Revista Atma 2ª Edição

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Revista Atma 2ª Edição Viver o bem é a inspiração para esse novo conceito de informação tendo como foco a consciência solidária. Mergulhamos no tema HIV/Aids e descobrimos que há muito o que fazer para conscientizar as pessoas de que a doença mata e que a prevenção deve estar no topo das nossas atitudes. Ouvimos histórias que tocam fundo o coração e mostram o que acontece com a cabeça, a mente e o corpo de alguém que vive com o vírus. Há muita dor, muita tristeza, mas também há transformação para melhor, há garra, determinação para superar as adversidades e ainda encontrar forças para sorrir, viver, e amar! Dentro desse contexto também descobrimos pessoas que doam o seu tempo e até investem para dar um novo contorno à realidade, que muitas vezes é implacável, mas que pode ganhar outros ares com um sorriso, um afago, um abraço. Quem de nós está imune ao sofrimento?Ninguém! Por isso, a solidariedade é essencial. Se cada um fizer a sua parte, o pouco se transforma em muito.

Transcript of Revista Atma 2ª Edição

  • REVISTA ATMA 07

    ATMA NDICE11 ONG SAIBA VIVER12 ENTREVISTA NILTON RESENDE

    CAPA19 PATRICIA BONALDI

    ESTAMPA EXCLUSIVA PARA A CAMISETA "SAIBA VIVER"

    25 MODA VERA TUYCHI 33 DIREITO DRA. JUSSARA PEDROSA

    38 NUTRIO DRA THASSIANA CECLIO 42 SADE PBLICA DR MARZIO NETO

    45 ODONTOLOGIA DR FBIO DE AZEVEDO 46 CTA MARIA CLARA VASCONCELOS

    CENTRO DE TESTAGEM E ACONSELHAMENTO

    48 INFECTOLOGIA DRA. CRISTINA HUEB 54 GABRIEL ESTRLA -

    SOROPOSITIVO QUER DIALOGAR SEM MEDO

    60 LUCINHA ARAJO ME DE CAZUZA - AIDS EST BANALIZADA

    DEPOIMENTOS63 IVO GOMES

    66 LINDEMBERG REALINO BRAGA 72 CARLOS RODRIGUES

    74 NEUROLOGIA CLUDIO CRUVINEL

    77 BEAUTY KAYRONN PAIVA 83 CARDIOLOGIA DR JOS GERALDO

    88 ARQUITETURA - THAIS CURI, CARLOS HALLITE, AL RSO, ELAINE FURTADO E

    CLUDIA RIBEIRO

    SOLIDARIEDADE 96 ROSE PAOLINELLI, MONICA HIAL,

    MRCIA CRISTINA, VERA TUYCHI E FDUA HUEB

    108 FREDERICO TOMS EDUCAO SEXUAL REALIDADE EM

    UBERABA110 PSICOLOGIA FORTALECIMENTO DO "EU"

    COMBATE DEPRESSO112 GERAO Z

    116 VALRIA PIASSA POLIZZI DEPOIS DAQUELA VIAGEM

    120 DR PAULO MESQUITA PRIMEIRO CASO DE AIDS NO BRASIL

    122 MARKITO FOI ACLAMADO MESTRE DA MODA MODERNA NA DCADA DE 80

    124 /138 GASTRONOMIA 126 AYURVEDA TRAZ GRANDES BENEFCIOS

    125 YOGA PARA TODOS

  • 08 REVISTA ATMA

    ATMA CARTA AO LEITOR

    Viver o bem no apenas o slogan da revista

    ATMA, que chega segunda edio agradecendo

    a voc que confia no nosso trabalho, participa

    e faz parte deste projeto ao nosso lado. Viver

    o bem a inspirao para esse novo conceito

    de informao tendo como foco a conscincia

    solidria. Mergulhamos no tema HIV/Aids e

    descobrimos que h muito o que fazer para

    conscientizar as pessoas de que a doena mata

    e que a preveno deve estar no topo das nossas

    atitudes. Ouvimos histrias que tocam fundo

    o corao e mostram o que acontece com a

    cabea, a mente e o corpo de algum que vive

    com o vrus. H muita dor, muita tristeza, mas

    tambm h transformao para melhor, h garra,

    determinao para superar as adversidades e

    ainda encontrar foras para sorrir, viver, e amar!

    Dentro desse contexto tambm descobrimos

    pessoas que doam o seu tempo e at investem

    para dar um novo contorno realidade, que

    muitas vezes implacvel, mas que pode ganhar

    outros ares com um sorriso, um afago, um

    abrao. Quem de ns est imune ao sofrimento?

    Ningum! Por isso, a solidariedade essencial. Se

    cada um fizer a sua parte, o pouco se transforma

    em muito e o muito pode virar tudo quando no

    se tem nada. Constatamos que o preconceito

    e a discriminao ainda esto muito presentes

    e que combater esses sentimentos hostis atrai

    positividade vida. Voc vai se surpreender, se

    emocionar, sorrir e, de repente, descobrir que

    pode e deve fazer parte desta corrente do bem!

    Boa leitura!

    VIVER O BEM

  • REVISTA ATMA 09

    DIRETORIAAL RSO

    ELISA ARAJO JACQUELINE POTENZAPROJETO GRFICO

    ARKA MARKETING CONTEMPORNEO

    DIREO DE ARTE/CRIAOMRCIA FONSECA

    CONTATOS PUBLICITRIOSKARINE GONALVES

    ALEXANDRE CURYTHAS CURY

    MARKETINGTHASA SAMPAIO

    PROJETOS/RESPONSALIDADE SOCIAL

    GICELE GOMESPRODUO DE MODA

    DANI SALCIFOTOGRAFIASFRANCIS PRADO

    EDITORA RESPONSVELROSE DUTRA - JP06415 [email protected]

    COLABORADORESPATRCIA BONALDI,

    VTOR SOUSA,BABI MAGELA, EMPRIO ABREU,

    LETCIA FACHINELLI, KAYRONN CSAR PAIVA,

    GIOVANNA FRANGEMICHELE DORA,

    RICK PINHEIROIMPRESSOGRFICA R&C 34 3336 5083

    REVISTA ATMA UMA PUBLICAO [email protected]

    34 3322.6618

    CAPAPATRICIA BONALDI

    FOTOGRAFIAFRANCIS PRADO

    PRODUTORA DE MODADANI SALCI

    ATMA EXPEDIENTE

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  • 10 REVISTA ATMA

    ATMA SAIBA VIVER

  • REVISTA ATMA 11

    ATMA SAIBA VIVER

    A Associao de Apoio s Pesso-as Vivendo com HIV (AAPVHIV), presidida por Nilton Resende, a entidade beneficiada pela ao de responsabilidade social empresarial da segunda edio da Revista ATMA. Fundada em 16 de outubro de 2009, a Associao de Apoio s Pessoas Vivendo com HIV uma instituio sem fins lucrativos, laica e apartidria, com carter assisten-cial promocional, com sede provi-sria e foro em Uberaba (MG), situ-ada na rua Silvrio Cartafina, 356, no bairro Estados Unidos. regida pela Lei 9.790/99, que regulamen-ta as atividades das Organizaes da Sociedade Civil de Interesse P-blico (OSCIPS).A instituio atende mensalmente aproximadamente 100 pacientes de toda a regio do Tringulo Mi-neiro e Alto Paranaba, em um uni-verso de 66 municpios, proporcio-nando apoio psicossocial, jurdico,

    assistncia social e encaminhamen-tos para tratamentos hospitalares e internaes. Tambm atua junto aos moradores de rua e dependen-tes qumicos como extenso de seu trabalho preventivo, atingindo uma populao estimada de 30 mil pes-soas/ano, tendo um atendimento direto na preveno na ordem (em mdia) de 500 atendimentos/ms. Por meio de parcerias com as secre-tarias municipais de Sade (CTA) e Desenvolvimento Social, a AAP-VHIV integra o Conselho Municipal Antidrogas (Comad) e participa di-reta e indiretamente dos projetos e programas desenvolvidos por esses rgos. mantida com doaes da comunidade e colaborao de seus associados. A diretoria com-posta por 16 membros e seu corpo de voluntariado, entre apoio direto (corpo tcnico e administrativo) e indireto, conta com 36 pessoas, to-talizando 52 integrantes ativos que doam seu tempo e eficincia.

    ONG Saiba Viveratende 30 mil pessoas por ano

  • REVISTA ATMA 12

    ATMA ENTREVISTA

    Quando voc soube que estava com o vrus HIV?

    Em 2004, aps uma crise de hipoglicemia. Eu trabalhava como enfermeiro particular na rea de geriatria na casa dos pacientes. Detectei o vrus quando comecei a ter vertigens. Quando me ligaram dizendo que havia dado um proble-ma e eu teria de repetir o exame, matei a charada, porque no sou bobo, era pra eu fazer de novo com o objetivo de confirmar o resultado.

    Voc sempre pde con-tar com o apoio da sua fam-lia?

    Sim, graas a Deus, sempre tive muito apoio da minha fam-lia. Meu pai muito consciente, um pai que ama o filho verda-deiramente. Ao contrrio do que acontece com muitos, ele no me deu as costas. Ele me aceitou, me abraou. A minha famlia me abra-ou e os meus amigos tambm (a entrevista foi acompanhada pela amiga dele e voluntria da ONG, a cantora Aracelle Fernandes).

    Parece que voc j tinha uma ideia de que, de fato, po-deria estar infectado. O que baseava essa sua impres-so?

    No momento em que li o diagnstico, tive um baque, mas ao mesmo tempo eu j estava meio que esperando. que um antigo relacionamento meu, durante uma viagem que fiz acompanhando um

    patro, ficou dois meses por aqui. E naquele perodo ele manteve re-lacionamentos diversos, inclusive em troca de dinheiro para comprar drogas. Ele era dependente qumi-co, alis, ramos, porque eu tam-bm fiz uso de drogas. O dinheiro que vinha ia, eu no dava valor. Mas isso pgina virada na minha vida.

    Voc adquiriu o vrus atravs do uso de seringa compartilhada?

    No. Fui infectado por meio da relao sexual. Quando co-meamos estvamos imunes. Pela confiana deixamos de usar o pre-servativo. Sempre fui fiel, a vida toda e em todos os relacionamen-tos, e acreditava que ele tambm fosse. Quem ama confia, e eu amei muito, cheguei a dizer que se mi-nha me precisasse do meu cora-o para sobreviver eu no daria, mas pra ele eu daria, porque eu morreria, mas ele ia viver sempre lembrando de mim, porque teria alguma coisa minha batendo nele. Ledo engano, porque o amor cons-tri, mas tambm destri. E, hoje, o que eu falo nas minhas palestras que mesmo as pessoas casadas que porventura tenham desconfian-a em relao ao parceiro, devem usar o preservativo.

    Como viver com HIV?Para mim, hoje normal. Eu

    acho que no saberia viver sem o HIV mais, pois o vrus faz parte da

    ONG quer reduzir em 50% o nmerode casos novos de HIV em Uberaba

    Apenas amor!

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  • REVISTA ATMA 13

    ATMA ENTREVISTA

    minha vida h dez anos. Eu o do-mino e ajo. Nunca perco a espor-tiva. Hoje em dia fao uso de trs medicamentos.

    Quando as pessoas fi-cam sabendo se afastam? Discriminam abertamente?

    Sim. Eu tinha muitos amigos. Hoje, posso contar nos dedos da mo. Fui empregado domstico de uma amiga. Eu cuidava da filha dela, dava banho, fazia almoo, cuidava das finanas, arrumava a casa. S no lavava e passava, o resto fazia tudo. No dia em que fui casa dela e contei que sou soro-positivo, tomei gua e depois um caf em um copo e o coloquei na pia para lavar. Ela se levantou ime-diatamente, pegou uma esponja do

    lado spero para lavar o copo. No satisfeita ainda usou lcool para desinfetar o copo. Fui embora. Um ano depois nos encontramos ca-sualmente e ela me perguntou por que eu sumi e eu disse que fiquei constrangido com o ato dela. Ela disse que no foi preconceito e me pediu desculpas. claro que a des-culpei. Notei que o sentimento con-tinua, mas no deixei de ser amigo, no entanto, prefiro estar perto das pessoas que me aceitam.

    Voc j perdeu algum depois que comeou o traba-lho de preveno?

    Sim. Uma amiga. O marido dela havia morrido h pouco tempo tambm devido aids e desgos-tosa decidiu abandonar o trata-mento e no resistiu. Mas, ganhei tambm. Temos um voluntrio, que show de bola, o Ivo Gomes, que profere palestras muito boas. Ele assume que soropositivo e fala bem sobre preveno. Ele pintor de autos, est terminando de construir a casa dele e cursa o primeiro perodo da faculdade de Engenharia Civil.

    H pessoas que abando-nam o tratamento?

    Sim, a gente luta, encaminha, se empenha, mas, infelizmente, al-guns abandonam a possibilidade de tratar a doena e manter uma boa qualidade de vida, simples-mente para no se expor. H casos em que os soropositivos preferem correr o risco de morrer a fazer uso

    Nilton Carlos Resende, 54 anos, que foi funcionrio pblico municipal durante 25 anos e trabalhou como cuidador de idosos, hoje preside a

    Associao de Apoio s Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV), fundada por ele em 2009, cinco anos depois de se descobrir soropositivo.

    Extraoficialmente, eu digo que em

    Uberaba e regio (27 municpios),

    at 10% da populao

    pode ser de soropositivos que

    no sabem

  • REVISTA ATMA 14

    ATMA ENTREVISTA

    Ao contrrio do que acontece com muitos,

    meu pai no me deu as costas. A

    minha famlia me abraou

    dos remdios e manter uma rotina de visitas aos mdicos. Acredito que seja devido ao preconceito. Dentro da empresa talvez.

    Em meio a todos esses acontecimentos, voc voltou a amar?

    Estou fechado para o amor. Meu amor a Mel, essa cadelinha linda aqui. Ela no vai me pedir o que eu no posso dar. Ela s quer amor e amor eu tenho de sobra. Ela a minha vida! Quando sinto falta, tomo um banho, relaxo, me distraio. Quando no se est com quem queremos, s vezes ficar so-zinho melhor. Gostoso sentar num bar e, de repente, se surgir um flerte, ser bacana, mas no estou

    procura. Agora, estou preparado para cuidar da associao e para estar com os meus amigos.

    Como voc se define?Sou filho de Deus, sou cris-

    to. Tenho muita f. Deus est em qualquer lugar, qualquer hora, no depende de religio. Leio muitos li-vros espritas. Dependendo da ma-neira que a gente procura pelo Pai, se procuramos com amor e f Ele vai nos dar a mo. Pode demorar, mas vem.

    Voc j teve medo de morrer?

    No, nunca! Estou prepara-do para morrer a qualquer hora. Estou aqui emprestado, cumprindo um plano de Deus. Quando chegar a hora, a hora. Eu gostaria que as pessoas no dessem as costas para quem vive com HIV. A rejeio muito triste. Temos de aproveitar a oportunidade para fazer o bem verdadeiramente. O que eu no quero para mim no desejo pra ningum.

    Como comeou a sua histria com a ONG?

    Logo que me descobri soro-positivo. Sempre pensei em fazer um trabalho de preveno. Coin-cidentemente, em 2004, o meu mdico na poca sugeriu que eu fundasse uma instituio. Depois, chegou uma coordenadora para o CTA, que quando me viu "brigan-do" por direitos, me convidou para fazer o mesmo. Disse que eu seria a pessoa ideal para fundar uma ONG de apoio aos soropositivos em Uberaba. Perguntei como eu fa-ria e ela disse que me colocaria em contato com uma pessoa que tinha um sonho de criar uma instituio para apoiar as pessoas vivendo com HIV na cidade. A Ivone (Apa-recida Vieira da Silva), do Hospital do Pnfigo, que um ser humano maravilhoso. Na poca, ela traba-lhava na DIP. Fizemos reunio, da qual participou tambm a Vera L-cia dos Santos, hoje nossa diretora financeira.

    Em que ano a ONG foi criada?

    Em 2009. Comeamos o trabalho de preveno em locais de maior incidncia e tambm nas boates. No tnhamos materiais, mas fazamos o boca a boca mes-mo. Trabalhamos como podamos. Com assinatura da coordenadora do CTA, agora ns participamos de um projeto que poder trazer verba que nos permitir desenvol-ver melhor o nosso trabalho. Com o apoio da Revista ATMA, durante a feijoada que lanou o incio da captao de recursos para ajudar a nossa ONG, o prefeito Paulo Piau assinou a doao de rea para construirmos a nossa sede.

    O que ter na sede pr-pria?

    Teremos um Centro de Apoio e Convivncia. Pensamos em servir

  • para 28 pessoas, alas masculina e feminina com me social, enfer-maria, consultrio odontolgico, psiquiatria, infectologia. Quero trabalhar tambm com as univer-sidades. Precisamos de um lugar de convvio para que os soropo-sitivos possam interagir, trocar ideia sobre medicao, qualida-de de vida, o que podem fazer para um amanh melhor. Que-ro colocar tambm uma sala, onde funcionar um teatro com cadeira mvel e no local reali-zar oficinas de computao, por exemplo, visando a qualificar as pessoas para voltar ao mercado de trabalho.

    ATMA Como voc re-cebeu o convite para que a ONG que preside seja bene-ficiada pela ao de respon-sabilidade social da revista ATMA?

    Nilton Resende - Com muita emoo. Sem palavras! Tudo o que eu disser no ser su-ficiente para expressar o que esta-mos vivenciando. Nossa associa-o comea a ter mais visibilidade, o nosso trabalho est ficando mais conhecido e, com isso, mostramos as aes que desenvolvemos. A consequncia principal a conso-lidao da credibilidade da ONG. Estou muito feliz de conceder esta entrevista, de dar o meu depoimen-to como soropositivo e de poder fa-lar da associao. Comeamos a ver a populao de Uberaba nos aju-dar e sonho que ela continue con-tribuindo para construirmos a sede prpria da ONG. Acho que com o trabalho que estamos desenvolven-do, com tudo o que est aconte-cendo agora, num futuro prximo Uberaba vai se sobressair muito quanto preveno do HIV. Tenho certeza de que podemos contribuir para a queda de pelo menos 50% no nmero de novos casos.

    REVISTA ATMA 15

    ATMA ENTREVISTA

    As pessoas casadas

    que tenham desconfiana

    em relao ao parceiro, devem usar preservativo

    caf da manh e at almoo, alm de promover atividades de lazer. O projeto prev tambm a instalao de uma Clnica de Sorologia para desafogar o Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM). Fazemos preven-o por meio de palestras, distri-buio de preservativos, e h dois projetos que comeam agora por meio do Conselho Municipal Anti-drogas (Comad). H grandes artis-tas que fazem shows para deduzir do imposto de renda. Como Oscip, podemos pensar nisso e j temos trs nomes na nossa lista.

    Quando voc e demais voluntrios chegam para fa-zer o trabalho de conscienti-zao, como so recebidos?

    Com certo receio. Eu digo que estou ali para ajud-los, por-que j passei pelo que eles esto passando. Se atingirmos o pblico formado por dependentes qumi-cos, ns conseguiremos reduzir a transmisso do vrus porque mui-tos esto por a vendendo o cor-po em troca de R$ 10, R$15 para comprar droga. Fico triste com isso. Alguns dizem que esto h dcadas nessa vida de drogadi-o e eu digo que se eu sa eles tambm conseguiro. O nosso trabalho tambm para quem no tem o HIV, para que venham como voluntrios para nos ajudar a desenvolver as aes da ONG. medida que a associao vai crescendo o corpo de voluntrios vai ficando pequeno.

    Quantas pessoas so atendidas pela ONG?

    Temos como associados no pagantes aproximadamente 500 cadastrados. Envolvendo outros mu-nicpios atingimos uma populao estimada em 30 mil pessoas/ano, tendo um atendimento direto na pre-veno na ordem (em mdia) de 500

    atendimentos/ms. Apesar da evolu-o da medicina, a aids ainda no tem cura e as pessoas que tm o vrus no aparentam que tm. s vezes elas nem sabem. H grande ndice de con-taminao de mulheres e homens que optam por procurar parceiros desco-nhecidos para satisfazer as suas fan-tasias sexuais.

    Existe uma estimativa do nmero de infectados em Uberaba?

    Na regio, incluindo Ubera-ba e 27 municpios da Regional, cerca de 1,5 mil fazem acompa-nhamento mdico em decorrncia da contaminao pelo vrus HIV. Extraoficialmente, eu digo que em Uberaba e regio (27 municpios), at 10% da populao pode incluir

    soropositivos que no sabem da sua condio. Sugiro a quem man-teve relao sexual sem preservati-vo a fazer o teste. Quem no sabe que est com o vrus, pode transmi-tir e se contaminar novamente.

    Qual o seu sonho?Meu sonho construir a sede

    da associao, fazer a primeira pa-lestra l dentro. Vai ter anfiteatro, cozinha industrial, alojamento

  • 18 REVISTA ATMA

    ATMA CAPA

  • REVISTA ATMA 19

    ATMA CAPA

    BonaldiPatricia Patricia Bonaldi a estilista que est entre as preferidas

    das celebridades do Brasil e tambm do exterior. H 13 anos no mercado, a sua trajetria cheia de sucesso. Suas criaes esto no visual das famosas e tambm nas araras dos stylists de novela. Nascida no interior goiano, Patricia se mudou ainda criana com a famlia para Uberlndia, onde iniciou sua inser-o no mundo da moda e onde mantm uma de suas trs lojas prprias. Esto no rol de clientes de seu atelier, Marina Ruy Barbosa, Lala Rudge, Thassia Naves, Alessandra Ambrosio, Anglica, Helena Bordon, Claudia Leitte, Ivete Sangalo, entre outras. Nicki Minaj mais uma starlet a aderir moda brasi-leira. A cantora apostou em um vestido Patricia Bonaldi para sua participao no Good Morning America. Shakira outra habitu das criaes da estilista que por ter morado h muito tempo na cidade do Tringulo, chamada de estilista mineira. O boom de sua trilha fashion comeou quando as clientes que-riam usar as roupas que criava para ela. Convidada pela revis-ta ATMA, Patricia aceitou criar a estampa da camiseta, que a ao de responsabilidade social dessa publicao. A camiseta ser vendida e a renda revertida para a Associao de Apoio s Pessoas Vivendo com HIV (AAPVHIV). "Estou muito feliz em participar de uma ao to bacana."

    ESTAMPA EXCLUSIVApara a camiseta "Saiba Viver"

  • 20 REVISTA ATMA

    ATMA CAPA

    Voc nasceu no interior de Gois e mudou-se logo na in-fncia para Uberlndia. O que a trouxe para terras mineiras?

    Minha me sempre gostou de Uberlndia, e em certo momento, resolveu que era l que gostaria de morar.

    Como foi o seu encontro com a moda? Quando desco-briu que essa era a sua vibe? H quantos anos atua no mer-cado?

    Eu sempre criei minhas pr-prias roupas a partir da adolescn-cia. Quando voltei do perodo que morei no Japo, tinha que abrir um negcio prprio ento resolvi abrir uma loja multimarcas. Este foi meu primeiro contato com a moda. Foi h 13 anos.

    O que startou a grife Pa-trcia Bonaldi, que exibe a sua habilidade para combinar teci-dos de qualidade, detalhes lu-minosos, originalidade e sofis-ticao?

    Logo depois que abri minha loja multimarcas, percebi que as clientes queriam usar as peas que

    eu criava pra mim. Naquele momen-to, comecei a criar peas sob medi-da, e em seguida comecei a criar em forma de colees. Foi a que surgiu a Patricia Bonaldi.

    Com a PatBo voc quis atingir perfil mais jovem e fashion com peas mais casu-ais?

    No vejo como uma mulher mais jovem. Vejo como a mesma mulher que veste Patricia Bonaldi, mas que no est indo a um evento onde o traje seja longo ou to for-mal. A PatBo foi a forma que encon-trei para estar no armrio do dia a dia das mulheres.

    Como as duas grifes che-garam ao figurino das atrizes de novelas, inclusive globais?

    Foi um movimento natural. Quando minhas roupas comea-ram a aparecer nas festas, acredito que em algum momento chamaram a ateno das atrizes, que acabam frequentando muitos eventos como eses. As atrizes foram responsveis por mostrar meu trabalho aos stylists de novela. A partir da uma coisa ali-mentou a outra.

    Alm de atrizes, suas gri-fes so sempre as preferidas das mais belas e elegantes cele-bridades de faixas etrias bem diversificadas. Quando e como voc as conquistou?

    Acredito que como fao roupa para todo tipo de mulher, pensando sempre no que valoriza o corpo, no que sinto que as pessoas querem, este caminho foi natural. Fico feliz quando ouo que as minhas peas, quando vestidas, deixam algum se sentindo especial.

    Voc esperava esse boom todo e que suas roupas agrada-riam at a mercados exigentes como a Europa, a Rssia e o Oriente Mdio?

    Eu sempre trabalhei para fazer algo em que acreditava ser especial e que agradasse o mximo de mu-lheres. O trabalho no internacional foi de prospeco, passo a passo. Ainda temos muito a fazer fora do Brasil.

    A sede de sua empresa permanece em Uberlndia? No incio havia apenas um ponto de venda. Quantos so hoje?

    SocialResponsabilidade

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  • REVISTA ATMA 21

    ATMA CAPA

    ElegnciaEstilo &

    Como se sente em estam-par a capa de uma revista que no apenas de moda, mas com foco na vida?

    Estou muito feliz em partici-par de uma ao to bacana com um cunho social de dar apoio a pes-soas que sofrem com uma doena que ainda causa muita tristeza, no s para os doentes como para todos ao redor. um prazer ainda maior estar em uma capa que pode ajudar pessoas.

    Qual a sua opinio a respeito de publicaes como a ATMA, que propem mais do que belas fotos, mas tambm contedo que tem a superao como destaque?

    Um trabalho como este de extrema importncia. Informao ajuda muita gente a descobrir en-fermidades e procurar tratamento. Se todos conseguirmos fazer a nossa parte, como vocs fazem, consegui-remos melhorar a vida de todos.

    Voc ainda bem jovem e tem uma incontestvel trajetria de sucesso, com nome crava-do entre os bons designers de moda em nvel internacional, com presena nas principais se-manas de moda do Brasil e do exterior. O que ainda almeja? Ainda tenho muitos desafios relacio-nados minha atuao no mercado internacional. Ainda preciso consoli-dar as marcas, apresent-las aos pa-ses, abrir mais pontos de venda. No Brasil o desafio sempre existe, pois quero sempre me reinventar para atender mulher brasileira que est sempre mudando.

    A sede permanece em Uber-lndia, mas alguns departamentos como estilo, marketing e comercial j tm a maior parte da estrutura em So Paulo. Sobre os pontos de ven-da, temos trs lojas prprias, duas em So Paulo e uma em Uberlndia.

    Voc j foi chamada de papisa da moda e dos negcios. O que acha disso?

    No posso concordar (rs). um ttulo muito pretensioso. Prefiro no pensar em nomenclaturas ou t-tulos. Fao pensando no prazer que tenho em criar, em construir algo para as pessoas.

    Voc comeou muito cedo a exercer a chamada respon-sabilidade social empresarial, quando decidiu ofertar cursos para pessoas da comunidade com aulas gratuitas para a for-mao e qualificao de mo de obra. O que a motivou a tomar essa iniciativa?

    Foram dois motivos. Primeiro porque acredito que precisamos incentivar a manuteno das pro-fisses de ofcio. Hoje em dia so funes muito desvalorizadas, mas que eu sou apaixonada. Acho que bordar ou costurar so artes e que precisam ser ensina-das. Ao mesmo tempo que me satisfazia neste sentido, quan-do eu ensino algum a bordar, eu consigo desenvolver talentos para possivelmente t-las como mo de obra na minha fbrica, no fim de tudo gerando empregos ao meu redor.

    Por que aceitou o convi-te para assinar a camiseta da Revista ATMA, ao de respon-sabilidade social da publicao que nesta edio trata sobre HIV/aids?

    A aids uma doena que ain-da causa muita dor a quem tem a doena e s pessoas que convivem com elas. Foi a forma que encon-trei de utilizar meu trabalho e minha imagem para fazer algo pelas pes-soas.

  • "Ser um homem femininoNo fere o meu lado masculino

    Se Deus menina e meninoSou Masculino e Feminino...

    Olhei tudo que aprendiE um belo dia eu vi..."

    Pepeu Gomes

    22 REVISTA ATMA

    ATMA RESPEITO

  • DANILO GOMES E RAFAEL BRAGACAMILA FERNANDA E LETCIA CASSINOGUILHERME DAHAS E TNATA GARCIA

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    do

    ATMA RESPEITO

    REVISTA ATMA 23

  • FICHA TCNICA BAILARINOS MICHELLE DORA

    E RICKY PINHEIROMAKE UP JSSICA CIABOTTI

    HAIR JNIOR SAYOROPRODUO DE MODA E STYLING DANI SALCI

    FOTOGRAFIA FRANCIS PRADOROUPAS VERA TUYCHI

    REVISTA ATMA 25

    ATMA MODA

  • 04 REVISTA ATMA

    VERA TUYCHI

  • REVISTA ATMA 27

    VERA TUYCHI

  • 28 REVISTA ATMA

    VERA TUYCHI

  • REVISTA ATMA 29

    VERA TUYCHI

  • 30 REVISTA ATMA

    ATMA MODAVERA TUYCHI

  • REVISTA ATMA 05

    ATMA MODA

    VERA TUYCHI RUA IRMO AFONSO, 37 | CENTRO

    UBERABA - MG | (34) 3312-0931

  • REVISTA ATMA 33

    ATMA DIREITO

    Assistncia Ao receber o resultado positi-

    vo do diagnstico de HIV, alm do mdico para iniciar os cuidados para o tratamento da doena, Jussara recomenda que a pes-soa procure, tambm, o Servio de Assistncia Ambulatorial Es-pecializado em HIV/Aids, tendo em vista que os profissionais que compem a equipe de tal servi-o oferecem assistncia, preven-o e/ou tratamento direciona-do aos pacientes portadores da doena. Com o auxlio desse servio, segundo ela, poss-vel obter consultas com mdicos especializados na rea, acom-panhamento de profissionais de enfermagem, fisioterapia, nutri-o, psicologia, assistncia so-cial, dentre outros que se fize-rem necessrios para tratamento da enfermidade.

    DisciplinaAo buscar ajuda desses pro-

    fissionais, a professora acredita que o paciente pode aprender a con-viver com sua condio, receber medicamentos gratuitamente, alm de obter conselhos para a melhora de sua qualidade de vida, a fim de diminuir riscos que comprometam o seu bem-estar, os quais possam vir a comprometer e debilitar sua sade. A professora observa que o impacto na vida da pessoa que recebe a notcia do diagnstico positivo gera diversas reaes, que vo do desespero, ao choro, medo, silncio, ansiedade sensao de no saber o que fazer, dentre outros sentimentos. Ela diz que a interveno psicolgica, tan-to durante o perodo de descoberta da soropositividade, quanto durante o perodo de adaptao sua nova condio, de extrema importncia. imprescindvel, tambm, acrescen-ta, que a pessoa procure um grupo de autoajuda, como exemplo, uma ONG, para que no deixe que essas reaes iniciais mudem a sua vida e o levem ao isolamento.

    VIDA POSITIVALei pune com recluso quem

    discrimina soropositivos

    Discriminar o soropositivo e o doente

    de aids em razo de sua condio ou trat-los com preconceito pode resultar

    em pena de recluso de at quatro anos e multa. A afirmao da advogada

    Jussara Melo Pedrosa, professora universitria, mestre e ps-graduada

    pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.

    Ela sugere que a pessoa procure um grupo de

    autoajuda, uma ONG de apoio aos soropositivos, onde eles podem obter

    gratuitamente informaes sobre legislao e aids, e at acompanhamento

    das aes judiciais, se surgirem. Jussara faz

    alguns esclarecimentos sobre os direitos dos

    soropositivos, entre eles o saque integral do FGTS

    e at aposentadoria por invalidez desde

    que comprovada a sua capacidade laboral pela

    Percia do INSS.

  • 34 REVISTA ATMA

    ATMA DIREITO

    12.984/14, que prev: Constitui crime punvel com recluso, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, as seguintes condutas discriminatrias contra o portador do HIV e o do-ente de aids, [...]. Ela observa que o conjunto probatrio relevante e constitui-se como alicerce para a denncia.

    + DireitosFGTSO soropositivo pode fazer o saque integral do Fundo de Garantia

    por Tempo de Servio (FGTS) em razo de doena grave, como o HIV/aids. O inciso II do artigo 1 da Lei n 7.670/88 prev a possibilidade do levantamento dos depsitos do FGTS independente de ruptura do contrato para os portadores da Sndrome da Imunodeficincia Adquiri-da. Para tanto, devero apresentar documento de identificao, nmero de inscrio PIS/PASEP/NIS, Carteira de Trabalho, o atestado mdico fornecido pelo profissional que acompanha o tratamento do paciente.

    Iseno IRA pessoa diagnosticada com aids pode receber os valores, em

    razo de aposentadoria, reforma ou penso, isentos de imposto de ren-da. De acordo com Jussara, os rendimentos provenientes de aposenta-doria, reforma ou penso, recebidos pelos portadores de Sndrome da Imunodeficincia Adquirida, ainda que acumuladamente, no sofrem a tributao do imposto de renda. Para reconhecimento de iseno, a pessoa dever procurar o rgo responsvel pelo pagamento da sua aposentadoria, penso ou reforma e requerer a iseno do imposto de renda que incide sobre esses rendimentos.

    Auxlio-doena A pessoa portadora da doena ter direito ao benefcio do aux-

    lio-doena sem a necessidade de cumprir o prazo mnimo de carncia de contribuio, desde que tenha a qualidade de segurado. Somente deixar de receber o benefcio quando recuperar a capacidade de retor-nar s suas atividades laborais ou quando o benefcio se transforma no benefcio da aposentadoria por invalidez.

    LeiMesmo depois do avano

    da medicina, que tem prolongado a vida dos soropositivos, no Bra-sil, segundo Jussara, h legislao especfica para garantir direitos referentes a atendimento, trata-mento e medicamentos gratuitos; sigilo sobre a sua condio soro-lgica; vedao do exame de aids no teste admissional; permanncia no trabalho; dentre outros bene-fcios. H lei que puna condutas discriminatrias contra a pessoa vi-vendo com HIV ou doente de aids. Jussara comenta que no dia 2 de junho de 2014, entrou em vigor a Lei n 12.984/14, que tipifica a conduta de discriminar o soroposi-tivo e o doente de aids em razo de sua condio, punindo tais prticas com a pena de recluso de um a quatro anos e multa.

    AcompanhamentoA professora conta que exis-

    tem instituies que recebem de-nncias, assessoram vtimas de dis-criminao e preconceito, fornecem informaes sobre legislao e aids, alm de garantirem o devido acom-panhamento das aes judiciais, quando necessrio. O atendimento nas assessorias jurdicas gratuito. No Tringulo Mineiro, diz que so a Associao de Apoio s Pessoas Vi-vendo com HIV (AAPVHIV), situada em Uberaba, e a Associao Ho-mossexual de Ajuda Mtua - SHANA, situada na cidade de Uberlndia.

    ReclusoOs autores sero punidos

    com at quatro anos de priso, de acordo com o art. 1 da Lei

  • REVISTA ATMA 35

    ATMA DIREITO

    Foto

    Div

    ulga

    o

    Dra. Jussara Melo Pedrosa formada em Direito pela Fiube-Faculdades Integradas de Uberaba, atual Uniube, no ano de 1985. Ps-graduada em Direito Privado pela Universidade de Uberaba (1999). Ps-graduada em Direito Pblico pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais (1998). Mestre em Direito Privado pela Universidade de Franca (2002). Professora licenciada da Fundao Presidente Antnio Carlos de Uberaba e da Faculdade de Cincias Econmicas do Tringulo Mineiro. Desde 1.992 professora da Universidade de Uberaba (Uniube) das disciplinas Direito do Trabalho e Estudos Integrados em Direito Trabalhista. membro julgador da 6 Turma do Tribunal de tica e Disciplina da OAB/MG.

    Aposentadoria por invalidezO portador da doena tambm ter direito ao benefcio da apo-

    sentadoria por invalidez, de acordo com percia mdica de dois em dois anos, caso contrrio, o benefcio ser suspenso. Para ter direito ao benefcio, a pessoa dever ter contribudo para a Previdncia Social no mnimo doze meses, em caso de doena.

    TransporteAlguns estados concedem a iseno do pagamento no transpor-

    te coletivo intermunicipal para as pessoas portadoras da doena, tendo assim legislao especfica para cada Estado da federao. Da mesma forma, alguns municpios possuem legislao que isenta o pagamento de transporte pblico municipal, por isso a observncia da lei dever ser verificada na localidade de interesse.

    Prestao continuadaSe o portador de HIV no for segurado do Regime Geral da

    Previdncia Social e esteja incapacitado para o trabalho, com renda familiar inferior a 1/4 do salrio mnimo, tem direito ao Benefcio de Prestao Continuada (a garantia de um salrio mnimo de benefcio mensal). Para receb-lo, deve dirigir-se ao posto do INSS mais prximo e comprovar sua situao. Tal comprovao pode ser feita com apre-sentao de Laudo de Avaliao (percia mdica do INSS ou equipe multiprofissional do Sistema nico de Sade).

    Saque PIS/PasepO pagamento do PIS de responsabilidade da Caixa e o paga-

    mento do Pasep feito pelo Banco do Brasil. Para o saque, os porta-dores da doena devero procurar as referidas instituies financeiras.

    IsenesAlguns municpios isentam os portadores de HIV do pagamento

    de IPTU, assim, os interessados devero se informar na prefeitura da cidade onde residem. possvel a quitao de imvel financiado, se o portador apresentar quadro de invalidez total e permanente, causado pela doena; e impossibilidade financeira de arcar com as despesas. Dever, desse modo, o portador da doena procurar um advogado especializado na rea para orientao das medidas cabveis. Depen-dendo do Estado, h iseno de ICMS, IPI e IPVA, para os portadores de HIV que apresentam deficincia fsica nos membros inferiores e su-periores na compra de veculo adaptado. O portador da doena deve-r procurar os rgos competentes para obter as informaes sobre o procedimento para a iseno.

  • 38 REVISTA ATMA

    ATMA NUTRIO

    Foto

    s Fr

    anci

    s Pr

    ado

    A alimentao sempre o topo de tudo. Na lista de cuidados do soropositivo a ali-mentao tambm ocupa um lugar importante?

    Sem dvida! Hoje em dia a gente sabe que com o uso da carga de antirretrovirais, que pesada, a pessoa com HIV ou mesmo j com a doena manifestada, consegue controlar bem a patologia, em re-lao ao que era antigamente. Um

    efeito colateral dessa carga gran-de de antirretrovirais uma lipo-distrofia, questes que aparecem trazendo uma hipercolesterolemia sangunea que pode progredir para alteraes fsicas. Pacientes que tm como se fosse um pequeno culote em volta do pescoo. uma deformao fsica, mas s percep-tvel por quem conhece o histrico da doena. Por isso, quanto mais cedo for diagnosticado o HIV posi-

    afasta risco de infeces oportunistas

    A nutricionista Thassiana Ceclio frisa que a alimentao correta tambm ajuda no trata-mento da lipodistrofia, um dos efeitos colaterais do uso de antirretrovirais

    ALIMENTAO SAUDVEL

    A gente o que a gente come. A frase no um clich. De acordo com a nutricionista Thassiana

    Ceclio Motta Martinelli, especialista em Interdis-ciplinaridade em Terapia Nutricional, a alimenta-o saudvel essencial para que todos, indistin-tamente, tenham melhor qualidade de vida. Para

    quem tem sorologia positiva de HIV ou com a

    doena j manifestada, os cuidados devem ser

    redobrados para prote-g-los quanto s cha-

    madas infeces opor-tunistas. A nutricionista

    destri alguns mitos, como a contraindica-

    o da carne de porco, bem como alerta para

    a oferta indiscriminada de produtos que nem

    sempre so o que pro-pagam. Confira!

  • REVISTA ATMA 39

    ATMA NUTRIO

    tivo, mais cedo a pessoa comea o tratamento, o que permite a ela ter uma vida regular. As infeces repetitivas so a maior e a pior consequncia da doena e nesta questo entra como fundamental o acompanhamento nutricional.

    H alimentos especficos

    para quem vive com HIV/Aids?De uma maneira geral,

    uma alimentao balanceada. A pessoa deve ingerir uma quanti-dade correta de protena, de car-boidrato e de gordura, que so os macronutrientes. Dentro dessa adequao, o ideal que seja personalizado, ou seja, o clculo individualizado e definir quantos gramas o paciente precisa inge-rir de protena, carboidrato e lip-deo, dentro desta ltima, que so as gorduras, preciso ter uma alimentao voltada para o trata-mento da hipercolesterolemia.

    Como esse controle

    para evitar ou tratar a hiperco-lesterolemia?

    um tratamento convencio-nal em que voc precisa ter um con-

    trole maior em relao s gorduras saturadas, que so os alimentos de origem animal. Ter um controle com referncia carne vermelha. Existe uma sequncia das que tm mais e menos gordura. A carne de carneiro, por exemplo, a que mais contm gordura saturada. As carnes de primeira, patinho coxo mole, so magras em comparao com a alcatra. Quando forem usar a carne vermelha, que seja magra. Dentro do cardpio geral, se for-mos pontuar por semana, ele deve ter menor nmero de vezes carne vermelha e em maior nmero as carnes brancas. Uma vez por se-mana, vermelha e nos demais dias brancas, quando podem incluir o frango sem pele, porque a pele traz carga grande de colesterol; o peixe magro e o lombo de porco.

    Muitos dizem que a carne de porco contraindicada na maioria das circunstncias...

    Depende. Ela ser contrain-dicada se for uma carne gorda, como pernil, costelinha, mas se for magra como a do lombo consi-derada at melhor indicada do que a vermelha.

    Em todos esses casos, importante que a dieta seja in-dividualizada, ou seja, o que pode ser bom para um pacien-te, para outro pode no ser?

    As indicaes de reduzir a gordura saturada e usar carne vermelha apenas uma vez por se-mana, podem ser generalizadas, porque isso conduta. Agora, em

    termos de valor calrico, quantida-de proteica e outras, de preferncia que seja individualizada.

    Que outros cuidados so

    necessrios com relao aos alimentos de origem animal?

    Com os lcteos, sempre queijo e leite magros. Para quem ama comer pozinho com mantei-ga, importante substituir a man-teiga pela margarina. A questo do leo, alguns ficam em dvida. Ain-da dentro do grupo de alimentos, o leo de soja contm mega6, que um protetor para o tratamento da hipercolesterolemia. Depende da situao financeira da pessoa, se ela puder comprar leo mais rico em mega3, de linhaa ou de ca-nola, melhor. Mas se no puder, que use o leo de soja em quanti-dade diminuta. Comida que brilha no boa, no saudvel para ningum.

    E quanto ao grupo dos

    carboidratos? Como deve ser o procedimento?

    O cereal de uma maneira geral, quanto mais integral, me-lhor. interessante substituir o arroz branco pelo arroz integral, o po branco pelo po integral. Isso au-

    As infeces repetitivas so

    a maior e a pior consequncia da doena e

    nesta questo entra como

    fundamental o acompanhamento

    nutricional

  • 40 REVISTA ATMA

    ATMA NUTRIO

    menta a quantidade de fibras e as fibras so um coadjuvante para o tratamento do colesterol.

    Que outros alimentos so bons para o tratamento do colesterol?

    As hortalias. Hortalias de folha verde que tm talo, e que de preferncia sejam ingeridas cruas, so bem ricas em fibras insolveis e importantes para ajudar no trata-mento do colesterol. A dieta do HIV positivo ou que j estejam com a doena instalada deve ser rica em hortalias e frutas ricas em vitamina C. As frutas amarelas, avermelha-das, alaranjadas, como cenoura, beterraba, laranja, alm de conte-rem muita vitamina C tambm tm muita vitamina A, contendo os fi-tosteris e os carotenoides, que so auxiliadores na melhora da imuni-dade. uma alimentao balance-ada, no tem novidade aos nossos olhos.

    Parece simples, mas per-

    cebe-se que h certa resistn-cia da maioria das pessoas, no ?

    Lamentavelmente as pessoas nem sempre a adotam. E nem pre-cisa ser uma alimentao cara. O nosso arroz com feijo, a carne, que a alimentao bsica do brasilei-ro, e acrescentar a verdura e a fruta. s vezes as pessoas gastam muito dinheiro com outras coisas, que so at mais caras em termos de alimen-to industrializado. Que deixem para gastar tudo num sacolo. No card-pio ideal deve ter pelo menos quatro frutas/dia, arroz, feijo e carne (ver-melha uma vez por semana e branca nos demais) e hortalias.

    Pode-se dizer que essa

    mudana de hbito ajudar bastante o paciente?

    Os antirretrovirais cobrem a pessoa dessa parte, a no ser que

    a doena j esteja instalada e o pa-ciente no tenha acompanhamento nenhum, qualquer doena infec-ciosa uma doena oportunista para esse grupo de pessoas. Mas o prprio antirretroviral protege, ele trata para que haja diminuio da carga de CD4. Ela diminui quan-do h um processo infeccioso em qualquer um de ns. A alimentao entra para favorecer o tratamento.

    Como conscientizar as

    pessoas a manterem uma ali-mentao balanceada, inde-pendentemente da sorologia positiva de aids?

    Felizmente, hoje em dia a gente fala um pouco mais de ali-mentao, de nutrio. falar. Ajudar as pessoas, esclarecendo, por isso que essa revista to im-portante. esclarecer com infor-maes reais, porque atualmente em nutrio h muito mito. H muita coisa associada ao mercan-tilismo, busca do dinheiro pura e simplesmente. H quem esteja vendendo apenas para ganhar di-nheiro e as pessoas que compram acham que esto comprando sa-de, porque esto mal informadas. preciso tomar cuidado. um trabalho de formiguinha.

    Quando as pessoas op-

    tam por adotar uma alimen-tao saudvel, o que acon-tece?

    Quem entra na aventura da alimentao saudvel se sur-preende muito. muita coisa boa que acontece. Modifica o fsico dela, aumenta a disposio para a vida, porque a gente o que a gente come. Isso no um clich, verdade. O cuidado para todos, claro, comea na preveno, com o uso do preservativo, depois vm os outros e com a alimentao so essenciais.

    A senhora tem conheci-mento das atuais estatsticas relacionadas aids?

    O HIV positivo esteve em reduo na dcada passada, mas est aumentando novamente e muito. Os antirretrovirais melhora-ram muito a qualidade de vida de quem vive com HIV, mas as pes-soas ainda morrem de aids. No porque temos como tratar, que devemos abrir guarda. Para uma pessoa HIV positivo, mesmo que j tenha detectado no incio e entrado com a carga de antirretrovirais, um simples resfriado significa um risco muito maior do que para quem no tem. No o antirretroviral que vai isent-la dessa situao de risco. A doena est controlada tomando como parmetro o que foi h trs dcadas, mas a cura no existe. Manter os cuidados com a alimen-tao ajudar que eles tenham um tempo de vida maior e qualidade de vida melhor. A alimentao sau-dvel ajuda na preveno para to-dos, principalmente para quem tem essa janela de imunidade aberta.

    Thassiana Ceclio Motta

    Martinelli graduada em Nutrio e especialista em Interdisciplinaridade em Terapia Nutricional. Atua em consultrio, na rea de Nutrio Clnica, desde agosto de 2002, com vasta experincia em atendimentos direcionados a gestantes, crianas, adolescentes, adultos e idosos. Grande know-how em acompanhamento nutricional para pacientes baritricos pr e ps-operatrio. Foi docente da Universidade de Uberaba durante cinco anos ministrando as disciplinas de Diettica e Materno Infantil. Thassiana autora de um trabalho de iniciao cientfica com o ttulo Avaliao do Estado Nutricional de Pacientes do Ambulatrio de Doenas Sexualmente Transmissveis (DST/Aids).

  • 42 REVISTA ATMA

    ATMA SADE PBLICA

    Terapia - As famlias tendem a ter muita confiana no mdico do PSF e geralmente travam uma conversa mais pessoal com o m-dico. Marzio diz que uma palavra s vezes mais teraputica do que um comprimido. Alguns pacientes preferem uma terapia medicamen-tosa, de sair com a receita e pronto, mas outros se sentam diante dele e conversam bastante. O mdico per-cebe que muitos querem ser ouvidos e saem mais leves, com a receita tambm, mas com outro semblante.

    Sem acomodao - A me-dicina no se limita a ouvir a quei-xa, diagnosticar, pedir exame e tratar. H perodos em que devido alta demanda e presso externa o mdico no consegue dar tan-ta ateno quanto gostaria. Eu sempre dizia aos meus alunos que a medicina muito ampla, a gen-te nunca pode fechar a viso ou perder o frescor da viso, que est

    mais evidente em quem acabou de formar. preciso ter a conscincia de que est sempre aprendendo e que cada paciente um, e no se acomodar.

    Preveno - Esta edio da revista trata o tema HIV/Aids e Mar-zio explica como a questo pbli-ca neste aspecto. Quando se fala

    UBS foca Educaoem Sade e Atendimento Humanizado

    O mdico Marzio Neto diz que no trabalha na UBS para julgar o paciente, mas para acolh-lo e, se for o caso, trat-lo

    A prioridade do atendimento na Unidade

    Bsica de Sade (UBS), ligada ao Programa Sade da Famlia (PSF) so o aco-lhimento e o vnculo com o paciente. O mdico Marzio

    de Souza Pereira Neto, cuja paixo pelo SUS surgiu

    ainda durante a gradua-o, explica que feito um pronturio familiar, porque

    se h algum com pro-blema de sade, a famlia toda adoece. Na consulta

    o paciente atendido com uma viso mais ampla.

    Quando esto acamados ou sem condies de se

    deslocar, o mdico faz a vi-sita em domiclio seguindo

    as normas pertinentes.

  • REVISTA ATMA 43

    ATMA SADE PBLICA

    em HIV/Aids no SUS, o principal, cita, a preveno. Para ele, que est na porta de entrada para pa-ciente SUS, a prioridade explicar as formas de evitar a doena. Le-vando-se em conta a gravidade da doena, a nossa principal funo esta. Isso previne o adoecimento do paciente e uma srie de outras coisas como o custo. Quanto me-nos paciente doente, menos custo e melhor o tratamento de quem j desenvolveu a doena. a cha-mada educao em sade.

    Diagnstico - Em segundo lugar, o paciente saber que tem o vrus ou a doena. O grande pro-blema ele no ser diagnosticado. preciso diferenciar bem o HIV e a aids. A pessoa pode ter o vrus HIV e no ter aids. O HIV quando a pessoa tem o vrus e a aids quan-do a pessoa j adoeceu.

    Jovens - O grupo que tem apresentado aumento expressivo de casos de HIV/aids o de adolescentes. difcil traar um motivo exato para isso. Acredita-se que seja pelo fato de eles j serem a terceira para quarta gerao fora do advento do boom da aids, na dcada de 80, quando mor-reram pessoas famosas e que deram notoriedade doena, como Cazuza, Renato Russo, Freddie Mercury. O pre-conceito era muito grande. Estava se construindo o panorama do que seria a doena. Era uma sentena de morte, os sintomas horrorosos e efeitos colate-rais devastadores.

    Alarmante - Os jovens es-to bem informados, mas optam por correr o risco e isso muito pre-ocupante, porque o HIV/Aids mata. A pessoa pode at no morrer de aids, mas de alguma doena opor-tunista, pois, o HIV ataca o sistema imunolgico da pessoa. Entende ser preciso mostrar a realidade para esses jovens, sem terrorismo,

    claro, mas preciso cham-los responsabilidade. Como o diabti-co fica em relao ao acar, como o hipertenso fica em relao ao sal as pessoas tm de estar atentas ao preservativo.

    Prognstico - O mdico frisa que o principal o paciente se diagnosticar para no correr o risco de infectar outros Quem se exps a uma situao de risco tem de se testar. O paciente muitas ve-zes prefere no encarar, a gente no questiona, mas quanto mais tempo passa, mais ele perde em prognstico, em tempo de vida. Quem tem suspeita deve ir UBS e receber as orientaes. Marzio faz questo de ressaltar que no est na Unidade para julgar o paciente, mas para trat-lo e pensar daqui pra frente. Sob hiptese alguma passaria lio de moral, e falaria de responsabilidade ou irrespon-sabilidade. Se der negativo, cuidar para que no acontea."

    Tratamento - Esse dilogo interfere na adeso do paciente, segundo Marzio. Quando o paciente recebido por um profissional com abordagem que deixa o paciente com conscincia pesada no vai fazer o teste e no vai aderir ao tratamento. Tem de se sentir acolhido, at porque se o resultado for positivo, o principal prejudicado ser o prprio paciente. No CTA-Centro de Testagem e Acon-selhamento colher o exame e recebe-r o resultado por equipe capacitada. O paciente ser acompanhado pelo infectologista que prescrever a medi-cao. A abordagem no encerra com o diagnstico, porque ele voltar. So crianas, jovens, adultos, mulheres em idade frtil, idosos e est sempre pre-parado. Na UBS a abordagem mais ampla e no s mdica multidisci-plinar, ou seja, enfermeira, psicloga, assistente social, enfim. H pacientes que vm de uma desestruturao fami-

    liar devido s vezes ao lcool e outras drogas.

    Mulheres - A maior parte do pblico que procura a UBS forma-da por mulheres, entre elas muitas gestantes. Atende as que tm diag-nstico positivo de HIV, mas nunca v os parceiros delas e eles podem estar numa janela imunolgica, pe-rodo em que o vrus no aparece, mas pode ser transmitido e dura de 30 a 60 dias, uma margem grande, por isso no feito um exame s, preciso repetir em casos tambm de acidentes de trabalho. H distribui-o de preservativos na rede.

    Informao - Para o mdico, o acesso informao no pode ser subestimado em relao ao HIV e outras patologias. Antes pecar pelo excesso. Destaca que a adeso do paciente que tem o mximo de infor-maes mais efetiva. Quem toma a medicao sem saber o motivo tende a deixar o tratamento. Quan-do ele sabe a gravidade do que tem, a importncia do tratamento, faz o acompanhamento direitinho e no atribui a responsabilidade 100% para o profissional mdico. Que-ro que o paciente entre aqui e seja informado sobre todos os aspectos da doena para poder tratar e viver com mais qualidade de vida. Esta a nossa misso."

    Dr. Marzio de Souza Pereira Neto formado em Medicina pela Uniube-Universidade de Uberaba (2008). Durante a graduao atuou como preceptor. Apaixonou-se pelo trabalho no SUS ainda antes de concluir o curso. Atua na Unidade Bsica de Sade (UBS) Dr. Roberto Abdanur, no bairro Santa Marta, h sete anos.

  • 44 REVISTA ATMA

    ATMA SADE

    A fragilidade do sistema imu-nolgico em pessoas com mais de 60 anos dificulta o diagnstico de infeco por HIV, vrus causa-dor da aids. Isso ocorre por que, com o envelhecimento, algumas doenas tornam-se comuns. E os sintomas da aids podem ser con-fundidos com os dessas outras infec-es. Tanto a pessoa idosa quanto os profissionais da sade tendem a no pensar na aids e, muitas vezes, negli-genciam a doena nessa faixa etria. Segundo especialistas, o diagnstico tardio de aids permite o aparecimen-to de infeces cada vez mais graves e compromete a sade mental (po-dendo causar at demncia). Quan-to antes comear o tratamento corre-to da aids, mais o soropositivo ganha em qualidade de vida. Por isso, re-comenda-se fazer o teste. rpido, seguro e pode ser feito em qualquer unidade pblica de sade.

    Diagnstico tardio permiteaparecimento de infeces

    Tratamento - O acolhi-mento da pessoa idosa soropositi-va pela equipe do servio assume um papel de grande importncia a fim de que possam, conjunta-mente, acompanhar e delinear um plano teraputico e superar eventu-ais dificuldades do tratamento. Em funo de alteraes tpicas nessa faixa etria (dificuldades visuais e da memria para fatos recen-tes), sugere-se: o uso de letras de tamanho visvel nas prescries em geral e sempre que necess-rio encaminhar o paciente para avaliao oftalmolgica; identifi-car se as informaes foram bem compreendidas e memorizadas; valorizar estratgias para evitar os esquecimentos no uso da medi-cao (despertadores, lembretes no celular, tabelas com horrios e doses em locais estratgicos da casa etc).

    Fragilidade

  • REVISTA ATMA 45

    ATMA ODONTOLOGIA

    As leses bucais esto forte-mente associadas infeco pelo HIV, sendo que os portadores apre-sentam, geralmente, os primeiros sinais clnicos da doena na cavi-dade bucal. Dessa forma, extre-mamente importante a realizao de um detalhado exame clnico por parte do cirurgio-dentista para o estabelecimento de um diagnstico precoce, promovendo benefcios

    para o paciente em relao ao seu tratamento.

    As leses orais associadas infeco do vrus HIV podem ser fngicas, bacterianas e virais, alm de processos neoplsicos e leses de natureza desconhecida. Dentre estas manifestaes orais as mais frequentes so: candidase, gen-givite ulcerativa necrosante, perio-dontite ulcerativa necrosante, leu-coplasia pilosa, herpes simples e sarcoma de Kaposi.

    Como a frequncia ao den-tista muitas vezes maior que ao mdico por parte da populao, a realizao de um minucioso exa-me clnico da cavidade bucal de extrema importncia, pois atravs dele possvel identificar leses frequentes em pacientes que vi-vem com HIV/aids, possibilitando

    ao cirurgio-dentista ter a primeira suspeita de que a pessoa seja HIV positivo.

    Importante! Muitas vezes o cirurgio-dentista quem d o pri-meiro alarme para diversas ma-nifestaes patolgicas sistmicas que tambm se manifestam na boca como o cncer e o HIV.

    Pea ao seu dentista para que faa o exame da cavidade oral por completo!!!!

    A preveno e o diagnstico precoce ainda so a melhor arma contra qualquer mal.

    Dr. Fbio de AzevedoCirurgio Dentista CRO/MG 24973Fone: (34) 3322-9935

    O Dentista e oHIVPor Dr Fbio de Azevedo

    Existe risco de o paciente se infectar com o vrus da aids durante o tratamento

    odontolgico?No, desde que os instrumentais que tenham sido utilizados em

    pacientes com HIV/aids tenham sido esterilizados corretamente.O dentista pode solicitar o

    exame anti-HIV?Sim, desde que o paciente

    concorde e tenha o conhecimento dessa solicitao.

    O paciente HIV positivo deve informar ao dentista a sua

    condio?Sim, pois sendo este um paciente imunodeprimido, alguns cuidados

    especiais devem ser tomados com esse paciente, como por

    exemplo cobertura antibitica aps exodontias.

    DR. FBIO RESPONDE

  • 46 REVISTA ATMA

    ATMA SADE PBLICA

    A cada trs soropositivos

    no mundo, um tem menos de 25 anos

    No Brasil, a estimativa de que 734 mil pessoas estejam com sorologia positiva para

    HIV, segundo dados do Ministrio da Sade. Destes,

    a gerente do Programa Municipal de DST/HIV/Aids, Hepatites Virais/CTA, Maria Clara de Vasconcelos Afonso, diz que h 1.140 pacientes em acompanhamento na

    cidade, alm de outros que fazem tratamento no Hospital Universitrio Mrio Palmrio (Uniube), Hospital de Clnicas da Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM) e

    em consultrios particulares.

  • REVISTA ATMA 47

    ATMA SADE PBLICAEstatsticas - O Relatrio

    da Unaids mostra que a cada trs pessoas infectadas em todo o mun-do, uma tem entre 15 e 24 anos. As campanhas de preveno evi-denciam o quanto preveno essencial. Esses jovens esto cons-cientes da necessidade de fazer o uso do preservativo e o fazem no inicio de um relacionamento, entre-tanto, segundo Maria Clara, com pouco tempo de namoro j con-fiam no (a) parceiro (a) e deixam de usar; j consideram parceria fixa e a partir da se acham imunes contaminao.

    Apoio - O Centro de Tes-tagem e Acompanhamento (CTA) realiza campanhas, palestras e tra-balhos com populaes mais vulne-rveis conscientizando-as sobre os riscos da relao sexual sem prote-o no apenas com referncia aids, mas tambm s demais DSTs. O Programa Municipal conta com uma Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP), a Associao de Apoio s Pessoas Vivendo com HIV, que realiza tra-balhos de preveno e orientao e de apoio aos soropositivos e aos que j desenvolveram a aids. H uma parceria que pode ser tratada com mais afinco e assim trabalhar-mos de mos dadas, pois lutamos pela mesma causa.

    Preveno - O CTA atende os sete municpios da microrregio e tambm de outros estados. Para que os casos diminuam, na avalia-o da gerente, imprescindvel continuar trabalhando com cons-cientizao sobre a necessidade do uso de preservativos em todas as relaes sexuais, mostrando que a preveno ainda a nica forma de no haver contaminao.

    Teste - A realizao da tes-tagem para o HIV pode ser feita no CTA. No caso das gestantes h necessidade de solicitao mdica para os exames de pr-natal, se o teste for por demanda espontnea no h necessidade de solicitao mdica. A entrega do resultado, segundo Maria Clara, feita por profissionais capacitados. No caso de resultado positivo para o HIV marcada consulta com o mdico infectologista e ele aps a realiza-o de exames complementares quem decidir se haver necessida-de de entrar com os antirretrovirais. Se for gestante, ela encaminhada para o ambulatrio AMIGO (Maria da Glria/UFTM), onde ser acom-panhada pela equipe do ambulat-rio que trata gestantes de alto risco. Ressalta que todo o tratamento gratuito. A equipe multiprofissio-nal do SAE-Servio Ambulatorial Especializado composta por dois mdicos, dois psiclogos, uma en-fermeira, uma farmacutica, um dentista, uma assistente social e duas tcnicas de enfermagem.

    34 3333-7787 34 3331-0550

    CTARua Marechal Deodoro, 166

    Bairro So Benedito

    CENTRO DE TESTAGEME ACONSELHAMENTO

    Maria Clara de Vasconcelos Afonso A preveno ainda a nica forma de no haver contaminao com o HIV, e ela feita com o uso de preservativos"

  • 48 REVISTA ATMA

    ATMA INFECTOLOGIA

    Pode-se dizer que a aids uma epidemia?

    um termo interessante, ou seja, aquilo que surge acima do es-perado para determinado evento. Deveria ter um nmero de casos e foi muito alm. Na realidade, a aids continua sem controle. Esta uma das grandes preocupaes. No poderamos ter casos de aids, porque uma doena transmiss-vel, ento deveramos ter medidas para prevenir, proibir, coibir, para ela no existir. Esses paradigmas vm mudando com as novas con-dutas dos protocolos de tratamen-to. voc tratar todo mundo, in-

    O crescimento da aids entre jovens de 15 a

    29 anos demonstra que as campanhas de conscienti-zao cada vez mais raras

    perderam efeito desafiando autoridades mdicas, pais

    e professores. A mdica infectologista Cristina Hueb

    Barata, coordenadora da Comisso Hospitalar de Vigilncia em Sade do Hospital de Clnicas da

    Universidade Federal do Tringulo Mineiro (UFTM), acredita que a preveno

    deve comear em casa com os pais e se estender para

    as escolas, j no Ensino Fundamental, com crianas a partir de 10 anos, j que

    a sexualidade tem aflorado precocemente. Confira a ntegra da entrevista, em

    que a doutora tambm aborda temas que envol-vem medicao e ainda o

    fato de muitos soropositivos e/ou doentes de aids no revelarem famlia a sua

    condio.

    Jovens no acreditam que

    AIDS MATAdependente de ser ainda apenas soropositivo e no ter a sndrome, que quando ele adoece. Antes, pela dificuldade de aquisio de novos medicamentos, pelo custo mesmo, efeitos colaterais, a im-previsibilidade de quanto tempo iria usar de medicao, s se tra-tava pessoas com a doena, com a condio de imunodeficincia. Hoje, no. Hoje, faz-se a sorologia, se der positivo, j inicia a terapia, e outras medidas, que a pr e a ps-exposio para aquelas pes-soas com comportamento de risco que o governo tambm tem dis-pensado medicao.

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  • REVISTA ATMA 49

    ATMA INFECTOLOGIA

    Na dcada de 80 falava--se na existncia de um grupo de risco, mas h muito que isso acabou, no ?

    Acabou! O que existe o comportamento de risco. O prin-cipal o sexo sem proteo. Esse realmente o fator fundamental, porque o maior nmero de casos por transmisso sexual, aproxima-damente 98%. No h outra me-dida mais efetiva do que o uso do preservativo para prevenir contra o HIV. E o uso de maneira correta. preciso ter cuidado para colocar e retirar e quanto ao uso de produ-tos, porque alguns comprometer o ltex do preservativo. H todo um ritual e no apenas para a aids, mas para qualquer outra DST. Ns, infectologistas, estamos muito pre-ocupados com o aumento assus-tador da sfilis. O nmero acima de 60 vezes a quantidade de casos dos ltimos dez anos, segundo o Ministrio da Sade! E ela entra da mesma maneira que entra a aids. No esto se prevenindo.

    E quais so as consequncias da sfilis?A sfilis adoece a gestante,

    a gestante adoece o filho e o filho nasce com sequelas ou mesmo no nascem, pois h abortos relacio-nados. De um modo geral, a sfilis compromete rgos nobres, pode comprometer o crebro, o corao, e a pessoa acha que s uma ferida no rgo genital. E a leso sara so-zinha. Em trs dias some e a pessoa acha que est curada. Depois vm umas formas que a gente chama de secundarismo, tercearismo, latente. A melhor maneira o sexo protegido.

    Em que faixa etria o n-

    mero de casos de aids tem as-sustado mais a classe mdica?

    Tem nos assustado muito que a populao hoje que tem maior risco de 14 a 29 anos.

    Nesta faixa est o maior crescimen-to de casos atualmente. Eles no acreditam que a doena mata ou que vo pegar. Essa gerao no viu os casos graves do incio da epidemia quando no havia op-o teraputica. Eles no viram as pessoas na fase de definhamento, sequeladas, em cama. No tm essa memria para poder pensar. Pensam que se tiverem uma rela-o desprotegida, depois tomam um remdio ou tomam antes de ir para a balada e junto vem droga. O uso de droga nesse grupo tam-bm cresceu muito. As drogas ilci-tas que eles costumam chamar de recreativas, s para dar um embalo na noite e perdem um pouco a ca-pacidade de refinar as condutas.

    Na faixa de 14 a 29 anos est o

    maior crescimento de casos

    atualmente. Eles no acreditam que

    a doena mata

    A senhora pode afirmar

    que a epidemia vem mudando ao longo dos anos?

    Sim, vem mudando. No in-cio eram 40 homens para uma mu-lher infectada, hoje a relao de duas mulheres para cada homem. A mulher est muito mais exposta, porque no existe mais o grupo de risco. que como a doena iniciou na relao entre homossexuais, fi-cou muito confinada a homens, mas agora com esse perfil, acaba

    equiparando homem e mulher com a mesma chance de adoecer.

    O que preciso fazer

    para tentar mudar essa rea-lidade que pode vitimar cada vez mais os jovens?

    Teramos que ir para as esco-las, j no ensino fundamental. Co-mear a trabalhar com crianas de 10 anos. A sexualidade est cada vez mais precoce. As crianas es-to expostas a essas manifestaes em TV, internet, cinema, enfim, est banalizado o fato de ter rela-o sexual sem compromisso, sem fazer parte de um relacionamento efetivo. preciso que os pais traba-lhem em casa a questo do uso do preservativo. Muitos pais no fazem isso. Digo sempre: gente, preservati-vo igual cotonete, voc tem de ter em vrios lugares, no carro, porque

  • 50 REVISTA ATMA

    ATMA INFECTOLOGIA

    hoje est muito fcil. Antigamente, para se fazer uma estripulia dessa era arrojadssima. Tinha de casar virgem, ter uma relao estvel, com par-ceiro conhecido. Hoje, quem quiser partir para um relacionamento sem proteo, ambos tm de testar (teste antiaids) e fazer um pacto de fidelida-de, o que nas relaes espordicas e eventuais no existe.

    E o que se pode dizer para

    esses jovens e crianas, enfim, com relao ao que acontece com as pessoas infectadas?

    Tem de mostrar que a pessoa vai demorar a perceber que est infectada. Este o primeiro ponto. Se ela teve algum comportamento, alguma situao de risco, que co-mece a fazer os testes o mais rpido possvel para prevenir contra o que pode vir. Outra situao a gente falar que a aids no tem cura. Isso tem de deixar bem claro. A doen-a fica sob controle, ela cronifica, mas a cura ainda no. H vrios estudos, momentos diferentes, mas a cura no tem.

    Quem j soropositivo pode se relacionar sem preser-vativo com o parceiro tambm infectado?

    O preservativo no pode ser dispensado nem nesta situao. Mesmo que o parceiro seja tambm soropositivo, os vrus so diferentes, eles se adaptam ao organismo de cada pessoa. Ento, neste caso, a cada relao a pessoa estar sen-do novamente infectada. Pode ficar o tempo todo submetida a uma nova carga de infeco. lgico, nas pessoas que tomam o medica-mento, em que a carga viral esteja baixa e o vrus mais enfraquecido, a chance de troca menor, mas a gente orienta: mesmo casais soro-concordantes (os dois serem soro-positivos) a gente aconselha o uso do preservativo.

    Os sintomas continuam

    podendo ser confundidos com os de outras doenas?

    O sintoma inicial da infeco aguda um quadro de virose. Pode ter febre, mal estar, dor de cabea aumento dos linfonodos (nguas), diarreia. E esses sintomas somem. Podem indicar a entrada do vrus. um vrus de replicao lenta, o or-ganismo vai ao longo do tempo se adaptando. Ele pode ter a primeira manifestao entre dois a oito anos aps a infeco. Quem teve algum comportamento que suscitou vrus, deve fazer o teste. Ele sensvel, com 15 dias j possvel ter o resultado.

    Quantas pessoas esto

    em tratamento de aids em Uberaba e regio?

    No Brasil, o primeiro caso de aids foi de um homem natural de Uberaba, mas que morava em So Paulo. Em acompanhamento conosco, no Hospital de Clnicas da UFTM, usando medicao h aproximadamente 1000 pessoas da regio de Uberaba, que en-globa as cidades de Arax, Frutal,

    Planura, Santa Juliana e outros da macrorregio do Tringulo sul, fora os atendidos pelo Centro de Testa-gem e Aconselhamento (CTA).

    A medicao no Brasil

    ainda distribuda de forma gratuita?

    Sim, o Brasil o nico pas que oferece todas as opes de medicamento de forma gratuita. Alguns pases da frica esto dis-ponibilizando, mas ainda de for-ma restrita. No h distribuio de todas as classes. O Brasil oferece tudo, desde a medicao da dca-da de 80 s de ltima gerao.

    Por que o Brasil conse-

    guiu esta condio?O Brasil tinha um estudo in-

    dicando que haveria progresso geomtrica assustadora, de dois a trs milhes de mortes devido aids, ao longo de dez anos, levan-do em conta os altos ndices regis-trados envolvendo a promiscuidade e a falta de controle. Com a esti-mativa de ter milhes de pessoas doentes usando o sistema de sade nosso que no to diferenciado, que muitas vezes dificulta o acesso ateno, e caro. Ento, decidiu--se investir na desospitalizao do paciente, porque a hospitalizao um processo muito dispendioso. Trabalhou muito bem isso e tam-bm a quebra de patente. Assim, os nossos laboratrios comearam a produzir os medicamentos, o que permitiu a distribuio gratuita. um programa caro, corresponde a um tero do custo de todo o pro-grama de distribuio de medica-mentos do Brasil para qualquer outra doena. Temos malria, cha-gas, hansenase, tuberculose e a aids consome um tero de tudo.

    Mesmo com medicao gratuita, observa-se que mui-tos desistem do tratamento. A que a senhora atribui esse comportamento?

    preciso que os pais trabalhem

    em casa a questo do uso do preservativo.

    Muitos no fazem isso e essencial para a preveno

    eficaz

  • REVISTA ATMA 51

    ATMA INFECTOLOGIA

    A adeso um problema srio devido caracterstica da do-ena, que estigmatizante e gera preconceito. Muitos preferem no se expor na hora de buscar a me-dicao, de falar que tomam, ti-ram rtulos, escondem. E tem o perfil do paciente, que s vezes dogradicto, alcolatra; pode ser preso no perodo e perde aces-so medicao. complexo. No Brasil, fala-se em adeso de 60%, ndice extremamente baixo. Ns temos feito um trabalho muito bom com o servio social nosso. Aqueles pacientes que aderem, no internam mais. Os internados atualmente so pessoas que nun-ca aderiram ou desconheciam a sua condio de infeco ou diag-nstico j com uma doena grave, ou eram aqueles pacientes que falharam. Hoje no temos aquele volume grande de internaes, mas as que temos so de alta comple-xidade, so doentes de longa per-manncia, doenas altamente de-bilitantes e de custo elevado.

    O preconceito continua

    sendo o maior obstculo para que eles assumam a condio de soropositivo?

    Sim! Eles preferem no fa-zer exame, no procurar assis-tncia mdica, porque sabem que sero discriminados. importante dizer que o teste annimo. Nos centros de testagem e aconselha-mento (CTAs), as pessoas no so identificadas. Se o resultado der negativo, acabou. Se der positivo, preciso abrir a identificao para os trmites do protocolo para ela entrar no sistema e ter direito a todos os medicamentos, exames, enfim. No incio as pessoas ten-dem a esconder mesmo. Eles tm medo de abrir, de perder emprego, estabilidade, os filhos.

    As pessoas com aids tm morrido devido a outras doen-as?

    Hoje quem toma o medi-camento no morre pela imuno-deficincia, mas pelo surgimento de doenas oportunistas, que so aquelas infeces que o organismo perdeu a capacidade de controlar. Temos visto as pessoas morrerem de doenas cardiovasculares, ne-oplasias, por um outro acidente, mas h sobrevida tambm. Temos pacientes conosco em tratamento desde o incio da dcada de 90, j com 20 anos de diagnstico e es-to bem. Apesar de a doena estar sob controle com o medicamento, a presena do vrus por ser em la-tncia, um vrus que finge que est dormindo e por isso no tem cura, envelhece o sistema imunolgico e a prpria condio fsica da pes-soa. Quem tem de 40 a 50 anos e soropositivo tm doenas de pes-soas de 70/80. Ocorre um enve-lhecimento precoce. Cnceres que apareceriam na terceira idade atin-gem pessoas de 30/40. Chama-mos de imunossenescncia. Mas o grupo de idosos com aids tambm

    cresceu muito, devido liberao sexual.

    Como o momento de a senhora revelar o diagnstico?

    Depois de muitos anos traba-lhando nessa rea, desde 1983, h 32 anos, portanto, a gente sabe o momento certo. Apesar de eu no fazer pediatria tive crianas com o diagnstico com 12/13 anos, que a gente trabalha junto com a psi-cloga. Transmisso por relao sexual. Ns vamos trabalhando at o momento em que o prprio paciente pergunta o que ele tem. Algumas pessoas choram e ficam desorientadas. Atualmente mais confortvel dar o diagnstico, por-que tem a terapia, mas imagine no incio da epidemia quando no ti-nha medicamento efetivo. Surgiu o AZT, que era importado, carssimo, raro no Brasil, e o soropositivo ti-nha de tomar de 18 a 22 compri-midos por dia. J houve casos em que ao saber o diagnstico, em trs dias o soropositivo estava morto de tanta tristeza, depresso e angstia.

    Doutora Cristina Barata: Hoje no temos volume grande de

    internaes, mas as que temos so de alta complexidade, so

    doentes de longa permanncia, doenas altamente debilitantes

    e de custo elevado Foto

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  • Outros falam que vo virar celiba-trios, mas com o passar do tempo, quando veem que podem ter vida normal, vo retomando sua rotina, mas o momento do diagnstico ainda muito impactante.

    Nesse momento o apoio da famlia vem em primeiro lu-gar?

    Nem sempre isso possvel. Muitos soropositivos no abrem, no contam para a famlia. O mdico no tem direito de contar para nin-gum, a no ser para o paciente. A nica exceo se ele tem um rela-cionamento fixo e no conta. Passa a ser um problema jurdico. A partir do momento que a pessoa sabe e mantm relacionamento expondo o outro, uma infeco deliberada, um crime. Damos oportunidade para que a pessoa conte. Esperamos. Se no conta, ns chamamos o parceiro fixo e revelamos. A maioria conta. Nesses anos todos, tivemos de abrir para o outro parceiro, revelia, trs ou quatro casos.

    Para quem fez o teste e o resultado negativo, que reco-mendao a senhora faz?

    Que ele refaa o seu compor-

    tamento, repense a situao, imagine o estresse que enfrentou enquanto esperava o resultado. Que torne isso um modelo para ponderar. A gente brinca que a juventude tem esperma-tozides no crebro e no neurnios...

    52 REVISTA ATMA

    ATMA INFECTOLOGIA

    Acho muito importante, por-que as pessoas que superaram e esto bem, ao darem o seu depoi-mento revista, sero exemplo para aqueles que ainda no aderiram. Mas, sem dvida alguma, so pesso-as muito corajosas. Toda informao que vai trazer um benefcio para a co-munidade deve ser exposta. preciso tirar o pr-conceito de que a pessoa que vive com HIV seja diferente, que tenha algo contagioso. Acho essa revista um trabalho belssimo. Quan-do a Sissa morreu (uma das mulhe-res com cncer que posaram para o calendrio entregue com a primeira edio da ATMA) ela estava comigo e perguntava sempre se eu daria alta para ela ir ao lanamento da revista. Estava feliz demais com o projeto e por ter posado de bailarina ilustran-do o ms de setembro.

    Eles pensam s no agora, so muito imediatistas. Pensem que isso pode ter uma repercusso para o resto da vida, refaam seus valores e pensem se vale a pena se expor ao risco.

    A senhora acredita na

    cura da aids?Sim! Temos de tirar o vrus que

    est escondido, o que o medicamen-to que temos hoje no consegue. H vrios estudos, alguns casos isola-dos de cura, mas com medidas que no podem ser adotadas por uma populao de grande escala. Acho que a cura est mais prxima do que imaginvamos. A cura est chegan-do, mas hoje, a aids no tem cura. Ainda no!

    A revista ATMA tem foco

    na superao e esta edio trar depoimentos de pessoas vivendo com HIV. Qual a sua opinio a respeito dessa inicia-tiva?

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    Maior rede de assistnciamdica do Brasil.

    O melhor para voc.O melhor para sua empresa.

    #esseoplano

    FAA J O PLANO0800 34 3133

    Presente em 84% do territrio nacional.

    Quem tem Unimed podeser atendido em todo o pas

    nos casos de urgncia e emergncia.

    Dra. Cristina Hueb Baratta possui graduao em Medicina pela Universidade Federal do Tringulo Mineiro (1981), mestrado em Medicina (Medicina Tropical) pela Universidade Federal de Minas Gerais (1995) e doutorado em Doenas Infecciosas e Parasitrias pela Universidade Federal de So Paulo (2002). Atualmente mdica e professora adjunta - Universidade Federal do Tringulo Mineiro. Tem experincia na rea de Medicina, com nfase em Doenas Infecciosas e Parasitrias, atuando principalmente nos seguintes temas: infeco hospitalar, antimicrobianos, epidemiologia, uso racional de antimicrobianos e resistncia bacteriana. Exerceu a funo de diretora Clnica do Hospital de Clnicas da UFTM no perodo de outubro de 2005 a fevereiro de 2011. Atualmente exerce o cargo de coordenadora da Comisso Hospitalar de Vigilncia em Sade do HC da UFTM.

  • Maior rede de assistnciamdica do Brasil.

    O melhor para voc.O melhor para sua empresa.

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    FAA J O PLANO0800 34 3133

    Presente em 84% do territrio nacional.

    Quem tem Unimed podeser atendido em todo o pas

    nos casos de urgncia e emergncia.

  • 54 REVISTA ATMA

    ATMA ENTREVISTA

    Gabriel Estrla: A cura que eu quero ver acontecer a do preconceito

    dilogo sem medoO espetculo em

    si chama mais ateno para a Transmisso Horizontal (em relao sexual desprotegida)

    Soropositivo quer

    O ator, cantor e diretor de teatro, Ga-briel Estrla, 23 anos,

    que atuou em montagens histricas como Hair, o protagonista do musical

    autobiogrfico Boa Sorte, com estreia prevista para

    o prximo ms de outubro, nos palcos de Braslia (DF).

    H cinco anos vivendo com HIV, ele produz o es-petculo para falar sobre

    o assunto de forma leve. O Projeto Boa Sorte, do qual

    saiu a pea, atravs da p-gina no Facebook, trata do HIV de forma abrangente. O namorado, soronegati-vo, tem muita sensibilida-

    de para lidar com o tema e ajuda na administrao da pgina. Entre os objetivos do musical est o debate de preconceitos, alm do incentivo ao dilogo sem medo. Nesta entrevista,

    Gabriel, que vive com HIV desde os 18 anos, tam-

    bm aborda a preveno. Em sua opinio, falar de preveno no s falar

    de camisinha, mas de uma preveno combinada

    que inclua o preservativo, lubrificao, testagem, re-duo de danos, cuidados pr-natais, informao no

    geral. Confira!

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  • REVISTA ATMA 55

    ATMA ENTREVISTA

    Quais experincias voc tem como ator?

    Sou ator de teatro, sempre enfatizo isso. Tenho pavor a cme-ras e microfones (de estdio). O palco onde me sinto confortvel, tanto como ator como cantor. Gos-to do momento, do presente, tudo o que registrado passa a ser con-testvel. O presente experincia, subjetivo e, por isso, pleno.

    muito raro de se ver so-

    ropositivos assumirem a sua condio de forma assim to liberta. O que motivou voc a fazer isso?

    Gabriel Estrla - Hoje em dia a gente fala sobre tudo (que bom!) ou pelo menos achamos que assim. A verdade que toda essa liberdade que temos de expor nossas opinies acabou nos tor-nando egostas. Queremos expor nossas opinies, apenas. E isso timo, porque toda opinio deve importar sim! Mas acabamos por deixar de lado a escuta. to fcil falar hoje em dia (entrar no Face-book e sair fazendo posts) que nos esquecemos da parte mais impor-tante do dilogo: ouvir. Mas tam-bm, no d pra gente ser ouvido se a gente no falar e temos de falar em alto e bom som, bem ar-ticulado.

    Por isso voc decidiu pro-duzir o musical autobiogrfi-co? Sua famlia o apoia?

    O Projeto, que inclui a pea, vem dessa vontade: de ser ouvido tanto como soropositivo quanto como artista porque no sei ain-da fazer arte sem o vrus, no in-ventaram a cura. No falar era ser sempre ouvido pela metade. Minha famlia entendeu e me apoia de-mais. Tem um dilogo que eu no vou me recusar mais a travar por causa de medo. Revelei que no d pra apagar a luz, ainda tem gen-

    te na sala! Revelei que como artista tambm tenho uma funo clara a ser desempenhada na sociedade. Revelei que fui criado muito bem por eles! Com amor e dilogo at demais.

    Voc acredita que com o

    musical voc consiga alavan-car um debate livre de precon-ceitos?

    No e isso importante. A minha inteno alavancar um debate REPLETO de preconceitos. A gente precisa exp-los, aceit-los como parte de ns como humanos. Temos dificuldade de lidar com o que diferente, no comeo. De-pois, acostumamos e passamos a amar essa diversidade, mas tudo um processo. O debate s vai ser rico se esses preconceitos se apre-sentarem. a partir deles que va-mos (des)construir a realidade!!!

    Como voc reuniu os ato-

    res? Quem vai dirigir? comum na cena do teatro

    musical selecionar atores a partir

    de audies. Elas variam depen-dendo do espetculo em questo e do perfil da produo, mas basica-mente consistem em um momento do candidato se apresentar para uma bancada decidir se ele o me-lhor para aquela pea ou no. No Boa Sorte no seria diferente, prin-cipalmente porque alm de atores competentes no teatro e no canto, eles tambm tm de ser capazes de fazer a msica do espetculo ao vivo! A Direo Geral minha mes-mo e eu conto com duas direes de apoio: o Fernando Bastos na Di-reo Musical e Preparao Vocal e o Mateus Figuero na Direo de Movimento e Preparao Corporal. So profissionais muito queridos, jovens como eu e extremamente promissores. Fico muito feliz de tra-z-los no barco!

    O espetculo alerta os jo-

    vens para a preveno ou joga holofote mais sobre a questo do preconceito?

    importante entendermos

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  • 56 REVISTA ATMA

    ATMA ENTREVISTA

    que hoje em dia falar de preven-o no s falar de camisinha. Precisamos falar de uma preveno combinada que inclua o preservati-vo, lubrificao, testagem, reduo de danos, cuidados pr-natais, in-formao no geral... O espetculo em si chama mais ateno para a Transmisso Horizontal (em relao sexual desprotegida), mas o Proje-to, atravs da pgina do Facebook, trata do HIV de forma abrangente. O Unaids (Programa da ONU de Combate ao HIV/Aids) diz que so trs os Zeros para acabarmos com a epidemia: zero novas infec-es, zero mortes relacionadas ao HIV e zero discriminao. No d pra dissociar as duas coisas.

    Voc pretende viajar com o espetculo por esses brasis?

    J temos algumas cidades no horizonte, mas sou muito rece-oso, no gosto de comentar nada enquanto no tenha assinado um papel!

    H vrias formas de se

    infectar com o vrus. Voc con-sidera que as pessoas sejam imprudentes?

    Tenho um professor mui-to querido que costumava repetir para a gente, quando falhvamos em entender o real motivo por trs de algum exerccio: Eu aponto a lua e vocs ficam olhando para o meu dedo!. Estou contando a mi-

    nha histria, que s o dedo, para falar da lua algo muito maior e fascinante. Precisamos olhar para a epidemia, que global. Falar de imprudncia reduzir isso ao indivduo e esse um peso que ningum deve carregar sozinho. Como falar da falta de cuidado se o cuidado que ns brasileiros temos, em relao ao uso da ca-misinha, por exemplo, no to frequente quanto seria ideal?

    Como viver com HIV?

    Como a sua rotina de medi-cao? Voc sofre muito com os efeitos colaterais?

    Viver com HIV, como viver, no geral, no a mesma coisa para todos. Existem diferentes esquemas de tratamento e diferentes realida-des. Um indgena que tenha dif-cil acesso aos medicamentos, por exemplo, tem uma relao com o HIV bem diferente da minha, mo-rando na capital do pas. No meu caso especfico, tomo os antirretro-virais duas vezes ao dia. Sofri com os efeitos colaterais no incio, mas eles passaram. Hoje s o fgado est judiado, mas vamos tratando. Tem tanto que fazemos no nosso dia a dia e que em longo prazo custam ao corpo; tomar os rem-dios s mais uma dessas coisas, mas vale o custo benefcio!

    Voc um exemplo de

    superao, mas tambm de vi-talidade, energia boa, sorriso cativante. Como consegue ab-sorver tudo com toda essa se-renidade? Voc tem religio?

    Aprendi muito novinho que religio significava reconectar com algo do que nos separamos. Nes-se sentido, tenho no teatro a mi-nha religio, pois acredito que h

    No dia 13 de julho deste ano, na pgina do Projeto Boa Sorte no Facebook, Gabriel revelou ser soropositivo

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  • REVISTA ATMA 57

    ATMA ENTREVISTA

    Vanessa da Mata recebe Gabriel Estrla em seu camarim

    um plano onde transitam nossas energias que ns, principalmente nos ltimos anos, nos esquecemos. Isso no tem a ver com nenhuma religio especfica, espritos ou ma-gia, no disso que estou falando. Mas, tudo o que fazemos, em um sentido subjetivo, gera uma ener-gia, uma carga, que nos afeta. No teatro posso trabalhar com isso, com a presentificao desse invi-svel. atravs dele que fica claro

    Gabriel Souza Estrela (Gabriel Estrla) nasceu em Goinia (GO). graduando em Artes Cnicas pela Universidade de Braslia. Principais trabalhos incluem Rent - Sem Tempo A Perder, Hair - Deixe o Sol Entrar e Eu Vou Tirar Voc Deste Lugar - As Canes de Odair Jos. Gabriel usa a sorologia positiva como motivao para ajudar outras pessoas. Recentemente, participou de um vdeo (https://www.youtube.com/watch?t=11&v=XpS0iatoNE8) com a youtuber Jout Jout que j bateu a marca de 250 mil visualizaes.

    pra mim que essas foras existem, so poderosas e dependem de ns. No to esotrico quanto parece, mesmo! Cincia quntica fala dis-so, somos matria e somos onda. Vibramos. Ento por que no ten-tarmos aplicar todos os princpios de funcionamento das ondas em nossas vidas? Se voc vibra baixo, eu vibro alto e a gente fica bem. E se voc vibra alto demais, eu vi-bro baixo, e a gente acaba ficando

    bem. No processo, ns dois nos transformamos. O importante no ficar parado.

    Por que o nome Boa Sor-

    te, homnimo de um filme que tambm aborda a aids, estre-lado pela atriz Deborah Secco? H alguma relao entre eles ou refere-se apenas cano interpretada pela Vanessa da Mata?

    Preciso confessar que ainda no vi o filme! Muitos esto me per-guntando sobre isso, preciso correr para uma locadora! Mas, no. No tem nada a ver. A pea de 2013, talvez tenhamos de fazer essa per-gunta para eles! Mas parece que o filme tambm baseado numa pea mais antiga ainda, pra dizer a verdade. A minha pea vem, espe-cificamente, pela cano da Vanes-sa da Mata. Foi o que me revelou o resultado s isso / No tem mais jeito / Acabou foi como eu me senti ao receber o exame. E Boa Sorte o que eu sinto hoje.

    O que voc faz nas horas

    em que no est trabalhando?Sou completamente viciado

    em sries! Ultimamente tenho redu-zido o ritmo, pois minha essncia workaholic fez essa cobrana, mas sempre que posso assisto a um ou a outro episdio do que estiver acom-panhando no momento. Isso quan-do estou sozinho. Quando tenho companhia rolo no cho com meu filho (um vira-lata chamado Barba), ou fao questo de encher bastan-te o saco dos meus pais (para no dar saudade). O namorado, alm do chamego, trabalha muito comi-go estudamos juntos e ele ajuda na administrao da pgina, foi a maneira que encontramos de estar sempre juntinhos!

    O que mais deixa voc fe-liz? Qual o seu sonho? Voc

    O Unaids, programa da

    ONU de Combate ao HIV/aids, diz que so trs os `zeros para

    acabarmos com a epidemia: zero novas infeces,

    zero mortes relacionadas ao HIV e zero discriminao

    tem expectativa de que a cura da aids esteja prxima?A palavra cura me levanta as orelhas. Recentemente ouvi um termo que gostei mais: tratamen-to definitivo. Porque mesmo que consigamos tratar definitivamente um indivduo o vrus ainda existir no mundo. A cura que eu quero ver acontecer a do preconceito! Acho que, infelizmente, essa vai demorar mais para chegar. Mas seguimos lutando! Minha felicidade vem da ainda que os drages sejam moi-nhos-de-vento, precisamos de uma luta para carregar o dia a dia.

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  • 60 REVISTA ATMA

    ATMA VIVA CAZUZA

    Viva Cazuza - frente da Sociedade Viva Cazuza, Lucinha sente-se envaidecida, especialmen-te porque uma forma de manter viva a memria do filho. Para su-perar a dor de perder Cazuza, ela conta que buscou foras no prprio filho, que foi o ser humano mais forte que j conheceu em toda a sua vida. Ele nunca morreu para mim e continua cada vez mais to-

    cado nas rdios, mas a saudade indescritvel. No momento em que ela soube da sorologia positiva do HIV, o que primeiro veio cabea dela foi a cura. Ela diz s mes que porventura estejam passando por essa situao para que tenham muito amor, muito cuidado e, so-bretudo, muita esperana na cura. No abandonem seus filhos! O amor um remdio to bom quan-to o AZT.

    Trabalho - A ideia de criar a Sociedade Viva Cazuza, segundo Lucinha, surgiu de um show feito em homenagem a Cazuza na Praa da Apoteose, no Rio de Janeiro, em 1990. Foi decidido que a renda dos ingressos deveria ser revertida para alguma instituio que cuidasse de pacientes HIV positivos e ela foi a pessoa designada para entregar a doao ao Hospital Gaffre e Guinle, que na poca era refern-cia para o tratamento. Quando l chegou disseram-lhe que alm do dinheiro queriam tambm o seu trabalho. Assim nasceu a Socieda-de Viva Cazuza.

    Aids est banalizada

    As pessoas pensam que caso se contaminem basta tomar um remdio

    Superao parece ser uma filosofia de vida

    para Lucinha Arajo, smbolo nacional da luta contra a aids, fundadora

    e presidente da Sociedade Viva Cazuza, criada em homenagem ao filho, o

    poeta morto em 1990, aos 32 anos, em decorrncia

    de complicaes causadas pelo vrus da aids, e viva do produtor musical Joo Arajo, com quem foi ca-sada por cinco dcadas e

    meia, morto em 2013, aos 78 anos, vtima de parada cardaca. No corao dela h muito mais que stents e marca-passo, h amor

    que transborda pelos dois, hoje dividido com a Viva

    Cazuza, que presta assis-tncia a crianas e adoles-centes soropositivos, uma

    forma de manter viva a memria do filho. revis-ta ATMA, ela fala sobre a

    ONG e muito mais.

  • REVISTA ATMA 61

    ATMA VIVA CAZUZA

    Livros - A instituio con-quistou credibilidade inquestion-vel mas no cresceu tanto e Luci-nha nem almeja isso. Ela acredita que o boi engorda debaixo do olho do dono. Vai todos os dias ONG e tambm acha que ao abrir outras frentes de trabalho acaba perden-do a qualidade. Prefiro qua