Revista Ágora

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ágora Revista do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Ano IV | Agosto a Dezembro 2009 O “Maluco Beleza” não morreu Teatro de objetos com a alma dos seres inanimados Jovens com deficiência fazem esportes radicais

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Revista Laboratório do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

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ágoraRevista do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

Ano IV | Agosto a Dezembro 2009

O “Maluco Beleza” não morreu

Teatro de objetos

com a alma dos seres inanimados

Jovens com deficiência fazem esportes radicais

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ágoraágoraex

pedi

ente REITOR: Professor Luis Carlos de Souza Vieira

PRO-REITOR ACADÊMICO: Professor Sudário Papa Filho

PRO-REITOR DE PLANEJAMENTO E EXTENSÃO: Administrador Eduardo Eterovick

COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO: Marialice Nogueira Emboava

EDITORA: Rosangela Guerra

EDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO: Helô Costa 127/MG

MONITORES DE DIAGRAMAÇÃO: Adrielle Lopes, Rodrigo Honório e Thamires Lopes

REPÓRTERES: Felipe Brito, Renato Vieira, Felipe Pedrosa, Thiago Rocha, Tuane Soares,

Rogério Vital de Oliveira, Bia Prata, Nelma Monfardini, Paolo Xavier, Daniele Serapia,

Paula Medeiros, Felippe Drummond, Juliana Machado

ESTA É UMA REVISTA LABORATÓRIO DA DISCIPLINA

JORNALISMO IMPRESSO (PRODUÇÃO DE REVISTA)

RUA CATUMBI, 546 - BAIRRO CAIÇARA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

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inanimadosLatas, caixas, abridor,

regador, palitos de fósforo e objetos do dia a dia dançam ao som da

imaginação

Com a alma dos seres

“No mundo contemporâneo está tudo muito corrido. O teatro de objetos traz a atenção para pequenos objetos da nossa rotina”, diz Zardani.

Fotos Henrique Sitchin

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Felipe Pedrosa e Shirley Pacelli

“Numa folha qualquer eu dese-nho um sol amarelo, e com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo”. Assim como a canção do maestro Vinícius de Moraes, o que compõe o teatro de objetos é a imaginação. Por meio dela três caixinhas de creme de leite se transformam nos três porqui-nhos, um regador se torna um ele-fante, um abridor de garrafas ganha vida e vira uma linda bailarina.

Não seria absurdo pensar que essa técnica teatral tenha sido criada pelas crianças ou quem sabe ainda pelo homem primitivo que usava pedras e gravetos para fazer objetos utilitários. O gênero teatro de objetos ainda é pouco comum no Brasil, mas já é bem conhecido em países como França, Itália, Hungria, Estados Unidos, Espanha e Alemanha. Nesse teatro, os objetos não são apenas parte do cenário. Eles ganham vida e são protagonistas do espetáculo.

EM CENa

A técnica do teatro de objetos, hoje considerada uma das mais modernas na dramaturgia, é bem diferente dos espetáculos que o públi-co está acostumado a assistir. Nela, o ator tem que se expressar por meio dos objetos e não do seu corpo. É a voz do artista e a maneira como ele movimenta o artefato que vai dar vida ao personagem.

Um dos grupos teatrais que tam-bém se rendeu às técnicas do teatro de objetos é o Grupo XPTO, que está completando vinte e cinco anos de existência, fazendo muito barulho com espetáculos regados a música e repletos de “parafernalhas” visuais. O artista Rafael Zardani, integrante do XPTO, apresenta performances

diversas. Em uma delas, dá vida a um bule de café e a uma xícara, fazendo com os objetos um dueto de ópera que emociona o público. Em outra peça, a encenação de uma luta entre duas luvas de boxe, arranca gargalha-das. A cena se completa com os obje-tos “falando” a linguagem gromelô, técnica que consiste em encadear sons que não formam palavras, mas que ganham significado de acordo com a encenação do ator.

Engana-se quem acredita que é fácil dar vida a essas criaturinhas inanimadas. Zardani conta que é um grande desafio deixar transparecer emoções em objetos. “A cada dia a gente aprende uma técnica nova e melhor”, explica. Ele ainda atenta para uma importante função do tea-tro: “No mundo contemporâneo está tudo muito corrido, esse gênero traz a atenção para pequenos objetos da nossa rotina”.

A Cia. Truks – Teatro de Boneco, criada em 1990, faz apresentações em teatros, escolas, instituições ou espaços alternativos de todo o Brasil. Em 2004, o grupo rendeu-se ao gêne-ro e criou o espetáculo Zôo-ilógico”, que utiliza de objetos para contar a história de dois amigos que resolvem fazer um piquenique no zoológico. Ao encontrarem as portas do parque fechadas, não se intimidam em criar seu zoológico particular, em que bichos são feitos de pratos, panos, garrafas, talheres e tudo o que estiver ao alcance das mãos. As nada comuns criaturas vivem situações cômicas. De lá para cá, outras histórias foram desenvolvidas pela Cia. Trucks. Em 2007, o espetáculo “História de bar” deu vida a um maço de cigarro, que era um ardiloso bandido, a um tubo de bom ar, que representou a cheiro-sa enfermeira e a um espremedor de frutas, que não é nada mais que um temido carcereiro. Depois que a

trama começa, é impossível descre-ver em palavras o sentimento trans-mitido na peça.

NaS GERaIS

O primeiro Festival Internacional de Teatro de Objetos (FITO) do país foi realizado em Belo Horizonte, de 24 a 27 de setembro de 2009, e atraiu um público de cerca de 15 mil pessoas. Um pouco diferente do que canta o Clube da Esquina “de tudo se faz can-ção”, o teatro de objetos mostrou que aqui em BH “de tudo se faz teatro”.

A idealizadora do FITO, Aline Rosa, planejou o evento durante três anos. Ela conta que só existem outros dois festivais semelhantes a esse no mundo. Segundo ela, um dos objeti-vos do FITO é demonstrar como objetos comuns podem ser excelen-tes instrumentos de arte.

O gerente de cultura do SESI/ FIEMG, Cláudio Marcassa, diz que realizar um evento inédito como esse foi uma atitude ousada que deu muito certo. “É um programa para toda a família. As crianças e os pais ficaram maravilhados com as novidades”, acrescenta Marcassa.

Além da participação dos grupos: Trecos e Cacarecos (Brasil); Truks e Teatro de La Plaza (Brasil); Fernan Cardama (Espanha), La Chana Teatro (Espanha), La Voce Delle Cose (Itália) e La Balestra (França), diversas ativi-dades gratuitas foram oferecidas ao público. Teve quem dançou com as apresentações musicais, quem admi-rou a exibição dos curtas-metragens e das performances, e quem se sentiu uma formiguinha ao lado dos objetos gigantes. Depois do Festival, nenhum objeto do cotidiano passará despercebi-do, e a intenção é que o evento seja realizado todos os anos.

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Thiago Rocha

Transmissão sem

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“Introduzir o uso do preservativo na relação sexual de um casal com mais de 20 anos de matrimônio é complicado, gera desconfianças, conflitos e briga”.Ana Lima - infectologista

a falta de campanhas especializadas contribui para o número de casos de aIDS na terceira idade

Transmissão sem

limitesThiago Rocha e Tuane Soares

Os registros feitos de portadores de HIV têm aumentado cada vez mais, e os idosos são os mais contaminados. Segundo dados do Ministério da Saúde, só em Belo Horizonte, 3% da população acima de 60 anos possui o vírus, número acima da média nacional, que é de 2% da população, cerca de 5.500 pessoas.

O crescente número de notificações de Aids entre os idosos é uma combi-nação de fatores, explica a psicóloga e sexóloga Joyce Lemos. “Um deles é a falta de identificação com as campa-nhas de orientação e prevenção da Aids, que tem sempre como foco o jovem.

Falar em sexualidade na terceira idade ainda é tabu que não se desfez. A infectologista Ana Lima, do Centro de Treinamento Orestes Dinis, espe-cialista em HIV/AIDS, conta que é nesse tabu que mora o perigo. “Introduzir o uso do preservativo na relação sexual de um casal com mais de 20 anos de matrimônio é complica-do, gera desconfianças, conflitos e briga”, completa Ana.

Segundo Joyce, outro fator impor-tante, é que o homem idoso, muitas vezes, só tem ereção parcial, o que difi-culta a colocação do preservativo. Além disso, tem o fator comportamental. “O homem mais velho sempre busca uma

mulher jovem. Na maioria das vezes esses homens preferem garotas de pro-grama”.

Adeli Gomes, 60 anos, tem HIV há cinco anos. Viúva, mãe de uma filha de 35 anos e uma neta de 4 anos. “Foi uma relação rápida, entrei em depressão. Meu sofrimento era não ver minha netinha crescer. Sentia vergonha daquela situação, em seguida me via como vítima, tinha culpa, procurei a terapia para me ajudar. Resolvi que queria minha vida e não a morte”.

“Mesmo ciente de ser soro positi-vo, optei pela vida”, conta Adeli. A partir daí, a aposentada começou a cuidar da alimentação, participar da equipe da Coordenação Estadual de Prevenção à DST/AIDS do Ministério da Saúde. “Pelo jeito tá dando certo”, diz sorrindo.

A psicóloga Joyce presta serviços no programa DST/AIDS do Governo de Minas. O alerta de Joyce é que os ido-sos merecem uma atenção especial e um maior comprometimento das cam-panhas, colocando o idoso no grupo de risco, porque só assim haverá uma reestruturação cultural. “E é exata-mente sobre esta mudança e orientan-do o uso de preservativos entre essa faixa etária, que podemos reduzir o número de registros de AIDS na tercei-ra idade”, conclui.

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quando crescer?

Cresce o índice de mortes de adolescentes. Quatro cidades da região metropolitana de Belo Horizonte estão entre as 20 mais violentas do país, de acordo com dados da pesquisa divulgada pelo UNICEF

O que você vai ser

Fotos Rogério V

ital

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Rogério Vital de Oliveira

A violência atinge a juventude: 13 ado-lescentes morrem por dia no Brasil. Quatro cidades da região metropolitana de Belo Horizonte estão entre as 20 mais violentas do país. Esses são alguns dados da pesquisa divulgada este ano pelo UNICEF

Impressionada com a violência, Elisangela Batista, 34 anos, moradora da periferia da Belo Horizonte, diz já ter presenciado mais de dez mortes de adolescentes, a maioria motivada por dívidas de tráfico. Tudo come-çou quando traficantes fizeram uma “boca de fumo” em frente a sua residência.

Ela conta que já ficou em meio a troca de tiros entre a polícia e os traficantes e que só escapou viva por um “livramento de Deus”. Elisangela ficou chocada com a morte de um adolescente de aproximadamente 17 anos que devia 10 reais aos traficantes. “Primeiro, eles cobraram e o rapaz disse que não tinha. Depois de terem executado o jovem com 8 tiros, a maioria na cabeça, encontraram o dinheiro escondido na meia dele”, lembra.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em parceria com a UNICEF, estima em 33 mil o número de assassinatos de adolescentes de 2006 a 2012. Se nada for feito, 13 adolescentes serão mortos por dia e muitos deles, antes dos dezenove anos. Segundo a mesma pes-quisa, 46% das mortes entre adolescentes são por homicídio, um dado considerado preocupante para o UNICEF.

O comerciante Fidelcino Floriano, o Baixinho, como é conhecido, mora há 35 anos na favela do Sumaré em Belo Horizonte. Ele diz que as crianças são atraídas pelo dinheiro e entram cada vez mais cedo para o tráfico. De acordo com o comerciante, muitos garotos ganham mais do que seus pais. “Um adolescente recebe mais de 100,00 por dia na favela”, diz. Baixinho relembra saudoso os tempos em que os jovens não perdiam suas vidas tão cedo.

Engana-se quem pensa que apenas mora-dores das favelas se envolvem no tráfico de drogas. “Muitos jovens de classe média saem de suas residências para trabalhar no

tráfico”, diz Paulo Henrique Alves, 25 anos. Ele passou a frequentar a Pedreira Padro Lopes, uma das maiores e mais perigosas favelas de BH, porque sua namorada mora lá. Mesmo sem conviver diretamente com os participantes, Paulo conta que o tráfico é organizado como uma empresa e tem horá-rios rigorosos para troca de turnos.

PERIGO Na REGIÃO METROPOLITaNa DE BH

Quatro cidades da região metropolitana de Belo Horizonte estão entre as 20 mais violentas do país, em índices de homicídios de jovens. Contagem está na 13ª posição; Ibirité, na 17ª; Betim, na 19ª e Ribeirão da Neves em 20º lugar, segundo dados da pes-quisa divulgada pelo UNICEF.

Moradora da cidade de Contagem, a secretária Jaqueline Santiago, 27 anos, acha uma vergonha a cidade estar em primeiro lugar em Minas. Ela reclama que faltam investimentos em projetos sociais para jovens e adolescentes e que a principal ação para reverter a situação é a vontade política.

Compartilha da mesma opinião a conse-lheira tutelar Maxiene. Ela não quis dar o seu nome completo porque “o conselho está passando por um trâmite político”. Mesmo assim, ela respondeu as perguntas da repor-tagem em nome do Conselho Tutelar de Belo Horizonte, da regional Pampulha.

Perguntada sobre a redução da maiori-dade penal, ela diz que esse não é o melhor modo de punir os jovens infratores. E cita como exemplo, o caso do garoto João Hélio, arrastado por sete quilômetros, preso pelo cinto de segurança do carro de sua mãe, pelas ruas de São Paulo. Ela argumenta que eram quatro adultos e um adolescente de 17 anos. O menor ficará preso até os 21 anos. Já os outros envolvidos, de acordo com a Constituição Brasileira não poderão ficar na prisão mais de 18 anos e poderão sair por bom comportamento cumprindo apenas 3 anos (um sexto da pena). “Então, será que, realmente, vale a pena o aumento da maioridade penal?”, questiona a conse-lheira tutelar.

CONTRaPONTONo Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA),

crianças e adolescentes

são definidos como

“pessoas em condições

peculiar de

desenvolvimento”,

justificando assim a

necessidade da proteção

integral e prioritária de

seus direitos

fundamentais por parte da

família, da sociedade

e do Estado.

A realidade atual mostra

que essa condição está

longe de ser uma

realidade. Muitas crianças

e adolescentes começam

cedo no crime.

O Governo Federal

tem um projeto para os

adolescentes chamado

“Menor aprendiz”, em que

os adolescentes recebem

um salário mínimo

(R$465,00) por uma

jornada de seis horas

diárias de trabalho. Já o

tráfico oferece R$600,00

por semana. O que é

mais atrativo?“Falta investimentos em projetos sociais e vontade política”

Jaqueline Santiago - moradora de Contagem

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Raulzito!Raulzito!Cuidado

aí vem

Arquivo pessoal R

aul Seixas

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Vinte anos sem Raul se passaram e o legado deixado pelo roqueiro está mais vivo do que nunca

Felipe Pedrosa e Shirley Pacelli

“Não sei onde eu tô indo, mas eu sei que tô no meu caminho”. Quando Raul Seixas cantou esses versos, da música “No fundo do quintal da escola”, não imaginava mesmo até onde iria chegar. E ele foi longe... Depois de vinte anos de sua morte, em 21 de agosto de 1989, ele se tor-nou uma persona sempre presente no inconsciente popular.

A figura do Raul é imortal, seja pela melodia, pelos versos nem sem-pre compreendidos ou pelo sonho de fundar a tão esperada “Sociedade Alternativa”, em que o advogado é o não advogado, o médico é o não médico e o jornalista é o não jornalis-ta. O cantor, que conquistou fãs de todas as idades, teve discos massa-crados pela mídia, músicas censura-das pela ditadura e lançou o primeiro álbum produzido por um fã clube. A obra de Raul já foi objeto de estudo na universidade e algumas pessoas dizem que transformaram suas vidas depois de conhecerem as músicas e a maneira outside de viver do “Raulzito”.

aS aVENTURaS DE RaULNa cidade de Thor, Raul se fanta-

siou de rato, faturou em cima do inimigo, dormiu de toca e se livrou das pulgas. Até taxado de profeta do apocalipse ele foi! Tudo isso está nas músicas que ele cantou.

Nascido na classe média baiana, Raul Santos Seixas nunca foi um aluno exemplar. Chegou a repetir a terceira série três vezes. Mas uma coisa sempre marcou a sua infância e adolescência: a leitura. Desde novo ele mergulhava nos livros.

A primeira banda surgiu em 1962, mas só em 1968 nasceu o primeiro filhote de sua carreira: o LP “Rauzito e os Panteras”. Em 1971, o atrevido Raul, que trabalhava na gravadora

CBS, desobedeceu as ordens da casa e gravou o álbum Sociedade da Grã Ordem Karvenista. Resultado: foi demitido e o álbum desapareceu do mercado.

Mas a teimosia de Raul falava mais alto. Em 1973, uma parceria com o escritor Paulo Coelho gerou o álbum “Krig-Há, Bandadolo”, que não é nada mais que um grito de guerra das HQs do Tarzan que quer dizer: “Cuidado, aí vem o inimigo”. E ele veio com tudo, “pintou e abusou” com as regras da ditadura e da indús-tria fonográfica.

Algumas mentiras midiáticas tam-bém contribuíram para o ícone Raul Seixas. Em uma “suposta” visita ao Estados Unidos, o músico teria se encontrado com John Lennon e tira-do uma foto. Isso nunca foi confirma-do pelo músico e a fotografia jamais foi vista. Outra lenda sobre a trajetó-ria do músico surgiu na época da gravação do álbum “Panela do Diabo” (1989), que foi produzido em parce-ria com o vocalista do Camisa de Vênus, Marcelo Nova. Contava-se que eles se reuniam para praticarem rituais satânicos e bruxarias. Mas, segundo Marcelo Nova, eles se senta-vam no sofá com uma garrafa de whisk e tomavam sopa de letrinhas.

CONTRa-CaRETICEA massa raulseixista já foi intitula-

da de seita, religião e credo. Mas o que eles realmente querem é deixar de lado aquela “velha opinião forma-da sobre tudo”. Para os fãs do Raul, as letras do músico servem como autoajuda.

Segundo o professor da rede muni-cipal de Belo Horizonte, Roberto Sobreira de Castro, fã há 20 anos, Raul o ajuda a ter coragem. “Escutando as músicas dele eu tive força para enfrentar minha família e trancar a faculdade de engenharia”, revela. Para

esse fã, o melhor álbum do músico é o “Eu nasci há dez mil anos atrás” por-que as músicas são engraçadas e têm sempre uma mensagem. “Todo mundo veste a carapuça em uma música do Raul”, assegura.

O publicitário Thiago Oliveira, 26 anos, é fã desde os dez anos e chegou a analisar a obra do ídolo na monogra-fia, que mostra a influência das capas de vinis no mundo contemporâneo. “Raul abordava muitos temas presen-tes no nosso dia a dia. O LP ‘Pedra de Gênesis’, por exemplo, traz um con-texto fotográfico místico”, explica. A admiração por Raul, fez com que Roberto e Thiago, ou Beto e Tegreta, como são conhecidos, formassem a banda “Pé na estrada”, que tem o ídolo como principal influência.

Outra que estudou a obra de Raul foi Rosana da Câmara. Em sua tese de doutorado em Letras, ela analisou as músicas do cantor censuradas pela ditadura. A tese foi publicada em livro com o nome de “Krig- há, Bandolo! Cuidado, aí vem Raul Seixas”.

TOCa RaULOutros fãs mais abusados fizeram

composições satirizando o famoso pedido do público nas apresentações. Zeca Baleiro, Móveis Coloniais de Acaju e Pedra Letícia usaram o tema. E sempre que um “maluco beleza” grita “Toca Raul”, eles tiram o “às da manga” e fazem uma homenagem ao grande músico. O jargão é um dos muitos legados do cantor.

E o que não falta são representan-tes de Raul no cenário musical brasi-leiro. Renato Russo, Cássia Eller e Zélia Ducan são alguns dos artistas que já regravaram as canções do músico. Mas, o que realmente move os corações do público é a boa e velha voz do Raulzito entoando seus versos de verdadeiro “Maluco beleza”.

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Por Bia Prata, Nelma Monfardini e Paolo Xavier

Elas são engraçadas, criativas e cheias de mensagens para pensar. Assim são as charges, as caricaturas e os car-tuns. O mercado brasileiro de humor gráfico tem conquistado cada vez mais espaço e entrou com força no universo digital. Em Minas Gerais, nomes como Lute, Duke e Dum são responsáveis pelos desenhos dos principais jornais diários. Entre eles, o Super Notícia, tablóide de maior circulação do Brasil de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC).

No Brasil, esse mercado é dominado pelos homens. O cartunista do jornal Hoje em Dia, Edson dos Reis Jr., o Dum, explica que é natural para o homem brincar com as características do outro. Ele acha que as mulheres valorizam mais a estética e dão muito importância à beleza, o que é um desestímulo para caricaturas. “É da natureza do homem ser mais gozador e isso faz com que exista mais homens caricaturistas. Mas há espaço para que as mulheres soltem seu bom humor e elas devem ser incen-tivadas para fazer charges ou caricatu-ras”, diz.

Dum esboçou seus primeiros dese-nhos ainda muito novo. Aos 11 anos, por influência de um amigo, começou a produzir charges. E parece que o

talento é de família. Eduardo dos Reis Evangelista, o Duke, é irmão de Dum e assina as charges do jornal O Tempo. “Trabalhamos em jornais concorren-tes, mas em casa não existe isso”, brin-ca Duke, que indicou o irmão para trabalhar no Hoje em Dia. O apelido Duke surgiu por acaso, devido à neces-sidade de um pseudônimo para assinar as charges. “Geralmente, todo chargis-ta tem um apelido pois assim, fica mais fácil para poder pegar entre os leitores”, revela.

O cartunista Lute, pseudônimo de Lunardi Teles dos Santos, conta que se dedica à ilustração por causa da tentati-va fracassada de ser compositor. “Sempre fui muito criativo e vi no cartum e na charge uma forma de expor minhas ideias, comunicar com as pessoas atra-vés dos desenhos”, lembra Lute. Ele produz a charge diária para o jornal Hoje em Dia e, uma vez por semana, faz uma ilustração para um caderno do mesmo jornal que circula somente em Brasília. “Tem dias que os assuntos são fáceis para se fazer a charge, mas tem outros mais difíceis e o prazo acaba ficando apertado.”

Engana quem pensa que ser chargis-ta, cartunista ou caricaturista seja fácil.

Além do talento para os desenhos e o humor, é necessário ter conhecimento de mundo. Os cartuns, por exemplo, são

na tela e no papelPiada muda, mensagem de duplo sentido e ironização do

outro. Essas são outras definições dos cartuns, das charges e das caricaturas. a arte que já invadiu o mercado digital

Hoisel / Brasil

Emanda / Brasil

gráfico tem conquistado cada vez mais espaço e entrou com força no universo digital. Em Minas Gerais, nomes como Lute, Duke e Dum são responsáveis pelos desenhos dos principais jornais diários. Entre eles, o Super Notícia, tablóide de maior circulação do Brasil de acordo com o Instituto Verificador de Circulação (IVC).

pelos homens. O cartunista do jornal Hoje em Dia, Edson dos Reis Jr., o Dum, explica que é natural para o homem brincar com as características do outro. Ele acha que as mulheres valorizam mais a estética e dão muito importância à beleza, o que é um desestímulo para caricaturas. “É da natureza do homem Emanda / Brasil

Por Bia Prata, Nelma Monfardini e Paolo XavierHoisel / Brasil

Humor

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quadros que muitas vezes não levam escrita e seus desenhos são interpreta-dos a partir de um contexto cultural e um fato histórico. Estar bem informado é imprescindível para um produtor des-sas artes. Não tem jeito de entrar na área sem ter conhecimento. Tem que saber história, geografia, ciências... “Só assim dá para fazer um bom trabalho”, conclui Dum.

MEGaBYTES DE SUCESSO Alguns cartunistas consagrados

dizem que os desenhos ainda sobrevi-vem no papel, mas todos são unânimes ao afirmar que a internet abriu novos caminhos para quem quer investir na carreira.

O chargista Maurício Ricardo, que assina várias animações para a Rede Globo de Televisão, é mineiro de Uberlândia e trabalha bem próximo de casa, na cidade natal. De lá, saem as charges animadas que alimentam o site Charges.com e fazem sucesso em pro-gramas como o Esporte Espetacular e o Big Brother Brasil. Ele é a prova viva de que não é necessário morar no eixo Rio-São Paulo para alcançar projeção nacio-nal fazendo humor gráfico.

O site nasceu em fevereiro de 2000. O curioso é que, quando ele foi registrar o nome ‘charge’, a Nestlé já tinha abo-canhado o domínio por causa de um

bombom com esse nome. Mas como ele é persistente, conseguiu registrar como ‘charges.com’. A partir daí, foi um salto para o seu sucesso como chargista digi-tal. Seus trabalhos na internet começa-ram a ser divulgados em salas de bate papo. Ele iniciava conversas com os internautas a fim de que eles clicassem no link de seu site. Para atiçar a curio-sidade, Maurício Ricardo inseria nos links nomes de símbolos sexuais que faziam sucesso na época.

Outra forma que ele utilizou para divulgar seu trabalho foi o envio de e-mails para pessoas estratégicas. Certa vez, ele produziu uma charge com os apresentadores Faustão e Gugu Liberato juntos e enviou para suas respectivas emissoras. Tanto SBT e Rede Globo convidaram o chargista para uma expe-riência. A Globo se prontificou a pagar pelos trabalhos que viriam a ser produ-zidos. O SBT, não. A parceria global surgiu daí.

“Falar mal dos outros é um bom nicho de mercado. E com a internet, está muito fácil divulgar o trabalho, apesar de ainda ser difícil ganhar dinheiro com isso. Quem quiser investir, comece a treinar animação”, incentiva Maurício.

Caricaturas expostas no BH Humor, realizado na Casa do Baile entre os dias 10 de setembro e 18 de outubro de 2009.

na tela e no papelPiada muda, mensagem de duplo sentido e ironização do

outro. Essas são outras definições dos cartuns, das charges e das caricaturas. a arte que já invadiu o mercado digital

bombom com esse nome. Mas como ele é persistente, conseguiu registrar como

Humor

Duke, chargista e cartunista do Jornal O Tempo, num momento descontraido com Mauricio Ricardo, mentor do site charges. com.br

Fotos Nelma Monfardini

Ygur / Brasil

Page 14: Revista Ágora

para o salário da mulher se equiparar ao do homem

Vai levar

para o salário da mulher se para o salário da mulher se 87 anos

Pau

la M

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Se as políticas de igualdade de gêneros não forem aceleradas, o Brasil vai levar 87 anos para equiparar os salários de

homens e mulheres. a diferença salarial reduziu 10% entre os anos 1996 e 2007, um ritmo considerado baixo

Daniele Serapia e Paula Medeiros

Esse é o resultado da pesquisa “Retrato das Desigualdades de Renda e Raça”, realizada pela Secretaria Especial de Política para as Mulheres, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). A renda mensal de um homem branco é, em média, R$1268,00, já a mulher tem remuneração mensal de R$797,00. Na comparação entre as pessoas da raça negra, o homem ganha, em média, R$649,00 por mês, enquanto a mulher recebe R$436,00.

Segundo a advogada Karla Luciana, muitos violam a CLT, que assegura uma série de garantias para trabalhadora do sexo feminino. Ela diz que o empregador deve está ciente das leis para não cometer nenhum equívoco nem ato ilícito, como publicar anúncio de emprego em que haja refe-rência a sexo, idade, raça ou situação familiar.

Karla Luciana diz que a desigualdade se repete ao longo do tempo por falta de políticas públicas que permitam à mulher conciliar trabalho e famí-

lia. A jornada que envolve filhos, casa e carreira é o maior problema das mulheres e a solução não está apenas na construção de mais creches. A advogada lembra que existe um modelo de divisão de trabalho doméstico em que o homem é prove-dor e a mulher continua arcando com todas as atividades da casa e da família. Ela defende que esse modelo precisa mudar e alega que é também papel das empresas criar melhores condições para o trabalho feminino, como flexibilidade de horários e programas que envolvam a família dos profissionais.

Contratada com registro em carteira de recep-cionista mas exercendo a função de operadora de atendimento, Luciana Paes Dias, 38 anos, conta que a diferença entre mulheres e homens ainda é um tabu. Ela diz que sofre discriminação no trabalho pois, os operadores de atendimento, têm um piso salarial de R$1200,00 para cinco horas de trabalho, enquanto as mulheres ganham R$980,00 por seis horas. “Nunca me senti tão humilhada. Estou percebendo que as leis do País ainda não são de se confiar”.

Enquanto isso, a empresária Cristina de Linz, dona de uma loja de roupas, diz que as mulheres não precisam chegar a tal igualdade salarial. Ela acredita que as mulheres têm um diferencial em relação aos homens. E não há uma necessidade de buscar uma igualdade já que fisicamente e emocionalmente as desigualdades são gritantes. “Ainda creio que a sensibilidade e o zelo, só as mulheres têm. Além disso, podemos viver bem melhor. No que depender de mim, viverei minha vida, partilharei o bem estar, a autoestima e não ficarei competindo com os homens. É muito

melhor deixá-los pagar a conta”, sorri, enquanto empilha as roupas sobre o balcão.

Já a psicóloga Mariana Assis, considera que as pessoas deixam de viver enquanto estão compe-tindo, seja pelo padrão de beleza, mercado de trabalho, diferenças de gêneros, etnias etc. O importante é buscar a autoestima, qualidade de vida na sociedade, bem estar e colaborar com o Planeta. Enquanto só se compete, perde-se tempo em observar as qualidades e conquistas alheias. E com isso, vai se perdendo a referência e a oportu-nidade de viver a vida.

Enquanto isso, a empresária Cristina de Linz, melhor deixá-los pagar a conta”, sorri, enquanto

Igualdade não é tudo

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não é o limite

Pessoas com deficiência encontram no balanço dos

cabos de aço, das cordas e dos botes o equilíbrio

necessário para viver uma vida especialmente

aventurada

Felippe Drummond e Juliana Machado

Você conhece os limites do seu corpo? Já tentou alguma vez superar aquele seu medo de altura? Será que você tem resistência física suficiente para encarar uma escalada? Já expe-rimentou trabalhar em equipe dentro de um bote praticando rafting? Se a sua resposta foi ''não'' para a maioria das perguntas acima, pare um pou-quinho e tome um ar para saber da história de pessoas que levam uma

vida de tirar o fôlego, praticando esportes radicais. Enquanto para muita gente o céu é o limite, as cachoeiras, paredões rochosos, trilhas e árvores são onde muitas pessoas com deficiência querem chegar.

Atualmente no Brasil, calcula-se que 24,5 milhões de pessoas tenham deficiência física. Esses dados são da ONG Aventura Especial, criada em 2003 pelo advogado, jornalista e fotó-grafo Dadá Moreira. Ele é portador

O céu S

ilvan

a C

osta

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de ataxia espinocerebral, uma parali-sia adquira ainda quando era crian-ça. Dadá resolveu criar a ONG, que fica em São Paulo, como forma de integrar às pessoas que não têm con-dições físicas plenas para a prática dos esportes radicais. “Eu não nasci para ficar parado e criei a Aventuras Especiais para provar que, assim como eu, muita gente está aí com vontade e disposição de sobra. É só adaptar, tudo na vida é adaptável”, conta satisfeito.

A Aventura Radical é referência em todo o país no segmento de espor-tes de aventura para pessoas com deficiência. Escalada, rafting, casca-ding, trekking, tirolesa, arvorismo, cavalgada e pára-quedismo são as opções de esportes oferecidas pela ONG. As atividades testam os limites

do corpo e da mente de seus prati-cantes. E além da aventura, por tra-balharem a auto superação, o traba-lho em equipe, o equilíbrio e as habi-lidades motoras, os esportes radicais são estimulantes e garantem progres-sos muito expressivos no processo de recuperação de vários pacientes.

A novidade trazida por Dadá Moreira há alguns anos é uma ten-dência a ser seguida por várias empre-sas de ecoturismo em todo o Brasil. Na Serra do Cipó, em Minas Gerais, a procura por esportes radicais adapta-dos à condições especiais já é muito grande. “Eu recebo gente de todo canto aqui e preciso atender bem. A satisfação dos meus hóspedes é o que move meu negócio. Portanto, eu tenho que me atualizar para oferecer o que eles procuram e precisam”,

explica Álvaro Santana, dono da Pousada Xangrilá.

Edmilson Santos, tenente do Corpo de Bombeiros-MG, diz que o número de acidentes envolvendo pessoas com deficiência na prática de esportes de aventura é bem pequeno. “Quem dera que todas as pessoas que praticam esportes radicais fossem tão cuidado-sas com a checagem de equipamento, segurança e supervisão de instrutores como os portadores de deficiência são”, comenta o tenente. Edmilson diz que a imprudência acaba muitas vezes transformando muitos esportis-tas em pessoas que precisam de con-dições especiais para atividades de aventura.

Para conhecer melhor a ONG Aventura Especial, acesse

www.aventuraespecial.com.br

José Felippe de Sales, 22 anos, ficou paraplégico há dois. O jovem sofreu um acidente de moto e perdeu os movimentos das pernas. Por três longos meses, José Felippe ficou em estado de coma induzido. Após esse período, ele começou as sessões de fisioterapia, atividade que ainda faz uma vez por semana. Hoje em dia, administra o negócio da família, a pousada e espaço de aventuras Verde Folhas, que fica em Casa Branca, dis-trito de Brumadinho-MG. Em seu último aniversário, em abril de 2009, Zé, como gosta de ser chamado, pediu a seu pai um presente especial. “Eu queria fazer arvorismo e já tinha na pousada o espaço necessário. Pedi pro meu pai arrumar um jeito disso acon-tecer'', conta.A princípio, é difícil pensar em como uma pessoa que não tem movi-mentos na metade do corpo faria a travessia de um percurso no meio do mato suspenso por um cabo de aço, sem correr riscos. Mas o pai de José Felippe, Lucas Machado, é médico e soube dar o presente que o filho tanto

queria de uma forma que não estra-gasse a brincadeira. “Antes mesmo de dar o meu sim, procurei saber o que fazer pra não ter risco de nenhuma lesão na coluna do meu filho, que já tem sequelas do acidente”, diz Lucas. Com a ajuda do pai, dos fisiotera-peutas, o equipamento de segurança completo, alguns travesseiros aqui e outros ali, José Felippe estava pron-to para realizar seu pedido de ani-versário. O cuidado foi redobrado e compensou todo o esforço. “Eu já fazia arvorismo antes e não achei tão diferente, apesar das duas cadei-rinhas, uma nas pernas e uma na cintura. Foi bom matar a saudade, isso aqui é bom demais!”, comemo-rou o aniversariante. Depois da experiência com o filho, Lucas já pensa seriamente em tornar a práti-ca do esporte para pessoas com de deficiência uma das atrações de sua pousada.

Para conhecer melhor o Espaço de Aventuras bem

pertinho de Belo Horizonte visite www.verdefolhas.com.br

aVENTURa DE PRESENTE

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MILaGRELocadoras de Belo

Horizonte estão fechando as portas

por causa da pirataria e da facilidade de

acesso a filmes pela internet

Renato Vieira e Mariana Reis

Quando o vídeo-cassete entrou no mer-cado, em meados da década de 1980, o parâ-metro de distribuição de filmes mudou. Se na época você não pudesse assistir no cine-ma um filme como O Poderoso Chefão, pos-sivelmente, a única oportunidade para vê-lo seria na Sessão Coruja na televisão, com uma dublagem que afasta a maioria dos fãs de cinema. Isso num tempo em que os canais a cabo eram “coisa do século 21”. Só na década seguinte foi possível realizar o desejo de ver um filme a qualquer hora. Isso se tornou possível com a entrada em cena dos videoclubes que funcionavam em siste-ma de cooperativa. Foi o primeiro passo para a invasão das vídeolocadoras, sistema de locação mediante pagamento.

Durante 20 anos, as vídeolocadoras reina-ram absolutas na preferência popular. Sobreviveram às tevês a cabo e vibraram, no início dos anos 2000,com a entrada do DVD no mercado. “Na época, um filme em VHS custava R$100,00 e um DVD do mesmo filme custava R$19,90 para a locadora. Hoje, pago R$120,00 por um DVD de lançamento”, informa Ronaldo Penido, proprietário de uma locadora há 15 anos. Ele se lembra que 200 filmes eram alugados num sábado em 2002. “Hoje, se chegar a 90, agradeço”, diz.

Há vários motivos para a queda das loca-ções. O principal deles é a pirataria. Filmes populares, como Harry Potter ou O Código da Vinci, estão no alvo dos “pirateiros”, que vendem milhares de cópias nas ruas. Em Belo Horizonte, a pirataria entrou com força em 2003 depois que a Prefeitura Municipal autorizou o funcionamento dos shoppings populares. Ali, a venda de DVDS piratas é frequente. A questão é tão espinhosa que já há até um projeto de lei na Câmara Municipal que prevê punições para a pirataria nos sho-ppings populares.

O projeto é do vereador João Da Locadora (PT), proprietário da rede Popular de locado-ras. Ele diz que, em 2002, Belo Horizonte tinha de 800 a 1000 estabelecimentos de locação de vídeo. “Cerca de 500 foram fecha-dos em Belo Horizonte a partir de 2003, ou seja, 50%”, denuncia o vereador. O projeto chegou a ir ao plenário em meados de outu-bro de 2009, mas houve confusão envolvendo os camelôs, que são contrários à medida.

PRa JÁQuando se trata de entretenimento, o

espectador quer o produto rapidamente. Ângela Mesquita, 52 anos, dá um exemplo. “Baixei a última temporada de Plantão Médico porque a série demorou a ser exibida no Brasil e estava ansiosa pra vê-la. Quando a série estreou aqui, eu já tinha assistido todos os episódios”.

Hoje, um filme estréia nos cinemas norte-americanos e demora seis meses para chegar às locadoras brasileiras, isso quando o filme consegue um distribuidor nacional. No caso do chamado filme de arte tudo fica mais difí-cil e, por esse motivo, muitos não chegam ao Brasil. Não é à toa que quem gosta de entre-tenimento audiovisual está cada vez mais conectado à internet.

Em um mundo globalizado e segmentado, há sempre aquele que quer ver um filme pro-duzido no Laos ou no Japão, por exemplo. O cinéfilo nem sempre espera o filme ser exibi-do em algum festival de cinema. Ele vai bai-xar pela internet.

Não é só isso. Na internet não é preciso devolver o filme, outro fator apontado como causa para queda das locações. “Alugar um filme é muito bom. O chato é devolver. Eu já esqueci várias vezes de entregar um filme e tive que pagar multa. Acho que quem compra um produto pirata não tem esse tipo de preo-cupação”, diz Ãngela.

À espera de um

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SOBREVIVENTESA rede pioneira em Belo

Horizonte, a Cia Do Vídeo ainda detém uma fatia sig-nificativa do mercado, ape-sar de o preço das locações (R$5,00) ser considerado alto para os padrões de locação na cidade. Juan Moreno, proprietário da rede há mais de uma déca-da, explica os motivos do preço: “O aluguel da loja do Belvedere, por exemplo, é de sete mil. Imagine a quantidade de locações só para pagar o aluguel”. Ele diz que a Cia Do Vídeo não deixa de investir em novas mídias. A loja é a única em BH que aluga Blu-Ray, nova tecnologia que irá substituir o DVD, com qualidade de imagem bem superior.

Juan conta que a saída para sobrevivência da sua locadora foi a segmenta-ção. “Eu foquei em um público específico. E não fui oportunista como aque-les que abriram locadoras em cada esquina porque, na época, os filmes eram vendidos a preços baixos”, explica.

Seja como for, o cine-ma continua bem repre-sentado na Cia Do Vídeo. Ronaldo conta que já indi-cou vários filmes para os clientes que não existem no mercado pirata. “Depois eles chegam elo-giando o filme”, recorda. Assim como diria Forrest Gump, uma locadora pode ser uma caixa de bom-bons, uma caixinha de surpresas.

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Mulher ao

Felipe Brito

As montadoras estão investindo “pesa-do” em produtos para a linha feminina. Vale um espelhinho aqui, um outro acolá, uma bolsinha, um urso de pelúcia, ou até mesmo uma linha exclusiva com o nome de um estilista famoso. Foi o que fez a Citröen, ao lançar no Brasil o Citröen C3 Ocimar Versollato. É a primeira vez que um estilis-ta consagrado empresta sua assinatura para um carro nacional. Tudo, claro, para atrair o público feminino.

A universitária Camila Dias, 23 anos, está no seu segundo carro e afirma: “Estamos tomando o trânsito pra gente. Somos educadas, pacientes e elegantes. Não saímos por aí gritando, brigando, com som alto e muito menos cometendo infra-ções.

As montadoras francesas, definiti-vamente, são as que fazem mais “mimo” às mulheres. A Renault trouxe o Clio O Boticário, numa alusão a marca de cosmé-ticos brasileira. A Peugeot lançou o 206, um, carro com formas femininas e que vem com um doce urso de pelúcia como chavei-ro. Qual homem vai usá-lo?

Entre as montadoras nacionais, há alguns modelos, não com versões para o

público feminino, mas com certas toques, como a Ford com seu “fofo”, Ford KA, a Fiat com seu Idea, cheio de espelhos e porta-trecos.

A vendedora Marcela Alves, 26 anos, acabou de comprar um Ford KA. A primeira coisa que fez foi colar um adesivo da perso-nagem de desenho animado “Penélope Charmosa” na traseira do reluzente veículo verde. “É para dar um toque feminino”, diz ela. Sim, há charme no trânsito. E ao con-trário de muitos homens, as mulheres com-pram seus carros à vista. Marcela diz que foram dois anos seguidos de trabalho, para comprar seu carro, ano e modelo 97. “Valeu a pena”, conta.

E não é só nas quatro rodas que elas estão presentes, eu, autor da matéria, sou frequentador assíduo de encontros de motos “potentes”. Num desses encontros, conheci Paola Oliveira, 27 anos, engenhei-ra civil. Ela estava a bordo de uma brilhan-te moto Yamaha YZF-R6, ano 2008, que custa aproximadamente 55 mil reais. Conhecida de encontros de motos, Paola é casada e logo avisa: “Homem que é homem, sabe que mulher tem seus direitos”.

Bom, caros leitores, depois de fazer esta matéria posso dizer com firmeza: mulher no volante, realidade constante.

Charme no trânsito: as montadoras lançam carros para agradar o público feminino

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pedr

asO que os jovens querem é serem ouvidos e levados a sério. Para isso, muitos buscam o ingresso

na vida pública

O caminho

Bia Prata, Nelma Monfardini e Paolo Xavier

A participação de jovens na vida publica é de baixa intensidade. Isso é o que indica os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Existem no país 28 legendas partidárias, com 12 milhões de filiados (somente 10% do núme-ro de eleitores). Desses, apenas 572 mil, menos de 0,5%, são jovens com idade entre 18 e 24 anos. A filiação partidária é uma das maneiras encontradas pelos jovens para contribuir de forma ativa nas questões sociais.

O ingresso nos partidos políticos é relativa-mente simples. Basta ter 16 anos, pré-requisito básico para o cidadão ter o título eleitoral. Com isso, o jovem pode se inscrever no partido que quiser. Para se candidatar, a pessoa deve estar filiada há pelo menos um ano. Há idades míni-mas para cada cargo. Para vereador, o mínimo é 18 anos. Para prefeito, vice-prefeito, deputa-do estadual e federal, a idade mínima é de 21 anos. Quem quiser disputar os cargos de gover-nador, vice-governador, presidente, vice-presi-dente e senador, deve ter 30 anos, no mínimo. A entrada nos partidos não tem mistérios. Os desafios são os meandros políticos e busca por espaço, principalmente para os jovens.

O Partido Trabalhista Nacional (PTN) tem pouca expressão. A dificuldade de eleger candi-datos é grande, principalmente com o sistema político em vigor no Brasil. Mesmo assim, o partido possui, em Minas Gerais, 132 jovens dispostos a pleitear cargos públicos nas elei-ções de 2010. Para Wagner Araújo, 41 anos, delegado estadual de Minas e secretário do PTN em Belo Horizonte, o grande desafio para jovens é de não abandonar os seus ideais e princípios. “O jovem, seja ele candidato ou eleitor, tem que lutar contra o ‘efeito corrup-ção’”, diz Wagner.

“Desta vez, estou decidido a permanecer no PMDB e enfrentar

toda e qualquer adversidade que

eventualmente possa surgir”, assegura

Thiago Henrique, 21 anos, que já passou por cinco partidos

políticos.

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Thiago Henrique, 21 anos, ingres-sou oficialmente na política em 2004, ano de eleições municipais. Naquela ocasião, o candidato a prefeito que ele simpatizava perdeu a disputa. O episó-dio foi o estopim para que a filiação partidária acontecesse. Assim, ele poderia disputar eleições e fazer algo que o candidato vencedor nunca faria. Mas o interesse vem desde muito novo, quando tinha seis anos de idade. Na época, Thiago criou um jingle para um amigo da família que sempre se candi-datava a vereador, mas nunca vencia.

Thiago Henrique, em seis anos, pas-sou por seis partidos: PSDB, PSB, PFL (hoje, Democratas), PRP e, atualmen-te, está no PMDB. Os motivos para esse troca-troca? Brigas, perseguições, mudanças estatutárias, possibilidade ou não de se candidatar, falta de espaço, enfim, todos os melindres possíveis no universo político. “Dessa vez estou deci-dido a permanecer e enfrentar toda e qualquer adversidade que eventual-mente possa aparecer”, assegura.

O Movimento Estudantil pode ser considerado uma iniciação política

para os jovens. Thiago teve experiên-cias no grêmio estudantil do Colégio Tiradentes, em Belo Horizonte. Atualmente, ele é o presidente da União Nacional dos Grêmios Estudantis (Ungres), entidade com dez anos de existência e que surgiu de uma cisão da UNE/ UBES. Ele já visitou vários estados, como representante da enti-dade em congressos e seminários.

Bruno Caldeira, 18 anos é mineiro de Malacacheta e membro do Partido Progressista (PP). Já foi presidente do grêmio estudantil do maior colégio de Varginha, cidade onde viveu parte da vida. Foi lá que ele conheceu lideran-ças partidárias que o levaram para o partido, há três anos. Bruno também faz parte da Ungres.

Tanto Thiago quanto Bruno não misturam o Movimento Estudantil com a atuação em seus respectivos partidos. Para eles, o atrelamento polí-tico com entidades que representam estudantes atrapalha as negociações. “Entrar em uma plenária ou debate em nome de algum partido acaba fechando portas”, revela Bruno.

As propagandas dos partidos políti-cos estão de olho na juventude. Na internet, alguns partidos veiculam ima-gens atrativas, românticas, com jovens participando ativamente do processo político. Quase todos os partidos pos-suem alas da Juventude, com direito a coordenação, estrutura física e outros benefícios. Contudo, o mais importante não é concedido: voz ativa. “Entrei para o partido justamente para mudar a rea-lidade de que o espaço criado para a juventude nos partidos não é bem apro-veitado”, revela Bruno.

Thiago Henrique acredita que as legendas brasileiras, de modo geral, propagam muitos incentivos para o jovem, mas concede pouco. “Todos os partidos dizem que possuem espaço para juventude, mas é só maquiagem, uma forma de tentar atrair o jovem, mas que quando ele se filia não tem o que fazer. É preciso ter atuação e não apenas título”, desabafa. Ele comenta ainda que só agora alguns partidos têm se preocupado em demarcar espaço através de ações e atividades conjuntas dos jovens com o partido.

“Entrei para o PP justamente para

mudar a realidade, já que o espaço criado para a juventude nos par tidos não é bem aproveitado”, revela

Bruno Caldeira, 18 anos.

Juventude: cabos eleitorais ou “futuro da nação”?

Vem de berço

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