Revelação 249

12

description

Jornal laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 10 à 16 de junho de 2003

Transcript of Revelação 249

Page 1: Revelação 249
Page 2: Revelação 249

Newton Luís Mamede

2 10 a 16 de junho de 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba ([email protected])

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: Cláudio Maia Leopoldo ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Já escrevemos, neste espaço, há algumtempo, sobre o equívoco de dividir as ciênciasem humanas e as outras, como se “as outras”não fossem resultado do trabalho intelectualdo homem. Comentamos, na época, sob o títuloCultura humanística, a impropriedade dotermo humanas, nessa classificação científica.

O momento histórico que estamosvivendo, em termos de cultura intelectual, oude conhecimento científico, está conduzindoa uma espécie de resistência ao que seconvencionou denominar humanismo, ouciências humanas, no sentido tradicional eequivocado que se dá a essas expressões. Comoas ciências ditas“exatas” estão“ i m p e r a n d o ”modernamente,inf luenciandomentes e consci-ências, exercendoo fascínio dosavançadíssimos engenhos tecnológicosaplicados em todos os setores da vida humana,os estudos das ciências chamadas humanasestão sendo despres-tigiados, ou, ao menos,“classificados” em segundo plano.

Já o pensador católico Alceu AmorosoLima, conhecido também pelo pseudônimoTristão de Athayde, escreveu, ainda emmeados do século passado, um livro intituladoPelo humanismo ameaçado. Naquela época,já estavam ocorrendo as grandestransformações científicas e tecnológicas daatualidade, com as fantásticas viagensespaciais, os fascinantes progressos nascomunicações e todos os modernismos eavanços em qualquer forma de produçãoindustrial. E já se percebia, ou se sentia aameaça ao “humanismo”, ao estudo e aoaprimoramento intelectual com base nosconhecimentos de ordem ou de naturezadiversa dos de outras ciências, ditas “nãohumanas”, ou conhecidas sob outrasdenominações (“exatas”, “tecnológicas”,“naturais”, et coetera).

E estamos presenciando isso hoje, sim. (Eesse hoje é antigo, já se aproximando de trêsquartos de século). Não se trata de umacompleta rejeição ou abolição dos estudosditos humanísticos, em sentido tradicional eindevido. Mas é uma ameaça. Até entreestudantes de ensino médio, que se preparampara os cursos superiores, a “discriminação” évisível (discriminação e desprestígio). Osalunos que apresentam tendência para os cursosfundamentados em ciências “humanas”, comosociologia, história, letras, pedagogia esimilares, são até ridicularizados pelos demaiscolegas, quando não pelos professores e,

mesmo, dirigentesdas escolas. Se fortendência para ocurso de filosofia,então, coitadosdesses alunos! Sólhes falta serem“linchados”.

Ora, o humanismo está ameaçadoexatamente porque ele está sendo consideradounilateralmente, isto é, apenas de um lado, olado das ciências “não humanas”. Entendidoo termo ciência como o conjunto dosconteúdos universais que o homem conhecee sabe, toda ciência é humana, pois é produtoda atividade intelectual do homem. Porhumanismo deve-se entender, pois, todo oconjunto das ciências, todo o conjunto dosconhecimentos intelectuais, metódicos,organizados, sistemáticos que buscam averdade dos fenômenos, em todos os camposdo saber, e não apenas em alguns. Então, paraque o humanismo não seja ameaçado, e paraque aconteça em plenitude, todas as ciências(isto é, toda a sabedoria intelectual humana)precisam ser consideradas em isonomia, nomesmo plano de valor e de importância. Casocontrário, o que está sendo ameaçado é asabedoria plena do homem.

Newton Luís Mamede é Ombudsman daUniversidade de Uberaba

O humanismoameaçado

O momento histórico que estamos vivendo,em termos de cultura intelectual, ou deconhecimento científico, está conduzindo uma espécie de resistência ao que seconvencionou denominar humanismo

Miriam Lins Caetano7º período de Jornalismo

11/06 Solenidade de lançamentooficial da Campanha McDia Feliz 2003

Local: Sede da OASIS (Rua MiguelAbdanur equina com a Avenida NelsonFreire)

12/06 Noite dos NamoradosJantar à luz de velas e desfiles de várias

griffes em benefício à Casa do Menino eADEFU (Associação dos deficientes

físicos de Uberaba).Local: Spasso Buffet.

11, 12, 13 e 14/06 – Cine Music ShowO evento inclui orquestra, coral, corpo de

baile e vários solistas.Local: Vera Cruz.

17/06 – Palestra com Lair Ribeiro“Prosperidade – Abundância ao seualcance”

Horário:19:30Local: Cine Teatro Vera Cruz.

Agenda

O curso de Psicologia, através daUnidade Temática Produção doConhecimento Científico empsicologia II, ministrada pelaprofessora Gislene Macêdo, convidapara o I Seminário de Pesquisa emPsicologia: “Abrindo caminhos parao Conhecimento Científico” , queacontece nos dias 16, 17 e 18 noauditório 2C01. Serão apresentadas8 pesquisas desenvolvidas pelosalunos dos 2º e 3º período, queatravés de atividades teórico-práticas conheceram e aprenderamdiferentes formas de fazer ciência emPsicologia.

O primeiro significado que o Aurélio dá àpalavra paixão é “sentimento ou emoçãolevados a um alto grau de intensidade,sobrepondo-se à lucidez e à razão”. A julgarpelas matérias doRevelação, a paixão, defato, não parece obedecer anenhuma regra. E, muitasvezes, como quer odicionário, ela sobrepõem-se à lucidez e à razão. Mas,e daí?

A paixão pode nascer de encontrosocasionais, de encontros repetidos, dequalquer encontro. Nesses tempos modernos,até mesmo de encontros virtuais, através da

internet, têm nascido paixões erelacionamentos. A paixão é o inexplicável,magia que ocorre entre pessoas parecidas epessoas diferentes, colegas de profissão e

pessoas, aparentemente,sem nenhuma afinidade,em áreas diferentes.

A paixão pode ser ocaminho para um grandeamor _ ou uma grandedecepção. A faísca podechegar a ser incêndio, ou

não passar de um fogo que a brisa extingue.Cabe a cada qual desbravar essa trilha, quese renova a cada passo, e mantê-la acesa paradescobrir se vale a pena.

A paixão pode nascer deencontros ocasionais,de encontros repetidos,de qualquer encontro

A paixão

Már

io A

ugus

to D

i Poi

Cru

z

Page 3: Revelação 249

3310 a 16 de junho de 2003

Karla Marília*6º período de Jornalismo

Imagine a cena: uma senhora entra emuma loja e é impedida de efetivar a compra,já que não traz a anuência do marido. Outracena: uma jovem tem o casamento anuladopelo próprio marido, pois descobriu que aesposa não era mais virgem.Cena de filme? Era o am-paro da lei em ambos os ca-sos. Tudo isso estava pre-visto no Código Civil Bra-sileiro. Finalizado em 1916,época onde ninguém co-mentava sobre divórcio ouexames de DNA, o Código já nasceu “care-ta”: ou seja, estava ultrapassado mesmo. Em1968, o jurista Miguel Reale decide revê-lo.O projeto foi enviado em 1975 ao Congressoe apenas em janeiro de 2002 recebeu a san-ção do Presidente Fernando Henrique Cardo-so. Muitas transformações já se consolida-vam, através de jurisprudências. Esclarecen-do: jurisprudências são decisões de tribunais.

Algumas mudanças no Código Civil “no-

vinho em folha” são realmente indispensá-veis. Aquela história de virgindade e anula-ção de casamento citada acima já era. Aliás,o novo código nem faz menção ao artigo de1916. O jovem adquire maioridade civil aos18 anos, e não mais aos 21.

Atualmente, em caso de separação, os fi-lhos são deixados com quem tiver melhor con-

dições para criá-los. No Có-digo Civil de 1916, as cri-anças ficavam apenas comas mães. Quanto ao regimede bens do Código atual, oartigo 1.829 dispõe que emcaso de falecimento, o côn-juge sobrevivente disputa

metade da herança, mesmo que o regime sejade separação total dos bens. Anteriormente,mulheres que viviam anos e anos com seusmaridos não recebiam nada se o regime fosseo de separação total.

Com a Constituição de 1988, nasce o ter-mo união estável. O novo Código dá uma ar-rematada nessa história toda: não se estipulaum tempo mínimo de convivência para ca-racterização do regime. Os juízes decidem o

Qual é a “recauchutada” no nossobom e velho Código Civil?O que mudou no Código Civil Brasileiro

caso. São regidos pela comunhão parcial debens, ou seja, tudo que for adquirido após aunião do casal pertence a ambos e em partesiguais. A famigerada palavra concubinato, queera empregada anteriormente, foi obviamen-te abolida. Vigora a união estável.

Outro dispositivo importante é a igualda-de entre os filhos: não importa se são adoti-vos, biológicos ou nascidos de relaçõesextraconjugais, o novo Código garante o mes-mo direito a todos. O termo “pátrio poder”,que se referia ao poder do pai na sociedadeconjugal, foi substituído por “poder familiar”,que inclui a mulher, para que os dois possamparticipar igualmente das decisões referentesà família. E aos casamenteiros, um aviso: ocasamento pode sair de graça, sim senhor. Como novo artigo 1.512 do novo Código Civil, osnoivos pobres não pagam e o casamento reli-gioso, realizado em qualquer culto, possuiefeitos civis. Levando os documentos neces-sários ao cartório e a certidão para seraverbada, não é necessária a presença do juizde paz. O religioso possui as mesmas atribui-ções que ele.

(*) Formada em Direito

Algumas mudanças noCódigo Civil “novinhoem folha” são realmenteindispensáveis

reprodução

Page 4: Revelação 249

4

Julyene Martins da Silva1º ano de Jornalismo

Há aproximadamente 48 anos, a força dodestino, promoveu o encontro entre doisjovens estudantes: João Hercos Filho e ElcySilva Hercos. É que em 1955 os doisdesisitiram das suas primeiras escolhasprofissionais e optaram coincidentemente poruma profissão em comum: a medicina. Desteencontro nasceu um amor que dura até hoje.João Hercos, desistiu de ser engenheiro, estácom 66 anos, é do signo de Capricórnio enasceu em Conceição das Alagoas. ElcyHercos, desistiu de serdentista, está com 67anos, é do signo deTouro e nasceu emCarangola /MG. O casalse conheceu naFaculdade Nacional deMedicina no Rio deJaneiro, vizinha daPraia Vermelha. Elcy relembracarinhosamente que o encontro registrou ummomento muito interessante.

Eles estudavam na mesma turma e, numdeterminado dia, quando Elcy usava umapulseira que João gostou muito, tudocomeçou. João demonstrou tanto interessepela pulseira que tinha o nome dos pais deElcy gravado, que ela levou-o até a joalheiraonde comprara a pulseira. Na época os paisdela tinham uma pensão, e durante o passeio,Elcy convidou João para almoçar na pensãoe conhecer seus pais. A partir daí passaram a

ter uma convivência mais próxima. “Oproblema era que a pulseira seria parapresentear uma namorada que eu tinha aquiem Uberaba, mas Elcy me roubou dela ecomeçamos a namorar”, disse ele brincando.

O namoro foi um período maravilhoso decinco anos de convivência na faculdade. Elescomentam que o período foi fundamental paraque realmente se conhecessem. A música “Eunão existo sem você”, de Vinícius de Moraesé a trilha sonora deste relacionamento desdeo início. Para eles não há música melhor pararepresentar “a música do casal”. A praiaVermelha também marca a história do casal

pois era o lugar onde maisgostavam de namorar.Durante a entrevista o belocasal deixa claro através deolhares, toques e gestos decarinho, que mesmodepois de tantos anos, elescontinuam namorando evivendo intensamente

como se cada instante fosse o único.Quando cursavam o sexto ano de

medicina, no dia 28 de maio de 1960, no Riode Janeiro eles se casaram. O processo deorganização do casamento marcou as suasvidas, pois estavam estudando para prestaremconcurso para residência médica em ProntoSocorro, o que causava uma ansiedade aindamaior de se unirem. Depois de um ano deformados, o casal instalou-se em Uberabaonde moraram com os pais de João, pois aindanão tinham condições de comprar uma casa.

O tempo foi passando e a vidamelhorando. Os dois trabalhavam no ProntoSocorro, Elcy também ministrava aulas naFaculdade de Medicina do Triângulo

Mineiro, e a situação financeira foimelhorando e o amor aumentando. Joãoatuando como oftalmologista e Elcy comoginecologista. Eles acreditam que semdúvida a escolha da mesma profissão, foi aolongo de todos estes anos o que mais lhesaproximou. Exercer a mesma atividade evitaum certo “choque” e proporciona maiorcompreensão entre as partes, uma vez que avida de um médico não tem rotina.

A união provocou o aumento da famíliaatravés do nascimento de três filhas: EstherLuisa Hercos Fatureto (médica), que trabalhacom o pai, Ana Cristina Hercos da Cunha(professora de idiomas) e Sônia ReginaHercos Fontes (economista). “Todas bemcasadas”, afirmam os pais orgulhosamente.Durante a entrevista João lembra umabrincadeira já feita com Elcy, em que eleperguntava: “se fosse para você casarnovamente comigo você se casaria?” elarespondia: “não”. Mas logo diz para todospresentes que se arrependia da resposta, e quecasaria sim, “foi bom demais”, confessa ela.

Desde que deixou a medicina, há 14 anos,Elcy se dedica a vida social, e graças aomarido que lhe oferece um suporte muitogrande, ela tem conquistado váriosbenefícios para a comunidade. Há trintaanos, durante as comemorações dos seusaniversários não aceitam presentes mas simdoações, que são posteriormente destinadasà caridade. Elcy inaugurou com pioneirismoem Uberaba este tipo de atitude. Ela gostade dedicar seus momentos de folga à pinturae a uma boa pescaria. Devido a seu grandeprazer na pesca, o marido presenteou aesposa quando completaram 40 anos decasados, com a instalação de um quiosquedentro do lago que fica no sítio deles situadoà 5 quilômetros de Uberaba: o “Sítio daAmizade”, que hoje é o lugar que elesrealmente gostam de ir para namorar.

Ao longo dos últimos 42 anos os doismoram em Uberaba e estão totalmenteintegrarados na comunidade local. “Em 43anos de casados, nunca tivemos desavenças,e sim pequenos aborrecimentos, mas nada queuma boa noitada não resolvesse”, ressaltam.Para eles, o sucesso de um relacionamento sedeve a muita compreensão e humildade paraaceitar certas críticas um do outro, e énecessário que na vida de um casal prevaleçasempre a palavra desculpa. “Hoje os casaisda sociedade moderna, se separam noprimeiro problema e depois se arrependem,mas para voltar as vezes fica sem graça, entãoé importante não deixar que pequenosproblemas se tornem em grandes”, disse ele.Hoje eles não tem nada mais a pedir, e simagradecer a Deus por ter lhes dado umafamília maravilhosa, sete netos e as três filhasperfeitas.

10 a 16 de junho de 2003

Da pulseira para oamor eterno

Namorados

João Hercos Filho e Elcy Silva Hercos, juntos há 48 anos

Eles estudavam na mesmaturma e, num determinadodia, quando Elcy usava umapulseira que João gostoumuito, tudo começou

Vinícius de Moraes

Eu sei e você sabe, já que a vida quis assimQue nada neste mundo levará você de mimEu sei e você sabe que a distância não existeQue todo grande amor só se é grande se for tristePor isso, meu amor, não tenha medo de sofrerPois todos os caminhos me encaminham pra vocêAssim como o oceano só é belo com o luarAssim como a canção só se tem razão se se cantarAssim como uma nuvem só acontece se chorarAssim como o poeta só é grande se sofrerAssim como viver sem ter amor não é viverNão há você sem mim e eu não existo sem você.

Eu não existo sem vocêConfira a música favorita do casal

O que dizem os astros?União dos signos de Touro e Capricórniopromove solidez no relacionamento

“Se a combinação touro-virgem erasolidez, esta é solidez mais sala VIP. Asociedade entre eles é a mais sériapossível, aquela história dos dois olhandona mesma direção, mesmo: na direção deum carro último tipo, de viagens duasvezes ao ano para Paris, de uma posiçãode destaque na empresa ou do título doclube mais fechado do país. Vão serextremamente fiéis um ao outro –qualquer tropeço poria a perder não só oromance, mas um investimento enormeem projeção social.

Fonte:http.//www.terra.com.br/esoterico/astrologia/afinidades.pl

foto

s: a

rqui

vo p

esso

al

Page 5: Revelação 249

35

Erika MachadoKeyla Cristina5° Período Jornalismo

Casamento: ato solene de união entre duaspessoas de sexos diferentes, capazes ehabilitadas, com legitimação religiosa e oucivil. O que Deus uniu o homem não separa.Definições prontas de casamento que temcaido por terra, depois de tantas divergênciassobre a união dos casais.

Noivar, vestir de noiva, com véu egrinalda, assinar todos os papéis, receber abenção de Deus e da família. Há bem poucotempo, a mulher casava-se virgem e vivia paracuidar dos filhos e da casa. Morar com onamorado ou fracassar na união era motivode vergonha, e até exclusão da sociedade.

As coisas foram mudando, as mulheresganharam espaço no mercado de trabalho,assumiram uma nova postura sexual e hojebuscam estar ao lado de quem realmentegostam. Independente de papel ou cerimôniareligiosa. Os homens por sua vez,acompanharam as conquistas feministas ehoje encaram o casamento comoconsequência de um estável relacionamentoe não mais como uma obrigação.

As pessoas pensam mais antes de se casar,procuram primeiro uma segurançaeconômica, sucesso profissional, e pelomenos um relacionamento estável. Por outrolado se separam mais. Não sentem vergonhade recomeçar.

Existem casais de todos os estilos. Háquem queira se casar no civil e no religioso,como Blueth Sabrina Lobo UchÔa,publicitária, que está de casamento marcadopara o dia 12 de julho. Com os papéisassinados e a benção dopadre, Blueth será afutura senhora Talarico..Ela e seu noivo, oindustrial AlessandroRodrigues Talarico,fazem questão de umacerimônia no civil e na igreja católica.Fizeram curso de noivos e esperam ansiososa chegada da data. De famílias católicas, ocasal diz que optou não só por tradição, maspor devoção também. Para eles casamentotem o sentido denotativo da palavra.

Mas nem todos os casais pensam assim.O jornalista Sérgio Vilas Boas, acha essahistória de casamento civil e celebração

religiosa uma bobagem. Ele diz que odeiacerimônia mas respeita quem faz essa opção.Ele e a esposa, a também jornalista PatríciaBraga, estão juntos há 10 anos, sem aliançase sem papel passado.

E uma celebração religiosa também nãoenvolve só vontade e fé. Os custos com umabonita cerimônia faz muita gente desistir da

benção do padre. Acomerciante AnivaldaSilva Fernandes uniu-seao motorista JoãoBatista Fernandes há 21anos. Católicos, gosta-riam de ter casado no

religioso mas as condições financeiras nãopermitiram. Ela conta que como qualquermulher o seu sonho era de casar na igrejavestida de noiva. Hoje ela até teria condiçõesmas não vê mais motivo e ainda brinca: “Casar duas vezes com um homem só?” Masnão falta torcida para que a cerimôniaaconteça, a filha de 19 anos até já se ofereceupara ser a dama de honra.

Quem se uniu, não só duas, mas três vezes,foi o professor universiário Edvaldo PereiraLima e a psicóloga Lucy Coelho Pennna.Morando juntos, eles resolveram oficializara união. Casaram-se no civil em um ritualInca. Descendente de indígenas, Lucyconfirmou o amor pelo marido ao ar livre,com a benção da natureza. Eles se casaramem setembro de1998, no sítio damãe dela, no interiorde São Paulo. MasEdvaldo explica queo casamento jáexistia há muitotempo, independente de oficialização. Eles nãousam alianças, mas sabem que estão unidos,por uma força maior que vem do coração.

Sem importar a religião ou a forma quese dá a união, os casais sabem que o querealmente une é a afeição que ambos sentem.

O escrevente e universitário, Rafael Rochajá oficializou muitas uniões mas nem por issose casou no papel quando resolveu viver junto

Que seja eternoenquanto dure

Namorados

com sua esposa, a fisioterapeuta Talita BerteRocha. Depois de um ano de namoro, resolveramdividir uma vida e uma casa em comum. Sãoseis anos juntos, mas só a dois, os pais de Arthur,de 1 ano e nove meses, resolveram legalizar aunião. Casaram-se no civil.

Nem todas as religiões celebram a uniãocomo a igreja católica. A evangélica Elaine

de Bessa PereiraSouza conta que nasua congregação, ocasamento é vali-dado pela uniãocivil, sem ceri-mônias religiosas,

mas com toda a tradição dos casamentos.Vestidos de noivos, o casal trocou alianças epermanecem juntos há 14 anos.

Independente da forma que casaisapaixonados se unem, todos concordam que oelo de amor que une duas pessoas é averdadeira prova de casamento. E como diriaa letra da música de Renato Russo: “ É só amor,é só amor, que conhece o que é verdade…”

Os custos com uma bonitacerimônia faz muita gentedesistir da benção do padre

Todos concordam que o elode amor que une duas pessoas,é a verdadeira prova de casamento

Casais falam das formas de seus casamentosreprodução

10 a 16 de junho de 2003

Page 6: Revelação 249

“Em algum final de tarde de 1994, estavatomando cerveja com diversos amigos na por-ta do Munchen. Uma moçada bonita movimen-tava a avenida Santos Dumond trabalhando nacampanha política. Nanda se aproximou total-mente vestida com as propagandas do Eduar-do Azeredo. Ela me perguntou qual era meucandidato a governador. Eu tinha 19 anos, masbrinquei que não tinha idade para votar. Naverdade, eu votaria em qualquer um em trocadaquele sorriso largo.

Ela também me pediu para que eu vestisse acamiseta e colasse adesivo no carro. Agradeci eguardei aquele material. Nanda insistiu para queeu vestisse a camiseta na hora e a levasse até ocarro para colar o adesivo. Essa eficiente caboeleitoral tinha apenas 15 anos. Fiz tudo comoela queria e esse foi o nosso primeiro encontro.

Mais tarde, em junho de 1995 começamosa namorar. Eu estava cursando o segundo anode zootecnia na FAZU e ela, o primeiro cole-gial no Objetivo. Temos personalidades dife-rentes e sonhos em comum. Guiada pelo amore pela cumplicidade, a nossa relação completa8 anos neste mês. E esta história está apenascomeçando. E eu, Nilo Müller me sinto o ho-mem mais feliz do mundo.”

“Nunca poderia imaginar que um dia o Renée eu iríamos namorar. Eu, aKarla aluna, ele o técnico dacomunicação. Ele trabalhavano bloco em que eu fazia ocurso de publicidade, e comouniversitária admirava seutrabalho, e confesso, comopessoa também, por serdivertido e educado. Come-çamos a sair juntos em umaturma de amigos em comum, que adoram umafarra, beber, cantar e conversar. Conversa vai,

conversa vem e um clima pintou no churrasco desala na casa de um colega.Estamos juntos até hoje.

Ele é grandão, forte, tími-do, calmo e calado e eu peque-nininha, magrinha, extroverti-da, meio nervosa e falante.

Faz cinco meses queestamos namorando e cada diaque passa, aprendo mais comele. René é uma ótima pessoa,

com um coração enorme que cativa todo mun-do. Nós nos completamos!”

Eleição àcandidatura do amor

Os opostos se atraemMiriam Lins Caetano7º período de Jornalismo

Dia dos namorados chegando, é hora de beijarna boca e falar de amor. E para você que aindanão encontrou sua cara-metade, não se desanime.

Namorados não,

Ele grandão, forte,tímido, calmo e caladoe eu pequenininha,magrinha, extrovertida,meio nervosa e falante

Fernanda Ribeiro, 21 anos, namora há oitoanos com Eugênio Camilo, 24. Ela confessaque o namoro não perdeu a graça com todoesse tempo, ao contrário se consolida a cadadia.

Olha só que história legal! A religiãoos ajudou, e muito. Se conheceram emum baile do grupo de Jovens da IgrejaCatólica em Delta. De início, acharam

que tudo era apenas uma brincadeira,mas…

A questão era a seguinte. O pai de Fernandaera um senhor muito rigoroso e não permitiaque a filha namorasse. Foi preciso Eugêniopedir permissão para namorar em casa. O maisengraçado neste pedido é que o rapaz não tinhao costume de pedir ninguém em namoro esomente à meia-noite ele teve coragem de falar.

Rezando você pode conhecer o amor da sua vida!E como o senhor Francisco já estava cansadode esperar, não teve ânimo de proclamar ofamoso “discurso”.

Noivos há dois anos, o casal pensa emcasamento, mas somente quandoconseguirem estabilidade e uma realizaçãoprof iss ional . Ela es tá terminandojornalismo e ele já é um administrador deempresas.

fotos: arquivo pessoal

Renê Vieira e Karla Sarkis

Maria Fernanda e Nilo Müller

Eugênio Camilo e Fernanda Ribeiro

Page 7: Revelação 249

Há três anos juntos, Beethoven Teixeira eKarla Marília demonstram uma tendência quevem crescendo nos últimos anos: namoradosque moram no mesmo prédio, porém, emapartamentos separados. “Ele mudou para oapartamento ao lado. Havia uma festa no meue faltou cadeira para umconvidado. Fui pedir aonovo vizinho uma em-prestada e o chamei paraa festa. Ficamos amigose depois começamos anamorar !”, Karla conta.

Entre o casal, são 25anos de diferença.Beethoven afirma que os impasses existem,nada que não possa ser habilmente contorna-do : “Pois é... eu quero ouvir MPB e a Karlame aparece com umas músicas barulhentasbem na hora que vou ler meu jornal!”, ele afir-ma rindo. As tais “músicas barulhentas” sãofeitas do bom e velho Rock and Roll. “Não,não só Rock and Roll ... escuto música eletrô-nica também. Às vezes Beethoven até gos-ta”, ela corrige.

A grande vantagem de morar em casas pró-

ximas, mas separadas é a preservação do can-tinho e da privacidade de cada um. O desgasteno relacionamento, que é o fantasma de qual-quer casal, pode ser driblado. Segundo eles,quando se está chateado ou triste, trancar suaporta e ficar sozinho às vezes se faz necessá-

rio. “De qualquer forma,gosto muito de comparti-lhar meu cotidiano comele: bato a campainha, to-mamos café e lemos jornaljuntos. Conversamos as-suntos amenos pela ma-nhã. O Beethoven tem umpapel fundamental na mi-

nha vida. Ele me ensinou coisas das quais euachava que não tinha o menor jeito: fotogra-far, cozinhar, pescar... Nossas brigas sãohoméricas, insuportáveis. Porém, sempre re-conhecemos a importância de um na vida dooutro.”, Karla continua.

Ainda morando no mesmo prédio, ambosse dizem grandes companheiros, apesar da di-ferença de idade e dos impasses do dia-à-dia.“Amar é permitir que se escreva a sua históriaa quatro mãos!”, Beethoven finaliza.

“Resolvi em um final de noite sair comalguns amigos para a boate aqui mesmo emUberaba. Mesmo semvontade, me convenceramde que a noite poderia valera pena. E ainda brincaramcomigo: ‘Vamos Miriam,pode ser que você encontreo amor da sua vida…’

O casal de amigos foipara a pista de dança e eufiquei no canto, de molho. Estava meiodesanimada, mesmo assim arrisquei dançar comum rapaz educado que me perguntou se eu estavaacompanhada. No meio da dança ficamos

Diferenças que unem

sabendo que estávamos na mesma profissão,porém, ele formado, eu estudante. Nesta noite

ele me levou em casa e nadaaconteceu, mas não deixamosde nos falar.

No começo da semanacombinamos de sair juntos enos descobrimos muito maisalma-gêmeas do queimaginávamos. Fazemosaniversário na mesma data

com diferença de 3 anos e temos a mesma cicatrizna barriga proveniente da mesma cirurgia.

Estamos juntos há 8 meses e sem dúvida,muito felizes. Ainda bem que saí naquele dia…”

O acaso quegerou um namoro

Pode ser que ela esteja ao seu lado, ou, quemsabe, aparecerá de repente, assim que você dobrara esquina. Para que estas palavras tenhamcredibilidade, leia aqui alguns casos de namorosque aconteceram de formas inusitadas e que estãodando muito o que falar, beijar, abraçar…

o, almas gêmeas!

No começo da semanacombinamos de sairjuntos e nos descobrimosmuito mais alma-gêmeasdo que imaginávamos

Ainda morando no mesmoprédio, ambos se dizem grandescompanheiros, apesar dadiferença de idade e dosimpasses do dia-à-diaMiriam Lins Caetano e Ricardo

Karla Marília e Beethoven Teixeira

Page 8: Revelação 249

8

Namorados

10 a 16 de junho de 2003

Erileine Faria Rodrigues1º ano de Jornalismo

Em São Sebastião do Paraíso, ao sul deMinas Gerais morava Amélia dos Santos, hojecom 64 anos, que em 1963 foi à passeio comuma tia para Sertãozinho, onde viria a“conhecer” seu primeiro e grande amor, quepor obra do destino era o seu primo Amiltonde Aguiar, 60 anos.

Ela já sabia que suatia tinha um filho quaseda sua idade, mas porfalta de contato, nemsabia direito como eleera, e ao vê-lo foipaixão à primeira vistaentre ambos. Apesar doparentesco, começarama namorar até que ela teve que voltar para asua cidade.

Ficaram cinco anos sem se ver, os paisdeles já estavam mais tranquilos achando queaquele curto romance tinha sido apenas umnamorico de adolescentes mas viram que nãoera bem assim, quando Amélia voltou paraSertãozinho e com um simples convite parair ao cinema o amor que estava adormecido,reacendeu-se com muito mais força.

Recomeçaram o namoro e após um ano,noivaram-se, os pais já mais conformados,resolveram aceitar a situação, afinal era afelicidade dos filhos que estava em jogo.

Após seis meses de noivado veio ocasamento, que por motivos religiosos dafamília foi realizado apenas no cívilregistrando um momento muito especial ebonito, com uma festa para comemorar aunião.

Nesta época assim como no tempo denamoro, Amilton só marcava presença emcasa aos finais de semana. Por causa do seutrabalho na Fepasa ele vivia viajando. Essasituação era muito difícil para Amélia,principalmente após o casamento, pois ficarlonge do seu amor provocava enormeansiedade.

De acordo com ela, só não sentia-se piorpor causa de suas duas filhas, Kátia eRosângela, para as quais dedicava-seintegralmente.

O casal afirma que foram muitos osmomentos difíceis, principalmente por causadas separações momentâneas que o trabalhode Amilton provocava, mas que mesmo diantede todas as dificuldades durante estes trinta etrês anos de casamento, nunca pensaram emseparação, para eles o que Deus uniu é parasempre.

O momento mais feliz para os dois foi onascimento das duas filhas, frutos queridos

Amor de primos

Mariana do Espírito Santo2º Período de Jornalismo

Embaraçado. Desconcertado.Bloqueado. Quem nunca se sentiu assim?Sem saber o que dizer. Semsaber o que fazer. Nessemomento você passa a mãona cabeça. Sacode a pernasem parar. Morde a tampada caneta. Gira o botão dablusa. Tenta desviar olhares,procurando assuntos. E,cruzando olhares e maisolhares, perde o fio da meada. Malditanoção. Que agora, justo agora, logo

agora, chegou a hora do tudo ou nada. Masse você insistir em ficar assim, quieto,calado, silencioso e listando descon-troladamente sinônimos para a palavra“mundo”, a grande oportunidade de sua

vida pode ser desperdiçada.Você ensaiou o que ia dizer.

Decorou o que ia falar. Sentevontade de gritar, mas nãogrita. Tampouco sussurra. Nomáximo, geme. De angústia.Você lembra de São Vito, osanto dos neuróticos. Apela aSanto Antônio, o santo

casamenteiro. E nada. Necas depitibiriba. O troço, o lance, o papo, a

Declare-se

deste amor entre primos. Os momentos maistristes foram registrados primeiramente coma perda de um filho, um menino que elaperdeu ainda em gestação quando levou umtombo. Houve também um momento detristeza quando Amilton ficou hospitalizadopor três meses por causa de um acidente.Amélia o visitava todos os dias, rezando para

nada de pior acon-tecesse.

Amilton já seaposentou. Depois depassar uns tempos emcasa, mas não conse-guiu ficar parado.Atualmente é motoristade ônibus para pessoasdeficientes. Amélia

nunca trabalhou for a de casa e diz que nãosentiu falta, pois adorava ficar cuidando dasua casa, das filhas e do seu marido.

Os dois sentem saudades da época denamoro, dos familiares já falecidos ou quemoram em outras cidades, mas se sentemrealizados por terem uma família unida efeliz. Só pedem a Deus pela felicidade dosnetos Rafael e Lucas, que são para elesdepois das filhas os seus bens maispreciosos.

Dizem que o fato de serem primos emnada os atrapalhou, pelo contrário, para eleso parentesco só tornou as coisas mais fáceis einteressantes, que veio a gerar um casamentoduradouro, feliz onde o companheirismolevou a uma bela união.

Para eles o fato de serem primos,simplesmente os ajudaram a se encontrar maisrápido e descobrirem o amor verdadeiro e afelicidade.

coisa está na ponta da língua, mas écomo se estivesse com o coraçãona boca.

Mas agora você toma coragem edecide, sim, decide mesmo, decidepra valer, decide-decide que vaisoltar o verbo. E diz, apaixonado“Você sabia que quaisquer é a únicapalavra portuguesa que o pluralaparece no meio?” Pronto: a pessoaao seu lado se convence de que,definitivamente, você é o ser maisesquisito do planeta.

A verdade é: o problema dadeclaração de amor é que o amoratrapalha qualquer declaração...

Embaraçado.Desconcertado.Bloqueado.Quem nunca sesentiu assim?

Para eles o fato de seremprimos, simplesmente osajudaram a se encontrar maisrápido e descobrirem o amorverdadeiro e a felicidade

reprodução

Page 9: Revelação 249

9

Wagner Fonseca6º período de Jornalismo

Não me lembro ao certo o dia. Sei que,pela primeira vez na vida, um sentimento decompromisso, mesmo que em uma faseprecoce da vida, atormentava o meupensamento e fazia bater cada vez mais o meuinocente coração. Uma cadência diferente deoutras vezes: era o meu primeiro dia de aula.

Eu morava na rua Capitão Amaro, 216,no bairro de São Sebastião, um lugar ao norteda minha pacata Dores do Indaiá, MinasGerais. Quase na saída da cidade. Eu sempreacordava com o barulho da charrete doentregador de leite. Pela janela, via a minhamãe em meio à poeira que ela fazia levantarapós molhar a terra com á água que saía datorneira do quintal. Um ritual seguido porumas tantas vizinhas que eu praticamentedesconhecia.

Lembro também que minha mãe pediapara que eu buscasse o balde e regassealgumas rosas queela havia plantadoao lado da garagemonde, todas as noi-tes, descansava oFusquinha 77 domeu pai. Minhamãe, sempre bem-humorada, apesardos percalços da época, dizia que regar asplantas fazia a mãe de Jesus Cristo sorrir. Eeu ficava ali, na incumbência de mantersempre vivo o sorriso de Nossa Senhora.

Mas os dias de molhar as rosas estavamcontados. Fui matriculado na Escola EstadualDr.Zacarias que até hoje funciona em frenteà igreja matriz da cidade. Um prédio em estiloclássico, janelas adornadas e uma escadariade mármore branco com pouco mais de dezdegraus. Por não ter condições financeiras,minha mãe optou por me matricular no jardimde infância sem antes cursar uma série inicial,conhecida como maternal.

No primeiro dia de aula, antes de chegarà escola, fui vestido com um pequeno shortvermelho e uma camisa de viscose xadrezcom um bolso na altura do umbigo. No bolso,havia um bordado que até então eu não sabiadecifrar. Minha mãe havia comprado umamerendeira à tiracolo com um compartimentopara depositar a garrafa de suco de uva e outro

para os biscoitos fritos preparados com féculade mandioca.

Antes de sairmos, ela abaixou-se diantede mim e amarrou os cadarços na minhaConga. Saímos em direção à escola. Muitomedrosa, dona Geralda segurava firme aminha mão: era tão forte que eu sentia meusdedos formigarem.

Quando chegamos, fui recepcionado peladiretora da escola, a senhora René da SilvaMoura, uma mulher simpática e, a princípio,amiga. Minha mãe despediu-se de mim e,naquelo momento, eu era o mais novo alunoda Dr. Zacarias.

Entramos pelo pátio da escola e a diretoradisse que eu iria conhecer meus novos amigose uma professora carinhosa, a dona Marlene.Caminhamos alguns passos e, em seguida, umcorredor ladeado de inúmeros vasos de espadade São Jorge nos levou até a sala número 22.Quando chegamos, fui apresentado ainúmeras crianças: brancas, negras e um oudois gordinhos. Todos com o mesmo estilo e

cor de roupa que euestava usando, in-clusive com o bor-dado. Anos mais tar-de, fui aprendendoque cada linha da-quele bordado signi-ficava o nome decada um. Uma forma

interessante para que a professora nãoconfundisse ninguém.

A professora pediu para que eu ficasse namesa com três coleguinhas. Confesso que omeu primeiro dia de aula havia começadobem. Mas esse pensamento não era o daquelemenino que acabara de conhecer pela primeiravez uma sala de aula. Com o caminhar dostempos a gente lembra do passado e imaginao que poderíamos fazer anos atrás setivéssemos a idade de hoje.

Diante das três meninas fiquei muitoenvergonhado, quase sem palavras, imóvel econstrangido. Talvez uma reação normal, jáque a maioria dos meninos estava no fundoda sala. A primeira frase que ouvi foi damenina de olhos verdes e lábios carnudos. Elame ofereceu emprestado um giz de cera edisse que era para eu colorir aqueles desenhosno papel recém-chegado do mimeógrafo eainda cheirando a álcool. Não me lembro seousei colorir alguma coisa ou então conversar

sobre algum tema que, naquela idade da vida,seria sem pé, nem cabeça.

Muitos dias se passaram e eu já estavaacostumado com a minha nova vida. Ir àescola era o que eu mais gostava e ficava tristequando minha mãe não podia me levar. Agora,ela era uma mulher que ficava o dia todo notanque, ao lado da bacia de alumínio, lavandoum tanto de roupa para umas pessoasestranhas, gente que sempre aparecia lá emcasa. Por estar constantemente ocupada,coube à minha irmã a tarefa de me conduzir àescola.

Todos os dias na aula eram maravilhosos.Já havia conquistado novos amigos, mas nãoesquecia os da Capitão Amaro. Porém, amenina dos olhos verdes e lábios carnudosfazia meu pequeno coração pular dentro deum peito inocente. De vez em quando, a gentedormia lado a lado em nossos colchõesespalhados pela sala nahora do repouso, logoapós a merenda.

Saímos do jardimda infância e fomospara uma outra pro-fessora: estávamos nopré-primário. Os anoscaminhavam, eu e a menina dos olhos verdese lábios carnudos continuávamos unidos.Agora, eu até freqüentava a casa dela, umamansão bem no centro da cidade. Quandovolto lá, sempre passo em frente à casa. Aslembranças são inúmeras. Era ali quebrincávamos, era ali que dávamos boasgargalhadas, era ali que dividíamos nossosdesejos e anseios de crianças. Momentos queo tempo apagou. Não por vontade própria,mas por necessidade de fazer girar a roda davida. E nesse gira-gira, giram também nossosdestinos e o destino nos separou.

O passar dos anos, das horas e dos minutosfez com que eu, em algum momento nestaparticipação na Terra, percebesse que amenina dos olhos verdes e lábios carnudoshavia sido a minha primeira paixão, talvez apaixão mais sincera de um ser humano.

Com o desenrolar dos tempos, a gentepercebe que a paixão não é tão-somente umdesejo passageiro. A paixão é algo sincero,puro e intrínseco. A paixão é inerente à catarse

humana, uma sensação eloqüente de quererbem quem nos quer melhor ainda.

Estar apaixonado é perder a fala, cair oqueixo e desejar ficar o resto de nossos anosenvenenados por uma poção mágica,preparada sabe-se lá por quem. Não há anjos,arcanjos, bruxos, fadas ou mecenas quepossam explicar este sentimento. Não há reis,imperadores ou tiranos que consigam comprara verdadeira paixão. A paixão não é fruto parao capitalismo. A paixão é como aquela mesmarosa que eu regava a pedido da minha mãe.Primeiro ela foi semente, depois germinou,cresceu, tomou forma e ficou robusta. Semprealimentada pela água, a fonte natural que amanteve vistosa.

A paixão segue o mesmo ciclo da rosa,porém a fonte de toda a paixão é o desejo dequerer se render a esse sentimento, seja aqui,ali ou em qualquer lugar do planeta. Seja aqui,ali ou em qualquer momento da vida, mesmoestendido em um colchão na hora do repouso,depois da merenda. Mesmo quando sepercebe que a primeira paixão da vida é aquelapaixão do primeiro dia de aula. Paixão aoemprestar o giz de cera, paixão à primeira

vista, paixão antesmesmo de escrevermospela primeira vez nos-sos nomes em umafolha de papel.

O sentimento daprimeira paixão deveriaser eterno e estendido

aos homens que gostam de ser super-heróis.Podemos alcançar a felicidade, vivendo damesma forma como vivíamos diante da nossaprimeira paixão. Aquela paixão única,clarividente, paixão de criança, imatura einocente.

Pois então, que cada um de nós, assimcomo eu, tome lápis e papel à mão e recorde,através das palavras, a primeira paixão davida. Em seguida, emoldure linhas e, assimcomo um troféu da vida, a cada situaçãocontrária aos nossos ideais, utilize ossentimentos da paixão primeira como padrãopara a conduta ética humana.

Obs: Após escrever essas linhas, resolviperguntar aos meus amigos, alguns que forammeus colegas desde o jardim de infância, ondeandaria a menina de olhos verdes e lábioscarnudos. Descobri que hoje ela vive em umagrande cidade, é enfermeira e está casada hádois anos.

Fui informado também, que em poucosmeses ela será mãe…

Crônica do amorprimeiroAs experiências do primeiro amor podemAs experiências do primeiro amor podemAs experiências do primeiro amor podemAs experiências do primeiro amor podemAs experiências do primeiro amor podemrefletir na conduta ética humanarefletir na conduta ética humanarefletir na conduta ética humanarefletir na conduta ética humanarefletir na conduta ética humana

No primeiro dia de aula, antes dechegar à escola, fui vestido comum pequeno short vermelho e umacamisa de viscose xadrez com umbolso na altura do umbigo

Porém, a menina dos olhosverdes e lábios carnudos faziameu pequeno coração pulardentro de um peito inocente

Namorados

10 a 16 de junho de 2003

repr

oduç

ão

Page 10: Revelação 249

10

Graziela Christina de Oliveira1º período de jornalismo

Amor. Afeição profunda a pessoas oucoisas, entusiasmo, paixão. Mas o amor nãose resume em uma definição de dicionário.Está muito além de qualquer palavra. Amar ésimples, difícil é entendê-lo. Amar é gostarde estar ao lado desta pessoa que a gente nãosabe explicar mas, quando se deu conta, viuque pensava nela mais do que o normal. Amaré sorrir junto com ela, é chorar também,quando tiver vontade. É cantar aquela músicaque te faz lembrar os melhores momentos,mesmo que você esqueça um pedaço oudesafine em alguma parte. É sair correndo,braços estendidos ao outro, num encontrofeliz. Dançar, rodopiar e se deixar levar. Évoltar a ser criança, falar como uma, agircomo uma, naquela imensidão de bobagens egracejos que dizem e fazem os apaixonados.É se sentir seguro, nos braços de quem se amae não ter medo de enfrentar os problemas, poisvocê sabe que ali tem uma mão pra lhe guiar,pra ir com você até o fim. É pensar que nadano mundo é mais importante que o amor quevocês sentem, nem mais bonito. Que não háhistória de vida que se compare com a sua.Que não há melhor pensamento do que apessoa amada. É sonhar acordado e dormir

sonhando com ela. Ésentir que só o outro podelhe salvar ou acabar devez com os seus sonhos.É suportar a distânciamesmo quando vocêsestão perto e não

RetratosCADERNO LITERÁRIO

conseguem seencontrar. É imaginarcada momento juntinhodessa pessoa, cadaabraço, cada beijo. Édesejar que tudo sedane quando você está

sozinho. É desejar que tudo se exploda quandovocês estão juntos. É pedir que nada nomundo estrague sua felicidade. É jurar quevocê vai fazer o que sua mãe lhe pediu se otelefone tocar. É não ter coragem de encarara pessoa e descobrir que ela está olhando pravocê. Mas mesmo assim, implorar por umolhar, mesmo que disfarçado, por um sorriso,mesmo que tímido. E é também olhar nosolhos e descobrir que, às vezes, não é precisopalavra alguma para entender o outro. Éperceber que mesmo o menor dos gestos temum grande significado. É sentir o coraçãopalpitar quando você percebe que essa pessoaestá chegando. É esquecer tudo o que você iadizer quando ela se aproxima. É trocar aspalavras, tropeçar nas letras e ficarembaraçado. É compreender que sua vida játomou outro caminho e que você, sozinho,não pode mais seguir sua estrada. É deixarque alguém que você nem bem conheciahabite seu mundo íntimo, sem pedir licença.É tentar procurar explicações para o seucomportamento e descobrir que não existem.Não há o que explicar, só há o que sentir. Quepor mais que pareça, você não está ficandolouco. É que apenas despertou dentro de vocêo sentimento mais puro e sublime, que umdia, você também descobriu que podia vivê-lo intensamente.

Mas mesmo assim, implorarpor um olhar, mesmo quedisfarçado, por um sorriso,mesmo que tímido

reprodução

10 a 16 de junho de 2003

Page 11: Revelação 249

11

Luís Flávio Assis Moura2º período de Jornalismo

Nada poderia contê-los. Estavamfrescos e interessados como uma florrecém-nascida. Sentados no banco begee desconsolado da varanda penduradoem uma corrente murcha e calma, emvolta a noite subitamente clara emdemasia, o jardim excessivamente verdee florido cercado por margaridas sembrilho... a casa esperando o retorno dealguém que não era nenhum dosenvolvidos; tudo era desproporcional emvolta dos dois. Ele buscava alguminstante perdido com os olhos semesperança de encontrar alguma coisa,como se aquilo pudesse postergar oprazer sofrido de enxergá-la e nem assimera capaz de enclausurar sua alegriaridícula que prometia não mais que umsimples palpitar. Ela em seus cabeloscastanhos presos por um rabo-de-cavaloalegremente fluido e olhos salgados depássaro faminto era mais tranqüila eenvelhecida, embora tivessem a mesmaidade – sabia que eles nasceram nomesmo dia? – e fosse tambéminexperiente naquela coisa que todomundo chamava de amor, só que não erae ela tinha completa consciência disso.Ele, no entanto, era extasiado e imberbedemais para entender as coisas e sóbuscava vê-la tirando os óculos gordos,bruscos, uma miopia quase atordoadaque o acolhia desde sua infância quandotinha medo de ser picado por abelhas emorrer da alergia morna que tinha a elas.Ele a fitava, querendo saber o que a faziasentir (é desnecessário se aventurar nogrande mistério agora, mas saiba-se queele existe e só quem o possui podeimaginá-lo). Passava as mãos em seuscabelos curtos e umidamente negros,tentando atritar seu nervosismo com opróprio corpo em uma afabilidade inútilque só cresceria com os anos.

-Então, é verdade que você gosta demim?

-Eu gosto, sim. Muito. – Ela sedeclinou afável e triste, um poucosaciada de si.

-Eu... eu também gosto muito devocê! É verdade, respondia assustado eagraciado como se precisasse sempresegurá-la de uma queda macia para verseu rosto. Era tão bobo...

-Obrigada. Eu acredito em você.

-Eu sou sincero com você, sabe?Então, eu...

-Sim?-Eu queria que você fosse sincera

comigo...-Ah, mas eu sou, sim... você acha que

não?-N-não! Não é isso, é só que eu,

estava assustado e desprotegido,temendo ofender aquela naturezaprostrada dela e quebrar o sobressaltoque tinha como um bibelozinho de vidro,eu queria saber se....

-Se...?-Se eu sou o seu

primeiro amor.-Ah.... entendi.

Não é... eu sintomuito.

-Tudo bem...., omenino se esmaeceut r a n q ü i l a m e n t e ,desapontado e curioso.

Era um dia largo e apressado, podiaaté contar as nuvens se espargindográvidas atrás do céu brusco que asprovidenciava luz de alguma outra coisaque nem se dava conta de existir. A mãea chamara para ir ao parque, mas umaroupa que ela preferiu costurar durantea tarde permitiu à menina que fossesozinha e não fizesse nada em demasiadaalegria. Nunca fora particularmentefascinada por parques, mas assim mesmoela sentia um pouco de gosto em ir esentir filetes de tempo a reverberar emsalas de madeira e graciosa escuridão naqual casais dançariam e aprenderiam o

amor em seus anos futuros. Achava queseria sempre calma e inocente porqualquer razão – aprendera com o paique isso era felicidade; e, com toda afranqueza, ela não acreditava nohomem. Concordava somente por gostarmuito dele, mas não era razão para fazerdela infeliz. O parque era recoberto poruma falta de luz que a aconchegava efincava um ponto preciso dentro daexistência gorda dos brinquedos queatravessavam seus olhos em celeridadeassombrada; as luzes fracas a chamavamsurdamente e seus olhos eramsubitamente dois vaga-lumes lisos einterrompidos por uma noite semtestemunhas. Os passeios de pedra maciae velha acumulavam-se em forma deparalelepípedos, paralelepípedos sendonão mais que aquele espargir redondo ea possibilidade de alguma pessoa maisirritável tropeçar em um deles – e omundo começa a sorrir exibindo umamornidão cheirosa de casa em que sedeixa um bolo esfriando no parapeito dajanela. Era tudo tão familiar – pareciase aproximar e tocar com cuidado umasaudade fina e elástica que estourariacomo balão se pressionada com maisímpeto, e suas mãos eram cautelosas,finas ao atravessar o espaço quente doparque. Onde ela iria primeiro? Ocarrossel azul e borrado de movimentosluminosos a chamava sem hesitação: ela

se reencontraria por lá.

Ao escolher ocarrossel, seacomodou em umcavalo marrom deolhos bruscos eamargos sem seimportar com isso.

Um ronco de vento aborrecia o âmagode seu estômago, mas ela gostava umpouco dessa trepidação – o vôo iníquodo brinquedo a providenciava de saboressecos na boca e nos olhos, e uma certaansiedade a fazia um pouco mais atentaao recrudescer circular do mundo aoredor do seu corpo; ou seria o contrário?Uma menina de longos cabelos onduladose ruivos estava à sua frente, montadaem um cavalo branco e tãoirreconhecível quanto poderia ser dianteda instabilidade embriagante docarrossel: ela parecia rir um riso molhadoe agudo de criaturas alegres. A moçasorriu cálida e neutra para si,

percebendo sem sobressalto o borrão deuma flor arranjada nos anéis finos decabelo da criança. Se desprendendo, sedesarranjando com claridade, um sopropreciso de vento – e a flor pousoudelicada na grama sob o perscrutarmavioso dela. Será que a garotinhapercebeu? ah, saiu do carrossel e seprestou a tomar a florzinha pelos dedos.Era algo parecido com uma margarida,embora tivesse pétalas amarelas egostasse do sol – a voz macia dela sentiaum tom grosso de música e à descobertade ter um objeto de outra pessoa seentrelaçou a textura de uma tristezaesporádica. A menininha não estava ali,onde ela foi, onde ela foi? Os olhosbuscavam quase aflitos pela silhuetaboba da criança, ela estava onde, onde– a margarida amarela, se o era,obrigava-a a descobrir algo além de suacegueira egoísta para –

-Moça... você viu minha flor?-Ah... foi você quem perdeu esta

margarida amarela? – Um sorriso molebrotou de seu rosto neutro... ela estáaqui, está aqui!

-Não é uma margarida, moça. É umgirassolzinho.

-Ah... eu achei jogado no chão. Euestava procurando descobrir de quemera...

-Obrigada, moça. Você é muitoboazinha! – A menina desviou os olhosgordos e quentes para a outra, esalpicou-lhe um beijo carnudo e largoem sua bochecha. Aos poucos, seu corpose enchia de água e fulgor, mal podendoenxergar sua surdez vermelha.

-De nada, meu anjo... tchau, ecuidado com a flor.

-Tchau, moça! Eu te adoro!

A criaturinha foi embora seespargindo em serenidade e incognitude.Jovem e momentaneamente cega aoutra... aos poucos, a águadesembargava-se de seus dedos e olhosvibrantes. Finalmente vendo a criançacada vez mais, menor e próxima do sol,ela sentiu seu corpo eriçar uma essênciaperfumada de mulherice e seu cerneúmido irrigado por rios límpidosflorescendo lentamente em sangue puro.Aos poucos, o parque retornava seuitinerário de cores e gritos junto com aspessoas, sem que ela precisasse seesquecer.

Antes do amor

– A menina desviou osolhos gordos e quentespara a outra, e salpicou-lheum beijo carnudo e largoem sua bochecha.

CADERNO LITERÁRIO

reprodução

10 a 16 de junho de 2003

Page 12: Revelação 249

Os Guerreiros de Xi’an e os Tesouros

da Cidade ProibidaMichelly Dias de Barros2º ano de História

O Brasil conhece agora a história, a políticae a cultura do país mais antigo e populoso domundo: a China. Uma exposição realizada emSão Paulo, logo no começo do semestre de2003, prestou um inestimável serviço no sentidode estimular o interesse por esta que éconsiderada uma das mais antigas civilizações.

A partir do contato direto com diversos ob-jetos de arte e utensílios da vida cotidiana dosúltimos cinco mil anos, o público teve a opor-tunidade de obter uma visão mais completa edireta da história deste povo praticamente des-conhecido. Desconhecido sim, porque, embo-ra acolha imigrantes chineses desde a segundametade do século XIX, o brasileiro ainda con-funde características fundamentais da históriachinesa com a japonesa, por exemplo. As téc-nicas de combate, por outro lado, trouxeram umpouco da filosofia de vida oriental, porém aces-sível apenas a seus alunos e mestres interessa-dos pela arte.

A exposição ocorreu em São Paulo, de 21de fevereiro à 8 de junho no Parque doIbirapuera, no pavilhão da Oca. Foi considera-da o maior evento sobre a China já realizadono Brasil. Organizada pela BrasilConnects, foiuma mostra inédita sobre a arte milenar chine-sa. A realização do evento fez parte do acordofirmado no IV Programa de Cooperação Cul-tural Bilateral entre China e Brasil, assinado emnovembro de 2001 pelo Ministério das Rela-ções Exteriores. A mostra foi dividida em doisgrandes núcleos: o Shaanxi, apresentando 11guerreiros e um cavalo de terracota, todos emtamanho natural, mais conhecidos como Guer-reiros de Xi’an, pertencentes ao exércitos doimperador Qin Shi Huangdi, e o segundo nú-cleo: A Cidade Proibida, composta por obrasdo Museu do Palácio Imperial de Pequim.Construída pelo Imperador Yogle, o segundoda Dinastia Ming, iniciada em 1406 d.c.

A descoberta desses guerreiros e animaisesculpidos sobre um material bastante seme-lhante à argila: a terracota, originária da China,é um fato recentemente ocorrido. Em 1974,camponeses de X’iang, ao escavarem um poçoem uma área afastada da vila, encontraram umacamada dura de terra queimada a quatro metrosde profundidade. Sob ela acharam fragmentosde estátuas. Ao lado, descobriram um solo pa-vimentado, com muitas pontas de flechas e al-guns mecanismo de armas em bronze. A prin-cípio, os camponeses ficaram em dúvida se es-ses vestígios eram de restos de um forno, deum antigo altar local, ou ainda um templo bu-dista. Concluíram que era muito mais que isso.

As notícias da descoberta logo chegaram àcapital do condado. Arqueólogos do CentroCultural de Lintong visitaram o local e imedia-tamente iniciaram escavações na área. Ficaramparticularmente interessados pelas estátuas deterracota em tamanho natural. Uma nova his-tória estava para ser descoberta.

Ainda em 1974, sob a direção do Departa-

mento de Arqueologia e Museus da Provínciade Shaanxi, foram reiniciadas as escavações doque viria a ser um dos sítios arqueólogicos maisfamosos do mundo. As três unidade deenterramento contém, ao todo, mais de 7 milguerreiros e cavalos de terracota, e mais de100 carros de combate de madeira apodreci-dos com o tempo. Descobriram que os artefa-tos se tratavam da Dinastia Qin, datada de 227a 221 a.C. Estavam situados a 1500 metros aleste do mausoléu do Imperador Qin ShiHuangdi, o primeiro a unificar a China e umdos idealizadores da Grande Muralha da Chi-na, atualmente ameaçada de destruição pelaprópria população chinesa. Em 1987, a Unescoconferiu ao mausoléu o título de Patrimônioda Humanidade.

Cerca de vinte peças que foram descober-tas no ano passado, integraram a exposição naOca, além de 197 peças de vários museus daregião de Shaanxi. São cerâmicas também de7000 a.C., construídas com bronze arcaico eartefatos da DinastiaHang, Tang, Ming eQing.

Agora, fica a per-gunta: qual seria o mo-tivo da existência e daenorme quantidade deguerreiros enterradosno subsolo próximos aomausoléu do Impera-dor?

Levando-se em conta os estudos feitos so-bre os costumes e a filosofia chinesa milenarexistente e cultuada até hoje, estudiosos e es-pecialistas chegaram a uma resposta: tudo sedeve à crença antiga de uma civilização queacreditava na vida pós-morte ainda regada aprazeres e desfrutes iguais ao da vida anterior.Prova disso é a constatação de que os guerrei-ros de terracota representavam o próprio exér-cito, que em vida real protegia o Império comfidelidade e orgulho demostrando alto apreçopelo Imperador. Este, por sua vez, era tratadocom imponência e total obediência pelo seupovo. Assim sendo, quando sua morte ocorreu,ficou designado que todo aquele que havia lheservido diretamente, deveria tirar a própria vida,com o intuito de continuar a servi-lo por toda aeternidade. Foi o que ocorreu com os guerrei-ros e até mesmo com todas as suas concubinas.Além de tudo, o próprio Imperador recrutoucentenas de milhares de homens para trabalharna construção de seu túmulo, ao norte de Xi’an.Todo o exército foi construído e enterrado paraguardar sua tumba para sempre.

O extraordinário exército é composto por7000 guerreiros em tamanho natural, equipa-dos com cavalos de verdade, carruagens e ar-mas. Um total de 500 cavalos foi descobertonas três escavações do mausoléu. Os laços earreios foram feitos em cobre e bronze, parasuportarem ao tempo. Cerca de 2000 guerrei-ros ainda estão enterrados à espera de umtecnologia mais avançada que permita a pre-servação da cor original das estátuas, uma vez

que já desenterradas, a perderam devido ao con-tato com o ar. Esta é uma exigência do própriogoverno da China para que se prossiga com asescavações.

Os Tesouros da Cidade ProibidaO segundo bloco, o Núcleo Cidade Proibi-

da, era composto por obras do Museu do Palá-cio Imperial de Pequim. As 140 peças da últi-ma dinastia chinesa remontavam uma sala detrono, apresentando objetos de decoração, qua-dros, roupas, colares, enfeites, cerâmicas e sa-patos. A Cidade Proibida é o maior e mais bempreservado complexo sendo também denomi-nada de “Cidade Proibida Púrpura”, porquetodas as suas estruturas de alvenaria e de ma-deira estavam pintadas de vermelho, símboloda alegria e da felicidade. Ela começou a serconstruída pelo Imperador Yongle, o segundoda Dinastia Qing, em 1406. Nos 500 anos quese seguiram até o final da dinastia Qing, em1911, foi reconstruída, reformada e expandida

várias vezes. Um milhãode trabalhadores e cercade cem mil artesãos esti-veram envolvidos naconstrução do conjunto.Materiais para sua cons-trução foram trazidos delugares distantes, e ofici-nas especiais foram cria-das nas imediações dePequim para produzir ti-

jolos e telhas amarelas para os telhados.Os móveis e objetos de decoração da Cida-

de Proibida eram fabricados nas oficinas impe-riais, estabelecidas ao sul do país em Pequim,que trabalhavam exlusivamente para a Corte.Os palácios eram também embelezados comvários objetos preciosos, obtidos ou como tri-butos enviados por províncias ou especialmen-te encomendados pelos imperadores. Entre elesincluíam-se livros, pinturas e caligrafias, enta-lhes em pedra, objetos de cerâmica, lasca e es-malte cloasonado.

Códigos de etiqueta, na vida privada daChina Antiga, era prioridade, exemplo de bomgosto e perfeição em aspectos comuns do coti-diano corriqueiro. As vestimentas, bem comoas porcelanas milenarmente veneradas, são umbom exemplo disso. Em 1759, por ordem doImperador Qianlong, regras sobre o tecido, aforma, a cor, a decoração e os acessórios dastúnicas da Corte, para a família imperial e parafuncionários de todos os níveis, foram prescri-tas e registradas num livro ilustrado. O traje for-mal da Corte usado em cerimônias imperiaisdeveria obedecer à cor amarela, permitida so-mente ao imperador, à imperatriz e à impera-triz viúva, se houvesse. O Imperador, além decumprir funções administrativas, combinavatambém funções sagradas, políticas e militares.Sua palavra era a lei. Era reproduzida em rolosde seda e levada em procissão ou correio espe-cial, para todo o império. Em sua vida privada,deveria ser modelo das virtudes familiares tra-dicionais. Diariamente visitava a mãe, suas avós

e as viúvas de seus antecessores. No verão, sededicava a caçadas e atividades ao ar livre emsua residência no campo.

Aspectos filosóficos e religiososA religião chinesa se fundamenta essen-

cialmente sobre a crença em um acordo má-gico entre a ordem universal, no qual é man-tido por um ritual, onde o imperador, supre-mo chefe de Estado, emite ordens. Como pro-longamento de um estado muito antigo decrenças, esta religião, que não venera deusespersonificados, submete o homem a poderescósmicos administrados pelo Céu, soberanodo alto; e este tem por mandatário o impera-dor, soberano da Terra. O culto aos antepas-sados contribui para a manutenção da harmo-nia universal, convertendo suas almas emenergias propícias.

A moral desta religião prática, que é umamoral cívica, foi formulada no século VI pelofilósofo Confúcio, que inspirará todas as teo-rias estatais dos letrados posteriores. Engen-drará um humanismo filosófico que é o prin-cípio da civilização chinesa. Sem dúvida, aalma chinesa se viu solicitada por doutrinasmísticas que desenvolveram seus instintosespiritualistas. O taoísmo, cuja fundação seatribui a Lao-Tsé, que viveu no século VI a.C.,conduz a alma à renúncia do sensível paraencontrar, no seu âmago, o princípio da suaessência pura, em concordância com o princí-pio de ordem universal: o Tão.

À alma da China, demasiadointelectualizada, o Budismo, introduzido naChina sob a dinastia Han no século I, con-trapôs uma religião de amor embasada naconfiança, na misericórida dos bodhisatvas:Maitréia, senhor da Luz infinita, dono do Pa-raíso, e Avalokitesvara, que se converteu nadeusa Kuan-Yin, a infinitamente misericor-diosa.

Este intelectualismo, seguido por um ex-tremo refinamento das sensações, conduz oschineses a buscar, nas obras de arte, mais doque nenhum outro povo, a pureza das formas;uma fruição artística ideal, para um chinês,consiste em manipular um objeto de jade, cujaforma extremamente simples e de textura de-licada, juntamente com o seu significado má-gico, possibilite procurar para a alma uma es-pécie de êxtase que a afaste do mundo dasaparências.

* A exposição foi visitada pelos alunos doCurso de Licenciatura Plena em História, soborietação da professora Eliane Marquez.

História

Embora acolha imigranteschineses desde a segunda metadedo século XIX, o brasileiro aindaconfunde característicasfundamentais da história chinesacom a japonesa, por exemplo

repr

oduç

ão