Revestimento - Apostila

download Revestimento - Apostila

of 17

description

apostila de revestimento

Transcript of Revestimento - Apostila

  • APOSTILA RESUMO

    Prof. Angelo Just da Costa e Silva (MSc.)

    Recife, 2008

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 2

    O presente trabalho se inicia pela discusso de conceitos bsicos para o entendimento da tecnologia de revestimentos, e apresenta uma descrio das camadas que compem os revestimentos, envolvendo caractersticas influentes da base, chapisco, argamassa de emboo, contrapiso, adesiva e seus elementos decorativos (placa cermica, gesso, pintura). Em seguida apresentada uma breve discusso acerca dos procedimentos de execuo adotados nos revestimentos aderidos. Por fim, descrito um estudo acerca da normalizao brasileira pertinente ao assunto, alm de bibliografia de referncia para consulta.

    1. CONCEITOS BSICOS

    De uma maneira esquemtica, h dois mecanismos que condicionam a ancoragem entre os componentes, os processos fsicos e os qumicos (ITC, 1997), alm daquele decorrente de uma combinao entre eles.

    A ancoragem fsica relativa a um encunhamento mecnico ligado penetrao e endurecimento da fase lquida da pasta aglomerante nos poros dos materiais da base ou do revestimento (Costa e Silva, 2001). Carasek (1996) estudou este mecanismo e verificou que, no caso das argamassas base de cimento Portland, trata-se de um fenmeno que decorre do intertravamento dos cristais de etringita no interior dos poros do material.

    J o mecanismo de ancoragem qumica contempla a formao de uma ligao qumica entre a argamassa e o material aderido. Segundo Lichteinstein; Souza (1988), esta atrao, classificado como intermolecular, decorrente de processos qumicos ou ligaes secundrias de Wan der Waals. Galembeck (1985) explica detidamente esse fenmeno de interao entre molculas, vista de uma tica microscpica, da ordem de milionsimos de milmetros.

    Desta forma, vrios so os parmetros que podem influenciar na aderncia de revestimentos, desde aspectos relacionados s propriedades intrnsecas dos materiais, como porosidade e absoro de gua do revestimento, e a capacidade de reteno de gua da argamassa de assentamento, at os procedimentos adotados durante a produo, os quais podem ser responsveis por uma maior extenso de aderncia1 ou, em outro extremo, pela ocorrncia de vazios de preenchimento no verso (tardoz/dorso)2 da placa.

    A absoro de gua dos componentes do revestimento deve estar compatvel com a capacidade de reteno da gua da argamassa e com as condies de exposio s quais permanecero expostos, especialmente durante a produo.

    Uma vez que argamassa, durante a etapa de produo, pode perder a sua gua de constituio tanto para os componentes a ela aderidos como para o ambiente, observa-se geralmente uma disputa de fora entre os elementos envolvidos, confirmando a necessidade de conhecimento destes parmetros para a definio da argamassa apropriada para cada situao.

    As argamassas de assentamento normalmente apresentam, na sua composio, alm de aglomerantes e agregados, aditivos base de celulose, com o intuito de promover maior tempo em aberto3, e conseqente aumento na sua capacidade de reteno de gua, e polmeros, que servem para incrementar a sua resistncia de aderncia, especialmente por meio de mecanismos qumicos de ancoragem.

    No tocante aos aspectos relativos produo, os principais fatores de influncia na resistncia de aderncia so o grau de preenchimento da argamassa no verso da placa e a prpria extenso de aderncia, os quais so bastante dependentes entre si.

    intuitivo imaginar que, numa placa cermica, por exemplo, uma vez que ela colada na base por meio de uma argamassa, quanto menor a rea de contato da cola, em relao rea total da superfcie a ser aderida, mais fraca ser a fora necessria para desprender o material, considerando a mesma argamassa.

    1 A extenso de aderncia a rea de espalhamento da argamassa de assentamento em contato com a base ou revestimento, a qual pode gerar mecanismos de ancoragem entre essas camadas. 2 Placas cermicas: tardoz placas de rocha: dorso. 3 Grandi (1989) define essa propriedade como o tempo que intercorre entre o espalhamento do adesivo na parede e o momento em que ele no mais apresenta capacidade de colagem de maneira conveniente.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 3

    Assim, a extenso de aderncia um indicativo da quantidade de rea onde a argamassa de assentamento est presente, e o grau de preenchimento apresenta o percentual de vazios da argamassa existente no verso da placa, em relao rea total de contato.

    Os fatores influentes para a obteno de uma adequada extenso de aderncia esto ligados principalmente aos procedimentos de produo. O mtodo de assentamento empregado com a utilizao de desempenadeira dentada para estender a argamassa de assentamento na base para posterior colocao do revestimento requer uma srie de cuidados para evitar o surgimento de vazios de preenchimento.

    Neste caso, fundamental que a espessura dos cordes formados seja suficiente para preencher todo o verso da placa aps a prensagem. Para isso, necessrio que os dentes da desempenadeira estejam com espessura mnima de 6mm, a prensagem das placas seja o mais eficiente possvel, preferencialmente por meio de percusso com martelo de borracha, e o tempo de espalhamento da argamassa esteja de acordo com as condies ambientais da regio e com a sua especificao. A reologia4 da argamassa utilizada tambm tem influncia, uma vez que a sua trabalhabilidade determinante no tocante facilidade de espalhamento da argamassa e conseqente incremento na sua extenso de aderncia.

    Outro aspecto a ser considerado a limpeza da superfcie a ser aderida. comum a presena de engobe de muratura no tardoz das placas cermicas, o qual um talco branco utilizado para evitar a aderncia da placa aos rolos do forno durante o processo de queima do biscoito. Mesmo procedendo limpeza com gua, lixamento etc., boa parte deste material no consegue ser removida, gerando, com isso, regies nas quais a ancoragem mecnica da argamassa fica comprometida.

    J nas placas de rocha, observa-se tambm a ocorrncia de poeira no dorso da placa decorrente do processo de serragem5 da placa, ou mesmo durante o seu transporte e armazenamento, o que pode tambm dificultar a penetrao fsica da argamassa. Alm disso, caso no seja realizada a limpeza, corre-se o risco ainda da ocorrncia de manchamento aps a aplicao do revestimento, especialmente no caso de placas claras, como o mrmore carrara, por exemplo.

    2. PROPRIEDADES DOS ELEMENTOS CONSTITUINTES

    2.1. O revestimento e a edificao

    A edificao, tal qual o corpo humano, pode ser considerada como constituda por diversos sistemas. Cada um desses sistemas (fundao, estruturas, vedao, revestimentos, instalaes, etc.) pode ser analisado em separado, considerando a sua importncia e peculiaridades mais significativas, para que em seguida possa ser estudado o comportamento global. Essa distino muito empregada, por exemplo, para a elaborao de oramentos, o que facilita bastante a interpretao dos custos envolvidos conforme a atividade considerada.

    A partir desse conceito, pode-se interpretar a edificao como o sistema (macro), sendo as vrias etapas integrantes da produo os seus subsistemas. Assim, os revestimentos so parte integrante do subsistema vedao vertical, o qual apresenta funes especficas para um bom desempenho do conjunto. Alm disso, assim como qualquer outro elemento do sistema, os mesmos no devem ser analisados em dissociao do conjunto no qual ele est inserido, no caso, a edificao.

    2.2. Camadas e componentes constituintes

    Conforme as necessidades estticas e de desempenho que venham a requerer, os projetistas dispem de muitas opes e tipos de revestimentos que podem ser empregados nas suas composies. Os sistemas de revestimento podem partir de uma concepo relativamente simples (como uma fina pelcula de

    4 Reologia originada da palavra grega rhein que significa escorrer, podendo ento ser definida como o estudo da deformao e escoamento da matria (Tanner apud Rago, 1998). 5 A serragem consiste na atividade de cortar os blocos oriundos da lavra pedra bruta, produzindo chapas com espessuras pr determinadas, as quais devem seguir ainda para o beneficiamento antes da entrega para o consumidor (Maranho, 2002).

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 4

    pintura), at sistemas significativamente complexos. Os revestimentos cermicos de fachada, por exemplo, compem-se de uma srie de camadas, conforme se observa na figura 1.1.

    Cada uma das camadas deve apresentar caractersticas particulares no sentido de proporcionar ao revestimento, e por conseqncia tambm edificao, as melhores condies para que o seu desempenho seja satisfatrio.

    Inicialmente, pode-se dizer que a primeira camada que compe o revestimento o emboo. Porm, como ele assentado sobre uma camada de suporte, a base, necessrio que sejam entendidas algumas de suas caractersticas, uma vez que elas podem interferir no comportamento do revestimento.

    Base

    Nas obras correntes, a base normalmente composta por alvenaria de blocos cermicos, ou de concreto, e tambm pelos elementos da estrutura de concreto (vigas, pilares, etc.), caso a edificao apresente estrutura convencional.

    As caractersticas intrnsecas aos materiais da base mais importantes, e que podem influenciar no desempenho do revestimento, so a capacidade de suco de gua e a textura superficial (rugosidade).

    A capacidade de suco de gua importante pois, como a argamassa de emboo apresenta gua em sua composio, durante a sua execuo uma parte dela perdida para o prprio ambiente, outra para a hidratao do cimento e, por fim, uma parcela perdida para a base.

    Essa interao responsvel pelo surgimento de uma ancoragem fsica (ou mecnica) entre os componentes, de modo que a gua presente na argamassa penetra nos poros da base, levando consigo o

    Figura 1.1. Base, camadas e componentes constituintes dos

    Argamassa de emboo

    BASE: Concreto e alvenaria

    Mastique elstico -Selante

    Limitador de profundidade

    Argamassa de rejunte

    Preparao da base - Chapisco

    Argamassa adesiva

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 5

    cimento e, aps a sua hidratao, so criados embricamentos (espcies de estacas ou agulhas) que promovem a fixao entre os componentes. Fenmeno semelhante ocorre na interao entre uma argamassa adesiva e uma placa de revestimento (cermica, rocha, pastilha).

    As contaminaes da base ou do tardoz da cermica por sujeira, leo, p, graxa, engobe (caso especfico da cermica) etc. impedem o contato da argamassa com a superfcie, formando uma espcie de filme que, por conseqncia, reduz a rea de contato.

    Outro tipo de ancoragem que pode haver entre as camadas sucessivas o processo qumico, o qual contempla a formao de uma ligao qumica ou eletrosttica entre a argamassa e o material a ser aderido. Esse o mecanismo responsvel pela aderncia que se observa entre superfcies lisas, sem porosidade, ou polidas. Um bom exemplo a colagem entre superfcies de vidro, que no possuem nenhuma porosidade.

    O emprego de resinas ou colas favorece a aderncia em todas as situaes, sobretudo no caso de peas cermicas pouco porosas, nas quais deve ser estimulada a adeso de origem qumica.

    Nas edificaes tradicionais, um grande problema encontrado a diferena entre a absoro de gua dos materiais da base. As estruturas de concreto, em funo da sua menor porosidade e permeabilidade, apresentam uma avidez por gua, ou capacidade de suco, bastante inferior dos blocos cermicos.

    No que se refere s caractersticas fsicas superficiais da base, de se esperar que quanto mais rugosa a superfcie, tanto maior ser a resistncia de aderncia, sobretudo devido ao incremento gerado na resistncia ao cisalhamento.

    Novamente observa-se uma diferena significativa entre as bases em alvenaria de bloco e a estrutura de concreto, presentes nas estruturas convencionais. Enquanto os pilares e vigas de concreto apresentam uma textura lisa, sobretudo quando executadas com frmas plastificadas, os blocos de vedao, em geral, apresentam uma textura mais rugosa, favorecendo o aumento da resistncia ao cisalhamento.

    Chapisco

    A fim de homogeneizar a capacidade de suco de gua e a rugosidade superficial da base, utiliza-se o chapisco, que classificado, na realidade, no como uma camada do revestimento, e sim como uma preparao da base que tem o objetivo de uniformizar tais caractersticas. Por esse motivo, comum se adotar a aplicao de um chapisco encorpado sobre as superfcies de concreto, conferindo a elas maior rugosidade superficial, e um chapisco ralo nos blocos cermicos, regulando a sua avidez por gua.

    O chapisco normalmente empregado de trao em massa 1:3, de cimento e areia, podendo ser adicionada emulso de polmeros PVA, acrlicos ou estirnicos para melhorar a aderncia nos casos onde a base apresentar uma superfcie muito lisa. Importante ressaltar a importncia de se proceder limpeza da base antes da aplicao do chapisco, por meio de escova de ao e jato de gua, a fim de remover todo tipo de sujeira presente (pelcula desmoldante, resto de frma etc.).

    Argamassa de emboo

    Conhecidas as caractersticas da base, e estando a mesma preparada com o chapisco, parte-se para a aplicao da primeira camada de fato considerada do revestimento que a argamassa de regularizao.

    A terminologia clssica apresenta uma distino entre os elementos desta camada. Imediatamente aps o chapisco utiliza-se uma camada grossa para regularizao oriunda da base (desaprumo, desalinhamento etc.), chamada de emboo (emboo paulista), composta por aglomerante (cimento, cal) e areia grossa, com acabamento rstico. Sobre esta camada ento aplicada uma outra argamassa, denominada de reboco (reboco paulista), composta por aglomerante (cimento, cal) e areia fina, com acabamento liso e espessura de 3mm a 5mm. Esta prtica vem sendo pouco adotada em obras correntes, nas quais se costuma empregar apenas uma camada de argamassa (chamada massa nica, ou simplesmente emboo), composta de aglomerante e areia mista (mistura de areia fina e grossa) e com acabamento superficial de acordo como o tipo de revestimento que sobre a mesma se assentar. Por conta destes aspectos observa-se uma confuso constante de terminologia relacionado a este componente.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 6

    De uma maneira geral, a argamassa de emboo deve apresentar uma resistncia de aderncia compatvel com os esforos a que permanecer sujeita, suportando a camada de acabamento aderida sobre ela sem apresentar descolamento. Com isso, importante considerar na preparao do emboo a sua resistncia de aderncia base e a sua resistncia superficial.

    Vrias so as propriedades que a argamassa de emboo deve apresentar para atender as solicitaes s quais permanecer submetida durante o seu uso, podendo-se citar: trabalhabilidade, capacidade de aderncia, resistncia mecnica, capacidade de absorver deformaes, durabilidade, as quais sero sucintamente comentadas a seguir.

    Dentre elas, a trabalhabilidade, embora seja de grande importncia, a mais subjetiva, uma vez que a sua verificao feita de acordo com a experincia do aplicador na obra. Ele determina a quantidade ideal de gua presente na mistura para que a argamassa apresente uma consistncia adequada de modo que possa ser aplicada na parede. As caractersticas fsicas dos agregados tambm influenciam nessa propriedade, sobretudo a granulometria.

    Um dos principais efeitos de uma boa trabalhabilidade, alm da maior produtividade e conseqente satisfao do aplicador, o incremento da extenso de aderncia, em decorrncia da facilidade de penetrao da argamassa nas reentrncias da base, aumentando a sua rea efetiva de contato.

    A tcnica de produo tambm influencia na extenso de aderncia, por conta da eficincia no preenchimento da superfcie a ser aderida. No caso da interface entre a base e o emboo, interessante que haja uma presso uniforme em todo o pano da fachada para garantir a ancoragem.

    A resistncia mecnica e a capacidade de absorver deformaes devem ser analisadas de forma associada, pois, embora sejam ambas desejveis, so inversamente proporcionais. A equao 1, apresentada a seguir, modela a cumplicidade existente entre essas propriedades, uma vez que a medida de deformabilidade do material (), para um mesmo carregamento (), tanto menor quanto maior for a sua capacidade resistente, determinada pelo mdulo de deformao (E).

    = / E, onde: (1) - Deformao unitria (mm/m) - Tenso (MPa) E Mdulo de deformao (GPa)

    A capacidade de absorver deformaes uma caracterstica importante para todas as camadas que compem o revestimento, sobretudo externo, pois a edificao est sujeita s mais diferentes solicitaes, tanto de origem trmica como hidrulica, as quais podem gerar movimentaes diferenciais entre os componentes.

    Sendo a argamassa de emboo um material cimentcio, no se pode esperar que ela tenha um comportamento absolutamente flexvel, como vem sendo veiculado pelos fabricantes (o mesmo se aplica s argamassas adesivas e aos rejuntes). Na realidade, h componentes que podem diminuir a sua rigidez, de forma que as microfissuras geradas em decorrncia das solicitaes sejam em grande quantidade, porm de pequena amplitude, as quais no comprometem o desempenho do revestimento. Nas argamassas rgidas, ditas fortes, os esforos necessrios para quebrar as ligaes internas so maiores, gerando, com isso, fissuras de maior extenso e indesejadas ao revestimento.

    Assim, ao contrrio do que se pode imaginar numa primeira anlise, o acrscimo no consumo de cimento, e conseqente incremento de resistncia mecnica, pode no proporcionar um desempenho mais satisfatrio argamassa.

    Outras propriedades do emboo tambm tm importncia significativa. A reteno de gua, por exemplo, deve ser monitorada em funo das caractersticas do meio externo e da capacidade de suco de gua da base, sob pena do emboo perder a gua necessria para a hidratao do cimento e manuteno da trabalhabilidade.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 7

    Outro efeito influente a retrao por secagem, a qual provoca reduo do volume e conseqentes solicitaes de trao e compresso nas camadas do revestimento. Alm desses, no se pode deixar de salientar a durabilidade do emboo, que depende de todas as propriedades citadas.

    Argamassas adesivas

    O assentamento de um acabamento decorativo (placa de rocha, cermica, pastilha etc.) sobre o emboo ou contrapiso feito atravs da utilizao de uma argamassa cuja funo manter essas camadas unidas, da porque conhecida como argamassa adesiva. Ela pode ser industrializada, denominada argamassa colante, ou fabricada na obra.

    As argamassas industrializadas representam um avano em relao s tradicionais, abrindo possibilidade de se utilizar um processo de execuo mais produtivo, com o uso de desempenadeira dentada, em decorrncia da sua elevada resistncia de aderncia e maior poder de reteno de gua.

    A resistncia de aderncia representa a capacidade da argamassa de suportar esforos de trao direta normais ao plano de referncia, e tangenciais de cisalhamento.

    Com relao capacidade de reteno de gua, a propriedade da argamassa colante associada a ela o tempo em aberto, definido como o perodo decorrido desde a extenso da argamassa na parede at o momento em que ela no mais apresenta capacidade de ancorar satisfatoriamente a cermica, proporcionando uma resistncia de aderncia inferior a 0,5 MPa.

    O tempo em aberto funo tambm do ambiente que cerca a produo, sendo tanto menor quanto maior for a insolao e a ventilao. A medio dessa propriedade feita em laboratrio atravs da metodologia descrita na NBR 14.083 (2004).

    A fim de proporcionar argamassa as caractersticas descritas anteriormente, a sua formulao composta, alm de cimento e areia, de aditivos orgnicos, formados, em geral, por uma resina vinlica e outra celulsica.

    Os aditivos de base celulose, em geral o hidroxi etil celulose (HEC), so os responsveis pela capacidade de reteno de gua da argamassa, e conseqente maior tempo em aberto, e s resinas de acetato de polivinila (PVAc) ou acrlicas cabe o aumento da resistncia de aderncia.

    Da mesma forma que o emboo, as argamassas de assentamento tambm devem apresentar certa deformabilidade para aliviar as tenses de movimentaes presentes no revestimento. Porm, da mesma forma, o termo argamassa flexvel utilizado por alguns fabricantes pouco apropriado, uma vez que pode servir como uma orientao equivocada acerca da real capacidade de deformao do material.

    Placas cermicas

    Desde h muito tempo (4.000 a.C., no Egito) as placas cermicas vm sendo empregadas como revestimento de edificaes, tanto para interiores como para exteriores.

    Inicialmente aderidas base por meio de pastas ricas em cimento, aplicadas no sistema po e manteiga, com o passar do tempo o procedimento para assentamento das placas evoluiu para o emprego de argamassas colantes industrializadas, providas com adies que lhes conferem maior capacidade de aderncia, e desempenadeira dentada, para uma maior produtividade dos operrios.

    Pesquisa recente realizada em prdios residenciais na cidade do Recife indicou o uso de revestimentos cermicos de fachada em cerca de 80% dos casos. Atrelado a este uso, tem-se observado o crescente nmero de patologias relacionadas, como manchamentos, eflorescncia e, principalmente, descolamentos.

    Dentre algumas das vantagens para o emprego deste tipo de revestimento, pode-se citar: valorizao do imvel (efeito esttico), conforto trmico e acstico (comparado com pintura, por exemplo), leveza (comparado com placas de rocha, por exemplo) e, sobretudo, durabilidade.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 8

    A questo da durabilidade, entretanto, est associada a aspectos relacionados com os procedimentos de produo, com a deformabilidade da estrutura, componentes e os devidos cuidados relacionados (adoo de juntas de movimentao horizontais e verticais, telas metlicas no interior do emboo em pontos considerados crticos etc.), e com a correta especificao dos materiais adotados, o que envolve adequao s condies de projeto, produo, alm da definio das atividades de controle.

    A placa cermica utilizada para revestimento um produto fabricado a partir de dois tipos de matria prima naturais, as argilosas e no argilosas, para a composio da massa, e por matrias primas no naturais, para os vidrados e corantes. Aps a preparao da massa, ela conformada, atravs de prensagem ou extruso, seguida pelas etapas de queima do biscoito e aplicao do vidrado, cuja ordem seqencial depende do processo industrial empregado (biqueima ou monoqueima).

    O revestimento cermico, assim como todas as camadas do sistema, tambm permanece submetido aos mais diversos esforos. Ele apresenta, como uma caracterstica intrnseca, dois tipos de movimentaes distintos, conforme a solicitao: as irreversveis, decorrentes do aumento de volume gerado pela absoro de gua, tambm conhecida como expanso por umidade (EPU); e as reversveis, provocadas pela variao de temperatura.

    A fim de reduzir esses fenmenos, a NBR 13.818 (1997) especifica o valor mximo de 0,6 mm/m para a EPU da placa cermica. A ANFACER (Associao Nacional dos Fabricantes de Cermica) recomenda o uso de peas com absoro de gua entre 3% e 6% para o uso em revestimentos externos.

    Ambas as propriedades esto bastante relacionadas e dependem fundamentalmente da temperatura de queima da cermica, durante a sua fabricao.

    A medio da expanso por umidade, mesmo em laboratrio, complicada e pouco precisa, uma vez que necessrio, inicialmente, remover toda a expanso existente na pea j ensaiada, normalmente atravs de secagem em autoclave, seguida da simulao de toda a sua futura expanso, por intermdio de imerso em gua em ebulio durante 24 horas.

    importante salientar ainda a correlao existente entre a expanso por umidade e o gretamento Segundo Fioritto (1992), o gretamento decorrente de um inchamento do corpo cermico, provocado por uma expanso higroscpica, responsvel pela introduo de tenses de trao no vidrado. Para ele, o defeito de gretamento ocorre j a partir de uma expanso por umidade de 0,3 mm/m, metade do valor mximo aceitvel pela NBR 13.818 (1997).

    Rejuntes e juntas

    As juntas de assentamento (rejuntes) e as de movimentao tm a funo de proporcionar ao revestimento um alvio das tenses geradas, subdividindo a superfcie em vrias regies.

    O material empregado como rejunte uma argamassa de cimento provida de resinas cujo objetivo torn-la menos rgida (conceito similar ao de flexibilidade do emboo) e reduzir a sua permeabilidade, da porque ela normalmente industrializada. Pastas de cimento, ou mesmo argamassa simples de cimento e areia, no so recomendadas devido sua grande rigidez e baixa elasticidade (alto mdulo de deformao). Os rejuntes tambm podem servir para corrigir pequenas imperfeies dimensionais da cermica, e facilitar eventuais substituies de peas danificadas.

    J as juntas de movimentao atuam no sentido de aliviar as tenses decorrentes no s das movimentaes da cermica como tambm de todas as camadas que envolvem o revestimento. Desta maneira, as juntas devem, de preferncia, apresentar uma profundidade tal que atinja a base. A relao entre a largura e a profundidade do selante, tambm conhecida como fator de forma, deve ser de 2:1, ou atender ao especificado pelo fabricante.

    Outro aspecto importante relativo ao selante que no deve haver nenhuma interao entre ele e o material de enchimento interno, sob pena dele romper na ligao com alguma das cermicas.

    Por esse motivo so utilizadas espumas de polietileno expandido como material de enchimento, uma vez que elas so inertes e tm a funo de limitar a profundidade do selante, evitar a sua adeso ao fundo da junta e uniformizar a base, facilitando a aplicao.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 9

    Outra propriedade determinante do selante a durabilidade, pois ela estabelece as previses para as atividades de manuteno da fachada, uma vez que a sua vida til bastante inferior a dos revestimentos cermicos.

    Ao contrrio das argamassas base de cimento, os selantes so materiais ditos impermeveis e flexveis, sendo normalmente empregados produtos base de silicone, poliuretano, acrlico, entre outros.

    Para o emprego em revestimentos porosos (placas de rocha e cermica) recomendam-se os silicones de base neutra que, ao contrrio dos de base actica, no apresentam manchas provenientes de reaes com os materiais porosos. Os selantes de silicone so oferecidos em vrias cores, contudo no podem ser pintados com tintas acrlicas ou PVA. J os selantes de poliuretano apresentam uma menor disponibilidade de cores, porm podem receber pintura e no apresentam manchas.

    3. NORMALIZAO

    No Brasil, a ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS (ABNT), rgo responsvel pela elaborao das normas tcnicas nacionais, apresenta textos normativos que tratam dos insumos envolvidos na produo dos revestimentos, e descrevem alguns procedimentos recomendados para a execuo.

    3.1. Argamassas para revestimento de paredes

    As NBR 13.276 a 13.281 (2005) estabelecem os critrios mnimos exigidos e os respectivos mtodos de ensaio para caracterizao das propriedades consideradas importantes das argamassas utilizadas como revestimento vertical. Todos os ensaios descritos nessas normas so de mbito laboratorial, uma vez que envolvem uma srie de equipamentos, acessrios e condies especiais.

    As argamassas industrializadas podem ser classificadas como um produto proveniente da dosagem controlada, em instalao prpria, de aglomerante de origem mineral, agregado(s) mido(s), eventualmente, aditivo(s) e adio(es) em estado seco e homogneo, ao qual o usurio somente necessita adicionar a quantidade de gua requerida.

    Seja para as argamassas industrializadas ou para as fabricadas na obra, as referidas normas apresentam classificaes que, apesar de serem importantes no sentido de definir as argamassas conforme as suas propriedades, so dependentes ainda de uma outra determinao das caractersticas exigveis para caso uso, a fim de proporcionar ao projetista meios de especificar o material de acordo com a sua necessidade. Este tipo de definio no est contemplado na normalizao brasileira.

    Nas normas que tratam dos procedimentos para a produo, as consideraes so feitas a partir de anlises realizadas no sistema revestimento como um todo, incluindo as interferncias existentes entre cada componente durante a execuo, e as condies de execuo.

    A NBR 13.755 (ABNT, 1996) descreve os requisitos relativos ao uso dos materiais e s disposies construtivas, e as respectivas condies de conformidade estabelecidas. Com relao aos materiais, so estabelecidas as condies mnimas a que cada insumo deve atender, o planejamento dos trabalhos, inclusive prazos para a liberao dos servios, as condies ambientais, e a preparao das vrias camadas do sistema. Estes aspectos tambm so mencionados na NBR 7.200 (ABNT, 1998).

    Nos requisitos relativos s disposies construtivas, so feitas consideraes com respeito s juntas (posicionamento, acabamento, etc.), ao processo de execuo das camadas de emboo, argamassa colante e revestimento cermico, e s tolerncias aceitveis.

    As NBR 13.749 (ABNT, 2005) e NBR 13.528 (ABNT, 1995), apesar de no estarem citadas nas referncias normativas da NBR 13.755 (ABNT, 1996), podem ser classificadas como suporte para essa norma no que se refere s caractersticas da argamassa de emboo. A primeira fixa as condies para o recebimento dos revestimentos das argamassas sobre paredes e tetos, inclusive critrios mnimos de aceitao para a resistncia de aderncia trao direta em funo do tipo de aplicao (tabela 1). A segunda prescreve o mtodo de ensaio para determinao desta resistncia.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 10

    Tabela 1 - Limites de resistncia de aderncia trao direta segundo a NBR 13.749 (ABNT, 1996).

    A NBR 13.755 (ABNT, 1996) tambm apresenta o mtodo de ensaio para determinao da resistncia de aderncia, neste caso especialmente para revestimentos cermicos assentados com argamassa colante. Esse teste tem o objetivo de averiguar a capacidade resistente de todas as camadas do sistema de revestimento. Para cada pano ensaiado, composto por seis pontos de arrancamento, pelo menos quatro deles devem apresentar uma resistncia de aderncia mnima de 0,30 MPa, para o caso dos revestimentos externos.

    Argamassas adesivas

    As normas sobre argamassas colantes para assentamento de revestimentos cermicos, as NBR 14.081 a 14.086 (2004), sofreram algumas alteraes na sua recente atualizao. Assim como as normas sobre argamassas para revestimento de paredes, elas tambm determinam os critrios mnimos exigidos e os respectivos mtodos de ensaio para caracterizao das propriedades consideradas mais importantes. Os ensaios tambm foram concebidos para serem realizados em laboratrio, incluindo, nesse caso, condies especiais de temperatura, umidade relativa e velocidade do vento. Os seus respectivos critrios esto apresentados na tabela 2.

    Essas normas vm sofrendo crticas devido s dificuldades para a execuo dos ensaios, seus custos elevados e o alto grau de disperso dos resultados.

    Tabela 2 - Critrios descritos na NBR 14.081 (2004) para as argamassas colantes industrializadas

    Deve-se atentar acerca da adequao dos resultados com os materiais empregados na obra, tomando, como exemplo, o porcelanato. Esse, por ter um grau de absoro de gua inferior ao das peas utilizadas nos ensaios, da ordem de 0,3% contra 4% e 15% (valores estabelecidos para os testes de

    Argamassa colante Industrializada Propriedade Und ACI ACII ACIII E Tempo em aberto Min. 15 20 20 Res. de aderncia trao (28 d)

    cura normal cura submersa cura em estufa

    MPa MPa MPa

    0,5 0,5

    -

    0,5 0,5 0,5

    1,0 1,0 1,0

    Deslizamento1

    mm

    0,7

    0,7

    0,7

    Argamassa do tipo I, II ou III,com tempo em

    aberto estendido em no mnimo 10

    minutos.

    1 O ensaio de deslizamento no necessrio para argamassa utilizada em aplicaes com revestimento horizontal.

    ACABAMENTORes. aderncia

    (MPa)Pintura ou base para reboco > 0,20Cermica ou laminado > 0,30Pintura ou base para reboco > 0,30Cermica ou laminado > 0,30

    > 0,20

    LOCAL

    TETO

    Interna

    ExternaPAREDE

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 11

    resistncia de aderncia e tempo em aberto, respectivamente), pode provocar um comportamento bastante diferenciado da argamassa colante, quando comparado com os resultados obtidos em laboratrio.

    Cabe salientar que as exigncias para a resistncia de aderncia e tempo em aberto das argamassas colantes em laboratrio so superiores quelas feitas quando se analisa o sistema revestimento. Naquele caso, h outras variveis significativas que tambm interferem diretamente no resultado, como as caractersticas da base, da argamassa de revestimento (emboo), da mo-de-obra e, principalmente, das condies de exposio durante a produo e a cura, as quais so menos favorveis na obra.

    Os ensaios descritos nessa srie de normas possuem as variveis intervenientes no resultado (materiais, condies laboratoriais) padronizadas e controladas, a fim de que as diferenas obtidas sejam decorrentes exclusivamente das caractersticas da argamassa colante.

    Com isso, os resultados obtidos podem servir como comparativo, independente de qual laboratrio tenha executado o ensaio. Este tipo de anlise comparativa no tem sentido nos ensaios executados na obra, uma vez que no h como uniformizar os condicionantes que os cercam.

    Argamassas para rejunte

    A norma brasileira que trata de rejunte para placas cermicas, a NBR14.992 (2003), bastante recente, e define argamassa de rejuntamento (A.R.) como mistura de cimento Portland e outros componentes para aplicao nas juntas de assentamento de placas cermicas. Neste contexto, apresenta uma classificao de dois tipos de rejuntamento, ambos para uso em ambientes internos e externos, atendendo s seguintes condies:

    Rejuntamento tipo I: Aplicao restrita aos locais de trnsito de pedestres/transeuntes no intenso; Aplicao restrita a placas cermicas com absoro de gua acima de 3%; Aplicao em ambientes externos, piso ou parede, desde que no excedam 20m2 e 18m2, respectivamente, limite a partir do qual so exigidas juntas de movimentao.

    Rejuntamento tipo II: Todas as condies da tipo I Aplicao em locais de trnsito intenso de pedestres/transeuntes; Aplicao em placas cermicas com absoro de gua inferior a 3%; Aplicao em ambientes externos, piso ou parede, de qualquer dimenso, ou sempre que se exijam as juntas de movimentao;

    Ambientes internos ou externos com presena de gua estancada (piscinas, espelhos dgua). Para uma melhor caracterizao das propriedades exigidas para cada tipo de rejuntamento, a norma

    apresenta ainda a tabela 3, descrita a seguir, na qual so apontados os mtodos de ensaio e os seus respectivos critrios mnimos de aceitao, cuja amostragem considerada de 3 toneladas por lote, desde que oriunda de um mesmo fornecedor, entregue na mesma data e mantida nas mesmas condies de armazenamento.

    Tabela 3 - Tipos de argamassa de rejuntamento e critrios mnimos (NBR 14.992/03)

    Mtodo / propriedade Unidade Idade de ensaio Tipo I Tipo II

    Reteno de gua mm 10 min < 75 < 65

    Variao dimensional mm/m 7dias < 2,00 < 2,00 Resistncia compresso MPa 14 dias > 8,0 > 10,0

    Resistncia trao na flexo MPa 7 dias > 2,0 > 3,0

    Absoro de gua por capilaridade g/cm2 28 dias < 0,60 < 0,30

    Permeabilidade cm3 28 dias < 2,0 < 1,0

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 12

    Juntas de movimentao

    As juntas de movimentao apresentam dois componentes distintos: o material de enchimento e o selante, aplicado no interior e na superfcie, respectivamente. Ambos devem possuir uma grande flexibilidade, a fim de no se oporem s solicitaes a que estaro sujeitos, e podem ser executados com vrios tipos de materiais diferentes.

    O enchimento pode ser preenchido com materiais deformveis, como espumas de polietileno expandido, cortia, aglomerado de madeira, borracha alveolar, etc. O importante que esse material no se oponha movimentao do selante superficial, uma vez que, caso esteja restringido, poder haver ruptura em alguma das duas direes.

    A ABNT apresenta normas que tratam das espumas de enchimento (espuma flexvel de poliuretana), determinando a deformao permanente compresso (NBR 8797), a resilincia (NBR 8619), o envelhecimento em autoclave (NBR 9174), entre outras propriedades do material.

    No Brasil ainda no h normas sobre os selantes superficiais, o que dificulta a correta especificao, inspeo e controle acerca das suas propriedades, e obriga os construtores a utilizarem produtos importados (algumas vezes misturados e embalados no Brasil), supostamente adequados para utilizao em locais cujos fatores de exposio podem ser muito diferentes do encontrado no territrio nacional.

    Placas cermicas

    As normas acerca das placas cermicas para revestimento, NBR 13816, NBR 13817 e NBR 13818 (1997) foram elaboradas como o objetivo de, respectivamente, definir os termos relativos ao material, classific-lo, e fixar os seus requisitos julgados mais importantes, bem como os mtodos de ensaio. Apenas em alguns destes requisitos so definidos critrios de aceitao, sendo utilizadas para estas determinaes, muitas vezes, recomendaes sugeridas em textos publicados por organismos tcnicos do setor, tais como ANFACER (Associao Nacional dos Fabricantes de Cermica) e CCB (Centro Cermico do Brasil).

    Para o adequado andamento do trabalho sero abordados neste item os principais requisitos determinados na NBR 13.818 (1997), os seus respectivos critrios ou, quando da sua inexistncia, os grupos de classificao ou valores recomendados.

    Antes da descrio dos ensaios sero aqui apresentadas algumas definies presentes na NBR 13.816 (1997).

    Revestimento cermico: Conjunto formado pelas placas cermicas, pela argamassa de assentamento e pelo rejunte;

    Calibres: Lados das placas cermicas que so medidos e classificados em faixas de dimenso (size ranges);

    Formato: Dimenso nominal da placa cermica em centmetros; Ortogonalidade: Desvio no esquadro das placas, afetando a retangularidade dos ngulos, ou seja, o esquadro da placa;

    Empeno: Desvio de um vrtice com relao ao plano definido pelos outros trs vrtices. Pode ser visualizado como o balano da placa sobre uma diagonal;

    Muratura: Relevo no lado do avesso da placa, destinado a melhorar a aderncia. Pode ser constitudo por salincias (caso normal para pisos e paredes interiores) ou por reentrncias, com forma de rabo de andorinha, especfico para usos especiais, tais como fachadas.

    As placas cermicas podem ser classificadas de acordo com a esmaltao do biscoito (esmaltados GL ou no esmaltados UGL) e o tipo de fabricao (extrudadas A, prensadas B e outros C).

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 13

    Expanso por umidade (EPU)

    Corresponde ao aumento de volume da cermica por efeito da umidade, tendo como principal caracterstica a sua irreversibilidade (ANFACER). A NBR 13818 (1997) recomenda que as placas cermicas no devem exceder de 0,6mm/m, qualquer que seja a aplicao, apresentando, porm, a seguinte considerao: A maioria das placas esmaltadas e no esmaltadas tem expanso por umidade desprezvel e que no contribui para problemas no revestimento quando as placas esto corretamente fixadas. Com prticas de fixao no satisfatrias ou em certas condies climticas, expanso por umidade em excesso (> 0,6mm/m) pode contribuir para problemas. A EPU est bastante relacionada com a resistncia ao gretamento, absoro de gua e temperatura de queima.

    No tocante relao com a resistncia ao gretamento, segundo FIORITTO (1992), a partir de uma EPU de 0,3mm/m j possvel observar gretamento na pea. Quanto absoro de gua, conforme a ANFACER, ocorre uma reduo na EPU quando se produzem cermicas com materiais compactos e sinterizados, obtidos com uma moagem e queima adequados.

    Considerando a pequena magnitude do valor correspondente a esta expanso (em se tratando de uma placa com 20cm de lado, por exemplo, para uma EPU de 0,6mm/m ocorreria uma variao dimensional de 0,12mm, o que equivale a apenas 2% da espessura total de um rejunte com 6mm, normalmente empregado nas diversas situaes), pode-se avaliar esta propriedade, isoladamente, como de importncia relativa para o caso de um descolamento. Entretanto, o seu efeito combinado com outras propriedades, sobretudo o gretamento, aliado possibilidade do uso de argamassa de rejunte rgido, com baixa capacidade de absorver deformaes, torna importante a avaliao deste requisito para a especificao do material.

    Absoro de gua

    Corresponde quantidade de gua que a cermica permite absorver pelo seu tardoz, funo da temperatura de queima e processo de fabricao (prensada ou extrudada), entre outros aspectos.

    Tem influncia significativa na ancoragem fsica entre a argamassa colante e a placa, sendo, por isso, fundamental o seu conhecimento prvio antes da definio quanto s especificaes dos materiais e procedimentos de aplicao adotados.

    A NBR 13.817 apresenta a seguinte classificao para as placas cermicas (tabela 4):

    Tabela 4 - Classificao de placas cermicas segundo absoro de gua

    GRUPOS ABSORO (%) Ia 0 < abs < 0,5 Ib 0,5 < abs < 3,0 IIa 3,0 < abs < 6,0 IIb 6,0 < abs < 10,0 III Acima de 10,0

    Segundo Medeiros (1999), a nica norma internacional que define um limite mximo aceitvel a britnica (BSI), no caso, 3%. O Instituto de Tecnologia Cermica ITC, da Espanha, no recomenda o uso de cermicas com absoro superior a 6%.

    Resistncia ao manchamento

    Est relacionada facilidade de limpeza do vidrado da cermica mediante ataque de diferentes agentes manchantes.

    Durante o ensaio so aplicados agentes de ao penetrante (CrO verde ou FeO vermelho), ao oxidante (iodo), formao de pelcula (leo de oliva), ou outros, atendendo solicitao prvia. Em seguida, para cada caso, so realizados procedimentos de limpeza conforme a seguinte seqncia: gua quente,

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 14

    agente de limpeza fraco (no abrasivo, industrializado, pH entre 6,5 e 7,5), agente de limpeza forte (abrasivo, industrializado, pH entre 9 e 10) e, por fim, reagentes de ataque e solventes (cido clordrico em soluo, hidrxido de potssio e tricloroetileno).

    Conforme avaliao da diferena no aspecto visual das placas cermicas, elas so classificadas por nveis, de acordo com o produto aplicado para cada agente manchante (tabela 5).

    Tabela 5 - Classificao de placas cermicas segundo a resistncia ao manchamento

    Classe 5 mxima facilidade de remoo de manchas Classe 4 mancha removvel com produto de limpeza fraco Classe 3 mancha removvel com produto de limpeza forte Classe 2 mancha removvel com cido clordrico, hidrxido de potssio e tricloroetileno. Classe 1 impossibilidade de remoo da mancha

    Resistncia ao ataque qumico

    a capacidade do vidrado se manter estvel, sob o aspecto visual, mediante o ataque de reagentes agressivos, simulando situaes comuns de uso. So aplicados os seguintes reagentes: cloreto de amnia (produtos qumicos domsticos), hipoclorito de sdio (tratamento de gua da piscina), cido clordrico ctrico e lctico (cidos em alta e baixa concentrao), e hidrxido de potssio a 30g/l e 100g/l (lcalis de baixa e alta concentrao).

    As placas cermicas so classificadas (classes A, B e C) em resistncia qumica mais elevada, mdia e mais baixa, de acordo com as mudanas observadas no aspecto visual (tabela 6).

    Tabela 6 - Classificao de placas cermicas segundo resistncia ao ataque qumico

    Nveis de resistncia qumica Agentes qumicos

    Alta (A) Mdia (B) Baixa (C)

    Alta concentrao (H) HA HB HC cidos e lcalis Baixa concentrao (L) LA LB LC

    Produtos domsticos e de piscinas A B C

    Resistncia abraso superficial

    um ensaio, realizado apenas nas placas cermicas esmaltadas, que trata do desgaste visual mediante vrios ciclos de passagem de um agente abrasivo sobre o vidrado, submetido a uma carga determinada.

    importante para a especificao da placa cermica para piso, conforme o nvel de solicitao previsto para cada situao.

    A norma separa as placas cermicas por classe, de acordo com a quantidade de ciclos que ela suporta sem apresentar desgaste visual (tabela 7). Interessante notar que a norma determina ainda que, para o nvel mais alto de graduao (classe PEI V), a placa deve apresentar resistncia ao manchamento aps o ensaio de abraso superficial.

    Tabela 7 - Classificao de placas cermicas segundo a resistncia abraso superficial

    N de ciclos Classe PEI 100 0 150 1 600 2

    750, 1.500 3

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 15

    2.100, 6.000, 12.000 4 > 12.000 5

    Resistncia ao gretamento

    um ensaio que evidencia a ocorrncia de fissura capilar limitada camada esmaltada da placa cermica, decorrente de variaes volumtricas, de origem trmica ou higromtricas, no biscoito da cermica, no acompanhadas pelo seu vidrado.

    importante salientar ainda a correlao existente entre a expanso por umidade e o gretamento Segundo Fioritto (1992), o gretamento decorrente de um inchamento do corpo cermico, provocado por uma expanso higroscpica, responsvel pela introduo de tenses de trao no vidrado. Para ele, o defeito de gretamento ocorre j a partir de uma expanso por umidade de 0,3mm/m, metade do valor mximo aceitvel pela NBR 13.818 (1997).

    Dureza segundo a escala Mohs

    Representa a resistncia apresentada pelo vidrado ao riscamento provocado por elementos de dureza crescente, mediante uma fora padronizada.

    As placas so classificadas conforme o desgaste visual apresentado em decorrncia do riscamento, conforme apresentado na tabela 8.

    Tabela 8 - Classificao de placas cermicas segundo dureza na escala Mohs

    Relao de elementos utilizados 1 talco 6 feldspato 2 gesso 7 quartzo 3 calcita 8 topzio 4 fluorita 9 corndon 5 apatita 10 - diamante

    Mancha dgua

    Trata-se de um ensaio que no concebido pela NBR 13.818 (1996), apesar de ser realizado em laboratrios especializados do pas. Corresponde diferena visual de tonalidade observada pelo vidrado quando a placa cermica colocada em contato com a gua que penetra pelas suas faces laterais e inferior.

    mais crtica para as cermicas de grandes dimenses (a partir de 20cm x 20cm) e para as de cor clara, sendo normalmente motivadas por deficincias na espessura do vidrado, por excessiva absoro da gua pelo biscoito, ou pelas deficincias no engobe6 da cermica (pouco opaco, muito fino ou poroso).

    Aspectos dimensionais

    Trata-se de uma avaliao das caractersticas dimensionais das peas, tais como tamanho, retitude e ortogonalidade dos lados, curvatura central e lateral e empeno. Aspectos importantes como espessura total da cermica e espessura dos sulcos presentes no seu tardoz tambm podem ser medidos nesta etapa, os quais so de grande importncia para a definio de especificaes e procedimentos de aplicao.

    Vale ressaltar que a NBR 13.755 (1996), por exemplo, aplicvel apenas para cermicas com rea inferior a 400cm2, lados no maiores que 20cm, e espessura total de at 15mm.

    6 Entende-se aqui engobe por camada de argila lquida colorida para disfarar ou decorar a cor natural do barro, com consistncia pastosa, com a qual se banha o biscoito antes da aplicao do esmalte.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 16

    Segundo Perry; West (1994), com relao s caractersticas dimensionais, a norma alem, do Deutsches Institut Fr Normung DIN, restringe o uso desse material a peas com rea menor que 1.200 cm2, espessura inferior a 15 mm e lados no superiores a 400 mm. A norma britnica BS5385 Part 2 limita o uso de cermicas com espessura mnima de 8mm, e assentamento considerando ancoragem com grapas para cermicas com lado maior que 200mm. J a norma francesa (CSTB) limita o uso da argamassa adesiva mono-componente apenas para peas com, no mximo, 300 cm2. Para as placas com at 900 cm2, aceita-se utilizao com argamassa adesiva bi-componente, e processo de assentamento com aplicao da argamassa na parede e no tardoz da cermica.

    Outros ensaios

    Alm dos ensaios j relatados, existem diversos outros previstos pela normalizao brasileira, tais como resistncia abraso profunda, ao choque trmico, ao congelamento, determinao do coeficiente de atrito, carga de ruptura flexo, entre outros. Todos eles tm sua importncia para situaes especficas, conforme a aplicao desejada.

  • REVESTIMENTOS

    Angelo Just da Costa e Silva 17

    4. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ASSOCIAO NACIONAL DOS FABRICANTES DE CERMICA PARA REVESTIMENTO. Manual para orientao tcnica. So Paulo, 1994.

    CANDIA, M.C. Contribuio ao estudo das tcnicas de preparo da base no desempenho dos revestimentos de argamassa. So Paulo, 1998. Tese (Doutorado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    CARASEK, H. Aderncia de argamassas base de Cimento Portland a substratos porosos Avaliao dos fatores intervenientes e contribuio ao estudo do mecanismo da ligao. So Paulo, 1996. Tese (Doutorado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    COSTA E SILVA. A.J. Descolamentos nos revestimentos cermicos de fachada na cidade de Recife. So Paulo, 2001. Dissertao (Mestrado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    CINCOTTO, Maria Alba. Patologia das argamassas de revestimento: anlise e recomendaes. 2.ed. So Paulo, IPT, 1989. (publicao n. 1801).

    CINCOTTO, M.A., AGOPYAN, V. e FLORINDO, M.C. O gesso como material de construo. Tecnologia de Edificaes - Parte I. IPT-PINI, p.53-56. So Paulo, 1988.

    FIORITTO, A.J.S.I. Manual de Argamassas e Revestimentos: Estudos e procedimentos de execuo. So Paulo, Pini, 1994.

    GALEMBECK, F. Adeso de superfcies. Cincia Hoje, v.4, n.19, jul./ago., p.27-31, 1985.

    GRANDI, A. Revestindo em cermica. So Paulo, Cifel, 1989.

    GOLDBERG, R.P. Revestimientos exteriores con adherencia directa de azulejos cermicos, piedra y ladrillos caravista Manual de diseo tcnico. LATICRETE INTERNATIONAL, 1998.

    INSTITUTO DE TECNOLOGIA CERAMICA. Colocacion de pavimentos e revestimientos ceramicos. Barcelona, Ministrio de Industria y Energia. Direccion General de Minas y de la Construccin., 1994.

    LICHTEINSTEIN, N.B.; SOUZA, U.L. Revestimentos. So Paulo, EPUSP, 1988. (Apostila da disciplina PCC 433 Tcnicas e Materiais de Construo Civil III / No publicado).

    MARANHO, F.L. Patologias em revestimentos aderentes com placas de rocha. Dissertao (Mestrado). Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. So Paulo, 2002.

    MEDEIROS, J.S. Tecnologia e projeto de revestimentos cermicos de fachadas de edifcios. So Paulo, 1999. Tese (Doutorado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    PVOAS, Y.V. Tempo em aberto da argamassa colante: mtodo de medida e influncia dos aditivos HEC e resina PVAc. So Paulo, 1999. Dissertao (Mestrado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    RAGO, F. Caractersticas reolgicas de pastas de cales hidratadas normalizadas e de cimento. Dissertao (Mestrado). Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. So Paulo, 1998.

    SELMO, S.M.S. Dosagem de argamassas de Cimento Portland e cal para revestimento externo de fachada dos edifcios. So Paulo, 1989. Dissertao (Mestrado). Escola Politcnica, Universidade de So Paulo.

    UEMOTO, K.L. Projeto, execuo e inspeo de pinturas. So Paulo, CTE. 2002.