Revista Arembepe

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pontomovel

cidade do saber

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cidade do saber

Arembepe

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SABERES EFAZERES

AREMBEPE ESPAÇOVERDE

NOSSAGENTE

MOVIMENTOARTÍSTICO

GENTE QUEFAZ

DICAS CULTURAIS

PAINELCRIATIVO

LAZER

AÇÃOGOVERNAMENTAL

SABOR DA TERRA

LÁ VEMHISTÓRIA

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Sumário

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Como vivem os moradores de lugares tão simples, afastados do burburinho das grandes cidades, mas que revelam influências recebidas de gente de toda parte do mundo? Como é perpetuada entre as gerações a tradição de se rezar uma trezena? E como conviver com tanta beleza natural sem agredir o meio ambiente?

Esses e outros aspectos são apresentados aqui, nesta série especial de publicações da Cidade do Saber – Instituto Professor

Editorial

Raimundo Pinheiro. O quarto número da revista, assim como as outras edições, é um desdobramento do trabalho realizado pelo Ponto Móvel – estrutura disponibilizada a partir de um caminhão baú adaptado para levar cultura, esporte e lazer à população de Camaçari e seu entorno. A coletânea integra as diretrizes da Cidade do Saber, que busca também registrar, preservar e divulgar a cultura local.

Neste número, dedicado a Arembepe, mostramos um pouco das manifestações

culturais, das belezas naturais e da culinária desse lugar, conhecido internacionalmente por abrigar o movimento hippie, no final dos anos 60. Até hoje, Arembepe chama a atenção pelo peculiar modo de vida presente na Aldeia Hippie.

Em outras edições, leia também sobre Barra do Pojuca, Monte Gordo, Barra do Jacuípe, Jauá, Areias, Vila de Abrantes e o povoado de Cordoaria (remanescente quilombola).

Convidamos você a viajar nessa história!

Boa leitura!

Esta publicação segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

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Jauá

AreiasCordoaria

Vila de Abrantes

Barra do Jacuípe

Arembepe

Camaçari

Sede CamaçariCidade do Saber

Barra do Pojuca

Distrito de Monte Gordo

Distrito de Abrantes

Monte Gordo2

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Sejam bem vindos

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Arembepe é, certamente, uma das localidades mais famosas da orla de Camaçari. Isso porque abrigou inúmeros integrantes e simpatizantes do movimento hippie, no final dos anos 60, atraindo gente de toda parte do Brasil e do mundo. Por lá passaram celebridades internacionais, como os cantores Mick Jagger (Rolling Stones) e Janis Joplin, o cineasta Roman Polanski e os atores Jack Nicholson e Richard Gere. Também teve gente da terra, como Caetano Veloso e Gilberto Gil.

O lugar faz mesmo jus ao significado do nome. A palavra Arembepe traduz uma expressão tupi-guarani e quer dizer: “aquilo que nos envolve”. Encanta e envolve pela natureza inspiradora, mas, principalmente, pelo “caldeirão” de influências, que lhe confere peculiaridade. São heranças culturais diversas, presentes

Arembepe: aquilo que nos envolvenas características do modo de viver dos moradores.

Há aspectos da cultura indígena (no artesanato e nomes de ruas, por exemplo), da cultura afrobrasileira (culinária, evidente na forte tradição de famílias de baianas de acarajé do lugar), da cultura litorânea (pesca como atividade de subsistência e como fonte de geração de renda) e da contracultura (que gerou o movimento hippie e implicou na formação da Aldeia de Arembepe, a única que resistiu ao longo destes anos, no Brasil).

A antiga vila de pescadores guarda as suas tradições, que “caminham” junto com as contribuições da comunidade alternativa (hippies e mochileiros) e também de veranistas e visitantes, o que a consolida como espaço da diversidade. O ambiente é

de respeito às diferenças, já que se tornou comum a convivência entre pessoas de origens e de “bagagem” cultural distintas.

Há um quê de valorização da simplicidade, sem perder o charme. Tal qualidade é evidenciada na manutenção das fachadas de algumas residências antigas, antes habitadas pelas famílias de pescadores, e na opção, dos moradores da Aldeia, de não aderir, ainda hoje, a recursos da vida moderna como a luz elétrica e água encanada.

Assim, quem visita Arembepe encontra bem mais do que o encantador ambiente natural pode oferecer: histórias e personagens interessantes, passado e presente de muitas trocas culturais, simplicidade nos modos de vida, depoimentos de amor pelo lugar...

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Diferentes visuais de Arembepe

Artesanato local

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Influências do passado

A lembrança dos tempos em que Arembepe ainda era apenas uma vila está viva na mente de vários moradores, nativos do lugar. Angélica da Purificação, conhecida como Geo, resgata o que viveu nos tempos de criança, quando a maioria das casas era de taipa e lá só moravam pescadores.

“Não tinha energia, não tinha nada. Minha mãe vivia de botar água de ganho porque não tinha água encanada. Ela botava água pra Arembepe inteira”, diz Geo, que, entre 7 e 8 anos, já carregava água na cabeça, junto com os adultos, para abastecer as construções das primeiras casas de bloco.

Moradora da Rua da Caraúna, Geo já participou de muitas brincadeiras e lembra: “Aqui tinha muito terno pela rua em Dia de Reis, já tinha a Chegança, Boi. A gente tentava dormir cedo, mas era sempre acordado pra cantar e dançar com os ternos”.

Geo também conta que uma das tradições mais marcantes e muito conhecida em Arembepe é a Trezena de Santo Antônio, realizada na primeira quinzena de junho. A devoção ao santo é tanta que é passada entre as gerações. Responsável pela trezena, junto com outras mulheres da comunidade, ela não abre mão da prática e fé tradicional.

“Na Caraúna, todo ano eu rezo a trezena de Santo Antônio. Antes era em uma barraquinha de palha e madeira. Agora a gente está na Associação de Moradores”, diz Geo. Todos colaboram e sempre se oferece um prato típico do período: mingau, mungunzá. “Na última noite, tem os fogos, tem um sonzinho pra animar”, completa.

Dona Francisca Batista de Souza, 90 anos, também relembra, com saudosismo, alguns aspectos que marcaram sua vida. São lembradas até mesmo as dificuldades como a falta de água encanada e de luz. “A gente botava uma lata de 18 litros na cabeça pra buscar água na cacimba, aos poucos, com a cuia”.

De vez em quando, ela ia buscar na Aldeia e no Cacimbão (próximo à Rua da Caraúna). “Mas a gente gostava mais de ir ao rio da Aldeia porque tomava banho, era mais gostoso”. Para garantir luz em casa, o recurso era o “fifó”. “Quem sabia fazia, quem não sabia comprava na Feira de São Joaquim”. Dona Doê, como todos a chamam, veio de uma família de pescadores. Seu pai e cinco irmãos pescavam, o que garantia fartura de comida em casa.

Ela complementa as memórias das manifestações culturais dos tempos do vilarejo, quando a população de Arembepe não passava de 500 habitantes: “Na época de Reis, vinha um Terno de Boi do Conde, era uma alegria danada! Aqui tinha o Terno da Rosa, que saía cheio de lanternas feitas com papel de seda colorido. Meu marido também participou da Chegança, ele era Secretário dos Mouros. Tinha roupa bonita, vermelha e uma camisona que ele passava no ferro de carvão”.

Obra de arte de Servilho, artista local

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Geo organiza a trezena de

Santo Antônio

Dona Doê (à frente) e a

filha Aica

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Escola Menino Luz atende moradores

da Aldeia e do entorno

Marca Feminina

Arembepe é mesmo um recanto peculiar. Existe até tradição reinventada décadas depois, como a Chegança capitaneada por Dona Bete. Manifestação da cultura popular, geralmente encenada só por homens, a Chegança ganhou essa versão feminina, o que revela um diferencial.

Outra mulher que ficou muito conhecida, também por uma tradição, foi Dona Miúda, responsável por um dos mais saborosos acarajés da região. Uma de suas filhas, Rita Maria de Cássia, conta como o bolinho de feijão ganhou fama fora do Brasil. “Minha mãe ficou muito conhecida. Se estivesse viva, estaria vendendo acarajé há 60 anos”.

Rita diz que a mãe vendia no condomínio Parque Interlagos, onde há veranistas do Sudeste do Brasil e de fora do país. “Era um acarajé famoso, que saía de Arembepe para o exterior. A tradição foi passando pra gente. Todas as filhas sabem fazer acarajé e as netas também”, explica Rita.

Aldeia Hippie

Até a década de 60, apenas alguns baianos frequentavam Arembepe nos finais de semana. O lugar só passou a ser mais conhecido quando o cineasta Glauber Rocha rodou lá Barravento (seu primeiro longa-metragem).

De pacata aldeia de pescadores a cenário de filme, Arembepe foi descoberta por gente de todo o Brasil e de algumas partes do mundo. Apesar de estranhar a chegada de pessoas com estilo de vida e “visual” tão diferentes, muitos moradores foram acolhendo os viajantes que se encantavam e acabavam ficando.

Dona Doê foi uma das moradoras que mais acolheram os viajantes, com os quais mantém contato até hoje. “Muitos deles trocavam roupas por comida. Na época, usar jeans ainda era novidade, então minha filha ia para a escola com as roupas que eles me davam e achavam que ela era rica”, conta.

“Entre os que chegaram a Arembepe está Missival (ainda morador e proprietário da Pousada da Fazenda) e Paulo Montoro, que

era filho do governador de São Paulo. Outros ainda vêm aqui uma vez por ano, muitos me ligam”, diz Doê, que já foi ao Rio de Janeiro e São Paulo de avião, “que nunca tinha andado”, a convite dos amigos hippies.

A Aldeia Hippie conta com uma Associação de Moradores (Amah), que mantém até uma escolinha para as crianças. Ivana Mascarenhas Graça, que convive com a comunidade há 23 anos, conta que algumas coisas mudaram para pior, como o aspecto ambiental, e outras para melhor, como os projetos mantidos pela associação.

A Amah existe há mais de 15 anos e tem mais de 50 associados. A professora da escolinha, Ioná Mamona, explica que há o projeto Menino Luz. A iniciativa atende a moradores da Aldeia e do entorno, para resgatar o lúdico e o belo na vida dos alunos. Como consequência do trabalho, os beneficiários vêm se destacando também na escola formal. Em 2009, a escolinha da Aldeia foi vencedora de um edital do Governo Federal para Pontinhos de Cultura.

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Rita diz que o acarajé da mãe

ficou famoso fora do país

POntOS dE CuLturAAlém do Pontinho de Cultura da Aldeia Hippie, Arembepe tem também um Ponto de Cultura: a Associação Cultural Abolição Capoeira, que realiza um trabalho de desenvolvimento da

cidadania, através de ações culturais.

E O quE SãO POntOS dE CuLturA?São iniciativas desenvolvidas pela sociedade

civil, que firmam convênio com o Ministério da Cultura (Minc), através de seleção por editais

públicos. Ficam responsáveis por articular e impulsionar as ações que já existem nas

comunidades.

Saiba mais: www.cultura.gov.br

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“Bonita por natureza... ” Não é à toa que tanta gente se encanta por Arembepe e não quer mais sair de lá. Na entrada, exuberantes garças brancas e gaviões completam o cenário com o verde dos coqueiros e o azul das águas. Dunas, praias, lagoas e rios formam paisagens peculiares. A Praia do Piruí é um dos lugares especiais. Além de oferecer condições para a prática de surf, reúne piscinas naturais, onde crianças e adultos podem praticar mergulho.

Um poético pôr-do-sol pode ser apreciado sobre as dunas ou nas margens do balneário do Rio Capivara, na Aldeia Hippie, com encantos preservados há mais de 40 anos. Tomar banho de “água doce” na Aldeia está entre os programas prediletos de moradores e visitantes.

Surf revela talentos Os “locais” (surfistas do lugar) não hesitam. Arembepe é, sim, um dos melhores picos do surf, no Litoral Norte baiano. No Piruí, na Terceira Praia ou nas proximidades da Aldeia, os jovens ou veteranos surfistas usufruem das boas ondas. Vale a diversão ou a prática de hábitos saudáveis em prol da qualidade de vida. Além disso, a praia também é procurada para os treinamentos que antecedem algumas das mais importantes competições do Nordeste do Brasil e do mundo.

Marco Fernandez, 18 anos, criado e revelado em Arembepe, é uma das promessas do surf brasileiro. Depois de conquistar o título de Campeão Brasileiro de Surf Amador, na categoria

Mirim, Marquinho, como é conhecido, foi um dos dois baianos da equipe brasileira no Mundial Pro Junior, em janeiro de 2010, na Austrália.

Além dele, outros “meninos” de Arembepe vêm se destacando em competições: Lucas Guilherme (tricampeão Baiano do Circuito Universitário de Surf ) e Bruno Mateus (vencedor de etapas do Circuito Baiano Amador), primos de Marquinho, têm representado a Bahia nas principais competições regionais.

A cada título ou participação nos eventos esportivos, a referência e o estímulo para as novas gerações de Arembepe são consolidados, o que promove o surf e fortalece a cultura praiana do lugar.

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Rio Capivara integra visual da

Aldeia Hippie

Arembepe tem revelado nomes

do surf

nãO dEIXE dE Ir:

Emissário Submarino

Entre as opções de lazer de Arembepe está uma visita ao point conhecido como Emissário. Lá, além de ser ponto de pesca com vara (no píer), há bares

e barracas, com uma variedade de pratos típicos e o visitante dispõe da água de rio e de mar.

Apesar de estar localizado nas proximidades do Emissário Submarino do Centro de Tratamento de

Efluentes Líquidos do Polo Petroquímico (Cetrel), os resíduos industriais, tratados e diluídos para reduzir

os impactos ambientais, são despejados a 12 km da praia.

Para saber mais: www.cetrel.com.br

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arembepearembepe nossa Gente

revista Ponto Móvel: dona Joana, onde a senhora nasceu?

dona Joana: Eu nasci num lugar chamado Repouso, que fica perto de Areias. Quando eu me casei, vim morar em Coqueiros. Aqui tudo era mato, mas passava uma estrada que dava acesso a essas terras, que eram todas de irmãos, do meu esposo Ademilton e dos irmãos dele. Primeiro eles fizeram roças, depois fizeram as casas. A gente plantou tudo isso aqui com

coqueiros, mangueiras e outras árvores que dessem frutas.

revista Ponto Móvel: Além de plantar árvores frutíferas, o que mais a senhora e Seu Ademilton faziam para sustentar os filhos? 

dona Joana: Plantávamos mandioca, fazíamos farinha e beiju. Nós tínhamos casa de farinha e tudo. Os moradores de Arembepe vinham aqui e compravam

tudo isso. Meu esposo também pescava, trazia peixe bom pra casa: Olho de Boi, Vermelho, Alvacora. O Olho de Boi fresco é muito gostoso! A gente comia peixe fresco e, quando tinha muito, botava pra secar no sol, num varal. Eu dava para minhas irmãs, assava, fazia moqueca. Eu vendia bolo, fazia carimã e vendia em Arembepe para moradores e visitantes. Aqui tinha muita mangaba que a gente mandava um rapaz vender na Feira de São Joaquim. Naquela época não havia carro, só carro de boi, era muito difícil pra nós irmos até São Joaquim.

revista Ponto Móvel: quantos filhos a senhora teve?

dona Joana: Eu tive 18 filhos, agora eu criei 13. Oito são mulheres. Estão todos por aí, em Camaçari, Lauro de Freitas, mas a maioria está aqui. A caçula, Avani, ainda está comigo.

Dona Joana Francisca Souza, 76 anos, é moradora de Coqueiros de Arembepe, zona rural, onde muitos moradores têm no cultivo das hortas e nos pomares a base de sustentação familiar e geração de renda, além da criação de animais.

Nesta entrevista à Revista Ponto Móvel Cidade do Saber, ela conta um pouco da sua origem e da sua infância. Dona Joana teve 18 filhos e relembra, com saudade, da época em que os ternos animavam os moradores de Arembepe. Tinha festa que entrava pela madrugada e era marcada pela fartura de comida e bebida. A antiga moradora conta, ainda, como foi a chegada da primeira televisão no povoado. Confira a entrevista:

“Eu gosto muito de morar aqui

Entrevista:

dona Joana

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revista Ponto Móvel: O que a senhora e sua família faziam para se distrair?

dona Joana: Nós nos divertíamos muito! Aqui tinha o Terno do Boi. No tempo do Natal, a gente saia pelas casas e ninguém dormia. No São João tinha muito samba e ‘cumpadi de fogueira’. Um ficava de lá, outro de cá, aí um pulava para o lado e o outro pulava para o outro, aí viravam compadres. Agora só tem essas festas organizadas e grandes, tipo a lavagem. Eu já fiz muita festa em minha casa. Eu rezava Nossa Senhora das Candeias, até hoje eu tenho ela. A gente fazia no mês de janeiro, tinha viola e samba dentro de casa e a festa num barracãozinho que nós fizemos. Eu matava um porco, fazia uma feijoada, vinha muita gente que brincava a noite inteira. De manhã cedo a gente oferecia um caçuá de manga e um caçuá de jaca. Tinha um senhor que bebia muito, aí os meninos melavam ele todo de visgo de jaca e colavam as bandeirinhas nele, depois ele dançava o Boi. Era um divertimento muito bom. Ah,

quem primeiro comprou televisão em Coqueiros fomos nós. A casa ficava cheia de gente que vinha assistir e era uma animação.

revista Ponto Móvel: E hoje em dia, o que a senhora gosta de fazer?

dona Joana: Frequento muito a Igreja de Nossa Senhora das Candeias. Antigamente, na época da Quaresma, a gente rezava na igreja até de manhã. Acabou.

revista Ponto Móvel: A senhora gosta de Coqueiros?

dona Joana: Eu gosto muito de morar aqui. Porque eu tenho minha roça, vendo as minhas frutas. Sou muito feliz por isso!

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arembepearembepe Saberes e Fazeres

Elizabete de Souza é filha do pescador Antonio Fernandes de Almeida e da dona de casa Elisa Bertolo de Souza. Nascida em Arembepe há 67 anos, brincava de roda, como toda criança, mas já gostava de outra brincadeira, chamada Nego Fugido.

Ainda na infância, começou a se interessar pelos ternos que sua mãe participava. “O Terno da Revolta era parecido com a Chegança, só que a história era entre navios e aviões de guerra”, conta.

Dona Bete tinha apenas 9 anos, mas ainda lembra das quadras cantadas no Terno da Revolta:

“Tem um avião de guerra (2x), no Brasil a fama espalha (2x). Vencemos todas as questões (2x), acabou toda a batalha (2x)”.

Aos 10 anos, Dona Bete foi para Salvador estudar e trabalhar como babá e lá ficou quase por sete anos. “Morria de saudades de Arembepe. Quando fiz 16 anos, voltei”. Constituiu família, teve três filhos e passou a levar a sério a brincadeira da infância.

Ela conta que por um problema de saúde seu primo, Antonio Santa Rita, responsável pela Chegança (masculina), não pôde dar continuidade à manifestação. Então, manter a Chegança tornou-se uma questão de honra para a mestra. Quando falou ao primo que ia fazer uma versão feminina, ele disse: “Minha comadre, mulher não faz Chegança, faz samba-de-roda, Terno de Reis”.

A “capitã Bete” ousou e recrutou algumas senhoras do grupo da terceira idade que

Salve a Chegança Feminina!“A história que a gente canta é a história de um navio que veio de Portugal para o Brasil e no meio do mar encontrou os turcos, onde uma batalha foi travada”.

frequentava e começou a ensaiar. “Veio tudo na minha cabeça: as músicas, as letras, as danças. Anotei e distribui entre o grupo. Na parte dos pandeiros, eu não sabia tocar, pedi a Paulo (da Chegança masculina) que viesse nos ensinar”.

Isso foi em 2002. O grupo se estruturou, adquiriu figurino e instrumentos e não parou mais de se apresentar. No princípio, contou com ajuda financeira apenas de um vereador e de um empresário local. Aos poucos o grupo foi se firmando, e ganhou reconhecimento. Foi um dos vencedores do Edital de Manifestações de Cultura Popular da Secretaria de Cultura do Governo do Estado, em 2009. Hoje, 40 mulheres integram a Chegança Feminina. A integrante com mais idade tem 70 anos e a caçula tem 10.

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Contato para apresentações:

Mestra Bete

(71) 3624-3382

Chegança comandada por

mestra Bete

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Saberes e Fazeres

arembepearembepe

O estilista Manu nasceu no sertão da Bahia (no município de Saúde), mas morou em São Paulo, dos 5 aos 20 anos. Das experiências da grande metrópole, uma marcou a sua trajetória: experimentar a moda. Frequentou os eventos promovidos pela Rhodia, no Ibirapuera, onde pôde acompanhar grandes desfiles, despertando o seu gosto pela costura.

Na capital paulista trabalhou em escritórios durante alguns anos, até que se identificou com a nova onda dos hippies e decidiu viajar pelo país afora. Depois de um tempo de aventuras, em 1969 voltou para a Bahia, onde foi convidado para uma festa em Arembepe. “Já sabia que Mick Jagger e Janis Joplin haviam estado por aqui, mas nunca tinha vindo, porque o acesso era difícil, só tinha estrada até Portão”, lembra.

Manu foi para a festa que teve uma lua cheia como anfitriã. Ele conta que, quando

Moda hippie para o mundoamanheceu, achou que seria impossível sair de lá. Dito e certo. Ficou em Arembepe por três anos, onde começou a criar peças com o material que coletava na praia.

“Naquela época a gente tinha que fazer alguma coisa pra trocar por comida. Comecei a criar roupas em algodão cru (sacos de alinhagem), estilizadas com conchas e fui vendendo”. Isso foi quando Caetano Veloso chegou do exílio de Londres e ia fazer um show na Concha Acústica do Teatro Castro Alves. “Ele não tinha roupa para a apresentação. Uma amiga em comum levou uma e depois ele acabou comprando outra”.

Em seguida, Manu recebeu uma encomenda de Maria Bethânia e viu que o caminho era esse. Sempre que tinha algum show, lá estava ele com uma sacola de roupas para os artistas. Conquistou clientes como Rita Lee, Ney Matogrosso, Zé

Ramalho, Elba Ramalho e Fafá de Belém.

Depois Manu viajou para a Bolívia e o Peru. De lá, trouxe influências do artesanato indígena amazônico e inca. Em 1975 foi para o Rio de Janeiro e começou a produzir peças em couro, que chamaram a atenção de Elke Maravilha. “Fazia as roupas no meu corpo, por isso ficavam diferentes. Aí começou o burburinho”.

Durante os anos 70 suas criações ilustraram publicações nacionais, como Manchete, Vogue e Cláudia. Sônia Braga foi uma das celebridades que posaram com as criações de Manu.

Em 1997, voltou para Arembepe. Desde então estimula os nativos e visitantes a conhecerem as suas peças, promovendo desfiles. Manu voltou a produzir só roupas em algodão, confeccionando peças exclusivas com sua marca.

Contato para encomendas:

Manu

(71) 8718-1761

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Criações de Manu fizeram sucesso

entre artistas

Manu expõe suas peças no Centro Comunitário de

Artesanato

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arembepearembepe Movimento Artístico

Em Arembepe ocorreram duas seletivas do Projeto Palco da Cidade, realizado pelo Núcleo de Produção do Teatro Cidade do Saber para revelar os talentos artísticos de Camaçari. Um dos objetivos é dar oportunidade a quem mora mais distante do centro da cidade e de equipamentos culturais, como a sede da Cidade do Saber.

A primeira seletiva foi na Praça dos Coqueiros, uma das mais animadas de todo o período em que o Ponto Móvel da Cidade do Saber percorreu oito localidades para classificar finalistas, num verdadeiro “festival de talentos”. O Ponto Móvel usa a estrutura de um caminhão-baú adaptado para a oferta de serviços relacionados à cultura e ao esporte, contando, inclusive, com um minipalco.

E na Praça dos Coqueiros houve até torcida organizada formada por amigos

e familiares para um dos artistas locais, Nelson Souza de Jesus, conhecido como “Nelson Bala”, que interpretou uma música de Djavan. Ele chegou à semifinal.

Já na segunda seletiva de Arembepe, no Loteamento Fonte das Águas, dois dos maiores destaques de toda a primeira edição do Palco da Cidade, em 2009, concorreram à classificação. Não só alcançaram as semifinais, como também participaram da grande final no Teatro Cidade do Saber. Foram eles o cantor e compositor Alex Mikimba e o grupo cênico-musical Universo com Verso.

Para Mikimba, o Palco da Cidade , “além de abrir portas para a prata da casa, trouxe mais arte e cultura para a comunidade”. Para ele essa foi uma grande oportunidade de mostrar o trabalho. “Eu sempre quis trabalhar com teatro, com música, com

Palco da Cidadeessas coisas que trazem a cultura do lugar para as pessoas. Geralmente as pessoas tendem a dar valor ao que é de fora, principalmente nos aspectos culturais. Por isso, o meu objetivo foi mostrar meu trabalho, minha concepção de vida, sempre através da música”, revelou.

Já Josias Mercês dos Santos, integrante do Universo com Verso, grupo que conquistou o terceiro lugar do projeto, contextualiza a ação com as demandas da localidade que representou. “Nós, artistas, precisamos sempre estar com a mão na massa e não ficar só no discurso. Para Arembepe, especificamente, isso é muito importante, porque aqui há muita cultura e precisamos de muito mais investimentos culturais. O Palco da Cidade enriqueceu e abrilhantou a cultura local”, avaliou.

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Palco da Cidade revela talentos

das comunidades visitadas

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quem Conta um Conto?

“Quando e como começou a Aldeia, não se sabe. Possivelmente, ainda em fins dos anos 60, algum curtidor chegou ao lugar e resolveu ficar. Fez sua casinha com palhas de coqueiro e ninguém reclamou. Arrumou ou já tinha uma companheira e foi ficando. Encontrou algum outro maluco fazendo colares e pulseiras em Itapuã ou Salvador, onde de vez em quando ia vender seu artesanato, e, discretamente, espalhou sua descoberta. Foram aparecendo outros e outras, fazendo suas casinhas e ficando, sem ninguém protestar. Tudo deserto, nada para encher o saco, a natureza limpa, a praia, o rio, o pôr-do-sol e o nascer da lua, os coqueiros dando material de construção e coco à vontade para qualquer emergência de fome e sede. Arembepe logo ali, para um apoio imediato. E, principalmente, ninguém. Ninguém para reclamar dos trajes ou da falta deles, ninguém para fiscalizar os comportamentos assumidos. Silêncio e paz. O lugar ideal para o amor, ao som discreto das guitarras, flautas e bongôs. Liberdade. Li-ber-da-de! Estava fundado o paraíso”.

Posfácio extraído do livro Naquele tempo em Arembepe, de Beto Hoisel.

Bem vindo ao reduto da Aldeia Hippie

arembepearembepe

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“A Aldeia Hippie foi criada durante a década de 60, quando mentes livres da juventude, influenciadas pelo festival Woodstock, pela Tropicália e outros movimentos vieram para Arembepe. Onde hoje está situada a Aldeia Hippie era originalmente a Fazenda Caratingui, divisa com a Fazenda Arembepe. Os vaqueiros construíram a primeira cabana de palha para descansar e preparar as refeições. Após a venda da fazenda, as barracas permaneceram. Os hippies chegaram em grupos. Eles ocuparam as cabanas da aldeia, que começou a crescer.”

Por Jasson Winck, poeta, em Material de Informações Turísticas de Arembepe.  

Outra versão...

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arembepearembepe AçãoGovernamental

Uma nova Arembepe... É possível? Sim, em relação ao potencial turístico, à qualidade de vida dos moradores, ao aquecimento da economia local e geração de emprego e renda. Mas os elos serão mantidos e evidenciados com a tradição, com a história, com as suas características culturais.

Esta é a proposta da Prefeitura Municipal de Camaçari para uma de suas mais famosas localidades, rumo à consolidação como um dos mais importantes destinos turísticos da Bahia.

O projeto de revitalização urbanística

de Arembepe foi desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano de Camaçari (Sedur), com a estimativa de investimentos de aproximadamente R$15 milhões. As intervenções, iniciadas em 2010, têm previsão de término em um ano e a obra está dividida em sete trechos.

Construção do estande de apoio ao turista, o alargamento do calçadão, nova ciclovia, campo de futebol revitalizado (com vestiários, alambrados e nova iluminação), nova quadra poliesportiva, reurbanização das praças com iluminação cênica, deck de acesso à praia e barracas.

Aldeia Hippie com quiosques e deck em locais estratégicos, iluminação, paisagismo, divisão de passeio ecológico, limpeza e recuperação da vegetação nativa, pórtico de entrada, vestiários do camping e rede de esgoto interna. Estas serão as principais ações para valorizar e evidenciar as belezas e traços culturais do lugar.

Tantas mudanças físicas serão somadas às contribuições dos moradores, que, com suas habilidades para criar e reinventar, reforçarão a posição de Arembepe como lugar único, mágico, que envolve e acolhe a todos que se aproximam!

Revitalização de Arembepe

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Arembepe passa por obras de

requalificação urbana

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Espaço Verde

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arembepearembepe Espaço Verde

Há mais de 13 anos, Rivelino Martins de Souza preocupa-se com o patrimônio natural de Arembepe. À frente da ONG Coqueiro Solidário, junto com o seu sobrinho Reginaldo, vem promovendo ações ecológicas significativas em Arembepe.

“A gente começou no dia 21 de abril de 1997. Nossa preocupação era porque aqui, na Praça dos Coqueiros, só havia seis coqueiros velhos, centenários, gigantes. A proposta era fazer um reflorestamento de coqueiros na praça, para dar sentido ao nome”, explica. Eles começaram com algumas mudas doadas pelo Sr. Antonio Santa Rita, um dos fundadores da Chegança. “Ficamos sabendo que o Thierry, proprietário do Restaurante Mar Aberto, tinha 22 mudas para doar”.

Plantaram 60 coqueiros. Depois não pararam mais, plantaram milhares de mudas, não só de coqueiros, mas de outras árvores nativas.

Ação Ecológica do Coqueiro Solidário

Eles formaram o que chamam de corredor ecológico, plantando 500 mudas do campo de futebol à estrada que dá acesso à Aldeia Hippie. “Além disso, a gente promove todo ano o Movimento Arrastão Ecológico para limpeza de rios, praias e dunas, envolvendo de 200 a 300 pessoas. Já achamos até geladeira dentro do rio!”, conta Rivelino, que preocupa-se com a falta de consciência das pessoas. “Alguns visitantes vêm e fazem churrasco no pé das árvores, queimam tudo, deixam lixo”.

Segundo ele, a Prefeitura de Camaçari, a Limpec, a empresa Millenium e a Camaçari Ambiental são parceiras do projeto, que retira toneladas de lixo de Arembepe em setembro e janeiro.

Rivelino é exemplo do compromisso e da relação positiva que o ser humano precisa estabelecer com o meio ambiente em

prol da preservação. Parte para a ação, contribuindo para equilibrar os impactos ambientais de toda uma comunidade, mesmo ciente de que resultados poderiam ainda ser mais significativos, com o maior envolvimento de outros cidadãos.

Também integrante de outro movimento, o SOS Rio Capivara, fundado pela união das organizações ambientais de Arembepe, Rivelino alerta: “É imprescindível a supervisão das construções erguidas nas áreas próximas do Rio Capivara. Chamamos a atenção dos órgãos competentes e da comunidade e instituições ambientais para coibirem ações e estruturas que desequilibram e ameaçam a paisagem natural do Rio. Afinal, a área é protegida por lei e as infrações contra essa APA constituem crime ambiental regulamentado pela Constituição Federal”.

Seu Rivelino é

exemplo de responsabilidade

com o meio natural

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APA rIO CAPIVArA:

A APA Rio Capivara localiza-se no Distrito de Abrantes, Camaçari. Foi criada pela necessidade de conservação da área, devido ao potencial turístico e

pela presença de ricos ecossistemas: mangue, dunas, rio, brejo, restinga, lagoa, mata secundária e praia.

A flora e a fauna são ambientes peculiares e frágeis, protegidos por leis federais e estaduais.

Os atrativos naturais, aliados à localização com fácil acesso, são elementos que propiciam a expansão

da ocupação urbana. Na APA, as agressões mais frequentes referem-se às queimadas, aos

desmatamentos, à extração de areia e a degradação dos mananciais hídricos.

Fonte: www.cra.ba.gov.br

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arembepearembepe Espaço Verde

O Projeto Tamar foi criado em 1980, para preservar as cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, todas ameaçadas de extinção. Possui 24 bases e atua em nove estados brasileiros na proteção destes animais, sempre com envolvimento comunitário.

A base de Arembepe tem cobertura de área que concentra, aproximadamente, 30% de todas as desovas do Litoral Norte baiano. Por temporada, de setembro a março, cerca de 2.200 desovas são protegidas pelo posto, o que garante 160 mil filhotes, em 47 km de praias nos municípios de Salvador, Lauro de Freitas e Camaçari.

Numa área de 5.000 m2, cedida pela Prefeitura de Camaçari, a base de Arembepe mantém o Centro de Visitantes, aberto diariamente das 9h às 17h. É um

Arembepe, recanto das tartarugasespaço de informação, educação ambiental e divulgação do trabalho do projeto, com museu interativo, aquário com filhotes, tanques de reabilitação e espaço de pesquisa.

A bióloga Kellyn Carneiro conta que, desde o principio, o Tamar contou com o apoio da comunidade. “Fizemos entrevistas com as pessoas para saber da ocorrência das tartarugas . Desde o início, a comunidade é mobilizada pelo Tamar e hoje a gente tenta aprimorar as atividades com a comunidade, através de projetos sociais”.

A linha de atuação social do Tamar contempla o incentivo às alternativas de renda sustentáveis; além do resgate cultural. “Dependendo da base, a gente tem um foco em determinada atividade. Aqui em Arembepe temos a Escolinha do Tamar com 50 alunos, de 6 a 15 anos”, diz. Na escola são trabalhados três objetivos: o

cultivo de uma horta comunitária, o resgate cultural e a preservação do meio ambiente. “Estamos tentando fazer um trabalho de inclusão porque constatamos um número muito grande de crianças expostas ao risco social, completa Kellyn.

Os monitores do projeto são de Arembepe, orientam o trabalho na horta e estimulam a preservação da cultura (bumba-meu-boi, samba-de-roda, maculelê e capoeira). Na escolinha, o trabalho relacionado com a natureza não deixa de ter o seu espaço e as crianças exercitam os cuidados com o meio ambiente e participam de oficinas de reciclagem. Além disso os alunos são acompanhados por nutricionistas, que elaboram um cardápio rico e variado para os lanches oferecidos. Nos últimos anos a escolinha vem contando com o patrocínio da Unesco, através da chancela Criança Esperança.

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Seu Projeto Tamar protege

tartarugas marinhas

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Espaço Verde

e s p e c i a l

arembepearembepe

Na equipe que compõe o Projeto Tamar em Arembepe estão os tartarugueiros, também moradores locais. O tartarugueiro é a pessoa que monitora a praia diariamente, começando por volta das 4h da manhã. “Dependendo da área, os ovos são recolhidos ou deixados no próprio local de desova. Em áreas urbanas, como Itapuã e Jauá, essas desovas não permanecem nos locais por conta das ameaças da ação humana. Tem problema de fluxo de pessoas, de iluminação artificial de trânsito”, explica.

Todas as desovas são marcadas por uma “estaca” de cano, que recebe a identificação “Tamar – ICMBio” e um número que possibilita o monitoramento desde o dia do nascimento das tartaruguinhas. Quando elas nascem, criam vínculo com o lugar e, quando as fêmeas completam entre 20 e 25 anos, retornam ao local de nascimento pra desovar.

Proteger as áreas de desova das tartarugas, garantindo que se mantenham aptas para o

retorno dos animais adultos daqui a mais de duas décadas é um trabalho complexo, que envolve a atuação de biólogos, estudantes, dos habitantes das localidades do litoral e a conscientização dos turistas e visitantes. O objetivo maior é amenizar os impactos e garantir que esse animal pré-histórico torne-se, também, um ser do futuro.

A base de Arembepe é uma das mais significativas áreas de reprodução do litoral baiano. A importância do seu trabalho está, também, relacionada à preservação das tartarugas cabeçudas e de pente, sendo a última uma das mais ameaçadas de extinção e com ocorrência regular na região para formar ninhos e desovar.

Para saber mais sobre o Projeto Tamar, as tartarugas marinhas e ajudar a protegê-las, torna-se imprescindível percorrer um caminho que reúne aprendizado e diversão: conhecer o Centro de Visitantes!

Acesse: www.projetotamar.org.br

Contato:

Base tamar (71) 3624-1193(71) 3624-1049

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Seu Base de Arembepe

garante monitoramento

das espécies

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arembepearembepe Saborda terra

Em Arembepe, muitas famílias mantêm o hábito de passar receitas de mãe para filhas. Nas décadas passadas, as mulheres - marisqueiras, quituteiras ou simplesmente mães de família provedoras da alimentação dos filhos - saíam em busca dos frutos do mar, cheios de nutrientes, ou instalavam seus tabuleiros de baianas de acarajé em pontos da praça e nas praias. Hoje, receitas, modos de fazer e segredos culinários conquistam paladares de veranistas e visitantes, sendo um atrativo à parte para quem curte os finais de semana em Arembepe.

Recomenda-se, entre tantos outros, não resistir aos acarajés de Catita, filha da baiana Delfona, e de Nivalda, filha de Elisa. Elas conquistam, também, pelas belas indumentárias.

Para os que desejam saborear delícias comuns aos hábitos locais, seja a partir de uma receita passada entre gerações, ou através do toque especial dos chefs dos principais restaurantes, seguem algumas dicas.

GAStrOnOMIA à BEIrA MAr

Um restaurante com fama internacional e muitos outros com forte tradição. Em comum, culinária elaborada com ingredientes fresquinhos, principalmente os pescados, adquiridos assim que chegam à terra firme.

O Mar Aberto é o estabelecimento mais famoso, fruto da dedicação de mais de 20 anos dos seus sócios. Já figurou em diversas revistas especializadas, como referência em sua categoria na Bahia (pratos típicos do litoral baiano, entre outros), como a Veja Salvador, Revista Gula e o Guia Quatro Rodas. Consagrou o seu serviço entre executivos, personalidades e grupos familiares. O ambiente é muito agradável, com exposições de obras de arte e uma decoração que acentua o clima da praia.

Já entre os restaurantes mais tradicionais estão o da Coló, o restaurante O Tubarão e o do Isqueiro. Todos instalados em algumas das construções mais antigas de Arembepe, na Praça das Amendoeiras, e com uma encantadora vista do mar. Na Aldeia, a sugestão é o restaurante de Roque, com as deliciosas moquecas, sanduíches e sucos naturais.

Receita de mãe para filha

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Receita de D. Miúda, por Rita Maria de Cássia

2 tomates cortados em rodelas3 cebolas cortadas em rodelas1 pimentão cortado em rodelas1 maço de coentro picadomeio maço de cebolinha picada100g de camarão seco2 dentes de alho picadosmeia xícara de azeite de dendê2 xícaras de leite de coco grosso1kg de passarinha (baço) de boi escaldada com sal e limão e cortada em fatias

Ingredientes: Modo de preparo:

Em uma panela aqueça 2 colheres de azeite de dendê e ponha ostemperos, reservando um pouco de coentro e cebolinha. Refoguepor dois minutos, acrescente uma parte de leite de coco, junte apassarinha fatiada, o camarão seco e cozinhe por 5 minutos,colocando o restante do azeite e do leite de coco. Quando ferver,desligue e polvilhe o coentro e a cebolinha por cima. Sirva com arroz branco.

Moqueca de Passarinha

Seu Dona Rita conta segredinhos de

família

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arembepearembepe Gente que Faz

Natural de Franco da Rocha (SP), Edgard Greco Júnior conheceu Arembepe em 1985 e se apaixonou pelo lugar. Impulsionado por suas experiências como voluntário em projetos sociais, resolveu fazer algo pelas crianças do Loteamento Fonte das Águas (área com crescimento acelerado nos últimos anos e que abriga número significativo de habitantes de Arembepe). Foi quando criou o projeto Comunidade Alma Mirim, sem quaisquer vínculos político-partidários, religiosos ou de qualquer outra natureza. O objetivo é contribuir com a transformação da realidade dos mais jovens, oferecendo instrumentos para a prática plena da cidadania. A Comunidade Alma Mirim de Atenção à Criança é uma instituição privada, de direito público, sem fins de lucro financeiro, que tem como objetivo atuar junto às famílias de Fonte das Águas, atendendo às

Alma Mirim: foco na cidadaniacrianças em regime de creche e aos pais, responsáveis e demais membros da família, oferecendo-lhes cursos de alfabetização para adultos e profissionalizantes.

“Neste momento, atendemos a 44 crianças em regime de alfabetização, divididas em dois turnos, além de atividades transversais que realizamos com as crianças e com a comunidade, algumas em parceria com outras instituições, como as que realizamos com o projeto Ponto Móvel da Cidade do Saber”, explica Edgard.

O Alma Mirim é mantido por doações de pessoas físicas e empresas, que acreditam ser possível, com pequenas ações, gerar resultados significativos. O projeto Comunidade Alma Mirim está em busca de parcerias com outras entidades para potencializar a sua atuação com a oferta de cursos que facilitem a inserção no mercado de trabalho e que aumentem a renda

dos pais e responsáveis pelo público-alvo principal, a criançada. “Neste momento estamos lutando, e muito, para concluir a obra da cozinha e refeitório, o que permitirá um maior conforto para o preparo e serviço de alimentação das crianças”. Edgard conta também que está em fase de conclusão o estabelecimento de uma parceria com o Comitê para a Democratização da Informática (CDI). Serão oferecidos à comunidade, gratuitamente, cursos básicos de informática, além de promover a criação de uma espécie de centro de inclusão digital, que vai oferecer diversos serviços também gratuitos. “O objetivo da instituição é atender a 150 crianças, de até 6 anos, e criar uma agenda ampla de cursos profissionalizantes para os pais e moradores do bairro, além, é claro, de buscar a autossustentação do projeto”, conclui, esperançoso, Edgard.

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Contatos para doações:

Edgard Greco Junior

(71) 9967-6104

Edgard cuida da Comunidade

Alma Mirim

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Lá vem História

rio Joanes Foi assim que nasceu a Aldeia do Divino Espírito Santo, pelos jesuítas João Gonçalves e Antônio Rodrigues. Logo depois, foi instalada a Companhia de Jesus, para catequização dos índios tupinambás que viviam na região.

Por decreto do Marquês de Pombal, a emancipação aconteceu em 28 de setembro de 1758. O nome do povoado foi alterado para Vila de Nova Abrantes do Espírito Santo e o decreto também expulsou os jesuítas que viviam na região. Vila de Abrantes foi o próximo nome da localidade.

O distrito de Camaçari foi criado em 1920, juntamente com o desmembramento de Abrantes. Ganhou o nome de Montenegro, em homenagem ao desembargador Tomaz Garcez Paranhos Montenegro que, com sua influência política, conseguiu trazer a estrada de ferro para suas terras, impulsionando o desenvolvimento regional.

Foi somente em 1938 que o município passou a se chamar Camaçari, através do decreto 10.724, de 30 de março. O documento legitimava a criação da sede e dos distritos de Vila de Abrantes, Monte Gordo e Dias D’Ávila, este último emancipado em 1985. Hoje, Camaçari também reúne conhecidas localidades, como Jauá, Barra do Pojuca, Barra de Jacuípe, Areias e Arembepe, entre outras.

Igreja de São Francisco Arembepe é uma das mais conhecidas localidades do município de Camaçari e, como as demais, guarda peculiaridades e histórias. A Igreja de São Francisco de Assis, padroeiro de Arembepe, foi fundada em 1902, quando o lugar ainda era uma pequena vila de pescadores e mantida pela renda resultante da produção pesqueira.

A centenária construção passou por reformas estruturais por conta da ação do tempo. Em 1992, houve a ampliação

da capela, sob a orientação do padre Edmundo. Em 2009, foram modificados o telhado e a varanda lateral, além da parte elétrica e hidráulica, com o apoio da Prefeitura Municipal. Houve também a importante participação da comunidade, principalmente dos devotos. Alguns eventos foram realizados para a arrecadação de recursos, como um arrastão beneficente.

A Comunidade São Francisco de Assis de Arembepe surgiu com o desejo dos pescadores de construir uma capela. A obra foi finalizada em 20 de fevereiro de 1902, quando ficou determinado que, todo dia 20 do mês, a comunidade faria três dias em louvor ao padroeiro (ainda sem a procissão, que deu origem à Festa de Arembepe e que surgiria quase trinta anos depois). No templo também se rezavam 30 dias do mês de Maria e a Trezena de Santo Antônio. Depois, começaram as homenagens a Nossa Senhora do Parto.

Tudo começa assim...

Saiba mais: http://arembepeemfoco.blogspot.com

arembepearembepe

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naufrágio em Arembepe. uma lenda? Ao navegar na internet, textos dão conta de um naufrágio, no período colonial, por volta de 1573, na região de Arembepe. Segundo as fontes acessadas, tratava-se da nau portuguesa Santa Clara, que fazia parte da carreira das Índias. Na trajetória, passou por Salvador, com 676 pessoas a bordo, mas naufragou horas depois, nos recifes de Arembepe.

Conta-se que, como trazia um grande tesouro, que poderia chegar a U$ 200 milhões, houve uma corrida pelo ouro entre os habitantes de Salvador. Há quem diga que muitos bens e corpos dos passageiros ficaram espalhados pela praia, pois somente seis pessoas escaparam. Era a maior carga de ouro transportada por uma nau a partir das Índias, que naufragou abaixo da linha do Equador.

Para pesquisar mais sobre o naufrágio e tantas outras histórias, seguem algumas sugestões de fontes. Cabe a cada leitor mergulhar nos textos, fazer suas triagens e dar asas à imaginação:

Fontes: http://www.getwet.com.br http://www.naufragiosdobrasil.com.br http://www.naufragios.com.br

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arembepearembepe dicas Culturais

Acontece na segunda semana de março a tradicional Lavagem de Arembepe, que homenageia o padroeiro São Francisco de Assis. A programação começa na sexta-feira, com a procissão em homenagem ao santo, e termina segunda-feira, com o Baile dos Coroas. O cortejo sai por volta das 11h, da Volta do Robalo, e vai até a igreja, na Praça das Amendoeiras, em um percurso de aproximadamente 2 km.

Participam da caminhada centenas de baianas com água de cheiro, filhos de Gandhi, maculelê, roda de capoeira, banda de sopro, banda de música, minitrio, personalidades e autoridades. O evento foi realizado

No dia 2 de fevereiro, às 5h da manhã, o cortejo sai da casa de Dona Lindú, na Rua das Amendoeiras, e segue em direção ao mar. Em terra, a alvorada de fogos anuncia o início das homenagens. Já em alto mar, os barcos formam um grande círculo para que os presentes sejam entregues à “rainha do mar”, proporcionando uma visão mística e poética para quem fica em terra. A banda de sopro também acompanha a procissão marítima. De volta à praia, o sopro continua a animar os participantes, já por volta das 8h. É um ritual muito emocionante, que já se tornou tradição local e que reúne pessoas de todo o município de Camaçari.

pela primeira vez nos anos 30, quando pescadores resolveram caminhar em procissão pelas ruas da antiga vila, em homenagem a São Francisco de Assis, protetor dos que tiram o sustento do mar.

Em mais de 70 anos de tradição, o que era uma simples devoção a um santo transformou-se em um grande festival, dividido entre as partes religiosa e profana, com blocos e atrações nacionais. A Lavagem de Arembepe, ao mesmo tempo em que encerra o ciclo de festas populares de Camaçari, abre, novamente, o calendário baiano de festividades pré-carnavalescas, as micaretas. A roda gira, mais uma vez!

dia de Festa no Mar

Padroeiro São Francisco de Assis

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Anos 60 e 70. Aldeia Hippie, Arembepe. Uma bela lua cheia, realçada pela ausência de energia elétrica. Um violão, talvez mais... Não demora muito, alguém aparece com um chocalho, outro com um pandeiro, até surge um bongô... E está montada a percussão. O círculo formado em torno de uma fogueira reforça o clima de celebração. Festeja-se a natureza e a liberdade...

Inspiração e instinto não faltam. Algo remete aos círculos festivos dos povos celtas, quem sabe a mística. Ou aos rituais de comemoração dos indígenas. Afinal, esta é também uma aldeia, mas a sua tribo é o mundo jovem, repleto de aspirações, resumidas em muita paz e amor!

Motivados pelos grandes festivais que aconteciam mundo a fora, como o Woodstock (o mais famoso), e a partir desta vocação para celebrar e oportunizar os encontros entre pessoas sintonizadas numa mesma ideologia ou que simpatizam com o modo livre de viver, os eventos sob o luar

Festival da Aldeia Hippie

de Arembepe ganharam uma maior proporção entre o final da década de 70 e início dos anos 80. Esta foi a semente para o Festival da Aldeia Hippie.

Assim, até hoje, todo ano, na primeira lua cheia do mês de janeiro, os moradores da aldeia e amigos realizam a festa. Em 2010 foi realizada a 25ª edição. Apesar da importância, falta patrocínio.

No festival, convidados especiais e mais a arte dos próprios habitantes preenchem a programação de todo um final de semana. Desfiles de moda, exposições de artesanato e muita música (dos mais variados estilos: rock, reggae, MPB...), aliados à crítica social e às mensagens de pacifismo, reforçam uma identidade, congregam as pessoas e embalam corações saudosistas... Imperdível para quem viveu o início desta história e para os que ainda têm a chance de conhecer e entender um pouco sobre o movimento!

Para saber mais: www.aldeiahippie40anos.blogspot.com/

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arembepearembepe Painel Criativo

Ponto MóvelO Ponto Móvel da Cidade do Saber ofereceu uma série de atividades artísticas e esportivas à comunidade de Arembepe, no período de novembro de 2009 a fevereiro de 2010. O resultado do estímulo à produção artística e à prática esportiva envolveu cerca de 250 pessoas durante três meses. Foram diversas oficinas, como de futebol, pintura em tecido, criação literária, musicalização, brinquedos e a realização de brincadeiras. O resultado do trabalho pôde ser verificado no encerramento deste ciclo de atividades, realizado no Teatro Cidade do Saber, no dia 22 de março de 2010.

Em breve, o Ponto Móvel voltará a atuar na localidade... Até logo, Arembepe!

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Trabalhos realizados pelos

alunos das oficinas do Ponto

Móvel

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arembepearembepe

Lazer

Caça-palavrasAlguns verbetes em Tupi-guarani:

Res

post

a: R

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ExpedienteCIdAdE dO SABEr

diretora geral: Ana Lúcia Silveiradiretor de infraestrutura: Utilan Coroadiretor do saber: Arnoldo Valentediretora do teatro: Osvalda Moura

COOrdEnAÇãO dO PrOJEtO

rEVIStA POntO MÓVEL CIdAdE dO SABEr Assessoria de Comunicação da Cidade do Saber (ASCOM) responsável: Carolina DantasPesquisa: Bárbara Falcóntextos: Carolina Dantas e Bárbara FalcónFotos Ascom: Daniel Quirino e Clemente JuniorEquipe Ascom: Carolina Dantas, Bárbara Falcón, Clemente Junior, Daniel Quirino, Elba Coelho e Tediarlen Silva

rEALIZAÇãO

AG Editora diretora executiva: Ana Lúcia MartinsExecutiva de projetos: Júlia SpínolaEdição: Ana Cristina BarretoFotos: Paulo Macedo

revisão: José Egídio

Endereço: Rua Coronel Almerindo Rehem, 82, sala 1207, Ed. Bahia Executive Center, Caminho das Árvores. CEP 41.820-768 - Salvador-BA Tel: (71) 3014-4999

Projeto gráfico: Metta ComunicaçãoEditoração: Jean Ribeiro e João SoaresIlustrações e arte: Jean Ribeiro

tiragem: 2.000 exemplares - distribuição gratuita

Agradecimentos:ASCOM - Prefeitura Municipal de CamaçariFotos: Carol Garcia

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Parceiros Cidade do Saber: Mantenedor:

Executor do Projeto

e s p e c i a l

Arembepe