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Jornal laboratorio do curso de Jornalismo da UFRB

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EXPEDIENTEREITOR DA UFRBPaulo Gabriel Soledade Nacif

DIRETOR DO CAHLXavier Vatin

PROFESSORES RESPONSÁVEISPéricles Diniz e Robério Marcelo

EDITORA CHEFELenise Luz

MONITORIAPriscila Vasconcelos

REVISÃO GERALLélia Maria Sampaio

REVISORESJanaina França Joaquim BambergLarissa Araújo

EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA Janaína Carine Josiane Nascimento

DIAGRAMAÇÃO Joaquim Bamberg Laiana Matos Rosalvo Marques

FOTÓGRAFOSJanaína França / Laiana Matos/ Layla Scher/ Lenise Luz

REPORTERESJanaína Carine/ Janaina França / Joaquim Bamberg/ Josiane Nascimento/ Juliana Rezende/ Laiana Matos/ Larissa Araújo/ Layla Scher/ Lenise Luz/ Lorena Morais/ Rodrigo Valverde

COLABORADORES Fernada Rocha Marília MarquesTaiane Nazaré

I n e d i t o r i a l

Carta ao leitor

Nem só de samba vive o Recôncavo

RefletirsobreoRecôncavobaianoésempreumexercíciointrigante.Aregiãopossuiumtecidohistóricoeculturalriquíssimo,foidecisivasuaparticipaçãonalutapelaindependênciadopaís.Aquiforamerguidosimponentesengenhos,sobrados,igrejas,foramtrazidospovosafricanosparatrabalharemplantaçõesdecanadeaçúcareposteriormentenasdefumo.Africanosdeváriasetnias,cultos,culturaselínguas.Énestecontextode(des)encontrosqueseconformaopatrimônioculturalafro-barrocoquehojeconhecemos. Ébemverdadequea“culturaviva”reveladanasfilarmônicas,nasfestasdecarnaval,emMaragojipe,noBembédoMercadodeSantoAmaro,emmaio,noSãoJoãoeseudeliciosolicordejenipapo,no25dejunho,na Festa da Irmandade da Boa Morte, em Cachoeira, e nas diversas nações de terreiros de Candomblé, começa-ram a ter reconhecimento público do valor patrimonial que se constituem recentemente, através de intervenções doIPHAN(MinistériodaCultura)edoIPAC(SecretariadeCulturadaBahia). Duranteumlongoperíodo,aomenosnosúltimos40anos,otematemsidopautadereflexõeseexpec-tativasdapopulaçãonoqueserefereaodesenvolvimentolocal. Apartirde2003,oMinistériodaCulturatempromovidoumasériedeintervençõesatravésdeprogra-masquetemtransformadoaregião.OexemplomaisveementeéoMonumenta,queemCachoeiramodificouocenárioderuínasdacidade,segundomaiorparquearquitetônicobarrocodaBahia,abaixoapenasdeSalvador–CentroHistórico.Umdosmaisimportantesinvestimentossurgiuhácincoanos,aUFRB,queempoucotempotemtransformadonãosóarealidadedosmunicípiosondeseuscampiseinstalaram,masaperspectivadejovensquevãomostrandoaoRecôncavoumaforçamotrizcapazdecontribuirdecisivamentecomasimplemen-taçõesiniciadaspeloGovernoFederaleEstadualeterácontinuidadecomoPACdascidadeshistóricas.AgestãodosbaianosGilbertoGileJucaFerreiranoMinistériodaCultura(2003-2010)colocouemmarchaumprocessodemocráticodeorganizaçãoculturalnopaísquerefletiunosEstadosemunicípiosumasomadeesfor-çosparatornaroassuntotemadepolíticapública.Nestecontexto,foidiscutidooPlanoeoSistemaNacionaldeCultura, fortalecendo as políticas culturais do Estados e promovendo nos municípios brasileiros debates neces-sáriosparaformaçãodeConselhos,FundoseSecretariasMunicipaisdeCultura. NoRecôncavo,noâmbitodaspolíticasmunicipais,estereflexosedádeformalenta,porémcontínua.OcoletivodeSecretáriosdeCulturadoRecôncavotemsereunidoconstantementeafimdediscutireimplementarestratégiasparaodesenvolvimentolocalesustentáveldoterritório,atravésdepolíticasdelongaduração. Ficaclaro,portanto,queoRecôncavobaiano,palcodetantaslutas,vitórias,riquezasculturaisenatu-rais,étambémcenáriodeumprocessodetransformaçãosócio-culturalrespaldadonaeducaçãoenacultura.Estasintervençõesdeâmbitonacionaleestadualnosmostramoquantoestesdoissegmentostêmassumidoumpapel cada vez mais central na agenda política do país, motivando alguns municípios a construir políticas espe-cíficasqueatendamaestasdemandas,comoemCachoeiraeSãoFelix,queatravésdaformaçãodeconselhosdeculturabuscamequacionaralgunsproblemasjámencionados.Aindaquesepercebamavanços,osdesafiosimpostosatualmentecomprometemnãosóajuventude,grupos,expressões,produtoresegestoresculturais,artistas,políticoseempresários,mastodasociedadecivilorganizada. ParafraseandoDonaDalvadoSamba,finalizoestasbrevesobservaçõesdoRecôncavo,queagorasevêemumimportantemomentodetransformaçãoquetendeaconfigurarnademocraciaparticipativaseudesejodemudança:“levantapovo,venhaverosambaderodaedendê.Levantapovo,venhacá,osambaderodabotoupraquebrar”.ORecôncavotemosambanopéeamentenaimensidão.

*Professor,poeta,gestorcultural,MestrandoemCulturaeSociedade–Pós-Cultura/IHAC/UFBa.Ex-SecretáriodeCulturaeTurismodeCachoeira.

NestaediçãootemaemfocoéaCultura.ColocamosemevidênciaomulticulturalismodoRecôn-cavoesuasdiversidades.Agastronomia,amusicalidade,manifestaçõesculturais,aarquitetura,artee,essencialmente,suagentecomaforçaegraciosidadequesóopovodoRecôncavotem!

ParaaequipeReversoCultura,fugirdopadrãoformalqueumjornalimpressotemfoiumdesafio.Abordarosdiferentesviesesdotemademaneiramaislivrefoiumaexperiênciaetanto,principalmentepelapreocupaçãoemmanterocompromissocomainformaçãoqueojornalismodeveter.Agradecemosatodososeditores,repórteres,fotógrafosecolaboradoresquederamaestaediçãoumolharparticulardaregiãoaqualestamosinseridos.AgradecemostambémaocachoeiranoJoãodeMoraes,especialistadaáreadecultura,querecebeumuitobemoconviteparaescreverparaonossoineditorial,quecontaumpoucodessariquezaculturaldaregião.FalardeRecôncavoéfalardeumaculturaparticulareplural,culturadeumgrupoedeumasópessoa,queconstróisuaprópriaidentidade.FoiapartirdaparticularidadedecadaumdenossaequipequeproduzimosumReversocomanossacara!

Os retratos de um Recôncavo

Aprecienossoolhareboaleitura!Aeditora.

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*João de Moraes Filho

Luís

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06 10Taiane Nazaré Laiana Matos Lenise Luz Janaína França

MULHER Duas mulheres guerreiras do Recôncavo contam suas histórias

TRIBOS Conheça grupos do cenário underground de Cachoeira

TRILHAS Navegue pela rota turísti-ca do Paraguaçu

GALERIA Saiba mais sobre o FLICA e dicas de livros, filmes, música e pintura

GASTRONOMIA História e receita da Maniçoba

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FÉ A Reza de Santo Antônio em Saubara

08 SOBE O SOM Entrevista com o cantor de reggae Edson Gomes

08

09 IDENTIDADE A riqueza e a democratização na cultura do cachoeirano Caminhos e memórias do Paraguaçu

09 12

Joaquim Bamberg

Há muito tempo fala-se sobre este assunto. Talvez até mais que quaren-ta anos, quando foi oficialmente reconhe-cida como “Cidade Monumento Nacional”. Reconhecimento mais que merecido, não só pelo seu rico conjunto arquitetônico, mas pela sua importância histórica. Cachoeira foi pal-co de decisivas batalhas pela Independência. Mas o que se viu nos anos seguintes ao tom-bamento foi o abandono, o agravamento da deca-dência do acervo arquitetônico. Já naquela época po-diam ser vistos casarões de 100, 200 anos em ruínas. Hoje a situação não é diferente. Dezenas de edificações ainda permanecem em péssimo estado de conservação. Embora agora existam iniciativas como o programa Monumenta (que recupera o pa-trimônio cultural e urbano), a morosidade brasileira - o bom e velho “empurrar com a barriga” - ainda rei-na. Obras que demoram muito além do tempo pre-visto para entrega, processo de seleção excludente, critérios pouco transparentes e a grande burocracia

Tombamento. Afinal, o que isso realmente significa para Cachoeira?

contribuem para a permanência do atual estado. Há o que comemorar nesses 40 anos? Sim, mas muito ainda precisa ser feito.Certa vez, não faz muito tempo, eu estava fotogra-fando um velho casarão em ruínas, quando uma sim-pática senhora, que visitava a cidade a turismo me falou, “não entendo como ainda tem tanto prédio caindo aqui, faz tempo que a cidade foi tombada.” Mesmo depois de quatro décadas, Cachoei-ra não tem o devido prestígio e zelo que merece.A cidade, mesmo recebendo milhares de visitantes todo ano, não explora o potencial turístico à altura de sua grandiosidade. Falta infraestrutura, falta criar uma consciência de preservação no cidadão, faltam quartos para hospedar os visitantes, falta segurança. O tombamento significa muito mais do que manter as estruturas e fachadas de prédios históricos, é aliar desenvolvimento e modernidade com o mais importante: assegurar que a cultura de um povo de lutas e conquistas se perpetue para gerações futuras.

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Luís

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ahin

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doRecôncavo

Mãe:umserdeamorinfinito,protetoraeorgulhosadasuaprole.Defensoraemaiorfãqueumfilhopodeteremtodasuavida.Guerreiraebatalhado-rafazdetudoparaobemestaresaúdedasuaamadacria.Amelhoramiga,afielcompanheira,aquelaquetemoperdãonocoração.Omêsdemaiofoiomêsdasmães,umadasfigurasmaisimportantesdenossasvidas.Porcontadisso,oReversocontaahistóriadeduasmulheresbatalhadorasdoRecôncavo.Por que não prestigiar as heroínas mais conhecidas por nós?

Mãe realizada Quando cheguei à casa de dona Maria Natividade Pereira Oliveira, um belo sítio localizadono povoado do Alecrim - zona rural deCachoeira-encontrei-ano“can-tinhodapaz”,umespaçodacasadedicadoàfamíliaeamigos.Étam-bém uma espécie de cantinho de recordações, com telas dos familia-reseamigos.Eladizseromelhorlugardacasa.Recebeu-medebra-ços abertos com um largo sorriso enfeitando o rosto e foi logo dizen-do:“Deusteabençoe,minhafilha”. Dona Mariinha, como é chamada carinhosamente por to-dos,tem81anos,nasceuemSãoFélixetemmuitahistóriaparacon-tar. Apesar da cadeira de rodas,donaMariinhaestásempresorrin-do.Empurraaprópriacadeirasemmuitoesforçoefazquestãodeco-mandar as atividades da casa, que elagostaqueestejasemprecheia. Na época em que morava em São Félix, ela costurava numateliê.Em1954,com25anos,ca-sou e foi morar em Candeias por conta do emprego do marido, teve cincofilhosque,segundoela,nun-ca deram trabalho. Tudo ia bematé que seu marido, no golpe de 1964,foidemitidodaempresaquetrabalhava. A partir daí dona Ma-riinha lutou para conseguir criar todososfilhos.Comomaridode-sempregado, passou a costurar em casa para ajudar no orçamen-to e não ficar longe das crianças. Tempos depois, com os filhos já adolescentes, co-meçaram a aparecer sintomas do que mais tarde viria a deixá--la numa cadeira de rodas.

Guerreiras Dores e fraqueza nas pernas, vários exames foramfeitos e uma doença neurológi-ca foi diagnosticada. Assim, elapassou a usar um andador. Fe-lizmente seu marido já estavaempregado e recebeu anistia.Todos os problemas pareciam re-solvidos e compraram um terre-no nos arredores de Cachoeira - a chácara Oliveira -onde vivematé hoje. No entanto, a força quedona Mariinha fazia para susten-tar o corpo no andador começou a prejudicar os músculos de seus braços, a única alternativa foi passar para a cadeira de rodas. Apesar de tudo, ela seguiu em frente com vontade de viver e nunca abandonou o sorriso, graças tambémaoamordosfilhoseami-gos que hoje enchem a sua casa de alegriaacadadatacomemorativa. Com cinco filhos, quinzenetoseoitobisnetos,ocoraçãodedona Mariinha ainda tem espaço para muitas crianças. Todo Natalela alegra inúmeras crianças da co-munidade do Alecrim com a cam-panha dos “Amigos Solidários daChácaraOliveira”.Elapedeatodosque frequentam a sua casa para doarem brinquedos para crianças deaté12anos.Éfeitoumcadastropara ter o controle da quantidade de brinquedos que serão compra-dos para as meninas e para os me-ninos.Alguns dias antes do Natalé realizada uma festa na chácaracom direito a música, pipoqueiro e tudo que criança gosta. “Se fal-tar brinquedo, eu dou um jeito de comprar,oquenãopodeéalgumacriançaficarsempresente”.

AlgunsdiasantesdoNatalérealizadaumafestanachá-caracomdireitoamúsica,pipoqueiroetudoquecriançagosta.“Sefaltar brinquedo, eu dou um jeito de comprar, o que não pode éalgumacriançaficarsempresente”.Elamefalaempolgadasobreoprojeto.Alémdascrianças,asmãestambémpodemserpresente-adasatravésdesorteios.DonaMariinhahojeconquistoutudoqueumdiapediuaDeus,éumamulherrealizada.Paraelaétempoderetribuir.

Elamefalaempolgadasobreoprojeto.Alémdascrianças,as mães também podem ser presenteadas através de sorteios.

“Ela seguiu em frente com vontade de viver e nunca

abandonou o sorriso”Ta

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Larissa Araújo

Mul

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Dona Mariinha no seu cantinho predileto da casa

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doRecôncavoGuerreiras GASTRÔ

A Maniçoba, também conhecida como feijoa-daparaense,éumdospratosdaculináriabaiana.Deorigem indígena, era preparada quando iam festejar algum acontecimento importante. O aspecto visualnãoéumdosmelhores,masosabor...hum!Naci-dade de Cachoeira é o prato mais famoso e muito procurado por turistas e os próprios cachoeiranos. O preparo não chega a ser difícil, mas fa-zermaniçobadámuito trabalho.Amaniva, folhadamandioca brava, deve ser lavada até retirar todo o sumo.Após lavada,épreciso ferventarpor trêsve-zes,poisafolhacontémácidocianídrico(umasubs-tânciavenenosa)e,porisso,devesercozidaporvá-riashoras.Umsegredo:ocozimentodeveser feitosematampaparaqueatoxinaevaporemaisrápido. Depois da tratada, acrescenta-se água napanela e é hora de colocar primeiro as carnes se-cas–decozimentomaisdemorado.Depoisdemeiahora, acrescenta-se carne de boi defumada, touci-nho, bacon, linguiça, paio e costela. Quando todasas carnes estiverem no ponto, pode se preparar para comer: amaniçoba está pronta! E para os palada-res mais peculiares: coloque uma concha de leite decastanhadoparánovinhaparaacentuarosabor. Deve ser servida com arroz branco ou farinha, uma pimentinha também vai bem. Curiosidade: A maniçoba criada pelos in-dígenas já sofreu influência dos colonizadoresbrancos, que acrescentaram os defumados. Hojeem dia, esta iguaria é preparada com os mes-mos ingredientes utilizados para o preparo da fei-joada, só que o feijão foi substituído pela maniva.

Mãe protetora Quem vê o sorriso no rosto de Jadsiane Cruz dosSantosnão imaginaabatalhadiáriaqueelavivepararcui-dardetodososfilhos.Aos27anos,Jadeémãede4filhos:três meninos e uma menina. Nascida em Cachoeira, des-demuitonova já lutavaporumavidamelhor, vendia frutasna época da escola e ainda aguentava a crítica dos cole-gas.Aos19casoueumanoseguinte já teveoprimeirofi-lho. Neste período trabalhou numa empresa e fez faxinas. Quandoestavacom22anoseasuaterceirafilhacom-pletou6mesesdevida,umareviravoltaaconteceunocotidia-noda família.Apequenacomeçouasentirdoresnocorpo,nãoconseguiaficardepénemsentar,choravaotempoin-teiro.Jadelevouafilhaaváriosmédicos,fezmuitosexames,suspeitaramdemuitasdoenças,masnadafoidiagnosticado. Trêsmesesdepoiscomumaressonânciamagnéticaocâncerfoidetectado,umneuroblastomanacoluna,câncerco-mumemcriançaspequenas.Apartirdessediaalutapelavidadapequenacomeçou.JadefoimoraremSalvadorcomafilha,enquantoomaridoeosoutrosfilhosficaramemCachoeira. Todososdiasela levavaafilhaparaohospitalparafazeraquimioterapia,das7hàs19h.Comopassardosdias,a saudade foi apertando e ela resolveu alugar um quartinho nobairroCuruzue levar todaa família.Foram temposdifí-ceis,nessaépocaelaeomaridoestavamdesempregados.

Nosdoisanosdetratamento,comtantapreocupaçãoesofrimento,Jadedesenvolveuproblemasdepressão.Duranteesseperíodo,jáaofinaldotratamento,elateveoseuquartofi-lhoenemsabiaqueestavagrávida!Trêsdiasdepoisestavanohospital com o recém-nascido para acompanhar o tratamento dafilha.Tratamentofinalizado,afamíliavoltouparaCachoeira.

Quando eu lembro da folha da mandioca,mãe...

Osaboreosegredodamaniçoba

Layla Scher

Taia

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Dona Mariinha no seu cantinho predileto da casa

Jade, retrato de uma mãe dedicada

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-O Hip Hop tem como significado a arte de mexer os quadris. É também uma disputa

de criatividade. Teve sua origem com negros dos Estados Unidos na década de 60,

especificamente nos guetos e favelas. Na Bahia o movimento é novo, tem apenas 15

anos de existência e é uma vertente de um grupo organizado que abrange todo o país - o

Posses. Em Cachoeira, a tribo ainda é pouco divulgada, mas os rappers que vivem na cidade

lutam por um melhor reconhecimento do estilo. A cultura musical mais forte no Recôncavo é,

sem dúvida, o samba de roda - difusora das raízes africanas, que através do canto e gingado

propaga a sua história.Quem nunca foi no Samba de Dona Dalva, quem não conhece Dona Filhinha ou não escutou

Edson Gomes? Você já ouviu falar em Moura Black, Braza Villy ou Paco Ozói?

Moisés, conhecido como Moura Black, começou a gostar de rap ainda pequeno, quando sua mãe comprou uma televisão em preto e branco: “uma sineral!”, enfatizou nostálgico. Sintonizando os canais, apareceu a antiga TV Manchete com o programa Furacão 2000. Isso em 1987, desde então ficou fascinado com o estilo.

No Parque de Exposições em Salvador, houve um evento da CUFA - Central Única das Favelas do Rio de Janeiro, que contou com a presença de MV Bill. “Ele curtiu o meu show e disse que não conhecia esse outro lado de Cachoeira, achava que era só samba de roda”. Disse Moura Black sobre o dia em que conheceu MV Bill.

Moura fazia um curso técnico, mas deu um tempo e fez do Hip Hop seu estilo de vida. Na sua casa, montou seu estúdio: o computador, fone de ouvido e aparelho de som, que são instrumentos fundamentais para criar suas bases. No seu trabalho pude perceber ritmos típicos da região, como o som do berimbal, tambor e atabaque, mesclados as pesadas batidas americanas e mixagens.

Ele me diz que estuda bastante literatura

e atualidade para refletir sobre o mundo e, sobretudo, Cachoeira. Isso serve de inspiração para suas composições inteligentes com o objetivo de fazer as pessoas pensarem o lugar em que vivem.

Berimbau, mixagens

rimasDançaeBatidas,

e batidas americanas _>

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Laiana Matos

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“E aí, não quer dar uma canja, não?” Essa era a pergunta mais frequente que um amigo de Moura, Carlos Bahia, fazia para ele. O irônico é que Carlos tocava numa banda de pagode. Sim, pagode!

Mas misturar faz parte e Moura fazia algumas participações nas bandas dos amigos. Através de Carlos, Moura conheceu Braza Villy que também curtia o som. Eles participam de um coletivo, o PCA - Preto Consciente Atual, em que se discutem e compõem sobre a realidade da região, mas sem uma periodicidade de ensaios.

Braza Villy, que recebeu esse apelido da avó por causa da capital do Congo - Congo-Brazzaville, passou um tempo em Salvador participando de bandas de lata, como Raízes da África e Raio Solar. Fez parcerias com o Olodum, Timbalada e Carlinhos Brown, elaborou composições para axé, reggae e samba reggae. Ele já escutava rap, mas foi com o pessoal do bairro de Cosme de Farias, em Salvador, que teve um contato mais forte com o Hip Hop, no grupo Negros do Quilombo. Logo estava compondo com o pessoal.

Braza comentou que este é o estilo que mais se identificava, por conta da maneira que se aborda a realidade. Teve também influência de bandas como Racionais, Braço da Justiça e MV Biil.

Os ensaios e reuniões com a galera acontecem em sua casa, pois o grupo não dispõe de espaço próprio. As apresentações de Hip Hop acontecem, mas isso não impede que eles dêem uma “canja” nos shows dos amigos, não importando o estilo musical.

Enquanto as bandas nacionais que se apresentam em Cachoeira têm um cachê altíssimo, os rappers da cidade têm que locar espaço, caixa de

som, pagar para se apresentar. Percebi na conversa com Moura Black e Brazza Villy, que a falta de colaboração por parte das autoridades é comum

aos grupos sem representatividade perante a sociedade. Isso gera um preconceito que é divulgado sem nenhum pensamento crítico.

A relação com outros estilos é uma parceria mútua, a exemplo da tribo do skate - uma galera que escuta muito o Hip Hop para praticar o esporte. O

estilo desses grupos expressa a realidade sem uma forma padronizada do transmitir. O que vale é falar a verdade. Um apoiando o outro em busca da

reflexão sobre como nossos direitos estão sendo conduzidos e tratados.A tribo do skate também é um grupo pouco conhecido pela comunidade de

Cachoeira. Geovane Allan, o Paco, participou de um grupo há algum tempo, com mais ou menos 10 integrantes, que agora estão afastados, porém,

pensam em retomar a atividade. Paco está articulando com os parceiros essa volta do hobby e tenta por em prática alguns planos antigos. A turma

não tem um nome, no entanto, tem planos de propor às autoridades alguns projetos para a comunidade, entre eles o de oferecer oficinas do esporte.

O coletivo que abordamos até então, é composto basicamente por rappers. contudo, existem no município, grupos que praticam também a dança:O GAMGE – Grupo de Apoio ao Menor Gotas de Esperança - trabalha

com meninos e meninas de Cachoeira em atividades artísticas que visam uma melhor formação educacional e humana. A oficina de dança de Hip Hop

surgiu por parte dos alunos numa conversa com o professor Samir Suzart, que durante dez anos fez parte do grupo Companhia Duanas Ritmos – onde

aprendeu jazz e dança de rua.

-rimas

faz parte!

DançaMisturar...

Resistência através da música

Em entrevista ao

Reverso,Samir Suzart

fala um pouco da

relação com o ritmo

e o projeto que

ministra.

“Quando a banda é conhecida, tem nome, é pela resistência daqueles que acompanham a trajetória, que aplaudem,

apoiam e incentivam. Por parte do governo é ilusão esperar este apoio,

principalmente para as bandas locais”, disse Brazza.

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Reverso: Como se deu seu o contato com o Grupo GAMGE?

Samir Suzart: Fui convidado a fazer parte da oficina do GAMGE há uns 4 anos, porque já tinha feito jazz e dança de rua em Cachoeira e fiz parte de um grupo durante dez anos, a Companhia Duanas de ritmos. Já estava afastado quando fui convidado, eles disseram que queriam fazer uma atividade mais voltada para o Hip Hop e para a Black Music. E em decorrência do desejo deles, fomos nos aprimorando cada vez mais.

R: E o movimento Hip Hop aqui em Cachoeira?

SS: Eu particularmente ainda acho muito fraco, conheço um pessoal do PCA, que faz um trabalho há um tempo mais que é um grupo muito “underground” e tem também o Brazza Villy, que é um compositor e já concorreu no Festival de música junina aqui em Cachoeira.

R: Na oficina só acontece a dança?

SS: Na dança a gente trabalha o companheirismo e valores que podemos adquirir no convívio em grupo, não só a dança em si. Temos aulas de crescimento pessoal e acompanhamento psicológico, são propostas do grupo com objetivo de tentar diminuir o número de jovens nas ruas, abordando assuntos da realidade.

R: O Grupo que você ensina já participou de algum campeonato?

SS: Já. Tem o Festival de Dança do Recôncavo, em São Félix, que acontece geralmente no segundo semestre, ao todo participamos de 4 edições, ganhamos uma vez e ficamos duas vezes em segundo lugar.

R: O que o grupo espera do futuro?

SS: Eu vejo que o GAMGE, o Hip Hop então, ajudam a desenvolver uma capacidade que muitas vezes as pessoas acham que não tem. Hoje eu vejo garotos que podem me substituir tranquilamente, isso é sinal de que está dando certo o projeto.

R: E a comunidade, como você vê a relação com o Hip Hop? Há aceitação?

SS: Ao Hip Hop em si, eu acho que não. Apesar da gente dançar o Hip Hop, a gente não prega a questão do gueto, os valores são outros e vão além da cultura do estilo, embora ela esteja também impressa nisso, mas eu acho que a comunidade valoriza mais pela questão dos jovens estarem incluídos em uma atividade que os afastam das ruas, lhes dando uma ocupação.

R: E o incentivo por parte das autoridades?

SS: O GAMGE dia 12 de maio completou 14 anos e eu acho que é muito pouco, eu falo como morador de Cachoeira, eu acho muito pouco o apoio que eles recebem pelas autoridades por fazer um trabalho direto com a comunidade. E em relação ao Hip Hop em Cachoeira é a mesma coisa, não há espaço.

Parcerias

Hip Hop como estilo alternativo de dança

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a Santo AntônioORecôncavo Baiano tem

uma cultura versada, prin-cipalmente, nas raízes africa-nas e no sincretismo que se deu no encontro com as re-ligiões que, hoje, compõem um pouco da cara do Brasil.A religiosidade tem uma força mui-tograndenaorganizaçãoculturaldessascidades,enãosóasreli-giões de matrizes africanas domi-namestecampo.Aigrejacatólicatambémtemasuaporcentagem.Quando não está sincretizadacom as manifestações afro-bra-sileiras,essareligiãoganhaumadimensão independente maior.Em Saubara existe uma ma-nifestação cultural volta-da para o catolicismo visan-do valorizar o costume dos saubarenses: a reza de Santo Antônio - realizada desde 2006

pelo Grupo Melhor Ida-de – formada por pessoas da terceira idade. “Aqui amaioria das famílias rezam ‘SantoAntônio’outemumfilho ou filha com o nomeem homenagem ao Santo ‘AntônioouAntonia’”,dissedona Maurícia Moreira Vi-tal daSilva,para justificarocostume.Por conta da hospitaliza-ção de Nilinho, coordena-dor do Grupo da Melhor Idade, dona Maurícia, com o apoio de Rosildo Moreira do Rosário es-creveu um projeto para apreciação da FUNCEB -Fundação Cultural do Es-tado da Bahia, intitulado “5ªRezadeSantoAntoniodeSaubara”.

Fé e Devoção

Caminhos e memórias do

Janaína Carine

Como na cida-de as famíliastinham o costume de “rezar oSantoAntônio”em casa, resolveram se juntar e fazer uma grande reza na praça publica no dia 13 dejunho. Segundo donaMaurícia, a festividade do Santo Antônio tema participação das ma-nifestações culturais de Saubara,de11a13dejunho, regados aos gru-pos de samba de roda, Barquinha e a Chegan-ça e comidas típicas juninas, gerenciada pe-las pessoas da Melhor Idade, que produzem os alimentos e vendem para seu benefício.

SaindodoPortodeCachoeira,próximoarua25dejunho,temosemvistacomoseráatrajetóriadebarcopelaságuasdoParaguaçu.Aviagemcomeçapelamanhã,horárioemqueaságuasaindaestãonavegáveisequepermiteteralémdeumaida,umavoltatranquila,semperturbaçõesnaságuas.O principal propósito da viagem é, sem dúvidas,

os caminhos e as memórias do Paraguaçu. Conhe-cer e desmistificar um pouco da história que esse tra-jeto conta. Rota que, nem sempre é lembrada, massempre presente no dia a dia do povo do Recôncavo.A primeira parada é o Engenho Vitória, um dos mais importantes engenhos de açúcar do Brasil Império.Esse trecho do rio é cheio de memórias de um povo aprisio-nado,noentanto,umpovoquelutaedealegriainabalável.

Rel

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Juliana Rezende

Lenise Luz

Leni

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Leni

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Reverso: A sociedade costuma associar o re-ggaeàmaconha.Vocêachaqueissofazcomqueamídianãodêtantaatençãoaogênerocomo mereceria?

Caminhos e memórias do

A MÚSICA MEDE O NÍVEL CULTURAL DE UMA REGIÃO?

Um artista cachoeirano que se destacou pela música foi Edson Gomes. O cantor e compositor de reggae nasceu em setembro de 1955 e iniciou sua carreira em 1985, no Festival Canta Bahia de Feira de Santana. Seu primeiro hit nacional foi música Samarina, lançada em 1988. Daí em diante este cantor conquistou espaço e respeito no meio musical.

Edson Gomes fala ao Reverso um pouco sobre sua carreira e dos diversos fatores sociais que tanto critica em algumas canções:

Janaína Carine

Edson Gomes: Prejudica um pouco ou talvez atémuito.Oreggaeérealmenteassociadoàmaconha,entãoeu,comoartistadereggae,sintonapeleadesvalorizaçãoeàsvezesnãosomosvalorizadosexatamenteporesseestig-maquepropagaamúsicaàmaconha.

R.: Vocêjáfezcomposiçõesparaoutrosgrupos?EG: AúnicacomposiçãoqueeufizfoiparaoseriadoÓPAIÓ,MercadoBranco.Masváriaspessoas gravaram músicas minhas, como Sarajanequandoestavanoauge.GravouRastafari,HistóriasdoBrasil...Mascomporexclusivamenteparaoutrosartistas,não.

EG:AúnicacomposiçãoqueeufizfoiparaoseriadoÓPAIÓ,MercadoBranco.Masváriaspessoas gravaram músicas minhas, como Sarajanequandoestavanoauge.GravouRastafari,HistóriasdoBrasil...Mascomporexclusivamenteparaoutrosartistas,não.

R.:Vocêjáfezcomposiçõesparaoutrosgrupos?

R.: Comovocêestávendoomercadomusicalde nosso país nesse momento?EG: Umalástima.Euachoqueamúsicabrasi-leirapraticamenteacabou.NósaquidaBahiasomosunsdosresponsáveisporisso.

R.:ComovocêvêoscantoresdaquidoRecôncavonocenáriodamúsica?

UmaconversacomocantorecompositordoRecôncavoEdsonGomes

EG:Aquelesquefazema“garapa”sãoapadrinhadospelosistema.Aquelesquenãoqueremprotestarnadasãoosquenormalmenteestãotrabalhando,estãocomaagendacheia,temosmaiorescachês.Oquevejoé somente uma andorinha resistindo e protestando, enquantoosdemaisqueestãoganhandodinheironãoestãonemaíparaosproblemas.Aspessoasestãoconhecendoasminhasmúsicasdeprotestode88e89agora.

R.: Percebemos que nas letras de algumas músicas váriossetoresdaSociedadesãocriticados.Oquevocênosdizsobreessesfatores?Jáfoivítimaouésomente uma forma de protesto?

EG: Nóssomosvítimasdiariamentedopreconceito.EujáfuidiscriminadoeinclusiveamúsicaBarradoséumfatoverídico.EumoravanoCabula,bairrodeSalvador,estavaindoemdireçãoaomeucarroeumasenhorabrancaquandomeavistouprotegeuabolsa.Todosnósqueentramosnumarepartiçãobancária,mesmoosvigilantessendonegros,ficammaisespertoscomagente.Sónãosomosdiscriminadosquandosomosconhecidos.Aminhamúsicaéumaformadeprotestomesmo.

R.:Emsuma,pravocêqualéaimportânciadamúsicaparaasociedadeemsi?Aletrainduzounãoosindivíduos,sejaelanocaráteroumesmonocomportamento?

EG:Amúsicaédesumaimportânciaquandoéreal(falaaverdade).Auxiliaosindivíduosnoconhecimento,ajudaaidealizar a forma da maneira de pensar, induzem as pes-soasàmeditação,eéusadaparareivindicarosdireitos.Atravésdamúsicapodemosmedirasituaçãoeonívelculturaldeumanação.Porissodigoqueonívelculturaldonossopaísépéssimo.Todomundogostademúsica,nósvemosumamultidãoatrásdostrios.Éesseonívelculturaldonossopaís.Portanto,amúsicaédegrandeimportânciaparanossasociedade.

Históriasdeescravosquetrouxeramoritmo,adan-çaeareligião.PartedaculturadeumaregiãoquechamamosRecôncavo,partedaculturadeumpaís.Seguindo viagem, agora a caminho de Co-queiros, nos deparamos mais uma vez com as paisagens do deste rio cheio de memórias.Bancos de areia, vegetação, pássaros que brin-cam coma água e a beleza do próprio rio.De-pois de todos os deslumbres do trecho, che-gamos finalmente ao destino: Coqueiros.Distrito de Maragogipe, Coqueiros expres-

sa a partir da cerâmica as raízes de gerações.O trabalho com o barro e a arte de dar formaa ele é um aprendizado dos ancestrais desse povo que caracterizam a identidade da região.As artesãs, aproximadamente 40mulheres, dão

seguimento a essa memória coletiva. Em Mara-gogipe, temos uma vista digna de ser Recôncavo.A cada trecho de água, a cada parada, uma his-tória que encanta e conta. A cidade, exata-mente no ponto de encontro do rio Paraguaçu com o rio Guaí, é conhecida por seu porto que até hoje é ponto de parada de embarcações. A região era habitada por índios da tri-bo marag-gyp, “rio dos mosquitos”, presentes emquantidade por cercada de manguezais. O nomefoi adaptado e posteriormente deu nome a cida-de.Aviagemsegueatéonossoúltimodestino:SãoFrancisco do Paraguaçu.A região era habitada pe-los índios tupinambás e a partir da segunda meta-de do século XVI foi ocupado pelos portugueses.Lá encontramos o primeiro convento a ser

estabelecido no Brasil, o de San-to Antônio do Paraguaçu,que hoje é tombado pelo Instituto do Patri-mônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O convento foi testemunha das lu-tas dos baianos contra a invasão holan-desa à Bahia e também funcionou como um pequeno hospital com enfermaria.Depois de tantas histórias e memórias, retorna-mos à Cachoeira, nosso ponto de partida. Masdepois de toda essa trajetória de luta que esse riopresenciou,é impossívelencará-lodamesmaforma: sem a reverência que a ele é devida. OParaguaçu,umdossímbolosdoRecôncavo,con-ta e encanta com as histórias de um povo com a identidadeestampadanapele,norostoenafala.

BobMarley,porexemplo,tem30anosdemortoenin-guémsupera,osjovensvãocrescendoquerendoouvi-lo.Porqueémúsica!Mexecomossentimentosdaspessoasverdadeiramente.

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Poisasmúsicasqueestãofazendoaquisãodeumapéssimaqualidade.Ouseja,estãoexterminandoaboamúsicabrasileira.Paramiméofimdostempos.

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Cachoeira receberá entre os dias 16 e 21 de agosto a Festa Internacional Literária de Cachoeira, ou FLICA. O evento foi um dos 19 projetos baianos contemplados pelo edital Oi Futuro 2011, divulgado em 21 de março.A festa literária - o primeiro evento do tipo na re-

gião - acontecerá nos moldes das famosas Feira Lite-rária Internacional de Paraty (FLIP) e Festa Literá-ria Internacional de Pernambuco (FLIPORTO). As expectativas são grandes, pois se espera um gran-de público nacional e internacional, já que o evento acontece logo após a tradicional festa da Boa Morte.O evento baiano terá palestras e mesas de debate com

35 autores locais, nacionais e internacionais, que aconte-cerão na tenda climatizada no centro da cidade e no au-ditório da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A programação ainda conta com quinze atrações musicais para os seis dias de evento. Os shows acontecerão em um palco flutuante montado sobre o Rio Paraguaçu.Segundo a organização, os objetivos da FLICA são

descentralizar ações culturais da capital baiana es-timulando o debate literário na região, inserir no calendário turístico cultural baiano um conceito inédito de “Festa Literária” e, principalmente, incen-tivar o turismo na região, valorizando assim, o pa-trimônio étnico-cultural e histórico de Cachoeira.Apesar do tamanho do evento, a divulgação local é mui-

to tímida. Apenas uma parcela pequena da população cachoeirana está a par do evento. O estudante cachoei-rano Matheus Mascarenhas, 21, diz que nem ouviu falar “dessa tal de FLICA”, mas espera que seja “massa” por causa dos shows. Em contrapartida, boa parte dos estu-dantes e professores do Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB está ciente do evento e muito animada com a sua realização. O estudante de jornalis-mo Fernando Mota, 22, afirma que além de ser muito importante para uma cidade como Cachoeira, a FLICA vai aumentar consideravelmente o turismo na região.A FLICA confirmou a Oi como seu primeiro pa-

trocinador. Atualmente, a produção está direcio-nada para a captação de outros apoiadores e para a confirmação das programações literária e mu-sical, que serão divulgadas entre maio e junho.

Lite

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Arte

Literatura

Leon Sampaio, 23 anos, aluno do 6º se-mestre de Cinema e Audiovisual da Uni-versidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), se inspirou em duas musas para criar A Eternidade, um curta-metragem. A primeira musa, Cachoeira – cidade em que passou a residir – e a segunda, São Félix. As cidades gêmeas, que revelam tanto da vida do interior, com suas lu-zes em outono, o som das filarmônicas e uma pitada caprichada de boemia, inspi-raram o estudante a construir um roteiro sobre o amor impossível. Poderia ser cli-chê se não fosse pela beleza das cidades e se o amor retratado não fosse dramati-zado por duas pessoas da terceira idade. O filme foi produzido em 2009 de forma independente, no segundo semestre de Leon na Universidade. Demorou outro se-mestre para ser editado e em 2010 rodou por festivais. Foi ganhador de dois prêmios: O melhor curta baiano, do Festival de Ci-nema Universitário, e Prêmio do Júri pelo Salão de Artes Audiovisuais do Recôncavo.

Mais informações: >> www.filmeaeternidade.blogspot.com

Luz, câmera... Ação!

Tio MaruzoA banda, incialmente formada em Itabuna no ano de 2006, vem ganhado espaço no Re-côncavo. Um rock que mistura garagem,reggae, dub e mpb nas suas apresentações musicais.Atualmente a banda é com-posta por Saulo Leal (vo-cal e guitarra), Bebel (baixo) e Gets (bateria).

Se a curiosidade bater, visite: www.myspace/bandatiouzo.com

Nos Moldes da

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Rodrigo Valverde

Galeriapor Janaína França

Divulgação

Divulgação

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“Um pinguinho de tinta cai no pedacinho azul

do papel...”Renato Kyguera, nascido e residente de Cachoeira, 31 anos, sempre gostou de de-senhar. Aos 5 anos os lápis de cor e os pa-péis eram seus amigos íntimos. Este laço, com o passar do tempo, só foi se estrei-tando. Na escola era sempre “o cara” e a galera o idolatrava, porque fazer o que nem todo mundo sabe, te dá destaque.Sempre gostou dos detalhes das pessoas, do rosto e da expressão. Assim, se interes-sou pelo efeito das tintas. Foi mais com-plicado, claro. Lápis é mais firme, tinta... Bem, tinta se espalha toda e faz bagunça na tela. Pintou alguns quadros que de-pois de considerar horríveis jogou fora.Renato considera seu primeiro qua-dro a pintura de um menino com o qual sonhou: “eu precisava registrar a ex-pressão dele, para não esquecer de-pois”. Foi assim que Kyguera, auto-didata, entrou no mundo da pintura. Ele revela que se inspirava nos trabalhos expostos no Pouso da Palavra e em ou-tras galerias de Artes Plásticas, inclusive em algumas de Salvador. Até que um dia, curioso, foi ao Pouso e perguntou como se fazia para ele ter os quadros dele ex-postos. Apresentou alguns trabalhos e ouviu de Damário Dacruz: “ridículo, mas satisfatório”. “Não sei ouvir a opinião dos outros”, Renato revela, e diz que tal-vez tenha sido por isso que não desani-mou quando ouviu a crítica de Damário. O mais incrível é que nunca usou o dinhei-ro da arte para outra coisa que não fosse arte. O dinheiro conseguido pelos quadros que vendeu em todos os seus 10 anos de pintor, sempre foi usado para comprar mais material para outras pinturas. Arte pela arte, literalmente. Afinal, o produ-zir dele é por paixão, hobby, afinidade. Como ele fala: “sempre foi por prazer”.

A música aproxima as pessoas! Foi o que aconteceu com os integrantes da banda Escola Pública. Uma reunião de colegas da UFRB mostrou afinida-de na hora que os primeiros acordes foram tocados, assim de brincadeira. Hoje a banda (com dois anos e meio) já tem um perfil mais sério, de estilo ain-da indefinido, algo, talvez, meio samba rock and roll. Com repertório próprio, a Escola Pública, traz em suas letras críticas à sociedade em suas formas de po-lítica e construção social. Falam do modelo de exploração e esvaziamento da imagem através da mídia e da forma de manipulação negativa que esta exer-ce. Além disso, em outras combinações de notas, traz também o sentimen-to, as emoções e a religiosidade – muito marcante e que exala o Recôncavo.A banda é composta por Breno Tsokas (baixo e percussão), Ícaro de Oliveira (cavaquinho e violão), Pedro Patrocínio (voz e violão), Lucas Pereira (bateria), Flávio Santos (trompete) e pelas backing vocals Joana Almeida e Camila Yallouz.No dia 18 de junho será colocado em redes sociais seu primeiro clipe, elaborado por um grupo da disciplina Produção de Cinema da UFRB. A música escolhida foi Socorro, meu Deus! Por trazer elementos da mídia cotidiana - principalmente os programas sensacionalistas – comuns no modo de se informar das pessoas.

Mais informações: www.bandaescolapublica.wordpress.com

Ordep Serra, 67 anos é um dos maio-res antropólogos da Bahia. Viveu um período da sua vida em Cacho-eira. Além disso é ganhador bicam-peão do prêmio nacional de litera-tura (Braskem) da Academia Baiana de Letras (ABL) em 2008 e 2010.Ordep traz em seu livro Sete Portas, contos sobre as cidades de Cacho-eira e São Félix. Com uma narrativa leve, madura e um tanto engraça-da ele conta “causos” das duas cida-dezinhas pitorescas. Revela na sua narrativa um pouco do misticismo que as cidades gêmeas exalam, o modo de viver antigo misturado ao atual desses lugares. Suas persona-gens são bem desenhadas quanto ao perfil do homem do recôncavo, seu jeito de falar e seus costumes.

Divulgação

Leon

Sam

paio

Sete Portas

Se a curiosidade bater, visite: www.myspace/bandatiouzo.com

Escola Pública

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Jana

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Fran

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“Cachoeira, ô terrinha boa!” Foi o que ouvi de um turista enquanto fazia esta matéria. E quando eu perguntei o que ele mais gosta-va, respondeu sem hesitar: “Ora, a cultura”.As manifestações culturais são a arte de cultivar a identidade que caracteriza e representa a “cara” da sociedade. No Re-côncavo baiano, a diversidade cultural deriva principalmente da interação do sincretismo religioso: a mistura das reli-giões afro-brasileiras com o catolicismo. “A terrinha boa” citada no início do tex-to vem da força do povo para manter suas

A Secretaria de Cultura e Turismo de Cachoeira definiu para 5 de junho as eleições para a escolha dos representantes do Conselho Municipal de Cultura, com local a ser escolhido.As eleições serão abertas e decididas por cada segmento, que deve ser composto por oito membros representantes da so-ciedade civil e sete do poder público, com mandato de dois e um ano, respectivamente. A decisão foi discutida em audiên-cia pública realizada no dia 4 de maio, na Câmara Municipal,

O que Cachoeira tem?

tradições vivas e presentes. É assim que Cachoeira exibe sua diversidade: do tra-dicional Samba de Roda, passando pelas Filarmônicas e Feiras Populares, até as co-memorações do dia 25 de junho, que fes-teja as guerras de Independência da Bahia.Todos esses movimentos comunicam-se com o povo e é ele que melhor expressa a cultura. Minha mãe sempre diz que "bom mesmo é conversar com os mais velhos”. Particularmente, acho que ela tem razão, pois são eles que sabem contar as histórias que compõem o imaginário popular, len-

História, música, cor e samba no pé!das, fantasias ou coisas do cotidiano. São eles quem cantam, vendem nas feiras livres, trabalham e todo dia contribuem na perpetuação cultural. A expressão da cidade vem da fe-licidade das pessoas em forma do som típico ou nas fantasias para as festas. Assim, essas manifestações reproduzem uma vontade comum: a reunião de gostos que exala e chama as pessoas a se juntarem, a compartilhar um sentimento envol-vente. É essa alegria de estar jun-to que reflete na formação de uma identidade. As novas gerações já enxergam a importância de manter vivas as tradições, mas de um jei-to próprio reformulam e adequam uma realidade diferente da de seus

antecedentes. Os projetos culturais tam-bém ajudam a entender o passado com o pé no presente e construindo o futuro. A cultura não é algo programado e re-gulamentado, é muito mais. As manifes-tações culturais representam o dia a dia de cada pessoa que habita a cidade. As pessoas crescem vendo, ouvindo e sen-tindo os movimentos da cultura que en-cantam. Por isso não é difícil de ver em cada canto de Cachoeira alguém sam-bando, fazendo um batuque ou, simples-mente, mostrando o que Cachoeira tem!

mediada pelo secretário de Cultura e Turismo Lourival Trindade.A criação do conselho é um dos critérios exigidos pelo decreto lei nº 876/2010, que “dispõe sobre a criação do sistema municipal de cultura e dá outras providências”. No artigo 4º, por exemplo, são definidas algumas das suas finalidades: como formulação de polí-ticas e diretrizes para o Plano Municipal de Cultura; garantir a ci-dadania cultural; defesa dos patrimônios culturais e artísticos do município; fiscal do Fundo de Cultural, entre outras atribuições.

Democratizar, popularizar, avançar com a cultura!Eleições do Conselho Municipal de Cultura de Cachoeira marcadas para dia 5 de junho

Lorena Morais

Josiane Nascimento

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