Revista 6

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PLANO PRIMEIRO PLANO PRIMEIRO Rua Visconde de Ouro Preto, 308 - Florianópolis - SC - 88020-040 ANO 2 .Nº 6 .JUNHO 2007 R$ 10,00 DE VOLTA PARA O FUTURO DE VOLTA PARA O FUTURO CARROS CARROS PLANETA CAFÉ PLANETA CAFÉ ETANOL Mais consumo e outros aromas no momento pós-crise Brasil pode ser o centro da produção, mas é preciso arrumar a casa CELULOSE IRANI I EXEMPLOS DA ÍNDIA E CHINA I PROPAGANDA RESPONSÁVEL ENTREVISTA Olinta Cardoso, da Fundação Vale do Rio Doce: “Critérios sociais para desenvolvimento econômico” Como a Industria está respondendo aos novos desafios 9 771980 368060 6 0 0 0 0

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ANO 2 .Nº 6.JUNHO 2007

R$ 10,00

DE VOLTA PARAO FUTURODE VOLTA PARAO FUTURO

CARROSCARROS

PLANETA CAFÉPLANETA CAFÉ

ETANOL

Mais consumo e outrosaromas no momento pós-crise

Brasil pode ser o centroda produção, mas épreciso arrumar a casa

CELULOSE IRANI I EXEMPLOS DA ÍNDIA E CHINA I PROPAGANDA RESPONSÁVEL

ENTREVISTAOlinta Cardoso, da FundaçãoVale do Rio Doce:“Critérios sociais paradesenvolvimento econômico”

Como a Industria está respondendo aos novos desafios

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SUMÁRIO06 | POR EXEMPLOPortal Social: ferramenta para alavancarprojetos

22 | MUNDO DO TRABALHOPassos da modernização social nacana-de-açúcar

38 | RESPONSABILIDADESOCIAL

Fundos de Pensão adotam princípiossociais

44 | INCLUIRBons exemplos que vêm da Índia e China

52 | AMBIENTEIrani no caminho certo / Abelhasdesaparecem

54 | CONSUMO CONSCIENTEEnergia solar / Tela econômica / Fogãoeficiente

56 | AGENDA GLOBALAction Aid prevê cenário da produção dealimentos e etanol

58 | ENTREVISTADiretora-superintendente da Fundação Valedo Rio Doce aborda os rumos dasustentabilidade

62 | SOLUÇÕESGrampeador sem grampo | Selo de CO2

64 | MONITORSalário Mínimo e o poder de compra

66 | MEU MUNDOMaitê Proença e os hábitos em prol doplaneta

CARTAS

EXPEDIENTE

Os artigos e reportagens assinados não representam, necessariamente, o ponto devista das organizações parceiras e da revista Primeiro Plano. A divulgação domaterial publicado é permitida (e incentivada), desde que citada a fonte.

Visconde de Ouro Preto, 308 - Térreo - Centro – Florianópolis (SC) -88020-040 - Fone/fax: + 55 (48) 3025-3949www.primeiroplano.org.br - [email protected]

Diretor:

Odilon Luís FaccioEdição:

Sara Caprario (MTe/Sc 625-JP)Redação:

Sara Caprario, Vanessa Pedro (MTe/Sc 831-JP)Edição de Arte:

Maria José H. Coelho (MTe/Pr930)Fotografia:

Sérgio VignesColaboradores:

Celso Marcatto, Clemente Ganz Lúcio, Dauro Veras, Michelle Lopes,Paulo Itacarambi, Pieter Sijbrandij, Ronaldo Baltar.

Secretaria:

Lilian FranzDistribuição:

Luciano MarcondesImpressão:

Nova Letra Gráfica e Editora Ltda

Parceiros Institucionais

Banco do Estado de Santa Catarina (BESC) DepartamentoIntersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese)Fundação Vale do Rio Doce (FVRD) Instituto de Manejo eCertificação Florestal e Agrícola (Imaflora) Instituto ObservatórioSocial Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social Redede Tecnologia Social (RTS)

Olá,

Como já afirmei por telefone, quero parabenizar aequipe da Revista pelo excelente trabalho que estãofazendo. Conheci a revista em um restaurante de Flo-ripa e fiquei muito feliz por ver o excelente padrão deum instrumento de comunicação feito por gente daqui.O tema da responsabilidade social, do número queencontrei, está “espalhado” pela Revista,com uma di-versidade de artigos que realmente demonstra a com-plexidade e amplitude da questão.

Atenciosamente,

Profa Dra Sonia Maria Martins de MeloDiretora de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação

do Centro de Educação a Distância/CEAD/UDESC

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10AUTOMOVEIS E RSEOs caminhos em busca da eficiência

PLANETA CAFÉAspectos sociais, trabalhistas eeconômicos

ENSAIO FOTOGRÁFICOCultura Indígena reveladas em detalhes

PROPAGANDA RESPONSÁVELMovimentos em prol dos valores

ETANOLBrasil pode ser líder se fizer sua parte

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C

apresentação

om o aquecimento global é preciso estabelecer umarelação direta entre responsabilidade social e sus-tentabilidade do planeta. Nesta edição abordamos aprodução de automóveis e como as grandes empre-

sas e suas fornecedoras de autopeças realizam suas políticasde responsabilidade social, incluindo questões de como cami-nhamos para uma política de mobilidade mais sustentável. Anossa percepção é de avanços e limites. Os avanços estãonas relações de trabalho e no desenvolvimento de tecnologi-as. Um dos limites é estrutural.

É preciso ir além da produção de carros mais eficientes, épreciso pensar também nos efeitos que a grande quantidadede carros gera sobre as cidades.

Na mesma direção, tratamos também do etanol, seus efei-tos positivos e o quanto precisa avançar para diminuir o pas-sivo trabalhista e social. O Brasil pode se tornar líder na pro-dução desse biocombustível, mas na produção de cana-de-açúcar ainda persiste um dos trabalhos mais degradantes.Um dos desafios é garantir emprego decente e, ao mesmotempo, dar respostas para um enorme contingente de pesso-as que perderão o emprego com a implantação da mecaniza-ção e novas tecnologias. Num artigo especial é tratada a re-lação entre a expansão da cana-de-açúcar com a produçãodos alimentos.

Outro destaque dessa edição é o café, um setor que estávivendo uma realidade após uma grande crise internacional.Hoje somos beneficiados por consumir mais e melhores ca-fés, no entanto, ainda os pequenos produtores e trabalhado-res que plantam e colhem não participam dos ganhos.

Como conduzir os negócios de uma empresa de minera-ção pensando na sustentabilidade é o tema da entrevista es-pecial com a superintendente da Fundação Vale do Rio Doce.Ainda temos as matérias sobre a Celulose Irani que vem co-mercializando créditos de carbono, sobre os Fundos de Pen-são que adotaram critérios socioambientais para orientar seusinvestimentos e um breve panorama de como a propagandapode ser mais responsável.

Vale apreciar o ensaio fotográfico sobre a cultura indíge-na e deixar se levar pelas dicas espalhadas por toda a Revis-ta para que cada pessoa possa fazer a sua parte por um pla-neta sustentável.

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por exemplo O planeta em movimento

UPortal Social permiteinteratividade com projetossociais e ambientais

Do virtualpara o real

ma ferramenta decomunicação paramobilizar pessoase empresas para

apoiar organizações sociais queatuam em benefício de todos.Este é o grande desafio do PortalSocial, uma iniciativa da Funda-ção Maurício Sirotsky Sobrinho(FMSS) e do Instituto Nestor dePaula (INP), com apoio técnicodo clicRBS. Através do site nainternet www.portalsocial.org.bros interessados em contribuircom projetos sociais e ambien-tais podem escolher uma organi-zação ou instituição para fazerdoações on-line e ao mesmo tem-po manter-se informados sobreos resultados do investimento.

CARNE SEMTRABALHOESCRAVO

Os dois maioresfrigoríficos do Brasil eo maior do Sudesteparaense concorda-ram em cortar rela-ções comerciais compecuaristas flagradoscom trabalho escra-vo. A pressão veio doWal-Mart e do BancoMundial. Durante osdois anos de existên-cia do Pacto Nacionalpela Erradicação doTrabalho Escravo,acordo que envolveas empresas no com-bate a esse crime, ne-nhum frigorífico figu-rava entre os mais de100 signatários. Emmaio três frigoríficosdecidiram aderir: Ber-tin, Friboi e Reden-ção. O acordo reúneempresas que se com-prometem a erradicaro trabalho escravo emsuas cadeias produti-vas.

É a data l imitepara um documen-to internacionalque suceda o Pro-tocolo de Kyoto nocombate às mu-danças climáti-cas. A decisão foitomada no final demaio por 45 diplo-matas asiáticos eeuropeus reunidosna Alemanha.

2009Para o gerente executivo da

Fundação, Alceu Terra Nasci-mento, mais importante do queapenas oferecer recursos as pes-soas podem acompanhar os pro-jetos e aproximarem-se de umarede de organizações que desen-volvem ações relevantes e de im-pacto. “Muitos projetos preci-sam de apoio para garantir a sus-tentabilidade. As doações ser-vem como fonte de custeio paraalgumas instituições e assim elaspodem realizar melhor a ativida-de fim”, ressalta Alceu.

Os projetos são avaliadosantes de ir para o ar, e depois dedefinido o catálogo de iniciati-vas são realizadas visitas técni-cas para checagem final de da-

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dos e posterior assinatura de convê-nio com a Fundação Maurício Si-rotsky Sobrinho (FMSS). Este docu-mento registra os compromissos daspartes no que diz respeito à aplica-ção dos recursos que venham a serdoados pelos internautas.

As iniciativas selecionadas ga-nham uma página no site, onde per-manece pelo período de até dois anos(um ano para captação dos recursossolicitados no orçamento e um anopara execução do projeto). Neste es-paço são apresentadas informaçõessobre a organização promotora, a açãoproposta, o valor a ser captado, o nú-mero de pessoas que serão benefici-

adas diretamente pelo projeto, alémde fotos que retratem o trabalho reali-zado pela instituição.

“Acompanhamos o desenvolvi-mento e a prestação de contas decada projeto, disponibilizando estasinformações no Portal Social e direta-mente aos doadores que manifesta-rem interesse em recebê-las por e-mail”, diz Alceu.

O site é dinâmico e está sempreavançando para criar novos ambien-tes interativos. “Estamos criandomais áreas de informação e estamosplanejando abrir novas possibilida-des de participação das pessoas,como doação de equipamentos e par-

ticipação dos projetos como volun-tários”, adianta o gerente da Funda-ção.

Até metade deste ano foram be-neficiados 167 projetos e a meta paraa nova seleção, iniciada em maio, éalcançar 180 projetos. Foram R$ 244mil em doações, sendo que 120 proje-tos receberam apoio e 10 deles atingi-ram cem por cento das suas necessi-dades. Caso a instituição não tenhaconseguido captar 100% da meta,pode apresentar um novo plano deinvestimentos para aplicação dos re-cursos captados, preferencialmentemantendo o mesmo foco da propostainicial.

A SELEÇÃO DE PROJETOS

As inscrições de projetos para o Portal Social acontecem durante certosperíodos do ano e podem ser feitas apenas por Organizações Não-Governamentais (ONGs) com atuação no Rio Grande do Sul e SantaCatarina. Os projetos são avaliados e selecionados por comissõesregionais e estaduais constituídas para este fim, as quais são integradaspor representantes da sociedade civil e do Ministério Público.

COMO CONTRIBUIR

O internauta escolhe a instituição/projeto de sua preferência e define o valorda doação (mínimo de R$ 10,00). A ferramenta gera automaticamente umboleto bancário, o qual poderá ser pago pela internet (via código numéricoa ser digitado no site da instituição bancária onde o internauta possuirconta corrente) ou diretamente em uma agência bancária, através daimpressão do boleto.

GERENCIAMENTO DOS RECURSOS DOADOS

Os valores das contribuições realizados via Internet serão depositados emconta bancária específica para este fim. Os internautas/doadores poderãoacompanhar na página de cada projeto a evolução da captação derecursos, bem como receber notícias por e-mail, tanto sobre atividades dedivulgação do projeto realizadas pela instituição, como também a respeitoda efetiva aplicação dos recursos doados.Os recursos das doações são repassados integralmente ao projeto(descontando-se apenas a taxa bancária de emissão de boleto, no valorunitário de R$ 0,85, e a CPMF).Os recursos serão liberados à instituição executora mediante assinatura deum Termo de Cooperação, no qual a mesma se compromete a aplicá-losestritamente na execução do projeto.

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POR EXEMPLO

O premiado documentário “Uma Verdade Inconveniente” (An In-convenient Truth) chegou às lojas em DVD no mês de maio comembalagem em papel reciclado e uma novidade mundial, a inclu-são de disco extra com o documentário produzido pelo Greenpea-ce: “Mudanças do Clima, Mudanças de Vida”. Este documentá-rio, totalmente gravado em solo nacional, revela como o aqueci-mento global provoca vítimas, doenças e prejuízos econômicos emtodo o Brasil. Vencedor do Oscar de melhor documentário e me-lhor canção “Uma Verdade Inconveniente” é apresentado peloex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore. No Brasil, alémdo Greenpeace, outra ONG que apóia o lançamento do DVD é aSOS Mata Atlântica, concedendo palestras e apoio promocionaljunto aos principais clientes. A SOS foi criada em 1986 e tem comomissão defender os remanescentes da Mata Atlântica, conservan-do e buscando seu desenvolvimento sustentado.)

A comunidade paraibanaestá localizada entre o mare o mangue, e pouco a pou-co os seus valores vão sen-do descobertos, incentiva-dos e divulgados como for-ma de elevar a auto estimados moradores e registrar asua história. Os jovens ta-lentos estão sendo assisti-dos e apoiados pelo ProjetoComunidade de Boas Práti-cas, através da inclusão digi-tal, da capacitação técnica, daarte e do incentivo à leitura.

A idéia é gerar oportuni-dades de qualificação profis-sional, de protagonismo eempreendedorismo juvenil ealguns resultados já são ob-servados pelas famílias emoradores. A qualidade devida dos jovens e as perspec-tivas de um futuro melhor pas-sou a ser uma realidade.

O projeto é resultado deuma parceria entre o Tecop– Terminal de Combustívelda Paraíba e o Instituto Soma

Al Gore e Greenpeace

Inclusão digital e técnicaBrasil e foi elaborado de for-ma compartilhada com lide-ranças comunitárias do Re-canto do Poço da cidade deCabedelo, na Paraíba. O pú-blico-alvo do Projeto Comu-nidade de Boas Práticas sãoos jovens de 15 a 24 anosresidentes na comunidade, etem como objetivo criar umespaço de convivência soci-al e cidadã e atuar como al-ternativa de crescimento pes-soal e profissional.

Este ano o Projeto iniciououtras ações e atividadespara incentivar a competên-cia empreendedora entre osjovens, o associativismo e oestabelecimento de microsnegócios com a aplicação depesquisas, testes e capaci-tações dirigidas. Além disso,estratégias especiais serãoadotadas para prospectarparcerias que possibilitemidentificar e criar oportunida-des de ocupação e rendapara os jovens.

FRANK MAIA

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QUEM TIVER ASORTE DE

VISITAR A"FÁBRICA

TRANSPARENTE"DA

VOLKSWAGEN,NA ALEMANHA,

VERÁ O QUE ASEMPRESAS SÃO

CAPAZES.MAS

INEVITAVELMENTEA SOCIEDADE

E O SETORAUTOMOBILÍSTICO

TERÃO QUE SEPERGUNTAR:O AUMENTO

DE EFICIÊNCIAVAI SER

SUFICIENTEPARA QUE

A MOBILIDADE,ALÉM DE

RESPONSÁVEL,TAMBÉM SEJA

SUSTENTÁVEL?

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1111

Vanessa Pedro ePieter Sijbrandij

Para a maioria dos consumidores, os conhe-

cimentos sobre o setor automotivo se concen-

tram na potência do motor, no kit de acessóri-

os, no valor do juro cobrado para um financia-

mento longo e no prazo de entrega. Mas e aque-

les consumidores que também se interessam

em saber se seus automóveis são fabricados

de maneira socialmente e ambientalmente res-

ponsável? Para eles é possível perceber o in-

vestimento no setor? A indústria automobilísti-

ca está estruturada para fabricar carros que pro-

duzam menos poluição, respeitem os direitos

trabalhistas, ofereçam oportunidades iguais e

aumentem a oferta de empregos? A indústria

de automóveis passa por desafios, avanços e

contradições neste setor.

Imagine uma fábrica onde todo processo de

produção pode ser acompanhado através de

paredes transparentes. O chão não tem graxa,

os trabalhadores usam uniformes impecáveis,

a tecnologia auxilia o trabalho dos mecânicos

e a unidade é administrada em co-gestão com

os trabalhadores. Assim é a “Fábrica Transpa-

rente” da Volkswagen, em Dresden, na Alema-

nha. Ela foi criada para ser um modelo de orga-

nização, relação com os empregados, adminis-

tração e produção. Mas nesta fábrica cristalina

é montado apenas o modelo mais luxuoso, e o

tamanho o torna mais poluente do que outros

modelos menores da empresa. Sua fabricação

depende do fornecimento equipamentos e sis-

temas inteiros, produzidos por fábricas de

autopeças que não possuem o mesmo padrão

de produção. E está localizada apenas na Ale-

manha, com bons salários e boas relações de

trabalho, deixando para outras plantas em paí-

ses como China e o Brasil uma situação distin-

ta. Hoje a produção de um automóvel, para ser

socialmente responsável e sustentável, depen-

de da ação de atores diversos e de iniciativas

que vão além da organização da unidade de pro-

dução na montadora.

VOSFIOSVOSFIOS

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Outra questão impor-tante é a sustentabili-dade do modelo detransporte que priorizao automóvel, sem que

sejam desenvolvidos robustos e efi-cientes sistemas de transportes pú-blicos e coletivos. Com o novo im-pulso na indústria de automóveis,previsto por montadoras, autopeçase representantes dos trabalhadoresdo setor, mesmo que a indústria cadavez mais desenvolva mecanismossustentáveis de produção, a tendên-cia é o agravamento de uma situaçãoque já preocupa as cidades: o aumen-to da frota de automóveis. A malhaviária deficiente não suporta a frotaexistente e a margem para ampliaçãonão é infinita. Diante desse cenário,as grandes e médias cidades preci-sam discutir políticas públicas pararesolver o problema dos engarrafa-mentos e das condições de transpor-te da população. Muitas administra-ções estão divididas entre melhoraras condições da malha viária, parasuportar um sistema que o Brasil es-colheu há décadas quando começoua incentivar o desenvolvimento daindústria de automóveis, ou investirem transportes alternativos e coleti-vos.

Para tentar responder a estas eoutras questões e saber o quanto aindústria automotiva é sustentável ouse esforça em ser, a Revista PrimeiroPlano enviou questões, divididas emalguns temas relacionados à Respon-sabilidade Social, para vários repre-sentantes do setor. Todas as grandesmontadoras e alguns dos principaisfornecedores foram procurados pelareportagem. Todos os que responde-ram às questões propostas estão ci-tados na matéria. Também fomos embusca de documentos, histórias e aná-lises que demonstrem a atuação soci-al e ambiental das empresas. As ques-tões serviram para buscar atitudes eprojetos que considerassem a Res-ponsabilidade Social como uma ação

Sobre os investimentos em pes-quisa e desenvolvimento de tecnolo-gia no Brasil, a principal preocupa-ção é em relação à transferência deconhecimento. Muitas soluções tam-bém atingem diretamente a relaçãocom o meio ambiente, como a quanti-dade de gás carbônico emitido para aatmosfera.

A montadora Fiat, que em 2005produziu no Brasil 503.105 veículos(entre os quais 423.663 automóveis),investiu no Pólo de Desenvolvimen-to Giovanni Agnelli, inaugurado em2003. Isso garantiu à empresa realizartodas as etapas do desenvolvimentode um automóvel na fábrica de Betim(MG). Sua construção e equipamen-tos absorveram investimentos de R$400 milhões. O pólo é composto porseis áreas de engenharia e capacita aFiat a deter toda a tecnologia de pro-jetar um automóvel, do design até aconstrução dos protótipos. “Esta ca-pacitação representa um ganho com-petitivo para a Fiat e será utilizadatambém pela rede de fornecedorespara a realização de testes em seuscomponentes, além de aumentar assinergias com a matriz, na Itália”, afir-ma o diretor de Engenharia, AppioAguiari. “É o único centro de desen-volvimento da Fiat fora da Itália”,completa.

Em seu site brasileiro, a Volkswa-

O

FROTA DE VEÍCULOSNo país, segundo a Associação

Nacional dos Fabricantes deVeículos Automotores (Anfavea), a

frota é de aproximadamente 23milhões de unidades. São

valores próximos da China e daEspanha, mas bem distantes

dos Estados Unidos, quepossuem uma frota de 230

milhões de veículos. A relaçãoveículos por habitante no Brasil é

de 8,4, enquanto na Espanha,Japão e Alemanha é de 1,7

habitante por veículo.

transversal no processo de produçãoda empresa, em áreas como seguran-ça, tecnologia, reciclagem de materi-ais, aquecimento global, condições detrabalho na cadeia produtiva, empre-go e acesso dos consumidores à in-formação. Os temas têm ou terão umimpacto significativo para as empre-sas montadoras porque afetam o ne-gócio e são preocupações presentesda sociedade. Também são temas so-bre as quais as montadoras e autope-ças têm um razoável grau de controlee ingerência.

Todas as empresas que respon-deram às questões têm atuação emalguma ou em todas as áreas mencio-nadas. Entretanto, quando questio-nadas sobre Responsabilidade Soci-al, as empresas na maior parte dasvezes encaminharam informações pri-oritariamente sobre projetos sociaisdesenvolvidos com a comunidade.

“As grandes e médias

cidades precisam

discutir políticaspúblicas para resolver o

problema dos

engarrafamentos e dascondições de transporte

da população.”

NOVOSNOVOSNOVOSNOVOSNOVOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOS

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gen aponta seus centros de pesquisacomo destaques no desenvolvimen-to de tecnologias no país. “A razãode todo avanço tecnológico está, prin-cipalmente, na eficiência dos labora-tórios incumbidos de garantir a quali-dade dos produtos”. Segundo infor-mações oficiais da empresa, na Volksjá foram investidos mais de R$ 3 mi-lhões em laboratórios que fazem aná-lise de materiais e testes de odoresem peças metálicas, elétricas e quími-cas adquiridas de fornecedores. Sóna fábrica Anchieta seriam realizados400 testes por mês em mais de 2,5 milpeças de metal, plástico, borracha etecido, além de combustíveis e lubri-ficantes.

O motor flex, que trabalha comqualquer proporção de mistura de ál-cool e gasolina, é uma tecnologia de-senvolvida no Brasil. Ela está dispo-nível para comercialização em largaescala e é atualmente exportada parapaíses que estão adotando uso doálcool combustível. Diferentes empre-sas fornecedoras de peças e sistemasse intitulam pioneiras neste desenvol-

vimento. Ao fim, diversas companhi-as produzem partes diferentes do quese tornou o carro flex. A empresa Ro-bert Bosch venceu o Prêmio Finep deInovação Tecnológica, na categoriaproduto, pelo desenvolvimento datecnologia Flex Fuel. A Magneti Ma-relli, que começou suas atividades noBrasil em 1978 fabricando carburado-res, também participou desde o iníciodo lançamento dessa tecnologia.

O setor de transportes como emis-sor de dióxido de carbono é o quemais cresce em termos mundiais, em-bora o setor energético seja o que maisemite. A União Européia já anunciou

“O orgulho nacional

com respeito ao carroFlex mostra o que

Brasil é capaz em

desenvolvimento detecnologia e

transferência de

conhecimento.”

medidas obrigatórias para a indústriaautomobilística, colocando metas afim de tornarem os motores mais efi-cientes. O aquecimento global é ou-tro tema específico de RSE. O orgu-lho nacional com respeito ao carroFlex mostra o que Brasil é capaz emdesenvolvimento de tecnologia e trans-ferência de conhecimento. Manter eampliar os centros de pesquisa é es-sencial para o desenvolvimento do se-tor. Esses centros beneficiam toda umacadeia de fornecedores que geram em-pregos, pagam impostos e produzemserviços e produtos que melhoram aqualidade de vida.

Investimentos em novas tecnolo-gias prometem maior segurança. Aomesmo tempo existe uma tendênciade desenvolver modelos de baixo cus-to. Se não é uma atitude responsávelandar sem cinto de segurança, porque pode ser sem ABS ou airbag?Além do dilema da segurança mínimaoferecida, o setor automobilísticopoderia se engajar mais em campa-nhas para mudar a atitude pouco res-ponsável do motorista brasileiro. Um

Evolução na estradaA indústria automobilística modificou radicalmen-

te a sua estrutura no país nas últimas décadas, bus-cando aumento de produção e redução de custos.Dos anos 90 para cá, horizontalizou a produção. Dei-xou de ser um setor onde os fabricantes produziamtodo o conjunto do carro para dividir a cadeia produti-va com o setor de autopeças. Hoje as grandes fabri-cantes são montadoras, que recebem dos fornece-dores de autopeças os componentes do carro. Cen-tenas de pequenas e grandes fábricas de compo-nentes são responsáveis pela constituição de umautomóvel.

Há empresas, chamadas sistemistas, que forne-cem partes inteiras como motores ou outros compo-nentes fechados dos carros, enquanto outras forne-cem peças específicas. “A partir de 1996, todas asplantas passaram a ser horizontais”, afirma o diretorde Relações Internacionais da Confederação Nacio-nal dos Metalúrgicos (CNM), Valter Sanches. “O exem-plo extremo é a fábrica de caminhões e ônibus daVolkswagen em Resende (RJ): tem 3 mil trabalhado-

res, mas 700 são diretos e 2.300 são empregadosde outras empresas que fornecem para a montado-ra”.

Só na fabricação de automóveis, as montadoraschegaram a manter 133 mil empregados nos anos1980. De lá pra cá os números do emprego diretoforam sendo reduzidos até que se mantivessem emtorno dos 100 mil. Mas esta mudança não significounecessariamente desemprego, embora tenha resul-tado em redução de salários. “Os empregos migra-ram para outros setores como as autopeças”, diz San-ches. “Para as montadoras, era uma opção para lidarmelhor com as oscilações do mercado de consumode carros e para reduzir custos”. O crescimento doemprego nos últimos anos é sustentado em boa par-te pela exportação. Com a tendência de as montado-ras comprarem sistemas dos seus fornecedores e aconstante pressão pela redução de custos, as condi-ções de trabalho no setor de autopeças precisam deconstante monitoramento.

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estudo do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (IPEA) com o Dena-tran, divulgado em dezembro de 2006,indica que o preço dos acidentes detrânsito no Brasil entre julho de 2004e junho de 2005 superou os 22 bilhõesde reais, ou 1,2% do PIB nacional. Onúmero de mortes no trânsito regis-trado o ano passado superou os 35mil. Alguns cientistas calculam umtotal de até 80 mil mortos por ano. Osequipamentos como cintos de segu-rança e airbag para reduzir o impactonos acidentes, pneus mais aderentese freios ABS devem ser associados auma mudança na atitude dos moto-ristas brasileiros.

Há muitos exemplos de empresasque investem para aumentar a segu-

rança. A Peugeot Citroën garante arealização de rigorosos testes de se-gurança em suas fábricas no Brasil eem outros países. Entre os itens ofe-recidos no Brasil pela montadora, aempresa destaca os freios com ABS,sistema de auxílio a frenagem AFU edireção elétrica. Também destaca aatuação da companhia com educação,apresentando em fase final de impres-são a cartilha “Segurança no Trans-porte Veicular de Crianças”, desen-volvida em parceria com a Associa-ção Brasileira de Medicina de Trânsi-to (Abramet) com aprovação do

Denatran. Exemplares serão doadosaos Denatran para programas do ór-gão e também para outras entidades.

A Marcopolo, fabricante de ôni-bus, informa que foi a primeira empre-sa no Brasil a introduzir o cinto desegurança nas poltronas de passa-geiros, a poltrona com encosto alto e

pára-brisa laminado. Segurança e tec-nologia também caminham juntas nocaso dos fabricantes de pneus. A Brid-gestone-Firestone, maior fabricantemundial desde que adquiriu a Fires-tone em 1988, produziu os pneus parao primeiro automóvel produzido emsérie no mundo, o Ford-T. A empresainveste em tecnologias como a “uni-T”, para dar maior desempenho nosfatores que aferem a qualidade dopneu, como dirigibilidade em pistaseca e molhada, durabilidade, confor-to, ruído e tração. Já a Michelin de-senvolve no Brasil o programa mun-

dial Pressão Certa, um projeto paraalertar sobre a pressão que os pneusdos automóveis devem conter paramelhorar o desempenho, garantir se-gurança e durabilidade.

Logística reversa ou a capacida-de de reduzir o uso de materiais e ma-ximizar o reaproveitamento pela em-presa após o consumo também é umadas questões importantes sobre Res-ponsabilidade Social e Ambiental. Asempresas do setor investem valoressignificativos na redução de insumose reutilização de resíduos nos proces-sos de produção. A “produção enxu-ta”, conceito vitorioso que trabalhacom estoques mínimos e uma rigoro-sa análise de aproveitamento dos in-sumos, liderada pela Toyota, trouxe

não apenas redução de custos, comotambém resultou em benefícios ambi-entais. Uma questão é até que pontoas montadoras assumem responsabi-lidade pela coleta e reciclagem de ma-terial após o consumo, como no casodas baterias, óleo e pneus. Essa ges-tão de “ciclo de vida” cresce em im-portância, considerando os volumesenvolvidos.

No mundo, 70% das 5,5 milhõesde toneladas de chumbo utilizadas nafabricação de baterias são para a in-dústria automotiva. No Brasil são re-cicladas até 80% das baterias. Segun-

- 24 empresas produzem automóveis, veículos comerciais leves, caminhões, ônibus, máquinasagrícolas automotrizes, motores e componentes, com 45 unidades distribuídas pelo país, das quais22 foram inauguradas entre 1996 e 2002.

- A região que mais concentra empresas do setor é a Sudeste, com 28 unidades, seguida do Sul,

com 14.

- Cerca de 90 mil empregados trabalham para as fabricantes de autoveículos (dados de 2004).

- Considerando apenas as fábricas de automóveis, são 25 espalhadas pelo Brasil e a Região Sudesteconcentra o maior número delas.

Fonte: Anuário da Indústria Automobilística Brasileira, produzido pela Anfavea em 2006.

DADOS GERAIS

“O setorautomobilístico poderia

se engajar mais em

campanhas para mudara atitude pouco

responsável do

motorista brasileiro.”

NOVOSNOVOSNOVOSNOVOSNOVOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOSDESAFIOS

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do dados de 2005 do CompromissoEmpresarial para Reciclagem (CEM-PRE), países desenvolvidos chegampróximos aos 95%. O Brasil produziu,em 2005, 53,4 milhões de unidades depneus. Desse total, 58% das 220 miltoneladas de pneus foram destinadasà reciclagem. Nos EUA, o percentualgira em torno de 73%, ou 685 mil to-neladas das 940 mil carcaças jogadasfora por ano. O Brasil consome anu-almente cerca de um bilhão de litrosde óleo lubrificante e gera 350 milhõesde litros de óleo usado. O uso auto-motivo representa 60% do consumonacional. Dados de 2005 revelam quea coleta foi de 268 milhões de litros.Embora o óleo lubrificante represen-te uma porcentagem ínfima do lixo, oseu impacto ambiental é muito gran-de. Apenas um litro de óleo é capazde esgotar o oxigênio de um milhãode litros de água, formando, em pou-cos dias, uma fina camada sobre umasuperfície de mil metros quadrados, oque bloqueia a passagem de ar e luz,impedindo a respiração e a fotossín-tese.

As Baterias Moura investem emreciclagem da sucata da bateria e apro-

veitamento de todo o chumbo, o plás-tico e a água utilizados na fabricaçãodos acumuladores. A empresa afirmaque também desenvolve campanhasde incentivo à devolução da sucataem toda a sua rede de distribuição. Asueca Visteon, que produz diversossistemas internos como painéis, sis-temas eletrônicos de climatização,áudio, aquecimento e rolamentos, in-vestiu neste setor associada às mon-tadoras, como no caso da Fiat. A em-presa promoveu a troca das chama-das gaiolas, que fazem parte do siste-ma de rolamentos e sempre foram deaço, para materiais plásticos, menospoluentes na fabricação e mais aptosà reciclagem. A Ford, em seu site, des-taca o tratamento e a reutilização daágua no processo de pintura dos ve-ículos, realizados em todas as suasunidades no Brasil (Taubaté, São Ber-nardo do Campo, Complexo Industri-al Ford Nordeste e Campo de Provasde Tatuí). O aumento da eficiência comredução dos insumos e o incrementoda reciclagem das sobras nos proces-sos de produção são importantes.Porém, mais pode ser feito, sobretu-do pelas detentoras das marcas gran-

MONTADORAS

2006– 2,5 milhões deveículos produzidos

2007– a previsão éultrapassar os 3milhões

Faturamento

anos 80– US$ 2 bilhões ao ano

Faturamento em

2005– US$ 29 bilhões

FATURAMENTO NA

DÉCADA DE 80- US$ 5 BILHÕES POR ANO

EM 2005- US$ 25 BILHÕES

INDÚSTRIA DEAUTO_PEÇAS

MONTADORAS

INDÚSTRIA DEAUTO_PEÇAS

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des, em trabalhar a reciclagem pós-consumo.

Em empresas como a ArvimMeri-tor, que produz amortecedores, eixos,freios, sistemas de escapamento, si-lenciosos e outras peças, destaca-seo programa de pós-consumo que pre-vê coleta seletiva permanente. Osmateriais coletados são enviadospara uma empresa que os recicla porcompleto. Segundo dados da empre-sa, em 2006 foram recicladas cerca de

300 toneladas entre plástico, vidro,papel e madeira. De cavaco de açoforam 6.500 toneladas enviadas pararefusão e reaproveitamento. A fran-cesa Renault investe em reciclagemdos resíduos que produz e na substi-tuição de materiais. Segundo a em-presa, das 30 mil toneladas anuais deresíduos industriais gerados pelastrês fábricas, 95% são recicladas. AGM afirma que tem o compromissocom a redução de desperdício e de

poluentes, reciclando materiais emtodos os estágios do ciclo de vida doproduto.

MECANIZAÇÃOOs dados da Anfavea mostram

que a produtividade da mão-de- obraaumentou, em 40 anos, de 3 até 21carros por empregado em 2005. O cus-to da mão-de-obra é um dos fatoresque pesa para a decisão de uma mon-tadora se instalar ou renovar fábricasnum país. E as diferenças são gran-des entre os países. Segundo cálcu-los da Federação Internacional dosTrabalhadores das Indústrias Meta-lúrgicas (FITIM), o custo de carronovo de classe média equivale a 75dias de trabalho do metalúrgico ale-mão, 93 do norte-americano, 149 doespanhol, 324 dias do trabalhadorbrasileiro, 517 do turco, 870 do sul-africano, 1.298 do hindu e 3.070 diasdo indonésio. Ou seja, o metalúrgicoindonésio precisa trabalhar quarentavezes mais tempo que o alemão e qua-se dez vezes mais que o brasileiro paracomprar o carro que fabrica.

Nas questões sobre condições detrabalho e empregos, em geral as em-presas que responderam à entrevistafalam em investimentos na produçãoe aumento de contratações, visandomais o mercado interno ou o Merco-sul do que fora do continente. A Cum-

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mins, fabricante norte-americana demotores diesel para Ford, Volkswa-gen e Agrale, confirma a tendênciade os países asiáticos atraírem maisinvestimentos e de o Brasil reduzir acapacidade de exportar em função dodólar baixo, mas acredita na deman-da do mercado interno. “Temos ummercado interno de fazer inveja àmaior parte dos países e muitas ma-trizes entendem que só por esta ra-zão já é super importante manter in-vestimentos e modernizar as opera-ções por aqui”, diz Luis Pasquotto,diretor técnico comercial da CumminsLatin America. “Na Cummins, porexemplo, estamos convictos do mai-or crescimento do país nos anos vin-douros e projetamos volumes cres-centes em nossa fábrica de motores”.

A Renault destaca entre as suasações o Programa de Contratação dePessoas com Deficiência. Em 2006 aempresa lançou seu primeiro Balan-ço Social. A Peugeot Citroën afirmater como política não anunciar comantecedência os planos de contra-tação de pessoal, mas diz que querampliar sua participação de merca-do no Brasil e no Mercosul, o que,segundo a companhia, pode resultarno aumento de efetivos. “A estraté-gia da empresa é estar presente in-dustrialmente nas principais regiõesonde está presente comercialmente,com as fábricas locais apoiando o de-senvolvimento comercial em sua re-gião específica”, afirma a direção.“Assim, temos fábricas na Europa,no Mercosul e na China, sem que

A principal luta dos anos 80 e 90 no Brasil foi contra a emis-são de poluentes, liderada com êxito pelo Programa Proconve do

Ministério de Meio Ambiente. Em 20 anos de Proconve a reduçãode emissão de poluentes foi de 98% de monóxido de carbono

(CO), de 95% de hidrocarbonetos (HC), de 94% de monóxidos denitrogênio (NOx) e de 92% de aldeídos nos veículos automotores.

Isso evitou quase 15 mil mortes na Região Metropolitana de SãoPaulo provocadas por doenças cardiovasculares e pulmonares

e representa uma economia de US$ 1,322 bilhão em internaçõese procedimentos. Para o diretor do programa, Paulo Macedo, os

resultados mais expressivos alcançados pelo Proconve nestes20 anos são: a modernização do parque industrial automotivo

brasileiro; a adoção, atualização e desenvolvimento de novastecnologias; a melhoria da qualidade dos combustíveis automo-

tivos; a formação de mão-de-obra técnica especializada; o apor-te no Brasil de novos investimentos, de novas indústrias, de la-

boratórios de emissão; e o maior de todos os efeitos, que é aredução da emissão de poluentes.

A frente está mudando hoje para o aquecimento global e aluta na redução da emissão de CO2. Assumir essa responsabili-

dade publicamente é o mínimo que as montadoras podem fazer.Não adianta apenas falar para os europeus críticos, já que lá

existem normas de redução drástica. Os brasileiros desejam emerecem um mundo melhor, e têm o direito de saber para poder

escolher. “Esta preocupação é recente e, assim como nós, so-mente agora os países que têm programas como o Proconve

estão trabalhando nesta limitação”, diz Macedo. Ainda assim, aResolução 342 da CONAMA solicita desde 2003 aos produtores

de motos e veículos que forneçam os dados para estudos refe-rentes ao aquecimento global.

Como consumidor, a redação de Primeiro Plano entrou emcontato com as principais montadoras do Brasil, procurando

informações sobre a emissão de CO2 dos modelos mais ven-didos no país. O objetivo era produzir um “ranking” e contribuir

desta maneira para a conscientização do consumidor brasi-leiro. A nossa surpresa foi grande. Apenas a Volkswagen res-

pondeu com dados: “Os motores VW, independente do com-bustível utilizado, emitem em média 160 g/km de CO2, estan-

do em conformidade com as normas do PROCONVE vigentesno Brasil”. As demais não informaram e remeteram ao pró-

prio manual, site ou sugeriram fazer uma pesquisa.

Emissões deCarbono

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isso tenha como reflexo o deslocamen-to para lugares com custo de produ-ção mais baixo”. A Peugeot Citroëndestaca também, sobre condições detrabalho, o Acordo Mundial sobreResponsabilidade Social, firmado em2006 com a Federação Internacionalde Organizações de Metalúrgicos(FIOM) e a Federação Européia deMetalúrgicos (FEM), que represen-tam 85 organizações sindicais.

Segundo a companhia, está sen-do implementado em todas as filiais.No Brasil, o acordo foi ratificado emsetembro de 2006. Prevê o compro-misso de adotar as melhores práticasem matéria de recursos humanos edifundir em todo o mundo a políticade igualdade de oportunidades. Oacordo também estende as exigênci-as aos fornecedores.

Para a representação dos traba-lhadores no setor, a negociação in-ternacional é o grande desafio. A as-sinatura de Acordos Marcos Globaisé uma saída viável e eficiente. Sãonegociações feitas por empresa, nasquais elas se comprometem expres-samente a cumprir as convenções daOIT (Organização Internacional doTrabalho), a cobrar a mesma atitudedos fornecedores e, principalmente,dá condições de monitoramento porparte dos sindicatos. Segundo ValterSanches, da CNM (ConfederaçãoNacional dos Metalúrgicos), váriasempresas já possuem acordos, prin-cipalmente as européias. A dificulda-de ainda está nas asiáticas, que hojedominam o mercado mundial, e nasnorte-americanas.

A última questão é sobre as inici-ativas para informar os consumido-res sobre o desempenho sócio-ambi-ental das empresas. O grau de dispo-nibilização dessas informações podeajudar a medir o quanto as empresasprestam contas à sociedade das suasiniciativas. Também é uma forma deacompanhar o desenvolvimento dascompanhias nas áreas já citadas.

Ainda há muito o que avançar.

Todos direcionaram suas respostaspara a área de projetos sociais e é issoque ganha destaque nos websitesdas empresas. Isto revela que o temaResponsabilidade Social não está noprocesso de gestão. Quando procu-ramos os dados em nível internacio-nal, encontramos bastante informa-ção sobre política, programas e resul-tados ambientais e sociais. Algumasmontadoras usam as diretrizes GRI(Global Reporting Initiative), mostrama evolução dos indicadores e publi-

cam textos adicionais sobre temas queconsideram cruciais para o futuro daempresa, do setor e da sociedade emrelação ao aquecimento global, mobi-lidade, segurança, entre outros. O Ro-berts Environmental Center do Clare-mont McKenna College, nos EstadosUnidos, faz um detalhado acompa-nhamento e avaliação da informaçãosócio-ambiental publicada pelo setorautomotivo. Os dados, de 2006, mos-tram que as montadoras divulgammais e melhor que os seus fornece-dores. Este estudo também permitecomparar o que é pronunciado comopolítica da empresa, ou seja, quais assuas intenções divulgadas, com osdados divulgados sobre o deu desem-penho. As diferenças são marcantes.Na escala de 0-100, a qualidade depronunciamento das intenções ambi-entais do conjunto das empresas do

• Diminua o uso do veículo particular. Faça-o de forma eficiente.

• Não viaje só. Organize traslados em grupos ouem transporte coletivo.

• Calibre satisfatoriamente os pneus. Você economizarácombustível e o motor não o queimará desnecessariamente.

• Revise a emissão de gases do seu veículo.

• Não acelere quando o veículo não estiver em movimento.

• Reduza o uso do ar-condicionado, pois ele reduz a potência domotor e eleva o consumo de combustível.

• Diminua a velocidade. Nunca ultrapasse a velocidade permitida.Acima dessa velocidade há um excessivo consumo de combustível.

• Nunca sobrecarregue o veículo. Mais peso, maior consumo decombustível.

• Comece a utilizar a bicicleta na medida do possível.

O quepodemos

fazer paradeter o

AquecimentoGlobal?

Com atitudes cotidianaspodemos preservar o meioambiente. Há açõesindividuais possíveis de serrealizadas em relação aoconsumo de água, ao uso deenergia, à produção de lixo,à reciclagem de materiais etambém ao transporte.Algumas dicas:

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Uma das saídas para reduzir a emissão de gasesnocivos ao meio ambiente e tornar a fabricação deautomóveis mais sustentável é o carro movido a ener-gia elétrica. Ainda não é um produto disponível emlarga escala no mercado, mas pesquisas e iniciativasde produção já são realizadas com sucesso. Um dosprojetos que a General Motors apresentou na mostraautomotiva de Detroit este ano foi o GM/Volt. Um veí-culo híbrido que permite andar apenas com energiaelétrica, em curtas distâncias, ou consumindo um mí-nimo de combustível fóssil, por meio de um motor uti-lizado apenas para manter a carga da bateria elétrica.

No Brasil, o Instituto Nacional de Eficiência Ener-gética (INEE) e a Associação Brasileira do VeículoElétrico (ABVE) vão realizar em outubro, no Rio deJaneiro, a quinta edição do Seminário e Exposição deVeículos Elétricos. Na França, a empresa Cleanovadesenvolveu um sistema que possibilita converter qual-quer veículo a combustão em um veículo elétrico, per-mitindo a circulação de 100 Km pelo valor de um euro.

As principais vantagens dos veículos elétricos sãoambientais. Além da redução na emissão de gás car-bônico, não utilizam óleo nem água, parados não con-somem energia e são silenciosos.

DESAFIOSDAS

MONTADORAS• Engajar-se em programasde atitude responsável dosseus clientes no trânsito.

• Garantir boas condições

sócio-ambientais nos seus

fornecedores, valorizando

certificações como ISO14001,

OHSAS 18001 e SA8000.

• Divulgar mais, melhor e emportuguês, utilizandoformatos reconhecidos,como a GRI (GlobalReporting Initiative).

• Aproveitar do

conhecimento e criatividade

dos brasileiros ampliando

centros de pesquisa e

desenvolvimento de novos

produtos.

• Engajar clientes,concessionárias efornecedores na gestão dociclo dos materiais pós-consumo.

• Desenvolver relações de

trabalho com representantes

nacionais e internacionais

que visem a produção

socialmente responsável e

ambientalmente sustentável.

• Reduzir a emissão de gasespoluentes e CO2 além dosníveis obrigatórios.

Carroelétrico

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setor ganhou um score de 69. Na horade medir a performance divulgada, caipara 8 pontos. Um padrão similar ocor-re nos aspectos sociais. As intençõeschegam a um score de 52, mas na per-formance a média cai para 13.

O setor automotivo ainda neces-sita de grande desenvolvimento eminiciativas sociais e ambientais, prin-

cipalmente face ao desafio de reduzira emissão de poluentes que provo-cam o aquecimento global e às altera-ções no modo de produção que levainvestimentos para onde a mão-de-obra tem menor custo. Ainda há mui-to a avançar para que se possa aliarsustentabilidade com um eficientemodelo de transporte.

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Diretor executivo doInstituto Ethos

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PAULO ITACARAMBI

Apoio à pequenaempresa

A função social da empresa vem passando por uma mudança contínua, profundae cada vez mais evidente. Trata-se de uma mudança da maneira de fazer negócios que,sem perder de foco o lucro ao acionista, busca incluir as demandas dos diversospúblicos com os quais se relaciona, compartilhando com os mesmos os resultadosobtidos. Esta é, genericamente, a definição para responsabilidade social empresarial.A qualidade do comportamento da empresa vira atributo de competitividade, assimcomo as variáveis administrativo-financeiras, preço e a excelência dos produtos eserviços. Já o comportamento pode ser verificado por critérios muito concretos paraa sociedade, se bem que ainda intangíveis para boa parte dos analistas de negócios:a transparência da governança e a adesão (e aderência) da empresa aos valoreséticos; o nível de cidadania empresarial relacionada ao grau de participação da em-presa na solução dos problemas; e o grau de compromisso e efetividade da empresano equilíbrio entre benefícios privados e públicos de suas atividades, medidos pelograu de estabilidade entre os resultados econômicos, sociais e ambientais de seusnegócios.

A sociedade, por diversos mecanismos, demanda e propõe mudanças na funçãosocial da empresa. Este processo caminha em paralelo com a mudança da funçãosocial do Estado e das organizações da sociedade civil. Está se fortalecendo nasociedade a convicção de que a empresa deve ser instrumento de geração de riquezaspara o conjunto dos públicos interessados, não apenas para os acionistas. As orga-nizações da sociedade civil têm um relevante papel: além de cooperação e articulaçãode ações com empresas, também exercem uma função fiscalizadora. A sociedade,dessa forma, cobra responsabilidade da empresa sobre as suas externalidades – osimpactos socioambientais negativos de produtos, processos e serviços oferecidos.

Nova oportunidade - O movimento da sociedade também impulsiona o desenvol-vimento de um novo papel para o Estado, com outras estratégias para atingir objeti-vos distributivistas próprios da função pública do Estado.

A construção de um ambiente mais favorável ao desenvolvimento das atividadesprodutivas mais amigáveis com os serviços da natureza e com impacto social e eco-nômico melhor redistribuído tanto em termos social quanto regional, função social doEstado, pode ser facilitada pelo estímulo á valorização, por parte do mercado, docomportamento empresarial socialmente responsável. É, portanto, estratégico, legíti-mo e fundamental que o Estado utilize o poder de compra para beneficiar as pequenase microempresas, geradoras de empregos, de renda e de desenvolvimento local eregional. Por isso, a Lei Geral da PMEs é um instrumento estratégico e fundamentalpara a construção de um país com oportunidades para todos. Mantendo-se os prin-cípios básicos que regem o Direito Administrativo, é perfeitamente legal e imprescin-dível que os órgãos dos diversos níveis de governo façam uso de seu poder dediscricionaridade – conferido pela sociedade – para desenvolver estratégias de inte-resse público. Investir de modo diferenciado em PMEs é tão legítimo quanto selecio-nar alguns setores da economia ou regiões do país para receber incentivos, políticasespecíficas, isenções fiscais, e outras estratégias de desenvolvimento econômico esocial.

Acredito que as empresas comprometidas em construir um comportamento soci-almente responsável no mercado apóiam uma política pública de investimento dife-renciado em PMEs, uma vez que tal fato contribui para a construção de fundaçõessólidas em uma sociedade inclusiva e sustentável.

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Qualidade na vidaMUNDO DO TRABALHO

O crescimento do setor pro-voca movimentos contraditóri-os: a diminuição do número deempregos na produção dacana, em decorrência especi-almente da mecanização, ocrescimento do número de tra-balhadores com carteira assi-nada na produção e a geraçãode mais empregos nas usinas.Para que a produção seja sus-tentável e socialmente justa,como também para evitar possí-veis barreiras na exportação doetanol, o Brasil deve continuaravançando na área trabalhista.

De acordo com a Única(União da Indústria Canavieirade São Paulo), o setor em SãoPaulo tem alto índice de cartei-ra trabalhista assinada, com osdireitos assegurados. Mas issonão significa qualidade de vidae de trabalho porque é o míni-mo que a Constituição Brasilei-ra exige. Segundo Braz Alberti-ni, presidente da Federaçãodos Trabalhadores Rurais deSão Paulo (Fetaesp), o cortepor produção exige muito maisdo trabalhador, mas jamais aindústria vai pagar um salárioalto que satisfaça a maioria dostrabalhadores.

MUDANÇAS - Diversos mo-tivos, como uma maior consci-entização do papel social dasempresas, mudanças nos go-vernos, fiscalização pelos ór-gãos públicos, ação dos sindi-catos e ongs, presença de em-presas estrangeiras e pressãodos consumidores, estão pro-vocando mudanças no modode conduta de setores empre-sariais rurais do setor.

Há controvérsias quandose fala em remuneração. A Úni-ca afirma que a remuneraçãomédia do trabalhador no cortemanual de cana seria duas ve-zes maior que o salário míni-

reais por mês é oque recebe, emmédia, o trabalha-dor que colhe 10toneladas de canapor dia. Hoje o pisovaria de R$ 380 aR$ 470,00 confor-me o acordo cole-tivo.Fonte: DieeseQUANTOS SÃO

Conforme estudodo Dieese, dos 4,9milhões trabalhado-res, aproximadamen-te dois milhões teri-am postos fixos comcontratos de trabalhopor tempo indetermi-nado. Outro contin-gente de 1,5 milhãoseriam contratadospor safra com dura-ção de 4 a 8 mesese, por fim, mais 1,5milhão seriam decontratos de curtaduração, em culturascomo tomate, feijão,milho e café. Nessescasos, muitos traba-lhadores migram aolongo do ano por trêsa quatro estados dopaís em busca deoportunidades detrabalho.

Condições sociais naprodução de cana

mo nacional, quando supera ameta de 10 toneladas de canapor dia. O professor da Univer-sidade Federal de São Carlos(UFSCar), Francisco Alves, quepesquisa o setor, na década de80 o piso era de dois saláriosmínimos e meio e hoje os valo-res estão na média de R$750,00.

De acordo com o estudo doDieese (Desempenho do setorsucroalcooleiro brasileiro e ostrabalhadores, fevereiro de2007), na cultura da cana ocor-rem dois fenômenos simultâ-neos: por um lado, a diminui-ção do número de empregosno cultivo, em paralelo com oaumento da formalização dascontratações. O crescimento donúmero de trabalhadores comcarteira assinada entre 1992 a2002 pulou de 47% para 60%.Em São Paulo, os representan-tes empresariais e sindicaisconcordam que o emprego for-mal represente 90%.

Mas, em termos de renda,houve uma queda de 26% doscom carteira ao longo da déca-da de 90, passando de R$411,70 para R$ 310,00. A for-malização é uma garantia dosdireitos mínimos, entre eles, osprevidenciários. Quem nãoestá no mercado de trabalho ousem vínculo formal fica em si-

O aumento dasvendas do etanole a melhoria dospreços do açúcarindicam que é omelhor momentopara se debater arenda, emprego econdições detrabalho do setor653

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tuação precária. A existência do di-reito formal não é garantia que elesexistem de fato. Muitas vezes hátambém o descumprimento da le-gislação, o que implica na fiscaliza-ção e atuação dos sindicatos.

Em março deste ano, o GrupoEstadual de Fiscalização Rural daDelegacia Regional do Trabalho emSão Paulo (DRT/SP), aplicou 72multas em oito usinas sucroalcoo-leiras que possuem propriedadesrurais nas regiões de Marília, Assise Bauru, novas fronteiras de canade São Paulo. As principais infra-ções à lei constatadas foram ôni-bus de transporte de trabalhadores

rurais sem autorização do Departa-mento de Estradas de Rodagempara realizar a atividade; falta deEquipamentos de Proteção Individu-al (EPIs); excesso de jornada de tra-balho; falta de ferramentas adequa-das para a realização das tarefas,entre outras.

Neste quadro dramático dascondições de trabalho e remunera-ção dos trabalhadores da cana, hásinais de avanços. A ConvençãoColetiva de Trabalho do Setor Ca-navieiro, assinada entre os Sindica-tos Rurais, a Federação da Agricultu-ra do Estado de São Paulo (FAESP),Sindicato da Indústria do Açúcar noEstado de São Paulo (SIAESP) e Sin-dicato da Indústria da Fabricação doÁlcool no Estado de São Paulo (SIFA-ESP), cuja validade é até abril desseano. Esta convenção dá cobertura ju-rídica para 250 mil trabalhadores da

cana. O presidente da Fetaesp des-taca como avanços a eliminação docorte com sete ruas (que fazia o tra-balhador andar mais para empilhar acana cortada), a conquista de cestabásica, seguro de vida e participaçãonos resultados. Além de garantir o mí-nimo de reajuste da inflação do perí-odo (7%), há alguns direitos e condi-ções importantes asseguradoscomo: hora extra pelo deslocamentoao local da produção, fixado um pisosalarial, modo de aferição para fixar opreço da tonelada cortada, aposen-tadoria, não discriminação, marmitatérmica entregue para alimentação,equipamentos de proteção e segu-

rança, transporte adequado e, segu-ro de vida ou de acidentes pessoaispara seus empregados.

Outro assunto relevante para ostrabalhadores da cana vem sendonegociado diretamente entre a re-presentação dos empregados as-salariados rurais de São Paulo (Fe-raesp) e os empresários do setor,através da Única. Trata-se do fim daterceirização na contratação demão-de-obra rural por parte de usi-nas e a contratação dos trabalha-dores migrantes. Neste caso, esta-beleceu-se acordos para coibir aatuação de intermediários, o transpor-te clandestino, o aliciamento ilegal,alojamentos/moradias precárias commedidas de prevenção e proteçãoda saúde dessa população.

MECANIZAÇÃO X EMPREGOSA modernização da produção da

cana caminha a passos rápidos.Há uso intensivo de tecnologias epesquisa, tratores monitoradospor satélite, máquinas de aduba-ção com controle eletrônico e co-lheitadeiras de precisão. A despei-to desses avanços, os direitos so-ciais não avançam na mesma ve-locidade e 70% da produção decana no Brasil ainda é colhida ma-nualmente. Há fortes diferençasentre as regiões produtoras: noNordeste não deve chegar a 10 %,em Goiás é de 39%, Mato Grossodo Sul é 31%, Mato Grosso é de80% e, em São Paulo 40%. Em Ri-beirão Preto, no interior de São Pau-

lo, a colheita é meca-nizada em 50% daspropriedades. Comoconseqüência, a me-canização aumentoua produtividade e di-minuiu no númerode empregos, enfra-quecendo o poder denegociação dos sin-dicatos. Para o presi-dente da Fetaesp,Braz Albertini, a me-canização de cortede cana é irreversível.“Daqui há algunsanos haverá desem-prego, por isso esta-mos fazendo suges-

tões para o governo e o setor sucro-alcooleiro para qualificar esses tra-balhadores para outras atividades,entre outras ações”.

O secretário executivo do Ima-flora (Instituto de Manejo e Certifi-cação Florestal Agrícola), Luis Fer-nando Guedes Pinto, opina quenas novas regiões o corte deveriaser mecanizado desde o início. “Apremissa é que corte de cana é de-gradante e não é um emprego de-sejável, então que nas novas áre-as o emprego seja local e para ou-tras coisas, como capinas, recu-peração ambiental, controle de pra-gas”, diz, concluindo que assim,evitaria-se a sazonalidade do em-prego e migração. O ideal seriauma combinação de responsabili-dade de empresas com políticapública local e na origem da mi-gração.

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Diretor Técnicodo DIEESE

CLEMENTE GANZ LÚCIO

Sete Centrais Sindicais brasileiras , com apoio do DIEESE, iniciaram um movi-mento para debater a questão do desenvolvimento com os trabalhadores. Denomi-nada de Jornada pelo Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Valorização doTrabalho, a iniciativa reúne propostas para abrir e estabelecer o diálogo com empre-sários e governos em prol do desenvolvimento sustentável do país. Juntas, as Cen-trais construíram a Agenda dos Trabalhadores pelo Desenvolvimento, que sistema-tiza propostas já discutidas em seus congressos, reúne quatro âmbitos problemáti-cos e traz mais de 150 diretrizes, políticas, projetos e ações. A Agenda busca superarcontradições entre crescimento econômico, desenvolvimento social e sustentabili-dade ambiental.

O primeiro âmbito problemático considera que, no século XX, o Brasil foi condu-zido a dois extremos. Até o final dos anos 70, apresentou altas taxas de crescimentoeconômico, com forte impacto na estrutura produtiva e na urbanização. Na décadade 80, sofreu com a inflação, a dívida pública crescente, a queda na taxa de investi-mento e várias crises. Os resultados são extrema concentração de renda, exclusãosocial, pobreza e desigualdades regionais, rurais e urbanas. Diretrizes e propostasnesse âmbito visam promover uma sociedade com equilíbrio na distribuição da ren-da e da riqueza e com vigoroso processo de elevação da qualidade de vida dospobres.

O segundo observa que a estagnação econômica teve impactos diretos sobre ageração e a qualidade dos postos de trabalho, criando elevado desemprego, infor-malidade e precariedade no mercado de trabalho, e fragilidade do sistema de relaçõesde trabalho. A transformação desejada deve promover crescimento econômico efortalecimento do mercado interno, com emprego de qualidade conforme o conceitodo trabalho decente; proteção social para as diferentes formas de ocupação e forta-lecimento do sistema de relações de trabalho, com direito de negociação, de organi-zação, de greve e solução ágil dos conflitos.

O terceiro âmbito destaca que estagnação econômica e crise de financiamentodo Estado, associadas a medidas e programas de estabilização, reduziram a capaci-dade de o Estado alavancar o desenvolvimento econômico e social. Desestruturado,o Estado comprometeu sua capacidade de estimular e promover investimentos, de-senvolver infra-estrutura e melhorar seus serviços. Diretrizes e propostas apresen-tadas visam aumentar a capacidade de o Estado mobilizar investimento público eprivado, articulando políticas públicas eficientes que favoreçam o emprego, a pro-dução e o bem-estar social com uma estrutura tributária progressiva e simplificada.

O último âmbito problemático considera que – apesar do processo de democra-tização pós Constituição de 1988 - sobrevive, em muitos aspectos, a herança autori-tária que forjou o Estado brasileiro. Permanecem a insuficiência e a inadequação dosespaços de poder e participação e a baixa capacidade de organizações da sociedadecivil estabelecerem mecanismos ou processos de controle social. As propostas ob-jetivam promover a participação da sociedade nos variados espaços, conferindopluralidade e equilíbrio na promoção das políticas de desenvolvimento e no acessoaos meios de comunicação.

As Centrais Sindicais entendem que o desenvolvimento que almejam só poderáser alcançado se houver capacidade de articulação e coordenação das escolhas edas decisões políticas e que, para isso, o diálogo social é um bom caminho.

AGENDA PELODESENVOLVIMENTO

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CAFPLANETPLANETPLANETPLANETPLANETAAAAA

PAUL GOYETTE BROCK BROCK AMBOLLINOS FELDEN GOLDENBERG

Odilon Faccio e Pieter Sijbrandij

Estudos recentesindicam que o caféfaz bem à saúde.Em doses certas,melhora o humor,

previne a depressão e doençascardiovasculares. Também estimulaa memória e a concentração. Hácontrovérsias, mas os estudosquebram um paradigma. O Brasil éo segundo maior consumidor decafé no mundo, mesmo assim,pouco lembramos ou sabemos quea produção do café passourecentemente por mais uma crise.Mais do que crise, o café estápassando por uma profundatransformação, na produção, nocomércio e na qualidade do produtofinal. Estamos tomando novos emelhores cafés. Entretanto,sabemos pouco do que realmentebebemos e quem ganha com tudoisto. Nossos gostos e preocupaçõespriorizam a qualidade e o preço.Podemos nos orgulhar de quesomos o maior produtor mundial decafé e a qualidade do produtomelhorou.

Com mais hábito de consumo,abrem-se novos mercados. A maiore mais famosa cafeteria do mundo,a americana Starbucks, abre pontosno Brasil, enquanto a brasileiraDamasco abre na China. A indústriado café vem se transformando.Muitas propriedades, pequenas,médias ou grandes, começam aadotar princípios de produçãosustentável com preocupaçõeseconômicas, aliadas aos aspectossociais e ambientais. É uma reaçãoàs exigências dos mercados, dosconsumidores e uma boa medidaface às conseqüências doaquecimento global que afetará aagricultura.

ECONSUMO DE QUALIDADE

Café está em alta. Nunca o brasileiro bebeu tanto café em quantidade equalidade. O número de pontos para tomar um café cresce rápido e confirma atese de que torrar e vender café é um bom negócio. O Brasil é líder mundial naexportação de café em grão verde, com aproximadamente 1/3 do mercado. AAlemanha, que não produz café, é campeã na re-exportação do café torrado:compra muito, processa e reexporta o café torrado, ganhando muito dinheiro. OBrasil, líder na produção mundial, logo pode ultrapassar os EUA em consumo.Para o diretor do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Lucas Ta-deu Ferreira, o crescimento da demanda interna, além de proporcionar rendaaos produtores, serve também como antídoto para enfrentar os desequilíbriosdo mercado global e minimiza os efeitos das flutuações cambiais. O alto consu-mo interno do café “dá musculatura”. Para o presidente do Conselho Nacionaldo Café (CNC), Gilson Ximenes, a cafeicultura brasileira tem vivido nos últimos20 anos com o desequilíbrio econômico na atividade e, atualmente, a valoriza-ção do Real frente ao Dólar “é o grande problema dos cafeicultores”.

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SALLY TAYLOR COLLEN TAUGHER FRICH SUMMERS CAROL SAWANDA

O café é produzido em mais de 60países em desenvolvimento e consumidoprincipalmente em países desenvolvidos,onde as vendas anuais no varejo sãosuperiores a US$ 70 bilhões. Estima-seque, em todo o mundo, 25 milhões depessoas dependam da produção de cafépara sobreviver e que 100 milhõesdependam do setor cafeeiro de modogeral. Brasil, Vietnã e Colômbia juntos sãoresponsáveis por cerca de 60% daprodução mundial. Segundo o Centro deComércio Internacional, 14 países obtêm

IMPORTÂNCIA NO MUNDO

- 370 mil propriedades rurais, grande parte delas de agricultura familiar (Pedini, 2005)- 8,4 milhões de empregos, diretos e indiretos

- 10 indústrias de café solúvel- 75 cooperativas

- 170 exportadores- 1.170 empresas de torrefação e moagem e 2400 marcas do produto

Fonte: Abic, 2006

Jairo Augusto Raiz, secretário de agricultura do mu-nicípio de Iracema de Oeste no Paraná, coordena aAPOMOP – Associação dos Produtores Orgânicos doMédio Oeste do Paraná e acredita que falta mais volu-me de produção para conseguir mais venda: “O nossocafé é de alta qualidade e puro, mas competimos comgrandes redes que comercializam o café tradicionalcom muita mistura. Assim conseguem vender café commenos qualidade e a preços mais baixos que o nos-so”, diz. “O nosso café, além de ser orgânico, tem altaqualidade, mas, custa mais caro, temos que vender a

mais que 10% das suas divisas com aexportação do café. Em países comoBurundi, Etiópia e Uganda, o caféexportado traz mais que 50% das divisas etem um valor estratégico para odesenvolvimento.Para o coordenador da Coalizão do Caféda Holanda, SjoerdPanhuysen, a produção brasileira afeta avida dos agricultores familiares de outrospaíses como Etiópia e Nicarágua, onde ocafé é produzido em pequenaspropriedades.

CAFÉ ORGÂNICO DA AGRICULTURA FAMILIARR$ 10,00 o quilo para pagar os custos. Com o nossovolume ainda não é suficiente, temos dificuldades devender e não podemos estocar por muito tempo. Oagricultor familiar precisa vender para sobreviver, é oseu ganha-pão do dia-a-dia”. Outra questão importan-te, diz ele: como se trata de café especial, eles preci-sam de boa divulgação e marketing para acessar osconsumidores especiais com mais renda. A alternati-va do café orgânico introduz a possibilidade de expor-tar o café com maior valor agregado e, conseqüente-mente, maior remuneração para o agricultor.

Brasil é maior produtor mundial- 42 milhões de sacas na safra 2006/2007 (Abic, 2007)

- 32 milhões de sacas na safra 2007/2008 (estimativa Conab, 2007)

Segundo maior consumidor mundial- 16,3 milhões de sacas em 2006 (Abic, 2007)

Números

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- A Organização Internacional doCafé (OIC) calcula uma produ-ção mundial do ano-safra 2007/2008 em torno de 112 milhõesde sacas, para um consumo es-timado em 120 milhões de sa-cas em 2007.

Mer equilib

Produçãoe consumo

A estabilizaçãodos preços e a ex-pansão do consu-mo, associados ànegociação de umnovo acordo in-

ternacional do café, levam NathanHerszkowicz , diretor executivo da As-sociação Brasileira da Indústria deCafé (Abic), a apontar um futuro pro-missor: “Tanto o cenário internacio-nal quanto o brasileiro apontam parauma situação de equilíbrio entre pro-dução e consumo, o que significa ele-vação sustentada das cotações”.

Ao mesmo tempo, a Abic enxer-ga algumas ameaças para o desem-penho do setor e para o consumoem 2007. São as incertezas quanto àdisponibilidade da matéria-prima,uma vez que os estoques estão emnível baixo. A safra prevista repre-senta um déficit potencial de seis aoito milhões de sacas. Com a expor-tação brasileira tendo atingido 27milhões de sacas em 2006, pareceque a disponibilidade do grão nãoserá suficiente para a demanda con-junta com a do consumo interno. Ocâmbio do dólar desfavorável paraa exportação não afetou tanto ocafé como o esperado. O Ministé-rio do Desenvolvimento, Indústriae Comércio Exterior anunciou umacompanhamento detalhado de 20a 30 setores este ano, incluindo ocafé, cuja exportação superou asexpectativas no ano passado.

RESPONSABILIDADE SOCIALNo Brasil a concentração do se-

tor torrefador continua. Em 2006, ascinco maiores empresas torrefadoras

participaramcom 37% domercado detorrado/moí-do. Já as 100maiores em-presas amplia-ram sua parti-cipação de59,66 para

62,6%. Podemos falar num mercadoglobal do café, agora não mais domi-nado pelos países, mas sim pelas em-presas transnacionais que passarama concentrar os lucros e definir o fun-cionamento do varejo. Além das gran-des empresas, os principais mercadosconsumidores dos EUA, Europa e Ja-pão passam a determinar as condiçõesda comercialização e rentabilidade aolongo da cadeia de valor.

No contexto pós-crise, o coorde-nador do Projeto Café Sustentável noEspírito Santo e consultor da GTZ (Co-operação Técnica Alemã), Hans Chris-tian Schmidt, destaca que há uma cres-cente preocupação sobre o desenvol-vimento sustentável da cafeicultura,que procura conciliar os aspectos eco-nômico, social e ambiental. O comérciointernacional vem sendo afetado porexigências que visam qualidade e uni-formidade de produtos, ou cuidadoscom o meio ambiente. As mudanças na

- O consumo mundial, segundoa OIC, cresce apenas 1,5% aoano, na média. No Brasil, o con-sumo interno evoluiu 19,2%desde 2003, crescendo de 13,7milhões de sacas para as atuais16,33 milhões.

- Uma pesquisa da Abic indicaque o mercado brasileiro repre-senta 14% da demanda mundi-al, e mais de 50% do consumointerno de todos os 57 paísesprodutores de café, um volumeestimado pela OIC em 31 mi-lhões de sacas/ano.

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OS PRINCIPAISPROGRAMAS DE

CERTIFICAÇÃODO CAFÉ :

cadorado

Uma boa política econômica governamentalpode ser a melhor política social. Entretanto,o crescimento do setor do café não significa

automaticamente a distribuição de renda paraos segmentos mais fragilizados da cadeia

produtiva. O CDPC - Conselho Deliberativo daPolítica Cafeeira - pode ser um espaço privile-giado para a construção de políticas específi-cas voltadas aos segmentos mais necessita-

dos em direção à sustentabilidade da cafeicul-tura. No Conselho todas as questões são de-batidas e procura-se obter consensos. As su-gestões e propostas são levadas para tomadade decisão por parte do Conselho. “As deci-sões do CDPC buscam a geração de renda,

melhorar os preços e a rentabilidade do setorpara aquele produtor lá na ponta, os agriculto-

res familiares, tenham uma boa remunera-ção”, destaca o diretor do Departamento doCafé do Ministério da Agricultura, Lucas Ta-deu Ferreira. Ele estima que, por meio do

Funcafé (Fundo de Defesa da Economia Cafe-eira), neste ano serão destinados R$ 2,1 bi-

lhões para o financiamento da colheita, esto-cagem, comercialização, marketing, pesquisa

e levantamento da safra e estoques.

cadeia de valor são profundas e a agri-cultura familiar, que produz a maior par-te do café no Brasil, está numa encruzi-lhada. O mercado ficou mais competiti-vo e exige novos padrões de produçãoe comercialização.

Essa situação tem levado a trans-formações no mercado de café nosúltimos anos. Promoveu-se uma mai-or diversificação de produtos. Surgi-ram nichos de mercado que se basei-am em padrões ambientais, sociais, dequalidade e origem e algumas vezescombinações destes.

Na maioria das vezes o aumentode custo de produção em função deadequações no sistema de produção,técnica de colheita e pós-colheita, in-vestimento em equipamentos e infra-estrutura, certificação e marketing sãocompensados por preços superiores,que oscilam entre 50% e 100%. Cabe

ressaltar, porém, que se trata de volu-mes reduzidos. O segmento de cafésespeciais representa atualmente cer-ca de 12% do mercado internacional,sendo que 5% referentes aos caféscom certificação sócio-ambiental.

DESAFIOS E OPORTUNIDADESImpulsionada pela Oxfam - ong

inglesa que atua no Brasil há mais de30 anos - se constituiu uma AliançaNacional do Café sob o lema “Comér-cio com Justiça”, para fazer frente àcrise no setor. A Aliança é uma plata-forma de mobilização que reúne enti-dades sociais para defender os inte-resses dos agricultores familiares eassalariados rurais. Reúne participan-

CONSELHO DELIBERATIVODA POLÍTICA CAFEEIRA

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- Comércio Justo (Fairtrade):direcionado ao sistema decomercialização, assegura aosprodutores um preço mínimoacrescido de um prêmio que deve

ser utilizado para investimento em projetoscomunitários. Exclusivamente para grupos deprodutores familiares e inclui também alguns critériosde preservação ambiental.

- Utz Kapeh: compreende práticas agrícolas para aprodução de café e para o bem-estar dos trabalhadores,

incluindo o acesso à saúde e à educação. Ressaltamais a produção responsável do que a

agricultura sustentável.

- Rainforest Alliance: envolve preservaçãoambiental, bem-estar dos trabalhadores einteresses das comunidades locais. Não proíbe ouso de produtos químicos, mas exige manejointegrado de pragas, manutenção da coberturaarbórea e restauração da vegetação nativa.

- Orgânico: adota os critérios e normas da IFOAM- International Federation of Organic AgricultureMovements para nortear o sistema de produção,exigindo a eliminação do uso de fertilizantes eagrotóxicos, visando à conservação e a melhoriada estrutura e fertilidade do solo e o equilíbrio doagroecossistema.

PROGRAMAS DE CERTIFICAÇÃO

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Na era da tecnologia da in-formação, o problema não émais falta de informação, massim o excesso. A questão écomo não se “afogar” na enxur-rada de informações que temosacesso ou recebemos todos osdias ou minutos. Quem tem quetomar decisões rápidas e comqualidade necessita de umaseleção rigorosa sobre que in-formação é importante ou prio-ritária. No caso do café já sepode contar com mais uma ins-tituição que vai facilitar a vida depessoas que lidam com otema. Foi criado recentementeo Centro de Inteligência do Café(CIC), hoje com sede em BeloHorizonte. O CIC é um órgãotécnico que objetiva processaro grande volume de informa-ções existente sobre café e pro-duzir novos conhecimentospara a tomada de decisões es-tratégicas por parte de indivídu-os, empresas, associações egovernos. ”É uma agência deinformação, investigação, ban-co de dados e geração de estu-dos”, afirma o superintendentedo CIC, Aguinaldo José de Lima.“Realiza trabalhos sob a de-manda de todos os setores doAgronegócio Café - Produção,Indústria, Comércio, Serviços,através de suas entidades re-presentativas”. A estrutura doCIC envolve os diversos seg-mentos envolvidos na cadeia docafé: governos, institutos depesquisa, representação dasempresas e produtores.

CENTRO DEINTELIGÊNCIA

DO CAFÉ

tes das federações dos trabalhado-res na agricultura nos estados de SãoPaulo, Minas Gerais, Bahia, EspíritoSanto, Rondônia e Paraná, além daContag (Confederação dos Trabalha-dores na Agricultura), Oxfam e Insti-tuto Observatório Social. Uma dasestratégias da Aliança é participar dosdebates que acontecem nas esferasgovernamentais. No Ministério daAgricultura, o grupo acompanha oConselho Deliberativo da Política doCafé (CDPC), órgão colegiado respon-sável por aprovar políticas para o se-tor cafeeiro. O grupo participou emdiversos eventos internacionais, es-pecialmente a Conferência Mundialdo Café, que ocorreu em Salvador emdezembro de 2005, e dos debates so-bre o Código Comum para a Comuni-dade Cafeeira (4C). O objetivo dessegrupo é estabelecer princípios sobrerelações de trabalho na produção, so-bre meio ambiente, qualidade e ou-tros temas. O grupo também participada GLACC – Aliança Global sobre oCafé e Commodities, que engloba pro-dutores de café, sindicatos e organi-zações de consumidores.

De acordo com o diretor de Políti-cas Agrícolas da Contag, AntoninhoRovaris, a dificuldade de acesso a in-formações sobre tecnologias de pro-dução, beneficiamento, mercados e afalta de empreendimentos coletivosque reúnam a produção constituemas principais barreiras para que a agri-cultura familiar acesse diretamente osmercados e amplie sua renda. Segun-do o diretor da Contag que cuida es-pecificamente dos assalariados rurais,Antônio Lucas, a primeira condiçãopara uma boa relação se inicia comum contrato de trabalho que especifi-que claramente o período, as condi-ções de trabalho e a forma de paga-mento pelos serviços prestados, ob-servando rigorosamente o que deter-mina a lei, para preservar os direitostrabalhistas: “Os sindicatos de traba-lhadores rurais podem orientar a ela-boração deste contrato, bem comomonitorar o seu cumprimento”, pros-

segue. “Estas negociações são facili-tadas quando ocorrem de forma cole-tiva, gerando os Acordos ou Contra-tos Coletivos.

QUALIDADE E CERTIFICAÇÃOMelhorar a qualidade e produzir

de maneira sustentável são duas for-mas de melhorar a renda do cafeicul-tor brasileiro. A certificação da pro-dução é uma forma de o produtormostrar ao mercado a sua competên-cia. Para o coordenador nacional deCertificação do Imaflora (Instituto deManejo e Certificação Florestal e Agrí-cola), Eduardo Trevisan Gonçalves,a certificação pode ser uma alternati-va a mais para o cafeicultor familiaraumentar sua renda, já que o cafépode ser vendido com um preço aci-ma da cotação de mercado: “É impor-tante lembrar também que, com a cer-tificação, o produtor tende a ficar mais

eficiente emsua atividade,reduzindo cus-tos, acidentese controlandomelhor a suaprodução”.

CÓDIGO Duas inici-

ativas atuaisem termos de certificação são o Códi-go Comum para a Comunidade Cafe-eira (4C), de caráter mundial, e a Pro-dução Integrada de Café (PIC), pro-movida pela Embrapa, porém restritaao Brasil. A PIC são diretrizes técni-cas com a finalidade de garantir sus-tentabilidade econômica, social e am-biental à produção do café. Sua apli-cação favorece a rastreabilidade detoda a cadeia e o desenvolvimentode uma certificação nacional, comprincípios que atendam às exigênciasinternacionais e de fácil acesso a pe-quenos e médios produtores organi-zados. O 4C é uma iniciativa dos im-portadores, exportadores, indústria,alianças de negociantes, organiza-ções não-governamentais - ongs -

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Na recente crise do café, a par-tir de 2000, cafeicultores, sobretu-do os pequenos, não tinham ca-pacidade de manter as suas la-vouras e pagavam para vender osseus grãos. No Brasil, a crise sónão se agravou mais porque ocontexto interno foi favorável e hou-ve um conjunto de políticas públi-cas governamentais: condiçõesmacroeconômicas positivas, ele-vação da renda e consumo inter-no, mais financiamento à agricul-tura, tanto para os agricultores fa-miliares como para o agro-negócio. Também foramrealizadas diversas inicia-tivas governamentais e pri-vadas voltadas à promo-ção e apoio à cafeicultura.Embora tenha havido pro-gressos em termos soci-ais, ainda existe um gran-de contingente de trabalha-dores assalariados rurais,homens, mulheres, ado-

IMPORTÂNCIASOCIAL NO BRASILlescentes que ganham o sustentonas lavouras de café em condi-ções precárias e desumanas. Amaioria não possui registro emcarteira de trabalho, as condiçõesde transporte e alojamento sãoprecárias, a aplicação de produtosquímicos tóxicos é feita sem qual-quer proteção. O conceito de sus-tentabilidade implica no equilíbrioeconômico, social e ambiental. Aqui

há uma questão complexa no café:a formalização da mão-de-obra, agarantia dos direitos trabalhistase sociais traz novos custos. A ques-tão é: quem paga essa conta? Opresidente do Conselho Nacional doCafé afirma que, entre dezembro de2005 a dezembro de 2006, “a mão-de-obra ficou 440% mais cara, cau-sando grande impacto no custo deprodução”. A garantia dos direitosfundamentais no trabalho com a for-malização é essencial para a demo-cracia e para a credibilidade do café

sustentável, portanto, a ele-vação dos custos deve sercompartilhada com ossegmentos mais fortes,especialmente as indús-trias e o comércio varejis-ta. Na ponta fica a pergun-ta: os consumidores topa-riam pagar mais pelo cafésabendo que está sendoproduzido com condiçõestrabalhistas decentes?

sociais e ambientais e produtores decafé para desenvolver um código glo-bal de conduta objetivando a sus-tentabilidade social, ambiental e eco-nômica da produção, pós-colheita ecomercialização da maior parte do caféverde. Para o diretor executivo daABIC, Nathan Herszkowicz, será mui-to importante no futuro do setor: “O4C pretende ampliar substancialmen-te a produção de cafés sustentáveisde modo a atender à crescente de-manda destes produtos nos merca-dos mundiais, ao mesmo tempo emque colabora para a melhoria das con-dições de vida e de trabalho dos ca-feicultores”. O 4C deve passar a vi-gorar a partir de outubro próximo e éum programa mundial aberto a todosos participantes da cadeia produti-va, desde os cafeicultores até os co-merciantes de café, os exportadores,os industriais da torrefação e do cafésolúvel, até os varejistas.

Conforme Sjoerd Panhuysen, daCoalizão do Café da Holanda, nos úl-timos anos a parcela de cafés certifi-

cados (Fairtrade, Eko, Rainforest Alli-ance, Utz Certified, Starbucks) cres-ceu bastante rápido na Europa e nosEstados Unidos. A qualidade e ras-treabilidade do produto certificadochamaram o interesse de grandes tor-refadoras e o setor de varejo. Porém,ele observa que a produção de cafésustentável certificado excede a de-manda com mais ou menos 20%: “Naprática, muito café das cooperativase plantações é duplamente ou tripla-mente certificado, a fim de facilitar avenda para mercados diferentes. Nomomento a certificação não tem comooferecer uma solução imediata para

os problemasdos cafeiculto-res de pequenaescala e assala-riados: não hádemanda sufi-ciente”. Embo-ra as empresastradicionais es-tejam se envol-vendo, há pou-

cas indicações de que entendam decafé certificado como uma coisa alémde um nicho específico nos seus por-tfólios de marcas. A parcela de cafécertificado vendida pelas cinco prin-cipais multinacionais (Kraft, Sara Lee,Nestlé, Procter&Gamble, Tchibo) émuito marginal: entre 0,2% e 2% dosseus cafés são comprados de umafonte certificada. A Coalizão do Caféfaz campanha na Europa para que asempresas torrefadoras levem a res-ponsabilidade social a sério, aderin-do a um código de conduta decente ecomprando café certificado. “Embo-ra os pequenos e grandes produto-res brasileiros tenham muitas neces-sidades, não podemos esquecer quea política do café em nível internacio-nal afeta muito mais os pequenosprodutores de outros países”, alertaSjoerd.

www.contag.org.brwww.abic.com.brwww.cicbr.org.brwww.cncafe.com.brwww.oxfam.org.ukwww.embrapa.gov.br/cafewww.coffeecoalition.orgwww.iac.sp.gov.br

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ETANOL

Brasil como lídersustentável?

PARA TER A PRODUÇÃO DE ETANOL COM BASESSUSTENTÁVEIS, O BRASIL PRECISA FAZER O DEVER DECASA: ZONEAMENTO AGRÍCOLA, EMPREGO DECENTE,PROTEÇÃO SOCIAL E AMBIENTAL, INVESTIMENTOS EMPESQUISA E NOVAS TECNOLOGIAS, FINANCIAMENTOS

DOS BANCOS PÚBLICOS COM CRITÉRIOS DESUSTENTABILIDADE E, PRINCIPALMENTE, NEGOCIAÇÃO

COM OS PRINCIPAIS ATORES ENVOLVIDOS.

Brasil como lídersustentável?

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Odilon Faccio e Sara Caprario

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velho conhecido ál-

cool brasileiro, pro-

duzido há mais de 30

anos a partir da

cana-de-açúcar, ga-

nhou nome internacional e trans-

formou-se em etanol. Com ares de

solução limpa para abastecer os

veículos no mundo inteiro, o pro-

duto é um biocombustível que pode

ser produzido em grande escala.

No Brasil a euforia com o tema le-

vanta debates sobre vários aspec-

tos em relação à produção, indus-

trialização, pesquisa, tecnologia e

condições sócio-ambientais.

As ações de marketing das vi-

sitas do presidente norte-america-

no, George Bush, ao Brasil e do

presidente brasileiro, Luiz Inácio

Lula da Silva, para lá geram visibi-

lidade, mas espera-se resultados.

Alguns efeitos são imediatos,

como a entrada de capital estran-

geiro por aqui e incentivo para pes-

quisas. Mas será preciso muito

mais avanços para garantir uma

produção baseada em fortes pila-

res de responsabilidade socioam-

biental e, assim, permitir que se

faça jus ao conceito de tecnologia

limpa dado ao etanol.

O protocolo de cooperação téc-

nica entre Brasil e Estados Unidos

para criar um mercado internacio-

nal do etanol pode dar certo ou não.

Para o presidente da Única (União

da Indústria Canavieira de São

Paulo), Eduardo Carvalho, é impor-

tante que sejam derrubadas tari-

fas na importação do álcool brasi-

leiro e haja aumento da demanda

no mundo inteiro. O constante au-

mento dos preços do barril de pe-

tróleo, um combustível não reno-

vável e provocador do efeito estu-

fa, faz com que inúmeros países

busquem alternativas energéticas

renováveis. E essa procura pelo

etanol está construindo um supor-

te político para que diversos go-

vernos adotem normas para mis-

tura com a gasolina.

Existem grandes oportunida-

des de negócios e de geração de

empregos pelo fato de ser uma fon-

te de energia renovável, mas ao

mesmo tempo convive com riscos

ambientais e sociais. A pergunta

chave é quem vai liderar e como o

Brasil vai participar dessa corrida

que está mobilizando países e

imensos recursos em investimen-

tos? O Brasil está sendo desafia-

do a ser líder global, não somente

no futuro commodity etanol, mas

na venda de tecnologia, logística e

usinas. Só que para ser líder é pre-

ciso ter um plano estratégico, ga-

rantindo produção, comércio e dis-

tribuição dos

ganhos com parâ-

metros sustentá-

veis e sobretudo

resolver as de-

mandas sociais.

Para Marcos

Jank, presidente

do Instituto de

Estudos do Co-

mércio e Negoci-

ações Internacio-

nais (Icone), é cedo ainda para se

falar em liderança brasileira do

mercado mundial de etanol porque

não existe uma demanda global, e

a oferta ainda está concentrada no

Brasil e nos Estados Unidos. “O

impacto dos combustíveis de ori-

gem agrícola no mercado global de

energia ainda é irrelevante. Juntos,

eles não chegam a 1% da produ-

ção de combustíveis fósseis, em

termos de equivalente energéti-

co”, diz ele, no entanto, por outro

lado, “é fundamental que os novos

mercados para biocombustíveis

em geral, e o etanol em especial,

funcionem dentro do regime de li-

vre comércio que preside o mer-

cado de petróleo e seus derivados.

É esse o regime que assegura

maiores benefícios aos consumi-

dores, a menor volatilidade de pre-

ços, fluxos crescentes de comér-

cio e maior segurança de supri-

mentos pela ampliação da diversi-

dade de fontes produtoras”.

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AVANÇOS INTERNOSPara acompanhar todas estas mu-

danças no mercado e garantir divi-dendos, o Brasil precisa correr paramelhorar a logística interna e garantircompetitividade aos produtores lo-cais. Existem alguns gargalos paraque a produção ganhe força paraatender aumento de demanda interna– a venda de carros flex aumentou13% de 2004 para 2005 – e exporte emníveis competitivos.

Já foi anunciada a construção deum “alcoolduto” que interligue osestados de Minas Gerais, Goiás e SãoPaulo, onde estão concentradas gran-de parte das usinas, com o Porto deSantos. A Petrobrás assinou um con-trato com a japonesa Mitsui, uma tra-ding mundial, para instalar 40 usinasde produção de álcool até 2012. Masainda há vários aspectos que preci-sam avançar, como as próprias rela-ções de trabalho (veja matéria página22) e a sustentabilidade da produção.

A cultura e a produção da canatem fatores positivos e negativos.Além de ser um insumo para a produ-ção do combustível renovável quetraz efeitos positivos para combatero aquecimento global, é fonte de ener-gia elétrica, seqüestra gás carbônico(CO2), contribuindo para minimizar oefeito estufa. Ao mesmo tempo, omodelo produtivo extensivo, cria

- Área plantada – 6,2 milhões de hectares: 50% para açúcar e 50% para etanol.

- Na safra 2005/2006 foram colhidos 431 milhões de toneladas de cana, resultandoem 15 bilhões de litros de etanol e 26 milhões de toneladas de açúcar.- Para a safra de 2006/2007, a Conab estima uma produção de 475 milhões de toneladasde cana o que representa um crescimento de 10,30% em relação à safra passada.

- Os EUA (milho) e Brasil (cana) controlam 70% do etanol no mundo.- Em 2006, o setor movimentou cerca de US$ 8,3 bilhões que representa 1,6% do PIBbrasileiro.

- O setor gera 3,6 milhões de empregos diretos e indiretos. O Brasil tem a maiorindústria e matéria-prima do mundo.- Atualmente o Brasil tem 300 usinas e mais 150 novos projetos ou em implantação.

NÚMEROSDA

PRODUÇÃOBrasil é o maior

produtor eexportador de

açúcar domundo e o

maior produtorde etanol de

cana do mundo.

grandes áreas de monocultura, pro-vocando efeitos nocivos à biodiver-sidade e ao meio ambiente. Além dis-so, consome alta quantidade de água,é intensiva no uso de fertilizantes àbase de petróleo e requer altas quan-tidades de agro-químicos, fatores es-ses que devem ser considerados.

Essas questões exigiriam iniciati-vas governamentais no sentido decoordenar planos de zoneamento agrí-cola será decisivo para implantar sis-tema integrados que minimizassem aexpansão da monocultura e, destemodo, evitar que expansão da canaafete o meio ambiente e a ocupaçãode áreas destinadas aos alimentos.

Hoje são cerca de sete milhõesde hectares ocupados com cana-de-açúcar, 50% para etanol e 50% paraaçúcar. Jank destaca que se os Esta-dos Unidos resolvessem importar 132bilhões de litros de etanol e isso con-sumiria 20 milhões de hectares, o quedá três vezes a área atual de cana, masapenas 7% da área total agricultáveldo País. “Atualmente, a cana está en-trando nas áreas de milho, soja e pas-tagem. Acredito que ainda há muitoespaço para aumentar a produtivida-de das áreas de grãos e pastagens, oque fará com que se possa produzirmais alimentos em cima da mesma áreaatual”, diz o presidente do Ícone.

Outro fator importante na produ-

ção da cana é o uso do bagaço para aprodução de energia elétrica. No Es-tado de São Paulo, o setor gera paraconsumo próprio entre 1.200 a 1.500megawatts(MW). O potencial de ge-ração de energia da agroindústria ca-navieira é estimado em 12 mil MW,sendo que a potência instalada noBrasil é de 70 mil MW. O setor já pro-duz 4% da energia elétrica produzidano Brasil.

Manoel dosSantos, presi-dente da Con-tag, maior enti-dade da Améri-ca Latina querepresenta cer-ca de 20 mi-lhões de agri-cultores famili-ares e assalari-

ados rurais, acredita no efeito posi-tivo econômico, mas acha que é pre-ciso haver melhor comprometimentodas partes envolvidas para melhoraras condições de trabalho. “Falta com-prometimento ético, moral e econô-mico dos usineiros com a classe tra-balhadora. Temos perspectivas demelhoras, e pedimos mais fiscaliza-ções além de exigir do governo fede-ral uma política pública específicapara os assalariados rurais”. Ele afir-ma que a mecanização cresce sem es-

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tabelecer critérios para reabilitaçãodos assalariados rurais para o setor.

Alimentos - O jornal inglês TheGuardian publicou matéria que suge-re que a possibilidade da expansãoda produção do etanol no Brasil devaagravar o desmatamento na Amazô-nia. Especialistas avaliam que é pou-co provável que isso ocorrar porquea produção de cana-de-açúcar requersolo e clima adequado que não hánessa região. Por incrível que pareça,quem deve provocar, indiretamente,mais expansão da agricultura e do des-matamento na Amazônia é o uso domilho americano para o etanol e asbarreiras tarifárias ao ingresso do eta-nol brasileiro no mercado dos Esta-dos Unidos.

O uso intensivo do milho para pro-dução de etanol provoca a falta doproduto, eleva seus preços no mer-cado internacional. No Brasil, estimulaa expansão da soja e milho servindode pressão sobre novas áreas agríco-las, em particular para o Cerrado e paraa Amazônia. Mas os impactos diretossobre os preços dos alimentos noBrasil não pode ser medido ainda.

Mais uma vez entra em discussãoa necessidade de planejar a políticainterna. A questão é polêmica a pon-to do presidente da Venezuela, HugoChaves, criticar afirmando que a pro-dução de cana vai tirar alimentos dospobres para abastecer os carros dosricos. O Presidente Luis Inácio Lula

da Silva, na ida à Cúpula EnergéticaSul-Americana, na Venezuela, afirmouque é possível combinar produção deetanol sem comprometer a produçãode alimentos, basta usar a terra comracionalidade.

Para o presidente da Única, o gran-de problema não é a produção de ali-mentos é a falta de demanda. “Vive-mos a revolução da produção de ali-mentos, com fertilizantes, sementesresultantes de pesquisas”, disseEduardo Carvalho em entrevista aoprograma Manhattan Connection, nocanal pago GNT.

Especialistas afirmam que have-ria cerca de 22 milhões de hectaresdisponíveis para cana. Cultivandoesses 22 milhões de hectares comcana é possível produzir 120 bilhõesde litros de etanol por ano, sem con-siderar possíveis aumentos de pro-dutividade, mecanização e introduçãode novas tecnologias. Utilizando essaárea com novas tecnologias de pro-dução e extração do álcool é possívelampliar para 200 bilhões de litros porano nos próximos 10 anos.

Para o engenheiro agrônomo Cel-so Marcatto, da ActionAid, “ao seconsiderar a tendência atual, a expan-são da cana-de-açúcar seguirá o pa-drão vigente de ocupação de mais áre-as no cerrado e na região antes co-berta pela Mata Atlântica” (leia maisna seção Agenda Global, pags 56 e57).

ETANOL NO MUNDOOs EUA e Europa já estabele-

cem metas claras de redução degasolina. O Japão já desenvolveparceria com a Petrobrás paraatingir metas de misturar álcoolna sua gasolina. Uma revoluçãomundial energética começou.EUA e Brasil dominam 70% daprodução do etanol no mundo.

A meta dos EUA de reduzir em20% o consumo de gasolina porcombustíveis renováveis, até2017, é um sinal claro em favordos biocombustíveis. Estima-seque a demanda americana deetanol seja de 133 bilhões de li-tros até 2017, sendo que o etanolde milho conseguiria apenas pro-duzir 15 bilhões de litros por ano.

A decisão americana tem mo-tivos políticos e também para en-frentar o aquecimento global.Cada 1% de redução de gasolinasignifica uma demanda de oitobilhões de litros de etanol.

Em 2006, o Brasil exportoupara os Estados Unidos 1,5 bi-lhões de litros de etanol. Isto re-presenta 50% do exportado. Ovolume aumentou seis vezes emum ano, considerando que no ano2003, as exportações de álcool doBrasil não passavam de 650 mi-lhões de litros.

PESQUISASOs americanos estão investin-

do pesado em outras fontes deetanol. A mais recente inovaçãochama-se hidrólise de celuloseque pode transformar grande par-te da biomassa em matéria-pri-ma para o etanol. Em tese, lixourbano, resíduos agrícolas, ca-pim e restos de madeira vão viraretanol. No Brasil, através dessatecnologia pode-se usar tambémo bagaço da cana para produçãodo etanol, trazendo um enormeefeito positivo sobre a produtivi-dade e sobre o meio ambiente. Oaumento da produtividade é um ele-mento chave para reduzir a expan-são de novas áreas agrícolas. Po-rém, enquanto aqui no Brasil temapenas uma empresa investindono potencial da hidrólise de celulo-se, nos Estados Unidos estão en-volvidas mais de 30 empresas.

CANAMILHONos EUA o

Etanol de milhocusta cerca deUS$ 0,30/litro e

o de cana éUS$ 0,22/litro,estimulando o

governo asubsidiaros seus

produtores.

Etanolamericano

baseado no milhoproduz 3.900

litros por hectare

Etanol decana-de

-açúcarproduz 6.500

litros por hectare.

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O promissor mercado nacional e internacional do etanol está ampliando o interesse de investidoresexternos pela cadeia produtiva da cana-de-açúcar no Brasil. Um outro grupo, que reúne investidoresinternacionais e brasileiros, formaram o fundo de investimento Brasil Energy, com perspectiva de inves-timento de US$ 2 bilhões no país e com a principal missão de identificar oportunidades no etanol.

A participação do investimento estrangeiro alcança 7% e pelas projeções da Unica o setor ainda estálonge de poder ser considerado uma atividade com grande participação do capital externo. O percentualde participação deve chegar próximo de 10% na safra 2012/2013.

O ingresso de mais investimento depende de vários fatores, entre eles, se o mercado global vai sedesenvolver, de regras jurídicas claras para os investimentos, se a economia brasileira vai continuarestável e se o setor continuará inovador. Líderes de empresas globais já estiveram no Brasil analisandopossibilidades de investir. Em 2006, a vice-presidenta da gigante americana GE (General Eletric), Lorrai-ne Bolsinger, visitou o Brasil para avaliar a oportunidade de negócios na cadeia produtiva do etanol, nocaso, o desenvolvimento de equipamentos para as usinas. Em 2006, também visitaram regiões produ-toras de cana os diretores da Google, maior site de busca da Internet. O Grupo Cosan, da França,presente principalmente na região centro-sul do Brasil e a segunda companhia em produção de açúcare a maior sucroalcooleira do país, anuncia investimentos de R$ 2 bilhões em novas unidades.

EMPRESAS ESTRANGEIRAS

PERSPECTIVASNos próximos seis anos, os inves-

timentos na indústria brasileira decana-de-açúcar serão de US$ 14,6 bi-lhões, sendo US$ 12,2 bilhões emnovas usinas e US$ 2,4 bilhões em335 usinas existentes, que estão sen-do modernizadas e ampliadas. Em2012, teremos 412 usinas. Os dadossão do Ícone, e o presidente do Insti-tuto diz que oitenta e um por centodas novas unidades estão sendoconstruídas por empreendedores tra-dicionais do setor.

Sem dúvida, o boom do etanol noBrasil está atraindo o capital estran-geiro. Se o petróleo ultrapassar US$60 o barril, aumentarão as oportuni-dades de comércio e investimentosna área de agroenergia. E, como sesabe, o Brasil e outros países tropi-cais detêm vantagens comparativasnos biocombustíveis em função decusto, produtividade e balanço ener-gético.

Disputar a liderança global do eta-nol e, ao mesmo tempo, fazer o deverde casa – produzir com sustentabili-dade, são tarefas gigantescas paraque todos ganhem. A experiência daSoja Responsável, uma mesa de ne-gociação envolvendo os diversossegmentos da cadeia de valor, podeajudar a que o país, de modo inteli-gente e inovador, consiga reunir to-

das as partes envolvidas na produ-ção e comercialização da cana, e ca-minhe para um modo de produçãosustentável.

O presidente da Contag acreditaque é possível este espaço de nego-ciação se todos os envolvidos esti-verem dispostos a buscar alternati-vas que diminuam os riscos de im-pacto ambiental e melhoria das con-dições dos trabalhadores.

Não adianta repetir erros do pas-sado, sermos líder, mas pagando umalto preço social. Para o pro-fessor Francisco Alves, daUniversidade Fede-ral de São Carlos(UFSCar) o aumen-to da produtivida-de exige mui-to mais decada traba-lhador. A mé-dia de colhei-ta por trabalhador nadécada de 80 era de seis to-neladas por dia, e passoupara 10 ou 12 toneladas pordia. Pesquisa do Centro deReferência do Trabalhadorafirma que para cada 10 to-neladas colhidas é precisoandar nove quilômetros a péno canavial e dar cerca de73 mil golpes de facão.

Estudos indicam que depois de 12anos de trabalho o homem ou a mu-lher fica fisicamente impossibilitadode cortar cana ou mesmo realizar ou-tra atividade profissional. SegundoAlves, 20 trabalhadores morreram nasduas últimas safras por excesso detrabalho. “O setor tem um enormepassivo ambiental e trabalhista. Mes-mo em São Paulo, onde há avanços,nem todos os empregadores respei-tam as condições ideais”.

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Um dos maiores grupos sucroalcooleiros do país, as Empresas JP estão avançando rapidamentepara garantir sustentabilidade na produção e garantir relações responsáveis no crescimento. O grupocomeçou a se formar em 1987, com a usina João de Deus, em Alagoas. Hoje são oito unidades produtivase dois escritórios administrativos, sendo um em São Paulo (capital) e outro em São José do Rio Preto,agregando cerca de 10 mil funcionários. Nessa diversidade, uma das principais metas é conquistaruniformidade empresarial de pensamento e ação entre as unidades. Para isso, iniciou-se a implantação,a partir de 2002, da idéia de corporação. E, desde 2004, o Projeto Bússola está implementando um novomodelo de gestão na organização, a gestão por processos. O foco, com a idéia de corporação, é nummétodo de gestão empresarial por meio do qual os objetivos estratégicos são estabelecidos e monitora-dos com a definição de indicadores de performance. Essa metodologia garante que os recursos huma-nos, financeiros e operacionais estejam sendo direcionados de forma a criar valor para a empresa.

O presidente da empresa José Pessoa de Queiroz Bisneto, engenheiro mecânico e administrador deempresas, é conselheiro do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, sócio da Fundação Abrinq (Em-presa Amiga da Criança) e conselheiro da Junior Achievement, ONG que fomenta o protagonismo juvenil,além de ser dirigente de vários sindicatos patronais do setor. Ele recebeu a Revista Primeiro Plano parauma entrevista.

BUSCA DE SUSTENTABILIDADE

Quais as mudanças podem seresperadas a partir destavisibilidade que o etanol ganhamundialmente?O Brasil já produz álcool há 30 anos,mas desde então o que o país faziaera pouco divulgado ou possuíapouco respaldo internacional. Háalguns anos o Brasil vem ganhandomais respeito nas discussõesinternacionais e a produção de etanolcomo a alternativa de biocombustívelem grande escala colocou o paíscomo importante interlocutor noassunto.

Isso por que a cana-de-açucar émais eficiente do que o milhonorte-americano?Com certeza. A cana produz maisálcool em menos espaço eambientalmente é melhor do que o milho.

O que falta para ser de fatocommodity?A única coisa que falta é aprecificação em bolsa, ou seja, o

“Para que o Brasil aumente a produção épreciso haver mais demanda internacional,porque o consumo interno é menor do que aprodução. E isso deve ocorrer logo, porque o

etanol já está virando uma commodity”.

etanol poder ser negociado emqualquer bolsa internacional comoocorre com o açúcar, café e soja.Essa etapa é o único detalhe que estáfaltando e isso vai dar maistransparência tanto para o produtorinvestir quanto para o comprador em termais segurança na garantia de estoquee controle do preço.

Há preocupação de substituiçãode área de produção de alimentospara plantar cana, isso podeocorrer?Eu não acredito que haverá problemacom isso, afinal mesmo que dobre aprodução de cana, a ocupação seráde cerca de 13 milhões de hectares,enquanto ainda há 90 milhões dehectares a serem ocupados comagricultura e pecuária, somando-seaos cerca de 260 milhões hojeutilizados.

As Empresas JP estãoexpandindo?Estamos sempre aprimorando a

produção e industrialização. Uma denossas principais preocupações édesenvolver onde já estamos ecrescer junto com a região quesediam nossas unidades.

Como fazer isso?Investimos projetos deresponsabilidade social em diversasunidades, é uma tradição familiar.Temos projetos como o Criança Feliz eo Aprendiz do Futuro que contribuempara o bem estar das famílias. Outrodestaque é que erradicamos oanalfabetismo nas unidades.

E as questões trabalhistas?As questões de relações de trabalhoestão avançando em vários estados,como no Mato Grosso do Sul. Em SãoPaulo, onde está concentrada 60% daprodução de cana, os trabalhadoresconquistaram importantes direitos egarantias. Aqui existem ações quepermitem acesso à educação damaioria dos funcionários, sejam os daprodução ou das usinas.

JOSÉ PESSOA DE QUEIROZ BISNETO

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responsabilidade social O novo jeito de fazer negócios

Os 14 maiores fundos depensão do Brasil aderiram for-malmente aos Princípios para oInvestimento Responsável, umdocumento onde se comprome-tem a levar em conta questõessociais, ambientais e de gestãocorporativa em suas decisões deinvestimento. Cabe a cada umdeles definir como e em que ca-sos serão aplicados os critériosde responsabilidade social.

E numa parceria entre a As-sociação Brasileira de EntidadesFechadas de Previdência Com-plementar (ABRAPP) e o Insti-tuto Ethos foi elaborado e publi-cado os “Princípios Básicos deResponsabilidade Social sob aÓtica dos Fundos de Pensão”.O documento aprovado possui11 pontos (veja quadro), pelosquais se recomendava investi-mentos em empresas que ado-tem tais práticas. Esses princípi-os passaram por um processo deaudiência pública.

Como aprofundamento, noano passado os fundos de pen-são brasileiros apoiaram aelaboração do primeiro re-latório brasileiro em con-formidade com os procedi-mentos seguidos mundial-mente pelo Carbon Disclo-sure Project (CDP).

Segundo Alcinei Ro-drigues, gerente executi-vo de Planejamento e co-ordenador da Comitê de Respon-sabilidade Social da Petros, osfundos de pensão possuem vo-

PRINCÍPIOSRESPONSÁVEIS

O Pnuma-Fi (Inici-ativa Financeira doPrograma das NaçõesUnidas para o MeioAmbiente) e o PactoGlobal, dois órgãos li-gados à ONU (Orga-nizações das NaçõesUnidas), implementa-ram os Princípios parao Investimento Res-ponsável. O docu-mento consiste em umconjunto de seis cri-térios de responsabi-lidade social e ambi-ental que os investi-dores devem adotar eexigir das empresasnas quais aplicam re-cursos. Esta iniciativainiciou em 2005 com ogrupo dos 20 maioresinvestidores do mun-do, que reúnem cercade US$ 4 trilhões derecursos.

bilhões de reais éo total estimadode recursos finan-ceiros do sistemade fundos de pen-são do Brasil. Sen-do que 162,9 bi-lhões são dos trêsmaiores fundosPetros, Funcef ePrevi.

381

Fundos de pensãoadotam critérios sociais

cação natural para investir nolongo prazo. “Horizontes dilata-dos de tempo estão na próprianatureza de planos previdenciá-rios comprometidos a pagar apo-sentadorias e pensões após dé-cadas de acumulação de reser-vas. Este fato ajuda a entender apreocupação em investir em ne-gócios que tenham raízes profun-das e confiáveis, sejam baliza-dos pela ética e transparência epautados pela melhor governan-ça e respeito ao meio ambiente”,afirma o coordenador.

Estes princípios de Investi-mento Socialmente Responsávelfazem parte da Política de Inves-timento da Petros desde 2003,sendo que inicialmente foi ado-tada a estratégia de se investirpreferencialmente em empresase empreendimento com precei-tos mínimos de Responsabilida-de Social em sua gestão. “De for-ma gradual e irreversível os cri-térios para avaliação estão sen-do aperfeiçoados e ampliados. Apolítica atual define que até 2008

a Petros não in-vestirá em empre-sas e empreendi-mentos que nãocumpram critériosmínimos de boaspráticas de respon-sabilidade social”,diz Alcinei.

Estes princípi-os fazem parte da seleção da mai-or parte dos investimentos daPetros, o que não inclui a sele-

Gerente da Fundação Petrobrasde Seguridade Social (Petros)destaca os princípios

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ção de títulos públicos. A carteira derenda variável e de investimentosimobiliários utilizam estes preceitosem grande extensão. Na carteira derenda fixa e nos fundos multimerca-dos, de gestão terceirizada, a exten-são de utilização dos critérios na de-cisão de investimento é moderada.

Os critérios utilizados pela Petrosincorporam os três temas listados pela

Fonte: Documento do Instituto Ethos e Abrapp - www.abrapp.org.br

ONU. A dimensão social e de gover-nança corporativa são utilizadas emmaior extensão que a dimensão ambi-ental. Segundo Alcinei a metodolo-gia utilizada para avaliação das em-presas e empreendimento é explicita-da na Política de Investimentos, sen-do que os critérios são específicosem função da modalidade do investi-mento.

G O V E R N A N Ç A

CORPORATIVA -

Para empresas decapital aberto lista-das na Bolsa de Va-lores, dar prioridadeàquelas que estão noNovo Mercado ou noNível I ou no Nível 2.Para empresas de capital aberto não listadas na Bolsa, socie-dades de propósito específico ou empresas limitadas, verifi-car as que possuem critérios equivalentes aos do Novo Mer-cado, Nível l ou Nível 2.

BALANÇO SOCIAL - Verificar se a empresa publica ou nãoBalanço Social. Caso publique, analisar a relevância, clarezae, se possível, a veracidade das informações. Caso a empre-sa não publique balanço social, estabelecer como meta para opróximo ano sua publicação. A existência de Balanço Socialdeve valorizar a análise da empresa.

INCLUSÃO SOCIAL - Verificar, através do Balanço Social oude informação da empresa, se há políticas claras de não dis-criminação e políticas afirmativas com relação a mulheres,negros e portadores de deficiência. Políticas desse tipo valori-zam a empresa.

MÃO-DE-OBRA - Apesar do uso de mão-de-obra infantil e dotrabalho compulsório serem proibidos por lei, solicitar à empre-sa declaração de não utilização desse tipo de mão-de-obra emsuas operações diretas e declaração de que exigiu o mesmocomportamento de todos seus fornecedores. Caso a empresaseja certificada pela SA 8000, a solicitação não é necessária evaloriza a empresa. No caso de mão-de-obra infantil, se aempresa tiver o selo “Empresa Amiga da Criança”, da Funda-ção Abrinq, não é necessária outra declaração.

MÃO-DE-OBRA TERCEIRIZADA - Avaliar se, nos contratosde terceirização, a empresa propicia condições de igualdadede tratamento (salários, benefícios etc.) entre seus funcioná-rios e os terceirizados. Caso haja muita diferença de tratamen-to entre eles, a empresa deve ser orientada a buscar condi-

PRINCÍPIOS BÀSICOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

ções de igualdade detratamento. Empresasque já têm essa práti-ca devem ser valori-zadas.

MEIO AMBIENTE - Éimportante averiguarautuações ambientaissofridas pela empre-

sa. Isso pode trazer riscos para o negócio. Verificar, atravésde informações fornecidas pela empresa, situação dos pro-gramas de prevenção de poluição, tratamento de resíduos,minimização de uso de recursos naturais e programas de reci-clagem. Empresas com preocupação ambiental devem ser va-lorizadas.

GERAÇÃO DE RENDA - Avaliar se a empresa tem programasde desenvolvimento de pequenos fornecedores ou se empre-ga profissionais das localidades onde estão instaladas suasoperações. Avaliar se há programas outros que objetivem ge-rar trabalho e renda para comunidades.

PROJETOS SOCIAIS - A empresa que apresenta um progra-ma consistente de investimentos sociais deve ser valorizada.Isso pode ser verificado através da análise do Balanço Social,quando houver.

ÉTICA E TRANSPARÊNCIA - A empresa possui código deética estruturado e disseminado pela organização? A empresa,caso faça doações para campanhas políticas, apresenta osvalores doados e quem são os beneficiários?

APRESENTAÇÃO DA POLÍTICA DE INVESTIMENTOS - PelaResolução CMN 3121, regulamento anexo, art. 6° e 7°, todoFundo de Pensão deve apresentar, anualmente, sua política deinvestimentos à secretaria de Previdência Complementar e, umavez que princípios de responsabilidade social constem dessaspolíticas, eles devem ser explicitamente indicados.

CRITÉRIOS TRADICIONAIS - Aplicar os critérios já tradicio-nalmente utilizados pelos comitês de investimentos dos fundospara definição das empresas a investir.

FUNDOS QUE ADOTARAM OS PRINCÍPIOS SOCIAIS DA ONUBanesprev BrtPrev Centrus Ceres Celpos Desban Economus

Faelba Fasern Funcef Fundação 14 Infraprev Petros Valia

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ENSAIO

ACERVO MINISTÉRIO DA CULTURA

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CULTURAINDÍGENAAS FOTOS DESTEENSAIOFOTOGRÁFICOFORAM CEDIDASPELO MINISTÉRIODA CULTURA(MINC), QUE NOÚLTIMO DIA 19 DEABRIL LANÇOU ASEGUNDA EDIÇÃODO PRÊMIOCULTURASINDÍGENAS COMINVESTIMENTODE R$3,5 MILHÕESPATROCINADOSPELAPETROBRAS.O PRÊMIO VAIESCOLHER 100PROJETOS EREALIZAR 62OFICINAS DEDIVULGAÇÃOPELO BRASIL.

MILA PETRILLO

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ENSAIO

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FOTOS: MILA PETRILLO

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INCLUIR Novas Tecnologias Sociais

A realidadeatual dasTecnologiasSociais noBrasil estáfortemente li-gada às dis-

cussões e ações realizadas naÍndia dos séculos 19 e 20. Deacordo com os pesquisadoresFlávio Cruvinel e Renato Dag-nino, o pensamento dos refor-madores daquela sociedadeestava voltado para a reabilita-ção e o desenvolvimento dastecnologias tradicionais, prati-cadas em suas aldeias, comoestratégia de luta contra o do-mínio britânico.

Entre 1924 e 1927, Gandhidedicou-se a construir progra-mas, visando à popularizaçãoda fiação manual realizada emuma roca de fiar reconhecidacomo o primeiro equipamentotecnologicamente apropriado.Iniciativas como essa desper-taram a consciência política demilhões de habitantes das vi-las daquele país sobre a ne-cessidade da auto-determina-

*Michelle Lopes

bilhões. É o núme-ro de habitantes,considerando aspopulações do Bra-sil, China e Índia.A quantidade ébastante expressi-va, considerando-se que apenas trêspaíses reúnemquase um terço dapopulação total doPlaneta: 6,6 bi-lhões.

Fonte: www.wikipedia.org

Tecnologias Sociaisaproximam

Brasil e Índia“O CONCEITO DEDESENVOLVIMENTODE GHANDI INCLUÍAUMA POLÍTICACIENTÍFICA ETECNOLÓGICAEXPLÍCITA, QUE ERAESSENCIAL PARA SUAIMPLEMENTAÇÃO. (...)SEU OBJETIVOFINAL ERA ATRANSFORMAÇÃO DASOCIEDADE HINDU,ATRAVÉS DE UMPROCESSO DECRESCIMENTOORGÂNICO, FEITO APARTIR DE DENTRO,E NÃO ATRAVÉS DEUMA IMPOSIÇÃOEXTERNA”.AMÍLCAR HERRERA,PESQUISADOR LATINO-AMERICANO

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RTS

Anil Gupta, presidente-fundador da Honey Bee

NOPARLAMENTO

A Comissão deCiência e Tecnolo-gia, Comunicação eInformática da Câma-ra dos Deputadosrealizou uma audiên-cia pública sobre“Tecnologias Sociaiscomo estratégia dedesenvolvimento”.Uma iniciativa do de-putado federal Gui-lherme Menezes (PT/BA) com o apoio daRede de TecnologiaSocial (RTS). Para osparticipantes este foium importante passopara ampliar a visibi-lidade do assunto. Acontinuidade vai sedar com o monitora-mento e participaçãoativa da RTS nas ati-vidades no grupo detrabalho criado den-tro da ComissãoParlamentar.

2,6

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ção do povo e da renovação da in-dústria nativa hindu.

Este cenário é o berço do queveio a se chamar no Ocidente de“tecnologia apropriada”, na décadade 1970. Com novas reflexões,questionamentos e contribuições aolongo dos anos, chegou-se às Tec-nologias Sociais que partem de umentendimento de que a tecnologia éuma construção social, que não éneutra, e que está sempre a serviçode um modelo de desenvolvimentoque se busca estabelecer.

Atualmente, Brasil e Índia têmsido pioneiros no incentivo do de-senvolvimento e no uso de tecnolo-gia para a emancipação social. Deacordo com o Estudo Comparativodos Sistemas Nacionais de Inova-ção no Brics, “as possibilidades decrescimento da economia mundialpara as próximas décadas residemprincipalmente em países menosdesenvolvidos. O grupo denomina-do Brics – composto por Brasil, Rús-sia, Índia, China e África do Sul –possui tal potencial”.

Na opinião da secretária execu-tiva da Rede de Tecnologia Social(RTS), Larissa Barros, há diversasoportunidades de conexões entreas inovações sociais da Índia e doBrasil: “As iniciativas indianas carac-terizam-se pelo reconhecimento dosaber popular e sua relação com ainovação. Eles valorizam muito oprocesso de olhar, identificar e re-conhecer. Essa pode ser a grandecontribuição para o nosso país”. Talpossibilidade pôde ser constatadadurante um Workshop internacionalsobre Tecnologias Sociais. O encon-tro aconteceu dias 4 e 5 de maio, naPUC/RJ, com a participação do PhDindiano, professor Anil Gupta.

O evento foi realizado pela Asso-ciação Nacional de Entidades Pro-motoras de Empreendimentos Ino-vadores (Anprotec), pelo InstitutoGênesis da PUC-Rio e pelas orga-nizações internacionais Honey Beee Sristi, com o apoio da RTS e daPetrobras.

Durante o Workshop, houve mui-ta troca de informações e experiên-cias. Também foi discutido o forta-lecimento de parcerias entre o Bra-

sil, a Índia e a China para o compar-tilhamento de inovações e de Tec-nologias Sociais.

Na ocasião, Anil Gupta apresen-tou produtos criados por indianos eindianas. Chamaram a atenção in-venções como uma bicicleta adap-tada para ser uma máquina de la-var roupa, mecanismos para subirem árvores, motocicleta para porta-dores de necessidades especiais,sistema de aquecimento de casase até um dispositivo instalado emcelulares para controlar aparelhoseletrônicos, como fornos de micro-ondas.

Questionado sobre as conver-gências entre as inovações india-nas e as Tecnologias Sociais brasi-leiras, Gupta afirmou que são muitoimportantes e desejáveis. Mas tam-bém lembrou que há diferenças naconcepção das iniciativas: “No Bra-sil, há formas de moldar as solu-ções para as necessidades da co-munidade. O que fazemos, na Ín-dia, é um pouco diferente. Busca-mos o conhecimento que as pes-soas desenvolvem, sem nenhumaajuda externa. Em seguida, levamosao laboratório para que esse desen-volva melhor a idéia. O ponto inicialsão as pessoas”.

Para o diretor do Instituto Gêne-sis da PUC/RJ e da Anprotec, JoséAlberto Aranha, é preciso justamen-te agregar as visões indianas e bra-sileiras para que históricos desafi-os sejam superados: “Temos umsistema complexo. Para resolver osproblemas sociais, precisamos demuitas ferramentas. Esses meca-nismos podem ser solidários, como

as Tecnologias Sociais – incluindoos processos, e o que o professorGupta divulga como inovações liga-das ao indivíduo”. E complementa:“Precisamos utilizar todas essaspossibilidades visando a diminui-ção da desigualdade social. O quequeremos, na realidade, é que aspessoas excluídas possam ter di-reitos também”.

O analista de projetos da Finan-ciadora de Estudos e Projetos (Fi-nep), Rodrigo Fonseca, explica queo Workshop era uma ação previstano projeto Cooperação Internacio-nal Brasil-Índia, desenvolvido pelasinstituições organizadoras do even-to: "O objetivo é fortalecer a capaci-dade dos dois países – e posterior-mente de outros - em identificar,documentar, gerar adição do valor,desenvolvimento de negócios atra-vés de Tecnologia Social e do co-nhecimento tradicional para a difu-são comercial e não comercial".

Fonseca diz ainda que “esta éuma abordagem baseada no usodo conhecimento para redução dapobreza através das inovações tec-nológicas realizadas por popula-ções tradicionais, organizaçõesnão-governamentais ou inventoresisolados”.

Outras Informações:•Anprotec – www.anprotec.org.br•Honey Bee Network – www.honeybee.org•Instituto Gênesis – www.genesis.puc-rio.br•Rede de Tecnologia Social - www.rts.org.br

*Colaboração: Cláudia Mohn

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RTS

Workshop inter-nacional sobreTecnologias Soci-ais : troca de infor-mações

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INCLUIR

Durante o Workshop Brasil– Índia de Tecnologia Social: Co-nhecimento, Aprendizado e Prá-ticas, realizado dias 4 e 5 demaio, no Rio de Janeiro, o pro-fessor indiano Anil Gupta con-cedeu uma entrevista exclusi-va à RTS. Na ocasião, o presi-dente-fundador da Honey Bee ecoordenador da Sristi fez refle-xões sobre as possibilidades deparcerias entre Brasil, Índia eChina, no mapeamento e difu-são de inovações e Tecnologi-as Sociais.

RTS - O Workshop é umaetapa de um projeto de coope-ração internacional. Como tudocomeçou?

Gupta - Em 1995, nós come-çamos a discutir os assuntosdentro da Rede Honey Bee eSrist. De 2000 a 2002, nós de-senvolvemos várias ferramentase o centro de processamento deconhecimento. O propósito eracompartilhar informações, entrepessoas, comunidades e paí-ses, por meio de um banco mul-timídia.

A idéia era que uma comuni-dade que viesse lutando por cau-sa de algum problema fossebeneficiada pela solução de ou-tra comunidade. Tecnologias deinformação, como a Internet e ocomputador, poderiam fazer comque fosse possível para as pes-soas aprenderem a resolver pro-blemas em sua própria língua,por meio dessa rede de informa-ções.

Além disso, fizemos um re-gistro internacional para inova-ções de conhecimentos.

RTS – Como foram iniciadosos diálogos entre a Rede HoneyBee e o Brasil?

Gupta – Fui convidado parafazer uma apresentação na Con-ferência Internacional de Tecno-

Parcerias entre os países

logias Sociais, realizada no Bra-sil, em 2003, quando foi concebi-da a RTS. Eu participei dos deba-tes, compartilhei as experiênciasda Honey Bee e assim iniciamosos diálogos.

O atual projeto de cooperaçãointernacional, que conta com aparticipação da Honey Bee, bus-ca envolver Índia, China e Brasil.Nosso primeiro objetivo é incen-tivar a busca de inovações emoutros países, como a China e oBrasil.

Dentre as atividades realiza-das em meu país, tentamos veri-ficar como são desenvolvidos pro-jetos nas comunidades. Uma vo-luntária envolveu seus alunos.Durante as férias, eles fizeram vi-sitas de campo, a fim de buscarinovações. Uma vez descobertos,começaram a ser registrados.

No Brasil, nós esperamos queessa lógica ocorra nas universi-dades e em outras instituições.Queremos mobilizar nossas par-cerias para buscar pessoas cria-tivas, bem como detentores de co-nhecimento.

RTS - O senhor percebequais conexões entre o que é de-senvolvido no âmbito da RTS e oque é desenvolvido pela HoneyBee?

Gupta - Em primeiro lugar, sãotécnicas muito importantes e de-sejáveis. Mas, no caso do Brasil,

há formas de moldar as solu-ções para as necessidades dacomunidade.

O que fazemos, na Índia, é umpouco diferente. Buscamos o co-nhecimento que as pessoas de-senvolvem, sem nenhuma ajudaexterna. Em seguida, levamos aolaboratório para que esse desen-volva melhor a idéia. O ponto ini-cial da Honey Bee são as pesso-as.

Há muitas oportunidadespara nós que podemos articularnossos conhecimentos. Mas,para pessoas de cidades peque-nas e de periferias, não há essapossibilidade. Daí a importânciadesse espaço que estamos cri-ando por meio da Honey Bee eparceiros do Brasil e da China.Tal articulação está ligada à ciên-cia e tecnologia, finanças, marke-ting e design. A expectativa é quesejam gerados empregos e apa-reçam oportunidades baseadasnesse conhecimento.

Outro ponto importante é queselecionamos as melhores prá-ticas e as juntamos, criando no-vos produtos. Investimos nessesprodutos e levamos ao mercado.Qual mercado? O mercado maispopular, de um grupo para o ou-tro. Depois, o mercado vertical,da base para o mercado global.Essa é uma outra abordagem uti-lizada para melhorar a habilida-de dos indivíduos e dos grupos.

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publicidade é ummeio para divulgarum produto, umserviço ou umaidéia, mas aos pou-

cos foi ganhando fortes poderesde influência sobre a sociedade aodifundir sutilmente valores que de-vemos seguir, a estética ideal ecrenças a respeito do mundo. Fo-ram os consumidores que derameste poder à mídia publicitária ehoje a propaganda reflete os de-sejos das pessoas.

E ao influenciar as atitudes porparte da sociedade, cada vez maisagências se preocupam não ape-nas em criar peças éticas, como jáprevê o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Co-nar), mas em estar em sintoniacom preocupações ambientais,questões de gênero, raça, de direi-tos e valores humanos.

A sócia-presidente do GrupoFull Jazz de Comunicação, Christi-na Carvalho Pinto, em artigo publi-cado no site da empresa, diz quese a comunicação exerce tanto po-der, então “a propaganda pode con-tribuir para destruir ou reconstruir

A a auto-estima das pessoas e suacapacidade de empreender e serfeliz. Ela pode se transformar emlegítima alavanca de indivíduos e so-ciedades, respeitando suas cultu-ras e seus valores e encorajando-os na direção da auto-sustentabili-dade”.

Esse pensamento é comparti-lhado por uma leva de publicitáriose anunciantes que em alguns ca-sos buscam apenas novas aborda-gens, mas em outros quer mesmotransparecer as preocupações daempresa com questões relaciona-das à responsabilidade social ouao desenvolvimento sustentávelpara atender o público consumidorcada vez mais exigente.

O trabalho da marca Dove en-volvendo uma abordagem diferen-ciada com relação à beleza come-çou, no Brasil, em 1992, com cam-panhas que traziam depoimentos demulheres reais. A intenção foi setransformando em linha mestra doscomerciais da marca, culminandocom a Campanha pela Real Bele-za. Foi realizada, em 2004, uma pes-quisa global, em 10 países (Esta-dos Unidos, Canadá, México, Bra-

LITTLE GIRLS: uma garotaodeia suas sardas. A outrase acha feia. Enquanto umadeseja ser loira, a outra seacha gorda. Esse é o moteda campanha de Dove queestreou em março deste ano.O filme mostra aspreocupações precoces demeninas com relação àprópria beleza e imagem

CAMPANHA PELA REALBELEZA: a valorização damulher que foge dospadrões da moda atual é amarca da campanha daUnilever

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PROPAGANDARESPONSÁVEL

UMA FAMÍLIA NA TELADA TELEVISÃOPARECE MAIS FELIZQUE A MINHA. SERÁQUE TODOS OSCOMERCIAISAPRESENTAMMODELOS DISTANTESDA REALIDADE?

sil, Reino Unido, Itália, Alemanha,Japão, China e Arábia Saudita), com3.200 mulheres de 18 a 64 anos. Oresultado mostrava como as mulhe-res estavam insatisfeitas com a pró-pria beleza e com os padrões esta-belecidos pela mídia. O resultado ésurpreendente: apenas 2% delas,por exemplo, se consideravam be-las.

A doutora Susie Orbach, da Lon-don School of Economics/ Sociolo-gy Department, uma das acadêmi-cas envolvidas na pesquisa deDove, afirma que os resultados sãorealmente alarmantes. “A relaçãoentre a satisfação física da mulhere sua auto-estima é evidente. Osefeitos de um ideal de beleza es-treito na sociedade feminina, prin-cipalmente nas garotas, são dramá-ticos. É importante que, como parteda sociedade, ajudemos essasadolescentes a superar os efeitosnegativos dos estereótipos de be-leza, fazendo com que adotem umavisão mais ampla do que é ser bo-nita”, diz ela. Segundo a doutoraNancy Etcoff, da Universidade deHarvard e também colaboradora doestudo, a pesquisa demonstra a for-

ça que o diálogo entre mães e fi-lhas possui para impactar positiva-mente a auto-estima das garotas.“Por meio do estudo, sabemos queas mulheres anseiam por ideais debeleza mais amplos, inclusive parasuas filhas. Percebemos isso quan-do perguntamos sobre seus dese-jos para as futuras gerações”, con-clui a doutora.

Ao ter estes resultados, diversascampanhas da marca trazem mu-lheres que representam a diversi-dade de formas, tamanhos e ida-des, com o objetivo de despertar adiscussão sobre o tema. Em 2005,Dove foi mais a fundo para desven-dar o início do problema e realizouuma segunda pesquisa e para iden-tificar com ainda mais precisão asquestões sobre beleza, principal-mente com relação ao desenvolvi-mento da auto-estima, a pesquisaouviu também meninas e adoles-centes entre 15 e 17 anos de idade.E mais, ouviu ainda mães que mos-traram como a beleza está inseridana relação mãe e filha.

Assim foi criada a nova campa-nha, onde os comerciais apresen-tam cada menina com um questio-

namento. Produzido pela agênciaOgilvy & Mather no Canadá, o filmefoi exibido também na Europa e nosEUA, e este ano no Brasil.

NOVOS IDEAISA publicitária Christina Carvalho

Pinto diz que se “as marcas pulsamcomo seres vivos e são espelhosde gente, elas podem, através dapropaganda, assumir um papel be-líssimo neste novo milênio: trazercada um de nós de volta para nósmesmos”.

Verificamos de forma tímida ainserção de alguns valores de res-ponsabilidade social e ética naspropagandas, evitando o uso deestereótipos, a inclusão de informa-ções úteis para a vida do consumi-dor como o uso moderado de bebi-das, muitas vezes apenas obede-cendo a legislação. Pode-se dizerque o conceito de propaganda soci-almente responsável ainda tem selimitado ao dever de dizer sempre averdade, mas nota-se vários movi-mentos e discussões sobre o pa-pel que cabe à propaganda e à em-presa em geral como participanteda comunidade.

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omo as mudanças climáti-cas afetam a produção agrí-cola e os próprios hábitosda sociedade foi o primei-

ro assunto apresentado no 2o Semi-nário de Responsabilidade Social eSustentabilidade promovido pelo Ins-tituto Primeiro Plano em parceria comentidades do movimento Diálogospela Responsabilidade (veja quadro)e com o patrocínio da Celesc Distri-buidora. Ocorrido no auditório doBRDE, em Florianópolis, o eventoreuniu mais de cem pessoas em tornodos temas de responsabilidade soci-al.

O pesquisador da Epagri (Empre-sa de Pesquisas Agropecuárias deSanta Catarina), Maurici Monteiro, fezum resumo de como alguns fenôme-

Planeta em debate

SEMINÁRIO DERESPONSABILIDADE

SOCIAL ESUSTENTABILIDADELEVANTA ASSUNTOS

COMO MUDANÇASCLIMÁTICAS E OS

IMPACTOSGERADOS POR

CADA SETOR DASOCIEDADE

INTEGRANTES:

Besc

BRDE

Celesc

Cesusc

CIEE

Crescer

Fundação Casan

Fundação MaurícioSirotsky Sobrinho

Instituto Primeiro Plano

Senac Social

Sesi/SC

Unimed

Grande Florianópolis

DIÁLOGOS PELARESPONSABILIDADE

MAURICI

MONTEIROPesquisador

da Epagri

nos climáticos têm revelado as agres-sões ao meio ambiente. “O aumentode temperatura em determinadas épo-cas, a transição do período de chu-vas e a chegada de furacões mais pró-ximos da costa são algumas das mu-danças que servem de alerta”, comen-tou Maurici.

Na sua fala ele abordou ainda ostipos de tecnologias que podem con-tribuir para a mitigação destas mudan-ças, como uso de energia eólica, so-lar e de biomassa a partir de resíduos.A regressão dos efeitos prejudiciaisdevem levar em conta uma imediatamudança dos hábitos das atividadeshumanas, assim como preservaçãodas florestas ainda existentes pelaimportância do efeito estabilizadorque as mesmas oferecem ao meio am-biente.

Em seguida o diretor executivo doInstituto Ethos, Paulo Itacarambi, fa-lou do que cada um pode fazer paradiminuir os impactos provocados pe-las nossas ações. Empresas, organi-zações e a sociedade como um todopodem mudar os hábitos ou se adap-

tar à nova realidade com menos re-cursos. Mas Paulo destaca que numestudo do governo inglês revela-seque as adaptações teriam um customaior do que se mudássemos agora omodo de utilização dos recursos na-turais e os hábitos de consumo.

“Todas essas questões de dese-

C

Depois das apresentações, público participou do debate

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“O planeta tem uma determinada capacidade, até no número depessoas, e em vários aspectos há um esgotamento. Se continuarmos

as atividades sem pensar nisso estaremos logo destruindo nossopróprio espaço. No processo de responsabilidade empresarial é

fundamental que não se espere pelo outro”

SÉRGIO LEITE DIAS

Gerente geral da Fundação Vale do Rio Doce

PAULO ITACARAMBI

Diretor do Instituto Ethos

“Quando falamos de responsabilidade social estamos falando decomo uma empresa impacta na sociedade com suas atividades. Osefeitos desta atuação podem ou não ser mais responsáveis. Então,

assumir e administrar o impacto da sua atividade éresponsabilidade social. Temos impacto social, econômico e

ambiental. Até há pouco tempo, talvez, não se falasse tanto nisso,hoje é imprescindível estarmos cientes da situação”

quilíbrio ambiental devem ser avalia-das em conjunto com o desequilíbriosocial. A integridade nas relações é oque baseia as ações de responsabili-dade social, ou seja, responsabilida-de consigo mesmo e com o futuro”,conplementa Itacarambi.

O gerente geral da Fundação Valedo Rio Doce, Sérgio Leite Dias, falouque as atitudes e valores devem serrevistos. Na companhia, foram ado-tados critérios do GRI (Global Repor-ting Initiative) para gerir as formas de

diminuir os impactos sociais e ambi-entais, realizando sempre uma análi-se de toda a cadeia de valor. Isso querdizer preocupação com fornecedores,público interno e consumidores. Sér-gio ressaltou que é essencial interna-lizar os valores na empresa, permitin-do que todos se sintam envolvidoscom a mudança.

DEBATE PROVOCAOUTROS TEMAS

Durante o tempo de debate entreos presentes, outras questões impor-tantes foram levantadas, como o con-sumo consciente, a concessão de cré-ditos ambientais pelos bancos e oenvolvimento dos trabalhadores nasdecisões a respeito de responsabili-dade social.

Miguel Minguillo, da FundaçãoMaurício Sirotski Sobrinho, levantouuma proposta de mobilização maisampla em torno do tema responsabili-dade, algo como o compromisso To-dos pela Educação e Paulo Itacaram-bi respondeu que o Instituto Ethostem alguns movimentos neste senti-do, mas que muitos avanços aindapodem ser feitos para alcançar maisvisibilidade entre todos os setores

(empresas, governos, sociedade).O supervisor institucional do Ob-

servatório Social, Amarildo Dudu Bo-lito, destacou que é preciso que ostrabalhadores também tenham com-prometimento com o que ocorre nagestão da empresa e com a responsa-bilidade social não deveria ser dife-rente. Sérgio Leite disse que na Valedo Rio Doce isso é um desafio muitogrande, mas há trabalho forte no de-senvolvimento de competências naárea e na inclusão do assunto em vá-rios projetos e ações com os funcio-nários.

O engenheiro da Celesc, CésarBresola, levantou um assunto maisvoltado à realidade de Santa Catari-na. Como aproveitar os pequenosprodutores para que eles colaboremcom o freio das mudanças climáticas,sendo que muitos não conseguemnem administrar o dia-a-dia do cam-po. Maurici Monteiro disse que oplantio de árvores é algo que está sen-do difundido e que o incentivo da ati-vidade rural é um caminho longo, masque passos importantes estão sendodados, como o programa de reflores-tamento e recuperação de áreas de-gradadas.

(da esq.para dir.)Odilon Faccio,Maurici Monteiro,Paulo Itacarambi eSérgio Leite Dias

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AMBIENTE Cuidando da vida

No setor de ce-lulose, a com-panhia catari-nense Irani é aprimeira em-

presa brasileira a desenvolverum projeto sustentável de ener-gia que produz créditos de car-bono. Com o primeiro projetode co-geração de energia elé-trica em Vargem Bonita, sededa empresa, a Celulose Iranideixou de emitir 179 mil tonela-das de metano e recebeu pelavenda desses créditos cerca deR$ 3 milhões. O Projeto Iranide Geração de Eletricidade deBiomassa, de “metano evitado”da empresa, que teve um cus-to de 23 milhões, utiliza resídu-os florestais como matéria-pri-ma para a produção de ener-gia. Elas geram este valor davenda dos créditos no primeiroperíodo de um ano e cinco me-ses da sua criação. “É a gran-de oportunidade de associar

ONDE ESTÃO ASABELHAS?

Um sumiço mis-terioso das popula-ções de abelhas pre-ocupa os apicultoresalemães, enquantoocorre um fenômenosemelhante nos Es-tados Unidos, ondeas abelhas estãomorrendo. O proble-ma pode ter váriascausas, uma delas oácaro Varroa, oriun-do da Ásia, e outra aprática disseminadana agricultura de bor-rifar as flores silves-tres com herbicidase promover a mono-cultura. Nos EUA nin-guém sabe o queestá causando amorte das abelhas,mas especialistasacreditam que o usoem grande escalade plantas genetica-mente modificadaspoderia ser um fator.Especialistas daUniversidade deCornell, no interiorde NY, estimaram ovalor que as abelhasgeram -polinizandoplantas que alimen-tam animais- emmais de US$ 14 bi-lhões. O fenômentoé recente, continuasendo estudado.

milhões de hecta-res é a soma daárea das Unidadesde Conservaçãono Estado doAmazonas. O go-vernador EduardoBraga assinou de-creto em abril paracriar política esta-dual de combateao aquecimentoglobal com com-promisso de des-matamento zero.O governo tam-bém sugeriu acompensação dasemissões de car-bono da possívelCopa do Mundoem 2014 com pre-servação da flo-resta.

Celulose Irani:energia de biomassa

N desenvolvimento econômicoàs questões ambientais. Esempre que for possível redu-zir a emissão é eficiência”, ava-lia o Diretor Administrativo e Fi-nanceiro e de Relações com In-vestidores, Odivan Carlos Carg-nin.

Estas ações vêm ao encon-tro do Protocolo de Kioto, quedefine índices de redução deemissão de gases que poluemo meio ambiente e provocam oefeito estufa. Nos países emdesenvolvimento, com sua in-dústria estabelecida e tradicio-nal, gerando lucros e a maiorparte das emissões, a reduçãoé mais cara e lenta. Aos paísesem desenvolvimento cabe dimi-nuir as emissões a partir defontes limpas de energia. Comisso, surge uma nova possibi-lidade econômica e sustentá-vel, que em relação aos paísesindustrializados sofre críticas,mas que nos países em de-

Números da Irani

- TECNOLOGIA LIMPA - A Irani garante que 100% da ener-gia que produz vem de fontes limpas. Do total da energiaconsumida pela empresa, 81% são geração própria etodo esse percentual vem de projetos de biomassa, detrês Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) próprias ede três termelétricas.

- EMPREGOS E UNIDADES – Com cerca de 1700 funcio-nários e 479 contratações no último ano, a empresa temcinco unidades em Santa Catarina, no Rio Grande do Sule em São Paulo. Atua também no mercado internacionalem mais de 15 países como Estados Unidos, Alemanha,Holanda, França, Reino Unido, África do Sul, Arábia Sau-dita, Malásia e nos vizinhos Venezuela, Peru e Paraguai.

- FATURAMENTO - No ano de 2006, a empresa de celulo-se teve um faturamento de R$ 373 milhões, com ênfasepara a produção de papel e embalagens e venda prioritá-ria para o mercado interno.

news.independent.co.ukwww.spiegel.de

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senvolvimento pode incentivar proje-tos que respeitem o meio ambiente,gerem menos emissões de gasesestufa e mais lucro: o crédito de car-bono.

Os créditos de carbono do primei-ro projeto da Irani foram vendidos àShell no final de 2006, mas o projetocomeçou a ser pensado em 2003,quando o crédito de carbono aindanão era muito falado no Brasil. O di-retor da empresa conta que o inte-resse pelo assunto surgiu após acontratação de um funcionário comexperiência no setor na Europa, ondeo assunto já vinha sendo discutido.Depois das primeiras conversas edas primeiras sondagens, foi cha-mada a assessoria Ecosecurities,

Os créditos de carbono são cer-tificados de acordo com as regrasdo Protocolo de Kyoto, que prevêmecanismos para auxiliar na re-dução das emissões de gases doefeito estufa. Um destes é o Meca-nismo de Desenvolvimento Limpo(MDL), o único que integra os pa-íses em desenvolvimento ao mer-cado de carbono. O Protocoloobrigou os países industrializadose responsáveis por 80% da polui-ção mundial a diminuírem suasemissões de gases formadores doefeito estufa, como o dióxido decarbono, enxofre e metano em5,2%, entre os anos de 2008 e2012. Os projetos são desenvolvi-dos, precisam ser registrados pe-los governos e aprovados pelaONU. A principal crítica é que poresse mecanismo os países ricos com-prariam o direito de poluir, inves-tindo em projetos que são postosem prática apenas nos países emdesenvolvimento. Os que defendema venda de crédito avaliam que ao importante é reduzir a emissão.

que realiza parcerias entre as em-presas interessadas em projetosecologicamente sustentáveis, pararealizar a produção, a compra e avenda de créditos. Desde então, omercado de créditos de carbono sótem crescido no Brasil e no mun-do. Há previsões de que em 2007o mercado de crédito carbono te-nha um potencial, em todo o mun-do, de 30 bilhões de euros e deque o Brasil possa responder por20% desse total, com um potencialde ganho extra de cerca de 6 bi-lhões de euros. A previsão é de umapesquisa conduzida pelo consultorAntonio Carlos Porto Araújo, da Tre-visan Escola de Negócios, publica-da pelo site Carbono Brasil.

Depois dos efeitos positivos doprimeiro projeto de venda de crédi-tos, em relação à imagem, à efici-ência energética e à lucratividade, aempresa já pensa em novos opor-tunidades, inclusive utilizando recur-sos produzidos pelo crédito. O pró-ximo projeto, que deve entrar em fun-cionamento em dois ou três meses,é de tratamento de efluentes. O pro-jeto está em execução e em tramita-ção para que receba a autorizaçãode MDL. “O ineditismo, se trouxe al-guma demora na primeira execução,trouxe também o benefício de ser aprimeira a demonstrar a busca porassociar economia, desenvolvimen-to e meio ambiente”, conclui o dire-tor.

* CO2 - Dióxido de Carbono = 1* CH4 - Metano = 21* N2O - Oxido Nitroso = 310* HFC - Hidrofluorcarbono = 140 ~ 11700* PFC - Perfluorcarbono = 6500 ~ 9200* SF6 - Hexofluor Sufuroso = 23900

óleo diesel pelo biodiesel em ca-minhões, ônibus, tratores, locomo-tivas, barcos e outras atividadesprevistas no MDL. As empresascompram em bolsa ou diretamentedas empresas empreendedoras astoneladas de carbono seqüestra-das ou não emitidas através de umbônus chamado Certificado de Re-dução de Emissões (CER). Cadatonelada de carbono está cotadaem cerca de 15 euros. Cada crédi-to de carbono equivale a uma to-nelada de dióxido de carbonoequivalente, observando o poten-cial de poluição de seis gases cau-sadores do efeito estufa. O CO2equivalente é o resultado da mul-tiplicação das toneladas emitidasdo Gás de Efeito Estufa pelo seupotencial de aquecimento global.O potencial de aquecimento glo-bal do CO2 foi estipulado como 1.O potencial de aquecimento globaldo gás metano é 21 vezes maior doque o do CO2. Portanto, uma tone-lada de metano reduzida correspon-de a 21 créditos de carbono.

Comofunciona aemissão de

créditosOs países em desenvolvimento têma oportunidade de cada vez maisrealizar projetos sustentáveis e aosmesmo tempo aumentar a sua lucra-tividade. “Para a Irani, além do im-pacto positivo na imagem da em-presa, há a certeza de uma receitaadicional e a garantia que de queestamos gerando energia limpa”,garante Odivan Cargnin.

Entre as atividades mais indi-cadas da produção de créditos es-tão a substituição de óleo diesel oucarvão mineral em caldeiras porbiomassa ou biodiesel, a substitui-ção do óleo diesel de geradores porbiodiesel, reflorestamento, capta-ção do gás metano de aterros sani-tários ou fazendas de suínos e asubstituição total ou parcial do

POTENCIAL DE

AQUECIMENTO

GLOBAL

DOS GASES DE

EFEITO ESTUFA:

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CONSUMO CONSCIENTE Escolhas felizes

A rede norte-americana BurgerKing, segunda mai-or cadeia de fast-food do mundo, vaipassar a selecionaros fornecedorescom base no trata-mento que dispen-sam aos animais.Terão preferência os pecuaris-tas que não criam os porcosenjaulados ou em caixas queos impedem de se movimen-tar. O mesmo critério será ado-tado em relação aos fornece-dores de ovos, assim como os

ENERGIA SOLARVIRA LEI

A cidade de SãoPaulo pode aprovaruma lei que obrigatodas as novas cons-truções com mais detrês banheiros a ins-talar geradores deenergia solar. O pro-jeto se estende a no-vos hotéis, clubesesportivos, hospitais,escolas, parte da in-dústria e todos osimóveis com piscina.Os painéis solaresdevem suprir pelomenos 40% da ne-cessidade de ener-gia para aquecimen-to de água Os chu-veiros elétricos res-pondem por 8% dademanda de eletrici-dade no país, che-gando a 18% no ho-rário de pico.

reais é o valor dovale-investimentocriado pelo Itaú.Durante este ano,todos os partici-pantes das reuni-ões da Associa-ção dos Analistase Profissionais deInvestimento doMercado de Capi-tais (Apimec) rece-berão um “vale-in-vestimento” paraser aplicado emalgum projeto daBolsa de ValoresSociais (BVS), bra-ço de Responsa-bilidade Social daBovespa.

Escala de coresUm novo movimento na

Internet defende o uso da corpreta como cor de fundo dastelas. Para exibir o branco, osmonitores gastam cerca de 74watts, enquanto uma telapreta consome 59 watts.Para apresentar o branco, épreciso usar todas as cores epara apresentar o preto, équase como ficar apagado.As medições foramfeitas pela Rising PhoenixDesign, empresalíder do movimentoBlackBack Web Theory(Teoria do Pretode Volta à Web).

Baseado nessa escala foicriado o padrão chamadoEmergy-C, um conjuntoreunindo as cinco cores quegastam menos energia, maiso branco que deve ser usadopara as letras. Um exemploda aparência de um sitebaseado na Emergy-C,pode ser encontrado noEcoIron um blog voltado parao assunto ambiental nainformática.

Hambúrguer selecionadocriadores de frangopara abate devemusar métodos, prefe-rencialmente, me-nos agressivos doque os habituaischoques elétricos. Acompra de produtosde animais criadossem confinamento

exagerado trará custos extrasà rede de fast-food, mas a em-presa garante que não os re-passará aos consumidores. Aaplicação dessa política se res-tringe aos Estados Unidos e aoCanadá.

CORES MAISECONÔMICAS

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www.ecoiron.blogspot.com

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FORNO ELÉTRICOO consumo mensal de um fornopequeno, com potencia de 800 V,sendo utilizado uma hora por dia, éde 16 Kvh, práticamente igual aoconsumo de uma TV 29" e equiva-lente a 25% do consumo mensalde um chuveiro elétrico. Conside-rando os custos, segurança e im-pacto ambiental, é uma boa opção.

O Movimento CUIDE é uma cam-panha de comunicação do InstitutoAkatu apoiada por diversas empre-sas, que tem o slogan “Consumasem consumir o mundo em quevocê vive”. A campanha foi criadapara disseminar temas relaciona-dos ao Consumo Consciente, pormeio de peças de comunicação aserem veiculadas em TV, rádio, in-ternet, outdoor, jornal e revista. Umdos filmes, “Favela”, foi inspiradoem uma peça publicitária criada pelaagência Leo Burnett. A Nestlé, por

sua vez, patrocinou toda a produçãodo vídeo. A peça já recebeu váriaspremiações, entre elas o Leão deOuro no Festival de Cannes e umapremiação especial concedida pelaONU (Organização das Nações Uni-das), durante o Festival de Nova York.

PASSEIO DE ÔNIBUSUma parceria entre o Instituto

Akatu e a Bus TV vai divulgar o con-sumo consciente nos ônibus da ci-dade de São Paulo. A empresa, es-pecializada em implantação de mo-

Campanha Cuidenitores de TV com programação pró-pria dentro dos ônibus urbanos, estátransmitindo os filmes Favela, Eti-queta, Terra e Palavras, da campa-nha Cuide, durante os intervalos daprogramação. Segundo a BusTV, asmensagens atingem uma média di-ária de 100 mil pessoas. A programa-ção da Bus TV tem uma hora e fica noar, em looping, 24 horas por dia, comdicas, notícias e serviços de utilidadepública. Os monitores estão presen-tes em 12 linhas e 140 ônibus quecirculam na capital paulista.

PEQUENAS DECISÕESGRANDES ATITUDES

Toda pessoa ao passar pelo planeta deixa uma assinatura, a marca de sua passagem. Cabe a cada um decidir que tipo de rastro quer deixar.

Não estamos falando sobre atitudes grandiosas ou descobertas espetaculares.Falamos aqui da vida cotidiana, das pequenas ações, das decisões que podemos

tomar e que certamente farão diferença no impacto que causamos no meioambiente. Nesta seção estaremos trazendo dicas úteis para o dia-a-dia, com a

palavra de especialistas consultados pela Primeiro Plano.A escolha dos eletrodomésticos que compramos ou a maneira que adotamos

para cozinhar podem fazer parte da nossa contribuição. Aqui a Revista PrimeiroPlano faz uma avaliação de algumas opções:

www.eletrobras.com/elb/procel/main.asp www.cemig.com.br/dicas/dicas_economia.asp www.energiabrasil.com.br

FORNO A LENHABom para assar pizzas, ruim para omeio ambiente. A lenha, seja no pro-cesso de extração ou na queima, éum combustível agressivo ao meio.A combustão da madeira gera polu-entes e contribui para o processode aquecimento global.

FORNO A GÁS

Por apresentar um processo decombustão mais limpo é uma op-ção melhor que a madeira. Ampla-mente difundido, apresenta vanta-gens sob os pontos de vista da distri-buição e custo relativamente barato.

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Por um mundo melhorAGENDA GLOBAL

A crescente preocupaçãomundial com o esgotamentodas reservas de petróleo, so-mada às questões relaciona-das ao aquecimento global,tende a ampliar a demanda in-ternacional e nacional por bio-combustíveis. Para atendê-la,as produções de etanol e debiodiesel deverão crescer sig-nificativamente. Fala-se emdobrar ou triplicar a produçãonacional de etanol. O governobrasileiro propõe a incorpora-ção de 5% de biodiesel no die-sel convencional até 2010. Issocertamente vai gerar aumento naprodução de cana-de-açúcar esoja, matérias-prima do etanol edo biodiesel, respectivamente.

Um relatório da Organiza-ção para Agricultura e Alimen-tação das Nações Unidas –FAO, divulgado no último dia 26de abril, afirma que o desen-volvimento do etanol e do bio-diesel não afeta a produção dealimentos e que a fome não sedeve à baixa produção de ali-mentos. Ainda assim, o proble-ma da fome é real. Afeta maisde 850 milhões de pessoas nomundo e está determinado pela

concentração dos meios deprodução e de renda, a má dis-tribuição e dificuldade de aces-so aos alimentos. Ou seja, aquestão não é se há comidasuficiente, mas como essesalimentos são produzidos,como se dá o acesso a eles equem se beneficia da produção.

O Brasil possui hoje maisde 22 milhões de hectares ocu-pados por soja, três milhõesocupados com eucalipto e seismilhões destinados à produ-ção de cana-de-açúcar, dosquais três milhões envolvidosna produção de álcool. A quasetotalidade desta produção estáconcentrada em monoculturas,controladas por grandes fazen-deiros e empresas. A se consi-derar a tendência atual, a ex-pansão da cana-de-açúcar se-guirá o padrão vigente de ocu-pação de mais áreas no cerra-do e na região antes cobertapela Mata Atlântica. A soja, porsua vez, deve acelerar seu pa-drão de crescimento expandin-do-se para o cerrado e, principal-mente, para a região Amazônica.

É evidente que essa violen-ta expansão na produção de bi-

Celso Marcatto*

100milhões de hecta-res aptos à ex-pansão da agri-cultura de espéci-es de ciclo anual.Esta é uma esti-mativa da Embra-pa, que prevêtambém uma libe-ração potencial deárea equivalente a20 milhões dehectares proveni-ente da elevaçãodo nível tecnoló-gico na pecuária.

NÚMEROS DA TERRA

Com 850 mi-lhões hectares, oBrasil tem uma gran-de fração do territórioem condições desustentar economi-camente a produçãoagrícola, mantendoainda grandes áreasde florestas com di-ferentes biomas. Asáreas de cultivo agrí-cola totalizam hoje 60milhões hectares(apenas 7% do terri-tório, sendo cerca de21 milhões de hecta-res cultivados comsoja e 12 milhões dehectares com milho).A cana-de-açúcarocupa cerca de 6,5milhões de hectares.As áreas de "pasta-gens" correspondema cerca de 227 mi-lhões de hectares eáreas de florestas(incluindo a produ-ção comercial demadeira) totalizam464 milhões de hec-tares.

Terra para todos:alimentos e

biocombustíveisAumento de demanda peloetanol e biodiesel abre discussãosobre a produção e distribuição

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PrimeiroPLANO . ano 2 . no6 . junho 2007

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*coordenador de SegurançaAlimentar da ActionAid no Brasil

ocombustíveis não deverá aconte-cer sem impactos sociais e ambi-entais, também violentos. Dentre osmais prováveis, pode-se ressaltara ampliação dos conflitos pela pos-se e uso da terra, o desmatamentoe queimadas de grandes áreas, a su-perexploração da mão-de-obra naslavouras canavieiras, com efeitos naampliação da desigualdade e da po-breza no país.

Outro impacto importante estárelacionado à possível redução dasáreas livres para a produção de ali-mentos. Os primeiros afetados se-riam pequenos arrendatários, me-eiros e parceiros que utilizam áreasde terras de grandes fazendeiros naprodução de alimentos para consu-mo próprio.

Está claro, então, que para po-der qualificar biocombustíveis comoenergia realmente limpa, precisa-se

estabelecer um novo padrão de pro-dução do álcool e da soja, baseadoem critérios ambientais e, sobretu-do, sociais, muito bem definidos.Neste sentido, caberia aos organis-mos de Estado regular fortementesetores de produção, transporte ecomercialização de biocombustível,como forma de evitar que a expan-são das monoculturas – principal-mente de soja e cana-de-açúcar –venha a competir com áreas dispo-níveis para a produção de alimen-tos, pondo em risco a segurança ea soberania alimentar do país.

Os biocombustíveis podem seruma oportunidade econômica parao Brasil, desde que sejam fortaleci-dos os mecanismos de regulaçãoe controle, definindo claramente áre-as onde é possível expandir, comoexpandir e quais serão as medidasmitigadoras a serem implementa-das, tendo por base o ZoneamentoEcológico e Econômico. Deve-sedesenvolver “modelos alternativos”de produção de biocombustíveisque não sejam centrados na mono-cultura, mas sim na produção con-sorciada, nos sistemas agroflores-tais e na agroecologia.

É preciso envolver a agriculturafamiliar na produção sustentável de

biocombustíveis, como uma alter-nativa de geração de trabalho e ren-da e, principalmente, garantir a pro-teção da agricultura familiar, das co-munidades tradicionais, quilombo-las, ribeirinhas e indígenas contra aexpansão insustentável do agrone-gócio produtor de biocombustíveis.

Especificamente no que refereà produção de etanol, produto con-trolado pelas empresas do agrone-gócio brasileiro, caberia tambémmaior fiscalização por parte do Es-tado no sentido de impedir a já his-tórica superexploração da mão-de-obra nas lavouras, principalmenteno processo de corte da cana.

Se, como afirma o setor dosagrocombustíveis, o álcool brasilei-ro tem o preço bastante competitivoem nível internacional, com customuito menor que o dos EUA, queproduzem etanol a partir do milho,seria razoável esperar que o setorgerasse empregos de melhor qua-lidade. Não é possível aceitar que amanutenção dos preços do álcoolem níveis competitivos seja obtidaà custa da exploração dos trabalha-dores rurais e da ampliação da de-sigualdade e da pobreza no Brasil.

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Seis milhões de hectares são destinados à produção de cana-de-açúcar, dos quais três milhões envolvidos na produção de álcool

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AENTREVISTA

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A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD),

uma das maiores empresas de mineração e

metais do mundo, está presente em 14

estados brasileiros e em cinco continentes.

Líder na produção e exportação de minério de

ferro e pelotas, a Vale é uma importante

produtora global de concentrado de cobre,

bauxita, alumina, alumínio, potássio, caulim,

manganês e ferroligas, e prepara-se para

iniciar a produção de níquel. É também a maior

operadora brasileira de serviços logísticos,

operando mais de 9 mil quilômetros de malha

ferroviária e 10 terminais portuários próprios,

além de importante produtora de energia

elétrica para consumo próprio. Em 2007 a

empresa manteve um desempenho de

crescimento decorrente da expansão da

capacidade produtiva da Companhia e maior

diversificação de seu portfólio de ativos, o

que, segundo a empresa, tem permitido

ampliar sua exposição aos efeitos do ciclo

econômico entre outros benefícios.

Nesta entrevista, a diretora-

superintendente da Fundação Vale do Rio

Doce, Olinta Cardoso, conta como a empresa

contribui para o desenvolvimento integrado

econômico, ambiental e social dos territórios

onde a Companhia Vale do Rio Doce atua. Esta

é a missão da Fundação, criada com o intuito

de fortalecer o capital social das comunidades

e respeitar as identidades culturais locais.

Vale do Rio Doce:empresa global

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ENTREVISTAE

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As ações da Vale geram efeitoseconômicos, sociais e ambientais.De que forma a empresa conciliaos seus negócios com a sustenta-bilidade do planeta?O conceito de sustentabilidade per-meia todo o negócio da empresa,trata-se de uma questão estratégi-ca. Não é possível sustentar umaempresa de recursos naturais nolongo prazo sem uma constantepreocupação com a preservação domeio ambiente, o desenvolvimentosustentado das comunidades comas quais nos relacionamos e a dis-seminação de valores e práticasentre os nossos empregados quereflitam esse comprometimento.Nos empenhamos para que a nos-sa trajetória de crescimento promo-va o desenvolvimento econômico esocial, gerando emprego, renda emelhoria na qualidade de vida daspopulações com as quais interagi-mos de forma permanente. É impor-tante para a companhia que as co-munidades desenvolvam suascompetências para que caminhemcom as suas próprias pernas. Porisso, só para citar alguns exemplos,buscamos fomentar o desenvolvi-mento, estimulando o emprego damão-de-obra local, ajudando a pro-mover a economia da região com odesenvolvimento de pequenos emédios fornecedores locais etc.

Ao ser global a Vale lida com dife-rentes culturas nas Américas, Eu-ropa, África e Ásia. Até onde é pos-sível ter uma política de RSE glo-bal e quando é necessário adap-tar-se a situação local? Tem um

bom exemplo?Adotamos uma gestão baseada empráticas de responsabilidade soci-al, pautando nossas ações em re-lacionamentos ancorados no res-peito a cada um dos públicos comos quais interagimos em diversoslugares. Um exemplo real é a nos-sa chegada em Moçambique, ondetivemos e temos que entender acultura local, considerando a sacra-lização da natureza, os índices rela-cionados à saúde e as formas detratamento utilizadas, entre outrosaspectos. Desde a etapa de pes-quisa, os geólogos precisam parti-cipar de ritos para chegar até os lo-cais, entender e respeitar as práti-cas, valores e costumes. Nossosinvestimentos locais estão alinha-dos com as propostas do governomoçambicano para combate à Aids,por exemplo, e buscam fortalecer aeducação para prevenção.

A suspensão de fornecimento aosguseiros que atuam fora da legis-lação depois de denúncias de tra-balho escravo na produção de car-vão vegetal mostrou que a Vale sepreocupa não somente com RSEdos seus fornecedores, mas tam-bém dos seus clientes. Nas nego-ciações com a China, além dospreços, prazo e qualidade, há ou-tros assuntos tratados, comoexemplo, efeitos sobre o meio am-biente, direitos humanos?É importante que entendamos ospapéis de cada um dos atores nes-ta questão. No nosso caso, forne-cemos produtos para clientes quepossuem licenças de operação

concedidas pelos órgãos compe-tentes. Nossos contratos possuemcláusulas voltadas para as ques-tões trabalhistas e ambientais. Es-tamos fortemente empenhados nasolução desta questão, mas nãopodemos ignorar a dificuldade, umavez que uma suspensão unilateral,por parte da Vale, de um contratojuridicamente estabelecido podeser entendida como uma violaçãodo contrato e questionada judicial-mente. Nossa relação com os cli-entes chineses busca promover ocompartilhamento de boas práticasambientais e sociais.

Os principais negócios da Valecontribuem fortemente para o de-senvolvimento do Brasil. Como aVale alia competitividade e conser-vação de recursos naturais?

Ser sustentável é um diferencial decompetitividade. As empresas maiscompetitivas no mundo incluem osprincípios de sustentabilidade emseu planejamento estratégico. Por-tanto, o compromisso com a prote-ção ao meio ambiente e a gestãodos impactos sociais e ambientaisprovocados pela atividade minera-dora fazem parte do nosso dia-a-diae da nossa cultura. A Reserva Natu-ral da Vale do Rio Doce em Linha-res, no Espírito Santo, é um exem-plo de investimento da Vale na pre-servação, conservação e resgate dabiodiversidade. São cerca de 22 milhectares de Mata Atlântica, preser-vadas pela Vale, que abrigam omaior viveiro de mudas da AméricaLatina. A Reserva tem capacidade

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AENTREVISTA

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de produção de 45 milhões de mu-das por ano, que servem para aju-dar na recuperação de florestas eáreas degradadas. Graças a essetrabalho, foi feito o replantio nasencostas das matas do Conventoda Penha e dos morros da cidadede Vitória (ES). Estamos participan-do da restauração ecossistêmica naIlha Grande, no Rio de Janeiro, eestamos fornecendo mudas paraplantio em diversos municípios naBahia e Minas Gerais.

Quais são as principais linhas deação e projetos que a FundaçãoVale do Rio Doce desenvolve?Onde a Vale está fazendo a dife-rença, ou seja, quais as principaistransformações que esses proje-tos estão provocando?A missão da Fundação Vale do RioDoce é contribuir para o desenvolvi-mento integrado econômico, ambi-ental e social dos territórios onde acompanhia está presente, fortale-cendo o capital social das comuni-dades e respeitando as identidadesculturais locais. Atuar dessa formasó é possível conhecendo a reali-dade de cada localidade. Por isso,a Fundação desenvolve, em parce-ria com empresas especializadase outras áreas da Vale, diagnósti-cos sócio-territoriais, que orientama nossa atuação.Os principais eixos de atuação daFundação Vale são educação, eco-nomia local e cultura. Um dos pro-gramas que tem trazido excelentesresultados e ajudado a transformara realidade local é o Escola que Vale,

RAIO XRECEITA BRUTAUS$ 7,680 bilhões no primeiro trimestre de 2007, umaelevação de 63,4% em relação ao primeiro trimestre de 2006

FUNCIONÁRIOS127 mil – diretos e terceirizados

No BrasilA Vale possui atualmente operações em 14 estados brasilei-ros: Pará, Maranhão, Tocantins, Sergipe, Bahia, Minas Gerais,Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Mato Grossodo Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Amazonas.

No mundoNo exterior, a Vale está presente em 16 países: África do Sul,Angola, Argentina, Austrália, Chile, China, EUA, França, Gabão,Índia, Japão, Moçambique, Mongólia, Noruega, Peru e Suíça.

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ENTREVISTAE

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cujo principal objetivo é melhorar aqualidade de aprendizagem dosalunos de 1a a 4a série da rede pú-blica a partir da qualificação e for-mação continuada de professores.Desde 1999, quando o programa foicriado com o Centro de Educação eDocumentação para Ação Comuni-tária (Cedac), 74 mil pessoas entrediretores, professores e alunos fo-ram beneficiadas em 23 municípi-os. Em muitos casos, o desempe-nho da escola supera o da escolada capital, por exemplo.

Recentemente o Ministério Públi-co Federal (MPF) e a Fundação Na-cional do Índio (Funai) entraramcom uma ação civil contra a Valepelos impactos do programa Ca-rajás (PA). O que aconteceu ecomo a Vale está lidando com essaquestão?Para buscar uma solução definitivano relacionamento com a comuni-dade indígena Xicrin, formamos umacomissão de negociação com aparticipação da Vale, Funai e do Mi-nistério Público. Esta comissão temcomo objetivo estabelecer um novomodelo de relacionamento entre osXicrins e a Vale, baseado em proje-tos estruturantes que levem a auto-sustentação da comunidade indíge-na e que preservem as suas raízes.Empresas e governos de 20 paísesse juntaram numa iniciativa que pro-cura garantir que os investimentosda indústria extrativa em países ri-cos de minerais sejam utilizados deforma transparente e com critériosde boa governança (Extractive Indus-tries Transparency Initiative (EITI)) .

Ainda não há um participante doBrasil. A Vale pretende aderir a essainiciativa e como se estabelece empaises com governos instáveis, prin-cipalmente na África?Somos uma empresa privada comatuação em 13 Estados e mais de30 países. Portanto, temos experi-ência em lidar com situações diver-sas, lideradas por diferentes ideo-logias partidárias e sempre atua-mos estritamente dentro da legisla-ção dos países onde atuamos. Ade-rimos ao pacto nacional de comba-te à corrupção, lançado pelo Institu-to Ethos, e somos membros do In-ternational Council on Mining & Me-tals (ICMM), entidade internacionalque busca fortalecer a prática de dife-rentes temas de responsabilidadesocial, incluindo tomada de decisõescorporativas, de governança, direitoshumanos, meio ambiente etc. A Vale tem cerca de 127 mil empre-gados diretos, entre próprios e ter-ceiros. Nos contratos se segue à ris-ca normas de co-responsabilidadetrabalhista, isto quer dizer, algunsdireitos conquistados pelos funcio-nários diretos da Vale são estendi-dos aos terceirizados?Realmente cumprimos à risca a le-gislação trabalhista vigente em cadapaís e exigimos seu cumprimentopelas empresas contratadas. Bene-fícios oferecidos pela Vale por libe-ralidade ou resultado de negocia-ções sindicais não são automatica-mente estendidos a terceiros, poisisto depende das condições demercado de trabalho específicos eos sindicatos envolvidos nem sem-pre são os mesmos. Não obstante,

são condições para a manutençãodos contratos o cumprimento da le-gislação trabalhista, a garantia dasaúde e segurança dos emprega-dos terceiros, bem como o com-promisso com o meio ambiente e aresponsabilidade social da empre-sa prestadora de serviços.

Para lidar com as 16 mil empresasfornecedoras e prestadoras deserviços, a Vale criou uma normade conduta. Qual o conteúdo, comoé verificada e os seus resultadossão divulgados? O que a Vale fazse um fornecedor não cumpre asnormas?Nossa norma de conduta estabele-ce um padrão de relacionamentocom fornecedores, baseado natransparência, na justiça e na ética.Todos os fornecedores devem com-partilhar dos mesmos princípios éti-cos e de busca de melhoria conti-nua da qualidade ao longo da rela-ção com a Vale. Entre as normas,destacamos que a escolha dos for-necedores é baseada em critériosprofissionais, técnicos, comerciaise estratégicos, mantendo-se sem-pre de acordo com os interesses enecessidades da empresa e garan-tindo a melhor relação entre o for-necedor e a Vale. Todos são trata-dos sem preferência, durante todasas etapas de um processo de con-tratação, e têm o mesmo nível deacesso às informações, indepen-dente do tempo de relacionamentocom a Vale. Consideramos antiéti-co e inaceitável o desenvolvimentode relações com fornecedores, vi-sando vantagens pessoais.

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SOLUÇÕES Bons produtos do bem

ALIMENTOS COM SELO PARA CO2Além de mostrar o conteúdo de gordura, sal, açúcar e

outras composições, agora empresas e varejistas de ali-mentos britânicos planejam adicionar rótulos mostrando aquantidade (em gramas) de emissões de dióxido de carbo-no (CO2) associadas com a produção e transporte dos ali-mentos e outras mercadorias. Os primeiros desses rótulosapareceram em abril nos pacotes de salgadinhos Walkers. Arede de farmácias britânica Boots colocará os rótulos de car-bono em alguns de seus xampus de marca própria a partirde julho. Esses rótulos foram criados em conjunto com aconsultoria ambiental Carbon Trust, financiada pelo governobritânico. A rede varejista Tesco, a maior do Reino Unido,também anunciou planos para aplicar os rótulos de carbonoem sua linha de produtos e outras empresas planejam fazero mesmo.

www.carbon-label.co.uk

O site www.wrapables.comestá vendendo uma grampeadorque não usa grampos. É issomesmo. Mas como grampearfolhas sem grampos? Por en-quanto, a solução só vale paragrampear até cinco folhas, masé eficiente. O grampeador per-fura as folhas e utiliza o própriopapel para atar o maço. Alémde acabar o risco do uso degrampo, há um aspecto ecoló-

SACOLAS BIODEGRADÁVEISEnquanto uma sacola plásti-

ca tradicional leva centenas deanos para se decompor, as no-vas sacolas plásticas oxibiode-gradáveis desaparecem em nomáximo 18 meses, mesmo quesejam jogadas na natureza. Se-gundo a Fundação Verde (ONGambientalista), as novas sacolassão menos agressivas ao ambi-ente e gastam menos para sedecompor porque são mais sen-síveis à ação da luz solar, à umi-dade, à temperatura, além de po-derem ser digeridas por microor-ganismos. A população do plane-ta aumentou o consumo de saco-las plásticas de forma acelerada(20 vezes mais que há 50 anos),em função dos hábitos de consu-mo e do baixo custo do material. Apopulação mundial utiliza plásti-cos desde a década de 1930 enão chega a 5% o total desseplástico que foi incinerado. NoBrasil, 1 bilhão de sacos plásti-cos são distribuídos por mês nossupermercados.

www.funverde.org.br

CAMISETAS COM FIBRA DE BAMBUA Eckzem, marca especializada em jeanswear de Goiâ-

nia, aposta em uma linha de camisetas ecologicamentecorretas para essa estação. A marca lançou uma linha decamisetas confeccionadas com fibra produzida a partir dapolpa de bambu, feita através de um processo natural quenão leva química. A empresa promete que o resultado é umproduto macio, com toque agradável e com cores maisintensas. O tecido oferece proteção natural contra os raiosUV e apresenta, ainda, grande poder de absorção de umi-dade com alta capacidade de transpiração. Preço MédioSugerido: R$ 80,00

www.eckzem.com.br

GRAMPEADOR SEM GRAMPO

gico no novo grampeador. Mes-mo sendo feito de plástico, aimportância está na economiade aço. De acordo com o Frien-ds of the Earth Scotland (orga-nização escocesa Amigos daTerra), se no Reino Unido cadaum dos 10 milhões de trabalha-dores de escritórios usasse umgrampo a menos por dia, seri-am economizadas 120 tonela-das de aço por ano.

Sites: www.foe-scotland.org.ukwww.the-gadgeteer.com/review/wrapables_staple_free_stapler

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monitor Por dentro dos números

Salário Mínimotem sido uma

das bandeiras do GovernoFederal para promover a re-cuperação do poder de com-pra do trabalhador. Mais de43 milhões de pessoas têmseu rendimento referenciadono Salário Mínimo. Com oaumento acumulado em32,10% entre 2003 e 2006, oincremento na economia, se-gundo o Dieese, é de R$ 16,8bilhões, enquanto a arreca-dação tributária cresce emconseqüência R$ 4,1 bi-lhões. Para garantir uma con-tinuidade desta valorização euma crescente recuperaçãodo poder de compra, as Cen-trais Sindicais se reuniramna Campanha de Valorizaçãodo Salário Mínimo, cujos re-sultados em 2007 foi a cria-ção de uma política anual dereajuste, baseada na inflaçãoe no Produto Interno Bruto(PIB). A partir do ano que vem

por cento foi oganho real do Sa-lário Mínimo noprimeiro mandatodo Governo Lula,segundo estudo doDieese (Departa-mento Intersindi-cal de Estatísticase Estudos Socioe-conômicos)

32,1

EVOLUÇÃO

Os dados levan-tados pelo Dieese,entre 2003 e 2006,revelam que o au-mento do salário mí-nimo totalizou 75%.No primeiro ano(2003), o reajuste foide 20%, para umainflação acumuladade 18,5%. No segun-do, a elevação foi de8%, enquanto oINPC acumulou 7%.Em 2006, para umainflação de 3%, o re-ajuste ficou em16,6%, o que corres-ponde a um aumen-to real de 13%. Con-siderando o INPCaté março, e o valordo Mínimo deR$ 380,00, o ganhoreal acumulado noperíodo é 32,1%.

Poderde compra

até 2011, o Salário Mínimoserá reajustado com base nainflação do período e mais avariação do PIB de dois anosantes. Para 2008, o Mínimoserá corrigido pela inflação eaumentado pelo PIB de 2006.

O valor do Salário Mínimohoje já aumentou o poder decompra do trabalhador e o re-flexo é na aquisição da ces-ta básica. Com o valor do Mí-

O EVOLUÇÃO DAPOLÍTICA DESALÁRIO MÍNIMORECUPERAGRADATIVAMENTEO PODER DECOMPRA DOTRABALHADOR

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Há uma política de recuperação do salário mí-nimo?Nos últimos três anos as Centrais Sindicais bra-sileiras desenvolveram uma campanha de valo-rização do salário mínimo. Como resultado dasnegociações com o Ministério do Trabalho, osalário mínimo teve e seu valor corrigido pelainflação de cada ano, e teve seu valor real acres-cido 28,6% entre 2005 e 2007. Na negociaçãodeste ano, foi definida uma política de recupera-ção do salário mínimo, que vigorará até 2010,fixando-se sua correção com base na inflação eo aumento real com base no crescimento doPIB. Com está política garante-se a recupera-ção do valor do salário mínimo com base nocrescimento da economia. Adicionalmente, adata base de correção do salário mínimo retroa-girá em um mês, a cada ano, até ser fixada nomês de janeiro, representado também um re-sultado positivo sobre o seu valor.

Quais as perspectivas para que o salário míni-mo acompanhe os preços dos produtos?A correção pela inflação, conforme estabelecidopela política, é uma garantia de recomposiçãodo seu valor na data base. O cenário de estabili-dade dos preços, por sua vez, é positivo na ma-nutenção do seu valor real. Projetando este ce-nário nos próximos anos e garantido o seu au-mento real pelo PIB, seu poder de compra ten-dera a aumentar. Já neste momento, verifica-seque seu poder de compra em relação à cestabásica do DIEESE, em São Paulo, é de duascestas básicas mensalmente, recuperando umasituação observada há 20 anos.

Qual a importância social do salário mínimo?O salário mínimo é referência para cerca de 44milhões de brasileiros. Dentre os que ganhamo salário mínimo, são 16 milhões de aposenta-dos, 13 milhões de empregados, nove milhõesde trabalhadores por conta própria, cinco mi-lhões de trabalhadores domésticos. Essa di-mensão quantitativa, por si só, já mostra a suaimportância social. Também do ponto de vistaeconômico, ele representa uma grande massade recursos que atua na dinamização dos seto-res produtivos, e mais importante, do mercadointerno.

nimo em R$ 380,00, épossível comprar o equi-valente a 2,05 cestas bá-sicas. Esta é a maior re-lação na série das médi-as anuais desde 1971.Considerando-se o levan-tamento feito pelo Siste-ma de Acompanhamentode Salários (SAS) do Die-ese, que reuniu 429 pisossalariais estabelecidos aolongo de 2006, 143 pisos(33% do total) foram cor-rigidos para valores equi-valentes ao novo SalárioMínimo, uma vez que seencontravam em um pata-mar inferior a R$ 380,00.

O aumento do poderaquisitivo do Mínimo tam-bém mexe na própria mon-tagem da cesta básica debens, que procura refletiro que as pessoas conso-mem normalmente. Emuma nota técnica, o Diee-se avalia que a atualiza-ção dessa cesta deve, deum lado, incorporar novosbens que passam a fazerparte desse orçamento e,de outro, descartar bensque caíram em desuso.Os alimentos constituemo item de maior peso noorçamento das famílias debaixa renda. A habitaçãoé outro item que não ape-nas onera o trabalhador

como é um item da listade bens ao qual a popu-lação de baixa renda ain-da tem pouco acesso. OIBGE (Instituto Brasileirode Geografia e Estatísti-ca) estima que o déficithabitacional no Brasi lchegue a sete milhões demoradias. Desse total,83% se concentram nasfamílias com renda médiamensal de até três Salá-rios Mínimos. O aumentodo poder de compra dotrabalhador pode se dar,segundo a inst i tuição,através do aumento realdo Salário Mínimo, da re-dução de preço dos pro-dutos e de políticas degoverno de incentivo àaquisição de bens comoa casa própria. Os estu-dos do Dieese e as cam-panhas das Centrais Sin-dicais indicam que umapolítica de recuperação dopoder aquisitivo do Salá-rio Mínimo (SM) deve con-templar reajustes acimada inflação e mantidos deforma regular. Os aumen-tos reais devolvem ao Sa-lário Mínimo o ‘status’ deretribuição capaz de pos-sibilitar a manutenção dotrabalhador e de sua fa-mília, conforme preceitoconstitucional brasileiro.

ADEMIR FIGUEIREDO,

Coordenador de desen-volvimento e estudos doDieese

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meu mundo

“Numa esfera particular até repassoestes conceitos. Mas não sou

doutrinária porque gente chata nãoconvence ninguém. As pessoas seconvencem pelo que percebem que

funciona melhor na vida dos outros doque na delas. Ou seja, o exemplo fala

mais alto que o discurso”

Atriz, escritora e apresentado-ra, Maitê Proença, 48 anos, entu-siasma-se com os novos desafi-os. Em 2004 lançou um livro decrônicas e escreve numa revistasemanal sobre suas experiênciase pontos de vista. Atualmente emcartaz com a peça “Achadas e Per-didas", baseada em suas crôni-cas, ela também integra a roda dediscussões do Saia Justa, no ca-nal a cabo GNT. Mãe de Maria, de15 anos, Maitê abriu um espaçona agenda para contar a PrimeiroPlano como lida com o tema sus-tentabilidade no dia-a-dia. Pergun-tada se prefere consumir produ-tos de empresas que sabidamen-te não tenham problemas traba-lhistas, ela foi bem sincera e dis-se que não pensa nisso, mas tal-vez comece a se preocupar com oassunto a partir de agora.

“Meu pai foi a primeira pessoaque conheci a construir uma casa

ção de maneira autodidática du-rante seis anos. Fui macrobióticae depois vegetariana, sempre sa-bendo exatamente o que estava fa-zendo. Experimentei vários tiposde alimentação baseados em meusestudos e até hoje me alimento deforma bastante saudável. Não é umsofrimento, é uma alegria, porquea essas alturas sei orientar pra quea minha comida saia deliciosa echeia de paladares com os quais aculinária comum nem sonha”

“Em tudo tento ser econômica.Tomo banhos curtos. A água de mi-nha casa é filtrada, e no meu sítioque temos na serra (RJ) ela vem deum poço artesiano. Não esbanjo ele-tricidade, reutilizo papéis e reciclotudo que me passa pelas mãos”

“Acho importante comprar pro-dutos certificados, do tipo orgâni-cos ou de matéria-prima certifica-da”

que funcionava com energia solar.Toda a água quente e eletricidadeda casa da nossa família era gera-da desta maneira. Funcionava per-feitamente”

“Na minha adolescência moreina Europa. Na Alemanha o parti-do ecológico já era uma realidadede relevância política. Na França,onde vivi mais tempo, as preocupa-ções com a sustentabilidade do pla-neta também era assunto que se dis-cutia entre gente séria.”

“Na adolescência eu era al-guém que buscava uma forma al-ternativa de vida. Estudei nutri-

Inauguramos esta seção para mostrar como as pessoas, quer sejam engajadas profissionalmente como desenvolvimento sustentável ou não, contribuem com o mesmo no dia-a-dia com escolhas, hábitos ouatividades rotineiras. Acreditamos que os pequenos detalhes podem gerar grandes resultados em benefíciodo futuro do planeta. Coloque você também a responsabilidade sócioambiental e a sustentabilidade emPrimeiro Plano.

“Sem neuras,ninguém

percebe, apenasvou fazendominha parte

silenciosamente”

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ULG

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maite proenca

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