e permeabilização do solo. “Sãovárias ações que devem ser desenvolvidas, sepossível, simultaneamente”, diz ele.

A opinião de Rogério Stacciarini,assemelha-se a de Paulo Pucci. “As primeirassoluções a serem tomadas, são a orientaçãoverbal e também pela mídia a população dosentido de rodízio mesmo, todo mundo terá

que se habiltuar a gastar menos, reorientar ostrabalhos nas redes de distribuição e também

um trabalho para arecuperação dasnascentes e o re-florestamento do rio.Essas medidas de-vem ser imediatas.Talvez depois disso,seria a perfuração dedois ou três poços e

também entender a capacidade do município.Se ele não pode crescer porque não tem água,então que seja feito a médio e longo prazoum controle de natalidade, para que a cidadesó volte a crescer quando este ciclo serestabelecer. Em último caso seria atransposição”.

Além disso, as cidades, e em Uberaba nãoé diferente, lançam seus esgotos semtratamento em córregos e rios, juntamentecom as indústrias e os produtores agrícolasmostrando poucas preocupações, continuamlançando grandes quantidades de materialtóxico proveniente de suas atividades semtratamento no meio ambiente, seja ar, solo ouágua.

Segundo Osmar Ribeiro de Morais, o RioUberaba tem 150 km de comprimento da

nascente até Uberaba, 57 km até a captação,5 km de um trecho muito ruim que no períodode seca fica totalmentesem água e depois vem30 km de uma área ondenão é possível ter vidade peixes e vegetais porcausa dos esgotos quesão lançados pelacidade sem tratamento.

Para Carlos Sam-paio Nogueira, as indústrias deveriam dar umadestinação correta ao esgoto antes de lançá-lo no rio. Mas sabemos que isso não aconteceporque infelizmente ainda não temos umaestação de tratamento de esgoto. As indústriasaqui instaladas jogam os esgotos no rio comoqualquer outro habitante.

Fabrício Vieira Alves diz que essesesgotos lançados nos rios da regiãopromovem a queda da qualidade das águasdos mananciais, utilizada também paraabastecer outras cidades da Bacia do RioUberaba.

De forma geral, estudiosos acreditam queo problema maior está na falta de cuidado coma Bacia do Rio Uberaba. “O estado dedegradação que se encontra a bacia nomontante da estação de captação, vem

A vazão de água diminuiu a níveis consideráveis, provocando desabastecimento na cidade

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fazendo com que o volume de água diminuaa cada dez anos. À medida que o tempo vaipassando, este volume de água vemdiminuindo em função desta açãodepredatória do homem na bacia”, relataPaulo Pucci.

Rogério Stacciarini afirma que a bacia estásofrendo com a falta de investimento dasautoridades locais. “Está faltando investirrecursos na própria recuperação da bacia,incluindo recuperação da mata ciliar, estudosde impacto ambiental, a preservação dasnascentes, a decapitação das obras deempreendimento que estão se agravando aolongo das margens do rio”.

Já Fabrício Vieira Alves afirma que oprincipal problemarefere-se a falta depolítica local. “Apopulação de Uberabae seus governantes temconquistado impor-tantes avanços nestaquestão, porém encon-tram-se distantes de

uma situação ideal de debate e implementaçãode políticas públicas”.

De forma subjetiva podemos visualizar aágua como um “termômetro” presente nomeio ambiente, toda a interferência brutal dohomem neste meio, seja, pelo desmatamentode reservas florestais, pela ocupaçãodesordenada dos espaços ou no lançamentode poluentes no ar e na água promovealterações nas condições de equilíbrio do meioambiente, e assim a queda da qualidade daágua pode representar estas interferências. OPlaneta água encontra-se doente e osprimeiros sintomas podem ser notados.

Este paradoxo representa a limitaçãohumana em compreender e aprender a viverem harmonia com os outros seres e elementosque constituem este Belo Lugar.

Promover a recuperação da Baciado Rio Uberaba é essencial, ou sejauma recomposição da vegetaçãociliar para que ela regenere

Esgoto fica próximo ao local de captação de água

De forma geral, estudiososacreditam que o problemamaior está na falta de cuidadocom a Bacia do Rio Uberaba

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Luis Flávio Assis Moura2º período de Jornalismo

Não, não é que seja um simplesacontecimento bonito: é que ele sedesenovela e surge em processo, emcamadas precisamente – cores e luzes enuvens se assomando em procissão mudaatravessando o sol e o dia aos poucos,como que carregando o caixão da estrelamorta. Lentamente, pincelando-se depúrpura e quietude, nasce a lua em suasaciedade. Se o sol busca o poder e ainvasão, a lua nada mais é que umasenhora em expectância de si,balançando seu corpo igual a uma mãeegoísta. Só que a lua não é egoísta:simplesmente é cheia de paciência, e seubrilho meio fosco esconde as obviedadesdo dia para transformá-las em incógnito.Descrever o que acontece é um poucoimpossível; na verdade, não ocorre nadaalém de um pingar mais aéreo do tempoe uma tonalidade lentamente enterrandoa outra enquanto os dois astros sedesencontram e se beijam uma única veznos campos do inegável e adivinhado, aembriaguez da bondade e de alegriainsuportável cedendo sua vida para aterrível lucidez e sutileza da maldadepura e sem mestre. Mas existe umsegredo na noite: aquilo que nãoaparecia ao sol e ninguém acreditavaexistir começa a correr solto pelasmadrugadas túrgidas que serpenteiam-se por aí. E ninguém percebe do mesmojeito, porque – quem verdadeiramentegosta da noite a não ser para seentorpecer como um cão afogado emlicor e dono das patas sujas? Quem sairiade casa à noite unicamente pela razãode ser da escuridão? Ninguém além dosloucos e solitários, esses mistériosdesacreditados da natureza dos homens.Assim, continuaescondido o uni-verso de sílfides,gênios, duendes,vermes, miasmas eanjos – sim, anjos!– resguardados emalgum útero entum-bado e inesquecívelde Deus.

Mas tudo isto é algo que há depois dopôr-do-sol e não o próprio, estou fugindodo assunto.

O pôr-do-sol em si, e agora sereilinear, é aquele momento em que o solse deita ao oeste e a lua nasce em algumlugar – embora ninguém queira saber da

noite e ache o sol morrendo a coisa maislinda, me ajude, me ajude. Na verdade,a beleza que surge do pôr-do-sol écompletamente outra; é o nascimentode algo sempre novo e destinado aoestertor. Porque a lua é um organismomarcado para morrer: não é como aporcaria do sol, que cai e renasce otempo todo só por ser quente e fugaz. Alua carrega em sua redondice umamelancolia e fatalidade vergantes,nascidas de seu destino ser sempre o de

viver a noite so-mente uma vez.Aquela mulhergorda experimen-tada na noite dehoje não é a quetecerá seu tempo eas estrelas mortashá milhões de anos

na próxima. Ela morre e é reposta poroutra, e cada uma das luas sabe dissoantes mesmo de nascer. Todas elas –surgindo sabe-se-lá de onde, talvez domovimento eterno das coisas? – nasceme morrem em um dado instante imutável,afastadas da longevidade do Deus eestranhamente próximas de sua

sabedoria quase inútil – mais do quequalquer outra das coisas que existem.E imagino que, séculos atrás, em algumlugar qualquer do planeta diziam que asestrelas nascentes eram as lágrimas dalua espalhadas pela tapeçaria das nuvens– estas, a cama da Deusa. A verdade queexiste nesta lenda é a tristeza da noite;por ela, só podemos rezar e nos prostrarminúsculos e contritos.

Para terminar esta coisinha curta,falemos um pouco do crepúsculo. Isso, ocrepúsculo. Queé o nascer do sol.(afinal, por queser o sol o centrode todas as in-ferências?)Apesarde existir a mes-ma procissão so-lene de adensa-mento do mundo e das sensações emcamadas cada vez mais numerosas egrossas, há uma diferença crucial namorte ritmada da lua: a unificação dotempo. Um pôr-da-lua se protege dentrode um cavalete secreto que mescla emsua conjuntura passado, presente efuturo, sendo ao mesmo tempo dia e

Sobre o Pôr-Do-Sol

noite, luz e sombra. É a oportunidadeúmida e irrecuperável em que a luapondera sua existência enquanto o solse esquece da morte e volta lentamentea possuir e dominar sem propósito o céucom sua grandeza irritante. Ao mesmotempo o mundo fica mais jovem e suasramificações se envelhecem como queem ciranda, esperando sem avidez oentrelaçar dos dois extremos nacelebração do tudo. Infelizmente, paratestemunhar o abraço táctil entre sol e

lua, ou se tem adisciplina paraapreciar a exis-tência das ma-drugadas ousimplesmente sepadece de in-sônia ou tris-teza. Este é um

momento raro que só aqueles que desatamseus laços sanguíneos com a realidade sólidapodem presenciar e compreender. É quandoo primeiro dos mal-ditos “verdadeiros” denossas vidas perde o sentido para sempre eo mundo se reinventa.

Pergunto: qual de vós tem a coragemde mergulhar no desconhecido da noite?

Cores e luzes e nuvens seassomando em procissão mudaatravessando o sol e o dia aospoucos, como que carregandoo caixão da estrela morta

E imagino que, séculos atrás, emalgum lugar qualquer do planetadiziam que as estrelas nascenteseram as lágrimas da lua espalhadaspela tapeçaria das nuvens

CADERNO LITERÁRIO

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