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9 Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba Ano VIII • n. 338 • Uberaba/MG • Outubro de 2007 Educação e responsabilidade social

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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Uniube. Outubro de 2007

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de UberabaAno VIII • n. 338 • Uberaba/MG • Outubro de 2007

Educação e responsabilidade social

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Revelação - Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba

Uniube • Reitor: Marcelo Palmério ••• Pró-reitora de Ensino Superior: Inara Barbosa ••• Coordenador do curso de Comunicação Social: Raul Osório Vargas ••• Assessor deImprensa: Ricardo Aidar ••• Revelação • Professor orientador: André Azevedo da Fonseca (MTB MG-09912JP) ••• Produção e edição: Alunos do 3º período de Jornalismo •••Estagiária (diagramação e edição): Graziella Tavares ••• Revisão: Márcia Beatriz da Silva e Celi Camargo ••• Impressão: Gráfica Jornal da Manhã ••• Redação • Universidadede Uberaba - Curso de Comunicação Social - Sala 2L18 - Av. Nene Sabino, 1801 - Uberaba - MG - 38055-500 • Telefone: (34) 3319 8953 ••• E-mail: [email protected]

2 Revelação - Outubro de 2007

Adynne Lemes3º período de Jornalismo

Escrever não deveria ser uma obrigação. Nãodeveria haver um número mínimo de linhas e,principalmente, um número máximo de linhas. E nãodeveria haver um prazo final de entrega: que mudemos deadlines dezenas de vezes, porque não se sabequando a inspiração vai chegar e muito menos emquantas linhas vai se apresentar.

Mas o certo é que um dia ela chega; e daí, meuamigo, não importa se você está tomando banho,esperando o ônibus, assistindo televisão ou no cinema,essa é a hora certa de escrever, mesmo que seja emum lenço de papel, ou em um papel de bala...escreva.

Falando nisso, sempre tive vontade de meinspirar em um restaurante. Sempre gostei da idéiade anotar meus pensamentos em um guardanapo,enquanto tomava um café, mesmo porque tomar

Sobre o conflito entre as minhas aspirações profissionais e a obrigação de escrever sem vontade

(Ins)piração...

Certo dia, um de meus parafusos soltos tilintoudiferente e me enroscou uma idéia na cuca: que talfazer um Revelação especial de crônicas? Pode seruma experiência interessante – sussurraram algunsalunos. Ao fazer a proposta para a turma do 3ºperíodo, eles toparam no susto! Uai, só crônica? Naverdade, todos já estavam bastante entusiasmadoscom as possibilidades expressivas dessa modalidadejornalística. Uai, então tá!

Nas aulas de Jornalismo Impresso vimos que aliberdade da crônica ajuda a exercitar a criatividade,a aguçar a percepção de mundo e a sacolejar ojornalismo com um gingado todo especial. A crônicaestimula a percepção das belezas simples da vida,incentiva um malabarismo crítico diferente econtribuiu para a reflexão matreira sobre oscochichos, os boatos e os encantos ordinários queanimam a banalidade da vida. A crônica pode serproduzida em momentos de vagabundagem mental,de ócio criativo, de preguiça intelectual ou até deressaca moral. Pode falar sobre o nada, sobre a chuva,sobre a teta da vaca ou sobre si mesmo. Vamos?

E foi assim. Para elaborar essa edição, cada um

escolheu um tema contemporâneo e teclou à vontade.Na hora da edição, colocamos os textos paranamorar; aí foi pintando um clima, rolou umasafinidades, as crônicas foram se casando e pronto.Na cereja do bolo, faltava somente um editorial emestilo crônica, com um texto meio circense, bem nalinha editorial do jornal. Mas isso não tivemoscoragem de fazer, porque sabemos que editorial écoisa séria e tem a responsabilidade de registrar aopinião institucional do jornal. E com isso não sebrinca jamais! ;)

Editorial-crônicaEditorial

café é algo tão “jornalista”...O problema é que eu pouco vou a restaurantes; sou

cliente assídua de fast foods e, o mais triste, e que jogapelo ralo meu sonho profissional: eu não gosto de café!Já tentei, experimentei mais doce, mais amargo,capuccino, café com chantilly, mas não adianta... Eunão tenho vocação pra café.

Tudo bem, me conformo em ter uma inspiraçãono Mc Donald’s ou o Bob’s, enquanto tomo ummilkshake de morango com cobertura de chocolate.Pode até não ser tão romântico quanto o café (e desdequando café é romântico?), mas com certeza é bemmais saborooooooso...

Bom, o fato é, que se atrasem os jornais, queseja preciso acrescentar duas, três, quatro páginas, ouquantas mais forem necessárias, porque escrever porobrigação e com limitações, além de não ter graça, vaiser apenas escrever, contar as linhas e ACABOU!

Zzzzzzzzzz...

A crônica pode ser produzida emmomentos de vagabundagemmental, de ócio criativo,de preguiça intelectualou até de ressaca moral.

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Algumas linhas sobre o nadaE quando a gente se depara com o vaziiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiio de nossas mentes?

Adynne Lemes3º período de Jornalismo

Diversos autores já pensaram sobre a idéia denão ter nada para escrever. Questionaram se seriaesgotamento dos assuntos, ou apenas um brancotemporário... ou aquele delicioso comodismo,ócio e vagabundagem mesmo...

Num desses questionamentos, o jornalista eescritor Antônio Prata afirmou: “O fato é quemais cedo ou mais tarde, todo mundo vai sedeparar com a falta do que escrever, e temos quenos conformar com isso.” E tranqüiliza saber quenão somos apenas nós, estudantes de jornalismo,

que encontramos dificuldades de passar nossasidéias pro papel. Ninguém quer ficar com o títulode ‘sem criatividade’, ‘preguiçoso’ ou‘irresponsável’ sozinho, como se a falta de idéiasfosse um defeito exclusivamente nosso.

(É como quando no colégio você esquece defazer o exercício de matemática que a professorapediu, mas quando fica sabendo que outrapessoa também não o fez, se acalma, como se ofato da outra pessoa também não ter feito,amenizasse o peso na consciência.)

E o que fazer quando chegar o nosso momentode vazio? Bom, penso que não se tem muito afazer. Ficar sentado em frente ao computadoresperando que uma idéia genial caia sobre nossacabeça não é a melhor saída. E de acordo comDomenico De Masi, não mesmo! Para essepensador italiano, temos que saber aproveitar o

tempo livre que temos, o nosso ócio. Porque édaí que saem nossas melhores idéias. “É notempo livre que passamos a maior parte denossos dias, e é nele que devemos concentrarnossas potencialidades”, afirma o autor de Oócio criativo.

Portanto quando chegar a sua vez de perdernoites de sono, roer todas as unhas, colocar suavocação em questão... aproveite o vazio da suamente e fique à toa, fique muito à toa. Fique àtoa a ponto de te chamarem de vagabundo,preguiçoso. Porque pode ser que daí estejasurgindo um best-seller. E acalme-se, agora quevocê já sabe que a vagabundagem mentalacontece nas melhores famílias...

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Lílian Veronezi3º período de Jornalismo

Como é bom chegar em casa após um dia de trabalhoe ver uma cadelinha, com mais de quatorze anos,abanando um toquinho de rabo e expressando felicidadeao te ver. Essa sensação é quase cotidiana para todosaqueles que possuem um cachorro de estimação. E aindadizem que estes animaizinhos agradáveis e inteligentessão irracionais...

Pois bem, me questiono há muito tempo se nãopossuir um polegar opositor faça diferença no mundode hoje. Onde a irracionalidade de certos seres humanosassusta até mesmo o papagaio da vizinha. Eu nunca vi,em meu estado de perfeita sanidade, um “animalirracional” se alistando, por exemplo, para ser um gato-bomba ou um grilo kamikase.

Mas a discussão que eu quero levantar não é sobre airracionalidade humana. O caso é o seguinte: sabeaquelas frases que um professor de filosofia falou em salade aula e você não consegue esquecer? Foi o queaconteceu comigo. A tal frase “Penso, logo existo” dofilosofo René Descartes, me fez refletir sobre a existênciade um ser irracional.

Agora, todos os dias que chego e vejo a minha cachorradeitada e implorando com os olhos um carinho, hesitono primeiro momento. Já no segundo, me pergunto senão tomei a pílula vermelha do Matrix. Pois, seguindouma lógica racional, para existir o ser tem que pensar,mas, se este ser for irracional e não possuir o polegaropositor, ele não pensa – portanto ele não existe. Mas oque diabos é aquela cadela latindo lá fora para alguémabrir o portão? E aqueles quatro gatos que a minha mãearrumou e que miam quando querem comida? E o peixeJuninho, que foi embora pelo ralo da cozinha pordescuido da minha tia? Onde estão os seres irracionaisdeste planeta? Na imaginação?

Sei que quanto mais eu penso sobre isso, menos euquero existir. E menos ainda quando eu penso noaquecimento global ou na paz do mundo. Já os cachorros,gatos, papagaios, peixes e etc. não estão nem ligando parao que um filósofo disse. A questão dessa harmonia dosseres irracionais deve estar justamente em “não pensar”.Não pensar em pagar conta, se o salário vai durar até ofim do mês ou quem vai ser o novo presidente.

Mas que tem alguma coisa estranha nisso tudo, ah setem...

Penso, logo desisto...Quem disseque quem não pensanão existe, não fui eu...

Homo sapiens

Para existir, o ser tem que pensar.Mas se um ser irracional nãopensa, ele não existe?Mas o que diabos é aquelacadela latindo lá fora paraalguém abrir o portão?

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Neste ano de 2007, autoridadese políticos têm o compromisso ea responsabilidade de prepararo Brasil para receber a Copa de2014 e, de quebra, alavancar aeconomia, oferecer segurança econforto para a sociedade.

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Saulo Araújo Aguiar3º período de Jornalismo

Em um comunicado oficial, a FIFA anunciou, no dia 25 defevereiro de 2013, que o Brasil não tem condições estruturais eprincipalmente políticas para receber um evento como a Copado Mundo. “É entristecido e decepcionado que venho anunciarque o país com maior número de conquistas no futebol, domelhor jogador de todos os tempos e que mais cedeu craquesao planeta, não tem a menor condição de realizar uma Copa doMundo.” Esse foi o pronunciamento de Joseph Blaiter,presidente da FIFA, a maior instituição do Futebol.

Após seis anos do anúncio oficial do Brasil como sede daCopa de 2014 e depois de 9 bilhões de reais em investimentos,as cidades escolhidas como sedes ainda estão em obras. Emmetrôs, rodovias, aeroportos, hotéis, estádios, em toda infra-estrutura que seria necessário para realização do evento, osoperários estão parados. O estádio Maracanã, maior palco dofutebol mundial, é o retrato da incompetência e da corrupçãodos políticos brasileiros. Jogado ao chão para ser reconstruído,o estádio se encontra pela metade há quase dois anos. Estima-se que pelo menos 3 bilhões de reais já foram desviados.Vergonha, tristeza, revolta e raiva é o sentimento de uma nação.Milhares de pessoas estão nas ruas protestando pela copaperdida. Não existe mais divisão de classe social, não existe maispreconceito de cor, raça, religião ou de opção sexual; o país seunificou.

Não perdemos nos gramados, como em 1950, perdemos paraos ladrões que estão no comando do país. Os protestos destavez vieram em forma de ataque: carros e ônibus incendiados,lojas saqueadas e depredadas, monumentos históricosdestruídos, prédios públicos invadidos, tiros, gritos e explosõespelas ruas. Policiais armados e militares em tanques e aviõesde guerra espalhados pelas cidades não conseguem deter arevolta da população. Depois de 500 anos de corrupção obrasileiro acordou! Desta vez “pisaram no calo’’, mexeram nocoração, na alma, tiraram a maior paixão do brasileiro. Oscantos, que antes eram ouvidos nos estádios, agora estão nasruas, mas incentivando a revolta social. A presença de criançasno meio da multidão inibe os policiais. O país é do povo! –esbravejam os manifestantes. É o que realmente estáacontecendo. Cerca de 130 municípios já pediram ajuda àsforças armadas, mas militares são insuficientes. Senadores,deputados, governadores e o presidente da repúblicaencontram-se em uma sala no palácio do planalto e até omomento não se pronunciaram. Do lado de fora, o povo ameaçainvadir. Tiraram o futebol do país do futebol, e isso o brasileironão aceita. Estamos em guerra; agora não adianta lamentar.

Neste ano de 2007, autoridades e políticos têm ocompromisso e a responsabilidade de preparar o Brasil parareceber a Copa de 2014 e, de quebra, alavancar a economia,oferecer segurança e conforto para a sociedade. Mas, sefalharem, o mundo vai conhecer o verdadeiro significado dapalavra guerra civil.

ProfeciaA copa de 2014 é nossa?

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Daiane Leal Gomes4° período de Jornalismo

Quem algum dia nunca comprou ou usou umproduto pirata que atire a primeira granada. Emum mundo em que você tem a possibilidade decomprar utilitários genéricos por um preçoacessível, é obvio que vamos optar pelo maisbarato. Mas aí vem aquele pesinho naconsciência: e a qualidade? E logo em seguida jáesquecemos nossa consciência... ah, qualidadepara que? Vou usar por pouco tempo mesmo...ah, nem preciso de tanta qualidade... é coisinha

Crônica não pirateada

Josuá Barroso Oliveira3° período de Jornalismo

Chego em casa apressado. Preciso ver, nocomputador, se terminou o download da terceiraversão pirata do “Tropa de Elite”. O filme aindanão lançado oficialmente está sendo muitocomentado e já foi visto por 15 milhões de pessoas:muito mais do que qualquer bilheteria de estréiaem cinema de qualquer outro filme no Brasil.

Acesso a Internet com o Explorer falso dentrode um Windows pirata e começo a digitar estacrônica no Microsoft Word 2007 de um Office quenão é original. Na minha pasta pessoal intituladade “MP3” ouço todas as músicas que quero, nomomento que quero, e não paguei nada por elas.Agora, vou acessar um site hospedado no exteriorque, por essa razão, não está sujeito às penalidadesde pirataria previstas na legislação brasileira, ebaixar, na íntegra, a revista Veja que saiu ontem.

Sinto-me na supremacia da esperteza humana,tudo isso sem mencionar os perfumes, as roupas,os óculos que às vezes são até adquiridos comosendo originais em preços super promocionaisque, na verdade, também são falsificados.

Tudo certo. O mundo evolui mais a cadamomento que se passa e eu vou vislumbrando odia em que não terei que comprar mais nada! Seráperfeito! Tenho tudo o que quero sem que a mimseja gerado nenhum ônus.

Pego o carro, vou passear um pouco. Antes,passo na padaria e tomo aquele copo de leite purocomo de costume e ainda como um pão commuçarela – não é a combinação mais habitual,mas gosto assim.

à toa mesmo... e assim, com esse pensamento,produtos pirateados vão cada vez mais sendoproduzidos e consumidos. Está certo, tem aquestão de empregos, impostos que o país deixade ganhar, blá, blá, blá... e novamente aconsciência e o egocentrismo entram em conflito...Ah, desempregos e impostos são problemas dogoverno; vou garantir minhas economias.

Graças à Internet e à mente criativa do serhumano, coisas incríveis acontecem na arte dapirataria. Filmes que ainda nem foram lançadosno cinema já se consegue assistir em primeiramão, no conforto dos lares. Aí me pergunto: será

Isso é Brasil?

Vida pirata

que um dia os cinemas serão extintos? E asgravadoras, aonde irão parar? Pois é, sãoperguntas para as quais as respostas virão sóno futuro, e não num futuro muito distante, poisdia a dia novas formas de “copiar” sãodescobertas, e algumas “cópias” são tãoperfeitas que o consumidor acaba levando opirata perfeito – e não estou falando do capitãoJack Sparrow.

Nos tempos de hoje, tudo pode ser pirateado,copiado, clonado, falsificado. Mas garanto paravocês que pelo menos a crônica que estão lendoé legítima.

“Ctrl C”, “Ctrl V”###

Novamente tudo certo até o carro emperrar.Não anda, não liga mais, não faz nada. Omecânico deu o parecer: “gasolina adulterada”.É um absurdo! Onde vai parar este país que nemmesmo num posto de gasolina pode-se confiar?Pago o combustível que uso, trabalho para isso,ainda terei gastos com a troca do motor. Depoisdessa notícia, o melhor a fazer é voltar para casa,de táxi – mais gastos. Ligo a TV e assisto aotelejornal que me diz na chamada principal queo leite que tomei na padaria continha sodacáustica e água oxigenada! É estranho sentir-seloiro por dentro e é pior saber que a muçarelatambém está adulterada.

Este país está uma corrupção só, não dá maispara viver em meio a tantas fraudes que nosmatam aos poucos. Mas, depois desse dia de cão,o melhor que faço é ligar novamente o computadore ouvir um MP3, só pra relaxar um pouco...

Acesso a Internet com oExplorer falso dentro de umWindows pirata e começo adigitar esta crônica noMicrosoft Word 2007 de umOffice que não é original.

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Angelly Moreira3º período de Jornalismo

No Brasil (não só aqui), a economia informalestá crescendo cada vez mais. Devido aodesemprego e à dificuldade de encontrar trabalhona economia formal, muitas pessoas procurammeios alternativos de ganhar dinheiro. Dentro dainformalidade há vendedores, faxineiras,professores e paparazzi, entre outros; mas oprofissional mais bem-sucedido nesses meiosalternativos de ganhar dinheiro é o traficante.Isso mesmo, o traficante!

De todas as funções autônomas, talvez essaseja a mais lucrativa – e como é lucrativa!É umnegócio tão bom que, como temos visto, muitosfuncionários “legais” estão fazendo de tudo paraentrar nessa informalidade.

Para se tornar um bom empresário da área éfácil: basta não ter caráter e, o melhor, nemprecisa ter diploma escolar. Porém, é necessárioter alma empreendedora.

Este mercado é promissor, a economia ésempre estável, o produto atinge todos os níveissociais – do baixo escalão até a high society. Oproduto não é perecível e pode ser vendido poratacado ou varejo, de acordo com a procura. Omais rentável é comercializar em festas, porta deescolas e bares nos arredores das universidades,pois o sucesso é garantido e o risco de

Empresários de elite

Grasiano Souza3º período de Jornalismo

Falar sobre o desemprego vai ser fácil. Esta éminha atual situação no momento.

Aos 13 anos de idade comecei a trabalhar,primeiro como vendedor de picolés. Logo após,mais “adulto”, já com 15 anos, era balconista nobar de uma pizzaria importante em minha cidadenatal, Uberaba. Servia todos os tipos de bebidas,coquetéis e vinhos. Mas o emprego não durariamuito, pois os meus horários de aula no 2º graupassaram a ser noturnos.

Tudo o que eu queria era que sobrasse umtempinho a mais para ganhar dinheiro.Amadureci cedo, dedicava-me muito ao serviço,mas nunca dei muito valor aos estudos. Semprepensava em trabalho, pois tinha um sonho: desdenovo queria ter um carro. Carro que até hoje não

Desemprego: o eterno retornoconsegui comprar. A necessidade de umtransporte me fez repensar os gastos e acabeitrocando o meu sonho pela minha primeira moto.

Assim, comecei a vida de motoqueiro comuma CG 125. Com ela, eu fazia todo tipo deentrega e carregava pessoas da central demototaxi que meu irmão havia montado em umcômodo desocupado ao lado de nossa casa. Êtaprofissão de riscos! Quando chove, é certeza quevocê vai se molhar pra caramba no trabalho.Durante os períodos de calor, o sol queima nossorosto. Além disso, caímos e nos machucamosconstantemente. Eis aí uma pequena noção decomo foi minha vida de motociclista.

Cansei de tudo aquilo e fui tentar um novoramo: agora trabalhava de vendedor autônomo.Vendia de tudo: convênios médicos, cotas declubes e planos assistenciais funerários. Eupassava cada apuro ao ter que induzir meus

clientes a comprarem... Vivia viajando, mas atristeza era outra: falta da família. Sempre fuimuito ligado a eles. Meus laços familiares sãoimensos, nunca me vi morando ou vivendo longede meus pais. Isso tanto é verdade que até hoje,com meus 26 anos de idade, faço o possível e oimpossível para poder vê-los, já que moramlonge.

Em meu último emprego trabalhava comovendedor de sapatos numa loja de um libanês queadorava dar calote. Saí deste emprego e,atualmente, busco outro, desta vez n a áreaprofissional que almejo: a comunicação. Omercado é muito disputado, ainda mais para umprofissional não diplomado. Dificuldadesaparecem em todos os momentos, devemos saberadministrá-las e fazer desses empecilhosmomentos de decisão. Assim, conseguimos cresceraté mesmo diante das diversas frustrações.

inadimplência é baixo.O que faz esses empresários ganharem tanto

dinheiro? Já te explico!Não pagam impostos, suas empresas não

precisam de CNPJ, seus funcionários não são“fixados” (a não ser pela polícia, de vez emquando) e não precisam de atestado deantecedentes criminais. Seus principaisexecutivos estão sempre na capa dos principaisjornais e são donos de vários residenciaispopulares. Os empresários do ramo estão sempreengajados na “questão social”, da comunidadeonde seus negócios estão instalados.

Todas as empresas desse segmento adotam o

projeto Primeiro Emprego: diariamente sãorecrutados centenas de menores aprendizes nascomunidades carentes. Quando atingem amaioridade, e caso decidam fazer faculdade deDireito (só essa é do interesse dos executivos, porenquanto) seus estudos são pagos e, ao términoda universidade, já saem empregados na própriaempresa do tráfico.

No atual estágio de capitalismo selvagem quevivemos, há quem acredite que o tráfico é onegócio do futuro, pois os manos sabem ganhardinheiro rápido, de forma eficiente, e não seimportam com a origem ou com as conseqüênciasda transação comercial, desde que seja lucrativa.E por fim, há uma característica bem peculiar quedemonstra o “espírito prático” dessesempresários do ramo. Quando têm contas areceber, eles não costumam cobrar suas dívidasno SPC/SERASA: mandam direto para o IML,sem direito a protestos.

Isso é Brasil?

O que faz esses empresáriosganharem tanto dinheiro?Já te explico! Não pagam impostos,suas empresas não precisam deCNPJ e seus funcionários nãoprecisam de atestado deantecedentes criminais.

Vida dura!

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É. Não é fácil falar nela mesmo. Há até quemdiga: – Vira essa boca pra lá!, quando, por lapso,cogitamos que um dia fatalmente, por assim dizer,ela virá nos buscar, ou visitar.

O fato é que, ao nascermos, estamosinevitavelmente dando início à jornada que noslevará justamente ao encontro dela. Ela está lado alado com a nossa vida, quer queiramos ou não. Nãosei se você já está sabendo do que estou escrevendo,mas vão aqui mais algumas dicas: o cinema acaracteriza, muitas vezes, de forma tão caricata,gozada, que se ela fosse realmente uma mulhervestida de preto (ninguém nunca disse se a viurealmente desse jeito e comprovou, hein!) elacertamente se sentiria muito magoada. A literaturajá trata um pouco mais seriamente; o comércio temum setor especialmente criado para lidar com aspessoas que a esperam chegar. Tem até trajeespecial, veículo para transporte, uma decoraçãotoda florida, um ambiente preparado com luzes develas, quitutes, bebidas... enfim, toda uma variedadede preparativos para quando ela vier e fizer suavisita. Mas essa visita parece muito indesejada, naverdade; pois não é raro cenas de lágrimas eexpressões dolorosas, mesmo com toda essapreparação. Ah, lembrei que como estamos noBrasil, existem pessoas que não têm muita condiçãofinanceira para receber esta visita com todo orequinte de que falei há pouco...

Seja anunciada, inesperada, acidental, ao nascer,na guerra, na paz, no campo e na cidade, namontanha, no mar ou no riacho, à toa outrabalhando, querendo ou não, a visita da ceifadeiraé uma verdade inexorável de todos nós, os mortais.

No dia 2 de novembro, dia que a fé escolheu para

lembrar quem já se foi, talvez seja um dia para noslembrarmos mais ainda de quem está aqui, vivo. Osque descansam eternamente não precisam de maisnada além de respeito pela sua memória; já nós,que ainda pisamos nesse chão, temos que usar – ebem – o tempo que nos é oferecido pela vida. Como?Se começássemos pela busca do ser humano melhordentro de nós, praticássemos a verdade e a ética,não tentando tirar sempre proveito e lucro em tudo,sendo honestos com nossos ideais, não vendendonossas almas aos demônios da ganância e soberba.

Se esses larápios e estelionatários da confiançado povo entendessem que um dia a morte vem eleva a todos, sem distinção, sem ganância epreconceitos, e que aí todos terão de prestar contasde tudo o que fizeram nessa terra, os renans, sadans,bushes, coopervales e outros, quem sabe, seriammenos sedentos e nocivos pra todos nós. Eles seriamapenas lembrados com honra, glória e saudade nodia de finados, que para os simples mortais, é umdia de respeito e recordação de quem já nos deixou.E, quem sabe, como crêem alguns, eles estejam numparaíso repleto de tudo o que é bom e saudável, quenós, os ainda vivos, não fomos capazes de oferecernessa terra de Deus.

O fato é que, ao nascermos,estamos inevitavelmente dandoinício à jornada que nos levarájustamente ao encontro dela.

***

***

Grasiano Souza3º período de Jornalismo

Para muitos, o dia 2 de novembro pode seruma data muito importante. Lembranças ememórias inspiram uma grande saudade dosantigos amigos e parentes queridos que se foram.

Certo dia, em uma visita rotineira à casa deum amigo, recebi um convite bem estranho: nodia 1º de novembro, véspera do Dia de Finados,fui convidado para fotografar a mãe dele,porque naquele dia ela faria aniversário. Atéaí, tudo normal. A surpresa foi descobrir quea festinha seria realizada dentro do cemitérioSão João Batista. E foi assim que naquelegrandioso dia eu aceitei o convite e fui buscarMaria Tereza para comemorarmos seuaniversário de uma maneira diferente.

Cabelos penteados, uma maquiagemdiscreta e com um cheiro suave de perfume,assim se emperiquitou Maria Tereza para a suafesta. Durante nosso percurso até o cemitérioela dizia algumas coisas que eu não entendia.Nessa loucura, logo comecei a viajar: pensavacomo poderiam ficar as fotos da festa nocemitério? Quem a visse naqueles trajespensaria que ela estava saindo para um passeioou algo do tipo. Bastava olhar para a formacomo se vestia e para o seu jeito de andar.

Entre fotos

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Chegamos. O sol quase explodia minha cabeçaou a de quem ousasse ficar exposto ao ar livrepor algum tempo. Ela andava muito, o que decerta maneira me fez, ironicamente, conhecertodos os pontos turísticos do cemitério. Lá elase sentia uma rainha! Seus passos eram de umagraciosidade inigualável e parecia que ela estavaprestes a flutuar. Maria Tereza visitou tímulos,como o de Chico Xavier, o do taxista Alfeu e dealguns outros que nem conhecia ou sequer tinhaparentesco. Uma fato “crazy” é que, enquantoseguíamos nosso caminho, ela retirava uma ouduas margaridas dos túmulos pelo caminho.Será que ela é parente do Ronaldo Esper? -pensei comigo...

Durante todo o trajeto, mumúrios e preceseram feitas em voz alta e clara. “Que as almasnos protejam”. Seguimos o percurso enquantoela me contava histórias. Quando chegamos aotúmulo de seus parentes, quase não acreditei noque vi. Ela deitou-se de uma maneira bemdelicada, como se estivesse no sofá de sua casa.Ali estavam enterrados o marido, que falecerahá mais de 20 anos, o sogro e a sogra e algunscunhados e cunhadas. Fotografei todos os gestos.Ela adorava e eu me sentia o “Cara”. Então euperguntei: “Posso publicar suas fotos no jornalda faculdade?”. “–Claro, será ótimo!”.

Então tá!

Fotos: Grasiano Souza

e lápides

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Lílian Veronezi3º período de Jornalismo

De todas as ditaduras sofridas tanto pelooriente como pelo o ocidente, a ditadura da modaé a única que se perpetua durante séculos.Considerada como um degrau para se elevarsocialmente, a moda vem ditando duras regrasàs adolescentes que sonham com o estrelato daspassarelas e viagens internacionais.

Para modelos aspirantes a Gisele Bündchen,os padrões da moda as tornam doentes ecompulsivas pelo “corpo-cabide perfeito”. E valede tudo, desde desenvolver uma bulimia ouanorexia, até se atracarem entre os corredores dasagências. Sem contar que, se um brasileironormal tem que trabalhar no mínimo trinta anosda sua vida para se aposentar, as modelos, têm,no máximo, até os seus vinte e cinco anos parajuntarem uma boa grana para a suaaposentadoria.

Mas as devastações que a moda causa nãoparam por aí. Adolescentes, homens ou mulheres,se vêem presos a moldes televisivos oucomprados em revistas. Não é à toa que todanovela causa um frisson nos comportamentos,principalmente das mulheres. Quem nãoadquiriu um estilo romântico da personagemPaula, representada por Alessandra Negrini naúltima novela das 21h da Rede Globo? Muitoimprovável que essa resposta seja negativa, masprovavelmente muitas personagens, ao longo dotempo, foram recriadas pela sociedade emvitrines e etiquetas.

Porém, até quando a sociedade conseguirá selibertar da ditadura da moda? Até quando asrevistas baterão recordes de vendas por causadas dicas de como as modelos mantêm o corpoperfeito? Até quando a coisa mais importantedo mundo será o xampu que deixa o cabelosedoso? O mundo de hoje, na verdade, nãoparece muito diferente do tempo de nossas tiase avós, que vez ou outra clamavam porliberdade, mas sempre caíam nas prisões daditadura da moda.

A ditadura da moda

Até quando a coisa maisimportante do mundoserá o xampu que deixa ocabelo sedoso?

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Magra sim, cabide não!

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Elizabeth Zago4º período de Jornalismo

Enquanto escrevo este texto, meus pésestão ficando frios, a barra da minha calçaestá úmida e minha sombrinha está com carade quem enfrentou o Katrina – e nãosobreviveu. Milagre como meus objetos aindaestão secos. Tudo isso é resultado de umasenhora chuva que peguei ao vir para afaculdade.

“Quem mandou não ter carro e ser pobre?”,vocês devem estar pensando. Mas não estoureclamando não. Pior seria se eu tivessemesmo um carro e o tivesse estacionado nocentro – imagino como lá deve ter chovido...Ou, pior ainda, seria se eu vivesse numaencosta de morro ou barraco de lona. Ah,meus caros, a gente não deve nunca reclamarda vida. Por mais que achemos que estamosno fundo do poço, tem sempre mais gente queestá mais fundo ainda.

Mas, voltando ao assunto, pensando naágua que me molhou e provavelmente memolhará de novo quando sair daqui, penseitambém nas notícias que sempre vêm juntocom as chuvas: alagamento, enchente,mortes, desabrigados, barrancosdespencando, deslizamentos, etc, etc...

E me veio a seguinte conclusão: ou épocade chuva é sinônimo de falta de assunto nojornalismo, ou brasileiro é mesmo umbichinho que só aprende a nadar – figurada eliteralmente – quando sente a água bater notraseiro. E inundar a casa.

Sim, porque é sagrado: é só começar achover que chovem as notícias básicas degente que morreu soterrada, de chuva quealagou, que não sei quantos perderam tudo oque tinham desde a última enchente... Até aschamadas são parecidas. O que deixa clarotambém é que ninguém – nem governo, nempopulação – pensa que, se temos essesproblemas hoje e tivemos no ano passado, porque deixar que no ano que vem tudo se repita?Por que não resolver de vez os problemas dehabitação segura, desentupimento de bueiros,para que pessoas não virem estatísticasquando a próxima tempestade vier? Falta derecursos ou comodismo?

Até lá, o máximo que podemos fazer é rezarpra São Pedro ter um pouquinho de dó. Ecomprar uma sombrinha decente. E cuidarpara não ficar resfriada, porque é precisosaúde para encarar novas águas, não émesmo?

Secos e molhados

Revelação - Outubro de 2007

Chove chuva!

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12 Revelação - Outubro de 2007

Crônica: William Lima8° período de Jornalismo

Hoje me peguei pensando na vida: osmomentos gloriosos de pura felicidade em queeu e minha família compartilhávamos há 15 anos.A gente se reunia na fazenda “Mantibre”, de meusavós, 20 km para lá de Conceição das Alagoas(MG), quase todos os finais de semana. O maislegal era escutar minha avó gritando: “Sai daqui,capetada, me deixa dormir!”. Eu e meus primosfazíamos um fuzuê o dia inteiro.

Quando criança, tudo era maravilhoso,momentos em que pés descalços ou sujos, piolhoe pente fino, eram apenas detalhes. Minha mãe,à noite, interferia no pique-esconde da molecadae falava: “Vamos tirar os piolhos, menino.” Eusempre dava um jeito de fugir. Todavia, no final,o pente-fino sempre vencia. Hoje, tento fugir deuma juventude lúgubre.

Quando criança, as horas pareciam eternas emcomparação às de hoje, quando tenho até medode encarar o relógio. Tempo que não volta mais,tempo em que as brincadeiras eram para o diainteiro, tempo em que não precisava ficar mepreocupando com trabalho, com tirar 10 nafaculdade...

Quando criança, a inocência era pura. A únicacoisa que tinha medo era do pente-fino de minhamãe. Hoje, os sentimentos de destruição,vingança, egoísmo acometem cada vez mais omundo e me causam incertezas.

Quando criança, a fazenda de meus avós parecia“a terra do nunca”, de Peter Pan, onde tudo épossível: brincar, correr, subir em árvore, nadarno rio, andar a cavalo, voar, pegar vaga-lume e tudoaquilo que só é permitido quando se tem cinco, seis,sete, oito anos de idade – enfim, quando se écriança. Hoje, não consigo compreender as pessoase a sociedade. Sei que a vida não é um mar de rosas,mas poderia ser mais humana.

Quando criança, achava o meu pai “o tal”, omeu escudo nas brigas com os colegas da rua.Colegas que não os vejo há tanto tempo... seráque estão vivos? Espero que sim! A vocês MarcoTúlio, Frederico, André, muita paz – é disso queo mundo precisa. Nunca vou esquecer de você,José Eduardo Fernandes Ferreira, que foi esempre será o meu eterno amigo, que partiu parao plano superior...

Quando criança, meus tios eram mais unidos,meus pais se amavam mais, eles eram minhaslágrimas nos momentos de choro. Hoje, choropor não ter mais meu pai e sou muito grato àminha mãe.

Quando criança...

Quando criança, fiz infinitas travessuras:joguei bombinha na janela do vizinho, desligueipadrão de casas e pernas para quem tem, aperteicampainha e saí correndo, sujei roupasestendidas no varal de um quintal com blocos deterra; fui pego pelo morador e obrigado a limpar...foi muito engraçado. Hoje, tenho medo debombas que apagam vidas.

Quando criança, não sabia o que era o amorentre um homem e mulher. Observava alguns

homens chorando por mulheres, principalmentenos botecos. Hoje, já senti na “pele” estesentimento não correspondido.

Quando criança, via pela TV jovens sedrogando e abusando de álcool. Nem sabia o queera isso. Hoje, já me peguei andando de carropelas ruas da cidade bêbado e sonolento.Atrocidades que não faço mais. Tenho 22 anos eestou ciente de que o tempo passa tão rápidocomo um ataque fulminante de uma águia.

Eu e eu mesmo...

Reprodução

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Diretor de criação da agência Futura fala sobre o Futuracom

Revelação - Outubro de 2007

Juliana Talala6º período de Jornalismo

O melhor passatempo que existe é ficarobservando as pessoas à sua volta. Imaginar seusnomes, idades, profissão, estado civil, quantos filhostêm, se são capricornianos ou taurinos, se leram oHolocausto ou Doce veneno de escorpião.

A maioria das vezes em que utilizo transportecoletivo e que não tenho nenhuma revista, jornalou música para me distrair, eu adentro um mundoà parte. Crio personagens e histórias baseando-menas características físicas, postura e vestimenta.

Na última quarta-feira, peguei o ônibus 104,do itinerário Boa Vista-Volta Grande, às 9h. Comotoda canhota, me sentei do lado direito para deixaro lado esquerdo livre, caso tivesse que realizaralgum movimento que exigisse velocidade e reflexo.E para conseguir descer no ponto certo, semobstáculos, optei pela terceira poltrona antes daporta de saída.

Olhei para os lados, ninguém olhava paraninguém, ninguém dizia nada. Devia ser o horário;provavelmente haviam acabado de acordar e, talvez,alguns nem mesmo tiveram tempo de tomar o café.

Sentada em minha frente, uma moça deestatura média, cabelos cacheados, tipo MariaFernanda Cândido, lia compenetrada o livro“Verônica decide morrer”.

Então imaginei...Ela deve se chamar Laura ou Clara, tem uns 21

anos, é estudante de Administração que,decepcionada por não ter passado no processo deseleção da CTBC, entrou em depressão. Preocupada,uma amiga a presenteou com o livro de auto-ajuda.

Mais um ponto, o ônibus pára. Uma moça de cabelos tingidos de loiro, calça

jeans, regata branca e bolero rosa sobe pelasescadas, quebrando o silêncio.

O cobrador, todo entusiasmado, faz elogiosdemasiados;

- Princesa... Linda...Provavelmente, quando criança, não foi muito

bonita. O que a fez receber muitos apelidos. Agoraque tem o corpo formado optou por atenuá-lo, adespeito das críticas na infância.

Mal passa a catraca, avista uma amiga;- Oi, amiga!- Vai ao show do Victor e Leo?- Eu vou. Mais uma parada. Sobe um rapaz trajando o uniforme das Casas

Bahia, que passa pela catraca tirando os óculos e seachando um “Dom Juan de Marco”.

Sem lugar ao lado das mais bonitas, sentou-seao meu lado.

A partir daí não pude mais continuar com meupassatempo, pois, ele não parava de me olhar.

Eu, sem jeito, não podia olhar para os lados,

Crônica da distraçãoNo balanço do buzão

ou ele acharia que eu estava correspondendo. Paracompletar, eis que o funcionário das Casas Bahiame canta, com uma cantada típica de operário deobras;

- Você tem horas?- Desculpe, não tenho relógio.- Também não precisa, porque ganhei meu dia

sentando ao seu lado. Fiquei em silêncio. Não sabia o que retrucar. E esse silêncio foi me constrangendo, enquanto

ele não parava de olhar. Até que enfim meu ponto! Pedi licença para me levantar. Ele me concedeu.

Eu agradeci.Mas ele não se conteve e soltou mais uma na

despedida:- Tchau, linda, a gente se esbarra por aí. Ao descer, me senti aliviada por não estar mais

na companhia daquele que nem mesmo tive tempode construir um personagem.

E para conseguir descer noponto certo, sem obstáculos,optei pela terceira poltronaantes da porta de saída...A partir daí não pude maiscontinuar com meupassatempo, pois, ele nãoparava de me olhar.

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rodu

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Paranauê, Paraná!

14 Revelação - Outubro de 2007

Pedro H. Perassi de Oliveira7º período de Jornalismo

O professor Crei estava visivelmente cansado.Chegou quietinho, com um dos seus alunos, foi parao canto da sala e começou a envergar um berimbau.O instrumento que comanda a roda de capoeira, ditao ritmo do jogo. Feito com uma vara de madeira, umarame e uma cabaça. Tem a aparência semelhante àde um arco. A cabaça, responsável pela acústica doinstrumento, pode ser de vários tamanhos, quantomaior, mais grave é o som do berimbau.

Enquanto isso, professor Roqueiro instruía umgrupo de alunos. Fazia movimentos simples eexplicava de forma detalhada a mecânica por trás decada um deles. “Vocês se preocupam tanto em aplicargolpes, mas não podem esquecer da esquiva”, avisavao professor. Crei, no canto do salão recebiacumprimentos de alguns alunos.

Terminado o treinamento, chegou a hora da roda.Com o berimbau em mãos, Crei orienta a formaçãoda roda e se dirige ao fundo da mesma. O som doberimbau ecoa por toda a academia, seguido peloatabaque, pandeiro e, por fim, pelas palmas doscapoeiristas. Dois jogadores se agacham aos pés deCrei, aguardando o sinal para que o jogo se inicie.

Gleisson Marques Gonçalves Costa, conhecido nacapoeira como Crei, é um homem alto, forte e negro.Sua estrutura corpórea impressiona. Calado, Gleissonparece estar sempre com pressa, sempre correndo.Apesar disso, sua fala é sempre serena e transmitecalma, uma contradição com seu porte físico.

“A capoeira é minha filosofia de vida”. E foi atravésdessa filosofia que Gleisson encontrou forças paraalcançar seus objetivos. Além de capoeirista, é professorde história e informática. Uma pessoa dedicadatotalmente à educação. O conheci na Universidade, emum seminário do curso de História. Como é comum emeventos desse tipo, houve uma apresentação cultural,na ocasião, a puxada de rede e o maculelê.

Inspirado na vida dos pescadores do litoralbrasileiro, o teatro folclórico da puxada de rede é umespetáculo de grandiosa beleza. Embalados porcânticos, os atores representam o drama de um grupode pescadores que perde um companheiro para o mar.Em seguida, os impressionantes facões e a dança domaculelê. A dança esconde uma forma de luta, osparticipantes usam bastonetes de madeira paradesferir e defender os golpes de forma sincronizada.Alguns substituem a madeira por facões queproporcionam um espetáculo à parte, por conta dasfaíscas resultantes de seu encontro no ar.

Nessa ocasião, após a apresentação, Gleisson deixaa roupa de capoeirista e se torna estudante de história.Capoeira e história se unem na vida do educador edivulgador da cultura nacional. “A gente fala que acapoeira é um jogo e eu não jogo só na roda, eu jogo otempo todo. A vida é um jogo. Quando o capoeiristase vê em uma situação complicada ele tem facilidadede sair do problema e eu sempre tento fazer essaassociação na minha profissão”.

Crei iniciou na capoeira em 1993 em uma creche

Eu sou capoeira!

com o mestre Geraldo, pelo grupo liberdade. Em poucotempo aprendeu a jogar e começou a dar aula, fazendoda capoeira seu estilo de vida. Passou para o grupoAve Branca, onde treinou por muitos anos, até quehouve uma dissolução do grupo na cidade de Uberaba.Crei ficou sem grupo por um tempo e, junto com oamigo Jean Roberto de Oliveira, o Roqueiro, conheceuo Centro Cultural de Capoeira Raízes do Brasil,coordenado pelo mestre Ralil.

Em 2002, Crei e Roqueiro implantam em Uberabaa metodologia do Raízes do Brasil, tentando resgatara cultura da capoeira, através de manifestações comoo jongo, o maculelê e a puxada de rede. O principalobjetivo de Crei é, através de todo o suporte fornecidopelo Raízes do Brasil, divulgar a capoeira como a arte-luta brasileira e toda a cultura que já está enraizadana vida dos capoeiristas pelo mundo.

“As pessoas não valorizam a capoeira, muitas vezesa gente prefere valorizar outra cultura, como a oriental,e renega aquilo que é nosso. A capoeira é genuinamentebrasileira”. Nascida nas senzalas, a capoeira é o gritode libertação de um povo. Os negros eram trazidos dascolônias africanas para o Brasil em navios, vindos dediferentes lugares do continente. Dessa mistura deculturas africanas surgiu uma cultura afro-brasileira,com influência dos nativos e de elementos europeus. Acapoeira é o retrato desse Brasil transculturado.

Os negros, ávidos por liberdade, desenvolveram umaluta matreira, cheia de esquivas e ataques. Foi nosquilombos que essa arte ganhou força. Essas comunidadeseram formadas por todos aqueles que buscavamliberdade. Negros, em maior número, junto com brancose índios formaram a identidade dos quilombolas.

Com o fim da escravidão, essas pessoas não tiverammuitas oportunidades e, inevitavelmente, forammarginalizadas, relegadas à periferia da sociedade.Aqueles que se dedicavam à capoeira possuíam umavantagem sobre os demais, valendo-se da habilidadepara o crime. Formaram as maltas, grupos quepromoviam saques e aterrorizavam as populações. Apartir daí, a prática da capoeira foi considerada crimepelo Código Penal Brasileiro.

Mestre Bimba organizou a capoeira, criou ummétodo de ensino, de jogo, se apresentou em várioslocais e conseguiu que Getúlio Vargas legalizasse oesporte. Ainda assim, a imagem negativa da capoeiraficou marcada na cabeça da sociedade brasileira,passando de geração a geração com o estigma de umaarte de baderneiros e vagabundos.

Gleisson traz na pele e no olhar essa história. Aindamenino, quando começou na capoeira, não teve oapoio da família. Mas com seriedade e trabalho foiconquistando respeito e estendendo-o à capoeira. Comisso, deu início a uma série de projetos sociais. Creigosta de ensinar capoeira para crianças, pois acreditana arte-luta como formadora de cidadãos com carátere dignidade. Exalta a disciplina e o respeito comograndes qualidades do verdadeiro capoeirista.

Após trabalhar o dia todo no Educandário MeninoJesus de Praga, onde, além da capoeira, lecionainformática em um projeto de inclusão digital. Deu duasaulas de capoeira no Colégio Nossa Senhora das Dores efoi para a roda do mês na academia. Ele estavavisivelmente cansado, mas pegou o berimbau e organizoua roda, junto com o professor Roqueiro. Tocou, cantou,bateu palmas e fez aquilo que mais gosta, jogou capoeira.

Mestre Crei (sentado, à direita) orienta a formação da roda de capoeira

Pedro Perassi

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15Revelação - Outubro de 2007

João Marcos Lacerda3º Ano do Ensino MédioLiceu Albert Einstein

Segundo a biologia, o fenômeno conhecidocomo “crossing over” é a troca genética que ocorreentre dois cromossomos através dos genes. Nessecaso, algumas informações genéticas contidas emum cromossomo se transferem para o outro pormeio do contato entre eles, o mesmo ocorre como outro, havendo então uma troca de informaçõesgenéticas.

Fazendo uma comparação com esse processobiológico, o maior acesso dos negros e de pessoascarentes às faculdades só fazem somar em todosos aspectos. Pois o fim do preconceito e dasinjustiças sociais se dá através do maior acesso àinformação e uma educação de melhor qualidade.

Com as diferenças didáticas minimizadas, e acrescente facilidade ao acesso à informação,pessoas menos favorecidas socialmente terãomais capacidade de defender seus direitos e suasidéias perante uma minoria atrasada de pessoaspresas aos moldes coloniais. Essa miscigenaçãointelectual beneficia a essência da idéia, que passaa surgir de pontos de vista diferenciados, depessoas que defendem os interesses de sua classesocial.

Já avançamos muito no que se trata depreconceito racial em nosso país, porém mesmocom leis cada vez mais severas a fim de punir taiscondutas, o que se vê, na prática, ainda está longedo que promete a ideologia. Podemos verificar,por exemplo, o fato de mesmo ocupando osmesmos cargos, o salário de negros e de mulheresainda é inferior ao salário pago aos homensbrancos.

Como se não bastasse, recentemente nosdeparamos com declarações racistas einfundadas de uma grande autoridade científica,que afirma que “os negros têm desempenho piorque os brancos em testes de inteligência”, e comoprova usa um argumento totalmente subjetivo:“quem já trabalhou com negros sabe que eles têmmais dificuldade de entender as coisas que osbrancos”.

Atitudes como essas só fazem regredir osavanços conquistados ao longo do tempo no quese trata de diminuir as diferenças sociais entrebrancos e negros. O que alerta para o fato de quemuito ainda deve ser feito para que sejamassegurados aos negros os seus direitos. Assim,facilitar o acesso deles à uma formaçãouniversitária já é um bom avanço.

Revelação nas Escolas

“Crossing over”culturalFotos e montagem: Graziella Tavares

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Alliny Araújo Felipe Ayer de Negri 3º período de Jornalismo

Que país é esse, que se escandaliza com asfotos dos pentelhos de um travesti e não reage à

impunidade no Senado? Enquanto Rogéria expunhaapenas suas particularidades, sem afetar diretamente

a população, éramos ridicularizados mundialmente pelafalta de vergonha dos nossos senadores que nãocondenaram um ato de descaramento absurdamentemaior do que qualquer órgão genital masculino.

As pessoas se ofendem ao ver fotos de um nu exótico,ficam indignadas, retiram conteúdos consideradospornográficos de exposições, mas simplesmente cruzam

os braços e balbuciam lamúrias inúteis ao leremnotícias sobre dinheiro público usado para o bel-

prazer do nosso ilustríssimo político usuário dehidratante à base de óleo de peroba. Deveríamos,

sim, nos sentirmos extremamente ofendidosem nossa moral patriarcal e católica,

apostólica, romana, ao precisarmosser alertados pela Anistia Inter-

nacional sobre o ato

Cronicamente inviável

absurdo e desumano de seaprisionar uma menina de 15 anos emuma cela com vários animais-homens no cio,oferecendo na bandeja a carne de uma debutanteaos desejos maníacos sexuais.

Que país é esse onde somos enganados, bebendosoda e água oxigenada, fantasiadas de leite, ondeesperamos morrer 354 pessoas para se tomar uma pseudo-atitude sobre o caos aéreo, onde processamos e julgamosum macaco e praticamente ignoramos homens frios ecalculistas, que nos roubam, matam e destroem nossadignidade e liberdade?

Ah senhores, enquanto nossa história é pirateada econtada com palavrões e termos chulos através da nossaTropa de Elite, ainda nos deixamos alienar pelos enlatados“bushianos”, preferindo o jardim de inverno do vizinhoamericano à nossa floresta amazônica.

Enfim, companheiros e companheiras, que país seráesse se a população não aprender a desmistificarparadigmas e ideologias, a dar valor à leitura, aoconhecimento e, por último, e não menosimportante, aprender a ser um povocidadão, consciente, crítico edevidamente civilizado?

Nunca antes neste paísNunca antes neste país