Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

12
7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 1/12 265 Poesia Estrangeira Poemas de Valerio Magrelli Ensaísta, professor de literatura Tradução de Marcos F. X. Silva N asceu em Roma em 1957, e é considerado uma das vozes importantes da poesia italiana recente. Publicou cinco li- vros de poesia. Os três primeiros ( Ora serrata retinae , 1980, Nature e venature , 1987,  Esercizi di tiptologia , 1992), foram reunidos no vo- lume Poesie e altre poesie (Prêmio de Literatura Festival de Páscoa de Pasqua Salisburgo), a que se seguiram Didascalie per la lettura di un  giornale (1999) e Disturbi del sistema binario. No ano de 2003, saíram os textos de prosa Nel condominio di carne  e Treni e viaggi in treno. Em 2005 foi editado Che cos’è la poesia? La poesia raccontata ai ragazzi in ventuno voci (livro e cd), e no ano seguinte Sopralluoghi  (livro e dvd). Em 2010 aparece Il violino di Frankenstein. Scritti per e sulla musica , os textos em prosa  Addio al calcio  e o ensaio Magica e velenosa. Roma nel racconto degli scrittori stranieri , enquanto no ano seguinte veio à luz o panfleto Il Sessantotto. Professor de literatura francesa na Universidade de Pisa e depois na de Cassino, dirigiu a coleção de poesia “La Fenice” e a série

description

Nasceu em Roma em 1957, e é considerado uma das vozesimportantes da poesia italiana recente. Publicou cinco livrosde poesia. Os três primeiros (Ora serrata retinae, 1980, Naturee venature, 1987, Esercizi di tiptologia, 1992), foram reunidos no volumePoesie e altre poesie (Prêmio de Literatura Festival de Páscoa dePasqua Salisburgo), a que se seguiram Didascalie per la lettura di ungiornale (1999) e Disturbi del sistema binario. No ano de 2003, saíramos textos de prosa Nel condominio di carne e Treni e viaggi in treno. Em2005 foi editado Che cos’è la poesia? La poesia raccontata ai ragazzi inventuno voci (livro e cd), e no ano seguinte Sopralluoghi (livro e dvd).Em 2010 aparece Il violino di Frankenstein. Scritti per e sulla musica, ostextos em prosa Addio al calcio e o ensaio Magica e velenosa. Roma nelracconto degli scrittori stranieri, enquanto no ano seguinte veio à luz opanfleto Il Sessantotto.

Transcript of Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

Page 1: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 1/12

265

P o e s i a E s t r a n g e i r a

Poemas de Valerio Magrelli

Ensaísta,professor deliteratura

Tradução de Marcos F. X. Silva

Nasceu em Roma em 1957, e é considerado uma das vozes

importantes da poesia italiana recente. Publicou cinco li-vros de poesia. Os três primeiros (Ora serrata retinae , 1980, Nature

e venature , 1987, Esercizi di tiptologia , 1992), foram reunidos no vo-lume Poesie e altre poesie (Prêmio de Literatura Festival de Páscoa dePasqua Salisburgo), a que se seguiram Didascalie per la lettura di un

 giornale (1999) e Disturbi del sistema binario. No ano de 2003, saíramos textos de prosa Nel condominio di carne  e Treni e viaggi in treno. Em

2005 foi editado Che cos’è la poesia? La poesia raccontata ai ragazzi inventuno voci (livro e cd), e no ano seguinte Sopralluoghi  (livro e dvd).Em 2010 aparece Il violino di Frankenstein. Scritti per e sulla musica , ostextos em prosa  Addio al calcio e o ensaio Magica e velenosa. Roma nel

racconto degli scrittori stranieri , enquanto no ano seguinte veio à luz opanfleto Il Sessantotto.

Professor de literatura francesa na Universidade de Pisa e depois

na de Cassino, dirigiu a coleção de poesia “La Fenice” e a série

Page 2: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 2/12

  Tradu ção de Ma rcos F. X. Silva

266

trilingue “Scrittori tradotti da scrittori” (Prêmio Nazionale per la Tradu-zione). Em 2002 a ‘Accademia Nazionale dei Lincei lhe atribuiu o PrêmioFeltrinelli da poesia italiana.

De sua obra crítica, destacam-se, Profilo del Dada  (2006), La casa del pensiero.

Introduzione a Joseph Joubert  (2006), Vedersi vedersi. Modelli e circuiti visivi nell’opera di

Paul Valéry (2002, Prix Littéraire de Francesistica des Thermes de Saint-Vincent ), Il lettore

 ferito. Cinque percorsicritici: Larbaud, Apollinaire, Lamartine, Perec, Breton (2005) e Nero

sonetto solubile. Dieci autori riscrivono una poesia di Baudelaire  (Laterza 2010).Magrelli é também autor de textos de teatro. O primeiro, Perso per perso,

foi encenado por Giorgio Barberio Corsetti nel 1986 (Festival di Villa Me-

dici, Roma) e reelaborado dez anos depois por Guido Baggiani, em um ma-drigal para seis vozes representato por Giorgio Pressburger (Piccolo Teatrodel Comunale, Firenze). O segundo texto, Baudelaire e il terzo canto dell’Eneide ,foi encenado em 2004, dirigido por Piero Maccarinelli (Notti bianche).

Seus poemas foram traduzidas para mais de 20 línguas.

Page 3: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 3/12

Poemas d e Valer io Magrell i

267

Page 4: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 4/12

  Tradu ção de Ma rcos F. X. Silva

268

Indico una determinata macchia della figura e dico:”Questo è l’occhio della lepre o dell’ana-

tra”. Ma in questo disegno può qualcosa essere un occhio?L. Wittgenstein.

Page 5: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 5/12

Poemas d e Valer io Magrell i

269

Indico uma determinada mancha da figura e digo: “Este é o olho da lebre

ou do pato.” Mas neste desenho como pode algo ser um olho?L. Wittgenstein

Page 6: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 6/12

  Tradu ção de Ma rcos F. X. Silva

270

Innocenti 

 Ecco il segreto dell’anatra-lepre:

come essere colpevoli rimanendo innocenti.

Ottica 

Possibile che in tutto questo tempo

abbia fissato il disegno dell’anatra senza vedere la lepre? 

Provavo a spiegare il concetto d’inganno

in termini morali,

mentre ero vittima di un paradosso visivo.

Mi accanivo sull’Etica 

quando il problema riguardava l’Ottica.

In realtà lo dimezzano

 Esseri doppi popolano il mondo.

Sembra che lo raddoppino,

in realtà lo dimezzano.

Page 7: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 7/12

Poemas d e Valer io Magrell i

271

InocentesEis o segredo do pato-lebre:

como ser culpadospermanencendo inocentes.

ÓticaComo pôde em todo esse tempo

ter fixado o desenho do patosem ver a lebre?Buscam explicar o conceito de erroem termos morais,enquanto eu era vítima de um paradoxo visual.Eu me obstinava com a Éticaquando o problema era de Ótica.

A bem da verdade o dividemSeres duplos povoam o mundo.Parecem duplicá-lo,A bem da verdade o dividem.

Page 8: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 8/12

  Tradu ção de Ma rcos F. X. Silva

272

Le tengo fuori 

Voci-vespe ronzano, bzzzz,

un urticante sciame che batte ai vetri della mia finestra:

vogliono entrare, ma le tengo fuori.

Non c’entro! 

Il senso della colpa è un fiammifero accesoche va di mano in mano, in cerchio,

sempre più svelto.

Rapidi, rapidi, sta per finire,

e non vorrei toccasse 

 proprio a me che non c’entro! 

Due 

  Strada facendo, assentandosi da se stessi,

  perdono la coscienza della propria identità.

  M. Terestchenko

Potremmo dire allora che questo tipo d’anatra 

è, in verità, posseduta dalla lepre? 

Sì, ma se così fosse, quale fine farebbe 

la responsabilità dell’individuo? 

 Appunto: qui di individui se ne trovano due.

Page 9: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 9/12

Poemas d e Valer io Magrell i

273

Eu as deixo de foraVozes-vespas zunem, bzzzz

um enxame urticantebate nos vidros de minha janela:querem entrar, mas eu as deixo de fora.

Não tenho nada com isso!

O sentimento de culpa é um fósforo acesoque corre de mão em mão, em círculos,cada vez mais veloz.Vamos, vamos, vai-se apagar,e não quero que seja comigonão tenho nada com isso!

Dois  A caminho ausentando-se de si mesmos,

  Perdem a consciência da própria identidade.

  M. Terestchenko

Poderíamos dizer então que esse tipo de patoé, na verdade, possuído pela lebre?Sim, mas se assim fosse, onde acabariaa responsabilidade do indivíduo?Exato: existem aqui dois indivíduos.

Page 10: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 10/12

  Tradu ção de Ma rcos F. X. Silva

274

Della doppiezza 

 A cosa pensa il cartone animato,

quando a parlare è il suo interlocutore? Mostra uno sguardo vuoto, da animale ( weltarm ,

il “povero-di-mondo” di cui parla il filosofo).

 E a cosa pensa il tipo anatra-lepre? 

Di mondi, ne possiede addirittura due.

 Allora quale abita, la sua mente bicamerale? 

Forse è in affitto, e qui sta la radice 

della doppiezza.

[De Post scriptum]

  II

Fu un’amara Befana,

quella con cui si chiuse il mio millennio.

Invece di portare i suoi regali,

mi strappò ciò che avevo di più caro:

il sogno di una lingua condivisa.

Creature biforcate e logo-immuni mi sorsero davanti,

invulnerabili alla verità,

ero entrato nell’era dell’anatra-lepre,

in una età del ferro, del silenzio.

Page 11: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 11/12

Poemas d e Valer io Magrell i

275

Da duplicidadeO que pensa o desenho animado,

Quando quem fala é o seu interlocutor?Mostra um olhar vazio, de animal (weltarm,o “pobre de mundo” de que fala o filósofo).E o que pensa o tipo pato-lebre?Possui nada menos que dois mundos.Então em qual deles mora, a sua mente bicameral?Talvez esteja alugada, e aqui está a raiz

Da duplicidade.

[De Pós-Escrito]

  II

Foi um amargo dia de Reis,aquele que me encerrou o milênio.Em vez de trazer-me seus presentes,levou de mim o que me era mais precioso:o sonho de uma língua partilhada.

Criaturas bifurcadas e logo-imunessurgiram diante de mim,invulneráveis à verdade.Entrei na era do pato-lebre,numa idade do ferro, do silêncio.

Page 12: Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

7/21/2019 Revista Brasileira 71 - Poesia Estrangeira

http://slidepdf.com/reader/full/revista-brasileira-71-poesia-estrangeira 12/12

Hélio Jesuíno