Revisão Farmacológica do Glaucoma
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REVISÃO FARMACOLÓGICA DAS MEDICAÇÕES ANTIGLAUCOMATOSAS 1
REVISÃO FARMACOLÓGICA DAS MEDICAÇÕES ANTIGLAUCOMATOSAS
O glaucoma é uma neuropatia óptica progressiva,
podendo estar associada ao aumento da pressão intraocular
(PIO) e com alteração no campo visual.
A PIO é determinada pelo equilíbrio entre as taxas
de produção e de drenagem do humor aquoso. As drogas
utilizadas no tratamento clínico do glaucoma objetivam
diminuir a produção do humor aquoso ou aumentar sua
drenagem.
Os fármacos anti-glaucomatosos mais usados na
redução da PIO são tópicos, na forma de colírios e
subdividem-se em grupos, de acordo com sua estrutura
química ou seu mecanismo de ação:
• Antagonistas beta-bloqueadores adrenérgicos
• Parassimpaticomiméticos;
• Agonistas adrenérgicos;
• Inibidores da anidrase carbônica;
• Análogos das prostaglandinas;
• Agentes hiperosmóticos. ANTAGONISTA BETA BLOQUEADOR ADRENÉRGICO
O olho humano apresenta uma grande concentração
de receptores beta, especialmente no epitélio não
pigmentado do corpo ciliar.
Além disso, os receptores podem ser encontrados
no coração (receptores beta1) e nos brônquios (receptores
beta2). Quando bloqueados por qualquer razão, pode-se
observar bradicardia e broncoespasmo, respectivamente.
Os medicamentos atualmente empregados no
controle do glaucoma, e que contêm drogas beta-
adrenérgicas, reduzem a produção de humor aquoso,
diminuindo a produção de AMPc no epitélio não pigmentado
do corpo ciliar.
Podem reduzir em 20 a 50% a produção do humor
aquoso e a PIO entre 20 a 30 % e apresentam ápice de ação
em torno de duas horas após a instilação, mantendo níveis
terapêuticos até quatro semanas após sua suspensão.
Possuem, em geral, boa penetração corneana. Sua
ação é mais eficaz durante o dia e eficácia parecida entre as
concentrações de 0,25% e 0,50%. A posologia recomendada
máxima é uma gota, duas vezes ao dia por olho afetado
(preferencialmente logo ao acordar).
Recomenda-se esperar aproximadamente um mês
após iniciar o uso de timolol para se determinar sua eficácia
terapêutica, devido a flutuação dos valores da PIO após seu
uso.
Quando há uso sistêmico do mesmo pode haver a
diminuição da eficácia do uso tópico e há uma diminuição da
PIO contralateral no olho não tratado. E o uso por longos
períodos pode também diminuir sua eficácia pelo fenômeno
da taquifilaxia. Apresentam período de washout de quatro
semanas
Dentre seus efeitos adversos sistêmicos temos
broncoespasmos, bradicardia, hipotensão arterial sistêmica,
depressão do SNC, letargia, depressão, sincope, impotência
sexual e em pacientes diabéticos podem mascarar sinais de
hipoglicemia. Podem alterar o perfil lipídico diminuindo a
fração de HDL, aumentando os riscos de doenças
coronarianas e a suspensão abrupta exacerba sinais e
sintomas de hipertireoidismo. Pode ainda agravar miastenia
grave.
Os efeitos adversos oftalmológicos são ceratite
puntacta superficial, anestesia corneana, danos à superfície
ocular e olho seco, por enfraquecimento da camada da
mucosa do filme lacrimal.
São comercializados no Brasil, atualmente: o
Maleato de timolol a 0,25% e 0.5% (Timolol®, Timoptol®,
Glautimol®, Glaucotrat®), o Betaxolol (Betoptic®, Presmin®) e
o Levobunolol (Betagan®). Apenas o betaxolol apresenta
seletividade restrita ao receptor beta 1, mas eficácia inferior
comparando com Timolol.
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Deve-se tomar cuidado com pacientes lactantes,
pois foram encontrados altos níveis de timolol no leite de
paciente que recebiam o tratamento e são contra-indicados
em gestantes pois não existem testes em humanos.
PARASSIMPATICOMIMÉTICOS
Os nervos parassimpáticos para os olhos inervam o
músculo constritor da pupila, que segue um trajeto
circunferencial na íris, e o músculo ciliar, que ajusta a
curvatura do cristalino. A contração do músculo ciliar em
resposta à ativação dos receptores muscarínicos é necessária
para a acomodação do olho para a visão de perto.
Por outro lado, o músculo constritor da pupila é
importante não apenas para ajustar a pupila em resposta a
alterações da intensidade luminosa, mas também para
regular a pressão intra-ocular.
As drogas deste grupo foram às primeiras
introduzidas no tratamento dos glaucomas, e há anos estão à
disposição da área oftalmológica.
O mecanismo de ação dessas drogas mióticas é
aumentar o escoamento do humor aquoso via trabeculado.
Agem na fenda sináptica do músculo ciliar de maneira direta
(mimetizando a acetilcolina, por exemplo a pilocarpina), ou
de maneira indireta (inibindo a colinesterase, enzima que
degrada a acetilcolina, por exemplo o iodeto de ecotiofato) e
dessa forma promovem contração desse músculo. Essa
contração aumenta a acomodação, provoca anteriorização
do cristalino, traciona a íris e finalmente traciona o esporão
escleral o qual modifica a conformação da malha trabecular e
do canal de Schlemm.
Pilocarpina (Pilocan®, Pilosol®) é o fármaco, deste
grupo, mais utilizado no Brasil para o tratamento do
Glaucoma. Como medicamento, é encontrado na forma de
colírio, em solução aquosa estéril, a 1%, 2% e 4%. Dispomos
ainda no mercado nacional, do Carbacol, para uso intra-
ocular (com ação direta e indireta), principalmente em
cirurgias de extração de catarata, ou seja, com outra
finalidade, que não o tratamento do glaucoma.
A pilocarpina age de maneira direta tendo um início
de ação em 20 minutos, permanecendo sua ação por 4 horas.
A redução máxima de PIO por estes medicamentos é cerca
de 20 a 25%. Por isso, a posologia ideal é uma gota a cada
quatro horas. Indica-se em tratamento de longo prazo para
PIO elevada com ângulo de filtração aberto ou profilaxia do
GPAF até a iridotomia.
São poucos utilizados, pois têm muitos efeitos
adversos e pouca adesão ao tratamento, pois devem ser
usados idealmente de 4 em 4 horas. Porém, devido ao
comprovado efeito hipotensor e baixo custo, não devem ser
esquecidos como opção terapêutica. Apresentam período de
washout de quatro dias.
A pilocarpina pode ser associada aos
betabloqueadores, aos adrenérgicos e aos inibidores da
anidrase carbônica em efeito aditivo.
Dentre os efeitos indesejáveis, destacam-se:
transtorno da acomodação devido à miopia induzida por um
tratamento longo, cistos irianos em crianças, epifora
(estenose ductal e aumento de secreção lacrimal) aumento
de sangramento e inflamação per cirurgia, cefaleia,
deslocamento de retina, possivelmente associados à tração
vítrea. Dessa forma, o uso dos mióticos em pacientes que
apresentem degenerações periféricas, achados frequentes
em portadores de glaucoma pigmentar, deve ser restrito aos
casos em que não se pode utilizar uma medicação
alternativa. Os efeitos adversos sistêmicos, principalmente
de ação indireta, diarreia, cólicas aumento da salivação
espasmos brônquicos e enurese.
Promovem ainda o aumento da permeabilidade da
barreira hematoaquosa, levando ao aumento da inflamação.
Sendo contraindicado em uveite, hifema e rubeose iridis.
AGONISTA ADRENÉRGICO
Os agonistas alfa-adrenérgicos reduzem a produção
de humor aquoso por vasoconstrição dos vasos ciliares e
inibindo a atividade da adenilato-ciclase, impedindo a
conversão do trifosfato de adenosina em monofosfato de
adenosina. Com isso, diminui a produção de humor aquoso.
Dividem-se em seletivos e não seletivos. Os seletivos
para receptores alfa-2 são a apraclonidina e brimonidina A
epinefrina é o representante da classe dos não seletivos.
Os efeitos colaterais são cefaleia, aumento da
pressão arterial, taquicardia, depósitos adenocromo e
oclusão de ponto lacrimal em uso prolongado. Pode
precipitar crise glaucomatosa, além de causar
blefaroconjuntivite e piora do edema macular cistóide.
O tartarato de brimonida (Alphagan®, Alphagan P®,
Alphagan Z®, Glaub®, Alphabrin®) apresenta uma
seletividade para os receptores alfa2-adrenérgicos cerca de
dez vezes maior que a clonidina e apraclonidina, e parece
apresentar taquifilaxia menor que a apraclonidina num
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tratamento em longo prazo. Ela atua ao diminuir a produção
de humor aquoso e ao aumentar a saída do líquido pela via
úveo-escleral. Apresenta menor incidência de efeitos
colaterais que os outros agonistas alfa-2.
Promove a redução de 26 % da secreção de humor
aquoso (2hs após a dose) e apesar de ser prescrita três vezes
ao dia, é preferível duas vezes ao dia, principalmente quando
for agente adjuvante. É útil no controle de picos
hipertensivos após procedimentos com laser. Apresentam
período de washout de duas semanas
Os agonistas alfa2-adrenérgicos devem ser
administrados com cautela aos pacientes em uso de IMAO,
antidepressivos tricíclicos, betabloqueadores, anti-
hipertensivos e glicosídeos cardíacos.
Os efeitos colaterais oculares são a alergia ocular,
folículos conjuntivais, edema de pálpebra e os sistêmicos são
a sedação, sonolência e boca seca.
A brimonidina é o único colírio classe B, sendo
indicado durante a gravidez. Está contra indicado na
amamentação, pois em crianças pode ocasionar apneia,
hipotensão, sonolência e convulsão. Liberado apenas para
maiores de cinco anos.
INIBIDORES DA ANIDRASE CARBONICA
São fármacos diuréticos que atuam no rim,
aumentando o volume e diminuindo a concentração da
urina. Aumentam a excreção de bicarbonato nos túbulos
proximais, devido à inibição da enzima anidrase carbônica
que transforma o bicarbonato em CO2, mais fácil de
reabsorver. Aumenta a excreção de sódio, cloro e água
associada.
No olho, durante a produção de humor aquoso, íons
bicarbonato são transportados juntamente com o cátion
sódio para a câmara posterior do bulbo ocular,
estabelecendo um gradiente osmótico. Trata-se de condição
cuja ocorrência depende da enzima anidrase carbônica.
Mais de 90% da atividade enzimática no epitélio
ciliar deve ser abolida para haver diminuição da pressão intra
ocular.
Os principais fármacos deste grupo são a
Acetozolamida (Diamox®), Brinzolamida (Azopt®) e a
Dorzolamida (Trusopt®, Ocupress®).
Acetozolamida, inibidor da anidrase carbônica de
uso sistêmico, é derivada da sulfa, tem uma eficácia
significativa na redução da PIO em até 50% da produção do
aquoso, com efeito redutor iniciando em uma hora e efeito
máximo em 2 a 4 horas, pode ser administrada por via oral
ou por via IV (a via IM é de evitar por ser bastante dolorosa
pelo pH alcalino da solução). É encontrado na forma de
comprimido em concentração de 250mg. A posologia diária
recomendada é de 250 a 1000mg ao dia, podendo iniciar
com 62,5mg quatro vezes ao dia. A dose em crianças é de 5 a
10 mg/kg.
O efeito sistêmico mais importante é uma diurese
ligeira com espoliação de potássio. Apresenta como efeitos
colaterais: parestesias, fadiga, diminuição de peso, diarreia,
gosto ruim na boca e aumento do risco de cálculos renais. É
contra-indicado o uso em pacientes com insuficiência
respiratória grave, acidose hiperclorêmica, alergia a sulfa,
anemia falciforme, insuficiência hepática ou renal, uso
crônico de AAS, litíase renal, DPOC, endoteliopatias
corneanas e durante a gravidez.
A Brinzolamida e a Dorzolamida são os fármacos
tópicos deste grupo mais utilizados no tratamento do
glaucoma, isolados ou em associação, como adjuvantes dos
antagonistas beta adrenérgicos. A redução da pressão intra
ocular está entre 15 e 20%.
A brinzolamida é um inibidor da anidrase carbônica
tipo II, com mecanismo de ação e biodisponibilidade
semelhantes aos da dorzolamida. A posologia recomendada
é duas a três vezes ao dia por olho afetado. O uso três vezes
ao dia tem pouco efeito adicional. Podem ser usado na
amamentação. Apresentam período de washout de quatro
dias e não há vantagem em uso oral associado a tópico.
São contraindicados em pacientes com
endoteliopatias corneanas e durante a gravidez. As reações
adversas mais comuns são irritação ocular, alteração visual
transitória e alterações do paladar.
ANÁLOGOS DE PROSTAGLANDINAS
Os análogos das prostaglandinas são substâncias
que atuam como agonistas em receptores específicos para
prostaglandina . Após aplicação tópica, são biotransformadas
em prostaglandinas, incluindo a PGE2, com grande potencial
para ativar o sistema adenilato ciclase, remodelando a matriz
extracelular do músculo ciliar da íris.
Aumentam, por essa razão, a drenagem do humor
aquoso pela rota úveo-escleral. Eles são preferidos para o
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manejo do glaucoma primário, pois têm efeito hipotensor
ocular superior ao de outros fármacos, sendo normalmente
efetivos com uma única aplicação diária. Também oferecem
vantagens, por serem rapidamente metabolizados e não
causarem efeitos adversos cardiopulmonares.
O latanoprosta (Xalatan®, Arulatan®, Drenatam®) foi
o primeiro análogo a ser comercializado, age possivelmente
estimulando os receptores prostaglandínicos. Seu efeito
hipotensor ocular é muito eficaz diminuindo a pressão intra
ocular em até 40%.
O latanoprosta deve ser armazenado sob
refrigeração enquanto lacrados. Após abertos, podem ficar
em temperatura ambiente em até seis semanas
Posteriormente entraram no mercado duas novas
drogas com efeito hipotensor comparável ao latanoprosta e
mecanismo de ação parecido, o travoprosta (Travatan® e
Travamed®) e o bimatoprosta (Lumigan®, Lumigan RC® e
Glamigan®).
O travoprosta possui pouca ou nenhuma afinidade
com outros receptores prostanóides e apresenta grande
redução de pressão intraocular com pouca flutuação durante
o dia. A bimatoprosta é a mais recente droga. Difere por ser
uma prostamida e ter ação relatada, além da drenagem
uveal, na drenagem trabecular.
Estão descritos efeitos adversos sistêmicos, como
dispneia, numa frequência muito reduzida. Foram relatados s
efeitos locais como a hiperemia conjuntival (decorrente da
liberação de óxido nitroso endotelial e não por eventos
inflamatórios relacionados à ação mediadora da inflamação
pelas prostaglandinas), irritação local, hiper pigmentação dos
cílios que pode chegar até 46% dos usuários e desaparece
após cinco semanas da suspensão de uso, escurecimento da
íris em até 17% dos usuários, por aumento da melanina nos
melanócitos, hipertricose, triquiase, distiquiase e lipodistrofia
periorbitaria.
Podem promover a exacerbação de ceratite
herpética, edema macular cistoide e uveite. E estão contra
indicados na gravidez e a latanoprosta é aprovada em uso
pediátrico.
A posologia recomendada é uma gota, uma vez ao
dia por olho afetado, antes de dormir. São menos eficazes se
usados duas vezes ao dia. Apresentam período de washout
de quatro a seis semanas.
AGENTES HIPEROSMÓTICOS
Devido sua velocidade de ação e eficácia, os agentes
hiperosmóticos são muito úteis quando há uma elevação
repentina na pressão intra-ocular. As drogas usadas
costumeiramente são o manitol, droga de uso endovenoso, o
glicerol e a isossorbida, de uso oral
O mecanismo hipotensor ocular dos hiperosmóticos,
portanto, é baseado na elevação da concentração dos fluidos
intravasculares, o que cria um gradiente osmótico entre o
plasma e o vítreo, e com isso provoca deflúvio de água do
vítreo para o espaço intravascular.
O isossorbida pode ser usado em pacientes
diabéticos, enquanto glicerol não, pois sua metabolização
final resulta em glicose.
Esses medicamentos são utilizados para o controle
agudo da PIO, e raramente usados além de poucos dias. Isso
porque seu efeito osmótico não é duradouro e caso
administrados por um período prolongado de tempo, podem
provocar uma elevação da PIO, como efeito rebote.
O manitol (EV) deve ser usado na dosagem de 2g/kg
infundindo 80/gtas por minuto. O paciente que receber
manitol deverá permanecer em decúbito dorsal (deitado),
pois a hipotensão arterial abrupta ou a diminuição do líquido
céfalo-raquidiano podem promover severa cefaléia.
Entre os efeitos colaterais descritos com o uso
dessas drogas estão dor de cabeça, confusão mental,
insuficiência cardíaca aguda ou infarto do miocárdio, sendo
essas duas últimas com maior frequência especialmente após
o uso endovenoso dos agentes hiperosmóticos. O glicerol
pode causar hiperglicemia e até ceto-acidose em pacientes
diabéticos.
MEDICAÇÕES COMBINADAS
Existem combinações entre drogas visando
aumentar a adesão ao tratamento, diminuindo os efeitos
decorrentes dos conservantes e melhorando a posologia.
- Timolol/Dorzolomida (Cosopt®, Drusolol ®, Pressaliv®)
prescrito de 12/12 horas
- Timolol/Brimonidina (Combigan®, Britens®) prescrito de
12/12 horas
- Timolol/Brinzolamida (Azorga®) prescrito de 12/12 horas
- Timolol/Travaprosta (DuoTravatan®) prescrito 1 x dia
- Timolol/Latanoprosta (Xalacom®, Latonan®) prescrito 1 x d
- Timolol/Bimatoprosta (Ganfort®) prescrito 1 x dia