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Educação e responsabilidade social O comunista Orlando Ferreira (à esquerda) e o então bispo de Uberaba, D. Alexandre Gonçalves Amaral (à direita) foram as principais personagens da guerra de ofensas que católicos e espíritas travaram nos jornais da cidade na primeira metade do século XX Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba Ano VIII • nº 333 • Uberaba/MG • Maio de 2007 Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba Ano VIII • nº 333 • Uberaba/MG • Maio de 2007

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. Maio 2007

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Educação e responsabilidade social

O comunista Orlando Ferreira(à esquerda) e o então bispo de Uberaba,

D. Alexandre Gonçalves Amaral (à direita)foram as principais personagens da guerra

de ofensas que católicos e espíritastravaram nos jornais da cidade

na primeira metade do século XX

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de UberabaAno VIII • nº 333 • Uberaba/MG • Maio de 2007Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de UberabaAno VIII • nº 333 • Uberaba/MG • Maio de 2007

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Revelação - Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba

Uniube • Reitor: Marcelo Palmério ••• Pró-reitora de Ensino Superior: Inara Barbosa ••• Coordenador do curso de Comunicação Social: Raul Osório Vargas ••• Assessorde Imprensa: Ricardo Aidar ••• Revelação • Professor orientador: André Azevedo da Fonseca (MTB MG-09912JP) ••• Produção e edição: Alunos do 3º período deJornalismo ••• Estagiários (diagramação e edição): Luiz Carlos Vieira e Munyque Fernandes ••• Revisão: Cíntia Cunha ••• Técnica de Laboratório de Fotografia: Neuza dasGraças ••• Analista de sistemas: Tatiane Oliveira Alves ••• Impressão: Gráfica Jornal da Manhã ••• Redação • Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social -Sala 2L18 - Av. Nene Sabino, 1801 - Uberaba - MG - 38055-500 • Telefone: (34) 3319 8953 ••• Internet: www.revelacaoonline.uniube.br ••• E-mail: [email protected]

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Muita gente não gosta de jornalista. E isso seestende, é claro, aos estudantes de Jornalismo.Quando saímos para entrevistar pessoas nas ruas,percebemos que muitas delas nos evitam porque têmmedo de serem prejudicadas por nós. Realizando asreportagens desta edição, observamos que há muitadesconfiança das pessoascomuns em relação à capa-cidade da imprensa em noticiarum fato sem distorcê-lo. Aoconversarmos com leitores dejornais, é comum ouvirmoscríticas muito pesadas sobrenossa futura profissão: elesdizem que jornalistas sógostam de “picuinha”; só vãoaos bairros da periferia para noticiar crimes ouburacos no asfalto; humilham os pobres ao mesmotempo em que bajulam os ricos; usam suas colunaspara resolver questões pessoais; fazem propagandacomercial disfarçada de notícia; exageram nos títulospara fazer sensacionalismo e não contribuem paracompreender as causas dos problemas sociais.

Essa imagem que as pessoas construíram sobre a

imprensa, tal como vivenciamos ao elaborar estaedição, é um sinal amarelo para nós, estudantes deJornalismo. O que nos inspira a estudar ComunicaçãoSocial é o desejo de contribuir para transformar arealidade. Trabalhar pelo bem comum é o princípioda vocação que nos trouxe à faculdade. Por isso, se há

uma suspeita geral em relaçãoao compromisso social doprofissional de imprensa,devemos, antes de tudo,reconquistar a confiança dasociedade através do nossotrabalho e do nosso exemplo.

No Revelação, o jornal-laboratório do curso deComunicação Social da Univer-

sidade de Uberaba, queremos experimentar um outrotipo de jornalismo, bem diferente dessa imagem queas pessoas têm da profissão que escolhemos estudar.No nosso jornal, não faremos sensacionalismo com aviolência, não transformaremos o sofrimento dosoutros em espetáculo. Os atos violentos serão tratadoscom responsabilidade e as reportagens semprebuscarão investigar as causas e as soluções para os

O jornalismo que queremosCompromisso com o leitor

problemas identificados. Procuraremos enxergarprincipalmente a violência simbólica, aquela que atuasilenciosamente nas relações cotidianas e oprime aspessoas comuns, pois acreditamos que a raiz daviolência está na própria estrutura da sociedade.

Nosso modelo de jornalismo não se contentaapenas em expor os fatos, mas busca interpretá-lospara contribuir na reflexão sobre a cidade. Não seinteressa pelo pitoresco, mas procura identificar ascontradições de uma sociedade desigual. Não pretendedenunciar para depois simplesmente “lavar as mãos”,mas assume o compromisso de contribuir para que asociedade possa solucionar seus problemas. Não sevolta para o sarcasmo e a ironia, mas estabelece acrítica necessária para levantar questões importantesda vida social.

Este é o compromisso de uma nova geração deestudantes de Jornalismo conscientes da importânciade uma imprensa de qualidade para a transformaçãoda sociedade. E o resultado deste compromisso podeser conferido nesta edição, que marca uma nova fasede nosso histórico jornal-laboratório.

Boa leitura. E boas reflexões.

Nosso modelo de jornalismonão se contenta apenas emexpor os fatos, mas buscainterpretá-los para contribuirna reflexão sobre a cidade

Graziella Tavares3º período de Jornalismo

O Instituto de Cegos do Brasil Central (ICBC) é onovo parceiro do curso de Comunicação Social daUniversidade de Uberaba (Uniube). Estudantes deJornalismo, orientados porprofessores do curso, criaramuma assessoria de comunicaçãopara a instituição e fizeram aproposta de um novo tipo deestágio, vinculado a umtrabalho voluntário. O objetivoprincipal da parceria é favorecera interação entre o Instituto e asociedade, informando a cidadesobre as atividades realizadas há tantos anos.

Em reunião realizada no começo do mês de abril,o presidente do ICBC, Wilson Adriano, e acoordenação do curso de Comunicação discutiram

sobre essa proposta de estágio e o apoio dauniversidade nos seus novos projetos. A iniciativa foibem aceita e quatro alunos já começaram adesenvolver a assessoria.

Para o coordenador do curso, Raul Osório, essa éuma oportunidade para que os alunos se preparem

para o mercado de trabalho eadquiram experiência — tantona área que atuarão, como novoluntariado, atualmente umadas práticas profissionais maisbem aceitas em um currículo.Mônica de Freitas, uma dasestagiárias do projeto, vê aparticipação dos estudantes noInstituto como um

investimento futuro. "A convivência com pessoas tãoativas e interessantes, que já pudemos conhecer,ajudará, com certeza, nessa nossa fase deexperimentação. Podemos trabalhar e inovar para que

a instituição seja reconhecida por sua cidade. E isso égratificante."

Os estagiários já visitaram o ICBC e puderamconhecer toda a sua estrutura e as pessoas que fazemdo trabalho voluntário um ato profissional e pessoal.Como é o caso do novo diretor de marketing, FernandoAthayde, que já trabalhou na DPZ do Rio de Janeiro ena Rede Globo e agora aposta no Instituto. "Precisamosexplorar mais a história, definir e apresentar a marcada instituição." Para começar, foram propostos acriação de informativo do ICBC; a realização de umaexposição de fotos e a reformulação do site na Internet.

O presidente do Instituto acredita na possibilidadede futuros projetos que ajudarão a fortalecer a uniãoentre a instituição e a universidade. "Nós queremos quea Uniube seja mais uma parceira no nosso caminho queé voltado para a construção de um ICBC cada vezmelhor", reforçou Wilson. As duas instituições ganhamcom a parceria, mas quem agradece são aqueles quecresceram com o Instituto: os seus usuários.

Curso de Comunicação e ICBC firmam parceria

Estudantes da Uniube0estão criando umaassessoria de comunicaçãopara a instituição

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Adolescentes relatam que os meninos são mais maltratados que as meninas, mas elas são mais assediadas

Revelação - Maio de 2007

Cidadania ameaçada

Estamos na “Área”Jovens do Probem são alvo de desrespeito de usuários da Área Azul

Ana Paula Jardim3º período de Jornalismo

Camiseta cinza e vermelha, calça jeans e tênispreto, de pé emalguma esquina, lá

estão eles esperando vocêestacionar o carro nafamosa “Área Azul”. Elessão adolescentes, geral-mente entre 16 e 18 anos,em busca de uma opor-tunidade no mercado detrabalho.

Atualmente, o Programado Bem-Estar do Menor (Probem) assiste a 558adolescentes entre 14 e 18 anos em risco pessoal, sociale econômico. Desses jovens, 478 trabalham em em-presas da cidade e 80 estão na Área Azul. No Probem,os adolescentes recebem cursos profissionalizantes,suporte pedagógico, acompanhamento psicológico,além de carteira assinada e possibilidade de empregonas empresas em que fazem estágio.

Todo jovem iniciante no Probem é “batizado” naÁrea Azul. Esta área está situada no perímetro urbanocentral, delimitado pela prefeitura, onde todo cidadãoque estacionar seu veículo tem de pagar uma taxacorrespondente a R$ 1 por hora.

Esses jovens colecionam muitas histórias, nasquatro horas diárias que passam na rua vendendocartões. Como as de um adolescente de 17 anos, hojeestagiando na Uniube, que como todos os outroscomeçou na Área Azul. Ele conta que já ouviu muitacoisa na rua, desde palavrão a cantada, mas que sempre

tirou de letra as adversidades. “Uma vez, um senhornuma Belina parou onde eu estava trabalhando. Fuioferecer o cartão e ele quase me bateu, mandou eu irprocurar serviço, em vez de ficar pedindo dinheiro na

rua. Eu só agradeci e saí.Outra vez parou um caranuma moto e comprou ocartão da Área Azul. Depois,me perguntou a que horaseu sairia e se não aceitariair a um motel com ele depoisdo trabalho. Ele me dariaR$ 50 e ainda me comprariaumas roupas. Eu disse quenão; ‘não era a minha praia’

e saí”, narra o jovem, sob os risos dos amigos.De acordo com a diretora do Probem, Maria

Aparecida Ferreira, os adolescentes são preparadospara esse tipo de tratamentona rua e orientados a sair deperto de potenciais agres-sores e a chamar o fiscal desua área se sentir-se amea-çado de alguma forma. Ela dizque a situação já melhorou,mas que ainda falta cons-ciência nas pessoas que nãoconhecem a filosofia do pro-grama e prejudicam o tra-balho desenvolvido. “Muitos oferecem gorjetas aosadolescentes, mas nós os orientamos a não aceitar.Gorjeta não é educativo. As pessoas têm que acolheresses jovens e não discriminar. Afinal, estão se inse-rindo no mundo do trabalho”, destaca a diretora.

Os jovens são orientados a abordar educadamentea pessoa que estacionar na Área Azul e oferecer ocartão, mas nem sempre a reciprocidade é a mesma.Muitos são recebidos com grosseria e alguns atémolestados. Uma adolescente de 16 anos ofereceu ocartão a um senhor no Mercado Municipal que, depoisde adquiri-lo, convidou a moça para uma “voltinha”.Ela conta que respondeu sem pensar duas vezes: “Euvou é chamar a polícia para você!”. Segundo a jovem,o homem ficou caladinho e entrou no mercado. E, aosair, não teve coragem de dirigir uma palavra a ela.

Também há relatos de pessoas que tiram do bolsonotas de 50 reais para pagar pelo serviço, por saberque os adolescentes não têm como dar troco. Ou o casode uma garota de 16 anos que pagou pelo cartão dousuário. “Ele falou que pagaria o cartãozinho na volta,mas não voltou foi nada. Deu o horário da minha saídae nada dele chegar. Como eu já tinha dado o cartão,

tive que pagar do meu bolso.Levei o maior calote”, lamenta.

Os jovens do Probemrelatam que os meninos sãomais maltratados que asmeninas, mas elas são maisassediadas. Contam tambémque preferem trabalhar nasempresas porque são respei-tados como profissionais, alémda oportunidade de serem

contratados definitivamente. Segundo eles, a únicavantagem da Área Azul é poder estar perto dos amigosque fizeram no Probem. De resto, sobram desrespeitoe falta de conhecimento da população pelo trabalhoque estão realizando.

Um senhor parou o carro onde euestava trabalhando. Fui oferecero cartão e ele quase me bateu,mandou eu ir procurar serviço, emvez de ficar pedindo dinheiro na rua.

Uma adolescente de 16 anosofereceu o cartão a um senhorno Mercado Municipal que,depois de adquiri-lo, convidoua moça para uma “voltinha”.

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Foto: Luiz Carlos Vieira

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Cidadania pede passagem

As barreiras do descasoDificuldades de acesso a áreas da cidade causam constrangimento e indignação

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Mônica de Freitas BacurauNáire Belarmino de Carvalho

Everaldo Barbosa de Melo, 56 anos, levanta às6h da manhã, faz um cafezinho e às 9h15 saide sua casa, no bairro Santa Maria, com destino

ao ambulatório Maria da Glória. Ele desce pela ruaGoiás, disputando espaço com carros, motos, bicicletase coletivos. Muitas vezes, tem que aturar insultos como:“Sai da rua!” ou “Você passa ou eu passo?”.

Everaldo, como gosta de ser chamado, preferecircular pela rua, pois é praticamente impossíveltransitar em calçadas esburacadas, estreitas, cheiasde entulhos e relevos. Durante o trajeto, enfrentaavenidas movimentadas, vielas íngremes e a mávontade daqueles que passam próximo ao seu veículode locomoção e quase o levam ao chão. Após meia horade “andança”, decide procurar por uma sombra paraesconder-se do sol de 35°, recuperar a força dos braçose fumar um cigarrinho, como ele mesmo diz. Járeabilitado, continua a “caminhada”.

Ao chegar à região central, as rampas começam aaparecer; mas, segundo Everaldo, é dureza utilizá-lasporque a maioria é muito inclinada, contém barreirasque dificultam a passagem, além da falta deconscientização de motoristas que não se importam

Fotos: Náire Belarmino de Carvalho

Flagrantes de celularA equipe de reportagem do Revelação acompanhou o drama de Everaldo para se locomover pela cidade.Confira nas fotos tiradas pela camêra de um telefone celular alguns dos problemas que ele enfrenta diariamente.

Apesar da rampa, nível do asfaltoatrapalha locomoção da cadeira de rodas

Espaço estreito quase impedeentrada em estabelecimento

Calçadas esburacadas tornamo passeio perigoso

Os poucos ônibus especiaisatrasam a vida de Everaldo

em estacionar seus carros exatamente em frente a elas.Everaldo pára em uma lanchonete no centro da

cidade, pede uma Coca-Cola e um Carlton. Solicita quea atendente traga até a porta o pedido, pois é

praticamente impossível seu acesso ao interior doestabelecimento. Em seguida, se desloca até o cestode lixo na calçada, junto ao meio-fio, e então joga ocopo descartável e a garrafa já vazia.

Na hora de pagar impostoeles não vêem se a gente édeficiente ou não. Mas nahora de cobrar nossos direitos,é uma luta, um sofrimento.

“ “José Carlos aguarda uma ambulância no centro da cidade. De acordo com alguns usuários, nem sempre são atendidos

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Quando nos privam do direito deir-e-vir, é sempre constrangedor.Se esse direito está na ConstituiçãoFederal Brasileira, por que onosso não pode ser respeitado?

“ “

Pernambucano, bem-humorado, Everaldo usacadeira de rodas há 35 anos. Ele faz aquele percursopelo menos duas vezes por semana. Prefere ir “a pé” edispensa os benefícios do município, que lhe sãogarantidos por Lei, porque nem sempre tem retornoquando solicita alguma ajuda. “Uma vez, eu preciseide uma ambulância para fazer um exame e pedi “porfavor” para que mandassem uma, porque eu estavadependendo do transporte para não perder meuexame. Quem disse que mandaram a ambulância? Nãomandaram!”

No seu dia-a-dia, ao voltar para casa, Everaldousa o transporte coletivo e sempre procura utilizaros carros adaptados, pois é muito difícil pegar umônibus com degraus na entrada. Segundo ele, suaspernas não permitem que fique em pé e, por seremmuito pesadas, não tem como pedir a alguém que osegure nos braços.

Geralmente, Everaldo espera em torno de meiahora para embarcar na linha 204. De acordo com aTransmil, existe apenas um ônibus adaptado nessalinha. Everaldo diz que quando este veículo especialquebra ou atrasa, só volta a passar novamente trêshoras depois. Com isso, lhe sobram apenas duasopções: esperar a próxima viagem ou percorrer todoo trajeto de volta para casa sozinho, do seu jeito.

Direitos no papelRenato Crosara Magalhães, 28 anos, enfrenta

situações semelhantes. Cadeirante desde criança,conseqüência de uma poliomielite, desistiu dafaculdade de Direito por não encontrar condições deacesso nem mesmo ao Fórum. “Na hora de pagarimposto eles não vêem se a gente é deficiente ou não.Mas na hora de cobrar nossos direitos, é uma luta,um sofrimento.”

A Lei Federal 10.098, de dezembro de 2000,estabelece normas gerais e critérios básicos para apromoção da acessibilidade das pessoas portadorasde deficiências ou com mobilidade reduzida. OsArtigos 3° e 4° determinam que vias e espaçospúblicos, assim como as respectivas instalações deserviços e mobiliários urbanos, devem ser adaptadospara que sejam acessíveis a todos.

De acordo com a chefe da Seção de Apoio à Pessoacom Deficiência da Secretaria de DesenvolvimentoSocial (Seds), Denise Scussel, a cidade ainda não se

adaptou totalmente às necessidades de acessibilidadedos deficientes devido à falta de conscientização dapopulação: “Inicialmente,enquanto eu não tenho umna família, eu desconheçoesse problema. Enquantovocê não convive com adeficiência, você não estámuito voltado para essasquestões”.

Perguntada se issoserviria de justificativapara o não cumprimentoda Lei, Denise diz que nãosabe se serviria como resposta, mas sim como pontode partida para reflexão e transformação. “A nãoacessibilidade não tem justificativa, é igual criança quenão tem lar, pessoa que passa fome.”

A deficiente visual Gislaine Pietra, 28 anos,reclama das barreiras que impedem sua locomoção

de forma segura pelacidade. Para Gislaine,Uberaba segue conceitosultrapassados e, por isso,deveria modernizar-se.Segundo o Decreto N°5.296/04, capítulo IV, Art.10° , a implantação dosprojetos arquitetônicos eurbanísticos devematender aos princípios do“desenho universal”.

Entende-se por desenho universal aquele que visaatender à maior série de variações físicas e sensoriaispossíveis, garantindo acessibilidade a todas as pessoascom autonomia, segurança e conforto, conformenormas estabelecidas pela Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT).

Com relação ao transporte público, o Decreto5.296/04 determina um prazo máximo de 120 mesespara que as empresas de transporte coletivo estejamtotalmente acessíveis. O diretor do Departamento dePolíticas de Trânsito e Transporte da Secretaria deInfra-Estrutura, Claudinei Nunes, diz que oMunicípio conta, atualmente, com quatro ônibuscoletivos adaptados e informa que foi aberto um novoprocesso de licitação que visa à adaptação anual de10% da frota, alcançando, assim, sua totalidadeestipulada pela Lei.

Enquanto isso, pessoas como a cadeiranteErcileide Laurinda da Silva, 31 anos, sentem-seconstrangidas frente às barreiras que encontram pelocaminho. “Quando nos privam do direito de ir-e-vir,é sempre constrangedor”, e complementa: “Se está naConstituição esse direito, por que o nosso não podeser respeitado?”.

Rampas depredadas tornam-seriscos à sua segurança

Fotos: Náire Belarmino de CarvalhoApoio: Rodrigo de Matos

A rampa e o bueiro: no centro da cidade, um verdadeiro deboche às necessidades especiais dos deficientes físicos

Passarelas muito íngremes exigem quecadeirantes peçam ajuda para se locomover

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Luiz Maurício Pereira3º período de Jornalismo

Uma forma silenciosa de violência vem sendopraticada nas escolas e tem preocupado educadores epais. Trata-se do bullying, termo criado nos EstadosUnidos para designar as violências físicas e psicológicaspraticadas por estudantes contra colegas e professores.

“Essas violências vão desde esconder a mochila docolega até agressão física, e criam um ambientedesfavorável ao aprendizado”, conta a professoraMarquiane Furtado, que trabalha na rede particular deensino de Uberaba. Segundo ela, os alunos que são vítimasdeste tipo de violência tendem a ficar mais retraídos, oque prejudica seriamente o desenvolvimento.

Um exemplo dos malefícios desse fenômeno sãoestudantes com médias altas apresentarem um declíniono rendimento ou mesmo serem reprovados, porcriarem rejeição ao ambiente escolar, causada pelashumilhações e intimidações. A professora lembra queas formas mais comuns de bullying são a apelidação echacota, sobretudo as que remetem aohomossexualismo masculino. A partir destas atitudes,seguem-se a segregação do aluno no ambiente escolare sua conseqüente marginalização na sala de aula.

Em entrevista com alunos da 8ª série e do ensinomédio de uma escola da rede particular da cidade, osalunos levantaram as principais violências que elespresenciam diariamente. Eles contaram que, em umadas salas de aula, existe uma aluna que é hostilizadapor colegas por exalar odores fortes, frutos de distúrbiohormonal comum na adolescência. Outra alunapreocupada com a violência é Larissa Resende, que jáfoi alvo de piadas de outros alunos, devido ao seu portefísico: “Aqueles que eu achava que eram meus amigosaderiram aos novatos que começaram as brincadeiras.Isso me deixou muito chateada.”

João Flávio Gomes, aluno do segundo ano do ensinomédio da rede particular de Uberaba, conta que jápresenciou diversas formas de violências praticadas porcolegas de classe contra outros alunos e se dizpreocupado com as proporções que essas agressõestomam: “São brincadeiras que começam meio queinocentes e só se percebe que se tornaram problemaquando já é tarde”.

O que preocupa os educadores é que os adolescentesque sofrem as violências são jovens em idade deformação do caráter. Assim, todas as perturbaçõesdurante esse processo tendem a influenciardecisivamente o perfil do adolescente. Casos deestudantes que invadem escolas armados e matamcolegas e professores têm, em seu antecedente, em geral,momentos em que foram vítimas do bullying.

Justamente por apresentarem essa característica emcomum, o departamento de educação dos Estados Unidosprocurou adotar um plano de combate ao bullying, queé seguido rigorosamente pelas escolas, na tentativa deevitar a repetição dos massacres. No Brasil, grandes redesde colégios particulares já adotam, nas suas atividades,

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Traumas escolaresum plano inspirado no modelo norte-americano.

Uma outra forma de violência sutil é a pressão pré-vestibular exercida pela escola e professores. Numa fasecheia de transformações epreocupação com o futuro, atensão pelas expectativas dovestibular faz com que muitosalunos entrem em depressão.“É papel da escola e dos paisacompanhar os alunos, paraque haja uma dosagem decobrança e expectativa nãoexagerada, porque, quando apressão é grande, o adolescente geralmente sofre muito”,diz a professora Marquiane Furtado.

Má educação

Práticas de humilhação e intimidação entre estudantes preocupam pais e educadores

Uma dica para os pais evitarem esses tipos de violênciaé observar se os filhos estão tendo alterações significativasem seu comportamento e averiguar se isso está sendo

causado por algo na escola. Emcaso de dúvidas, é sempre bomconsultar o orientador escolar eprocurar também por auxílio depsicólogos. No caso do vestibular,é importante dar apoio aoadolescente e evitar o excesso decobrança, já que a sociedade porsi mesma exerce uma pressãomuito forte. Vale a pena também

levar os filhos para realizar testes vocacionais, comprofissionais especializados.

Munyque Fernandes5º período de Jornalismo

Aeducação em Uberaba enfrenta uma série dedificuldades, que vão desde a falta de preparode alguns professores até a desistência de

estudar por parte dos alunos. E nada maisdesestimulante que um ambiente escolar marcadopor agressões verbais e discriminação. Para evitarque atitudes assim dificultem a aprendizagem, oseducadores precisam evitar que a prática educativaseja carregada de traumas, e, principalmente deviolência psicológica.

Eva Maria Camargo, aluna da 5ª série do ensinofundamental de uma escola particular de Uberaba, vi-veu uma péssima experiência no ano passado. “Pareciaque a professora me excluía, principalmente quandoera para fazer trabalhos em grupo.Eu ficava sem grupo, e ela diziapara eu me virar. Eu reparava queera só comigo”, desabafa.

Como reação ao descaso daprofessora, a aluna choravamuito, enquanto seu rendi-mento escolar baixava. “Sentiaum frio na barriga, dor no estô-mago e nenhuma vontade de ir pra escola”. A situaçãomudou somente quando sua mãe foi até o colégioconversar com a professora. Mas as mudanças alme-jadas por Eva vão mais além. Ela acredita que algunsprofessores deveriam ser menos confusos, maiscarinhosos e abertos às dúvidas dos alunos. “Já deixeimuito de perguntar. Se respondem de mau humor,prefiro nem levantar a mão”.

Para Cedna Maria Silva Lellis, professora da redepública por 19 anos, é obrigação da escola compreenderas particularidades de cada aluno. Saber o que está alémdo seu muro. Ela lembra que, certa vez, na escola em

Agressão verbal afeta aprendizagem

que trabalhava, um menino de 7 anos tinha sidorejeitado por todas as turmas de 1ª série. Até que elapediu para que ele fosse colocado em sua sala. Todosos dias, Cedna lhe dava um caderno, mesmo assim, nodia seguinte o garoto já estava sem o material escolar.Então, ela decidiu descobrir o que acontecia, e foi até acasa do aluno. “No endereço havia uma casa de lona,com uma mulher bêbada deitada no chão, colchões

espalhados pela casa e jovens detodas as idades”. Episódio do qualtirou a lição: “As crianças ditasnormais não precisam de mim. Asque ninguém vê é que devo ajudar”.Cedna ressalta que não é só o alunoque precisa de ajuda, o professortambém. “Todas as escolas precisamcontar com uma equipe multi-

disciplinar, inclusive as de ensino superior”.Na Universidade de Uberaba (Uniube), o Grupo

de Apoio Pedagógico e Pesquisa (Gapp) possui umaequipe que atua na formação de professores de nívelsuperior e básico, através do “Projeto Veredas”.Pedagogos e psicólogos trabalham no relacionamentointerpessoal de professores e alunos, desenvolvendopotencialidades e a sensibilidade de educadores eeducandos. “Nada melhor que a arte e o carinho paracombater a violência. A arte promove mudançasfantásticas”, diz Iolanda Rodrigues Nunes, professoraintegrante do Gapp.

“Já deixei muito de perguntar.Se respondem de mau humor,prefiro nem levantar a mão

Má vontade do professor faz que com alunos percam o gosto de freqüentar a escola

“São brincadeiras que começammeio que inocentes e só sepercebe que se tornaramproblema quando já é tarde.

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Revelação - Maio de 2007

Brigas de alunos criam um clima de insegurança em escolas da cidade.Regras claras e disciplina nas pequenas rotinas do dia-a-dia podem ajudar ambiente escolar.

geral também são perceptíveis. “Os meninos da manhãse acham o máximo só porque usam tênis e blusa demarca”, disse outro aluno.

Mas para os estudantes, as brigas “emocionantes”acontecem sempre fora de sala; é na rua que os garotosganham coragem para acertar as contas, momentocomum de se ouvir entre eles a frase: “Te pego nasaída!”. Houve caso em que uma professora teve deacompanhar dois alunos atésuas residências, pois elesestavam sendo ameaçados porgangues de fora da escola.

Outros casos de indisciplinatambém têm preocupado acomunidade escolar. Umaprofessora de matemáticaconta que já se deparou comalunos consumindo bebidaalcóolica dentro de sala de aula.“Cheguei a ponto de ter quepedir auxílio da direção, pois não tive controle sob asituação, meus alunos gritavam, quebravam as carteirase em momento algum me ouviam”.

Mas há bons exemplosMudando um pouco de ambiente, ao visitarmos

uma outra escola pública da cidade, percebemos quesua arquitetura externa já não parecia um presídio. Oportão eletrônico estava aberto, fomos entrando semmedo. Encontramos uma zeladora andando no pátio,que gentilmente nos levou à sala da direção. Láencontramos duas alunas sendo advertidas, poisestavam sem o uniforme da escola e usavam roupas

Te pego na saída

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Má educação

Fotos: Geórgia Queiroz

indevidas para uma sala de aula. Estávamos na EscolaEstadual Corina de Oliveira.

A diretora nos revelou que sua escola zela muito pelasegurança de seus alunos. Para ela, os professores têmque ter limites e os alunos regras claras a seguir. Tudoque for exigido pela escola deve ser esclarecido aos paise aos alunos. “É devido a isso que estamos em primeirolugar no ENEM em relação a todas as escolas públicas

de Uberaba”, enfatizou adiretora. Percebemos queo rigor na disciplina,quando aplicado desde ospequenos atos – como ocaso das meninas semuniformes – parecemcriar um clima geral deorganização e de segu-rança.

De acordo com dadosda Secretaria de Edu-

cação, o índice de violência nas escolas públicas deUberaba não está alarmante. “A sociedade tem umavisão preconceituosa de que toda escola pública ésinônimo de desordem, mas nem sempre essepensamento é a realidade dos fatos”, afirma oSecretário da Educação, José Wandir. Ele contatambém que a escola é um ambiente onde, de certaforma, é inevitável a ocorrência de tensões, pois lá acriança e o jovem começam a ter contato com colegasde diferentes classes, raças e culturas. Na convivênciadiária eles aprendem como é viver em sociedade,momento em que começam a surgir as primeirascontradições.

Muros altos, grades e cercas elétricas indicam a sensação de insegurança nas escolas na cidade

A sociedade tem uma visãopreconceituosa de que toda escolapública é sinônimo de desordem,e nem sempre esse pensamentoé a realidade dos fatos.

“ “

Regras claras e disciplina cotidiana deram bonsresultados na Escola Estadual Corina de Oliveira

Geórgia QueirozRenata Vendramini3º período de Jornalismo

O imenso muro rodeado por cercas elétricas noslembrou a imagem de um presídio. Na fachada haviaum portão com uma pequena janela; foi através delaque tivemos nosso primeiro contato com o porteiro.Depois de nos apresentarmos, dissemos qual era onosso interesse e ele nos levou até a sala da direção.No pátio, encontramos alguns alunos matando aula.Subimos as escadas e avistamos mais uma gradetrancada. Tivemos que chamar a zeladora para abrir.Muros, grades trancadas e cercas elétricas: essa foi aprimeira visão que tivemos de uma das escolaspúblicas de Uberaba. Essa arquitetura é apenas umsinal de uma situação que a cada dia preocupa maisos profissionais da educação: a violência dentro dasescolas, que se realiza através de indisciplina, rixasentre os próprios estudantes e enfrentamentos diretosentre alunos e professores.

Alguns docentes dizem que são diversos os motivospara se iniciar brigas e discussões envolvendo alunose professores. Uma diretora revela que já teve deseparar uma briga tão pesada entre alunas, por causade namorado, que no final havia montes de cabelosnas mãos das rivais. Algumas circunstâncias sãopretextos comuns para desentendimentos. Orelacionamento com os homossexuais, para a maioriados alunos, é sempre motivo de briga. “Os gays daminha escola gostam muito de aparecer, sãoespalhafatosos e folgados demais. Se qualquer umdeles fizesse uma brincadeira comigo, com certeza, eupartiria para agressão”, diz um estudante. Asimplicâncias com os alunos do turno matutino em

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Lívia Zanolini3º período de Jornalismo

“(...) espiritismo, inimigo de Jesus Cristo (...)”(Correio Católico, 1941).

“Catolicismo nojento e maldito”(O Pântano Sagrado).

“Seita abominável e retrógrada,malfeitora e inimiga da humanidade”

(O Pântano Sagrado).

“Doutrina estapafúrdia”(Correio Católico, 1941).

“Seita nauseabunda e diabólica”(O Pântano Sagrado).

“(...) não se pode levar à contade ignorância de Allan Kardec (...)”

(Correio Católico, 1941).

“Para traz, tartufos! Hipócritas! Serpentes!Raça de Víbora!”

(O Pântano Sagrado).

“O diabo no espiritismo”(Correio Católico, 1941).

“(...) monstro, cadáver ambulante,lixo pestilento”

(O Pântano Sagrado).

Estes são apenas alguns exemplos do que se passavana imprensa de Uberaba nas décadas de 1940 e 1950.São fragmentos de uma época que transporta o leitor aum assombroso castelo medieval, com paredes escurase pouca iluminação, proveniente de alguns castiçaisbanhados a ouro. Um momento da história recente,quando se vivia preso a uma realidade opressora de novasidéias, marcada pela obscuridade da tirania e pelospoucos focos de luz oriundos de mentes rebeldes.

A imprensa simbolizava o vestíbulo e o salãoprincipal da mansão medieval, onde doutrinas detodos os tipos e oriundas de diversos cômodos dafortaleza confrontavam-se. Eram os locais maisiluminados, pois o choque entre as crenças religiosas,estampado nas manchetes raivosas, esclarecia umpouco mais os cidadãos uberabenses sobre ascaracterísticas de cada uma delas. Mas era nomomento das refeições que os confrontos ideológicosborbulhavam no centro do salão, chegando ao ápiceda discussão. Era nessa hora que jornalistas,representantes da Igreja Católica, pensadores e

intelectuais preparavam, ingeriam, compartilhavampensamentos e vomitavam as idéias contrárias que lheseram ferozmente lançadas às entranhas.

Geralmente, serviam-se os pratos mais azedos: osprincipais jornais religiosos “A Flama” (passando a sechamar “A Flama Espírita”, na década de 1950) e o“Correio Católico”, além de livros que combatiam umadoutrina ao passo que aplau-dia outra. Os responsáveispela elaboração freqüentedesse cardápio eram espí-ritas como Dr. Inácio Fer-reira ou apenas simpáticos àdoutrina – tal como o anti-clerical e comunista OrlandoFerreira, mais conhecidocomo Doca – membros doclero, entre outros com-ponentes dessa disputa maispolítica do que religiosa. Elespassavam horas dedicando-se às suas melhores receitas.

Um dos principais redatores de “A Flama”, Dr. InácioFerreira, conduzia o jornal, juntamente aos “confrades”de doutrina, de maneira basicamente combativa,criticando duramente a religião católica. Porconseguinte, recebia ataques não menos severos e hostispor meio do jornal “O Correio Católico”, dirigido peloArcebispo de Uberaba, D. Alexandre Gonçalves Amaral.

Lutando ao lado do ideário espírita, aparece a figura deDoca, que dentre as obras que produziu sobre a cidadede Uberaba, escreveu “O Pântano Sagrado” (1948), umlivro bastante agressivo que condenava rigorosamenteo Catolicismo, por acreditar que a religião era símbolode perigo e corrupção. Ou seja, dia após dia, nos diversosalmoços e jantares realizados no casarão medieval, os

pratos doces e saborososeram raros, sendo substi-tuídos pelos bem tempera-dos, apimentados e até amar-gos ao paladar do oponente.

Segundo uma memóriaviva dessa época, Prof. Faustode Vito, que durante anosdedicou-se ao jornal espírita,ainda em circulação –embora não mais de carátercombativo –, as acirradas po-lêmicas religiosas e dou-

trinárias contidas nesses jornais chegaram a extremosassustadores. Um exemplo disso foi quando aautoridade episcopal, valendo-se do prestígio que oGoverno Ditatorial assegurava publicamente aocolaboracionismo da Igreja Católica no Brasil,encaminhou uma denúncia ao Núncio Apostólico, noRio de Janeiro, D. Aluísio Mazella, e conseguiu fazercom que o Departamento de Imprensa e Propaganda

Insultos divinosDisputas doutrinárias entre católicos e espíritas incendiaram imaginário de Uberaba

Guerra santa!

Um dos principais redatores de “A Flama”, Dr. Inácio Ferreira,conduzia o jornal, juntamente aos“confrades” de doutrina, de maneirabasicamente combativa, criticandoduramente a religião católica.

Fotos: Lívia Zanolini

O semanário “Correio Católico” e o livro “Pântano sagrado” foram

Revelação8

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Nas décadas de 1940 e 1950, Uberaba foicenário de uma intensa disputa religiosaentre adeptos do Espiritismo e seguidores doCatolicismo. O jornal es-pírita “A Flama” (“A FlamaEspírita”, a partir da déca-da de 1950) e o periódico“Correio Católico”, rivali-zavam por meio de artigoscombativos e ofensivos.Personagens como o espí-rita Dr. Inácio Ferreira e ocomunista Doca defen-diam a doutrina espírita e censuravam oCatolicismo. Em o “Correio Católico”, diri-gido pelo Arcebispo de Uberaba, Dom Alexan-dre Gonçalves do Amaral, as críticas nãoeram menos ofensivas quando se tratava deafrontar os rivais.

Um dos livros mais polêmicos que fizeramparte do cenário de combate foi “O PântanoSagrado” (1948), escrito por Doca, onde oautor, mesmo não sendo religioso, mostrava-se simpático à doutrina espírita. Agressiva-mente anticlerical, Doca, logo no início de seulivro, expôs que não mediria palavras paracriticar a “perigosa” Igreja Católica, poisacreditava que “entre os males causados aomundo, o Capitalismo e o Catolicismo são osrecordistas”.

(DIP) interrompesse, por tempo indeterminado, acirculação do jornal espírita. O periódico permaneceuinativo de 1942 a 1945.

Mesmo agora, depois de mais de meio século, ocastelo dos inimigos, apesar de mais iluminado erepovoado por novos representantes das doutrinas,felizmente mais tolerantes, encontra vestígios e ecos dosescritos e pronunciamentos que tornavam o debate tãosobrecarregado. Algumas obras dos antigosrepresentantes permaneceram guardadas, outras seperderam, mas as que restaram são o suficiente parademonstrar o quão importante foi a mediação daimprensa nessas disputas políticas, que alimentavam abusca por afirmação de cada doutrina, na cidade, a fimde obter a hegemonia no âmbito religioso.

A “Ré infame” ou a “entidade maldita”, segundo avisão de Doca do Catolicismo, e “o inimigo de JesusCristo, inimigo do cristianismo”, representando opensamento católico, acerca do Espiritismo, registradonas várias edições de “O Correio Católico”, são apenasingredientes de algumas das principais iguariaselaboradas por esses líderes. Analisando-as, percebe-se que o atual convívio, praticamente harmônico, entreas religiões, foi obtido à custa de inúmeras discussões ede uma convivência conturbada entre os antigosmoradores do castelo, que pode ser considerado comoum palco revelador de um dos maiores embatespolíticos da história de Uberaba.

Laboratório...A PautaInicialmente, a pauta proposta discorria sobre a

intolerância da Igreja Católica em relação aoEspiritismo nas décadas de 1940 e 1950. Contudo,em entrevista ao padre Thomaz Aquino Prata, foipossível constatar que, na verdade, o que ocorria naépoca era uma disputa pelo poder, na esferareligiosa, entre as ideologias católica e espírita. Apartir desse fato, a pauta passou a abordar as rixasreligiosas entre Espiritismo e Catolicismo, visto quea intolerância estava presente em ambas as crenças.

A apuraçãoDocumentos pertencentes ao Arquivo Público de

Uberaba: “Correio Católico” e “O Pântano Sagrado”(1948). Os jornais espíritas “A Flama” da época nãoforam localizados. Os entrevistados foram o padreThomaz Aquino Prata e o antigo redator (desde1963) e diretor (de 1995 a 2003) do periódico “AFlama Espírita”, professor Fausto de Vito, que hojeem dia não é mais atuante no jornal.

A reportagemA linguagem utilizada ao redigir o texto da

reportagem foi inspirada no próprio estilo de escritaempregado na época pelos líderes da disputareligiosa. Lideres não só católicos e espíritas, comotambém personalidades não-religiosas que fizeramparte do debate, acolhendo e defendendo alguma dasideologias. Uma dessas figuras que se destacaramfoi Orlando Ferreira (Doca), autor da principal obrainspiradora da estética explosiva e repleta demetáforas desta reportagem.

Entenda o casoMesmo depois de 1940 e 1950, os con-

frontos continuaram, mas aos poucos foramdissolvendo-se, até a convivência pacífica que

se tem hoje entre as reli-giões. Livros como “O Pân-tano Sagrado” e os periódi-cos “A Flama” e o “CorreioCatólico” fizeram parte deuma imprensa que perma-neceu queimando duranteanos pelas palavras embrasa dos líderes da lutapolítica.

Em o “Correio Católico”,dirigido por D. Alexandre,as críticas não eram menosofensivas quando se tratavade afrontar os rivais

Orlando Ferreira, autor de “Pântano Sagrado”, eD. Alexandre, então bispo de Uberaba, carregavamna retórica para defender suas idéias

reprodução

O espírita Fausto de Vito, redator do jornal “A Flama Espírita” na década de 1960, lembra-se das disputas doutrinárias

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TV universitária

Vender ou ensinar,o que é que vai para o ar?Às vésperas de completar 10 anos, emissora de Uberaba procura identidade

Tobias Ferraz3º período de Jornalismo

Fazer televisão requer, além de talento ecompetência, uma quantidade respeitável de inves-timentos. A tecnologia do setor, que se renova diaria-mente e com velocidade espantosa, promete uma novarevolução quanto à forma e o formato de fazer e vertelevisão. Diante deste momento histórico e indefinidoda televisão no mundo, a TV Universitária de Uberabaprocura sua identidade.

Criada em meados dos anosnoventa para servir comoinstrumento de comunicaçãoentre a então Faculdade deMedicina do Triângulo Mineiro(FMTM), hoje UniversidadeFederal do Triângulo Mineiro(UFTM), e a comunidade ubera-bense, a TV Universitária estálonge de cumprir as regras bási-cas que regem a filosofia das tevês universitárias –propagar a educação e a cultura e viabilizar a produçãoaudiovisual.

Naquela época, foi criado um conselho paragerenciar a Fundação de Rádio Educativa de Uberaba(FUREU). Desde então, a TV é ligada à Fundação enão à Universidade. No ano passado, com nova gestão,a Fundação procurou concentrar os esforços para arecuperação financeira da emissora.

Falta de mão-de-obra, mesmo com os 21 funcio-nários que integram a equipe; equipamentosultrapassados e com a vida útil comprometida portantas e tantas horas de uso, são problemas querefletem diretamente naqualidade da produção e daprogramação. Existem cincocâmeras Super-VHS ( S-VHS,sistema de captação deimagem analógico empre-gado na década de noventa eque não se popularizou entreas emissoras de TV), masduas delas estão fora deoperação. As três câmeras emcondições de uso têm que darconta de atender à produção no ambiente de estúdioe nas gravações externas.

Marcelo Maluf tem o cargo de gerente de apoiocultural da TV Universitária e, durante muito tempo,acumulou também a função de gerente operacional.Ele encara uma luta diária para pôr a programação

“no ar” e diz que a TV não recebe subsídio parafuncionar como emissora cultural. Por isso, muitos dosprogramas caracterizam-se por um perfil eminen-temente comercial - alguns até se utilizam aberta-mente do espaço para promoção de vendas. “A TVUniversitária tenta resgatar o cotidiano da cidade. Nãofazemos mais por falta de estrutura”, lamenta Marcelo.

Segundo o gerente, um plano de recuperaçãofinanceira está em andamento, uma vez que o atualreitor da UFTM, Virmondes Rodrigues Júnior, tem

demonstrado interesse emacertar essas questões. Assim,Maluf diz que, se tudo saircomo planejado, a partir demeados deste ano, a TV podeter condições de buscar novosrecursos.

Em entrevista ao JornalRevelação, o Reitor da UFTMdisse que a TV Universitáriaprecisa quitar dívidas que

somam aproximadamente R$450 mil – “Boa partedessa dívida já está sendo solucionada. São dívidastrabalhistas, junto ao FGTS. Com o INSS, já fizemos orefinanciamento. A TV precisa estar com certidãonegativa de dívidas trabalhistas e previdenciária. E,partir daí, buscar apoio cultural.” Por essas e outras,a TV não faz parte da Associação Brasileira deTelevisão Universitária (ABTU).

O reitor usa de muita transparência para falarsobre a Universitária: “Nosso calcanhar de Aquiles”,forma bem humorada, com a qual ele se refere à TV.Muito bem articulado e consciente das dificuldades,Virmondes Rodrigues não foge dos problemas e busca

caminhos nesta “fase desubsistência” em quepassa a TV. “A alternativafoi colocar uma progra-mação demasiadamentecomercial no ar. Hoje, oscontratos com os pro-gramas são de, no má-ximo, seis meses, para termaior facilidade de ajusteda programação.”

E o foco está sendoajustado. Segundo o reitor, professores e estudantesda UFTM estão em fase de elaboração de projetosculturais e educativos para implantação de novosprogramas. Além disso, novos equipamentos estãosendo adquiridos, como uma ilha de edição e umaswitcher (mesa para corte e transmissão ao vivo), já

no formato não-linear. “Como houve progressos naárea de gestão, temos um programa consistente derecuperação da TV”, afirma o reitor.

No dia sete de outubro, a TV Universitáriacomemora 10 anos e, se depender de Virmondes, jápoderá estar de cara nova e com uma programaçãomais adequada e, talvez, até já fazendo parte daAssociação Brasileira de TV Universitária. A nova fasepromete mais qualidade, compromisso com aeducação e maior interação com a comunidadeuberabense.

Um importante passo à frente foi dado peladireção da TV no mês de abril, com a contratação deEduardo Ferreira para o cargo de gerente deoperações. Nascido e criado na capital paulista, desdecriança acompanhava o pai no trabalho pelosestúdios da extinta TV Tupi, de São Paulo.Profissional experiente, Eduardo trabalhou em váriasemissoras (Tupi, Band, SBT e Globo) e em grandes

Revelação - Maio de 200710

Carlos Finocchio

“Acredito na educação como agente transformadorda sociedade e a TV Universitária tem muitopara contribuir com esse processo.”Virmondes Rodrigues Júnior, reitor da UFTM

Falta de mão-de-obra eequipamentos ultrapassadossão problemas que refletemdiretamente na qualidade daprodução e da programação.

Muitos dos programascaracterizam-se por um perfileminentemente comercial - algunsaté se utilizam abertamente doespaço para promoção de vendas.

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produtoras da capital paulista e de Campo Grande,Mato Grosso do Sul. Ele explica que a prioridade é“adquirir equipamentos doséculo 21, dar a capacitaçãonecessária ao pessoal,colocar os salários em umnível mais elevado e, apartir daí, cuidar da pro-gramação”. O novo gerentede operações pretendeconstruir uma base técnicabem estruturada para, apartir disso, trabalhar anova grade de programa-ção.

Gente competente e comdisposição para contribuir com uma programaçãolocal de qualidade existe. Décio Bragança, educador eprofessor universitário, já teve um programa na

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E aí?

Visitamos o principal centro comercial epopulacional de Uberaba, o calçadão daArthur Machado, para saber o que aspessoas dizem sobre programação da TVUniversitária. A pergunta foi: Você assiste àTV Universitária freqüentemente? Por quê?

“Sim. Acho o canal muito bom. Sempre que tenhotempo, acompanho a programação da tarde. Apesarde eu ser analfabeto, acho alguns programas legais ede fácil entendimento. Eu só queria que pessoas comoeu fossem mais valorizadas, mostradas e tambémtivessem mais oportunidades para crescer.”

Gaspar Ferreira da Silva,Vendedor de algodão doce.

“Às vezes. Sempre que posso, acompanho osquadros políticos. O que eu mais gosto é o TV Câmara.Isso porque o acho útil para a população, pois aequipe do programa quase sempre resolve problemasrotineiros da sociedade local. O ponto negativo dessaTV é que dificilmente são transmitidos desenhos ejogos de futebol, o que a torna menos chamativa. Eainda a Rede Globo fez a cabeça de todos, e esse podeser o motivo do canal não ser muito assistido”.

Márcio Fernando Getúlio,Professor de Educação Física.

“Não. Porque não tenho tempo e também naminha casa é antena parabólica e o canal não pegamuito bem. Mas minha avó, que mora no bairroUniversitário, acompanha a programação do canal5 principalmente aos domingos, porque ela adoraassistir a missa transmitida às nove da manhã”.

André Luis da Silva, Segurança.

“Sim, gosto muito dos programas e até os que eunão agrado muito eu assisto. Adoro o programa doPaulo Sarquis, pois acho as entrevistas e as dicasmuito interessantes. Também admiro o jornalistaCacá Silveira, apresentador do programa Fala Cacá.Acho que ele é uma pessoa cômica e que expõe em seuprograma polêmicas aproveitáveis; a única coisa quelamento é a curta duração do quadro. Além disso,acompanho o Fábrica, transmitido aos sábados.Gosto muito desse programa porque admiro osfuturos jornalistas e acredito no potencial deles”.

Eliezer Silva, Aposentado.

“Não, porque acho a programação maçante. Porém,quando estou à toa e não tem nada de interessante nosoutros canais, assisto o Canal 5. Uma dessas vezes,assisti o Abracadabra, transmitido à meia noite. Apesardo quadro não ter muito conteúdo, achei legal ouvirsobre signos do zodíaco e além disso, o formato doprograma e a apresentadora são muito engraçados”.

Cynara Braga,Estudante do 10 período de Biomedicina.Décio Bragança defende que a TV Universitária deve ser voltada prioritariamente para a educação, a arte e a cultura

Munyque Fernandes

Em outubro a TV Universitáriacomemora 10 anos e, se dependerde Virmondes, já poderá estar decara nova e com uma programaçãomais adequada e, talvez, até jáfazendo parte da AssociaçãoBrasileira de TV Universitária.

Universitária, mas o “tirou do ar” por desen-tendimentos com a direção da época. Ele lamenta o

perfil fortemente comer-cial adotado, sem res-ponsabilidade com a edu-cação, e afirma sentir umasensação de desperdício,diante da atual progra-mação da emissora. “Pro-fessores, alunos e a comu-nidade de Uberaba estãoperdendo um espaçofenomenal para fazer edu-cação, cultura e arte.” Oeducador lembra aindaque a Universitária tem de

trabalhar nos moldes das tevês comunitárias e ser avoz da comunidade de Uberaba – “O povo não estálá”, afirma o professor.

“Uma TV pública é dirigida pororganismos da sociedade,sem intervenção do Estado.É mantida por diferentes formasde financiamento que incluem,desde apoio cultural, até recursosdo Estado, mas sem interferência.E sem publicidade.”

Laurindo Lalo Leal Filho, professor da Escola deComunicação e Artes da USP, citado no site

Comunique-se, boletim de 15 de março de 2007.

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Page 12: Revelação 333

programas que valorizem cada segmento dasociedade, adequados às necessidades e expectativasde cada um.

A produção jornalística também é muito valorizadanas TVs universitárias, e sua cobertura deve serrealizada sempre com independência, pluralidade etambém um teor pedagógico. Neste tipo de jornalismo,

ficar preso ao factual não éimportante. O que vale é aexposição e reflexão dosacontecimentos e de suasdevidas conseqüências.

Os programas da TVuniversitária podem serproduzidos tanto por profis-sionais, quanto por alunos,professores, pesquisadores eintelectuais da área. Além deeducação e cultura, os con-

teúdos devem incentivar o senso de cidadania. E aindaque a grande audiência não seja o critério para mediro sucesso destes programas, é claro que deve ser levadaem conta sua atratividade, para que as pessoas seinteressem e se eduquem com a programação.

A transformação da TV EducativaA primeira categoria de TV Educativa foi criada em

1967, pelo Decreto-Lei 236, e vinha para contrapor àtelevisão comercial brasileira, em rápida expansão naépoca. Demorou até que essas TVs cumprissem comseu objetivo plenamente, porque as universidadesacabavam sendo prejudicadas. Como o governo regulaa outorga e distribuição de canais, por muito tempoessas TVs serviram como um instrumento político, doEstado, e deixaram de lado a premissa inicial depromover o conhecimento.

Em 1995, a Lei 8977, ou Lei do Cabo, obrigouoperadoras de televisão a criarem canais básicos deutilização gratuita, incluindo-se um canal univer-sitário. As portas se abriram a partir daí, e asuniversidades começaram a utilizar-se dosequipamentos de seu núcleo audiovisual para esse fim.As instituições de ensino superior viram na televisãouma maneira inovadora e eficiente de extensãoacadêmica, inclusive servindo como área de debates eexposição de teses. Hoje em dia, cerca de 100instituições acadêmicas produzem conteúdo televisivono país, o que levou à formação da ABTU.

Quando a universidade decide apoiar a pesquisa,passa a comunicar os resultados para a sociedade e sedispõe a formular uma programação de qualidade,voltada para a educação e a cidadania, todos ganham,e um pilar da democracia se fortalece.

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Paulo Henrique Santos3º período de Jornalismo

A Associação Brasileira de TelevisãoUniversitária (ABTU) é um órgão que tem oobjetivo de auxiliar e regulamentar as

emissoras de TV universitárias do país. Também seempenha em congregar todas as instituições de ensinosuperior que se dedicam a isso.

Desde a criação da primeira TV universitária doBrasil (a TV Educativa de Recife, em 1967), muitasuniversidades brasileiras se lançaram à empreitadado audiovisual, pois este é um dos meios mais rápidose eficientes para que a produção acadêmica chegue àpopulação em geral.

A ABTU visa expandir a rede de televisõesuniversitárias no país, auxiliando as instituições quese dedicam a esse tipo de transmissão. A associaçãoorienta as universidades com apoio administrativo,técnico e jurídico; serve como representante dasmesmas junto a órgãos do governo; orienta quanto àaquisição dos canais de TV e à produção da pro-gramação, que sempre deve ser voltada à informação,educação e cultura.

Qualquer instituição de ensino superior no Brasilpode filiar-se à ABTU, contanto que tenha umaprodução regular de conteúdo televisivo de caráterinformativo-cultural.

Segundo a Carta de Princípios e o Código de Ética daABTU, o compromissomaior das TVs univer-sitárias é tornar públicosos bens culturais, asse-gurar que a informação eo conhecimento sejamdifundidos, tendo emmente o desenvolvi-mento das regiões ondeas TVs atuam. Assim, atelevisão integra-se epassa a ser um cata-lisador de mudanças.

Para que esta inte-gração seja alcançada, oCódigo de Ética servecomo uma regulamen-tação dessas emissoras.Além disso, defende queo conteúdo transmitidodeve preservar as diver-sidades culturais da região; servir como canal dediálogo e debate para a compreensão da sociedade,sempre levando em conta que o telespectador é o

Como fazer adiferença na TVTelevisões universitárias devem promover o conhecimentoe aproximar o grande público da produção acadêmica

protagonista. Em suma, a TV universitária deveincentivar a população a ter um olhar crítico sobre aprópria sociedade, compreendendo sua dinâmica eservindo como elemento de transformação. Asinstituições signatárias deste código, portanto, secomprometem a seguir os princípios da ABTU,proporcionando informação, cultura, respeito aosvalores humanos e igualdade.São estes os pilares sobre osquais a programação das TVsuniversitárias deve basear-se.

Sobre a programaçãoeducativo-cultural

Quanto à definição deprogramas educativos eculturais, que devem ser apedra-base da programação,os ministérios da Educação eCultura dizem:

“Art. 1º Por programas educativo-culturaisentendem-se aqueles que, além de atuarem conjun-tamente com os sistemas de ensino de qualquer nívelou modalidade, visem à educação básica e superior, àeducação permanente e formação para o trabalho,além de abranger as atividades de divulgaçãoeducacional, cultural, pedagógica e de orientaçãoprofissional, sempre de acordo com os objetivosnacionais.”

É importante ressaltarque alguns tipos de pro-gramas não mencionadosneste artigo (como os decaráter recreativo ou espor-tivo) podem enquadrar-senessa definição, caso con-tenham enfoques educativo-culturais. Esta definiçãosurgiu como uma neces-sidade de estabelecer critériospara a concessão de canais derádio e televisão que dizemorientar-se por finalidadeseducativas.

A TV universitária deveter a educação como um deseus parâmetros principais,pois sua meta é terconteúdo diversificado erico, essencial na era do

conhecimento. Números de audiência e verba depatrocinadores não são o objetivo principal destasTVs: sua razão de existir é apresentar a seu público

Comunicação para a sociedade

ABTU congrega as instituições de ensino superiorque produzem televisão educativa e cultural

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Rede de Intercâmbio de Televisão Universitária (Ritu),foi lançada em dezembro de 2006 na sede da ABTU porrepresentantes de universidades de todo o país

Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr

A TV universitária deve incentivara população a ter um olharcrítico sobre a própria sociedade,compreendendo sua dinâmicae servindo como elementode transformação.

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Pintou sujeira

Danielle MaiaLarissa Carvalho3º período de Jornalismo

São 14h de mais uma quarta-feira ensolarada emUberaba. Andando pelas ruas do bairro Abadia,é visível a sujeira espalhada no chão, nos

canteiros, nas praças e avenidas – enfim, por todos oscantos. Do outro lado da rua, um carro sai da garagem.Da janela do veículo “voa” uma casca de banana, quecai na calçada e lá ficará por muito tempo, se dependerda senhora comedora de bananas...

Seguindo rumo ao centro da cidade, nosdeparamos com muros pichados, orelhões pintadospor corretivo escolar e casas antigas que fazem parteda história de Uberaba totalmente depredadas. Tudoparece tão normal! Tantas pessoas passam por esteslugares! Será que ninguém percebe a violência que estáacontecendo? Do papel de bala jogado ao chão aoamontoado de cartazes colados na parede da “velha”casa, há uma grande falta de cidadania. Quem, ou oque é culpado por isso? Familiares, escola, cultura,população em geral?

Para o vendedor de trufas, Osiel Santos, e para avendedora de sorvetes, Mirian Pimenta, que tra-balham no calçadão, esses costumes são pura falta deeducação. E para ambos, a raiz está em casa. “Elespassam ao lado das lixeiras e têm a capacidade de jogaros papéis no chão”, comentam. Para Mirian, é desdecriança que estes maus hábitos devem ser corrigidos:

“Se jogou um pacote de bolacha no chão, a mãe devefazer com que a própria criança o coloque no lixo”.Para Osiel, as pessoas só sabem reclamar, mas nãofazem nada para ajudar a melhorar. Um exemplo dissosão as inundações. “As pessoas reclamam dasenchentes de Uberaba, mas não se cansam de entupiros bueiros com os lixos que produzem”.

Segundo o professor de História, Pedro dos ReisCoutinho, o único caminho para resolver esse pro-blema é a educação. Somente por meio dela asociedade chegará à cidadania. Coutinho observa queas pessoas tratam o que é públicocomo se fosse de ninguém; porém,deveriam perceber que o que épúblico é de todos. Assim, oscidadãos devem preservar osorelhões, o patrimônio histórico emanter a limpeza das ruas, assimcomo fazem em suas casas. Oresultado disso será uma cidadelimpa e bonita.

Andando pelo centro de Ube-raba, encontramos muitos catadores de papel. WilsonRoberto, que trabalha na praça Rui Barbosa há maisde dois anos, conta que às vezes os próprios catadoresajudam a espalhar a sujeira. Segundo ele, algunstrabalhadores, ao procurarem algo no lixo, jogam oque não lhes interessam no chão, sem se importar coma poluição. Ele também conta que a vida já lhe rendeumuitas histórias. “Até que o lixo de Uberaba é bom,sabia?! Um dia desses encontrei um computador e atéum relógio dentro de alguns deles!”.

Uma varredora de rua, que preferiu não seidentificar, percebe que as pessoas não se sentem naobrigação de preservar a cidade. Sendo assim, acabamjogando lixo no chão e poluindo o meio ambiente. “Éimpressionante a falta de consciência de algumaspessoas. Foram colocadas várias lixeiras pelos bairrose, mesmo assim, elas insistem em jogar o lixo no chão.”Contudo, ela observa também que, depois do aumentodas lixeiras, a limpeza em geral melhorou.

Andando um pouco mais, rumo ao ShoppingUberaba, outro ponto muito freqüentado, essarealidade é um pouco diferente. “As pessoas quefreqüentam o shopping parecem ter vergonha de jogaro lixo no chão”, afirma uma zeladora. No entanto, eladiz que, muitas vezes, quando as pessoas arremessam

Sociedade daimundícieSujeira espalhada pelo centroviolenta a urbanidade e indicadesrespeito pela própria cidade

algum papel na lixeira, mas porventura não acertam,também não voltam para catá-lo. Dessa vez, porvergonha de pegar. Mas a zeladora questiona: “Serámais vergonhoso voltar e pegar o papel do chão ecolocá-lo na lixeira, ou deixar o lixo onde caiu?”.

O pior de tudo é que todos os cidadãos concordamque esse quadro de falta de educação para aurbanidade precisa mudar, mas continuam agindo damesma maneira. Isso porque julgam o problema comobanal, comparado aos que precisam enfrentar no dia-a-dia. A falta de tempo das pessoas é tanta que elas

acham que ao atravessar a ruapara jogar um papel de bala nalixeira irão gastar um tempoprecioso. É muito mais cômodo erápido deixar no cantinho dacalçada. No entanto, estudiosossobre a urbanidade têm percebidoque, quando a cidade fica suja emal cuidada, as pessoas tendema desrespeitá-la ainda maisatravés de vandalismo, depre-

dações e outros tipos de violência. Ou seja: uma cascade banana jogada pelo vidro do automóvel é uma bolade neve que, ao tornar-se um hábito social, podecomprometer a qualidade de vida na cidade. Por isso,é sempre melhor combater esses problemas quandoeles ainda estão aparentemente inofensivos. São aspequenas práticas cotidianas que transformam a vidada cidade.

Revelação - Maio de 2007 13

Patrimônio histórico depredado no centro da cidade é uma ofensa à história de Uberaba

As pessoas tratam o queé público como se fosse deninguém; porém, deveriamperceber que o que épúblico é de todos.

Wilson Roberto, catador de papel, conta que às vezesos próprios colegas espalham lixo pela cidade

Varredora de rua percebe que os cidadãosnão se sentem na obrigação de cuidar da cidade

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Revelação - Maio de 200714

Caio AurelianoDiego Pierazzo3º período de Jornalismo

Na ansiedade de efetuaruma compra, principalmente quando qua-

lidade e preço aparentementenos agradam, muitas vezescaímos em algumas arma-dilhas. Melhor dizendo, corres-pondemos aos objetivos tra-çados pelos vendedores, que jápercebem nosso interesse antesde nós mesmos. Diz um provérbio árabe: “Na primeiravez que me enganar é sua culpa. Na segunda, seráculpa minha”. No momento da compra, portanto, oconsumidor deve manter-se bastante atento emrelação a alguns procedimentos.

Em um bate-papo com profissionais da área,encontramos algumas dicas que podem ser valiosaspara quem não quer ser enganado. O primeiro pontoque o consumidor deve prestar atenção é sobre averdadeira necessidade de adquirir tal produto.Trabalhar racionalmente esta questão é a melhormedida. Uma vendedora de equipamentos eletrônicos,que preferiu não se identificar, disse que ocomportamento do cliente anuncia o que ele querdesde o momento em que entra na loja. Portanto, atranqüilidade, a segurança, a estabilidade emocional

e uma boa pesquisa antes de realizar a compracontribuem para a decisão bem fundamentada.

O consumidor deve ter em mente o produto, marcae modelo que deseja comprar.É certo que o lojista, ao explicaras qualidades de certo produto,sutilmente, identifica o perfildo cliente e fala o que ele querouvir, de modo a “dar o bote”.Há uma dica interessante paralidar com este tipo de “cilada”.Na verdade, trata-se de umadisposição de espírito que oconsumidor deve ter consigo. O

cliente deve acreditar, mesmo que não seja verdade,que existem milhões de ofertas e modelos melhores,mais baratos, e que irá pensarmais sobre a proposta. Futu-ramente, poderá voltar à loja,com uma decisão mais sólida.Mas antes de tudo, é bompercorrer vários estabeleci-mentos – no mínimo cinco – queofereçam produtos similares eque atendam às expectativas depreços.

No caso de um produto quenão estava nos planos, mas que – quem sabe? –pode ser útil, lembre-se de que o fato de des-conhecê-lo não o impede de pesquisá-lo em outras

lojas. A loja “X” lhe apresenta uma máquina delavar meias. Isso pode ser novo para você, mas nãopara as concorrentes que, talvez, lhe apresentarãomelhores propostas. Porém, como sugerido,analise a real necessidade de consumir, para quenão ocorra o fenômeno “dissonância cognitiva”, ouseja, o arrependimento pós-compra...

Cuidados comas prateleirasO consumidor deve ficar muito atento aos produtos

de mostruário. Ele parece novo? Está sujo, encardidoou riscado? Os lacres estão violados? O cliente podeperguntar para o vendedor por quanto tempo talproduto está à mostra. Contudo, é bom sempreduvidar da palavra do vendedor. Segundo uma

profissional do ramo, não éincomum que alguns produtos demostruário sejam frutos dedevolução. Um consumidorqualquer não se satisfaz, searrepende pela compra ou nãopode pagar, devolve o produto e...voilá, logo ele está nas prateleiras.

Segundo a vendedora, écomum encontrar produtos àvenda em mostruários que já

passaram até por assistência técnica. “O parafuso! Elecondena”, comenta um outro vendedor, que tambémpreferiu não se identificar, ao ser indagado sobre como

O parafuso condenaConheça alguns truques de vendedores que querem “passar a perna” no cliente

Quando o produto estápróximo do prazo de validade,o supermercado encarrega-sede incentivar seu consumopor meio de promoções.

Segundo a vendedora, écomum encontrar produtosà venda em mostruáriosque já passaram até porassistência técnica.

Em terra de cego...

Comprar “no escuro” é sempre uma fria. Consumidor deve estar atento aos detalhes de produtos de mostruário

Fotos: Luiz Carlos Vieira

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Revelação - Maio de 2007 15

reconhecer um produto usado sendo vendido comonovo na prateleira. Segundo ele, equipamentos quecontêm parafusos, quando abertos, ficam sempre como sinal da chave de fenda, por mais cauteloso que tenhasido o trabalho do técnico.

Questionada sobre o que mais irrita em vendas, umaprofissional menciona o fato de ser obrigada a venderprodutos “ruins”, o que afeta até mesmo a própriaíndole. “O produto é vendidode manhã. À tarde, o clientevolta. E a culpada acabasendo eu”, explica a ven-dedora.

Ofertas de produtosEm caso de promoção em

produtos alimentícios, ésempre bom verificar a datade validade – principal-mente em boas marcas, quenão necessitam de promoçãopara aumentar as vendas. Em geral, quando o produtoestá próximo do prazo de validade, o supermercadoencarrega-se de incentivar seu consumo por meio deestratégias promocionais.

Supermercados têm uma prática tradicional debaixar preços de produtos específicos, de modo aatrair clientes. Assim, oconsumidor acredita que ofato de o litro de óleo, amargarina e a massa detomate estarem a “preçosimbatíveis” – expressão uti-lizada na maioria das propa-gandas –, faz com que macar-rão, o pão e a maionese tam-bém estejam. O que não éverdade. Muitas vezes, apromoção de alguns pro-dutos serve como isca para induzir o cliente a entrarna empresa e consumir além do que está sendoanunciado. Esta estratégia é adequada a qualquer

setor. O DVD player, por exemplo, em preço pro-mocional, atrai o consumidor que, com dois ou trêsmeses a mais no crediário, será instigado a adquiriro home theater, compensando o desconto doprimeiro.

Ponta de estoqueÉ difícil encontrar produtos de marcas conso-

lidadas em ponta de estoque.Se existe, atenção: pode haverum pequeno defeito ou oproduto está prestes a sair delinha. Quanto às marcas nãotão conhecidas, há umainteressante observação.Muitos equipamentos levamum nome diferente; porém,sua arquitetura interna estárepleta de componentes demarcas com ótima qualidade.Nesse caso, para não comprar

“gato por lebre”, uma breve pesquisa é sempre muitobem-vinda. Na Internet, pode-se obter dados, outalvez um amigo já tenha alguma experiência com oproduto.

Descontos e brindes são recursos normalmente jáprevistos na estratégia do vendedor. Nem sempre é

vantagem para quem compra.Às vezes, um brinde ruimsubstitui um bom desconto. Oprofessor do curso deComunicação da Uniube econsultor de empresas, PauloFernando Rocha Ventura, dizque o uso excessivo de brindestende a tornar-se uma estra-tégia arriscada para a empresa,pois, com essa prática, podehaver uma desvalorização do

produto. “A curto prazo, o brinde é salutar quando setrata de uma estratégia específica, como alavancarvendas, gerar maior conhecimento da marca, fidelizar

Descontos e brindes são recursosnormalmente já previstos naestratégia do vendedor. Nemsempre é vantagem para quemcompra. Às vezes, um brinderuim substitui um bom desconto.

É difícil encontrar produtosde marcas consolidadas emponta de estoque. Se existe,atenção: pode haver umpequeno defeito ou o produtoestá prestes a sair de linha.

clientes atuais, etc. A longo prazo, pode causar aimpressão de que o brinde compõe o produto, desvalo-rizando-o”, explica o professor.

Consumidor. Vendedor. Produto. Afinidades que sedissolvem em um “tabuleiro de xadrez”. Em uma boarelação, exige-se muita percepção das duas partes. Parao consumidor, determinada marca ou empresa poderepresentar um sonho, uma fantasia, um ideal de vida.Para a maioria das empresas, o consumidor é apenasum número que se relaciona em análise de mercado.

Consumidores devem conferir a datade validade de produtos em promoção

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Alunos de Comunicação sãofinalistas na Expocom Sudeste

“RAFA, de Malhação”,de José Adolfo da Silva Júnior,

é finalista na modalidadeCaricatura

“Lula e Bush em Brockeback Montain”,de Rogério Maruno Mesquita,concorre na modalidade Charge

“Arqueologia do Quintal”,de Pâmela Mendes Moreira, está classificadona categoria História em Quadrinhos

Entre os melhores do Brasil

Estudantes da Uniube emplacaram sete trabalhos na mostra regional

Sete trabalhos realizados por treze estudantes deComunicação Social da Universidade deUberaba (Uniube) são finalistas na Expocom

Sudeste, uma das mais importantes mostras detrabalhos universitários do país. Os destaques são ostrabalhos na área de vídeo e de quadrinhos.Ostrabalhos foram orientados pelos professores CeliCamargo e André Azevedo da Fonseca, e contaramcom apoio técnico de Emerson Ferreira, Luiz CledsonLemes Prata, Cícero Francisco Pereira e Renê Vieira.

O coordenador do curso de Comunicação Social daUniube, Raul Osório Vargas, ficou feliz com aclassificação de tantos trabalhos na Expocom. “É bomver os alunos crescendo. Isso mostra que o projetopedagógico do curso está no caminho certo:incentivando uma comunicação crítica, humanizada,que resgata a história cultural da cidade, além depossuir narrativas nas diferentes mídias”. Raul serefere à variedade de trabalhos aprovados: dereportagens científicas às histórias em quadrinhos.

“Nossa proposta é incentivar o aluno àexperimentar os diferentes suportes midiáticos, algoque faz diferença no mercado e vai ajudá-lo quandoestiver lá”. Para o coordenador, os professorestambém são fundamentais. “Nós temos professoresque não só estiveram no mercado, mas que têm umareflexão profunda e bagagem cultural.” E quanto àspróximas etapas e concursos o coordenador garante“Vamos além!”.

“Sinais”, de Laura Facury eLuis Felipe Pimenta, está

classificado na modalidadeVídeo-Minuto

“Sobre Vidas e Fósseis”, de MarioSergio Silva, César Antonio e Diego Aragãoé finalista na modalidade Vídeo Científico

“Aruanda. O Ritual Sagrado”,de Rodrigo Antônio Matos, BrunaBelela, Luís Antônio Costa Junior eSoraya Borges concorre namodalidade Vídeo-Reportagem

“Fábrica”, de Marília Rodrigues(com o cinegrafista René Vieira),é finalista na modalidade Vinheta de TV