Revisão Geografia 3º ano - INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

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INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA CARACTERÍSTICAS GERAIS O processo de industrialização brasileiro pode ser caracterizado em suas primeiras etapas pelo desenvolvimento tardio e orientado para substituição de importações. Entre as décadas de 30 e 70, a industrialização mais consistente acentuou o processo de transformação sócio-econômica, decorrente da transição de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial. FATORES DETERMINANTES PARA O DESENVOLVIMENTO TARDIO DO SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO Durante o período colonial, pelas regras da política econômica mercantilista, não podia ser implantada no Brasil nenhuma atividade produtiva que competisse com as atividades da metrópole ou que prejudicasse seus interesses comerciais. Em 1785, D. Maria I assinou o alvará que extinguira todas as manufaturas têxteis da colônia, exceto a dos panos grossos para uso dos escravos e trabalhadores, para não atrapalhar a venda de tecidos e roupas comercializadas por portugueses no Brasil. GÊNESE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA A origem da indústria no Brasil mantém forte relação com a economia cafeeira desenvolvida entre os séculos XlX e XX, e que, estabeleceu as condições básicas para o surgimento do setor industrial no país. Dentre as contribuições da economia cafeeira para a industrialização, podemos apontar: 1. Acumulação de capital proveniente do setor agrário-exportador 2. Desenvolvimento da infra-estrutura 3. Expansão do mercado de consumo interno 4. Mão de obra especializada, especialmente os imigrantes europeus não portugueses. A transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808 determinou o alvará que abriu os portos ao comércio exterior e fixou taxa de 24% para produtos importados, exceto para os produtos portugueses taxados em 16%. Em 1810, o acordo comercial com a Inglaterra, fixou em 15% a tarifa para as mercadorias inglesas por um período de 15 anos. Neste período, o desenvolvimento industrial brasileiro foi mínimo devido à forte concorrência dos produtos ingleses que "invadiram" o mercado consumidor brasileiro. Em 1844 o decreto do Ministério da Fazenda (Lei Alves Branco) ampliava as taxas de importação para 30% sobre produtos sem similar nacional e 60% sobre aqueles com similar nacional. Assim, algumas atividades industriais do país foram protegidas. Entretanto, outros fatores dificultavam o desenvolvimento do setor industrial: 1. Insuficiência de capital para investimento 2. Inexistência de infra-estrutura 3. Limitação do mercado interno e força de trabalho PRIMEIRA FASE (1850-1930) A proibição do tráfico de escravos trouxe conseqüências importantes para o desenvolvimento industrial: 1. Os capitais que eram aplicados na compra de escravos ficaram disponíveis e foram aplicados no setor industrial. 2. A cafeicultura em rápida expansão, estimulada pela crescente demanda do mercado internacional, necessitava de mão-de-obra. Isso estimulou a entrada de um volume expressivo de imigrantes, alguns com experiência em técnicas de produção de manufaturados. Desta forma contribuíram decisivamente para a ampliação do mercado e a disponibilidade de força de trabalho indispensáveis ao desenvolvimento industrial. Os primeiros esforços importantes para a industrialização ocorrem durante o Segundo Reinado, quando empresários brasileiros como Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, e grupos estrangeiros, principalmente ingleses, investiram em estradas de ferro, estaleiros, empresas de transporte urbano e gás, bancos e seguradoras. Entretanto, a política econômica continuava a priorizar ás necessidades do setor agrário-exportador. Ao final do século XIX e início do século XX, as indústrias brasileiras em geral ainda não passam de pequenas oficinas, marcenarias, tecelagens, chapelarias, serrarias, moinhos de trigo, fiações e

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INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA CARACTERÍSTICAS GERAIS O processo de industrialização brasileiro pode ser caracterizado em suas primeiras etapas pelo desenvolvimento tardio e orientado para substituição de importações. Entre as décadas de 30 e 70, a industrialização mais consistente acentuou o processo de transformação sócio-econômica, decorrente da transição de uma economia agrário-exportadora para uma economia urbano-industrial.

FATORES DETERMINANTES PARA O DESENVOLVIMENTO TARDIO DO SETOR INDUSTRIAL BRASILEIRO Durante o período colonial, pelas regras da política econômica mercantilista, não podia ser implantada no Brasil nenhuma atividade produtiva que competisse com as atividades da metrópole ou que prejudicasse seus interesses comerciais. Em 1785, D. Maria I assinou o alvará que extinguira todas as manufaturas têxteis da colônia, exceto a dos panos grossos para uso dos escravos e trabalhadores, para não atrapalhar a venda de tecidos e roupas comercializadas por portugueses no Brasil.

GÊNESE DA INDÚSTRIA BRASILEIRA A origem da indústria no Brasil mantém forte relação com a economia cafeeira desenvolvida entre os séculos XlX e XX, e que, estabeleceu as condições básicas para o surgimento do setor industrial no país. Dentre as contribuições da economia cafeeira para a industrialização, podemos apontar: 1. Acumulação de capital proveniente do setor agrário-exportador 2. Desenvolvimento da infra-estrutura 3. Expansão do mercado de consumo interno 4. Mão de obra especializada, especialmente os imigrantes europeus não portugueses.

A transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808 determinou o alvará que abriu os portos ao comércio exterior e fixou taxa de 24% para produtos importados, exceto para os produtos portugueses taxados em 16%. Em 1810, o acordo comercial com a Inglaterra, fixou em 15% a tarifa para as mercadorias inglesas por um período de 15 anos. Neste período, o desenvolvimento industrial brasileiro foi mínimo devido à forte concorrência dos produtos ingleses que "invadiram" o mercado consumidor brasileiro. Em 1844 o decreto do Ministério da Fazenda (Lei Alves Branco) ampliava as taxas de importação para 30% sobre produtos sem similar nacional e 60% sobre aqueles com similar nacional. Assim, algumas atividades industriais do país foram protegidas. Entretanto, outros fatores dificultavam o desenvolvimento do setor industrial: 1. Insuficiência de capital para investimento 2. Inexistência de infra-estrutura 3. Limitação do mercado interno e força de trabalho

PRIMEIRA FASE (1850-1930) A proibição do tráfico de escravos trouxe conseqüências importantes para o desenvolvimento industrial: 1. Os capitais que eram aplicados na compra de escravos ficaram disponíveis e foram aplicados no setor industrial. 2. A cafeicultura em rápida expansão, estimulada pela crescente demanda do mercado internacional, necessitava de mão-de-obra. Isso estimulou a entrada de um volume expressivo de imigrantes, alguns com experiência em técnicas de produção de manufaturados. Desta forma contribuíram decisivamente para a ampliação do mercado e a disponibilidade de força de trabalho indispensáveis ao desenvolvimento industrial. Os primeiros esforços importantes para a industrialização ocorrem durante o Segundo Reinado, quando empresários brasileiros como Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, e grupos estrangeiros, principalmente ingleses, investiram em estradas de ferro, estaleiros, empresas de transporte urbano e gás, bancos e seguradoras. Entretanto, a política econômica continuava a priorizar ás necessidades do setor agrário-exportador. Ao final do século XIX e início do século XX, as indústrias brasileiras em geral ainda não passam de pequenas oficinas, marcenarias, tecelagens, chapelarias, serrarias, moinhos de trigo, fiações e

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fábricas de bebida e de conserva. Assim, O país continuava dependendo da importação de bens de produção, máquinas e equipamentos e grande parte dos bens de consumo. Até a República Velha, a economia brasileira dependia quase exclusivamente do desempenho das exportações, restritas à época a algumas commodities agrícolas. O bom desempenho dependia das condições do mercado internacional, e essas condições estavam fora do controle brasileiro, pois apesar de ser o principal produtor de café, outros países também influíam na oferta, e boa parte do mercado era controlada pelas grandes companhias atacadistas que especulavam com estoques. A demanda dependia das oscilações no crescimento mundial, aumentando em momentos de prosperidade econômica e retraindo-se quando os países ocidentais, principalmente EUA e Inglaterra estiveram em crise ou em guerra. Nesses períodos o declínio das exportações de café, criavam dificuldades para importação dos bens industrializados, o que estimulava os investimentos e a produção interna, principalmente no setor de bens de consumo.

SEGUNDA FASE (1930-1956): " A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL" – FASE NACIONALISTA Período marcado pela crise econômica de 1929/33, decorrente da grande depressão que atingira a economia norte-americana e responsável pelo acentuado declínio no comércio internacional. Os efeitos da quebra da bolsa de Nova York sobre a agricultura cafeeira e as mudanças geradas pela Revolução de 1930 mudaram o eixo da política econômica, que assumiu um caráter mais nacionalista e industrialista. Sob liderança de Getúlio Vargas a frente das oligarquias dissidentes, em aliança com parte dos integrantes do movimento tenetista, promoveram uma mudança decisiva no plano da política interna, eliminando o poder das oligarquias tradicionais sobre o Estado. Medidas concretas para a industrialização foram tomadas durante o Estado Novo. Entre as diversas realizações do governo, para alcançar tais objetivos, destacam-se a criação do Ministério do Trabalho (1931) e a promulgação da CLT (consolidação das leis trabalhistas) em 1943. Com Getúlio, os sindicatos passaram a ser unificados e atrelados ao governo. Essa mão-de-obra concentrada inicialmente no Rio de Janeiro e São Paulo em função do maior dinamismo econômico, foi ampliada em razão do declínio das atividades agro-exportadoras e dos fluxos cíclicos de movimentos migratórios de nordestinos expulsos pela seca e injustiça social. Com o fortalecimento do governo federal, a partir da criação do Estado Novo (ditadura Vargas), o processo de industrialização é impulsionado, com base nas políticas de caráter keynesiano, marcada pelo crescente intervencionismo estatal na economia. As dificuldades causadas pela Segunda Guerra Mundial ao comércio internacional favoreceram essa estratégia de substituição de importações O Estado, investiu maciçamente na criação da infra-estrutura industrial e do setor indústrial de base: Conselho Nacional do Petróleo/CNP (1938) Companhia Siderúrgica Nacional/CSN (1941) Companhia Vale do Rio Doce/CVRD (1943) Companhia Hidrelétrica do São Francisco/CHESF (1945)

Por isso, dentre os fatores que contribuíram para o desenvolvimento industrial a partir dos anos 30, destacam-se: 1. O grande êxodo rural, resultado da crise do setor agro-exportador e o consequente aumento da população urbana, que irá constituir um expressivo mercado consumidor. 2. A redução das importações em função da depressão mundial e da 2ª Guerra Mundial, que favoreceram o desenvolvimento industrial, em consequência da limitação da capacidade de importações. Portanto, entre a grande depressão dos anos 30 e a Segunda Guerra Mundial o ritmo acelerado de desenvolvimento da indústria brasileira foi proporcionado pela combinação de diversos fatores, como: a retração do comércio internacional e a transferência de investimentos para atividades orientadas para o mercado interno, o rápido crescimento da população urbana e a expressiva expansão do mercado interno, assim como, a maior disponibilidade de força de trabalho nos principais centros urbanos. Apesar da Segunda Guerra ter limitado o crescimento do setor industrial brasileiro devido as dificuldades para importação de equipamentos e máquinas necessárias ao processo de expansão deste setor, ao final do conflito já existiam indústrias com capital e tecnologia nacionais, como no setor de autopeças. Enquanto nas décadas anteriores houve predominância da indústria de bens de consumo, na década de 40 outros tipos de atividade industrial começam a se desenvolver como no setor de minerais, metalurgia, siderurgia, ou seja setores mais sofisticados tecnologicamente.

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Em 1946 teve início a produção de aço da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Volta Redonda, que abriu perspectivas para o desenvolvimento industrial do pais, já que o aço constitui a base ou a "matriz" para vários ramos ou tipos de indústria. No transcorrer da década de 50 um conjunto de problemas inibiam as possibilidades de maior desenvolvimento industrial: limitação da infra-estrutura econômica e crédito. Qualificação da força de trabalho

No segundo governo Vargas (1951-1954), o Estado retomaria as ações para expansão das condições estruturais necessárias à ampliação do desenvolvimento industrial. Foram criados mecanismos para direcionar capitais do setor agrícola para o industrial, em razão da ausência de um mercado de capitais organizado e também agências estatais para gerir e estimular o processo, como: o DASP (Departamento Administrativo do Setor Público) e o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico). Petrobrás e Eletrobrás

SEGUNDA FASE 1956/1985: "A INTERNACIONALIZAÇÃO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA" As transformações políticas no cenário internacional do Pós-Guerra e a expansão da infra estrutura econômica e do mercado interno brasileiro alteraram parcialmente a posição do país na divisão internacional do trabalho. Desta maneira, o nacionalismo da era Vargas foi substituído pelo desenvolvimentismo do governo Juscelino Kubitschek (1956/1961). O Plano de Metas orientou grande parte de seus recursos para estimular o setor de energia e transporte, o que possibilitou o aumento da produção de petróleo e da capacidade geradora do setor de energia elétrica, além da expansão da malha rodoviária. No entanto, esse desenvolvimento industrial foi resultado, em grande parte, do grande volume de capital estrangeiro, atraído por incentivos cambiais, tarifários e fiscais oferecidos pelo governo, através da Instrução 113 da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), instituída em 1955, no governo Café Filho. Essa medida permitia a entrada de máquinas e equipamentos sem cobertura cambial (sem depósito de dólares para a aquisição no Banco do Brasil). O grande volume de investimentos permitiu à diversificação do parque industrial brasileiro através da implantação das indústrias de bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos e veículos, a produção de máquinas e equipamentos pesados para mecanização agrícola, fabricação de fertilizantes, frigoríficos, material de transporte ferroviário e construção naval. Foram também expressivos, o desenvolvimento dos setores: siderúrgico, metalúrgico, químico e farmacêutico. No início dos anos 60 o setor industrial superava a média de crescimento dos demais setores da economia brasileira. A década de 60, entretanto, começou com sérios problemas políticos: a renúncia de Jânio Quadros em 1961, a posse do vice-presidente João Goulart, através de um acordo político que introduziu o sistema de governo parlamentarista, que limitava a capacidade de ação do executivo federal. A instabilidade política interna agravada pela conjuntura internacional, contaminada pelos desdobramentos da revolução cubana, ocasionaram brusca redução dos investimentos externos e a consequente retração do crescimento econômico e industrial, um dos fatores determinantes do isolamento do governo Goulart.

PERÍODO DO "MILAGRE ECONÔMICO" O regime autoritário implantado a partir de 1964, retomou o controle sobre a economia recuperando a credibilidade junto aos setores empresariais e o sistema financeiro internacional, o que garantiu a retomada do crescimento econômico, através de novos investimentos. Nesse período ocorreu uma maior diversificação da produção industrial e o Estado ampliou ainda mais sua participação em empreendimentos como: produção de energia elétrica, aço, petroquímica e infra-estrutura de transportes, assegurando para a iniciativa privada as condições de expansão de seus empreeendimentos. O setor de bens de consumo não-duráveis e duráveis manteve o ritmo de crescimento e ampliou sua produção através de artigos de luxo. Para sustentar tal crescimento industrial, recorreu-se à estratégias para amplição do mercado interno, via sistema de crédito ao consumidor, o que permitiu a incorporação de parcelas mais amplas da classe média. A exportação de produtos manufaturados através de incentivos governamentais, também foi estimulada, para garantir tais objetivos.

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A disponibilidade externa de capital e a determinação dos governos militares de fazer do Brasil uma "potência emergente" viabilizam pesados investimentos em infra-estrutura (rodovias, ferrovias, telecomunicações, portos, usinas hidrelétricas, usinas nucleares), nas indústrias de base (mineração e siderurgia), de transformação (papel, cimento, alumínio, produtos químicos, fertilizantes), equipamentos (geradores, sistemas de telefonia, máquinas, motores, turbinas), bens duráveis (veículos e eletrodomésticos) e na agroindústria de alimentos (grãos, carnes, laticínios). No início da década de 70, a economia apresenta resultados excepcionais, com o PIB crescendo a 12 %, e o setor industrial a 18% ao ano. Em meados dos anos 70, a crise do petróleo e a alta internacional dos juros desaceleram a expansão industrial. Com o financiamento externo mais caro, a economia brasileira ingressa num período de dificuldades crescentes, que levam o país, na década de 80, ao colapso financeiro, ocasionado pelo desequilíbrio do balanço de pagamentos e o descontrole da inflação. O país mergulha no seu mais longo período recessivo, impossibilitando o crescimento econômico. Após um período de inflação ascendente, foi lançado o Plano Cruzado ( governo Sarney), caracterizado como heterodoxo por tentar combinar o combate ao processo inflacionário com medidas para promover o crescimento econômico, sem adotar medidas de austeridade fiscal e monetária necessárias à recuperação da estabilidade econômica. Entretanto o caráter protecionista da economia brasileira restringia as importações, o que permitiu o desbastecimento principalmente de produtos de primeira necessidade, promovido por setores oligopolizados da economia, condenaram o plano econômico ao fracasso. No começo dos anos 90, a produção industrial é praticamente a mesma do início da década anterior. E no decorrer da década, também por conta da abertura econômica que permite a entrada maciça de produtos importados, o setor industrial vem encolhendo e perdendo participação no PIB para o setor de serviços.

TERCEIRA FASE (1985-2012): A NOVA POLÍTICA INDUSTRIAL No final dos anos 80, a produção industrial era praticamente a mesma do final da década anterior. Com o retorno a normalidade democrática e a vitória do candidato Fernando Collor representante do modelo Neoliberal, em curso em grande parte do mundo, inclusive na maior parte da América Latina. O novo modelo iniciava o processo de privatização, reduzindo a intervenção do Estado na economia. A partir da década de 90, e da emergência das idéias neoliberais, o processo de industrialização do país toma novo rumo, com a privatização de grande parte das estatais e da abertura cada vez maior da economia do país ao capital internacional, além da retirada de direitos trabalhistas históricos. E no decorrer da década, também por conta da abertura econômica que permite a entrada maciça de produtos importados, o setor industrial vem encolhendo e perdendo participação no PIB para o setor de serviços. Para isso ocorrer o país precisou abrir um intenso processo de privatizações entre elas a CSN, no governo de Itamar Franco, a Vale do Rio Doce no governo Fernando Henrique Cardoso, além de uma série de bancos estaduais, empresas de telefonia, hidrelétricas e estatais do setor energético. Durante o governo de Itamar Franco foi realizada outra reforma monetária, desta vez bem sucedida. O plano Real teve como objetivo principal, assegurar a estabilidade econômica. Entretanto com a valorização da nova moeda (real) frente ao dólar o país passou a ter que enfrentar as dificuldades de manter a balança comercial favorável, em razão do aumento bem maior das importações comparado ao aumento das exportações. Com o objetivo de conter evitar o aumento dos índices de inflacionários, relacionados com a perda de dólares do país, o governo estabeleceu altas taxas de juros para atrair o capital especulativo e manter a estabilidade monetária a custa do aumento da vulnerabilidade externa e o enorme endividamento interno. Apesar da estabilidade conquistada pelo real, as medidas tomadas para contê-la a inflação, também inibiram as taxas de produção, além das dificuldades colocadas aos pequenos e médios empresários brasileiros, submetidos às altas taxas de juros que desestimulavam a maior parte dos investimentos destinados às atividades produtivas. O resultado desta política econômica foi um país de certa forma estável, mas com baixas taxas de produtividade e conseqüente altas taxas de desemprego. O ajuste das contas públicas pós-Plano Real, e a adoção de medidas tanto políticas como jurídicas de apoio à micro e pequena indústria, bem como a entrada de capital estrangeiro atraído pelos programas de privatizações de estatais, elevadas taxas de juros e o ajuste das contas públicas reduziram gradativamente os riscos de investimentos de longo prazo no setor industrial. Foi também importante para essa nova

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realidade a estabilidade nas regras macro econômicas e a concretização de algumas reformas necessárias para a redução dos custos de produção, frente a nova realidade do mercado internacional. A conquista da auto-suficiência de petróleo, no momento de crise internacional do setor, minimizou o problema da dependência do setor industrial em relação a produção de energia, embora as limitações do setor energético continue sendo um dos “gargalos” para a expansão da economia brasileira. Resta ao Brasil enfrentar um desafio atual, cada vez mais imposto pelo mundo globalizado: a geração de tecnologia de ponta nacional.

A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS NO BRASIL A distribuição espacial da indústria brasileira, ainda se caracteriza por sua acentuada concentração na região sudeste, particularmente no estado de São Paulo, e neste, na região metropolitana da capital. Esta distribuição reflete o processo histórico, já que no momento do início da efetiva industrialização, o estado tinha, devido à cafeicultura, os principais fatores determinantes para instalação das indústrias. Some-se a esta conjunto de fatores a atuação estatal através de diversos planos governamentais, que acentuaram esta concentração. A partir desse processo industrial e, respectiva concentração, o Brasil, que não possuía um espaço geográfico nacional integrado, tendo uma estrutura de arquipélago econômico com várias áreas desarticuladas, passa a se integrar. Esta integração reflete nossa divisão inter-regional do trabalho, sendo tipicamente centro-periferia, ou seja, com a região Sudeste polarizando as demais.

A DESCENTRALIZAÇÃO DAS ATIVIDADES INDUSTRIAIS O processo de desconcentração (desindustrialização), que ocorre em escalas inter e intra-regionais, teve início nos anos 60, como reflexo principalmente da ação do Estado. Em São Paulo, a tendência de “pulverização” locacional ocorre através dos principais eixos rodoviários, em busca dos menores custos de produção no interior paulista, ao longo das rodovias Presidente Dutra, no Vale do Paraíba e Fernão Dias, que liga São Paulo à Belo Horizonte, além das rodovias Raposo Tavares e Castelo Branco, que se estendem pelo oeste do estado. As cidades de porte médio oferecem, além de incentivos fiscais, menores custos de mão-de-obra, sistema de transportes menos congestionados e melhor qualidade de vida, fator estratégico na instalação de tecnopólos. Esse processo de desconcentração industrial vem determinando o rápido crescimento das cidades-médias dotadas de boa infra-estrutura e centros formadores de mão-de-obra qualificada, geralmente universidades. Mudanças espaciais também são verificadas no plano inter-regional, como nos setores tradicionais, caracterizados pelo uso intensivo de mão-de-obra, entre estes, o de calçados e vestuários, concentrados originalmente na região Centro-sul, especialmente em São Paulo. Atualmente, setores como esses são

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atraídos para o Nordeste, sobretudo, pela mão-de-obra bem mais barata e os incentivos fiscais oferecidos pelas três esferas administrativas (municipal, estadual e federal).

Esse processo de realocação das atividades industriais deve-se em especial, a globalização da economia, que acirrou a competição entre as empresas, que procuram através deste tipo de estratégia reduzir seus custos de produção. Essa redistribuição espacial das atividades industriais, consolidada nos países mais desenvolvidos, também vem redesenhando o espaço industrial brasileiro.

EXERCÍCIOS DE VESTIBULARES

01. (UESPI) O desenvolvimento industrial brasileiro, que teve início no final do século XIX, ocorreu de forma desigual nas diferentes regiões do Brasil, pois houve uma concentração da atividade industrial, particularmente, nos Municípios de São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre outras razões, explicam esse fato: a) a formação de um mercado externo na região Sudeste e a criação de casas de importação por emigrantes estrangeiros. b) o domínio da cafeicultura no Sudeste, a conseqüente acumulação de capital e a imigração estrangeira que se dirigiu para essa região. c) o domínio da mineração em São Paulo e a fundação de casas de exportação que tinham como objetivo abastecer o mercado brasileiro de produtos nacionais. d) o desenvolvimento de empresas de extração mineral em São Paulo, que permitiu a acumulação de capital, e o conseqüente fluxo de emigrantes que para lá se dirigiu. e) a abolição da escravidão e a concentração da população na região Sudeste, fato que estimulou a criação de casas de importação.

02. (UNESP) É possível afirmar através de uma visão de síntese do processo histórico da industrialização no Brasil entre 1880 a 1980, que esta foi retardatária cerca de 100 anos em relação aos centros mundiais do capitalismo. Podemos identificar cinco fases que definem o panorama brasileiro de seu desenvolvimento industrial: 1880 a 1930, 1930 a 1955, 1956 a 1961, 1962 a 1964 e 1964 a 1980. Leia com atenção as afirmações a seguir, identificando-as com a sua fase de desenvolvimento industrial. I. Modelo de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro, sem descentralizar a indústria do Sudeste de forma significativa em direção a outras regiões brasileiras; corresponde ao período de Juscelino Kubitschek, com incremento da indústria de bens de consumo duráveis e de setores básicos. II. Modelo de política nacionalista da Era Vargas, com o desenvolvimento autônomo da base industrial demonstrado através da construção da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Ressalta-se que, neste período, a Segunda Guerra Mundial impulsionou a industrialização.

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III. Período de desaceleração da economia e do processo industrial motivados pela instabilidade e tensão política no Brasil. IV. Implantação dos principais setores da indústria de bens de consumo não duráveis ou indústria leve, mantendo-se a dependência brasileira em relação aos países mais industrializados. O Brasil não possuía indústrias de bens de capital ou de produção. V. Período em que o Brasil esteve submetido a constrangimentos econômicos, financeiros e sociais devido a seu endividamento no exterior com o objetivo de atingir o crescimento econômico de 10% ao ano. Mesmo assim, não houve muitos avanços na área social. Modernização conservadora com o Governo Militar.

(Secretaria da Educação. Geografia, Ensino Médio. São Paulo, 2008. Adaptado.)

A sequência das fases do desenvolvimento industrial brasileiro descritas nas afirmações é a) IV, II, I, III, V. b) I, II, V, IV, III. c) III, IV, V, I, II. d) I, III, II, V, IV. e) III, IV, II, V, I.

03. (MACKENZIE) Observe o quadro abaixo.

Quadro Operários, de Tarsila do Amaral, 1933. Óleo sobre tela 150 X 205 cm. Acervo Artístico-Cultural

do Palácio do Governo do Estado de São Paulo Coleção Governo do Estado de São Paulo.

Tarsila do Amaral (1886-1973) é considerada a primeira-dama do modernismo brasileiro e uma das responsáveis pela arte genuinamente nacional. Os temas que mais a interessavam eram os sociais e entre toda a sua obra, se destaca a tela Operários. A respeito do processo da industrialização brasileira, é correto afirmar que I. Ocorreu de forma tardia, tendo por base o processo de Substituição de Importações. II. Seu maior pólo, a partir dos anos 1920, foi São Paulo devido à infra-estrutura advinda da economia cafeeira. III. O primeiro e principal meio de transporte industrial foi o automotor, favorecido por eficiente malha rodoviária, que dinamizou a circulação dos mercados desde o início da economia cafeeira. IV. Através dele, o êxodo rural foi intenso, transformando cidades, como São Paulo, em grandes centros metropolitanos. Estão corretas, a) apenas, I, II e III. b) apenas, II, III e IV. c) apenas, I e IV. d) apenas, I, II e IV. e) I, II, III e IV.

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04. (PUCPR) São características do governo de Juscelino Kubitschek: a) fortalecimento das Forças Armadas; outorga de uma nova Constituição; repressão do Partido Comunista. b) modernização por meio de uma política autoritária; implantação da Usina de Volta Redonda; estabelecimento do salário mínimo. c) cassação do Partido Comunista; implantação de uma política econômica liberal; rompimento das relações diplomáticas com a União Soviética; d) definição de uma política denominada Plano de Metas; incentivo à industrialização. e) proibição do lança-perfume, do biquíni e das brigas de galos; implantação de um plano de desvalorização cambial e contenção de gastos públicos; diminuição de subsídios para os setores agrícolas.

05. (UFAL) O Brasil é considerado por muitos estudiosos como um país de industrialização tardia ou país subdesenvolvido industrializado. Denominações à parte, é certo que o Brasil tem aumentado a participação dos produtos industriais na pauta das exportações. Analise as afirmações sobre o processo de industrialização brasileiro. ( ) Apesar de vir perdendo indústrias nas últimas duas décadas, a região Sudeste ainda mantém a liderança nacional tanto no que se refere ao valor de produção como quanto ao número de empregados no setor industrial. ( ) Um novo modelo de industrialização tem sido instalado no Brasil. Trata-se da criação de Zonas Especiais de Exportação em áreas densamente povoadas como o litoral da região Norte e na área central da região Sul. ( ) Até a década de 1990, a metrópole de São Paulo concentrava ¾ da produção nacional de veículos. Na última década, as transnacionais automobilísticas optaram pela descentralização e surgiram unidades produtivas em outras regiões como o Sul e o Nordeste. ( ) Permanece em vigor o modelo de substituição de importações da década de 1950; apesar das políticas neoliberais e do processo de globalização, a produção nacional continua protegida das importações de bens industriais concorrentes aos nacionais. ( ) A internacionalização do processo de industrialização ocorreu em fases sucessivas: uma delas foi no período JK quando se instalaram no País indústrias de bens de consumo duráveis; a mais recente está associada às privatizações das estatais na década de 1990. Resposta: VFVFV

06. (UNIFOR) A questão está relacionada aos mapas e às afirmações a seguir.

(Hervé Théry e Neli Aparecida de Mello. Atlas do Brasil. São Paulo: Edusp, 2005.p. 159)

I. As novas unidades produtivas implantadas fora do Sudeste não conseguiram diminuir as diferenças regionais de industrialização. II. Com a redistribuição das indústrias automobilísticas, São Paulo perdeu a liderança nacional no quesito pessoal empregado na indústria.

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III. Há uma verdadeira guerra fiscal entre os estados e inúmeras empresas são atraídas para outras regiões do país. IV. Vários tecnopólos foram implantados no Nordeste, associados à indústria automobilística. A leitura dos mapas e os conhecimentos sobre a dinâmica industrial brasileira permitem afirmar que estão corretos SOMENTE a) I e II. b) I e III. c) I e IV. d) II e III. e) III e IV.

07. (FGV - ECONOMIA) Considere o mapa apresentado.

Assinale a alternativa que interpreta corretamente as informações expressas. a) Os eixos rodoviários pouco interferiram como fatores locacionais das indústrias, já que as ferrovias sempre foram o principal meio de circulação no Estado desde o ciclo do café. b) A hidrovia do Tietê é um fator importante para a localização dos parques industriais, principalmente no escoamento da produção automobilística, visando às exportações do Mercosul. c) O sistema Anchieta-Imigrantes liga a metrópole de São Paulo à aglomeração industrial da Baixada Santista, passando pelo ABCD, a maior aglomeração industrial da América Latina. d) Na direção do Rio de Janeiro, o eixo da Via Dutra apresenta uma importante aglomeração no município de Guarulhos, interligando os pólos industriais de alta tecnologia no Vale do Ribeira Paulista. e) Entre as cidades de Osasco e Carapicuíba, na Grande São Paulo, estrutura-se um importante corredor industrial, atravessado pelo sistema rodoviário Bandeirantes-Anhangüera.