revista atualizada2

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HIPÓSTASE

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  • HIPSTASE

  • Foto detalhe

    Vanu TG

    Na verdade

    Serie: Do Verbo Ser

    Calcogravura com Chine- colli de Litogravura

    Papel tamanho 33,2x23,5 cm Hahnemuhle300g

    Estampa: 24,5x18cm

  • Hipstase / hypostasis - um termo grego que pode se

    referir natureza de algo, ou a uma instncia em particular

    daquela natureza. O termo passou a ser um sinnimo da

    palavra latina persona, o indivduo de uma natureza

    racional. A partir do sculo IV passou a ser contrastado

    com o termo ousia como significando 'realidade

    individual' nos contextos cristolgicos e trinitrios. O termo

    ainda utilizado em grego moderno com o significado de

    "existncia", juntamente com o termo (hparxis) e

    (tropos hyprxeos), este ltimo

    significando "existncia individual". O termo utilizado

    para indicar a "a auto-manifestao de um indivduo" que

    pode ser expandida por meio de outras coisas. Por exemplo,

    um pintor que inclui seu pincel em seu prprio prosopon.

    03

    Disponvel em http://www.catolicismoromano.com.br/content/view/1046/41/ Acesso MAR 2014

  • ndice

    Mayara Polizer

    ANAMNESE Para falar de identidade, ou falta dela, Mayara Polizer se coloca na condio de agente do tempo, apagando fotografias 3x4 com um qumico fotogrfico chamado Revelador.

    08

    Fernanda Heitzman

    PROPOSON A artista se camufla em meio multido, utilizando uma mscara que tampa sua cabea, um capuz feito de tela, fazendo com que consiga enxergar o que h sua volta e permanea incgnita. um paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que se camufla, faz-se perceber.

    12

    APRESENTAO................................... 07

  • Regina Prospero

    TURVA Buscando criticar a obsesso constante por um corpo perfeito presentes nas alteraes exibidas como padro no mundo contemporneo, Regina Prospero venda seus prprios olhos com carne, aps limpar o espelho com a mesma, como se seu eu ou alter ego fosse malevel de acordo com seu interesse.

    Lusa Mantoani

    MUNDUS MULIEBRIS Com vrias identidades exageradas e transformadas, Lusa Mantoani joga para o pblico a reflexo dos parmetros de ideal para a atual sociedade e seus impactos nos indivduos. Transporta a ideia apresentada na srie fotogrfica para a ao de se maquiar enquanto caminha.

    Juliana Sofia Lepera

    EXCESSO A identidade feminina construda atravs da imposio de um comportamento quase teatral. Baseada em expresses que coletou de filme antigos, e que tambm so notveis no mundo atual , Juliana Sofia Lepera as expem e as critica em sua video-performance.

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  • Fotos

    Anamnese Regina Prspero

    Prospon Fernanda Heitzman

    Excesso Juliana Lepera

    Turva Claudia Geminiani Falkas

    Mundus Muliebris Carolina Vigna-Mar

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  • A parte que nos caracteriza e nos apresenta: o rosto, exposto e vulnervel,

    face do embrulho que guarda nosso intelecto, nossa memria, nosso

    aprendizado, rea que se estende da testa ao queixo, escolhido para a foto

    de identidade como documento oficial do governo, mas tambm

    concebido por ns como identidade. Marcado pelo tempo, e pela

    experincia, modificado diariamente por todo o tipo de maquiagem ou

    cirurgia, merc de uma incessante busca eterna pela beleza e juventude,

    vtima diria do culto contemporneo da boa aparncia. Mas

    principalmente protagonista de um paradoxo: dos mais pintados, aos nus,

    somos todos incapazes de ver nossa prpria face.

    Hipstase apresenta performances de diferentes artistas que expressam em

    suas obras conceitos ligados incapacidade da identificao do individuo,

    onde o rosto se torna suporte para esta e outras questes. Anamnes de

    Mayara Polizer consiste na ao que apaga fotos 3x4, dissipando a

    memria dessas pessoas; Em Prospon Fernanda Heitzman utiliza uma

    mscara-capuz em que camufla o rosto, mas ao mesmo tempo observa a

    multido; Juliana Sofia Lepera pinta a prpria face para realar as

    expresses da vdeo-performance Exagero; Regina Prspero envolve

    pedaos de carne em sua cabea, diante de um espelho em Turva; As

    fotografias de Luisa Mantoani em Mundus Muliebris mostra a artista

    maquiada de forma exagerada e caricata.

    Texto de:

    Mayara Polizer, Regina Prospero e Fernanda Heitzman

    Edio Final, Juliana Sofia Lepera.

    07

  • MAYARA

    POLIZER Anamnese

  • Por Regina Prospero

    A performance da artista Mayara Polizer consiste

    na ao de apagamento de fotografias 3 por 4

    dispostas na parede lado a lado, sem espaamento

    entre elas.Varias fotos de rostos, conhecidos e

    desconhecidos, repetidos ou no, cobrem uma rea

    de aproximadamente 1m, e so apagados com o

    auxlio de um pano umedecido com revelador

    (qumico fotogrfico responsvel pela apario das

    imagens no processo analgico de revelao de

    fotografias). Essa ao faz com que o papel

    fotogrfico ressensibilize-se com a luz e escurea

    cada foto.

    As fotos 3 por 4 geralmente so usadas para

    concepo de documentos de identidade, como:

    RG, passaporte, carteira de motorista, etc. Esses

    documentos so pessoais e que todos os cidados

    precisam ter e carregar consigo para onde for. Ao

    tirar o esses documentos deixamos registrados

    diversas formas de identificao, como a

    assinatura, foto, impresses digitais dos dez dedos

    da mo e outras informaes como endereo e

    formas de localizao. Atravs da carteira de

    identidade podemos ser identificados quando

    necessrio. Identificao em caso de acidentes,

    morte, participao em um crime, entre outras

    situaes os dados do documento podero ser teis

    para as autoridades competentes.

    Apagar um rosto de uma foto com o revelador

    significa tirar a identidade da pessoa fotografada,

    ela passa a ser uma mancha preta. So apagadas

    suas caractersticas fsicas e singulares, para

    posteriormente fazer parte de um grande quadro

    negro. A identidade pode ser definida como sendo

    um conjunto de caracteres prprios e exclusivos de

    8

    uma determinada pessoa. Ela permite que o

    indivduo se perceba como sujeito nico,

    tomando posse da conscincia de si mesmo.

    Mayara Polizer retira a individualidade de

    pessoas, ao final da performance no possvel

    diferenciar o rosto, o sexo, a idade, a cor e tipo

    fsico dos indivduos das fotos. Desde 2011 o

    artista francs JR promove por diversas cidades

    do mundo, como Nova York e Turquia, o projeto

    intitulado Inside out Project. Ele e sua equipe

    convidam as pessoas para tirar autorretratos em

    uma cabine de fotos na rua.

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  • 10 Essas fotos so impressas em grande escala e coladas

    lado a lado, formando um grande painel no cho e/ou

    paredes. Desde 2011 o artista francs JR promove por

    diversas cidades do mundo, como Nova York e

    Turquia, o projeto intitulado Inside out Project. Ele e

    sua equipe convidam as pessoas para tirar

    autorretratos em uma cabine de fotos na rua. Essas

    fotos so impressas em grande escala e coladas lado a

    lado, formando um grande painel no cho e/ou

    paredes. O conceito do projeto dar a todos a

    oportunidade de compartilhar seu retrato e afirmar o

    que eles representam com o mundo. No Inside out

    Project qualquer individuo pode participar e

    desafiado a usar retratos fotogrficos para

    compartilhar as histrias no contadas e fazer uma

    unio das imagens de pessoas de suas

    comunidades. H diferenas e semelhanas entre

    as obras de Mayara Polizer e JR. Os fazem painis

    com retratos de desconhecidos, porem, enquanto o

    artista francs procura expor as caractersticas

    pessoais e sociais dessas comunidades, a

    performer remove os aspectos individuais.

    A pratica de colocar fotografias em caixas

    de sapatos ou em gavetas uma

    necessidade no s de guardar, mas de

    esquecer temporariamente, Esquecer

    sabendo que esta l, que pode ser

    ressuscitada. Nessa Perspectiva, o cotidiano

    a relao de proximidade e distancia,

    lembrana e esquecimento.

    Jos de Souza Martins

    A sociologia da Fotografia e da Imagem.

  • guardados na carteira que onde mesmo que

    esquecido, permanece como indicio de afeto.

    Percebi esse ndice de afeto a partir da difcil coleta

    dessas fotos para a realizao de um trabalho

    chamado Anamnese, composta pela coleta de

    fotografia 3X4 , pesquisas e experimentaes com os

    processos analgicos de revelao fotogrfica, e ao

    final o apagamentos dessas fotos. No dia 12 de

    novembro de 2013, retirei de uma caixa preta velada

    uma placa com 200 fotografias, medindo no total 1

    x80 , e iniciei o apagamento das fotografias usado um

    qumico fotogrfico chamado revelador, interessante

    pensar que aps mil tentativas, o que iria funcionar

    para fazer o servio de apagar identidades seria

    chamado Revelador, a minha ao durou uma hora,

    mas a ao da luz ainda permaneceu por mais um

    tempo, e retorna a cada vez que exposta a obra com

    o objetivo de coletar mais fotografias.

    A imagem sempre em mudana nunca tem um

    resultado final, fazendo referencia ao tempo fluxo

    continuo real, mas tambm ao tempo fotogrfico,

    considerado por Barthes como o passado, Anamnese

    consegue ser o oposto da fotografia tradicional no

    temporalizada e idntica a si prprias no tempo, ao

    mesmo tempo ser como ela, que mortifica a imagem

    atravs da subverso de procedimentos tcnicos da

    revelao fotogrfica analgica , mas alm de

    despertar questes metalingusticas, se propem

    tambm a falar de identidade, criando o paradoxo de

    se apagar uma identidade com uma substancia

    chamado revelador, tornando efmeras as imagens

    para falar da efemeridade das pessoas ali

    representadas.

    Por Mayara Polizer

    Memorias das perdas, memorias desejadas e

    indesejadas. Memorias do que ope a sociedade

    moderna sociedade tradicional, memorias do

    comunitrio que no dura, que no permanece,

    memoria de uma sociedade de ruptura, e no de

    coeses e permanncias. Memoria de uma sociedade

    de perdas sociais continuas e constitutivas, de uma

    sociedade que precisa ser recriada todos os dias, de

    uma sociedade mais de estranhamentos do que de

    afetos.

    O retrato seja no campo pictrico seja no campo da

    fotografia, dadas as distines sempre esteve a

    servio da representao esttica, muito usado nas

    academias que buscavam a mimese, ou para

    burguesia que queria projeo, mais tarde nos cartes

    de visita fotogrficos do sculo XIX, ou ainda hoje com as selfies, fotos de perfil, books, 3x4, uma

    variedade de retratos que apresentam e nos

    representam para o mundo. Mas de todas essas

    citados, a nica que sai do campo da vaidade a foto

    3x4. Esse tipo de foto, como todo artefato social,

    carrega em si um conhecimento sobre sua gnese, e

    diferente das outras modalidades de retratos, tem em

    sua origem um objetivo burocrtico. So fotografias

    concebidas como oficiais de documentos de

    identificao, tidos como pessoais, obrigatrios, e de

    uso cotidiano, que tambm detm o poder de nos

    tornar cidados, ou seja, ter um nome, e

    principalmente numero diante do governo, portadores

    de direito e deveres. Por outro lado, esta pequena

    foto tambm subverte seu proposito para adotar um

    muito mais subjetivo, se tornando pequenas relquias,

    tesouros, lembranas de um ente querido, de um

    amor, irmo, algum ausente, j falecido, que so

    11

  • FERNANDA

    HEITZMAN Prospon

    Por Sara Oliveira

    No vdeo Prosopons, em grego, mscaras, a

    performer caminha com a cabea coberta por um

    capuz (espcie de saco de batatas) que permite

    que veja e seu rosto no seja visto. Percebemos

    isso quando ela caminha naturalmente. Este fato

    por si s j leva a crer que a artista deseja anular

    sua identidade. Identidade, alis, que est presente

    em sua produo, que muitas vezes apresenta

    figuras humanas sem revelar seus rostos, tambm

    anulando a relao de tempo/espao.

    No entanto, sua ao a coloca em duas condies:

    observadora e observada; entra num paradoxo. A

    multido em geral to homognea que ao cobrir

    o rosto em So Paulo, onde a multido que torna

    os rostos invisveis, atrai toda a ateno para si ao.

    mesmo tempo em que sua presena demora a ser

    percebida, na estao S do metr, por exemplo

    um destaque por meio da anulao. A cobertura do

    rosto evidencia o corpo, pois causa curiosidade e at

    medo nos transeuntes. O medo, talvez por lembrar

    os carrascos da Idade Mdia, ou pelo conceito que

    temos de que rostos cobertos estejam ligados a ms

    intenes.

    Por outro lado, os comentrios e xingamentos so

    inevitveis e, portanto, a busca por uma maior

    desenvoltura, por uma desinibio por meio de

    esconder o rosto s evidencia seu medo sobre o que

    as pessoas vo dizer sobre ela. Desta forma,

    tambm trata dos sentimentos que por vezes temos

    que esconder por baixo de uma mscara.

    Por Fernanda Heitzman:

    Prospon

    Soar atravs de...

    A mscara no se trata

    de um adereo, e sim de

    um esconderijo de

    identidade, proteger-se do

    desconhecido, colaborando

    para o distanciamento.

    metamorfose: ao esconder

    um rosto, revela uma

    outra personalidade.

  • Aparentemente, o aspecto fsico da mscara

    lembra as mscaras sensoriais de Lygia Clark, uma

    vez que as de Clark, como o nome da obra sugere,

    tem o propsito de gerar experincias sensoriais

    para o auto conhecimento do corpo .Neste

    sentido, Prosopons busca tambm um

    autoconhecimento, mas no sensorial, e sim

    psicolgico, que tenta camuflar a timidez da

    performer, lidando com os olhares voltados a ela.

    A ao trata de questes particulares da artista,

    como o medo de usar o corpo como meio de

    expresso e a vergonha. Mas no fica restrita a ela,

    por ser um tema de fcil identificao com outros

    perfis dos possveis espectadores. E para isso

    importante que ela tambm esteja desse outro lado

    de causadora de constrangimentos". Tambm

    tem certa relao com a performance Reflexos -

    ensaio sobre o vazio, de Felipe Vasconcellos, que

    produz uma roupa de espelhos e tambm caminha

    pela cidade, no que diz respeito a presena de um

    corpo estranho ao resto da multido e que altera o

    espao onde se inserem. As pessoas fogem, desvi-

    Acesse o vdeo em:

    https://vimeo.com/87868092

    13

    am, mudam seu trajeto A relao obra/pblico nesses

    dois trabalhos bem marcante. O fato de terem

    mudado a rotina das pessoas com o simples fato de

    estarem presentes j uma caracterstica da arte

    contempornea. Apropriam-se do espao pblico e o

    modificam.

    Pedro Salazar (cmera):

    Acompanhamos a situao? Planejando ou

    Improvisando? Acompanhando o fluxo dos elementos

    visuais e posicionando uma figura? Central? Na

    oposio das paisagens e dos passantes procuramos

    expor uma representao contraditria em um corpo:

    ele tenta se esconder e se expe. Mas nada fcil

    nesse ambiente. A partir disso, ento, como elaborar

    questes em torno do espao? Ver e ser visto;

    contudo, o que se passa quando essa interlocuo,

    aparentemente silenciosa transgredida? O que se faz

    do sujeito que se v observado, ao mesmo tempo pelo

    olhar mascarado de um corpo irreconhecvel e das

    lentes de uma cmera, ora imperceptvel, ora

    intrusiva? Porm, h um terceiro elemento em

    dilogo. O observador, o qual tambm configura este

    recorte do espao, ora se escondendo, por trs, ora se

    expondo, estaria no mesmo nvel? Surge, ento, um

    estranhamento a partir do qual torna-se preciso

    colocar-se em mais de um lugar ao mesmo tempo.

    Imag

    ens

    de

    Ped

    ro S

    alaz

    ar

  • JULIANA SOFIA LEPERA Excesso

  • Por Regina Prospero

    A vdeo-performance Excesso da artista Juliana

    Sofia Lepera constituda por dois vdeos que

    divide a imagem, as aes acontecem

    simultaneamente para exaltar que no um

    ensaio. No vdeo a performer pinta o prprio

    rosto com tinta branca, criando uma mascara, e

    posteriormente tinta preta em lugares especficos

    como sobrancelhas, olhos e bochechas. Durante a

    ao a artista vai modificando suas expresses,

    tornando-as exageradas. Ao termino da

    performance ela borra toda a maquiagem com as

    mos e volta a ter o rosto sereno do inicio do

    vdeo. A ao diretamente relacionada com as

    expresses exageradas de atrizes dos filmes

    antigos, como Marilyn Monroe, que tinham que

    passar uma imagem muito feminina, com muita

    perfeio e sem erros.

    Desse modo suas atitudes durante as cenas eram

    teatrais e pouco naturais. Esses filmes promoviam

    de certa forma, um padro de beleza que no

    admitia mulheres com rostos sofridos como

    protagonistas.

    Juliana Sofia Lepera tambm questiona em sua obra

    como a maquiagem pode mudar completamente o

    rosto de uma pessoa.

    H nos dias atuais uma hipervalorizao dos

    produtos de beleza, que prometem mudanas

    rpidas e com bom resultado.

    A maquiagem uma mascara que pode esconder

    defeitos estticos, e consequentemente para muitos

    defeitos internos, aumentando assim a autoestima.

    Tanto nos filmes antigos quanto na indstria de

    produtos de beleza h uma busca pela perfeio.

    15

  • Os materiais usados e as poses exageradas

    so artifcios para busca de um esteretipo, o

    da mulher ideal. Como esse esteretipo no

    existe e nunca existir, na performance a

    artista faz a ao num lugar escuro, uma

    penumbra que passa a sensao de medo,

    tanto pelo tamanho da projeo quanto pelas

    expresses exageradas.

    Acesso em:

    http://vimeo.com/88287445

    16

    Por Juliana Lepera:

    A obra Excesso um resultado da minha pesquisa, sobre

    personas imagens que refere-se personalidade que o

    sujeito apresenta aos demais como algo real. No entanto,

    pode ser uma verso muito contrria verdadeira. Mas

    mais do que apenas apresentar, essa performance

    procura, atravs do exagero, criticar essa mscara que a

    sociedade utiliza na contemporaneidade como algo

    corriqueiro e natural. Para a construo desta obra foi

    necessrio experimentar maquiagens que ressaltassem

    diferentes expresses, reparei que em relao a cmera

    em um estado performtico no momento da filmagem,

    perdia total controle sobre as expresses que surgiam,

    em uma espcie de transe. Cada expresso vinha sem

    qualquer programao, no havia por traz de um sorriso

    um sentimento de felicidade ou por traz de olhos

    arregalados medo, o que quero dizer aqui que, ao

    adotar personas o sujeito no necessariamente tem

    controle sobre essa mascara de expresses como algo

    reflexo se algum fala algo engraado voc sorri, sem ao

    menos ter achado divertido. A relao do sujeito com o

    outro se coloca como distante ou superficial. Mas o

    maior agravante a falta de acesso com suas verdadeiras

    emoes, e assim um distanciamento de sua prpria

    identidade.

    Estu

    do

    s gr

    fic

    os

    ante

    rio

    res

    ao v

    deo

    .

    Acesse o video em: http://vimeo.com/88287445

  • REGINA

    PRSPERO

    Turva

  • Por Cau Falkas Turva o nome da performance apresentada pela aluna Regina Prospero. Aconteceu no dia 5 de outubro s 8 horas, com durao aproximada de 30 minutos na sala de prtrica de performance no prdio 1 da Faculdade de Belas Artes de So Paulo. A artista sentou-se em uma cadeira em frente a uma mesa, colocada junto a uma parede. Sobre esta mesa esta um espelho na posio vertical, tambm apoiado parede. Sentada mesa, passa pedaos de carne em sua imagem no espelho e em seguida costura este pedao de carne a outro, formando uma tira. Assim faz com os demais pedaos ao longo de sua apresentao. A ao termina quando todos os pedaos esto costurados uns aos outros e Regina coloca sobre sua cabea e rosto esta pea que agora contm os pedaos de

    carne unidos. Segundo Regina Prspero, o trabalho questiona a busca pelo corpo perfeito, fazendo referencia a cirurgias e demais intervenes para atingir um ideal de beleza

    18

    imposto pela sociedade vigente. Parte do principio de que o conceito de beleza da maioria das pessoas esta associado ao corpo fsico, representado aqui pela carne bovina. A referencia artstica foi a obra de Artur Barrio intitulada Livro de Carne. Mas podemos relacionar diversos outros artistas que utilizaram esta matria efmera para construir sua obra como, por exemplo, Adriana Varejo. A artista, ao passar a carne pelo espelho, tem a sensao de que sua vista esta turva, mas na verdade o espelho que esta com resduos que no permitem uma definio da imagem refletida. O que visto ali no condiz com a realidade, como acontece com muitas pessoas portadoras de transtornos. Turva uma ao instigante, pois trata da imagem da artista em contato com um material que algumas vezes causa estranhamento quando utilizado em obras de arte.

  • 19 Neste caso a carne exerce tambm uma funo de

    agressiva simplesmente por ser um material que

    apodrece, e representa o resduo de algo que j teve

    vida. Efmera, esta carne cumpre o seu papel de

    retirar a imagem perfeita do espelho, embaando a

    figura da artista, deformando sua imagem no

    reflexo.

    Ao final da ao a performer tapa seus olhos com

    os retalhos de carne costurados uns aos outros

    passando a impresso de que s vezes melhor no

    ver mesmo aquela imagem turva, deformada de

    alguma forma, to inaceitvel e distante do que

    considerado belo, perfeito. Ao assistir a ao, a

    princpio o espectador pode no se sentir convidado

    diretamente a refletir sobre a vaidade humana, mas

    de alguma forma percebe uma conexo com

    imagem, pois esta a principal associao quando

    nos referimos a espelhos.

    J a questo da obsesso pode ou no vir a aparecer

    ao longo da ao, j que no encontramos nenhuma

    referencia direta a ela ao longo da performance.

    Seria necessria uma interpretao mais profunda,

    ou um conhecimento prvio da proposta por parte

    do espectador. A explorao de quem observa e

    isso pode ou no ser possvel, pois temos muitos

    fatores que precisam colaborar para isso como, por

    exemplo, uma expresso facial, uma velocidade

    maior nos movimentos e etc. Turva, traz questes

    relacionadas a imagem, mas no encontramos na

    ao a relao com a questo da obsesso que foi

    uma das motivaes da artista para realizao da

    obra e que estaria permeando toda a questo da

    imagem durante o trabalho.

    Por Regina Prospero

    Minha performance procura discutir a obsesso constante por um corpo perfeito. Sobre como o corpo

    pode criar um alter ego, uma personalidade diferente do eu, um espelho de si mesmo, disponvel para

    alterao malevel de acordo com o interesse individual. A glria do momento atribuda ao corpo no

    natural, conjunto de rgos anexados pessoa, instncia de conexo com o mundo, o corpo-descartvel

    em constante busca de manipulao de si e ansiedade de afirmao pessoal, j que o corpo sem

    interveno desprestigiado, encarna a parte ruim, o rascunho a ser corrigido [...] um corpo

    reescrito, caracterizado por sua subjetividade lixo, diz Le Breton, que existe numa poca em que a

    pele, a carne, manifesta o que h de mais profundo no indivduo, que exprime quem o sujeito.

    (Brbara Nascimento Duarte, 2010, Corpo da modernidade: Lugar da condenao e da salvao do

    indivduo)

  • LUISA

    MANTOANI Mundus Muliebris Por Carolina Vigna

    A artista Lusa Mantoani apresentou, no dia 29 de

    outubro de 2013, no Centro Universitrio Belas

    Artes So Paulo, a performance Mundus Muliebris,

    em duas partes: uma exposio fotogrfica de uma

    ao ocorrida anteriormente e, ao vivo.

    As fotografias so portraits de Mantoani, em cores.

    Cada imagem mostra a artista maquiada de forma

    diferente, mas sempre de forma exagerada e

    caricata. As obras foram expostas em uma nica

    linha, altura dos olhos, fixadas diretamente sobre

    uma parede branca.

    A performance ao vivo aconteceu na Unidade I do

    Centro Universitrio Belas Artes So Paulo e durou

    2 horas. Iniciou-se com Mantoani maquiando-se ao

    caminhar, sem espelho ou qualquer auxlio. A

    performer faz as seguintes paradas: toilette feminino

    do primeiro andar; escadaria; e toilette feminino do

    segundo andar. Nos 3 locais, permanece imvel por

  • aproximadamente 15 minutos em cada. O trabalho

    de Mantoani coloca em cheque a noo social do

    embelezamento associado mulher. Tanto a

    questo dos exageros, quanto as questes de

    gnero, identidade e sociedade.

    Em dilogo direto com Olivier de Sagazan, a

    artista se coloca tambm como uma tela a se

    desfigurar. Esta sua transfigurao, ao contrrio da

    de Sagazan, permanece no limiar deste real

    esperado pela sociedade. Mantoani se desfigura

    mas no ao ponto de ser irreconhecvel como

    mulher, como uma mulher que se maquia. Sagazan

    se transforma em outro ser, enquanto Mantoani

    permanece em sua identidade e em seu gnero.

    Devemos considerar tambm a relao com as

    fotografias de Cindy Sherman. Assim como

    Sherman, Mantoani tambm tem um

    posicionamento feminista e questiona o uso de

    maquiagem e adereos. Apesar de Sherman ser

    consideravelmente mais irnica que Mantoani,

    ambas artistas recorrem caricatura.

    O caricato est presente tambm no clown, de onde

    podemos detectar a influncia da artista Laura Lima,

    com o trabalho Palhao com Buzina Reta - Monte

    de Irnicos.

    Mantoani questiona o papel da mulher na sociedade,

    tanto atravs do exagero irnico quanto da

    delicadeza do clown, resultando em um trabalho

    sensvel e comovente. H tambm um

    posicionamento frente maquiagem, exagerada ou

    no. O exagero apenas um recurso narrativo, ao

    contrrio da posio frente cobertura do rosto e da

    pele com produtos artificiais. Esta, por sua vez,

    claramente feminista ao se opor imposio social

    em relao aparncia feminina.

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  • 22

    Por Lusa Mantoani

    Esta performance traz a questo da maquiagem

    e seus desdobramentos, como o papel na

    sociedade, aspectos psicolgicos e outras

    naturezas. O intuito jogar para o pblico o

    questionamento do uso dessa tcnica e trazer

    reflexes pessoais a cada um que acesse a obra.

    O trabalho se deu por meio de um estudo sobre

    os exageros, criao de personagens e

    identidades atravs do uso da maquiagem,

    sendo ento exibida uma srie fotogrfica com

    diferentes rostos criados e com caracterstica

    particulares.

    Minhas referncias foram artistas que

    provocavam o transtorno esttico, utilizando-se

    de caracterizaes variadas, que deformavam,

    escondiam, exageravam e camuflavam, mas

    sempre trazendo a discusso da identidade

    perante os outros, alm da questo para o

    prprio indivduo.

    Simultaneamente a essa exibio, me propus a

    caminhar pelos espaos da faculdade me

    maquiando ao mesmo tempo, sem olhar, sem

    me preocupar com a esttica, justamente

    provocando junto com a srie de fotografias, a

    reflexo do carter do belo presente no

    imaginrio da sociedade quando se trata dessa

    vaidade e dessa forma de pensar quando se

    pensa em apresentar-se ao outro.