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Revista Brasileira de Educação Básica | Ano. 3 | Número 9 | Julho - Setembro 2018 | Página 1
MEMES DE INTERNET E O CONTEXTO POLÍTICO BRASILEIRO: UMA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA PARA AS AULAS DE HISTÓRIA.
Memes de internet y el contexto político brasileño: una secuencia didáctica para las
clases de Historia.
Maria Alice de Souza
Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG)
Resumo: O meme, peça de informação típica de ambientes virtuais, tem se tornado bem popular na
contemporaneidade. Desse modo, ao analisar uma prática didática que teve como ferramenta esse
gênero digital, permite-nos entender como se configuram práticas sociais de leitura e escrita originadas
pelas inovações tecnológicas. Mediante revisão literária, este artigo além de conter uma visão concisa
sobre o meme, apresenta de maneira sintética o trabalho desenvolvimentos pelas professoras de
História e Língua Portuguesa em uma escola pública da rede estadual do município de Belo Horizonte
no estado de Minas Gerais. Longe de ser a combinação de imagens e frases engraçadas, o meme é uma
nova forma de prática sociocultural, possuindo um grande potencial didático.
Palavras-chave: Meme de internet. Tecnologias digitais. Jovens. Sequência didática.
Resumen: El meme, pieza de información típica de ambientes virtuales, se ha vuelto muy popular en
la contemporaneidad. De este modo, al analizar una práctica didáctica que tuvo como herramienta ese
género digital, nos permite entender cómo se configuran prácticas sociales de lectura y escritura
originadas por las innovaciones tecnológicas. Mediante la revisión de la literatura, en este documento
y contienen una visión concisa del meme, resume la evolución de trabajo forma por las maestras de la
Historia y el Lengua Portuguesa en una escuela pública del estado en la ciudad de Belo Horizonte en
el estado de Minas Gerais. Lejos de ser la combinación de imágenes y frases divertidas, el meme es
una nueva forma de práctica sociocultural, poseyendo un gran potencial didáctico.
Palabras clave: Meme de internet. Tecnologías digitales. Jóvenes. Secuencia didáctica.
INTRODUÇÃO
Cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, as tecnologias digitais se tornaram
ferramentas essenciais para se acessar uma informação. A tela hoje é muito mais que espaço
de leitura e escrita, tornando-se lugar de aprendizagem. Assim, não basta desvendar códigos,
ler e escrever são condutas sociais que reverberaram na comunidade (SOARES, 2002;
COSCARELLI E RIBEIRO, 2005; XAVIER, 2005).
Com efeito, o uso das tecnologias digitais tornou possível formas comunicativas
revolucionárias, fazendo emergir novos gêneros textuais. Além disso, conforme Rojo (2009),
as tecnologias digitais trouxeram para os eventos da cultura escrita novas nuanças
relacionadas ao prestígio, modos de publicação e circulação.
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Diante disso, rompendo com a visão de uma aula voltada para apenas para a erudição,
foi que a professora Cláudia Lobo1 e eu idealizamos uma sequência didática, em que a Língua
Portuguesa subsidiasse o componente História em atividades que se articulassem em torno do
meme de internet. A palavra “meme”, na internet, surgiu na década de 90, quando Joshua
Schachter criou um site que reunia conteúdos e links que se proliferavam pela rede – o
Memepool. No entanto, foi etólogo Richard Dawkins (1978), na obra O gene egoísta, que ao
teorizar sobre evoluções culturais e genéticas, criou o vocábulo para designar a unidade de
cultura que se propagava de uma mente para outra. O neologismo, que provém da forma em
inglês “mimeme”, origina do grego “mimema”, da mesma raiz de “mimese” (imitação), ainda
apresenta, para o biólogo evolucionista, semelhanças com as palavras “gene” e “memória”
(DAWKINS, 1978; HORTA, 2015).
Desse modo, fugindo da visão reducionista que muitos indivíduos possuem do meme
de internet, nós resolvemos tornar esse artefato cultural, que surge fora de instituições
formais, objeto de uma sequência de aulas. Conhecido pela combinação de imagens e dizeres
humorados, o gênero se tornou bem popular na internet, sendo sua repercussão percebida pela
recorrência de transmissões, comentários ou imitações por redes sociais, blogs, websites,
aplicativos de mensagens instantâneas, entre outros (CHAGAS, 2016).
Possuindo normalmente teor cômico, mordaz ou crítico, os memes de internet dizem
de qualquer assunto. Pode ser criado por um indivíduo ou por grupos especializados, que não
apenas compartilham um conteúdo, mas estabelecem conexões e estimulam percepções
(CHAGAS, 2016). Acrescenta-se a isso que a proliferação do gênero tem reunido os
indivíduos em torno de interesses comuns (BARRETO, 2015; ESCALANTE, 2016),
indicando que o meme diz respeito de uma prática comunicativa que abarca diversas esferas
da vida contemporânea (EUZÉBIO e CERUTTI-RIZZATTI, 2013).
Ainda se faz necessário esclarecer que minha experiência com o meme de internet se
deu a partir da convivência com os próprios estudantes do ensino médio. Foi observando as
peças que esses jovens postavam em suas páginas eletrônicas que percebi que elas iam muito
além de frases ou imagens engraçadas, contendo teor afetivo, crítico e político. Foi desse
contato com as redes sociais juvenis que veio a vontade de realizar um trabalho que
envolvesse o meme de internet.
1 Cláudia Maria da Silva Lobo é graduada pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte –
FAFI-BH. Especializou-se em História do Brasil pela mesma instituição. Leciona a disciplina história no ensino
médio na Escola Estadual Governador Milton Campos.
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Isso exposto, quanto ao procedimento metodológico, este artigo se caracteriza, por um
lado, como revisão de literatura com um recorte qualitativo, por apresentar um levantamento e
seleção bibliográficos de material já publicado até o momento sobre o assunto (MARCONI E
LAKATOS, 2010); e, por outro, como relato de experiência, por apresentar uma sequência
didática desenvolvida com alunos do ensino médio de uma escola pública da rede estadual do
município de Belo Horizonte.
Ressalta-se que este artigo é estruturado em três seções: na introdução apresentou-se o
assunto, motivações da proposta e a metodologia empregada. Na segunda parte a evolução do
conceito de meme de internet será exposta. Ainda, nessa seção, uma sequência didática em
que aspectos relacionados à leitura e à produção desse artefato será explicitada. Por fim, nas
considerações finais, as principais ideias expostas no artigo serão retomadas sinteticamente.
MEMES DE INTERNET NAS AULAS DE HISTÓRIA: UMA EXPERIÊNCIA
DIDÁTICA.
Se minha história com os memes começa com a convivência com os nativos digitais, a
história dos memes se inicia com Richard Dawkins que, ao teorizar sobre as espécies, definiu-
os como replicadores de comportamento (DAWKINS, 1978). No entanto, mutantes como são,
os memes começaram a se metamorfosear a partir de seu surgimento. Assim, na década de 90,
foram considerados artefatos informacionais com atitude (DENNETT, 1998), transmitidos
pelo aparato cognitivo humano (BLACKMORE, 2002). Nos anos 2000, vistos como artefatos
culturais tipicamente modernos (JENKINS, 2009), tiveram dimensão local e global destacada
dentro da web (RECUERO, 2007). E hoje associados às redes sociais, vinculam padrões de
composição e propósitos multimodais, sendo identificados como memes de internet (SOUZA
JUNIOR, 2014).
Salienta-se ainda que a internet se tornou o local mais fecundo para memes, que
enquanto intricados informacionais apenas fazem sentido a partir de um contexto. Sob esse
ponto de vista os memes, ao replicarem de maneira maciça, mostram não apenas o repertório
individual e cultural de seus criadores, mas também daqueles que os compartilham. Além
disso, ao incorporarem a versão alternativa de peça original que foi alterada ou recombinada
para outro contexto e o humor, ridicularizam ideologias, influenciando as redes de contato
(CHAGAS, 2016).
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MEMES DE INTERNET NAS AULAS DE HISTÓRIA: A METODOLOGIA DA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
Com a intenção de promover o debate sobre os acontecimentos que mobilizaram a
sociedade brasileira a partir do segundo mandato da presidente Dilma Russef, a professora
Cláudia Lobo utilizou o fato histórico como instrumento para se chegar a um discernimento
maior sobre os acontecimentos políticos vivenciados pelos brasileiros. Desse modo,
entendendo a contextualização como elemento imperativo para o conhecimento histórico, ela
orientou os aprendizes para analisarem um evento em relação ao momento sócio-econômico-
cultural.
Em decorrência disso, na primeira etapa da sequência didática, Lobo apresentou a
proposta aos alunos, explicitando como os memes de internet seriam agregados ao trabalho. A
simples menção da palavra “meme” causou uma agitação entre os estudantes. Nesse
momento, eu expliquei a eles que o meme configuraria como representação da situação de
comunicação que seria executada (DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004), sendo que
a excelência da produção final dependeria do empenho deles em todas as fases do trabalho.
Depois dessas explicações os alunos foram instruídos a realizar pesquisas sobre a crise
política brasileira iniciada com o impeachment da presidente Dilma Russef, refletindo sobre o
papel da mídia na divulgação de todo processo. Os estudantes ainda foram orientados a
investigar sobre os desdobramentos da Operação Lava a Jato, que levou à prisão vários
parlamentares, ex-ministros e empresários. Eu os orientei que buscassem fontes confiáveis,
verificando como a mesma notícia era apresentada em veículos de comunicação diferentes.
Além da indicação de algumas páginas virtuais, Cláudia Lobo se preocupou em preparar os
alunos para o reconhecimento de notícias sensacionalistas. Na sequência, cada turma foi
dividida em grupos de alunos, que puderam escolher um evento a partir do contexto
determinado.
Durante duas semanas os jovens realizaram pesquisas sobre o assunto escolhido,
preparando-se para o debate. As investigações realizadas pelos alunos foram realizadas como
tarefa de casa e os estudos aconteceram individualmente.
A segunda parte da sequência didática se caracterizou pela capitalização das
aquisições dos aprendizes. Nessa ocasião, durante os debates, podemos aferir o desempenho
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linguísticos dos jovens e os conhecimentos adquiridos por meio das pesquisas. Assim, o
acontecimento histórico serviu como instrumento para se questionar o presente, promovendo
uma participação crítica dos estudantes durante as discussões. Os debates aconteceram nas
aulas de História ao longo de uma semana, mas com repercussões em Língua Portuguesa, uma
vez que os alunos recorriam à disciplina para construir diferentes argumentos. Após os fóruns
de discussão, veio a produção do meme.
A terceira parte da sequência didática foi dedicada à produção de um meme de
internet. Os alunos foram orientados a criar peças que reunissem noções e ensinamentos
adquiridos durante as duas etapas da sequência didática. A partir disso, cada grupo teve uma
semana para confeccionar seu produto. Não houve a necessidade de se promover explanações
sobre como construir um meme, pois, segundo observei, essa era uma prática comum aos
jovens. No entanto, uma vez que nossa proposta integrava imagem e texto, durante esse
período, nas aulas de Língua Portuguesa, apresentei aos alunos algumas proposições da
Gramática do Design Visual, de Gunther Kress e Theo van Leeuwen. Também expus as
considerações de Souza Junior sobre as categorias multimodais de análise. De acordo com o
autor, na mensagem multimodal, existe uma organização e estrutura dos elementos visuais, ou
seja, “alguns elementos representados aparecerão na frente e outros no fundo do cenário da
imagem; uns iluminados e outros completamente foscos ou borrados; podem existir itens
colocados no centro e outros nas margens” (SOUZA JÚNIOR, 2015, p. 11, grifo do autor).
Isso exposto, alguns aprendizes produziram os memes a partir de um gerador de
memes, ferramenta disponível em diversos sítios da internet, que permite criar peças
personalizadas a partir de imagens; outros recorrem ao editor de imagem de seus
computadores pessoais para a criação do artefato. Para essa tarefa, a sala de informática da
escola foi cedida para os alunos no contraturno escolar. No entanto, observei que a maioria
dos grupos desenvolveram as tarefas em seus próprios lares. Para minha surpresa, vários
grupos produziram mais de um meme, demonstrando o grande envolvimento deles com o
trabalho. Para encerrar a sequência didática, os memes criados pelos grupos foram
apresentados numa exposição para apreciação de toda turma.
Para a exposição, quarta e última parte do trabalho, cada grupo providenciou a
impressão de sua peça, que foi afixada nas paredes da própria sala de aula (foto 1). Coube a
cada aluno apreciar as produções alheias, tecendo comentários ou questionando os produtores
sobre as intenções da peça, quando não conseguiam decodificar sua mensagem.
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Foto 1. Exposição dos memes criados pelos alunos no encerramento da sequência didática promovida
pelas disciplinas História e Língua Portuguesa, em julho de 2017. Na foto, os alunos apreciam as
peças produzidas pelos colegas.
Fonte: Maria Alice de Souza.
Durante a exposição analisei, juntamente com os alunos, as representações visuais,
levando-os a perceber que, em se tratando de memes de internet, há de se considerar tanto as
categorias narrativas como as conceituais. Em outras palavras, mostrei aos jovens que nos
processos narrativos são admitidos os participantes (seres humanos ou não), que fazem algo
para alguém ou recebem algo de alguém e as circunstâncias (instrumento, local, companhia);
já nos processos conceituais, os participantes estão associados (são superiores ou
subordinados) a outros elementos visuais (KRESS; VAN LEEUWEN, 2000, apud SOUZA
JÚNIOR, 2014).
AVALIANDO OS RESULTADOS DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA
A partir da confecção dos intrincados os alunos compreenderam que impregnado de
intertextualidade, o meme de internet demanda de quem o interpreta vários saberes. Diante de
uma peça, que se caracteriza pelo compartilhar, imitar e remixar (SHIFMAN, 2014 apud
ESCALANTE, 2016), compreendem-se não apenas as tendências culturais de seus criadores,
suas identidades individuais; mas também a essência da cultura participativa, atribuída pelo
sentimento de pertença das identidades a grupos coletivos específicos (CANEN, 2015).
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Com minha mediação os alunos chegaram à conclusão que os memes de internet são
vistos como: a) itens digitais com características semelhantes de conteúdo, forma e postura; b)
peças criadas pelos usuários com conhecimento em outras peças; e c) objetos imitados,
transformados e distribuídos pela internet (SHIFMAN, 2014 apud ESCALANTE, 2016).
Na confecção das peças os alunos tiveram como suporte a internet. Recorrendo a
aplicativos de geradores de meme ou utilizando softwares para edição de imagens os jovens
associaram textos, imagens e vídeos disponíveis na Grande Rede a situações da política
brasileira. As personalidades já conhecidas por eles representavam circunstâncias que
motivaram as discussões dos debates. Nessa direção o meme de internet se mostrou como
“meio” e “palco” de produção de saberes históricos e educacionais que permitiram aos
aprendizes confrontar experiências significativas de sua existência (CUNHA; PRADO, 2017).
Os memes de internet produzidos pelos alunos possuíam uma linguagem simples à
primeira vista. No entanto, as peças vincularam singularidades de outros campos do saber,
instigando práticas sociais que envolveram a leitura e a escrita. Embora a escrita de um meme
não precise adotar a norma culta da língua, exige dos produtores outras habilidades como
utilizar softwares de edição e familiaridade com a plataforma usada (COSCARELLI, 2006;
ESCALANTE, 2016, CHAGAS, 2016).
Recorrendo ao princípio do design os alunos averiguaram como a reelaboração de
determinado item corria. Nas peças expostas, percebeu-se esse remix a partir do momento em
que um meme foi ressignificado para originar novas peças. Essa proposta de análise ainda
reuniu o estudo de imagem e texto, considerando as compreensões da linguística sistêmico-
funcional, de Kress e Van Leeuwen (SOUZA JÚNIOR, 2014).
Para se compreender como o meme de internet se organiza em sua discursidade, a
análise das peças se pautou nas condições de produção e na noção de lugar, já que o discurso
como instrumento de prática política modifica as relações sociais criando determinadas
demandas. De acordo com LIMA (2003, p. 82), a história não é vista como uma sucessão de
fatos cronológicos com sentidos já dados, mas “fatos que reclamam sentidos, cuja
materialidade não é possível de ser apreendida em si, mas no discurso”.
Em nenhuma produção foi detectado discurso de ódio, provando que os estudantes
souberam discernir os limites entre liberdade de expressão e agressão a direitos constituídos.
As peças criadas pelos jovens sempre bem espirituosas, diziam do momento político
vivenciado por eles ou da reverberação das investigações realizadas pela Polícia Federal do
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Brasil, conforme figura 1. Constatei ainda que para se construir os significados dos memes de
internet, os produtores entenderam como se encadeavam as sequências tipológicas,
estabelecendo coerência a partir das escolhas léxicas utilizadas.
Figura 1. Figura 1. A peça tem como base um meme bem conhecido na internet: a personagem
Nazaré Tedesco, vilã da telenovela Senhora do Destino. Na montagem, a legenda “Como uma
empresa do tamanho da Petrobrás foi saqueada por tantos e por tanto tempo sem que suas incontáveis
auditorias internas descobrissem?” elaborada pelo grupo de alunos participantes da sequência didática
é seguida das imagens da atriz Renata Sorrah rodeada de expressões matemáticas num estado de
confusão.
Fonte: Alunos na terceira fase da sequência didática em junho de 2017.
Além dos referenciais teóricos, para se analisar as peças, discutiu-se com os grupos de
alunos, como eles entendiam os elementos constitutivos de um meme de internet. Também foi
analisado como determinado meme ou expressão memética se mostram favoráveis ao
aparecimento de novas peças (SOUZA JÚNIOR, 2015). Aliás, como se pode perceber na
figura 2, grande parte das peças produzidas apresentaram não só construção multimodal, isto
é, uma imagem, distribuída digitalmente, de maneira multimidiática, vinculada a uma legenda
(SOUZA JÚNIOR, 2014), como posicionamento político de seus produtores.
Figura 2. A montagem apresenta quatro imagens de expansões cerebrais associadas a legendas que
mostram o posicionamento do grupo participante da sequência didática em relação às eleições de
2018. Na primeira ilustração, o cerébro inativo mostra os dizeres “Bolsomito 2018”. Na segunda, o
cerébro com sinais de atividade vem acompanhado das palavras “Lula 2018”. A terceira imagem
apresenta um cerébro bem iluminado, sugerindo seu grande desenvolvimento, ao lado de “Eu vou
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votar nulo”. E, por último, a imagem exibe um cerébro completamente expandido (o supercerébro)
acompanhado de um post de instagram com o seguinte comentário: “Eu sou de deixar o Brasil sem
presidente. Aí a gente cria um grupão de WhatsApp e vai decidindo as coisas”.
Fonte: Alunos na terceira fase da sequência didática em junho de 2107.
Nesse exercício de significação o meme de internet foi elemento importante para a
formação do pensamento crítico, permitindo entender um determinado sentido histórico. A
interpretação de cada peça exigiu observação e conhecimento da estrutura do objeto inserido
no tempo e no espaço. No entanto, Escalante (2016, p. 93) alerta que isso não quer dizer que
todos os indivíduos aprenderão algo com o meme de internet; mas, em algum momento, ele
poderá incitar a curiosidade de alguém que não conseguiu entender o seu código. Afinal a
leitura de uma peça envolve “saber ler; saber em qual língua o meme está escrito; conhecer as
referências culturais que estarão presentes nele; saber manusear o aparato técnico em que ele
está exposto, etc.”
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Nessa seção apresentou-se os resultados de uma sequência didática desenvolvida com
estudantes do primeiro ano do ensino médio de uma escola pública da rede estadual do
município de Belo Horizonte no estado de Minas Gerais. A proposta didática foi apresentada
para ilustrar as teorias que compreendem o meme de internet como um artefato cultural, que
leva em consideração os participantes do discurso, os elementos da enunciação, as situações e
intenções comunicativas. Paralelamente a essas concepções, foi salientado que a produção de
um meme considera tanto as referências internas à obra como as de outros artefatos culturais
externos a ela ou circunstâncias políticas, sociais e históricas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este artigo, ao analisar uma sequência didática, pretendeu mostrar que, no atual
contexto, o meme de internet emerge como uma nova forma de expressão da cultura digital.
Desse modo, por intermédio desse produto, os alunos do ensino médio de uma escola pública
do município de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais, reconheceram os mecanismos de
transformação da estrutura política brasileira ao criar uma peça de maneira crítica, ética e
responsável.
A experiência mostrou que se para o conteúdo de História, por meio da produção de
memes de internet, foi proporcionado aos aprendizes a análise de acontecimentos em relação
ao momento sócio-econômico-cultural brasileiro; em Língua Portuguesa, essas vivências
contribuiriam para o engajamento crítico dos alunos nas diferentes práticas sociais. Mostrou
também que o meme não apenas compartilha um conteúdo mas estabelece conexões, uma vez
que a construção de seu sentido, por ser uma ação individual, exige a articulação de
conhecimentos prévios vindos de diferentes fontes.
Em síntese, se de um lado, a escola produz práticas, problemas, demandas e modos de
subjetivação que lhe são peculiares; de outro, ela abarca os discursos presentes nos vários
artefatos tecnológicos da contemporaneidade. Tais questões colocam-nos diante do desafio de
incluir o teor da internet nas disciplinas escolares, garantindo que os jovens possam ler
criticamente o conteúdo disponível em rede.
REFERÊNCIAS
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