Revelação 341

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba Ano XI • n. 341 • Uberaba/ MG • Abril de 2008 Educação e responsabilidade social Págs. 8 a 11

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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social Uniube. Abril 2008

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Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de UberabaAno XI • n. 341 • Uberaba/MG • Abril de 2008 Educação e responsabilidade social

Págs. 8 a 11

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Revelação - Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba

Uniube • Reitor: Marcelo Palmério ••• Pró-reitora de Ensino Superior: Inara Barbosa ••• Coordenador do curso de Comunicação Social: Raul Osório Vargas ••• Assessorde Imprensa: Ricardo Aidar ••• Revelação • Professor orientador: André Azevedo da Fonseca (MTB MG-09912JP) ••• Produção e edição: Alunos do 3º período deJornalismo ••• Estagiárias (diagramação e edição): Camila Cantóia Dorna e Marília Cândido Lopes ••• Revisão: Márcia Beatriz da Silva e Celi Camargo •••Impressão: Gráfica Jornal da Manhã ••• Redação • Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Sala 2L18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba - MG - 38055-500 • Telefone: (34) 3319 8953 ••• Internet: www.revelacaoonline.uniube.br ••• E-mail: [email protected]

Revelação - Abril de 2008

Jornais têm que ser criativos. E isso não é um luxo,mas uma condição essencial de nossa prática profissional.A imprensa tem uma funçãoextremamente importante nodesenvolvimento intelectual,social, econômico e cultural nasdemocracias. É através dos meiosde comunicação que as pessoasinteragem com os acontecimentos,novidades, decisões políticas enovas formas de cultura. Por isso, a imprensa tem queassumir a responsabilidade de buscar olhares criativossobre os grandes problemas de nossa sociedade.

Nesta edição, temos o prazer de recuperar um poucoda história de Orlando Ferreira, o Doca; um jornalistaque viveu e trabalhou em Uberaba e que provocou a

Jornalismo ecriatividade

Carta ao leitor

Joyce Nayara Rodrigues3º período de Jornalismo

Desfazem-se nas vogais do Brasil as analogias dagafieira e as inutilidades parlamentares. Eis que échegada a hora das repetições e das sete mortestelevisivas.E quando cismam de pegar a laço um fato,tratam de transformá-lo logo na notícia maisdivulgada, no acontecimento mais comentado, e nosobrigam a digerir nos canais apáticos todo aquelesensacionalismo glamourosamente barato.

Soube que o jornalismo brasileiro anda às tantascom as revoluções e as conjunturas políticas. Maspermitam-me a mudança brusca de assunto. Lembrei-me de uma politicagem importante, já que abril foi-sehá pouco e ainda deixou o calendário quente. No mêsdas descobertas, nossos patrícios mal sabiam o queos esperava quando desembarcaram na costa baiana.Todas as delícias da Terra. A pele colorida e pronta.Suada e nua, salgada e viva. A belezura do brasileirodilatou as pupilas gringas e a madeira resistente dessasbandas foi um convite às instalações luxuosas.

Admiração, fascínio, escambo e escravidão nas

páginas da história do descobrimento. O que maisintriga nessa relação de achados e perdidos é averacidade do contador de histórias.

Questionamentos à parte, há muitas coisas quequalquer “brazuca” possivelmente despercebido oudesinformado ainda não viu. O sorriso de Elisaenquanto ela limpa o salão de reuniões da Associaçãodos Fornecedores de Cana – e, diga-se de passagem,a cana que está no país desde a colonização. A cantoriados idosos da “Feliz Idade” durante a despedida deamigos e o artesanato legítimo do Garimpo das Artes.Os filmes censurados pela ditadura e as curiosas cenasconsideradas inescrupulosas que sequer chegamminimamente aos pés das enroscas novelísticas.

Ah, se o país soubesse de como a vida é tãofartamente mísera e apaixonante... Talvez prestassemais atenção no impacto das atividades econômicasno meio ambiente.

Poucos conhecem o lar mais afetuoso de certacidadezinha afamada Garimpo. Porém, certo dia quiseu dar-me a chance de ser feliz de verdade e, na maisincrível descoberta pessoal, percebi a comunhão devinte e duas crianças que não pediram nada, a não ser

minutinhos da minha atenção. Fragmentos do meuabraço e palavrinhas soltas da minha boca.

A verdade é que cada brasileiro ainda nãoreconheceu seu território e não compreendeu que hámuito mais que uma sétima arte. E o chorinhoconhecido ainda está na tristeza. Quem sabe sonharainda desconhece o samba e, na roda da vida, quemgira é moleque. Frevo ainda é bagunça dentro de casae toda a ignorância da massa é raiz que germina nopovo o futuro do nada. Sem arte, sem letra, semmelodia, num tom de esquecimento.

Se eu não pesquisasse e não te contasse, malsaberíamos que em abril tem tanto a se comemorar. Édia do Jovem, tem dia internacional do livro infantil,tem homenagem para a Força Aérea Brasileira, dia dosCorreios, do combate ao câncer e dia mundial da saúde.

Mas tem algo mais. Confuso, mas lindo. Certascoisas que o Brasil ainda não parou para ver. Eu gostode guardá-las comigo, que nem papel de bala quandoé de alguém especial. E para o jornalismo deixo todaa tarefa difícil: informar sem corromper, democratizare reconstruir o social de uma nação que se afunda nacratera da indiferença...

Coisas que o Brasil não descobriu

inteligência da cidade ao publicar críticas contudentessobre a realidade local. Odiado por muitos,

menosprezado por alguns masrespeitado secretamente até porseus maiores inimigos, Docaconseguiu, através do jornalismo,fazer com que os leitores seencorajassem a criticar a cidadea partir de pontos de vistaradicalmente autênticos.

Neste ano em que comemoramos o bicentenárioda imprensa no Brasil, recuperar a memória deOrlando Ferreira – um homem que viu sua obrasendo censurada e incinerada pela igreja local – é umdever de todo cidadão que acredita nos valores daliberdade de expressão.

Experiências narrativas

Imprensa tem que assumira responsabilidade de buscarolhares criativos sobre osproblemas de nossa sociedade

Paulo Fernando Borges3º período de Jonalismo

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Reflexões sobre os 200 anosde imprensa no Brasil

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Quarto poder?

Adijovani Santos3º período de Jornalismo

Em 13 de maio de 1808, no Rio de janeiro, nasciapor decreto do príncipe regente Dom João VI aImpressão Régia. Surgia assim a imprensa no Brasil.Inicialmente, o objetivo era imprimir todos os atosadministrativos do governo. Nesse mesmo ano,surgiram os primeiros jornais brasileiros: CorreioBrasiliense (1º julho) e Gazeta do Rio de Janeiro (10de setembro). O Correio Brasiliense era produzido naInglaterra e teve como fundador José Hipólito daCosta, exilado em Londres, que possuía grandeprestígio junto à sociedade do Rio de Janeiro. Já oGazeta do Rio de Janeiro foi o primeiro jornalimpresso no Brasil e era o jornal oficial da cortebrasileira.

Porém, naquela época, o país possuía umapopulação analfabeta em sua maioria e os jornaistinham tiragens limitadas de 200 a 500 exemplares.Não era a população excluída que os jornalistas viamenvolvidas na luta pelos interesses do Brasil. Com apartida de D. João VI para Lisboa, em abril de 1821, aimprensa teve papel fundamental na convocação deuma nova constituinte. Os jornais Correio do Rio deJaneiro, O Tamoio e o Sentinela da Praia Grandefizeram violenta campanha contra os portugueses e oimperador D. Pedro I, pela proclamação daindependência.

Surgem os jornaisA imprensa brasileira viveu grandes turbulências

após a proclamação da independência. O ministro doReino, José Bonifácio, perseguiu violentamente seusopositores, principalmente jornalistas. O jornalMalagueta Extraordinária criticou duramente a faltade liberdade de imprensa e o abuso de poder dogoverno. Augusto May, dono do jornal, foi espancadoem sua própria casa em retaliação às publicações. Asituação tornou-se mais grave com o espancamentodo jornalista David Pamplona, obrigando D. Pedro adissolver a assembléia constituinte dando força àimprensa. O jornalista Cipriano Barata foi quem maisse destacou nessa época de conflitos, que teve aparticipação de grandes escritores da literaturabrasileira.

A partir da independência, os jornais começam aaparecer. Em 1823, surge o Diário de Pernambuco, ojornal mais antigo em circulação até hoje no Brasil.Quatro anos mais tarde, o Jornal do Comércio, do Riode Janeiro, surge para disputar com o pernambucanoa hegemonia da publicação impressa.

Em 1855 começaram a surgir grandes jornais erevistas no Brasil: Brasil Ilustrado (1855), O Diário

do Rio de Janeiro (1857), A República (1870),Correio Paulistano (1870), Revista Ilustrada (1876).Nessa época, o país já estava repleto de jornais emtodo seu território. Em 16 de novembro de 1889, umdia após a proclamação da república, o jornalrepublicano, “A Província de São Paulo”, publicouem sua capa: “Viva a República”. Desde então passoua se chamar “O Estado de São Paulo”. O primeirojornal a ser editado em cores foi o “Gazeta deNotícias”, no Rio de Janeiro, em 1907. A partir desseperíodo, a imprensa brasileira assumiu um papel degrande influência na sociedade brasileira e foramsurgindo os grandes jornais: O Globo, Jornal doBrasil e Correio da Manhã.

A ABI e a censuraEm 7 de abril de 1908, Gustavo de Lacerda

inaugurou a ABI (Associação Brasileira deImprensa), com o objetivo de assegurar à classejornalística os direitos assistenciais e tornar-se umpoderoso centro de ação. Lacerda afirmava que aAssociação deveria ser um abrigo neutro para osprofissionais da imprensa.

No Estado Novo, de Getúlio Vargas (1937 a 1945),a imprensa foi censurada. Mas a investida mais fortecontra a imprensa veio após o Golpe Militar, em 1964.Durante os anos de ditadura, foram sancionadas

duas leis que impediam a expressão verbal e oratória:Lei de Imprensa (09/02/1967) e Lei de SegurançaNacional (13/03/1967). Anos duros e difíceis para aclasse jornalística. No entanto, surgiram nessa épocaos “Tablóides” contra todas as formas de censura: PatoMacho (1971), de Fato, Versus, Movimento e Coojornal(1975), Revista Realidade (1965 a 1968), Politika, Griloe Jornalivro (1975). Dentre os tablóides, o de maiorrepercussão foi o Pasquim (1969), fundado por MillôrFernandes, Paulo Francis, Jaguar e Tarso de Castro,no Rio de Janeiro.

Perseguição a jornalistasDurante a ditadura militar vários jornalistas foram

exilados, assassinados, torturados e seqüestrados. Aparticipação da ABI foi fundamental para a libertação,defesa e anistia de jornalistas acusados de subversão.Em 1976, o 7° andar do edifício-sede da instituição foicompletamente destruído por atentado terrorista,quando a entidade era uma das mais importantes nadefesa das liberdades democráticas da sociedade civil.As autoridades nunca conseguiram identificar osautores.

Na noite de 24 de setembro de 1975, o JornalistaVladimir Herzog, diretor de jornalismo da Tv Cultura,é convocado ao DOI (Departamento de OperaçõesInternas) para prestar depoimento sobre sua ligaçãocom o PCB (Partido Comunista Brasileiro). No diaseguinte, Herzog compareceu à sede do DOI e nuncamais voltou. Jorge Benigno Duque Estrada e LeandroKonder, jornalistas que estavam presos no mesmo local,disseram que Herzog foi torturado e assassinado. Aversão oficial é de que Herzog, após confessar e entregarintegrantes do PCB, cometeu suicídio. Uma fotodivulgada na época mostrava o jornalista penduradopelo pescoço numa grade mais baixa que sua estatura.

Tempos depois, José Alves Firmino, cabo do exércitona época, entregou à Comissão dos Direitos Humanos

Jornais se tornaram espaços imprescindíveis para a construção da cidadania

O jornalista e diplomata Hipólito José da Costa éconsiderado o precursor da imprensa brasileira ao fundaro jornal “Correio Braziliense” em 1808.

Jornalista Vladimir Herzog foi torturado e assassinadonos porões da ditadura em 1975

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da Câmara dos Deputados três fotos que mostram osofrimento a que Herzog foi submetido. Em 1978, ajustiça responsabilizou a União pela prisão ilegal,tortura e morte do jornalista. A família de Herzog foiindenizada em 1996, após a Comissão Especial dosDesaparecidos Políticos reconher seu assassinato noDOI-CODI de São Paulo. O historiador Mário Sérgiode Moraes lançou o livro “O Ocaso da ditadura – CasoHezog” (2006), que aborda a reação da sociedade civilao assassinato do jornalista.

Diretas JáNos anos 80, a nação brasileira, cansada do regime

militar e suas façanhas na economia, iniciou omovimento das “Diretas Já”, sob aliderança de Ulisses Guimarães. Oúnico jornal a se posicionarativamente no movimento foi a“Folha de S. Paulo”. A Folhapublicou reportagens e editoriaisincisivos contra o regime:“Presidente quem escolhe é agente”. A matéria de maior impactofoi publicada em 11 de abril de 1984, “Rio faz maiorcomício da história do Brasil”, na qual publicaramvárias frases de Tancredo Neves: “O que penso estarreunido nesta praça pública não são apenas um milhãode pessoas, mas 130 milhões de brasileiros que secomprimem nas praças de todo o País para que nãocontinuem lhes usurpando o direito de escolher opresidente da República”.

“O povo não é bobo, fora Rede Globo” foi o que opovo gritou no comício em 17 de abril no Rio deJaneiro. A Globo se manteve neutra o tempo todo atéperceber que estava perdendo audiência. Começouentão a transmitir todos os comícios. A revista Vejafocalizou o povo para evitar confrontos políticos.Porém, em 1° de fevereiro de 1984, deixou suaneutralidade com a publicação: “Quero votar praPresidente”.

O movimento das “Diretas já” não foi em vão. Foimuito importante para o processo democráticobrasileiro. E a imprensa brasileira ficou com umainterrogação: “Como seria dali em diante?”.

A corrida pelo poderNos anos 90, começaram as volumosas

privatizações do setor de telecomunicações econcessões de novas freqüências de rádio e TV,principalmente no governo de Fernando HenriqueCardoso. Grandes grupos de comunicação comoGrupo Silvio Santos, RBS, Folha de S. Paulo, O Estadode São Paulo, Grupo Editora Abril e Grupo RobertoMarinho apoiaram sistematicamente as privatizações.

O Impeachment de CollorA imprensa brasileira teve papel fundamental no

Impeachment do presidente Fernando Collor de Mello(O caçador de Marajás). A primeira denúncia foi sobreo tráfico de influência pelo tesoureiro de campanhade Collor, Paulo César Cavalcante Farias (PC Farias).Em maio de 1992, Pedro Collor, irmão do presidente,deu entrevista à Veja contando o esquema decorrupção de PC Farias com a conivência do irmão. OCongresso e a mídia mobilizaram a opinião públicapara a apuração dos fatos. Constatado o envolvimentodo presidente na corrupção, a OAB (Ordem dos

Advogados do Brasil) e a ABI (Associação Brasileirade Imprensa) lideraram as entidades civis para opedido de cassação do mandato de Collor. Em 29 desetembro de 1992, a Câmara dos Deputados afastouCollor do poder. Três meses depois, ele renunciou. Emjunho de 1996, PC Farias foi encontrado morto ao ladoda namorada, Suzana Marcolino da Silva, emGuaxuma, Maceió. A polícia concluiu o caso comocrime passional. Suzana matou PC Farias e cometeusuicídio.

O caso da Escola BaseEm Março de 1994, foi noticiado na mídia um

suposto escândalo sexual envolvendo professores ealunos da Escola Base, no bairroAclimação, em São Paulo. Aacusação foi feita por duas mães.Programas sensacionalistascomo o Aqui Agora (SBT) e osjornais Folha da Tarde eNotícias Populares colaborarampara o agravamento dadenúncia. Posteriormente, após

a substituição do delegado e nova apuração policial,constatou-se a inocência dos proprietários da EscolaBase. Porém, já era tarde. Tiveram suas vidasarruinadas. Esse fato marcou a história da imprensabrasileira e é objeto de estudo em todas as faculdadesde comunicação do país. A história está registrada nolivro “ Caso Escola Base – os abusos da imprensabrasileira” (Editora Ática), de Alex Ribeiro.

A imprensa do século 21Em 2000, a globalização e o avanço das

tecnologias, principalmente da internet, fizeram comque a imprensa reformulasse suas técnicas deprodução. Segundo o IBOPE (Instituto Brasileiro deOpinião Pública e Estatística) havia 9,8 milhões de

internautas em dezembro de 2000. Alguns chegaram a acreditar que o jornal impresso

estava condenado pela popularização da internet.Surgiram os blogs, fotoblogs, videoblogs e sites.Grupos de comunicação fundiram-se para ampliar suaparticipação no mercado globalizado. Especialistastemem que o jornalismo fique superficial devido àvelocidade com que as informações são transmitidas.A imprensa agora é multimídia.

Tim LopesArcanjo Antonino Lopes do Nascimento, o Tim

Lopes, como era conhecido, trabalhava na Rede Globoe desapareceu no dia 2 de junho de 2002 na favelaCruzeiro, no bairro Penha, subúrbio do Rio de Janeiro.Ele ia investigar a exploração sexual de adolescentese o tráfico de drogas nos bailes funks. Tim Lopes foidescoberto por traficantes transportando umamicrocâmera para filmar os bailes. Capturado, foiespancado e torturado na favela da Grota, por EliasMaluco e seu bando. Tim Lopes teve seu corpoesquartejado e incinerado num local conhecido comomicroondas.

Houve grande mobilização da imprensa e da políciapara a prisão dos culpados. Foram identificados noveintegrantes da quadrilha. A polícia promoveu umaverdadeira “caçada” a Elias Maluco, que acabou sendopreso e condenado pelo assassinato.

A ABI (Associação Brasileira de Imprensa)promoveu seminários sobre as condições de segurançapara os jornalistas. A partir do assassinato de Lopes,os repórteres passaram a usar coletes à prova de balasao subir os morros do Rio de Janeiro. A TV Globoreavaliou suas medidas de segurança para a coberturada violência no Rio de Janeiro.

Tim Lopes era um dos jornalistas mais brilhantesda sua época. Trabalhou nos jornais “O Globo”, “O dia”e “Jornal do Brasil”. Entrou na TV Globo em marçode 1996. Recebeu, juntamente com sua equipe, oPrêmio Esso de telejornalismo (2001) pelareportagem “Feira de drogas”, exibida no JornalNacional. A polícia acredita que Tim Lopes foiexecutado pela reportagem que foi ao ar e contribuiupara a prisão de vários traficantes.

A falta de pudorEm 2004, o professor da UNB (Universidade de

Brasília), Venício Lima, desenvolveu uma pesquisasobre a concessão e renovação de emissoras. Noestudo, ele constatou que 16 dos integrantes dasubcomissão da Câmara dos Deputados de

“O povo não é bobo,fora Rede Globo” foi o queo povo gritou no comíciodas Diretas Já, em 1984.

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Imprensa atuou de forma determinante noimpeachment do presidente Fernando Collor

O assassinato de Tim Lopes foi um atentadocontra toda a imprensa democrática

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concessão e renovação eram sócios ou diretores de37 emissoras. A falta de critérios transparentespermitia que os princípios constitucionais deprodução e programação de rádios e televisões nãofossem cumpridos, afetando o objetivo legal daconcessão: atender ao interessepúblico. “As concessões deradiodifusão, a partir da primeiraconcessão, são quase todasautomaticamente transformadasem propriedade”, afirma Lima. Ocongresso não tem interesse emrevisar os critérios de concessão erenovação de emissoras devido ao fato de osDeputados serem donos ou sócios de emissoras derádio e TV. Em 2007, várias emissoras não

conseguiram a renovação, mas recorreram eaguardam decisão.

Folha de S. Paulo x Igreja UniversalEm dezembro de 2007, a Folha de S. Paulo

publicou matéria da jornalistaElvira Lobato sobre asmilionárias atividades do bispoEdir Macedo, da IgrejaUniversal do Reino de Deus.Fiéis da igreja moveram váriasações em diversas partes do paíscontra a jornalista e a Folha.

Começou então uma guerra entre os dois veículos.Entidades como a Abraji (Associação Brasileira deJornalismo Investigativo), ABI (Associação Brasileira

Sensacionalismo virtualMarília Cândido Lopes 3º Período de Jornalismo

A mídia fez um papel vergonhoso na coberturado caso Isabella Nardoni, freqüentementecomparado ao caso Escola Base, ocorrido em 1994em São Paulo, no qual donos e colaboradores de umaescola foram acusados injustamente pela imprensa,de pedofilia. Em ambos os casos, durante o processoinvestigativo, jornalistas se precipitaram enomearam culpados. A partir disso, é notável o efeitoda teoria do agendamento: a mídia noticia um fatoque encontra repercussão, este entra na agenda dediscussão do público e continua a ser noticiado àexaustão.

Até aí, não há nada de novo. O que é realmentebizarro neste caso é que este efeito se transportou paraa Internet – não que seja novidade a transmissão erepercussão de notícias pela rede mundial decomputadores; mas, desta vez, o próprio públicopassou a produzir conteúdos sensacionalistas.

No Youtube, quando se busca pelo nome dagarota, uma lista de 364 vídeos aparece. Passandopágina por página, pode-se ver desde os vídeos dosupermercado, no qual a família fez compras antesdo assassinato; as idas e vindas do pai e da madrastaa delegacia e outros. Mas a grande maioria sãohomenagens feitas com fotos da menina e de suamãe. As mais acessadas contam com mais de 95 milexibições e 600 comentários.

No Orkut, 419 comunidades foram criadas como nome de Isabella. E também existem as listas dediscussão, como no Yahoo, em que há vários fórunsde pessoas debatendo sobre quem matou a menina.E o mais surpreendente de todos: uma página doWikipédia dedicada ao caso. Nela há informaçõescuriosas e suspeitas, como, por exemplo: “AnaCarolina ficou grávida de Alexandre aos 17 anos. Anotícia da gravidez não foi bem recebida porAlexandre , pois na época ele tentava passar noexame da Ordem dos Advogados do Brasil”. Ouentão: “O pai, a madrasta e os parentes da meninaforam questionados pela imprensa e a opinião

popular, devido à rápida contratação dos advogados,dois dias depois da morte de Isabella, o que gerou asuspeita que os dois seriam culpados, pois estes játeriam previsto uma ordem de prisão”. A página estápassando por uma votação aberta entre todos osvisitantes, para decidir se continua no ar ou não.

Os usuários destes sites decidiram quem matouIsabella bem antes do término das investigações. Oscomentários nos fóruns variam entre os quesimplesmente acusam, os que pedem que sejaaplicada a pena capital aos culpados, os que pedemum pouco de calma até que tudo se esclareça – e há,é claro, aqueles que trocam informações sobre a vida

pessoal dos parentes e “boletins”informais contendoas últimas novidades. Assim, a população justiceiraadotou a garota e acompanha a novela especulandosobre o último capítulo.

A imprensa tem o dever de informar e apopulação o direito de ser informada e expressarsua opinião. Mas se a mídia age de formairresponsável nesse processo, só para satisfazer asnecessidades sadistas das pessoas, este dominópode desembocar em um sensacionalismo virtual.O público gosta da emoção do sensacionalismo,entretanto, alimentar este tipo de sentimento vaicontra a ética jornalística.

de Imprensa), Fenaj (Federação Nacional dosJornalistas) saíram em defesa da Folha, denunciandoo caso a entidades internacionais. A ABI considerouas ações como “grave ameaça à liberdade deinformação e de expressão”.

O Ministro Carlos Aires, do Supremo TribunalFederal (STF), concedeu liminar que suspendeugrande parte da Lei de Imprensa. A decisão paralisouprocessos que tramitavam na justiça e possíveiscondenações com base na lei. De 1967, quando o Brasilvivia sob o regime militar, a lei contém dispositivosinibidores da liberdade de expressão, como pena deprisão a jornalistas condenados por calúnia, injúria edifamação. “Imprensa e a democracia, na vigenteordem constitucional, são irmãs siamesas”, concluiuo ministro.

“Imprensa e democracia,na vigente ordemconstitucional,são irmãs siamesas”

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ARQUIVADO

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Acervo do Lavouradeve ser tombado

Roseli Lara4º período de jornalismo

Em meio à controvertida venda do Jornal Lavourae Comércio, o Conselho do Patrimônio Histórico eArtístico de Uberaba (Conphau) dá sinais de reação equer tombar o acervo como patrimônio do município.

Embora, na época da vendado Lavoura, a prefeitura deUberaba não tenha manifestadointeresse em reverter o acervopara o arquivo municipal, oConphau acaba de concluir oInventário de Proteção aoAcervo Cultural (IPAC), peçafundamental para propor otombamento.

O inventário, cuja ficha técnica foi remetidaoficialmente neste dia 15 de abril para o InstitutoEstadual do Patrimônio Histórico e Artístico de MinasGerais – (Iepha), é, no momento, a única proteção doacervo. A equipe técnica do Conphau informa, norelatório, que além do acervo estar inacessível àpopulação, está à mercê da deterioração pela falta delimpeza e corre risco de incêndio e do ataque devândalos, como já ocorreu em 2007.

No prédio da rua Vigário Silva, onde o acesso érestrito e está guardada a massa falida, estãoregistrados 104 anos da história do Brasil Central, comrisco de se perder. O prédio, onde o jornal funcionouaté 10 de outubro 2003, e já inventariado peloConphau, guarda uma coleção de 27 mil e 500 ediçõesdo Lavoura, encadernadas em 227 volumes.Tambémforam inventariadas 900 mil fotografias, um dos maisimportantes acervos fotográficos de Uberaba.

A coleção de 104 anos, a marca, móveis,maquinário e o arquivo de fotos foram vendidos emleilão de bens, no dia 14 de dezembro de 2007, pelovalor de R$ 270 mil, para ser rateado entre os credoresda massa falida. A compra foi feita pela empresa RedeVitoriosa de Comunicação Ltda. ,do senadorWellington Salgado (PMDB), mas está sendocontestada na justiça pelos credores, ex-funcionáriosdo jornal.

A historiadora do Conphau, Maria AparecidaManzan, afirma que houve várias tentativas doconselho, buscando que a prefeitura adquirisse oacervo e garantisse sua permanência em Uberaba,mas lamenta: “Não houve interesse da prefeitura”.Ela acredita que mesmo ocorrida a venda e havendoo risco de transferência para Uberlândia, o municípioainda pode recorrer à Constituição e à Lei Federal8.159, que protege os arquivos públicos, dando àUberaba o direito de manter e preservar o acervo .

Maria Aparecida diz que: “Como patrimônio

Medida pode contribuir para que a coleção permaneça em Uberaba

Patrimônio histórico

inventariado, o acervo não pode sair de Uberaba, masse isso ocorrer o Conphau pode recorrer à justiça” .Observa que o conselho também já tentou transferiro acervo para a salva-guarda do arquivo públicomunicipal, mas diz que a justiça não concordou .

O historiador Pedro dos Reis Coutinho dedica-sedesde 1986 ao estudo da história de Uberaba e garante

que: “O Conphau irá determinaro tombamento do Lavoura”.Explica que há dois caminhos: otombamento consensual com onovo dono ou o tombamentocompulsório. Nos dois casos,porém, segundo o historiador, otombamento não dá plenagarantia que o acervo permaneçaem Uberaba, pois é de

propriedade privada. Pedro diz que uma das estratégias encontradas

pela equipe técnica do Conphau já foi adotada:“Estamos repassando o inventário do Lavoura aoIepha, que pode intervir diretamente no tombamento,pois está sendo informado oficialmente da existênciae importância do acervo”, observa.

Fotografias do acervo: Cristiane Ferreira de Moura

O Jornal Lavoura e Comércio marcou ainauguração da imprensa no Triângulo Mineiro.Durante mais de um século narrou a tradição e oscostumes de um povo. O jornal não registrou somentea história do Triângulo, mas foi um dos maisimportantes do Estado e registrou fatos significativosda história nacional, razão pela qual seu acervo e suamarca são tão cobiçados.

Mesmo em sua agonia e fechamento em 2003, oLavoura e Comércio continua vivo em diversas tesesde pesquisa e publicação de livros. É o caso do escritorGuido Bilharinho que buscou no acervo dadosimportantes sobre a história de Uberaba parapublicação do livro “Uberaba: Dois Séculos deHistória”. O escritor é enfático ao confirmar que:”Não há nenhum patrimônio da memória maior emais completo e autêntico que o acervo do Lavoura,um patrimônio inestimável, um patrimônio daimprensa no mundo ocidental”, destacou.

O escritor lembra que o jornal circulou diariamente,atravessando o século XX e manteve, em Uberaba, umjornalismo de referência com atuação de nomes comoQuintiliano Jardim, Ataliba Guaritá Neto, Hildebrando

Preço vil marca negociaçãodo acervo em leilão

Pontes, João de Minas e Moisés Santana.Guido Bilharinho não vê outro desfecho senão a

anulação do leilão e o tombamento da coleção.“Quem deveria adquirir toda a coleção, mantê-la emlocal adequado, à disposição dos pesquisadores doBrasil, é a prefeitura”- disse, acrescentando que hámuitos precedentes jurídicos para anulação; umdeles é o preço vil do leilão, bem abaixo de 50 porcento do valor real. Para o escritor, houve “omissãoe falta de consciência da prefeitura e da Câmara deVereadores”.

O promotor de Defesa do Patrimônio Público,Emmanuel Carapunarla, argumentou que não temelementos suficientes para propor ação que garantaa permanência do acervo no município de origem.Declarou que não acompanha o caso, tendo apenasconhecimento informal sobre a venda do Lavoura eComércio. Disse que a promotoria pode até moveralgum tipo de ação, desde que provocada peloscidadãos Uberabenses

Já a prefeitura, através do prefeito AndersonAdauto, não se manifestou, embora a administraçãopública tenha sido procurado.

O jornal Lavoura e Comércio registrou 104 anos da históriado Brasil central. A expansão da agricultura e pecuáriade Uberaba ficou eternizada em suas páginas.

No prédio da rua Vigário Silva,onde o acesso é restrito e estáguardada a massa falida,estão registrados 104 anosda história do Brasil Central,com risco de se perder.

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Terra Madrasta

Jornalista denunciou“estupidez apavorante”das elites uberabensesAtravés de livros extremamente provocativos,Orlando Ferreira atacou a Igreja, os governantese as famílias que comandavam a cidade à bala

Marília Cândido lopes3º período de Jornalismo

Orlando Ferreira (1886-1957), o Doca, foi um livre-pensador que conquistou o ódio das elites de Uberabadevido ao seus violentos protestos contra a decadênciada cidade no início do século XX. Nascido em 26 de julhode 1886, Doca foi negociante de gado Zebu, funcionáriodos correios e inspetor da 23ª circunscrição literária –composta na época por Araguari, Estrela do Sul, MonteCarmelo, Patrocínio e Uberabinha (atual Uberlândia). Maseste uberabense foi amaldiçoado pela cidade devido asua atuação como jornalista e escritor.

Doca era uma pessoa discreta, quase não falava desua vida pessoal, não foi casado e não se tem notícia deseu envolvimento em relacionamentos amorosos.Gostava de freqüentar a casa de amigos, como a domédico espírita, doutor Inácio Ferreira, para discutirliteratura e trocar livros raros que encontrava nos sebosde São Paulo, Rio de Janeiro ou mandava buscar dePortugal. Ele também gostava muito de conversar sobrecomunismo na casa do alfaiate Calixto Rosa, nacompanhia do professor Alexandre Barbosa. Certa vez,Barbosa recebeu, de um amigo na França, exemplaresdo jornal do Partido Comunista Francês, “L’Humanité”,com textos que influenciaram decisivamente omovimento comunista em Uberaba, com o qual oOrlando Ferreira mantinha íntima relação.

Lucília Rosa, 95 anos, filha de Calixto, se lembra queFerreira ia à sua casa todos os dias, por volta das 19 horas,para tomar chá e conversar sobre a política e a situação deabandono de Uberaba. Naquela época, faltavam calçadase as ruas eram sujas, cheias de mato e de animais mortos.Além disso, os amigos comunistas lamentavamprofundamente o fato de que a cidade vivia sob a influênciapolítica da Igreja e de famílias retrógradas. O espíritoinquieto do jornalista não seacomodou e, para expressar suasfortes opiniões políticas, escreveudiversos livros – entre eles, “TerraMadrasta”, lançado em 1928.

O jornalista começa a obradedicando-a à terra natal: “A ti,Uberaba, terra infeliz, desgraçada, prostituída, ofereço estemeu modesto trabalho”, e não deixa de declarar seu amorà cidade, que para ele se encontrava naquela situação porculpa de “hediondos carrascos”. Em seguida, expõe todasas mazelas da cidade, como as que foram descritas por

Dona Lucília. Ela recorda que na porta de sua casa haviacachorros e galinhas mortas, e que para andar na calçadaela e as irmãs tinham que segurar a barra dos vestidos paranão sujá-la. “Eu vivi a Terra Madrasta. Ninguém passava

para o passeio de lá, era só barro esujeira”, afirma.

Mas as críticas de Doca não seresumem a isso. Suas palavras setornavam extremamente agres-sivas quando partiam para ocampo político. “Agora, leitor,

tenha paciência: muna-se de uma quantidade boa de ácidofênico ou, na falta desse poderoso desinfetante, leve o lençoao nariz porque, com perdão da palavra, vou tratar dacelebérrima política de Uberaba.” A advertência, já no iníciodo capítulo, dá uma idéia do teor das críticas do jornalista,

“A ti, Uberaba, terra infeliz,desgraçada, prostituída, ofereçoeste meu modesto trabalho”

No livro de Doca, a caricatura acima foi acompanha da seguintcarregando a sua pesada cruz e seus maiores algozes: Aadmin

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que não poupa nenhum detalhe do cenário político dacidade. Ele até mostra uma relação de 11 provas dasmaiores irregularidades administrativas de 1915 a 1925.Tudo baseado em planilhas, testemunhos e jornais queatestam escândalos, roubos, abusos de poder, acordosilícitos de funcionários executivos que continuavam emcargos públicos, mesmo depois de serem processados epresos por desfalques.

Doca também faz uma lista do que ele consideracomo “forças oponentes ao progresso do município”,seriam elas: A administração; a política; o clero; aempresa Força e Luz; a família Borges; a família Prata;a família Rodrigues da Cunha. Ao mencionarexpressamente a Igreja e as famílias mais poderosas dacidade na época, Doca comprou uma briga tremenda.

Para embasar as críticas à empresa “Força e Luz”,

Os partidos “políticos” de Uberabaforam sempre compostos, quase queinteiramente, de indivíduos sem honra,sem patriotismo, sem instrução, de umaignorância apavorante, quase boçais, etipos quase sempre criminosos, incursosem vários artigos do Código Penal e que,por isso mesmo, em vez de dirigirem opovo, deviam estar na cadeia; se háexceções, e de fato sempre houve, é quandose trata porém de pessoas tímidas,acomodatícias, sem fé, sem coragem,incapazes de uma reação, vítimas do meio,com alguma inteligência, mas sem aprática e habilidade que não se dispensamem homens que tomam sobre si a tarefa dedirigir povos, sem esse exercícioprogressivo e contínuo, esse preparo a queos franceses dão o nome de entraînement.É tão desprezível e imoral o “político”uberabense que, além dos gravíssimosdefeitos que possui, não se envergonha deandar junto e homenagear publicamenteo gatuno e cáften – fato horroroso que apopulação inteira tem presenciado cheiode nojo... – e que redunda em prejuízo paraele próprio “político”, que nunca maispoderá ser tomado à sério pela gentes e n s a t a . . .

Uberaba precisa livrar-se do infamantejugo clerical, se quiser evoluir-se. O clerotem sido uma das suas maiores desgraças.E continuará a sê-lo, enquanto osuberabenses não se revoltarem econquistarem a sua emancipação.

Porque não é nada recomendável viver-se como o mineiro vive, triste, recluso,isolado, numa vida de quietude e“simplicidade”; e se isto é uma das feiçõesda alma mineira, deve-se-o ao atrasomaterial, moral e intelectual a que o povoesta entregue há muitos anos...

(...) Ora, o mineiro não conquistounada, vive muito mal, não é homem enfim;logo, não é simples; a sua “simplicidade”deve ser batizada com outros nomes:covardia, acanhamento, pessimismo,analfabetismo, atraso, miséria, tristeza,doença no corpo e na alma... Em outraspalavras: população de jeca-tatus!...

TRECHOS DE“TERRA MADRASTA”

te legenda: “A desgraçada Uberaba caminha para o calvário,nistração, a política , o clero e a empresa Força e Luz”

Lucília Rosa, filha de Calixto Rosa, conviveu comOrlando Ferreira e participou de diversas reuniõesnas quais os comunistas da cidade debatiam a política local

inaugurada em 1906 e de propriedade privada, ojornalista chega ao extremo de fazer um recenseamentopela cidade. Ele anotou nome e endereço dos residentes,e perguntou a cada um o quanto havia gasto no mês, jáque a companhia havia lhe recusado estes dados. Depoisde percorrer casas, centros comerciais e indústrias,somou aos dados obtidos os gastos da iluminaçãopública. Tudo isso para divulgar os lucros da empresa,que ele julga que deveriam ser investidos em melhoriaspúblicas no setor elétrico da própria cidade, e não ir parao bolso dos acionistas. Um deles, inclusive, era o prefeitoGeraldino Rodrigues da Cunha.

Em “Terra Madrasta”, também há desenhos efotografias da cidade tiradas pelo próprio autor. JoãoBento Ferreira, primo de Doca, em entrevista concedidaa historiadora Maria Aparecida Manzan no ano de 1986,revelou que o primo chegou a montar o cenário de umade suas fotografias. Na casa do açougueiro Bruno da Silva,cunhado de Bento, conseguiu pedaços de carne podre elevou para o pasto que havia em frente à casa do coronelManoel Borges, pertencente a uma das famílias criticadasno livro. E quando os urubus começaram a sobrevoar opasto ele tirou as fotografias. Segundo João Bento, Docaapontava para a casa do coronel e dizia: ”Aqui está a casado coronel Manoel Borges, o mandão de Uberaba.”

Outra gravura do livro mostra um mapa do Triângulomineiro anexado ao estado de São Paulo. Um dosressentimentos de Doca era ver as cidades localizadas noestado vizinho progredindo velozmente, enquantoUberaba ficava cada vez pior. Ele pensava que a culpa erada resignação e ignorância do povo mineiro, o que seriaconseqüência da péssima direção de vários e sucessivosgovernos de Minas Gerais. Era de se prever que Doca iriaarrumar muitos problemas com este livro, tanto que, apóso lançamento, ele desapareceu por alguns anos.

Doca sonhava com a anexação do Triângulo ao Estado de São Paulo

Mar

ília

Cân

dido

Imagens: reprodução

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Revelação - Abril de 2008

Forja de AnõesApós o “sucesso” do segundo livro, o jornalista

lança alguns outros: Capitalismo e comunismo (1932);Ilusões capitalistas (1932) e Forja de Anões (1940).Neste último ele faz o que chama de “protesto contraa decadência física da mocidade”, causada pela práticade esportes. A principal crítica do autor se dirige aofutebol, pois este seria responsável por produzirsujeitos incapazes de pensar, portanto, inúteis àsociedade. Na concepção de Doca, a fadiga causadapelo excesso de movimento prejudica a atividadeintelectual, sendo necessário que as pessoas evitem odesgaste físico. A principal culpada por essa situaçãoseria a classe médica que defende a prática de esportes,assim como a imprensa, que a divulga. O que, segundoele é tão nocivo quanto a divulgação de suicídios ecrimes, pois pode influenciar as pessoas.

Depois de citar inúmeras experiências de cientistasrenomados para respaldar essa teoria, ele ainda dáuma receita: “O homem precisa andar, gesticular,falar, cantar e praticar esportes; o esporte, sim. Masdeve fazê-lo em prazo curto, pela manhã, durante 30minutos no máximo, com arte e serenidade, comelegância e beleza”. Mas antes mesmo de expor suas

idéias, no preâmbulo da obra, o autor prevê o descasodas pessoas em relação aos seus pensamentos:“Escrevo, porém, sob a mais dolorosa das impressões:a do desânimo. Ninguém, tenho certeza absoluta, seimportará com as minhas palavras, que talvez poderãoter um mérito apenas: o de aumentar o número demeus rancorosos inimigos”.

O mau pressentimento se confirmou. O próximolivro, Pântano Sagrado (1940), faria com que OrlandoFerreira fosse perseguido porum dos homens mais po-derosos e influentes da cidade:Dom Alexandre.

Contexto ReligiosoNo início do século 20, a

cidade era palco de um estri-dente conflito entre espíritas ecatólicos. João Teixeira Álva-res, presidente do “Circulo Católico”, publicou umlivro chamado Seita Maldita – uma coletânea deartigos publicados no jornal Lavoura e Comércio queatacavam espíritas, considerados por ele como umbando de sectários, inimigos da religião e da moral,que deveriam ser dissuadidos pela polícia.

Imerso neste clima de intolerância religiosa,Orlando Ferreira escreveu o seu primeiro livro, PelaVerdade: Catolicismo x espiritismo (1919). Nestaobra, ele argumenta que o catolicismo anda na

contramão do cristianismo, baseado em atitudes comoa dos padres da época que, com a alta taxa demortalidade infantil causada pela falta de esgoto ehigienização da água, defendiam que não eranecessário construir uma rede de esgoto ou tratar aágua, mas rezar e fazer procissões.

O historiador Thiago Ricciopo, em sua monografia,Caminhando pelo Pântano Sagrado, deduz: “O quetransparece claro na obra é sua preocupação em

mostrar que existe uma dife-rença antagônica entre ocatolicismo e o cristianismo.Em certa altura desta obra, eletambém abre uma crítica àhipocrisia que é a política etambém à sociedade ubera-bense, e que todos essessegmentos pertencem ao clã docatolicismo”.

Pântano SagradoO momento mais extremado da crítica de Doca

contra a igreja foi realizado quando ele publicou o livroPântano Sagrado (1948), uma obra especialmentededicada a esmiuçar a vida “imoral” – segundo ele –do clero da cidade. Mesmo já tendo feito alguma coisanesse sentido em suas obras anteriores, o jornalistadecidiu dedicar todo um livro para atacar o catolicismolocal. O principal alvo foi, é claro, o bispo Dom

Orlando Ferreira (à direita), em uma rara fotografia publicada em 1940, no Lavoura e Comércio. Nessa ocasião eletrabalhava com recenseador do Município. Na foto, o prefeito Whady Nassif assina a primeira ficha censitária, napresença do delegado seccional Odorico Costa e do secretário Brasilino Sivieri.

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“Escrevo, porém, sob a mais dolorosadas impressões: a do desânimo.Ninguém, tenho certeza absoluta,se importará com as minhas palavras,que talvez poderão ter um méritoapenas: o de aumentar o númerode meus rancorosos inimigos”.

Doca se referia a D. Alexandreatravés de uma série de apelidosindecorosos: Hiena de Batina,Vaca Brava, Besta Eclesiástica,santarrão e abutre clerical.

O Catolicismo quando não fanatiza, conduz aomaterialismo e o indiferentismo. (...) todos os anosos colégios atiram à sociedade milhares de jovens,muitos dos quais com cérebro cheio de falsosensinamentos e doutrinas vacilantes, que nãoresistem a menor análise, marcham para aqueleperigoso caminho por culpa quase queexclusivamente da Igreja Romana.

Trecho de Pântano Sagrado

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Alexandre Gonçalves do Amaral, tido por Doca como areencarnação de Torquemada, inquisidor espanhol. Ojornalista se referia ao bispo através de uma série deapelidos indecorosos: Hiena deBatina, Vaca Brava, BestaEclesiástica, santarrão e abutreclerical. Doca chegou a fotografaro Bispo e o cônego Isaías, bêbadose com a batina suspensa durantea festa de Nossa Senhora daAbadia. O que para ele era umaprova da degradação moral daIgreja, ou Gestapo Romana, como gostava de dizer.

Pântano Sagrado foi dedicado ao amigo InácioFerreira, que também tinha divergências religiosas comDom Alexandre. O amigo, responsável por revisar o livro,

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Charges publicadas nos livros de Orlando Ferreira procuravam denunciar aquiloque o autor considerava imoralidades do clero, tal como o incentivo à jogatina e à bebida

aconselhou que ele retirasse uma parte que falava sobrecomunismo, pois, na época, havia uma perseguiçãoferrenha a comunistas. Mas Doca não deu ouvidos.

Uma passagem interessante descrita no livro foiquando o Correio Católico divulgou uma notaproibindo os fiéis de ler o jornal Lavoura e Comércio,porque este havia feito uma crítica ao padre alemãoCarlo Bitner, recém-chegado à cidade. QuintilianoJardim, dono do jornal, com medo de perder leitores,procurou Dom Alexandre para pedir-lhe perdão eexplicar que o autor da nota era seu filho Georges.

Indignado com o episódio, Doca descreve como teriasido o encontro do Bispo com Quintiliano. Este,acompanhado pelo amigo Antônio Zeferino dos Santos,o mediador da situação, foi até a casa de Dom Alexandree chegando lá: “A fera, ao defrontar-se com Quintiliano,esbravejou, urrou, berrou, arrotou, soltava guinchosterríveis, espalhava perdigotos a granel, agitavanervosamente a cauda, estalava as compridas orelhas,peidava constantemente, dava coices no chão, levantava

a poeira, e os assistentes ficaramboquiabertos, estarrecidos”.Enquanto isso, o proprietário dojornal, estava “calado, cabisbaixo,humilhado, trêmulo.” E “aexemplo de Raimundo VI e JoãoSem Terra, ajoelhou-se aos pés deDom Alexandre, beijou o seuanel, penitenciou-se, pediu-lhe

perdão, prometeu nunca mais escrever contra padres,pediu a bênção episcopal, e, ainda de joelhos, dirige-seao padre nazista e pede-lhe perdão também.” Concedidoo perdão, saiu uma nota de retratação no Lavoura e

Comércio, que não perdeu nenhum leitor. Para Doca ojornalista deveria dar o bom exemplo, “o exemplo decoragem e civismo, e não de agachamentosvergonhosos”.

Dom Alexandre, ofendido com o conteúdo do livro,denunciou o jornalista, que foi preso e forçado apublicar uma retratação no jornal Lavoura e Comércioe no Correio Católico, com o pedido de perdão,assegurando que nunca mais iria ofender ao Bispo enem ninguém de sua família e autorizando que todosos exemplares de Pântano Sagrado fossem queimados.A queima de 900 cópias do livro aconteceu nadelegacia por determinação do Juiz de Direito, Dr.Wenceslau.

Em entrevista à Maria Aparecida Manzan, no anode 1986, Dom Alexandre afirma que Orlando Ferreirafora expulso por Dom Eduardo do seminário e, porisso, tomou raiva de padre, bispo e papa. EntretantoJoão Bento conta que o primo gostava muito de DomEduardo e que, quando questionou o parente sobreseu ódio por padres, ele respondeu: “Não tenho ódiode padre, eu não posso ver a batina. Porque sei que ospadres são nossos irmãos. Não tenho nada contra eles.Mas eu não posso é ver batina”. Dom Alexandreadmite, na mesma entrevista, que Doca era um exímioescritor, o que está regisrado em suas obras. Ojornalista tinha um excelente vocabulário, um grandeconhecimento, criatividade para elaborar frases deimpacto e uma ironia desconcertante.

As polêmicas em torno desse personagem sãoinúmeras. No entanto, apesar de sua importânciahistórica, ele foi condenado ao limbo da história dacidade. O aniversário de 50 anos de sua morte em2007 não foi lembrado. Seus livros são obras raras dedifícil acesso, podendo ser encontradas no ArquivoPublico de Uberaba,na Biblioteca Inácio Ferreira e naBiblioteca Nacional. Morto por insuficiencia cardíacaem 20 de outubro de 1957, seu túmulo não foiencontrado no cemitério Jão Batista, onde foienterrado. Nos registros velhos e rasgados constasomente o número do jazigo sem a indicação daquadra. Segundo os trabalhadores do local, asnumerações foram trocadas algumas vezes e alocalização foi perdida. Mas, em compensação, os seusseus inimigos são muito fáceis de achar. As famíliasque Doca atacava estão lá, em suntuosas sepulturasque simbolizam o poder tão criticados por Doca.

D. Alexandre Gonçalves doAmaral, tido por Doca como areencarnação de Torquemada,o famoso inquisidor espanhol.

Orlando Ferreira foi forçado a se retratar publicamente.Toda a edição de seu livro foi incinerada

Bispo de Uberaba foi o alvo predileto de Orlando Ferreira

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Relato de uma reportagemCrônica

A saga de um repórter em busca da verdade escondida no submundo do crime

Tobias Ferraz5º período de Jornalismo

Naquela manhã cheguei mais cedo que de costumena redação da emissora de TV. Estava sozinho lendoos jornais do dia quando tocou o telefone. Ainda nãoeram 7h.

- Tem dois corpos numa rua do canavial da fazenda.Com esta informação, o administrador da FazendaSanta Juliana acabava de sugerir a pauta daquelamanhã.

- São de uma mulher e de uma criança de unsquatro ou cinco anos. Detalhou.

Logo pensei que o fato daria origem a umareportagem diferente dos assassinatos comumenteregistrados na periferia de Campinas (SP), a maioriaresultante de brigas entre quadrilhas oudesentendimento entre membros de um mesmobando.

Depois de pegar os dados sobre como chegar nolocal do crime, o telefonei para o chefe de reportagemque, também, por telefone, agilizou a saída da equipetécnica. Repórter, cinegrafista e motorista seguirampara o canavial da fazenda.

Após percorrer cerca de oito quilômetros pelarodovia asfaltada, a equipe entrou noacesso de terrapara a fazenda. A plantação de cana cercava a estreitaestrada de terra dando ao lugar o ar seco e gélido quea cobertura exigia.

O administrador da fazenda aguardava paciente,escorado no banco da camionete. Nenhuma equipede reportagem havia chegado ao local.

-Até agora a polícia não chegou. Informou oadministrador.

- Então vamos fazendo as imagens. Disse a elediante da possibilidade de produzir as imagens antesda chegada dos policiais.

A quantidade de sangue empapava a terra, járessecada naquela época do ano. O administrador daFazenda Santa Juliana contou que ao fazer a rondada manhã pelo canavial havia encontrado os corposno chão, mortos já há algumas horas, constatação feitadevido a palidez que apresentavam.

- Você conhece a mulher e o menino?- Não, não é gente da fazenda e nem da redondeza.

Parece gente da cidade.Durante esse diálogo entre repórter e

administrador da fazenda um ruído de motor … vemse aproximando uma unidade da Polícia Militar. Ocinegrafista, experiente, pára de gravar e tambémencosta na camionete.Os policiais militares andam emvolta dos dois corpos, analisam. Um deles se aproximae olha bem de perto os rostos da mulher e do meninoe afirma com a experiencia de um perito:

- Foi tiro na boca. Na mulher e na criança. Tiro naboca!

Com essa nova informação, a sensação de

desconforto aumenta.Que motivo alguém teriapara matar uma mulhere uma criança? Será quea mulher é mãe dacriança?

Agora chega umacaravana de veículos.Equipes de jornais e TVs,polícia civil e um delegado.Os policiais agora mexem nas bolsasda mulher e da criança. Encontram ascarteiras de identidade. O policial lê osnomes e logo uma de minhas interrogações érespondida: são mãe e filho. Depois da leiturado nome do pai do menino, uma repórtersetorista de polícia do jornal local, se mostrasurpresa.

“O pai do menino é o Gilmar, informante depolícia e que está preso no 4º. Distrito. Agora euestou lembrando dela. Ela estava no Quarto DP,ontem a tarde pedindo para soltarem omarido””, disse a setorista

Depois de entrevistar o administrador dafazenda, um policial militar e o delegado depolícia civil, segui com a equipe para o4º. Distrito, na intenção de falar comGilmar; este, possivelmente ainda semsaber do ocorrido com sua mulher efilho.

Ao chegar ao Distrito, fuiinformado que Gilmar havia sidotransferido naquela manhã para o 1º.Distrito, pois lá passara apenas umanoite. Mal sabia que ali começava umaperigrinação até encontrar Gilmar.

No 1º. Distrito a equipe dereportagem é informada de que ele estádetido na Cadeia Pública,estabelecimento prisional do Estado queabriga detentos em cumprimento de pena,portanto, já julgados pela Justiça.

O investigador tentou me desencorajara seguir em frente na tentativa de ouvirGilmar.

“Não vale a pena. O cara é informante.Todo enrolado. Entregava a bandidagem emtroca de favores. Um pé de chinelo. Achou odestino dele. Não vale a pena. Acho que nemdura muito na cadeia. Pé de chinelo.”

Em troca de quais favores, o investigadornão soube esclarecer. Tudo muito vago. Odestino da equipe agora é a Cadeia Pública.

Na saída do 1º. Distrito, novo encontro

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com a repórter setorista de polícia. Ela folou sobrea mulher de Gilmar. Contou que ela estava muitoagitada ontem. Dizia que estava com medo dosoutros presos descobrirem que o marido erainformante e que fizessem alguma coisa com ele.“Ela disse para o delegado que ia botar a boca nomundo e contar tudo, se não soltassem o Gilmar,”contou a repórter.

O destino agora é a Cadeia Pública. O diretor,sempre acessível náo sabia de nada. Foi avisar opreso.

Ouve-se o barulho de abrir e fechar da pesadaporta de aço que se abre para o pavilhão das celas.Ouve-se o barulho de abrir e fechar da grade quedá acesso à carceragem. Para quem já andou portodas as áreas da Cadeia Pública, produzindoreportagens fica fácil imaginar os passos dodiretor a partir do ruído dos portões e grades.

Os minutos são longos e silenciosos.Escutamos nossos passos no piso de granito,limpo e encerado.

O silêncio é quebrado por gritosincompreensíveis de um homem horrorizado. Anotícia da morte da mulher e do filho acaba deser contada para Gilmar. Mais alguns gritos dehorror, choro e novo silêncio. Desta vez o silêncioparece mais duro no ambiente nada agradável dosaguão da Cadeia, chega a quase se materializar.

Novos ruídos ecoam devido a amplitude dopresídio, produzidos pelo movimento de abrir efechar das grades e portões. O diretor chega coma resposta de Gilmar:

- Ele vai falar. Disse que tem coisas graves para dizer.Que vai denunciar policiais envolvidos com o crime. Voupreparar a sala da carceragem para vocês gravarem aentrevista. Como precaução vou ligar pra juíza, só praavisar. Só uns minutos.

Por telefone o diretor conversa com a juíza. Do ladode fora, ouço parte desta conversa. “Sim. Sim Excelência.Mas tem aqui uma equipe de reportagem que quer falarcom ele antes. Certo doutora. Farei isso.”

Enquanto aguardavamos, sai para pensar nasperguntas que faria enqunto o restante da equipeprepara os equipamentos. Nesse momento a fechaduraeletrônica da porta de entrada da cadeia é aberta.Entram dois delegados do 4º. Distrito. O titular – jáconhecido de outras reportagens - ao identificar orepórter toma um susto, e pergunta com ar surpreso:

- O que você faz aqui rapaz?- O mesmo que o senhor, Doutor!Os delegados olham fixamente para o repórter sem

nada dizer. Seguem para a sala do diretor da Cadeia,que mantém a porta sempre aberta. O que é dito ládentro pode se ouvido do corredor. Após cumprimentosrápidos, segue o diálogo entre delegado titular e diretor:

- A gente quer conversar com ele. (Gilmar)- Não posso, a juíza quer ouvi-lo agora no fórum. A

escolta já está sendo preparada. Com licença, aguardemaqui. Já volto.

O diretor se aproxima da equipe de reportagem:- Falei com a juíza sobre o Gilmar. Ela disse que ele

precisa falar essas coisas em juízo. Que é muito sério oque ele tem pra falar que quer ouvi-lo agora no fórum.Tenta falar com ele lá no fórum.

Do lado de fora da Cadeia Pública é grande amovimentação de viaturas da policia e cuidadoscom a segurança. Um aparato somente utilizadona escolta de bandidos famosos, grandestraficantes ou chefes de organizações criminosas.O comboio de segurança segue em direção aofórum. Em uma das viaturas está um homem aindajovem, levando consigo uma dor que mistura perdae revolta, e talvez algum desejo ou um fio deesperança de que seja feita justiça. De bandido “péde chinelo” Gilmar passa a personagem com direitoa escolta especial da polícia judiciária.

A sensação agora é estranha, uma espécie desolidão, mesmo em companhia do cinegrafista emotorista da equipe. Por telefone avisei a redaçãoque precisaria da tarde para acompanhar o caso efechar a reportagem.

No fórum, a burocracia atrasa a entradaimediata da equipe. A essa altura, Gilmar já estálá dentro, na sala da juíza. Foi levado até lá pelaentrada da garagem, no subsolo do suntuosoedifício da justiça.

Vencida a burocracia, o acesso da equipe épermitido. Na ante-sala da juíza nova espera.Agora com outro sentimento.

O editor-chefe já ligou várias vezes no telefonecelular da equipe. Quer ser informado sobre cadanovo fato.

A espera para conversar com a juíza continua.A porta da sala não abriu nenhuma vez até agora.

Uma colega da redação liga no telefone celular.

O jornalista a um passo do furoFala nervosa e quase sussurrando: O delegado do 4º.Distrito já ligou umas dez vezes aqui na redação para orepórter amigo dele. Quer saber onde você está. Já sãoquase três da tarde e vocês não voltaram ainda. A coisaagora está com o diretor de jornalismo. Em que você semeteu?”

O chefe de redação liga em seguida: Se não temnovidade, fecha a matéria com o que você tem. A ligaçãoé interrompida quando a porta da sala se abre. A juízapede ao repórter que entre:

- O que ele diz é muito grave e não pode ser reveladoainda.

- Mas nós podemos entrevistá-lo?- Não, não pode entrevistá-lo. Tudo é segredo de

justiça até que os fatos sejam apurados.”Com um certo ar de decepção redijo a reportagem com

o que tenho. Falo do assassinato da mulher e do menino.Do fato de serem mulher e filho do informante preso eque o informante foi levado para depor no fórum dacidade.

Offs gravados a equipe se prepara pra voltar a redaçãoquando o telefone toca. É o editor-chefe: Olha, hoje ésexta-feira, é seu final de semana de folga, você está desdecedo nessa história, está cansado, pode ir pra casa daímesmo se quiser.

No caminho de casa vou tentando montar o quebra-cabeça do assassinato da mulher e do menino. A cidadegrande parece estar envolvida por uma enorme sombra.

O final de semana passa lentamente. O duplohomicídio não sai da minha cabeça. O certo é que Gilmare a mulher dele sabiam demais.

Fim daLinha

Na segunda-feira, logocedo, como de costume, orepórter já está na redaçãodo telejornal. Estranha achegada do editor chefenaquelas primeirashoras da manhã. Só osdois na redação:

- Venha na minha sala pra gente conversar.Intimou o editor com um jeito agitado de quemtinha algo importante a dizer.

- Olha, conversei com os chefes de reportagem econcluímos que seu comportamento não écondizente com as expectativas da empresa, entãoeu estou te demitindo.

Olho com espanto para a face vermelha doeditor, não acostumado a demitir, portantoincomodado com a situação. Me despeço, pegomeus poucos pertences em uma gaveta e vouembora.

Um ano depois, a cidade recebe a ComissãoParlamentar de Inquérito da Câmara dosDeputados, a CPI do Narcotráfico, como ficouconhecida, que investigou o tráfico de drogas no paíse a ligação do crime organizado com empresários epoliciais.

Naquela cidade, uma das testemunhas chave daCPI do Narcotráfico é Gilmar, o homem que teve amulher e o filho barbaramente assassinados comtiros na boca. Gilmar afirma para os deputados daCPI que alguns policiais da cidade estão envolvidoscom ações de roubo de cargas na região, têmligações com o crime organizado e com onarcotráfico.

A CPI ficou por vários dias na cidade.Questionou gente influente da sociedade local e uminvestigador de polícia, convocado para depor, sematou com um tiro na boca dentro do banheiro dadelegacia. Será que ele carregava culpa tão grandeque não suportava a realidade?A CPI doNarcotráfico indicou algumas prisões, todastemporárias. As acusações de Gilmar seguem sobsegredo de justiça. Mesmo depois de doze anos oassassinato da mulher e do filho não foiesclarecimento.

O repórter? Continua repórter. Em outra cidade,resistindo ao factual e tentando aprofundar asinvestigações na reportagem, mesmo com todas asmazelas das redações, das dificuldades financeirase das barreiras impostas por uma corrente dojornalismo que defende uma informação “maisleve”, um jornalismo “informal”, onde talvez ocharme e o glamour sejam mais relevantes que aboa e velha reportagem. Nessas horas ele tem asensação de um gosto de metal na boca, misturadocom o sabor adocicado de sangue, e a certeza deque nem sempre a informação completa chega atéo leitor do jornal, ao ouvinte do rádio, aotelespectador e ao internauta. Mas o repórter nãopode desistir, mesmo que somente depois de anosele encontre uma forma para contar a história.

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Revelação - Abril de 200814

Noé Maia3º período de Jornalismo

LUIZ GONZAGA DE OLIVEIRA ,um dos jornalistas maisexperientes e conceituados do estado de Minas Gerais,trabalhou em serviço de alto-falante, rádio, jornalimpresso, televisão e hoje é presidente da FundaçãoCultural de Uberaba – uma autarquia daAdministração Municipal.

Dono de um currículo de fazer inveja, Luiz Gonzagaafirma, com orgulho, ser jornalista por convicção eque o desejo de ser comunicólogo veio desde criança.“Quando empunhava uma latinha de massa de tomateamarrado a uma linha, no ‘faz de conta’ de microfonecom fios, já sabia o que queria e seria quandocrescesse.”

Iniciou sua carreira profissional num serviço dealto-falante, no centro da cidade. Após passar em teste,trabalhou na Rádio Sociedade, antiga PRE-5, ficandolá por pouco tempo. Em 1953, juntamente com CésarVanucci, Jorge Farah Zaidan, Marçal Costa e outros,inaugura a segunda emissora de Uberaba - RádioDifusora, começando lá como repórter esportivo,chegando a gerente.

Sobre as dificuldades para produzir reportagensquando iniciou a profissão, Luiz Gonzaga diz: “A maisempírica possível. Gravador para reportagem pesavade oito a dez quilos e era necessário duas pessoas paracarregá-lo. ‘Valvulado’, nem sempre se conseguiaenergia para fazê-lo funcionar... Uma luta! O adventodo gravador de menor porte, mais cômodo para secarregar e manusear, só apareceu no final dos anossessenta”.

Antes do surgimento do gravador, o jornalistalembra que “o rádio trabalhava de uma formaprovinciana”, e se o assunto fosse muito importante,o entrevistado era levado à emissora. Ele afirma queos conteúdos das entrevistas raramente sofriamalterações e que a figura do repórter era pouco exigidaporque eram os jornalistas que colhiam asinformações junto aos entrevistados e redigiam amatéria.

Quanto ao relacionamento da imprensa com asociedade, até a década de 1960, Luiz Gonzaga faz aseguinte observação: “Era visto com reservas.Jornalistas, nem tanto. A desconfiança maior era comos radialistas. Normalmente, não pertencendo àfechada sociedade local, eles eram recrutados no meiopopular. Não se exigia descendência familiar, condiçãofinanceira ou credo. O requisito maior era ter boa voz,independente da aparência. Por outro lado, aremuneração não atraía os jovens.O radialista era vistocomo um boêmio, devotado ao álcool e às mulheresde vida fácil”.

Alguns setores da sociedade consideram que aimprensa seja o “Quarto poder” e para a jornalista “Aimprensa sempre foi o grande sustentáculo do estadodemocrático de direito. Sem uma imprensa livre, aopinião pública fica sem a sua grande fonte deinformação. Não se pode misturar ou conceber liberdadede imprensa’ com ‘licenciosidade de imprensa’. Quando

isso acontece, os resultados, geralmente, não sãofavoráveis a nenhuma das partes envolvidas. Quanto ao‘quarto poder’ a expressão é muito tênue. Pessoalmente,não gosto”.

Comparando as dificuldades para a profissão nosperíodos do coronelismo, da ditadura e de hoje, eleafirma: “Na ditadura militar, as liberdades foramsuprimidas e o arrocho da informação, mormente com

a edição do AI 5, foram inquietantes. O homem só sesente realizado quando não lhe é cerceado o direitode ir e vir e emitir a sua opinião sobre qualquer assuntoa qualquer tempo. A perda da liberdade tolhe adignidade do ser humano”.

Para nosso entrevistado, os momentos de maiorimpacto e satisfação profissional foram: “No rádio,aconteceu nos dias 14 e 16 de novembro de 1963,quando transmiti do Maracanã, a decisão do mundialinterclubes entre Santos e Milan. Duas grandesvitórias do time de Pelé. A rádio Difusora foi a únicaemissora do interior mineiro a cobrir os jogos”.

Na TV, três fortes emoções: “Em 1978, durante oCampeonato Brasileiro quando realizei a primeiratransmissão, via Embratel, de Manaus, para MinasGerais, no jogo Nacional x Uberaba Sport Clube. Asegunda, também aconteceu no norte do país.Transmiti, para toda Minas Gerais, Maranhão AC xUberaba SC. Foi a primeira transmissão do Maranhãopara o resto do país. A minha terceira foi em Natal, noRio Grande do Norte. TV Itacolomy e a TV Uberabalocaram equipamentos da TV Globo do Recife, que sedeslocou à capital potiguar, onde transmiti também,ao vivo, os jogos América RN x Uberaba e ABC xAtlético Mineiro. Foram transmissões marcantes notelejornalismo do Estado. Na mídia impressa, minhagrande emoção aconteceu quando lancei o jornaldiário ‘Cidade Livre’, de minha propriedade e que fezenorme sucesso editorial enquanto teve vida”. Mas,ressalta que o momento realmente marcante foi aCopa do Mundo de 1978, na Argentina. “Foi o meuorgasmo profissional”.

Para aqueles que estão iniciando nesta profissão,o comunicador faz um alerta: “Conselho não deve serboa coisa – senão ninguém dava, vendia.Aos iniciantesna vida jornalística apenas um lembrete: Nunca‘venda’ opinião.Deixa pro dono do jornal vender oespaço publicitário...”.

E neste momento em que a Imprensa no Brasil estácompletando 200 anos e a Associação Brasileira deImprensa – ABI, 100 anos, o jornalista Luiz Gonzagadeixa aos futuros colegas de profissão a seguintemensagem: “O Brasil, nesses duzentos anos deimprensa e cem da ABI – a nossa mãe -, sempre foivanguardeiro e inovador. Nossos jornais êm um altoíndice de credibilidade em todo o mundo. Nossatelevisão, uma das melhores do planeta, e o rádio,atualíssimo. Nunca pense que vai ficar ricotrabalhando na comunicação. Contudo, trabalhe,trabalhe, trabalhe e trabalhe. A vida do jornalista tem5% de inspiração e 95% de transpiração”.

Da latinha àtransmissão internacionalA trajetória de um jornalista pioneiro no radiojornalismo de Uberaba

Hoje, Luiz Gonzaga é presidente da Fundação Cultural

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Jornalista, desde pequeno

Aos iniciantes na vidajornalística, um lembrete:Nunca ‘venda’ opinião.

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Revelação - Abril de 2008 15

Joyce Nayara Rodrigues3º período de Jornalismo

Foi-se o tempo em que estudar era a únicaatividade dos jovens brasileiros. É cada vez maior onúmero de adolescentes que conciliam a vidaestudantil com a atuação de algum cargo no mercadotrabalho. De acordo com pesquisas da Síntese deIndicadores Sociais do IBGE, mais da metade dosjovens entre 15 e 24 anos ocupa um posto no mercadode trabalho e, na realidade de muitos destes, a escolanão está presente.

A cultura brasileira impõe a rotulação detrabalhador só para aqueles que têm carteira assinada.Por esse motivo, a profissionalização tornou-se umfator relevante para a contratação.

Buscando alternativas para driblar as dificuldadesde se conseguir um emprego, milhares de jovens têmencontrado a solução no próprio negócio. Com oespírito empreendedor e imensa vontade de adquirira tão sonhada independência financeira, elesresolveram investir nas suas habilidades.

O universitário Clayton Pereira Oliveira Silva é umexemplo claro de jovem empreendedor. Aos 21(vintee um) anos de idade,Clayton desenvolve umtrabalho bem-sucedidocomo promoter, na cidadeonde mora. O empresárioe estudante de Publicidadee Propaganda daUniversidade de Uberabarevela que começou a trabalhar em uma empresa aos16 (dezesseis) e foi lá que surgiu a idéia de ter seupróprio negócio.

Claytim, como é conhecido o estudante, conta quegosta muito do que faz e isso é o grande segredo dosucesso. “Sinto-me bem, pois faço parte de um grupode jovens que tem idéias novas e quer o melhor parao seu país.”

Não são apenas projetos governamentais queinvestem na profissionalização dos jovens para inseri-

los no mercado de trabalho. Diversas instituiçõesprivadas estão seguindo este caminho, poisdescobriram que é no desejo de crescimento, estilojovial e mente criativa que está a chave para a evoluçãoempresarial no país.

O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural –Senar – é uma das muitas instituições privadas queoferecem ensino profissionalizante para jovens.Voltado para jovens pertencentes a comunidadesrurais, o Senar promove a inclusão social através daeducação de qualidade. O instrutor senarianoRaimundo Papa Júnior explica que são milhares dejovens capacitados, aptos a atuar nos diversossegmentos do empreendedorismo rural e ramosagrícolas. “Além das habilidades básicas aprendidasnos treinamentos, os alunos têm noções de cidadania,segurança no trabalho e praticam exercícios quecontribuem para seu crescimento pessoal”, enfatizaRaimundo.

Para que as lideranças empresariais pudessem sereunir e expor em fóruns suas opiniões, foi criada a

Conaje, a ConfederaçãoNacional dos JovensEmpresários, que temcomo missão representar asentidades, e informarjovens empresários comassuntos do seu interesse, ereunir empreendedores de

todo o Brasil para difundir, divulgar e fortalecer novaspráticas que fortaleçam os negócios no país.

A empresária do ramo de vendas Leanny Nunestransmite bem a imagem de mulher forte e bemdecidida. Apesar de pouca idade, a mineira de 24(vinte e quatro) anos já sabe muito bem o que querpara si. Começou com uma loja de roupas para adultose o prestígio foi tanto que Leanny abriu uma loja deconfecções para crianças. Ela tem quatro funcionáriase conta que os negócios vão de vento em popa.

Pouca idade, muito sucessoJovens entram cada vez mais cedo no mercado de trabalho

Embora grande maioria dos jovens encontredificuldades, como o desemprego, ainda mantém aesperança de conseguir um trabalho.

No Brasil, pesquisas apontam que 66% dos jovensprecisam trabalhar porque todo o seu ganho, ou partedele, complementa a renda familiar. Junielle GonçalvesMorais, 21(vinte e um) anos, faz parte dessaporcentagem. A filha mais velha da família de trêsirmãos é Assistente Administrativo, natural de Salinas,no norte do Estado de Minas Gerais, e mudou-se parao Triângulo Mineiro à procura de melhorias. Junielleafirma que terminou o ensino médio e tentou bolsa parauma faculdade. Conseguiu e, com muita dedicação,formou-se em Pedagogia. Mesmo não atuando na área,ela diz que não pode ficar desempregada, já que afamília depende da sua ajuda e que seu maior sonho étrabalhar para si. “Moro com um irmão mais novo euma prima. Vim para o Triângulo para subir na vida,ter meu negócio e levar conforto à minha família.”

É nesse cenário social que os jovens buscam seuespaço e tentam se adaptar às exigências do mercado.Sonham alto e mostram que idade não é obstáculo parao alcance do sucesso.

“Sinto-me bem, pois faço parte de umgrupo de jovens que tem idéias novase querem o melhor para o seu país.”

Joyce Nayara Rodrigues

Juniele assumiu em poucos meses as finança da empresa

Jovens empreendedores

Fórum discute políticas públicas para mulheres ruraisDa Redação

A AMUR, Associação das Mulheres Rurais, iniciouos preparativos para o 1º Fórum de Políticas Públicaspara as mulheres, que acontecerá dia 14 de junho de2008, juntamente com o II Encontro da Mulher Rural,no centro de eventos da ABCZ, durante o dia todo. OFórum tem como objetivos: contribuir para que asmulheres rurais se tornem mais conscientes de seusdireitos constituconais; estimular e ampliar a suaparticipação política; formular, implantar e avaliar osprogramas sociais considerando as dimensões

econômica, sociocultural e político-ambiental.As comissões de mobilização visitaram 17

comunidades e são compostas por representantes daAMUR, Emater, Fazu e Uniube. O objetivo dessasreuniões é levantar propostas sobre : Saúde dasmulheres; direitos sexuais e reprodutivos; autonomia,igualdade no mundo do trabalho e cidadania;enfrentamento à violência; Educação inclusiva e nãosexista. A partir dessa discussão elaborar-se-á umdocumento que será debatido no fórum.

Em busca dos direitos

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Da Redação

O curso de Comunicação Social da Uniube conquistouo 1º lugar na categoria “Áreas Emergentes”, modalidade“Digital”, da Expocom Sudeste, uma das principaismostras competitivas de trabalhos acadêmicos do país.O trabalho vencedor foi o projeto “Webfólio: central deblogs acadêmicos”, orientado peloprofessor André Azevedo daFonseca.

A aluna do curso de Jornalismo,Camila Cantóia Dorna, representouos alunos de Comunicação em SãoPaulo e explicou, para a bancaexaminadora, os detalhes daproposta desenvolvida na Uniube.Os membros da banca elogiaram a criatividade do projeto,que procura se apropriar de ferramentas gratuitas naInternet, como os blogs, RSS e o YouTube, para construir,com a participação dos alunos, um verdadeiro circuitovirtual de aprendizagem.

Portfólio virtualO Webfólio é um instrumento pedagógico que o

Curso de Comunicaçãoé premiado em São PauloCentral de blogs conquista 1º lugar na categoria “Áreas Emergentes” da Expocom Sudeste

professor André Azevedo desenvolveu no curso deComunicação, desde 2005. Nesse espaço virtual, osalunos são estimulados a registrar seus comentáriossobre as aulas, a desenvolver novas interpretações sobreos assuntos e a buscar novas referências a partir dasdiscussões despertadas em sala. Cada estudante éresponsável pelo seu próprio blog, mas também insere

comentários nos blogs dos colegas.Os estudantes são orientados a

utilizar diversos recursosmultimídia, tal como texto,fotografias, ilustrações e vídeos,para produzir um conteúdodinâmico e interessante. Para oprofessor André Azevedo, essapremiação é um estímulo para que

o curso continue investindo em metodologias inovadoraspara colocar as mídias a serviço da educação.

Ao conquistar o 1º lugar na Expocom Sudeste, otrabalho está automaticamente classificado para aExpocom Nacional, que será realizada na UniversidadeFederal do Rio Grande do Norte, em Natal (RN), no mêsde setembro de 2008. Neste evento, será reunido o quehá de melhor na produção universitária de todo o país.

Resultado mostra a alta qualidade da produção laboratorial de alunos e professores

Da Redação

Treze trabalhos de alunos do curso de ComunicaçãoSocial da Universidade de Uberaba (Uniube) foram finalistasna 2ª Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicaçãodo Sudeste (Expocom). Os produtos foram resultado deTCCs, projetos laboratoriais, trabalhos nas disciplinas eatividades complementares orientadas pelos professores deJornalismo e de Publicidade & Propaganda. Com esseresultado, o curso da Uniube demonstra, mais uma vez, aalta qualidade da produção local. Para o coordenador docurso de Comunicação, Raul Osório Vargas, a classificaçãode treze trabalhos na Expocom é uma conseqüência naturalde um esforço cotidiano de toda a equipe do curso paraincentivar a criatividade, a reflexão crítica e a vontade deexperimentar novas fórmulas de fazer comunicação social.

Confira os trabalhos selecionados:

CATEGORIA JORNALISMOModalidade: ImpressoRevelação: jornal-laboratório do curso de ComunicaçãoSocial da UniubeAluno líder: Graziella Tavares SantosProf. Orientador: André Azevedo da Fonseca

Modalidade: AudiovisualEntre palmas e pés, um recortado de históriasAlunos: Mário Silva Santos, César Antonio Mateus, EduardoIdaló Rodrigues, Viviane Silva SantosProf. Orientador: Celi Camargo

Uniube emplacou treze finalistasModalidade: DigitalWebdocumentário Convergente: Uma Missão de Fé, Amor eCaridadeAluno: João Fabio Monte AnunciaçãoProf. Orientador: Anderson Andreozi

Modalidade: DiversionalUberaba nas ondas do rádioAluna: Débora LacerdaProf. Orientador: Mirna Tonus

CATEGORIA PUBLICIDADE E PROPAGANDAModalidade: Corporativa/mercadológicaPlano de Gestão PublicitáriaAlunos: Luiz Hozumi, Alberto Nascimento, Fernanda Salaber, LucíliaFreitas, Nicolle Pena, Paula Cunha, Rodrigo Chagas, Tiago QueirozProfessores Orientadores: Neirimar Castilho, Blueth Sabrina,Karla Borges, Rogério Zavanella, Paulo Fernando Ventura,Mirna Tonus, Fabiano Oliveira e Wilson Oliveira.

CATEGORIA AUDIOVISUALModalidade: TV e VídeoPrograma Fábrica: um laboratório para a produção detelejornalismoAluna líder: Raquel Oliveira RibeiroProf. Orientador: Celi Camargo

Modalidade: EducativoEducação também é MúsicaAluna: Gisele Carvalho BarcelosProf. Orientador: Indiara Ferreira

Um Samba para exercitarAlunos: Nicolle Pena Moreira, Alberto Peixoto Nascimento,Fernanda Salaber Pereira, Lucilia Silva Freitas, LuizHozumi Nojiri Júnior, Rodrigo ChagasProf. Orientador: Blueth Sabrina

Modalidade: VariedadesPrato do DiaAluna: Marilía Rodrigues Araújo, Renê Alves VieiraProf. Orientador: Celi Camargo

CATEGORIA: ÁREAS EMERGENTESModalidade: ImpressoInspireAluno líder: Diogo Paiva GomesProf. Orientador: André Azevedo da Fonseca

Modalidade: FotográficoOrgulho do que tem no peitoAluno: Paulo PitaProf. Orientador: André Azevedo da Fonseca

Modalidade: DigitalWebfolio: central de blogs acadêmicosAluno líder: Camila Cantóia DornaProf. Orientador: André Azevedo da Fonseca

Modalidade: LúdicoQueen of Rain - Rainha da ChuvaAluno: Johny Daniel SilvaProf. Orientador: André Azevedo da Fonseca

Entre os melhores do Brasil

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Camila Cantóia representou os colegas e conquistou oprimeiro lugar com o projeto de avaliação através de blogs

Prêmio é um estímulo paraque o curso continue investindoem metodologias inovadoraspara colocar as mídiasa serviço da educação