REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO · revista brasileira de medicina do trabalho...

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REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO PUBLICAÇÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO – ANAMT EDITORIAL » A nova diretriz da RBMT por números temáticos ARTIGOS ORIGINAIS » Saúde bucal e sua influência na qualidade de vida do trabalhador: uma revisão de artigos publicados a partir do ano de 1990 » Deposição óssea por fluoreto de alumínio: intoxicação ocupacional? » Distrofias ungueais no ambiente de trabalho: uma breve abordagem » Dor musculoesquelética em acadêmicos de odontologia » Avaliação do risco de redescolamento de retina após retorno a atividade laboral braçal » Prevalência de lombalgia e fatores associados em trabalhadores de uma empresa agropecuária do sul do Brasil VULTOS DA MEDICINA DO TRABALHO NO BRASIL » Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra CALENDÁRIO DE EVENTOS Disponível em iPad e Android Volume 13 • Número 1 • 2015 ISSN 1679-4435 Endereço on-line: www.anamt.org.br

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REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA DO TRABALHO

PUBLICAÇÃO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MEDICINA DO TRABALHO – ANAMT

EDITORIAL

» A nova diretriz da RBMT por números temáticos

ARTIGOS ORIGINAIS» Saúde bucal e sua influência na qualidade de vida do

trabalhador: uma revisão de artigos publicados a partir do ano de 1990

» Deposição óssea por fluoreto de alumínio: intoxicação ocupacional?

» Distrofias ungueais no ambiente de trabalho: umabreve abordagem

» Dor musculoesquelética em acadêmicos de odontologia

» Avaliação do risco de redescolamento de retina após retorno a atividade laboral braçal

» Prevalência de lombalgia e fatores associados em trabalhadores de uma empresa agropecuária do sul do Brasil

VULTOS DA MEDICINA DO TRABALHO NO BRASIL» Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e

a obra

CALENDÁRIO DE EVENTOS

Disponível em iPad e Android

Vo l u m e 1 3 • N ú m e r o 1 • 2 0 1 5 ISSN 1679-4435Endereço on-line: www.anamt.org.br

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PRESIDENTE Zuher Handar (PR)

VICE-PRESIDENTE NACIONALPaulo Antonio de Paiva Rebelo (RJ)

VICE-PRESIDENTE DA REGIÃO NORTEFrancisco Ferreira de Sousa Filho (PA)

VICE-PRESIDENTE DA REGIÃO NORDESTEJosé Carlos Ribeiro (BA)

VICE-PRESIDENTE DA REGIÃO CENTRO-OESTELuiz Garcia de Oliveira Lima (MS)

VICE-PRESIDENTE DA REGIÃO SUDESTEVinício Cavalcante Moreira (MG)

VICE-PRESIDENTE DA REGIÃO SULAntônio Mário de Carvalho Guimarães (RS)

DIRETORIA ANAMT 2013–2016

DIRETOR ADMINISTRATIVOAurelino Mader Gonçalves Filho (PR)

DIRETORA ADMINISTRATIVA ADJUNTAAntonieta Quirilo Milleo Handar (PR)

DIRETOR FINANCEIRODante José Pirath Lago (PR)

DIRETOR FINANCEIRO ADJUNTOElver Andrade Moronte (PR)

DIRETOR CIENTIFICOMario Bonciani (SP)

DIRETORA DE DIVULGAÇÃOMarcia Bandini (SP)

DIRETOR DE PATRIMÔNIOFlávia Souza e Silva de Almeida (SP)

DIRETOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAISRené Mendes (SP)

DIRETOR DE LEGISLAÇÃOMaria Edilma Fernandes de Mendonça (CE)

DIRETOR DE ÉTICA E DEFESA PROFISSIONALRosylane Nascimento das Mercês Rocha (DF)

DIRETOR DE TÍTULO DE ESPECIALISTAJoão Anastácio Dias (GO)

CONSELHO FISCAL

CONSELHO FISCAL TITULARRenato Monteiro (SP)Claudio Schmitt (RS)

Charles Carone Amoury (ES)

CONSELHO FISCAL SUPLENTEGlauber Santos Paiva (CE)

Denise Fátima Brzozowski (SC)Gilberto Archero Amaral (SP)

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INDEX

COMISSÃO EDITORIAL – EDITORIAL BOARD

Antonio de Sousa UvaENSP – Universidade de Nova

Lisboa – Lisboa – PortugalArline Sydneia Abel Arcuri FUNDACENTRO – SP – BR

Berenice Isabel Ferrari Goelzer IOAH – RS – BR

Carlos Nunes Tietboehl FilhoSESI – RS – BR

Carlos Roberto CamposIERGO – GO – BR

Claudio TaboadelaUniversidad Catolica – Buenos

Aires – ArgentinaDante José Pirath Lago

VOLVO – PR – BRDavide Bosio

Universitá Torino – Turim – ItaliaDuarte Nuno Vieira

Universidade de Coimbra – Coimbra – PortugalEduardo Costa Sá

HC – FMUSP – SP – BREduardo Mello De Capitani FCM – UNICAMP – SP – BR

Elizabeth Costa DiasUFMG – MG – BR

Emma Sacadura LeiteENSP – Universidade de Nova

Lisboa – Lisboa – PortugalEverardo Andrade da Costa

UFC – UNICAMP – SP –BRFernando Donato VasconcelosDSST– Ministério do Trabalho –

Brasília – DF – BRFlávio Henrique de Holanda Lins

UFPE – PE – BRFrancisco Corte Real

Instituto Nacional de Medicina Legal– Coimbra – Portugal

Hermano Albuquerque de CastroENSP – FIOCRUZ – RJ – BR

Ildeberto Muniz de AlmeidaFM –UNESP – Botucatu – SP– BR

Jandira Dantas MachadoSESI – DR – PE – BR

João Anastácio DiasFUNAPE/UFG – GO – BR

José TarcísioPenteado Buschinelli

FCMSCSP –SP – BR

Julizar DantasFCCMG – MG – BRLys Ester Rocha

MP – FMUSP – SP – BRMarco Antônio

Vasconcelos RêgoFMB – UFBA – BA–BR

Marcos Furtado de Toledo Unimed – MG – BR

Maria Cristina PantanoUniversidad Catolica – Buenos

Aires – ArgentinaMario Cesar Rodrigues Vidal

UFRJ – RJ – BRPaulo Antonio Barros Oliveira

SRT – RS – BRPaulo Antonio de Paiva Rebelo

ABMT e ABMR – RJ – BR René MendesIOT – SP – BR

Roque Luis Mion PuiattiMTE – RS – BR

Sandra Maria Gasparini FELUMA – MG – BRSatoshi Kitamura

FCM – UNICAMP – SP – BRSergio José Nicoletti

UNIFESP – SP – BRSergio Roberto de LuccaFCM – UNICAMP – SP – BR

Solene Ziemer KusmaPUCPR – PR – BR

Susan StockInstitut National de Santé Publique

du Quebec – Montreal – CanadáTee L. Guidotti

Fellow of the Canadian Board of Occupational Medicine –

Washington – DC – USATeresa Magalhães

Instituto Nacional de Medicina Legal – Porto – PortugalThomas J. Armstrong

Professor Industrial and Operations Engineering, Center for Ergonomics – University of

Michigan – USAVilma Sousa Santana

UFBA – BA – BR Zuher Handar

PUCPR – PR – BR

EDITOR – EDITORHudson de Araujo Couto

EDITORES ADJUNTOS – ASSOCIATE EDITORSFrida Marina Fischer

Mario BoncianiVera Lucia Zaher

EDITORA-ASSISTENTE – ASSISTANT EDITORSandra Lúcia Picchiotti

As instruções aos autores estão disponíveis no site

www.anamt.org.br

Volume 13

Número 1

2015

EDITORIAL1 A nova diretriz da RBMT por números temáticos

Hudson de Araújo Couto

ORIGINAL ARTICLE2 Oral health and its influence on the quality of life of

workers: a review of articles published from 1990Isabela de Avelar Brandão Macedo, Sueli de Souza Costa

13 Bone deposition of aluminum fluoride:

occupational poisoning?Clarissa Mari Medeiros, Talita Zerbini, Eduardo Costa Sá,

Pedro Artur Lobato Baptista, Rogério Muniz Andrade,

Raquel Barbosa Cintra

17 Nail dystrophy in the workplace: a brief approachPedro José Secchin de Andrade,

Sulamita dos Santos Nascimento Dutra Messias

23 Musculoskeletal pain in dental studentsHugo Machado Sanchez, Eliane Gouveia de Morais Sanchez,

Nathália Peres Filgueira, Maria Alves Barbosa, Celmo Celeno Porto

31 Assessment of the retinal redetachment risk after

returning to manual labor activityFábio Petersen Saraiva, Liana Tito Barbosa Francisco,

Patricia Grativol Costa Saraiva

35 Prevalence of low back pain and factors associated with

workers of an agriculture company in southern BrazilRafael Haeff ner, Leila Maria Mansano Sarquis,

Gheysa Fernanda da Silva Haas, Rita Maria Heck,

Vanda Maria da Rosa Jardim

FIGURES OF THE BRAZILIAN OCCUPATIONAL MEDICINE43 Bernardo Bedrikow and the Occupational Health:

the man and the workRubens Bedrikow, Jorge da Rocha Gomes

II Events Calendar

REVISÃO E DIAGRAMAÇÃOZeppelini Editorial Ltda.Rua Bela Cintra, 178 – ConsolaçãoCEP 01415-000 – São Paulo (SP)Tel. (11) 2978-6686 – www.zeppelini.com.brZEPPELINI

P U B L I S H E R S

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Rev Bras Med Trab.2015;13(1):1

1

EDITORIAL

A partir do próximo número, a Revista Brasileira de Medicina do Trabalho (RBMT) tratará de temas específicos.A mudança na orientação da revista visa a ser um diferencial prático, direcionando autores e pesquisadores

de nosso país para temas considerados pelo comitê editorial como os mais relevantes para a realidade do Brasil.No universo dos periódicos de atualização em Medicina, esse modelo já é adotado por diversas entidades e

não conflita com o modelo anterior (de números genéricos), tratando de diversos temas, mas o complementa. Alguns periódicos adotam também o modelo misto, fazendo um número sobre tema específico quando há um número maior de artigos sobre determinado tema.

Além do comitê editorial, cada número terá um coeditor convidado, que será sempre um profissional de respeitado conhecimento científico e prático sobre aquele assunto.

O número do segundo semestre de 2015 será sobre A saúde dos trabalhadores da saúde. Já temos diversos artigos aprovados para esse número, mas incluiremos uma revisão importante sobre a questão ergonômica da movimentação segura de pacientes.

Dra. Barbara Silverstein, uma das maiores estudiosas do tema, informa que 38% dos trabalhadores de hospitais nos Estados Unidos sofrem de lombalgia relacionada ao trabalho, necessitando afastar-se de suas atividades; e 12% consideram deixar as atividades devido às dores lombares aos 39 anos. A situação mais crítica ocorre na movimentação de pacientes totalmente não cooperativos e de pacientes bariátricos. Em alguns estados norte-americanos, já existem instrumentos legais que direcionam os hospitais para adotarem os denominados Programas de Movimentação Segura de Pacientes.

Também na União Europeia a questão é fonte de preocupação e a International Organization for Standardization (ISO) trabalha para criar normas sobre o tema. Não se trata de algo simples. Para a eficácia das ações, é necessário estudar as situações quanto à classificação do paciente, tipo de manuseio, organização do trabalho, postura para realizar o esforço, avaliação da força exercida, instalação de equipamentos de assistência, o ambiente para os esforços, considerando inclusive mudanças arquitetônicas dos hospitais, e também as características de robustez das pessoas envolvidas na movimentação.

No próximo número será feita uma revisão sobre o tema, basicamente tentando mostrar a nossa reali-dade e os caminhos a percorrer nesse, que é um dos maiores problemas de saúde dos trabalhadores da saúde.

Os temas dos números seguintes serão:• Questões novas e antigas em Pneumoconioses e Asma Ocupacional• Drogas, seu Impacto no Trabalho e o Papel do Médico do Trabalho• Novos Rumos da Ergonomia

Participe dessa nova fase da RBMT!

Hudson de Araújo Couto Editor

A nova diretriz da RBMT por números temáticos

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Recebido em: 18/09/2013 Aprovado em: 02/06/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexto: As condições de saúde bucal de trabalhadores e suas implicações na qualidade de vida, com ênfase em dados epidemiológicos no planejamento de programas de saúde bucal do trabalhador, é o enfoque da análise quantitativa de artigos publicados a partir do ano de 1990, foco deste trabalho. Objetivos: Trata-se de revisão de literatura abordando a saúde bucal e sua influência na qualidade de vida dos trabalhadores. É baseado em evidências observadas na literatura, considerando as dificuldades em encontrar-se artigos relacionados ao assunto. Métodos: Foram consultadas as base de dados BBO, BIREME, MEDLINE, LILACS, COCHRANE, para publicações no período de 1990 a 2012. Resultados: Foram encontradas apenas 31 produções científicas com o enfoque citado. Conclusões: Há pouco espaço disponível em periódicos para a publicação de pesquisas relacionadas à saúde bucal do trabalhador, o que indica a necessidade de uma reflexão sobre a produção científica, por ser esta capaz de propiciar uma formação profissional comprometida com a qualidade de vida e a saúde da coletividade.Palavras-chave | saúde bucal; qualidade de vida; saúde do trabalhador.

ABSTRACT | Context: The oral health status of workers and their implications for quality of life, with emphasis on epidemiological data for planning health programs of the worker, is the focus of the quantitative analysis of articles published from the year 1990, the focus of this work. Objectives: This is a review of literature addressing oral health and its influence on quality of life of workers. It is based on evidence found in literature, considering the difficulties in finding articles related to the subject. Methods: Were consulted the databases of BBO, indexed, MEDLINE, LILACS, COCHRANE, for publications in the period 1990-2012. Results: Only 31 scientific works have been found with the referred approach. Conclusions: There is little space available in journals for publishing research related to oral health worker, which indicates the need for reflection on the scientific production, as this is able to provide professional training committed to quality of life and health of the community.Keywords | oral health; quality of life; occupational health.

Trabalho realizado no Instituto de Tecnologia e Pesquisa de Sergipe (ITPS) – Aracaju (SE), Brasil. 1Pesquisadora do Laboratório de Planejamento e Promoção da Saúde (LPPS) do ITTPS; Mestre em saúde e ambiente pela Universidade Tiradentes (UNIT) – Aracaju (SE), Brasil.2Professora Assistente A do Departamento de Medicina da Universidade Federal do Maranhão (UFMA); Doutoranda em odontologia pela Faculdade São Leopoldo Mandic (SLMandic) – Campinas (SP), Brasil.

Saúde bucal e sua influência na qualidade de vida do trabalhador: uma revisão de artigos

publicados a partir do ano de 1990Oral health and its influence on the quality of life of workers:

a review of articles published from 1990

Isabela de Avelar Brandão Macedo1, Sueli de Souza Costa2

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Saúde bucal e QVT

INTRODUÇÃO

A Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) é preocupação constante de pesquisadores, sempre voltada para facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalhador1. Afinal, não se pode falar em qualidade de produtos e serviços se aqueles que vão produzi-los não têm qualidade de vida no trabalho2. A noção de Qualidade de Vida (QV) é eminentemente humana, e abrange muitos significados que refletem conheci-mentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades3. A progressiva conscientização de que somos responsáveis pela QV e promoção da nossa saúde tem movido as pessoas na busca da melhoria de seu estilo de vida e da mudança de hábitos4. A busca por qualidade de vida insere-se no contexto da Responsabilidade Social, prática que deve ser incorpo-rada tanto pelas empresas quanto pelos próprios profissio-nais5. Para que os programas de qualidade de vida gerem benefícios efetivos, consequentemente se propagando para toda a sociedade, o comprometimento deve ser completo: a empresa desenvolve políticas, ações e programas de estímulo a uma vida saudável, e o funcionário, por sua vez, percebe que seu papel é fundamental para que os objetivos sejam alcançados por ambas as partes5.

A Organização Mundial da Saúde (OMS)6 definiu a QV como a percepção do indivíduo, de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações, de forma a superar a multidimensionalidade entre os indivíduos6. Já a QVT é o conjunto das ações de uma empresa visando a implantação de melhorias e inova-ções gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho, sendo que envolve as seguintes áreas de conheci-mento científico: saúde, ecologia, ergonomia, psicologia, sociologia, economia, administração e engenharia7. Há dois movimentos principais na gestão da QVT7: um individual, referindo-se ao aprofundamento da compreensão a respeito do estresse e das doenças associadas às condições do ambiente de trabalho; e o outro, organizacional, destacando a expansão do conceito de qualidade total, que não se restringe apenas a processos e a produtos, mas abrange aspectos comporta-mentais e satisfação de expectativas individuais, objetivando a concretização dos resultados da empresa.

O uso de indicadores subjetivos, para identificar o impacto de saúde bucal na qualidade de vida, vem sendo utilizado mais nas pesquisas, em virtude dos indicadores clínicos

mensurarem somente as sequelas biológicas dos agravos e eventos em saúde, sem expressar o sofrimento e as limita-ções vivenciadas pelos indivíduos frente a uma patologia8. A ênfase somente nos indicadores clínicos superdimensiona a visão normativa do processo saúde-doença, mascarando as dimensões sociais da saúde bucal9. O Quadro 1 fornece dados sobre os principais índices utilizando-se estudo do impacto social das doenças bucais.

A utilização destes indicadores em planejamentos de serviços de saúde é importante, mas muitas vezes a diver-sidade de informações, a falta de uniformidade e a clareza na aplicação das diferentes medidas podem dificultar seu emprego de forma mais ampliada. No entanto, tem se perce-bido uma tendência de compactação de alguns indicadores10.

A avaliação da saúde bucal sob a ótica da qualidade de vida foi inicialmente mencionada por Locker11 com base na Classificação Internacional de Danos, Limitações e Incapacidade da OMS. Os agravos e eventos bucais causam prejuízos que podem levar diretamente a incapacidades ou se expressar sintomas através da dor, desconforto, limitação funcional e insatisfação com aparência. Estes sintomas podem acarretar limitações físicas, sociais e/ou psicoló-gicas e consequentemente a incapacidade.

A QV está fortemente influenciada pelas condições de saúde, inclusive a saúde bucal12. Restrições físicas e psico-lógicas podem influenciar aspectos relativos a alimentação, locomoção, fala, convívio social e auto-estima.

O trabalho é fator fundamental de integração social, muito relevante na vida das pessoas. Dependendo do trabalho, assim como das condições em que é realizado, este pode ser consi-derado como fator de prazer ou de realização pessoal, mas também pode se constituir como fonte de adoecimento13.

As condições de trabalho interferem na qualidade de saúde bucal dos trabalhadores, podendo desencadear alte-rações na mucosa bucal, traumas e outros agravos. Araújo e Gonini Júnior14 alertaram sobre a importância de conhecer os problemas bucais que possam afetar os trabalhadores, analisando a sua epidemiologia, patologia e etiologia, além de compreender o impacto que possam ocasionar na sua qualidade de vida.

A fim de assegurar a saúde geral do trabalhador, e conse-quentemente melhor qualidade de vida, a segurança no trabalho tem sido motivo de negociações entre sindicatos e empresários, frente à conscientização das classes traba-lhadoras da necessidade de tornar obrigatória a assistência

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Macedo IAB, Costa SS

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à saúde do trabalhador para prevenir as doenças ocupacio-nais, incluindo as que afetam a área odontológica15. Silva et al.16, em artigo tratando da importância da inserção do cirurgião-dentista nas políticas públicas de saúde do traba-lhador, salientam que esse processo é histórico e provém de lutas constantes da população que necessita dos serviços e dos profissionais que os oferecem.

Carvalho17 informa que os problemas bucais consti-tuem uma incapacidade da atividade produtiva, com efeitos sobre a capacidade de trabalho e a qualidade de vida, além do prejuízo para o empresário14,17.

Se as condições bucais se vinculam às condições gerais de saúde, e são consideradas quando se discutem as incapa-cidades que atingem os trabalhadores, a promoção da saúde torna-se um meio potencial de combate ao desconforto, dor e sofrimento associado às doenças bucais, tornando-se

estratégia importante na redução do impacto destas doenças na vida do trabalhador17. Pesquisa realizada por Wagner et al.18 sobre saúde mental e qualidade de vida de policiais, aponta para a necessidade de se pensar com seriedade sobre as políticas públicas envolvendo a saúde do trabalhador, pois, no caso do policial, afeta também, em última instância, a sociedade geral.

O panorama da saúde bucal tem evoluído nos últimos anos, quando se trata de QVT. A Odontologia do Trabalho, regulamentada pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) em 2001, aborda de forma objetiva a epidemiologia e pato-logia desses problemas, estuda os impactos que possam vir a causar à qualidade de vida dos trabalhadores, trazendo à tona novos elementos na análise conhecimento sobre riscos ocupacionais, da causalidade das doenças e dos motivos de sua maior incidência e manutenção19.

Índice Definição

SIDD (The Social Impacts of Dental Disease)

Instrumento com quatro categorias de impacto no cotidiano (mastigação, comunicação, conforto, bem estar e auto-imagem através da insatisfação com os dentes, próteses ou outros fatores de apa-

rência) (Sheiham, Cushing e Maizel, 1986)

DIP (Dental Impact Profile)Instrumento de impacto com 25 itens enfatizados na importância dos dentes para funções do dia a dia. Com escala ordinal dividida em respostas sobre alimentação, saúde/bem estar, relação social e

relacionamentos afetivos (Strauss, 1997)

OHIP (The Oral Health Impact Profile)

Instrumento que direciona a avaliação da incapacidade e do status funcional nos aspectos psico-lógico, social e físico em relação à saúde bucal. Utiliza-se de 49 perguntas, mede o impacto em 7

dimensões (limitações funcionais específicas dos dentes e boca, dor e desconforto, limitações físicas, limitações psicológicas, limitações sociais e incapacidade). As respostas se baseiam em uma escala

de Likebert de cinco pontos (Slade e Spencer, 1994)

DIDL (The Dental Impact in Daily)

Instrumento sócio-dental com 36 questões, abordando a percepção do indivíduo quanto à dor, des-conforto, aparência, performance e restrição alimentar. Este impacto é medido através de uma média

de códigos (Leão e Sheiham, 1995)

OHQOL (The Oral Health-Related of Life Mensure)

Instrumento que avalia impacto da saúde bucal no trabalho e no lazer, nas atividades sociais e na per-cepção com a aparência. Investiga ainda a experiência com dor de dente, desconforto e problemas na

alimentação nos últimos três meses (Kressin, 1997)

OH-QOL (The Oral Health Quality of Life Invetory)

Instrumento com 15 perguntas de investigação sobre satisfação pessoal com a saúde bucal e com a condição funcional, bem como importância destes quesitos para cada indivíduo (Cornell et al, 1997)

IODD (Índice de Impacto nas atividades cotidianas) e IODP (Oral Impacts on Daily Performances)

Instrumento baseados nas dimensões da dor, desconforto, limitação da função e insatisfação com a apa-rência. São avaliadas oito atividades cotidianas que representam a performances psicológica, social e

física dos indivíduos, mediadas por aspecto da saúde bucal como: comer e mastigar bem, falar e pronun-ciar corretamente as palavras, limpar os dentes e a boca, dormir e relaxar, sorrir e mostrar os dentes sem

embaraço, manter o estado emocional estável, desempenho no trabalho e contato com as pessoas. Este índice trabalha frequência e severidade da transferência da condição de saúde bucal nas ativida-

des diárias. Este método segue o modelo de Locker, medindo o impacto a partir das limitações nas per-formances sociais, psicológicas e física. Possibilita ainda investigação de principais sintomas e identifica-

ções de condições de saúde bucal específica relatada pelo indivíduo (Adulyanon e Sheiham, 1997)

Quadro 1. Principais indicadores de identificação do impacto de saúde bucal na qualidade de vida.

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Saúde bucal e QVT

MÉTODOS

As informações para a elaboração deste estudo foram recuperadas nas bases de dados Bibliografia Brasileira de Odontologia (BBO), Bireme, Medline, Lilacs, Cochrane, de artigos publicados no período de 1989 a 2009. Neste estudo, foram empregados etapas e descritores em catego-rias para a seleção dos artigos, conforme apontado a seguir.1. Análise em banco de dados da BBO com três categorias

de descritores:• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida”;• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida do

trabalhador”;• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida de

trabalhadores”.2. Análise em banco de dados da Lilacs com duas catego-

rias de descritores:• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida do

trabalhador”;• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida de

trabalhadores”.3. Análise em banco de dados da Medline com duas cate-

gorias de descritores:• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida do

trabalhador”;• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida de

trabalhadores”.4. Análise em banco de dados da Cochrane:

• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida do trabalhador”;

• Descritores – “saúde bucal” e “qualidade de vida de trabalhadores”.

Os critérios adotados para a inclusão dos artigos neste estudo foram: tema adequado ao proposto neste trabalho; ideias claras, objetivas e condizentes ao título do trabalho; faixa etária abaixo dos 60 anos, mas com idade compatível de estar no mercado de trabalho.

RESULTADOS

Resultados quantitativos preliminares:• Etapa 1a – 86 resumos pela primeira seleção dos descri-

tores, mas somente 31 corresponderam aos critérios de inclusão na pesquisa.

• Etapa 1b – 6 resumos.• Etapa 1c – 7 resumos, sendo coincidentes quatro resumos

com a Etapa 1b.• Etapa 2bc – 7 resumos sem diferença para as 2 catego-

rias de descritores;• Etapa 3b – 12 resumos e, com devido refinamento, 7

resumos válidos pela metodologia deste estudo.• Etapa 3c – 1 resumo e coincidente com resumo encon-

trado com descritor anterior.• Etapa 4bc – não apresentou resumo com estes descritores.

Dos 86 resumos encontrado em banco de dados da BBO (Gráfico 1) com os descritores de “qualidade de vida” e “saúde bucal”, somente 31 resumos corresponderam aos critérios desta metanálise: 1 estudo transversal qualiquanti-tativo analítico; 1 ensaio clínico randomizado; 1 estudo de avaliação, 1 pesquisa do tipo quanti-qualitativa; 1 pesquisa qualitativa, por meio de entrevistas abertas, semi-estrutu-radas; 10 teses e 19 artigos. O ano de maior número de estudos publicados sobre este tema foi 2005 (Quadro 2).

Os artigos encontrados estão listados nos Quadros 3 a 7.

DISCUSSÃO

Os principais artigos dizem respeito à QV e a odonto-logia como instrumento social de transformação.

Através de análise cronológicas dos resumos selecio-nados, pode se verificar a evolução dos estudos em relação ao valor da Odontologia como instrumento de melhoria de qualidade de vida, transformação social. Além disto, é

Gráfico 1. Primeira etapa de pesquisa – Resumos da BBO com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida”

35 31

6

30

25

20

15

10

5

0

Etapa 1a

Etapa 3b Etapa 3c Etapa 4b Etapa 4c

Etapa 1b Etapa 1c Etapa 2b Etapa 2c

7 7 7 7

1 0 0

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Macedo IAB, Costa SS

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):2-12

6

2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1997 1996 1989

3 4 5 3 3 4 3 3 1 1 1 1

Quadro 2. Número de publicações na Bibliografia Brasileira de Odontologia por Ano

clara a preocupação ao buscar desenvolver uma metodo-logia de ensino, que enseje uma atitude crítica em relação à Odontologia, levando graduandos a uma prática profis-sional comprometida com a transfomação social20.

Mediante um indicador sociodental, desenvolvido por Adulyanon e Sheiham21, capaz de registrar não só o desem-penho de saúde bucal de cada indivíduo mas também prover dados para avaliar os serviços de saúde bucal, foram medidos os resultados das condições orais dos comerciários da cidade de Bragança Paulista. No registro do cadastro de Associados dos Comerciários do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), encontram-se 507 estabelecimentos, tendo sido escolhidos aleatoriamente 12,5% destes estabelecimentos22. Em cada estabelecimento visitado foi aplicado o teste em dois funcio-nários, questionando o comprometimento na qualidade de vida pelas condições das prótese dentárias na cavidade oral de acordo com faixa etária, e a satisfação com a boca e os dentes em relação a vida social e vida pessoal.

Frente o desenvolvimento de indicadores subjetivos de saúde bucal que permitem capturar percepções e sentimentos dos indivíduos sobre sua própria saúde bucal e suas expec-tativas em relação a tratamento e serviços odontológicos e buscando maior conhecimento sobre o indicador subjetivo de saúde bucal relacionado com a qualidade de vida, Miotto e Barcellos23 realizaram busca eletrônica e classificaram os artigos relevantes de acordo com as variáveis independentes selecionadas. O Oral Health Impact Profile (OHIP) se apre-sentou como instrumento sensível para capturar mudanças no impacto das condições bucais, porém sua utilização deve ser complementar aos indicadores objetivos tradicional-mente utilizados. A diferença entre os gêneros só foi signi-ficante quando associada à condição dentária e as visitas de rotina ao dentista reduziram o impacto.

Tavares et al.24 enfatizaram o importante papel do cirurgião-dentista como participante ativo na questão de QV, através de uma revisão da literatura sobre a relação a

Quadro 3. Segunda etapa – Resumos da Bibliografia Brasileira de Odontologia com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida do trabalhador”

Bibliografia Brasileira de Odontologia – Descritores: Saúde bucal/qualidade de vida do trabalhador - 6

Títulos dos resumos Autores/Revista/Ano Tipo

Absenteísmo por causas odontológicas em uma empresa agropecuária da região sudeste do estado de Minas Gerais40

Coelho MP. 2007Tese [BBO ID: bbo-27934

Idioma: Português

Odontologia do Trabalho em ambiente hospitalarSantos PSS, Pinto MF, Guimarães

Neto JA. Rev Odonto Ciênc. 2008;23(3):307-10. graf, tab

ArtigoIdioma: Português

Odontologia do trabalho: implantação da atenção de sáude bucal do trabalhador19

Pizzatto E, Garbin CAS. Odontol Clín.-Cient. 2006;5(2):99-102.

Artigo [BBO ID: bbo-23276]Idioma: Português

Levantamento de saúde bucal na unidade central de odontologia do Serviço Social do Comércio em São Paulo

Moreira Júnior JS. 2004.Tese [BBO ID: bbo-22831] Idioma:

Português

A contribuição da odontologia do trabalho no programa de saúde ocupacional: verificando as condições de saúde bucal de trabalhadores de uma agroindústria do sul do Brasil37

Tauchen ALO. 2006.Tese [BBO ID: bbo-24757] Idioma:

Português

Análise do estado de saúde bucal de adultos traba-lhadores: assistência/atenção odontológica

Pizzatto E. ANOTese [BBO ID: bbo-25228] Idioma:

Português

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Saúde bucal e QVT

conscientizar a classe odontológica e ao processo saúde/doença frente a condições socioeconômicas e culturais, permeando-se os verdadeiros conceitos sobre prevenção, promoção e educação de saúde24.

As práticas do Programa Saúde da Família também foram destacadas no comprometimento com a solução dos problemas de saúde, prevenção de doenças e promoção da QV da população16,25.

Também foram propostos programas educativos e preventivos aos pacientes oncológicos, seguindo a tendência de busca de QV, analisando criticamente a situação atual e propondo atitudes simples e de baixo custo26-28. O câncer e as terapias usadas em sua remissão

tem efeitos colaterais no paciente, como a mucosite, hipossalivação, perda do paladar, perda de apetite, doença periodontal, cárie rampante e osteorradione-crose causados pela quimio e radioterapia, sequelas que podem ser evitados pelo cirurgião-dentista.

Em outra revisão de literatura, o objetivo foi de trazer mais conhecimento ao cirurgião-dentista sobre a diabetes, por se tratar de uma doença multissistêmica, com consequências que podem piorar a QV do doente, e até levá-lo à morte29.

Para lembrar a importância da atenção à saúde bucal de portadores do HIV e a possibilidade de ações trans-formadoras a partir do planejamento de programas que considerem o contexto biopsicossocial dos pacientes,

Quadro 4. Terceira etapa – Resumos da Bibliografia Brasileira de Odontologia com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida de trabalhadores”

Bibliografia Brasileira de Odontologia – Descritores: Saúde bucal / qualidade de vida de trabalhadores – 7

Títulos dos resumos Autores/Revista/Ano Tipo

A saúde bucal de manipuladores da dieta de um hospi-tal público de Belém, Pará / Dentistry and food safety: the oral health of food handlers at a public hospital in the city of Belém, Pará

Mattos SL, Ramalho EBT. RGO. 2008;56(3):297-301. graf

ArtigoIdioma: Português

Odontologia do Trabalho em ambiente hospitalar / Occupational Dentistry in the hospital setting

Santos PSS, Pinto MF, Guimarães Neto JA. Rev Odonto Ciênc. 2008;23(3):307-10. graf, tab

ArtigoIdioma: Português

Odontologia do trabalho: implantação da atenção de sáude bucal do trabalhador / Occupational odontology: implanta-tion of attendance in oral health of employees19

Pizzatto E, Garbin CAS. Odontol Clín.-Cient. 2006;5(2):99-102.

Artigo [BBO ID: bbo-23276]

Idioma: Português

Avaliação do impacto odontológico no desempenho diário dos trabalhadores do Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre / Assessing the oral impacts on daily performances on civil servants from the Cleaning Department of the City Council of Porto Alegre34

Gomes AS. 2005.Tese [BBO

ID: bbo-22520] Idioma: Português

A contribuição da odontologia do trabalho no programa de saúde ocupacional: verificando as condições de saúde bucal de trabalhadores de uma agroindústria do sul do Brasil / The contribution of odontology at work for the occupational health program: verifying the buccal health conditions of a Brazilian southern agroindustry37

Tauchen ALO. 2006.Tese [BBO

ID: bbo-24757] Idioma: Português

Uso de prótese e grau de satisfação com a condição bucal no cotidiano de trabalhadores de Bragança Paulista-SP – Brasil / Use of prostheses and degree of satisfaction with mouth condition in the daily activities of the workers of Bragança Paulista-SP –Brasil22

Asckar EM, Tomita NE, Vilela SM, Marinho JA. Odontol USF. 2000;18(1):11-9. Tab. Graf.

Artigo [BBO ID: bbo-6046]

Idioma: Português

Análise do estado de saúde bucal de adultos trabalhadores: assistência/atenção odontológica / Analysis of adult workers oral health: dental assistance/attention

Pizzatto E. ANOTese [BBO

ID: bbo-25228] Idioma: Português

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há outro estudo30 através de uma abordagem teórico-metodológica qualitativa, trazendo análise do mate-rial do diário de campo, dados das condições de sáude bucal (CPO-d, ceo-d, Biofilme visível, saúde perio-dontal IPC) e de indicadores sociais (renda, escolari-dade, idade) de 155 pacientes e entrevistas com quatro participantes, no Hospital Universitário de Fortaleza (CE). Os principais resultados mostraram que 72% tem escolaridade equivalente ao ensino fundamental; 87% renda até 2 salários mínimos; CPO-d médio de 23 a 60% com higiene precária, valorizam a escuta e acolhida do profissional. Conclui-se que o perfil da biopsicossocial destes pacientes é marcado por indicadores sociais e de

saúde bucal desfavoráveis. Os pacientes reconhecem a importância para a saúde geral, para as relações sociais e para a QV, valorizando a qualidade do serviço pres-tado naquele local e o diferencial da abordagem inte-gral ao paciente30.

As doenças renais são responsáveis por grande número de óbitos em todo o mundo e os portadores de insuficiência renal crônica submetidos ou não a sessões de hemodiá-lise apresentam elevado número de alterações na cavidade bucal, justificativas utilizadas para enfatizar a necessidade de manutenção da saúde bucal nestes pacientes, através de protocolo de atendimento preventivo e eficaz, visando bem estar e melhora na QV destes pacientes31.

LILACS – Descritores: Saúde bucal / qualidade de vida de trabalhador ou trabalhadores – 7

Títulos dos resumos Autores / Revista /Ano Tipo

O impacto odontológico no desempenho diário dos trabalhadores do departamento municipal de limpeza urbana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil/ The impact of oral health on daily performance of municipal waste disposal workers in Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil

Gomes AS, Abegg C. Cad Saúde Pública. 2007;23(7):1707-14. tab

Artigo [LILACS ID: 452433] Idioma: Português

Prevenção, promoção e recuperação da saúde bucal do trabalhador/ Prevention, promotion and restoration of worker´s oral health

Carvalho ES, Hortense SR, Rodrigues LMV, Bastos JRM, Sales Peres A. RGO.

2009;57(3):337-41.ilus, tab

Artigo [LILACS ID: 527918]

A saúde bucal de manipuladores da dieta de um hospital público de Belém, Pará/ Dentistry and food safety: the oral health of food handlers at a public hospital in the city of Belém, Pará

Mattos SL, Ramalho EBT. RGO. 2008;56(3):297-301. graf

Artigo [LILACS ID: 495235] Idioma: Português

Odontologia do Trabalho em ambiente hospitalar/ Occupational Dentistry in the hospital setting

Santos PSS, Pinto MF, Guimarães Neto, JA. Rev Odonto Ciênc. 2008;23(3):307-

10.. graf, tab

Artigo [LILACS ID: 494956] Idioma: Português

Odontologia do trabalho: implantação da atenção de sáude bucal do trabalhador/ Occupational odontology: implantation of attendance in oral health of employees

Pizzatto E, Garbin CAS. Odontol Clín.-Cient. 2006;5(2):99-102.

Artigo [LILACS ID: 437466] Idioma: Português

Estudo epidemiológico de saúde bucal em trabalhadores da indústria, Brasil 2002-2003/ Epidemiologic study of oral health in industry workers

Pinto VG, Lima MOP. Fonte: Brasília; Brasil. Ministério da Saúde; Organização Pan-Americana da Saúde; 2006. 236 p.

tab, graf.

Monografia [LILACS ID: 439627] Idioma: Espanhol

Análise do estado de saúde bucal de adultos trabalhadores: assistência/atenção odontológica/ Analysis of adult workers oral health: dental assistance/attention

Pizzatto E. Araçatuba; s.n; 2005. 114 p. tab, graf.

Tese [LILACS ID: 466953] Idioma: Português

Quadro 5. Quarta etapa – Resumos da LILACS com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida do trabalhador” e “Saúde Bucal e Qualidade de Vida de trabalhadores”

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Saúde bucal e QVT

Em estudo com avaliação da relação entre homens e mulheres sobre o impacto da saúde bucal na QV, em uma amostra de 298 questionários válidos, Roteiro de Seleção de Participantes e o Oral Health Impact Profile – short form (OHIP-14), com entrevistas padronizadas, foram utilizadas, permitindo a obtenção de informações sobre usuários do serviço público odontológico da Beneficência da Prefeitura de Belo Horizonte (MG) (BEPREM)32. Ao aplicar-se o teste t de Student observou-se que não existe diferença estatisticamente significativa entre homens e mulheres32, nas dimenções e no escore total do OHIP-14.

Em outro estudo-piloto para investigar o perfil de higiene bucal dos professores de escola pública muni-cipal em Aracaju (SE), onde seria desenvolvido poste-riormente um programa educativo-preventivo, avaliou-se a placa bacteriana de nove docentes. Os resultados foram submetidos ao teste estatístico de Student, com grau de liberdade e limite de confiabilidade de 95% (IC95%),

demonstrando que 55,55% dos professores possuíam índice regular de placas visíveis33. Estes resultados indicaram a necessidade de realização de programa de promoção de saúde bucal com ênfase na educação e saúde para os professores, elementos fundamentais para multiplicar e difundir o conhecimento, contribuindo para a melhoria da QV da comunidade escolar33.

Em avaliação do impacto das condições bucais no desempenho diário em uma amostra representativa de 276 funcionários públicos com idades entre 35 e 44 anos do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) da Prefeitura de Porto Alegre (RS), colheram-se infor-mações sobre os impactos odontológicos (pelo índice Oral Impact on Daily Performances – OIDP) e caracte-rísticas socioeconômicas34. O índice Número de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPOD) também foi utilizado para avaliar as condições de saúde bucal. Do total da amostra, 73,6% tiveram pelo menos um desempenho

MEDLINE – Descritores: Saúde bucal / qualidade de vida do trabalhador – 12 (sendo 05 excluido) = 07 resumos dentro da metodologia

Títulos dos resumos Autores / Revista /Ano Tipo

[The impact of oral health on daily performance of municipal waste disposal workers in Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil]

Gomes AS; Abegg C. Cad Saúde Pública. 2007;23(7):1707-14.

Artigo [MEDLINE PMID: 17572821 Idioma: Português

Factorial structure and cross-cultural invariance of the Oral Impacts on Daily Performances.

Astrom AN; Mtaya MEur J Oral Sci. 2009;117(3):293-9.

Artigo [MEDLINE PMID: 19583758 ] Idioma: Inglês

Factors affecting oral health-related quality of life among pregnant women

Acharya S, Bhat PV, Acharya S. Int J Dent Hyg. 2009;7(2):102-7.

Artigo [MEDLINE PMID: 19416092 ] Idioma: Inglês

Dynamics of satisfaction with dental appearance among dentate adults: 24-month incidence

Meng X, Gilbert GH, Litaker MS.Community Dent Oral Epidemiol;

2008;36(4):370-81.

Artigo [MEDLINE PMID: 19145724 ] Idioma: Inglês

Extending scientific horizons in the developing world –the Central American experience

Dowsett SA, Kowolik MJ. Br Dent J. 2002;193(6):311-5.

Artigo [MEDLINE PMID: 12368886 ] Idioma: Inglês

Quadro 6. Quinta etapa – Resumos da MEDLINE com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida do trabalhador”

MEDLINE – Descritores: Saúde bucal / qualidade de vida de trabalhadores – 1

Títulos dos resumos Autores / Revista /Ano Tipo

[The impact of oral health on daily performance of municipal waste disposal workers in Porto Alegre, Rio Grande do Sul State, Brazil]

Gomes AS; Abegg C. Cad Saúde Pública. 2007;23(7):1707-14.

Artigo [MEDLINE PMID: 17572821]Idioma: Português

Quadro 7. Sexta etapa – Resumos da MEDLINE com descritores “Saúde Bucal e Qualidade de Vida de trabalhadores”

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diário afetado por problemas odontológicos nos últimos seis meses. O desempenho diário mais afetado foi comer e apreciar a comida (48,6%). A falta de dentes (21,7%) e a dor de dente (20,7%) foram as principais causas percebidas de impacto no desempenho diário. As chances de apresentar impacto odontológico alto no desempenho diário foram encontradas em pessoas com CPOD Alto (5,8 vezes; IC95% 2,1–16,1) mais; sujeitos com cáries de coroa (4,3 vezes; IC95% 1,9–9,8); pessoas com oito ou mais dentes faltantes (2,4 vezes; IC95% 1,1–5,3)34.

Em revisão de literatura sobre o tratamento odonto-lógico de portadores de HIV/Aids, enfocando as fases da doença, exames laboratoriais, principais manifestações bucais causadas pela infecção, medicações utilizadas, risco ocupa-cional e condutas frente a acidentes, houve a conclusão de que nos pacientes em que a infecção pelo HIV já foi diag-nosticada, o cirurgião-dentista exerce um papel igualmente importante, que é o de manutenção da saúde bucal, contri-buindo para a melhoria da sua QV35.

A associação entre algumas características sociodemo-gráficas, como idade, gênero, condição econômica, nível de escolaridade e estilo de vida em relação aos impactos dos problemas de saúde bucal foi avaliada em populações adulta e idosa36. A amostra consta de 997 respondentes, cadastrados no Programa de Saúde da Família, dos gêneros masculino e feminino e de duas classes de idade, adultos até 49 anos e adultos e idosos acima de 50 anos de idade. Os resultados permitiram concluir que a condição econômica e o nível de escolaridade apresentaram relação com a escolha de estilo de vida, sendo que indivíduos em classificações econômicas mais favorecidas e maior nível de escolaridade apresentavam um estilo de vida mais saudável.

Os tópicos de maior pertinência para a implantação de programas de atenção odontológica voltados aos traba-lhadores, foram analisados, destacando-se que o primeiro princípio a ser observado é que o programa de saúde bucal deve visar a melhora das condições de saúde do trabalhador, pautado em princípios éticos e humanísticos, respeitando sua condição de ser humano19. Além disto, deve ter como objetivo principal a promoção, proteção, recuperação e reabilitação da saúde bucal deste trabalhador, contribuindo para sua melhor QV19.

As condições de saúde bucal de trabalhadores de uma agroindústria do sul do Brasil foram verificadas através de levantamento epidemiológico, destacando a indispensável

contribuição do Cirurgião Dentista (CD) especialista em Odontologia do Trabalho ao estar inserido no programa de saúde ocupacional de uma empresa37. O CD pode realizar exames odontológicos específicos no intuito de levantar dados que sinalizem atuação mais efetiva da empresa na busca da saúde bucal e geral, resultando em melhoria em QV dos trabalhadores e consequentemente em desenvol-vimento produtivo mais eficiente, minimizando os riscos de complicações e acidentes de trabalho37.

Uma avaliação do impacto causado na QV pela perda de dentes no desempenho de atividades diárias mostrou que 76% dos entrevistados relataram que o ato de mastigar e saborear os alimentos foi a atividade diária que sofreu maior impacto, seguida por 46% que apontaram a ativi-dade falar e pronunciar palavras claramente e sem dificul-dade38. E conclui que o índice dos impactos odontológicos mostrou tendência a uma relação significativa com renda e com o número de dentes.

O impacto na QV em pacientes câncer de cabeça e pescoço em relação a suas condições de saúde bucal, também foi avaliado antes e após tratamento da terapia oncológica39. Os resultados mostraram uma maior prevalência do câncer de cabeça e pescoço em homens, de baixo nível educacional e sócio-econômico, com pobre condição oral e média de idade de 54,2 anos. Apesar das características basais serem desfavoráveis, o grupo intervenção apresentou melhora na avaliação geral de QV e manutenção da específica após o tratamento oncológico, enquanto que o grupo controle mostrou piora em ambos; porém, não houve diferença signi-ficativa entre os grupos. O protocolo de cuidados odontoló-gicos desenvolvido foi capaz de reduzir danos decorrentes da terapia oncológica, além de poder contribuir para melhoria da QV ao longo do tempo39.

Em estudo voltado para a odontologia do trabalho, visando identificar o percentual de faltas ao trabalho por causas odon-tológicas, em coleta de dados de empresa agropecuária de Minas Gerais, ressaltou-se necessidade de adoção de meios preventivos nas empresas para evitar o absenteísmo, que causa significativo impacto negativo na produtividade40. A Odontologia do trabalho tem como objetivo a manutenção e preservação da saúde geral do trabalhador e consequente-mente também sua QV. O absenteísmo é um fator capaz de determinar diminuição do fluxo produtivo de uma empresa, acarretando custos para o empregador, para o Estado e para a sociedade e, portanto, altamente indesejável40.

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Saúde bucal e QVT

CONCLUSÃO

É notória a evolução da Odontologia frente à busca de qualidade de vida dos indivíduos; entretanto, ainda, é insuficiente como política de saúde bucal do trabalhador. A quantidade de artigos encontrados em periódicos, através da busca em bases de dados, não garante material informa-tivo e de pesquisa suficientes em QV do trabalhador.

Há comprometimento da QV dos trabalhadores em relação á saúde bucal, conforme relatado nos artigos encon-trados. As condições de trabalho interferem na qualidade de saúde bucal dos trabalhadores, que poderia desencadear alte-rações na mucosa bucal, que muitas vezes permite diagnós-tico precoce de envolvimento sistêmico. A Odontologia do Trabalho, regulamentada em 2001 pelo Conselho Federal de Odontologia, é o ramo que se preocupa com tais problemas. É importante não só levantar os problemas bucais que podem afetar diretamente os trabalhadores como também

analisar concretamente a epidemiologia e patologia desses problemas, estudar o impacto que podem ocasionar em sua QV, e propor soluções. Mas, para isto, é necessário cons-tante aprimoramento dos trabalhadores quanto a qualidade de vida; dos profissionais de odontologia, quanto à saúde do trabalhador, e das empresas, que devem cumprir o seu papel social, propiciando melhor QV aos seus funcionários.

É necessário debater a mudança na formação profissional em saúde, pois o pouco espaço disponível em periódicos para a publicação de pesquisas relacionadas à saúde bucal do trabalhador indica a necessidade de uma reflexão sobre a produção científica, por ser esta capaz de propiciar uma formação profissional comprometida. Além disto, cabe incen-tivar as universidades a assumirem o papel ético e social que possuem, pois deveriam estar incentivando, conduzindo, pesquisando e ensinando os valores necessários para a inte-gralização da qualidade de vida em sociedade, incluindo a saúde bucal e sua relação com a saúde do trabalhador.

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Endereço para correspondência: Sueli de Souza Costa – Universidade Federal do Maranhão (UFMA) – Avenida dos Portugueses, 1966 – CEP: 65080-805 – Bacanga – São Luís (MA), Brasil – E-mail: [email protected]

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Recebido em: 12/04/2014 Aprovado em: 24/06/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexto: Paciente de 38 anos foi encaminhado por ordem judicial para ambulatório de saúde ocupacional de hospital público terciário com queixa de dor difusa em membros inferiores, superiores, coluna e bacia, além de dificuldade na deambulação. Trazia imagens de ressonância magnética e tomografia com sinais de osteosclerose/osteonecrose em diferentes ossos (tíbia, fêmur, úmero, osso da bacia). Havia sido atendido pela equipe de clínica médica do mesmo hospital e realizado biópsia de crista ilíaca, que evidenciou infarto ósseo e grande quantidade de alumínio ósseo. Tem histórico laboral de atividade na produção de alumínio durante quatro anos, em mineradora do estado do Maranhão. Objetivos: O presente trabalho tem como objetivo revisão na literatura de possíveis causas ocupacionais em distúrbios ósseos, e identificar elementos técnico-científicos que permitam relacionar a deposição óssea de alumínio com as alterações clínico-radiológicas do caso em questão. Métodos: Foi realizada revisão de literatura baseada em publicações nas principais bases de pesquisa (PubMed, SciELO, Lilacs), além de avaliação de etapas de beneficiamento do alumínio na indústria mineradora. Resultados: Por meio da constatação da exposição do trabalhador a subprodutos químicos do beneficia-mento do alumínio metálico, que, sabidamente podem causar fluorose óssea, e a associação desta doença com os achados de exame radiológico, bem como sintomatologia apresentada por este trabalhador, é possível estabelecer nexo ocupacional. Conclusão: A sinto-matologia apresentada pelo trabalhador, bem como suas alterações de exame de imagem e anatomopatológico, permitem inferência de causalidade entre a exposição a compostos de fluoreto e criólita e seu distúrbio ósseo.Palavras-chave | compostos de fluor; osteonecrose; exposição ocupacional.

ABSTRACT | Context: A 38 year old patient was referred by court order for occupational health medical service of tertiary public hospital complaining of diffuse pain in lower and upper limbs, spine and pelvis, and walking difficulty. Magnetic resonance imaging and tomography signs of osteosclerosis/osteonecrosis in different bones (tibia, femur, humerus, hip bone). He was seen by the medical clinic of the same hospital and some procedures have been performed, such as iliac crest biopsy, which revealed bone infarction and a large amount of aluminum bone. This patient has worked for four years in aluminum production, in Maranhão, Brazil. Objectives: This paper aims to review the literature of possible occupational causes for bone disorders and identify technical and scientific elements that may allow to relate the bone aluminum deposition with clinical and radiological changes of the case. Methods: For this purpose, we performed a literature review based on publications in major research bases (PubMed, SciELO, Lilacs), and evaluation stages of processing of aluminum in the mining industry. Results: Through the observation of the worker exposure to chemical byproducts from the processing of aluminum metal, which is known to cause skeletal fluorosis, and the association of this disease with radio-logical findings and symptoms presented by this paper, it is possible establish relationship between his occupational activity and the diasease. Conclusion: The symptoms presented by the worker, as well as their changes of imaging and pathologic examination, allow inference of causality between exposure to fluoride and cryolite compounds and their bone disorder.Keywords | fluorine compounds; osteonecrosis; occupational exposure.

Trabalho realizado na Universidade de São Paulo (USP) – São Paulo (SP), Brasil.1Médicos Preceptores do Programa de Residência Médica em Medicina do Trabalho do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil. 2Professor convidado do Curso de Especialização em Medicina Legal da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil.3Professor convidado do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho da Faculdade de Medicina da USP – São Paulo (SP), Brasil.

Deposição óssea por fluoreto de alumínio: intoxicação ocupacional?

Bone deposition of aluminum fluoride: occupational poisoning?

Clarissa Mari Medeiros1, Talita Zerbini2, Eduardo Costa Sá3, Pedro Artur Lobato Baptista1, Rogério Muniz Andrade3, Raquel Barbosa Cintra2

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INTRODUÇÃO

Nos processos de trabalho em que ocorre manipulação de substâncias químicas é fundamental para a saúde dos traba-lhadores considerar o risco de intoxicações 1. Doenças ósseas causadas por condições ocupacionais, como osteonecrose e osteosclerose, são incomuns e demandam atenção por parte dos médicos, em especial aos médicos do trabalho, para prevenir possíveis exposições que possam causar alterações e prejuízo no esqueleto2. Algumas destas doenças são descritas na lite-ratura quando associadas à atividade laborativa em que há vibrações, presença de fósforo ou exposição a bifosfonados3, radiação ionizante, cloreto de vinil monomérico, cádmio, ácido fluorídrico3 e pressões anormais4. Desta forma, profissões que submetam o trabalhador à exposição de ambientes de ar comprimido, técnicos de raio X e atividades com ferramentas que promovem vibração constante2 já foram relacionadas a distúrbios ósseos. Portanto, nestes casos, o nexo causal já está bem estabelecido. Além desses distúrbios, há relatos de fluo-rose óssea, entidade menos mencionada, demonstrada em alguns trabalhadores de fundição de alumínio5,6.

A fluorose óssea é caracterizada pela diminuição do número de osteoclastos, espessamento de osso cortical, diminuição de elementos medulares e arranjo irregular de condrócitos5. Após exposição crônica aos compostos de fluoreto, a densidade do osso aumenta e é formado tecido ósseo subperiosteal, ocorrendo calcificação de liga-mentos7. O aumento de formação óssea é acompanhado pelo aumento de reabsorção óssea, processo que pode ser intenso o suficiente para causar osteonecrose5. Variações entre osteosclerose, osteomalácia, osteoporose de graus variados e formação óssea são algumas características das lesões ósseas encontradas na fluorose8. A chamada fluorose industrial é mencionada em alguns estudos, apontando tarefas de manufatura de alumínio metal, solda de níquel, cobre e ouro, fabricação de pesticida e trabalhos com vidro5. Trata-se de condição ocupacional, presente em trabalha-dores expostos a criólita, que apresentam osteosclerose ou fluorose óssea9, com estudos descrevendo sua reversão após descontinuidade da exposição7. Outros estudos com traba-lhadores de fundição de alumínio apontam ainda alterações no metabolismo das porfirinas, em decorrência da exposição de compostos intermediários a partir do hexacloroestano10.

A fabricação do metal alumínio é realizada de forma predo-minantemente automatizada, sendo mais difícil identificar e

estabelecer nexo causal entre achados de exame de imagem com alterações ósseas e a exposição a substâncias químicas participantes dessa manufatura. A necessidade de caracte-rizar o possível nexo levou a realização deste trabalho com os objetivos abaixo propostos, a partir de relato de caso de aten-dimento médico em serviço especializado de saúde ocupa-cional de paciente trabalhador no setor de beneficiamento do metal que apresentou sintomas e alterações ósseas difusas.

OBJETIVOS

O presente trabalho tem como objetivo identificar elementos técnico-científicos que permitam afirmar se há nexo causal entre os elementos presentes no beneficia-mento do alumínio e as repercussões ósseas apresentadas pelo trabalhador em questão.

MÉTODOS

O presente trabalho foi elaborado a partir de relato de caso de avaliação médica de trabalhador no serviço de saúde ocupacional de hospital público terciário. Além disso, foi realizada revisão de literatura utilizando os termos “osteos-clerose” (osteosclerosis), “osteonecrose” (osteonecrosis), “alumínio” (aluminium), “criólita” (cryolita), “ocupacional” (occupational) nas bases de dados PubMed, SciELO, e Lilacs e em livros-texto para avaliação das etapas de bene-ficiamento do alumínio na indústria mineradora.

Foram selecionados 14 artigos a partir da leitura de seus resumos. Os critérios de inclusão se basearam na presença de descrições ocupacionais de casos de distúrbios ósseos. Foram excluídos artigos que se restringiam à fisiopatologia de distúrbios genéticos, ou com associação destes a procedimentos dialíticos.

RELATO DE CASO

Paciente de 38 anos foi encaminhado judicialmente para serviço de saúde ocupacional de hospital público terciário em novembro de 2011 para avaliação de quadro de dor óssea em quadril, ombros e joelhos, com dificuldade de deambu-lação, acompanhada de alterações de exames de imagens. A finalidade da solicitação foi verificar a existência de nexo

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Deposição óssea por fluoreto de alumínio: Intoxicação ocupacional?

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causal entre sintomatologia e ocupação pregressa do paciente. O trabalhador já estava sendo assistido pela clínica médica e ortopedia deste mesmo hospital, com fins terapêuticos, desde agosto de 2008. Referiu, em primeira consulta, quadro de dores há cerca de cinco anos, em região lombar, de caráter mecânico, que piorava aos movimentos. A sintomatologia evoluiu com piora progressiva da dor, busca por assistência médica e realização de exames de imagem que evidenciaram osteonecrose em diversos sítios. Em 2006, foram evidenciadas alterações em ambos os fêmures e, em 2007, nos úmeros. A investigação confirmou, por exames de imagens, osteo-necrose múltipla com hipótese etiológica de deposição de alumínio. Mantinha, na época, uso de morfina, vitamina A e D, lactulose, metoclopramida e carbonato de cálcio.

Durante a investigação do caso, foram avaliadas demais condi-ções que pudessem cursar com infarto ósseo múltiplo, como uso crônico de corticoterapia, tabagismo e alterações hematológicas, sendo constatado que o trabalhador era portador de traço falci-forme. Foi realizada biópsia óssea e o material submetido a espec-trometria de raio X em setembro de 2009 para determinação de deposição de metais pesados, sendo constatado aumento de quantidade de alumínio ósseo e cloro na amostra do paciente.

O paciente iniciou trabalho na metalúrgica em 1999 como vigilante na portaria da indústria. Em 2000, tornou-se trainee de operação e, logo em seguida, tornou-se operador de redução. Suas atividades na indústria, segundo Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP) e laudos de perícia médica, o incluíam como encarregado de distribuir alumina na sala de redução, tarefa em que retirava sacas de alumina da empilhadeira e acompanhava as trocas das cubas. Operava a máquina da empilhadeira na sala de cubas, participando também das atividades de adição da sacaria, limpeza das salas de cubas e distribuição de floureto nas cubas. Segundo PPP, o funcionário tinha contato com fluoreto, dióxido de enxofre, poeira respirável, poeira total, quartzo e cristoba-lita. O colaborador descreve poeira presente nessas salas de redução, que mobilizaram os funcionários da indústria a solicitar vestimenta apropriada em decorrência de prurido que acometeu diversos trabalhadores. Consta lista de equi-pamentos de proteção individual nos documentos de perícia médica, que incluía uso obrigatório de protetor auricular, óculos de proteção, capacete com capuz, bota com bico de ferro, calça jeans, camisa de algodão de manga curta, camisa de manga longa por cima da camisa de algodão, luvas de gravatex, máscara com dois filtros e meia de algodão.

Em decorrência de decisão judicial, está aposentado por invalidez desde 2011.

DISCUSSÃO

Exposição profissional a fluoretos foi registrado, pela primeira vez em trabalhadores de fundição em processa-mento de fluorita (CaF2) na indústria de aço11. Fluorose óssea já esteve presente em um quarto dos trabalhadores em metalurgia de alumínio11.

As etapas do beneficiamento do alumínio contemplam diversos subprodutos aos quais os trabalhadores se expõem. A matéria prima do metal, a bauxita, apresenta em sua compo-sição AlO3, FeO3, Tio2, SiO2, entre outros agentes. É transfor-mada em alumina calcinada por meio de processo de refinaria, processo em que é lavada (remoção de argila e demais impu-rezas), secada e moída, para que possa ser refinada, diluída em solução de soda cáustica quente, com precipitação de Al(OH)3. A porção OH do hidróxido de alumínio precisa ser calcinada para formação de alumina, Al2O3. O pó branco puro de alumina é convertido em alumínio, por redução eletrolí-tica. Neste processo, a alumina é dissolvida dentro dos fornos eletrolíticos em um banho químico à base de fluoretos e crió-lita fundida. Essa etapa promove liberação de compostos de fluoreto para o ambiente, bem como de CO, CO2 e hidrocar-boneto aromático polinuclear. Sabe-se que duas toneladas de Al2O3, presentes na composição da bauxita em 40 a 60%, produzem, no máximo, uma tonelada do metal alumínio12.

As atividades descritas pelo objeto do relato de caso apresentam exposição do trabalhador a agentes químicos presentes na redução do alumínio — fluoretos e crió-lita, durante cinco anos. A exposição à criólita promoveu aumento na concentração de fluoreto no organismo de indivíduos expostos, bem como alta prevalência de fluo-rose óssea nestes9. Estudos sobre o assunto concluem que a exposição ao alumínio pode fazer parte da etiologia das alte-rações ósseas (osteosclerose), previamente documentadas em indivíduos que trabalhavam com criólita2,9. Indivíduos expostos a criólita no banho de redução da alumina, na obtenção do alumínio, são expostos cronicamente a substân-cias com fluoreto via inalação dos subprodutos gasosos do ânion durante essa etapa, o que pode levar a alteração óssea (osteosclerose), a partir de determinado valor de fluoreto urinário5. As alterações da chamada fluorose óssea podem

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ser graves o suficiente para causar osteonecrose, alterações presentes no trabalhador fonte de estudo do relato de caso5.

Os diferentes conceitos de distúrbios ósseos mencionados na fluorose óssea, osteonecrose e osteosclerose, devem ser considerados a fim de verificar possível relação com a expo-sição ocupacional no presente relato de caso. O paciente apre-sentou em diversos exames de imagens, como tomografia e ressonância magnética de ombros, tíbia, fíbula e cabeça de fêmur, sinais claros de osteonecrose, confirmado no resul-tado de exame anatomopatológico, realizado pelo serviço de patologia do hospital público terciário para onde fora enca-minhado em 2008. Em sua investigação, tanto pela especia-lidade da clínica médica, quanto ortopedia, não se concluiu achados compatíveis com osteosclerose, distúrbios mais explicitamente relacionado com a fluorose13. No entanto, estudo alerta para a possibilidade da condição da fluorose óssea poder se agravar à osteonecrose, pelo aumento de formação óssea acompanhado do aumento de reabsorção óssea5. A necrose avascular da cabeça do fêmur, também denominado osteonecrose, foi classificada em 4 estágios:• Estágio I – osteoporose leve;• Estágio II – osteoporose ou osteosclerose;• Estágio III – achatamento inicial e colapso; e

• Estágio IV – achatamento total. Desta forma, a relação entre essas entidades foi estabelecida, ou seja, é possível afirmar que a osteosclerose participa da fisiopatologia da osteonecrose e que, portanto, estão correlacionadas14.

Desta forma, com a constatação da exposição do traba-lhador por pelo menos cinco anos a subprodutos químicos do beneficiamento do alumínio metálico, que, sabidamente podem causar fluorose óssea, que por sua vez está associada aos achados de exame radiológico e a sintomatologia apre-sentada, é possível estabelecer nexo ocupacional.

CONCLUSÃO

A sintomatologia apresentada pelo trabalhador do presente relato de caso, bem como suas alterações de exame de imagem e anatomopatológico, permitem inferência de causalidade entre a exposição a compostos de fluoreto e criólita e seu distúrbio ósseo. A exposição decorrente de sua atividade ocupacional por cinco anos e a exclusão de outros fatores que poderiam causar tais alterações, permitiram esta-belecer nexo ocupacional.

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Endereço para correspondência: Eduardo Costa Sá – Departamento de Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho – Avenida Dr Arnaldo, 455 – CEP: 01246-903 – Cerqueira César – São Paulo (SP), Brasil – E-mail: [email protected]

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Recebido em: 18/05/2014 Aprovado em: 18/07/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexo: O trabalhador em sua atividade laboral está em contato frequente com diversos agentes que em determinadas situações podem comprometer as unhas, a eficiência e produtividade do trabalho exercido. Objetivos: Este estudo constitui-se de uma revisão da literatura com uma breve discussão acerca da distrofia ungueal ocupacional, abordando etiologias, tratamento e prevenção. Métodos: Foi realizada uma consulta por normas e artigos científicos selecionados através de busca no banco de dados do SciELO e da Bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014. Resultados: Distrofias são alterações ungueais e em seus anexos, causadas ou agravadas por agentes biológicos, químicos e/ou físicos presentes no ambiente de trabalho. O diagnóstico se baseia em uma anamnese minuciosa, a qual é passível de elucidar a etiologia da doença, e a terapêutica da mesma pode exigir o afastamento do trabalho. A retirada do agente causal e o uso correto dos equipamentos de proteção individual são as melhores formas de prevenção de tal doença ocupacional. Conclusões: O médico do trabalho, detendo condições de observação e avaliação do ambiente de trabalho, deve reconhecer riscos potenciais e reais para o empregado e propor medidas que neutralizem esses riscos.Palavras-chave | doenças profissionais; dermatoses da mão; onicomicose.

ABSTRACT | Context: Worker in their labor activity is in frequent contact with many agents in certain situations that may affect the nails and the efficiency and productivity of their occupation. Objectives: This study consisted of a literature review with a brief discus-sion of occupational nail dystrophy, addressing causes, treatment and prevention. Methods: A query for standards and selected by searching the database SciELO/Bireme and scientific articles from Medline and Lilacs sources between December 2013 and January 2014. Results: Dystrophies are nail changes and its annexes, caused or aggravated by biological, chemical and/or physical agents in the workplace. The diagnosis is based on a thorough medical history, which is likely to elucidate the etiology of the disease, and its therapy may require absence from work. The withdrawal of the causative agent and the correct use of personal protective equipment are the best ways to care involvement. Conclusions: The occupational physician, in conditions of observation and evaluation of the work environment should know actual and potential risks to the employee and propose measures to neutralize these risks.Keywords | occupational diseases; hand dermatoses; onychomycosis.

Trabalho realizado na Fundação Técnico-Educacional Souza Marques (FTESM) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.1Pós-graduado em Medicina do Trabalho pela FTESM – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.2Aluna de Medicina pela Universidade Estácio de Sá (UNESA) – Rio de Janeiro (RJ), Brasil.

Distrofias ungueais no ambiente de trabalho: uma breve abordagem

Nail dystrophy in the workplace: a brief approach

Pedro José Secchin de Andrade1, Sulamita dos Santos Nascimento Dutra Messias2

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Andrade PJS, et al.

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INTRODUÇÃO

Dermatose ocupacional (DO) é qualquer alte-ração da pele, mucosa e anexos, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupacional ou no ambiente de trabalho1. Sua prevalência é de avaliação difícil e complexa. Estudos epidemiológicos sobre a DO no Brasil são raros e torna o subdiagnóstico alto, embora haja notificação obrigatória (Portaria nº 777/GM, em 28 de abril de 2004). Nos países desenvolvidos, as dermatoses ocupacionais correspondem a 60% das doenças ocupacionais, sendo que os agentes químicos são as causas mais frequentes1.

Distrofias ungueais ou onicopatias ocupacionais são alte-rações nas unhas e em seus anexos, causadas ou agravadas por agentes biológicos, químicos e/ou físicos presentes no ambiente de trabalho2,3. O comprometimento ungueal é extraordinariamente diversificado e apresenta extensa gama de alterações, que ocorrem na superfície, extensão, espessura, consistência, aderência, cor e forma das lâminas3. Cerca de 10% das doenças de pele são causados por alte-rações nas unhas, podendo ocorrer da mesma forma em homens e mulheres, sendo que sua incidência se eleva com a idade4,5. Contudo, existem poucos casos relatados de pato-logias ungueais de origem ocupacional.

MÉTODOS

Este estudo constitui-se por uma revisão da literatura reali-zada em janeiro de 2014, no qual se instituiu uma consulta por normas e artigos científicos selecionados através de busca no banco de dados do SciELO e da Bireme, a partir das fontes Medline e Lilacs.

A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando às terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde, desenvolvido a partir do Medical Subject Headings da U.S. National Library of Medicine, que permite o uso da terminologia comum em português, inglês e espanhol. As palavras-chave utilizadas na busca foram “doenças profissionais”, “dermatoses da mão” e “onicomicose” (site de consulta: http://decs.bvs.br/). Os artigos e normas encontrados foram pesquisados entre dezembro de 2013 e janeiro de 2014 e revisados de forma sucinta na discussão deste trabalho.

RESULTADOS

AGENTES ETIOLÓGICOSNa atividade ocupacional, o trabalhador está em contato

frequente com diversos agentes que em determinadas situa-ções podem comprometer as unhas4. Esses agentes bioló-gicos, químicos e físicos podem agredir a lâmina ungueal, comprometer a funcionalidade dos dedos e mãos, reduzindo a eficiência e produtividade do trabalho exercido.

Os fungos, leveduras, bactérias e vírus são os principais agentes biológicos que comprometem a lâmina ungueal2,3,6.

A onicomicose é uma infecção fúngica das unhas que provoca a descoloração, espessamento, e separação do leito ungueal. A taxa de prevalência é determinada pela idade, fator, classe social, predispondo ocupação, clima e ambiente de vida7, ocorrendo em cerca de 10 a 12% da população em geral, 20% das pessoas com mais de 60 anos e 50% daqueles com mais de 70 anos8,9. Dermatomicoses são causadas mais comumente por dermatófitos e o antropofílico dermatófito Trichophyton rubrum é o agente causal mais frequente em todo o mundo, mas outros fungos também são relatados, como Trichophyton epidermophyton e Trichphyton mentagrofites2,3,6,10,11. Diversas ocupações têm sido relatadas como risco para infec-ções fúngicas, como os tecelões12, trabalhadores rurais13, jardineiros14, militares15,16, atletas16,17, mineiros de carvão16. O diagnóstico diferencial mais importante das onicomi-coses deve ser feito com a psoríase, traumas, fotoonicólise por drogas, dentre outras16. As leveduras também podem ocasionar onicomicoses, principalmente nas mãos, sendo a Candida albicans a levedura mais comum, podendo provocar paroníquias, distrofias ungueais e onicólises2,3,6.

As bactérias causadoras de infecções mais frequentes na região ungueal são estafilococos, estreptococos, bacilos e pseudomonas (síndrome da unha verde). Elas podem acometer a lâmina ungueal já comprometida por outros agentes e agravando essas lesões. A paroníquia ocorre na área ocupacional principalmente em trabalhos com umidade e na indústria de alimentos2,3,6,18.

Os vírus mais comuns são os Papovavírus (que provocam as verrugas) e herpes simples (HSV1 e HSV2), ocorrendo frequentemente em dentistas, enfermeiros e patologistas2,3,6,18.

O manejo de substâncias químicas, como ácidos, álcalis, solventes, resinas e outras substâncias, poten-cialmente irritantes ou sensibilizantes, podem atingir as lâminas ungueais ocasionando danos transitórios e até

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irreversíveis2,3. Esses produtos desidratam e alteram a função de coesão das proteínas fibrosas da lâmina, provo-cando a fragilidade ungueal6. Diversas profissões são rela-tadas como potencialmente ligadas a esses acometimentos, como engenheiros19, operários de máquinas3, trabalha-dores que processam castanha-de-caju2 e extração de sal2, solventes19,20, dentre outros.

Na área ocupacional os agentes físicos são os maiores produtores de onicopatias. Traumatismo, atrito, pressão, calor, frio, umidade, radiações ionizantes, microondas e vibrações são fatores importantes no comprometimento da pele e de seus anexos2,3.

O ressecamento e a exposição ao calor fazem com que as unhas se desidratem e se tornem quebradiças6. As queima-duras de 1º grau podem promover destaque lateral ou distal da unha atingida, tornando-a quebradiça e com fissuras na borda terminal. Nas queimaduras de 2º grau, pode haver destruição e alterações da matriz, com distrofia ungueal e aparecimento de onicogrifose3. A exposição prolon-gada e habitual ao frio pode afetar a matriz ungueal, a qual eventualmente sofre alteração na onicogênese com sulcos transversais profundos, ou Linhas de Beau. Esses problemas podem ser agravados em trabalhadores suscetíveis, porta-dores de eritema pérnio ou fenômeno de Reynaud3. O grau de hidratação determina a dureza e a flexibilidade da placa ungueal. A umidade excessiva e o contato repetitivo com a água são uma das causas principais de fragilidade ungueal6. Trabalhadores expostos, sem proteção adequada nos pés ou nas mãos, podem sofrer maceração por causa da umidade. No tecido plantar ou palmar, pode ocorrer o chamado pé de imersão e mão de imersão com comprometimento do tecido subungueal e deslocamento das unhas (onicólise).

Nestas condições, as unhas ficam sujeitas à infecções secun-dárias por fungos, leveduras e bactérias3.

Anormalidades traumáticas ocupacionais na unha repre-sentam uma das causas mais importantes neste campo, principalmente quando não se usam luvas para proteção21. Isso inclui grandes traumas, microtraumas repetidos, e prejuízo causado por corpo estranho18. Microtraumas repetidos associados à unha frágil levam a uma destruição progressiva da placa da unha, que se torna frágil e atrófica. Fragilidade ungueal pode ocorrer isolada ou associada à paroníquia e/ou onicólise e até a hemorragia subungueal e hipertrofia2. Alguns exemplos de profissões acometidas: açougueiros, trabalhadores de cimento, químicos e traba-lhadores de laboratório, vidraceiros, pintores, sapateiros, tecelões, marceneiros, trabalhadores expostos à radiação de micro-ondas, trabalhadores que manipulam pequenos instrumentos e atletas18,21.

O termo cromoníquia indica uma anormalidade na cor da substância e da superfície da placa ungueal e/ou tecidos subungueais. Anormalidades da cor dependem da trans-parência da unha e do seu apego aos tecidos subjacentes. O exame físico deve ser realizado com os dedos completa-mente relaxado e não pressionado contra qualquer super-fície. As pontas dos dedos devem ser escaldadas para ver se a anormalidade pigmentada é grosseiramente alterada, o que pode ajudar para diferenciar entre a descoloração da placa ungueal em si e descoloração do leito ungueal vascular. Mais informações podem ser adquiridas por transiluminação da unha usando uma luz contra a polpa18.

A alteração na cor das unhas pode ter causas endógenas, como a exposição tóxica a metais e, exógenas, como expo-sição a agentes químicos2,4,18 (Quadro 1).

Cores das unhas Agentes

Branca Arsênio, sal, microtraumas, pesticidas

Amarelada Resinas, agrotóxicos, sais de cromo, corantes, formoldeído, ácido nítrico

Marrom/pretaFabricantes de tabaco, permanganato de potássio, iodo, hidroquinona, cabeleireiros, engraxates, marceneiros, trabalhadores com metal, revelação fotográfica

AzulAzul de metileno, sulfatos, mecânica de automóveis, cianose de metemoglobinemia ou sulfemoglobinemia, fabricantes de tinta, trabalhadores com metal, corantes, revelação fotográfica

Vermelha Mercúrio, cromo

Verde Infecção por Pseudomonas-lavadeiras, eletricistas, metalúrgicos

Fonte: Adaptado de Baran18 e Guzmán et al.4.

Quadro 1. Relação entre cor das unhas e agente causal

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DIAGNÓSTICODiversas lesões podem ocorrer no aparelho ungueal

devido à atividade laboral. Esses agentes podem causar distrofias ungueais, que produzem desconforto, dor, alte-rações estéticas e funcionais. Um melhor conhecimento da saúde do trabalhador irá, certamente, contribuir para a melhoria das condições de trabalho, minimizando essas lesões pouco consideradas na área ocupacional2.

Avaliação de unhas distróficas deve incluir uma avaliação completa do paciente ocupacional.  Se isso não for feito, não será possível determinar o diagnóstico correto e, sem isso, a terapia bem sucedida será prejudicada8. Alguns aspectos são muito importantes para a obtenção de um diagnós-tico preciso. Entre eles, citamos: identificação do paciente, anamnese ocupacional, história de exposição ocupacional, antecedentes pessoais ou familiares, exame físico, hipótese diagnóstica, exames complementares (exames de laboratório, histopatologia, exame micológico e testes epicutâneos)22,23.

O diagnóstico diferencial sempre deve ser lembrado para a investigação patologia, além disso, todo o tegumento e mucosas também devem ser examinados, não se restrin-gindo somente nas unhas.

Também, deve ocorrer a visita do médico ao ambiente de trabalho e a coleta de informações fornecidas pelo empre-gador. Muitas vezes, há armadilhas no diagnóstico, como a apresentação da doença cutânea é restrita a um sinal isolado envolvendo a unha; a existência de dupla patologia; reação isomórfica (por exemplo, na psoríase), que pode ainda não ser evidente e até negligenciada18.

TRATAMENTOO tratamento destina-se à erradicação do organismo

causador e retorno da aparência normal da unha.O afastamento do contato das substâncias irritantes

e sensibilizantes responsáveis pelo desenvolvimento da doença é essencial, sendo que, apesar do manejo difícil, os eczemas cronificados de origem ocupacional respondem bem a terapêutica apropriada24,25. O tratamento tópico pode ser realizado mediante o uso de emolientes e hidra-tantes; para as lesões extensas, usam-se corticoides sistê-micos, de preferência, prednisona, em doses iniciais de 0,5 a 1 mg/kg/dia, com redução gradual. Se houver infecção secundária, deve ser associado antibiótico tópico e/ou sistêmico. Os anti-histamínicos sistêmicos sedativos podem ser utilizados para tratar o prurido1,26.

O tratamento deve ser orientado claramente, fornecendo-se por escrito os nomes dos produtos e das substâncias com os quais o paciente não pode entrar em contato1.

No tratamento das onicomicoses, o uso de antifúngicos sistêmicos é o tratamento mais eficaz, mostrado com taxas de cura de 76% para a terbinafina, 63% para itraconazol com doses de pulsoterapia, 59% para itraconazol com dosagem contínua e 48% para fluconazol9. A terapia tópica é menos eficaz e o uso de laser e terapia fotodinâmica precisam ser mais estudados9. Concomitante, o desbridamento da unha aumenta ainda mais a taxa de cura, apesar da taxa de recor-rência de onicomicose ser de 10 a 50%, como resultado de reinfecção ou a falta de cura micótica9.

As infecções secundárias e os medicamentos utilizados pelo doente podem provocar irritação ou sensibilização e as dermatoses autoinduzidas mascaram e pioram a derma-tose ocupacional preexistente1.

PREVENÇÃOSegundo a Legislação de Segurança e Saúde Ocupacional,

baseada na Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, Art. 189, atividades ou operações insalubres são aquelas determinadas pelas condições ou métodos de trabalho, onde há exposição dos empregados a agentes considerados nocivos à saúde, em limites superiores à sua tolerância, conforme a natureza e a intensidade do agente e período de exposição aos seus efeitos27.

O médico do trabalho, em condições de observação e avaliação do ambiente de trabalho, deve conhecer riscos potenciais e reais para o empregado e propor medidas que neutralizem esses riscos.

Os riscos devem ser avaliados de acordo com a atividade executada do trabalhador e as medidas de prevenção são impor-tantes para promover a saúde e evitar o seu afastamento3. São três níveis de proteção, que serão discutidos a seguir.

A Prevenção primária, que visa à promoção e proteção da saúde no ambiente de trabalho (edificações e setores de insta-lações industriais), deve obedecer às regras que visem o bem estar e segurança. É necessário promover treinamentos, orien-tações sobre os riscos inerentes às atividades e das doenças mais prevalentes do trabalhador e identificar e expor os fatores de riscos potenciais e recomendações do uso de proteção coletiva e de equipamento de proteção individual (EPI), além de subs-tituir o agente, substância, ferramenta ou tecnologia de trabalho por outros mais seguros, menos tóxicos e lesivos.

A prevenção secundária, por meio do atendimento no ambulatório da empresa, visitas aos locais de trabalho e por

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Distrofias ungueais no ambiente de trabalho: uma breve abordagem

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meio de exames periódicos e tratamento efetivo, o médico do trabalho age de forma imediata antes que a dermatose ocupacional se instale ou agrave nos trabalhadores expostos.

Ao nível da prevenção terciária, o trabalhador apre-senta lesões crônicas ou em fase de cronificação. Assim, é fundamental avaliar o afastamento (temporário ou perma-nente) do trabalhador do ambiente de trabalho, realizar testes epicutâneos para detectar a presença de possíveis alérgenos. Caso haja impossibilidade de retorno à mesma atividade, o empregado deve ser afastado ou realocado para outra atividade28.

O acompanhamento da evolução do caso e registro e noti-ficação do agravo ao Sistema de Informação de Morbidade do Sistema Único de Saúde (SUS) são necessários para dar ao trabalhador condições mais favoráveis de bem estar e conhecimento através de ações de vigilância epidemioló-gicas das patologias mais acometidas.

Por fim, é importante verificar a existência e adequação à Norma Regulamentadora 9, do Programa de Adequação de Riscos Ambientais (PPRA), à Norma Regulamentadora 7, do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO), e à Portaria nº 3214/1978, do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

CONCLUSÃO

Os fatores ambientais no local de trabalho devem ser considerados propícios a doenças ocupacionais. As unhas são “ferramentas” úteis em muitas profissões, mas, por causa de sua posição exposta, é vulnerável a diversos agentes químicos, físicos, mecânicos e biológicos.

Abranger a função dos múltiplos fatores associados às distrofias ungueais, somados aos cuidados dos higiênicos e terapêuticos, atenção às profissões consideradas de alto risco, anamnese e exame dermatológico criteriosos, além dos testes epicutâneos para diagnóstico específico e trata-mento dos pacientes são cruciais para uma abordagem eficiente dessa afecção.

A permuta ocupacional pode ser necessária resolução da enfermidade, e a prevenção primária contribui para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador por diminuir recidivas do quadro.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Felipe Dalvi Garcia pela revisão do manuscrito

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Endereço para correspondência: Pedro José Secchin de Andrade – Praia de Botafogo, 460, apto. 841 – CEP: 22250-040 – Botafogo – Rio de Janeiro (RJ), Brasil – E-mail: [email protected]

17. Purim KSM, NiehuesLP, Queiroz-Telles Filho F, Leite N. Aspectos epidemiológicos das micoses dos pés em um time chinês de futebol. Rev Bras Med Esporte. 2006;12(1):16-20.

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Recebido em: 27/02/2014 Aprovado em: 22/07/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexto: O cirurgião dentista possui um posto de trabalho pouco ergonômico e se submete a movimentos repetitivos, posturas estáticas e posições que podem favorecer ao aparecimento de sintomas dolorosos no sistema musculoesquelético desde o aprendizado. Objetivos: O objetivo deste estudo foi investigar a prevalência de dor musculoesquelética em estudantes de odontologia. Métodos: Realizou-se um estudo descritivo de corte transversal para determinar a prevalência de dor musculoesquelética relacionada ao trabalho. A amostra contou com 35 estudantes de odontologia que cursavam o último ano de graduação. O instrumento de avaliação foi o questionário Nórdico, com intuito de verificar a localização exata de segmentos corporais que apresentassem sintomas dolorosos musculoesqueléticos. Resultados: Constatou-se que 100% dos estudantes relataram desconforto/dor em algum segmento corporal em um determinado período, havendo diferença na prevalência dos sintomas entre os sexos (p=0,002), sendo que as maiores preva-lências de dores musculoesqueléticas nos últimos 12 meses foram em punhos/mãos (74%) seguido de cervical (66%) e região inferior das costas (66,%). Conclusões: Os resultados da pesquisa evidenciaram que os acadêmicos avaliados apresentaram alta prevalência de dores musculoesqueléticas, mostrando que as doenças ocupacionais nos cirurgiões dentistas iniciam-se já no período acadêmico.Palavras-chave | dor musculoesquelética; estudantes; odontologia; saúde do trabalhador, prevalência.

ABSTRACT | Context: The dentist surgeons has a little ergonomic work station and are subjected to repetitive movements, static postures and positions that may favor the onset of painful symptoms in the musculoskeletal system. Objectives: The objective of this study was to investigate the prevalence of musculoskeletal pain in different anatomical segments in dental students. Methods: Was conducted a cross-sectional study to determine the prevalence of work-related musculoskeletal pain. The sample consisted of 35 dental students ranging in age from 20 to 30, who attend the last year of school graduation. As assessment tool was applied Nordic questionnaire for the verification exact location of body segments that have musculoskeletal symptoms in certain periods. Results: It was noted that 100% of students reported discomfort/pain in any part at some point, showing difference in the prevalence of symptoms genders (p=0.002), and the highest prevalence of musculoskeletal pain in the past 12 months were in wrists/hands (74%) followed by cervical (66%) and lower back (66%). Conclusion: The survey results showed that the students evaluated showed high prevalence of muscu-loskeletal pain, showing that occupational diseases can be felt in the academic period.Keywords | musculoskeletal pain; students; dentistry; occupational health, prevalence.

Dor musculoesquelética em acadêmicos de odontologia

Musculoskeletal pain in dental students

Hugo Machado Sanchez1, Eliane Gouveia de Morais Sanchez2, Nathália Peres Filgueira3, Maria Alves Barbosa4, Celmo Celeno Porto4

Trabalho realizado na Faculdade de Fisioterapia Universidade de Rio Verde (UniRV) – Rio Verde (GO), Brasil.1Professor Adjunto da UniRV – Rio Verde (GO), Brasil. 2Professora Adjunta da Universidade Federal de Goiás (UFG) – Jataí (GO), Brasil. 3Fisioterapeuta. Graduada na Faculdade Mineirense (FAMA) – Mineiros (GO), Brasil. 4Professor(a) do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFG – Goiânia (GO), Brasil.

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INTRODUÇÃO

As dores musculoesqueléticas são hoje o sintoma mais comum e um dos principais problemas de saúde relacio-nados ao trabalho em todos os países, independente do seu grau de industrialização1.

Vários estudos sobre os distúrbios musculoesqueléticos em cirurgiões-dentistas têm sido realizados desde 1950 e são responsáveis pelas primeiras propostas de modificações no posto de trabalho dos dentistas; inclusive, a mudança do trabalho da posição ortostática para a posição sentada. Todavia, o conhecimento sobre esses problemas ainda é incipiente2,3.

As dores musculoesqueléticas podem gerar uma dimi-nuição na capacidade produtiva, limitação da atividade profissional e, até mesmo, abandono da função, prejudi-cando a qualidade de vida e o bem-estar dos profissionais4,5. As lesões musculoesqueléticas são atribuídas a vários fatores de risco, incluindo a postura estática prolongada, movimentos repetitivos, iluminação de baixa qualidade, mau posicionamento, predisposição genética, estresse mental, condicionamento físico e idade6.

Além disso, a ocorrência das dores são mais comuns nos indivíduos adulto jovens, ou seja, atingem os trabalha-dores na idade mais produtiva, resultando em diminuição do ritmo de trabalho ou afastamento do mesmo7.

As estatísticas em relação à afecção das dores musculoesque-léticas em cirurgiões dentistas são diversas, podendo afetar entre 63 e 95% dos dentistas em todo o mundo. Independentemente do valor exato, fica claro que a grande maioria dos profissio-nais referem disfunções musculoesqueléticas8.

Como na maioria das profissões, o cirurgião dentista está exposto a diversos fatores de risco que podem inter-ferir em seu bem estar. Assim, para que esses profissionais sejam poupados da exposição inadequada a esses fatores, é necessária uma orientação ergonômica relacionada a mobi-liários e à postura durante atividades rotineiras no consul-tório, de modo que sejam identificados os riscos e se evite danos severos e irreversíveis à saúde desses profissionais7.

Os cirurgiões dentistas apresentam grande incidência de afastamento do trabalho em virtude de má postura, associada a movimentos. O acadêmico de odontologia também está sujeito a esses fatores e, associado a eles, a falta de experiência que favorece a fixação de vícios posturais relacionados à profissão9.

Gandavadi et al.10 ainda referem que o cirurgião dentista necessita de concentração e precisão, de tal forma que o

grau de tensão muscular exigido é elevado, o que pode desencadear vários distúrbios musculoesqueléticos, prin-cipalmente na cervical, membros superiores e coluna. Além disso, durante o trabalho, o profissional se posiciona de um lado do paciente e o assistente do lado oposto, de modo que a área de trabalho fica restrita, o que ocasiona posições desconfortáveis e anti-ergonômicas.

Alguns fatores são determinantes para o aparecimento de distúrbios e doenças musculoesqueléticas em cirurgiões dentistas, como o desconforto e a postura inadequada durante o trabalho, a realização de movimentos repetitivos, além de jornadas de trabalho prolongadas associada ao estresse e à fadiga. Portanto, a prática odontológica propicia a exposição do profissional ao risco de contrair doenças ocupacionais. Os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) estão entre as doenças ocupacionais que os cirur-giões-dentistas estão mais predispostos a adquirir11.

De acordo com Mello7 e Graça et al.12, cinco fatores biomecânicos podem predispor dores musculoesqueléticas em cirurgiões dentistas: força excessiva com as mãos, movi-mentos repetitivos, posturas incorretas dos membros infe-riores, compressão ou vibração e sobrecarga mental. Desta forma, o trabalho diário em um consultório dentário pode provocar danos severos e irreversíveis nos profissionais de odontologia. Adiciona-se a isso, a postura sentada adotada pelo dentista que pode reduzir a circulação de retorno dos membros inferiores e sobrecarrega a coluna lombar. Além disso, a sustentação da cabeça em flexão/rotação promove desconfortos na região do cervical, a execução de movi-mentos repetitivos e o uso de força pelos membros superiores sobrecarregam os músculos e tendões deste segmento13.

Assim, sob o ponto de vista ergonômico, um posto de trabalho mal projetado, e a má postura são fatores determinantes para o surgimento de dores musculoesqueléticas em profissionais da Odontologia, além de ocasionar incapacitação profissional14.

Diante do exposto, o presente estudo teve como objetivo avaliar a prevalência de dor musculoesquelética em acadê-micos do último ano do curso de Odontologia.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo de corte transversal realizado com acadêmicos do último ano do curso de odon-tologia de uma instituição privada localizada no sudoeste

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Dor musculoesquelética em acadêmicos de odontologia

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goiano. A coleta dos dados foi realizada em uma sala de aula na policlínica da instituição após autorização concedida pelo seu responsável.

A amostra deste estudo foi não probabilística, visto que foram convidados a participar do estudo todos os 67 estudantes matriculados no último ano do curso de graduação em odon-tologia. Entretanto, 19 não aceitaram participar do estudo, 11 foram excluídos em virtude dos critérios adotados para o estudo e 2 por não responderem o questionário de forma integral.

Participaram deste estudo os acadêmicos de ambos os sexos regularmente matriculados no ultimo ano de graduação e com idade compreendida entre 20 e 30 anos. Não compuseram a amostra estudantes que passaram por cirurgia no sistema musculoesquelética e com fraturas não consolidadas ou com menos de 3 meses de consolidação.

Inicialmente, os pesquisadores realizaram uma breve explanação acerca do estudo e, caso desejassem participar, os acadêmicos eram submetidos a uma entrevista estrutu-rada que abordava aspectos sociodemográficos e questões relacionadas aos critérios de inclusão e exclusão. Todos os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A coleta de dados foi realizada no mês de setembro no ano de 2012 por meio do questionário Nórdico desenvolvido por Kuorinka et al.15, validado na cultura brasileira por Barros e Alexandre16. O questionário apresenta um desenho do corpo humano dividido em nove partes: cervical, ombros, cotovelos, punhos/mãos, coluna dorsal, coluna lombar, quadril/coxas, joelhos e tornozelos/pés. As questões são relacionadas a cada uma das nove áreas anatômicas e é verificado: se os voluntá-rios referem dores ou desconfortos nos últimos 12 meses, se nos últimos 12 meses houve algum problema que os impe-disse de realizar alguma de suas atividades de vida diária, se nos últimos 12 meses procurou algum profissional da saúde devido aos sintomas, ou se nos últimos 7 dias houve alguma queixa relacionada a dor ou desconforto.

O questionário foi preenchido pelos participantes, sem nenhum contato com o pesquisador. Nos casos de não enten-dimento das questões por parte dos acadêmicos, o pesqui-sador explicava as mesmas com palavras usuais, sem induzir a resposta, ou seja, inicialmente a aplicação do questionário era não assistida podendo se transformar em assistida caso o acadêmico necessitasse de explanações.

Na análise estatística foi realizado o teste χ2, com signi-ficância estatística postulada em 5%.

Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Rio Verde (UniRV), protocolo 095/2012.

RESULTADOS

Participaram do estudo 35 alunos de graduação em odontologia. Destes, 20 acadêmicos eram do sexo femi-nino (57%) e 15 do sexo masculino (43%). Na represen-tação da faixa etária a idade média foi de 21,97±2,02 anos, com mínima de 20 e máxima de 29, sendo 32 (91,4%) dos estudantes destros e 3 (8,6%) canhotos.

Em relação à manifestação de desconforto/dor, verificou-se que todos (100%) os participantes da pesquisa referiram sentir dor em algum segmento corporal e relataram que nos últimos doze meses apresentaram manifestações como dor/formigamento/dormência. Apenas um (2,8%) acadê-mico relatou que nos últimos doze meses foi impedido de realizar atividades normais em virtude da dor; 7 (20%) acadêmicos consultaram algum profissional da área da saúde devido a esta condição e 18 (51%) nos últimos sete dias apresentaram algum dos sintomas dolorosos (Gráfico 1).

O Gráfico 2 apresenta a manifestação de dor nos dife-rentes segmentos corporais em relação às quatro questões indagadas na pesquisa (dor nos últimos 12 meses, impe-dimento na realização das atividades normais nos últimos

Gráfico 1. Respostas obtidas no questionário nórdico em relação a dor (n=35)

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12 meses em virtude da dor, consulta a algum profissional da área da saúde nos últimos 12 meses em virtude da dor, e dor nos últimos 7 dias). Esse Gráfico representa a alta prevalência de dor musculoesquelética em punhos/mãos, seguido de cervical nos últimos 12 meses, revelando ainda que todos os acadêmicos relataram sintomas nesse período.

Em relação à localização dos sintomas referidos, houveram 43 (44,5%) queixas de dor ou desconforto nos membros superiores, 20 (20,4%) nos membros inferiores e 71 (68,7%) relatos no esqueleto axial. Com relação ao relato de dor nos últimos 12 meses, a maior prevalência de dor musculoesquelética nos acadêmicos de odontologia foi de punhos/mãos (n=26; 74%), seguido de cervical (n=24; 66%), parte inferior das costas (n=24; 66%), parte superior das costas (n=23; 65%), ombros (n=15; 40%), quadril/coxas (n=9; 25,5%) tornozelos/pés (n=6; 18,5%), joelhos (n=5; 15%) e cotovelos (n=2; 13%), conforme apresentado na Tabela 1.

Em se tratando da interrupção das atividades de vida diária em decorrência da dor, houve somente um relato (corres-ponde a 7%) relacionado à dor na região inferior das costas.

Quando foi questionado se houve procura de algum profis-sional da área da saúde em virtude de dores, obtiveram-se as seguintes prevalências: quadril/coxas, 12 (31%); região supe-rior das costas, 5 (14%); joelhos, tornozelos/pés, 1 (7%); e cervical, 1 (5%). Nas demais regiões não houveram relatos.

Por fim, ao abordar a presença de sintomas dolorosos nos últimos sete dias verificaram-se os seguintes resultados: 13 (35%) queixas na cervical, 12 (34%) queixas na região inferior das costas, 10 (26,5%) queixas na região superior das costas, 9 (25%) queixas em punhos/mãos, 6 (21,5%) queixas em ombros, 3 (9%) queixas em joelhos, 2 (13%) queixas no tornozelo/pés, 2 (6%) queixas em quadril/coxas. Somente na região de cotovelos não houve queixa nesse quesito. Estes dados são apresentados na Tabela 1.

A Tabela 2 apresenta a frequência (valores reais e percentis) de queixas de dor/desconforto em relação ao sexo.

De acordo com o teste χ2 as mulheres apresentaram uma maior frequência de relatos de dor nos últimos 12 meses na cervical e no ombro quando comparados aos homens. Em relação à procura de um profissional da área da saúde devido aos sintomas dolorosos, as mulheres também apre-sentaram uma maior frequência em relação ao quadril (p=0,002) quando comparada aos homens. Tais dados podem ser observados na Tabela 3.

Tabela 1. Prevalência de dor musculoesquelética nos acadêmicos de odontologia em diferentes localizações e períodos (n=35)

Local da Dor

Questão 1n (%)

Questão 2n (%)

Questão 3 n (%)

Questão 4n (%)

Cervical 24 (66) 0 (0) 1 (5) 13 (35)

Ombros 15 (40) 0 (0) 0 (0) 6 (21,5)

Sup. das Costas

23 (65) 0 (0) 5 (14) 10 (26,5)

Cotovelos 2 (13) 0 (0) 0 (0) 0 (0)

Inf. das Costas

24 (66) 1 (7) 1 (5) 12 (34)

Punhos/ Mãos

26 (74) 0 (0) 0 (0) 9 (25)

Quadril/ Coxas

9 (25,5) 0 (0) 12 (31) 2 (6)

Joelhos 5 (15) 0 (0) 1 (7) 3 (9)

Tornozelos/ Pés

6 (18,5) 0 (0) 1 (7) 2 (13)

Sup: superior; Inf: inferior; Questão 1: nos últimos 12 meses você teve problemas (como dor, formigamento/dormência); Questão 2: nos últimos 12 meses, você foi impedido(a) de realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer); Questão 3: nos últimos 12 meses você consultou algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta); Questão 4: nos últimos 7 dias você teve dor.

Gráfico 2. Respostas obtidas no questionário nórdico em relação a dor

Sup: superior; Inf: inferior; Questão 1: nos últimos 12 meses você teve problemas (como dor, formigamento/dormência); Questão 2: nos últimos 12 meses, você foi impedido(a) de realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer); Questão 3: nos últimos 12 meses você consultou algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta); Questão 4: nos últimos 7 dias você teve dor.

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Dor musculoesquelética em acadêmicos de odontologia

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DISCUSSÃO

A partir dos resultados obtidos, observou-se na popu-lação estudada que as dores musculoesqueléticas são comuns em acadêmicos que cursam o último ano de odontologia, visto que apresentaram algum tipo de desconforto/dor em algum segmento anatômico.

Resultados similares foram encontrados em um estudo realizado em Caruaru por Siqueira et al.17, no qual 93% dos alunos de odontologia apresentavam sintomatologia dolorosa no decorrer de suas atividades, sendo 53,1% nos membros superiores, 46,5% nos membros inferiores e 86,0% no esqueleto axial.

Pradeep18 também utilizou o questionário nórdico na avaliação de estudantes do 1º ao 5º ano do curso de graduação em odontologia da universidade de Western Cape, na África do Sul, e revelou que todos os acadêmicos anali-sados apresentaram sintomas dolorosos na região lombar; todavia, os alunos do 4º ano foram os que referiram maior intensidade e prevalência de dor lombar. O autor sugere uma intervenção imediata com objetivo principal de prevenir o aparecimento destas dores e promover saúde entre os estudantes de odontologia.

Em outro estudo realizado por Melis et al.19, o qual avaliou a presença de dores musculoesqueléticas em estudantes de odontologia e psicologia italianos e libaneses, foi verificado que os estudantes de odontologia referiram mais dor lombar

Tabela 2. Prevalência de dor musculoesquelética nos acadêmicos de odontologia em diferentes localizações e períodos com dis-tinção dos sexos em valores reais (percentagem) (n=35)

Local da dorQuestão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4

Masculino n (%)

Feminino n (%)

Masculino n (%)

Feminino n (%)

Masculino n (%)

Feminino n (%)

Masculino n (%)

Feminino n (%)

Cervical 7 (47) 17 (85) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 1 (5) 3 (20) 10 (50)

Ombros 3 (20) 12(60) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 2 (13) 6 (30)

Sup. das costas 9 (60) 14 (70) 0 (0) 0 (0) 2 (13) 3 (15) 2 (13) 8 (40)

Cotovelos 2 (13) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0)

Inf. das costas 8 (53) 16 (80) 1 (7) 0 (0) 0 (0) 1 (5) 5 (33) 7 (35)

Punhos/Mãos 11 (73) 15 (75) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 0 (0) 3 (20) 6 (30)

Quadril/Coxas 5 (33) 4 (20) 0 (0) 0 (0) 1 (7) 11 (55) 1 (7) 1 (5)

Joelhos 2 (20) 3 (10) 0 (0) 0 (0) 1 (7) 0 (0) 2 (13) 1 (5)

Tornozelo/Pés 4 (27) 2 (10) 0 (0) 0 (0) 1 (7) 0 (0) 2 (13) 0 (0)

Sup: superior; Inf: inferior; Questão 1: nos últimos 12 meses você teve problemas (como dor, formigamento/dormência); Questão 2: nos últimos 12 meses, você foi impedido(a) de realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer); Questão 3: nos últimos 12 meses você consultou algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta); Questão 4: nos últimos 7 dias você teve dor.

Tabela 3. Comparação entre os sexos quanto a referência de dor pelo teste do χ2

Segmento Questão

1Questão

2Questão

3Questão

4

Cervical 0,01* – 0,91 0,06

Ombros 0,01* – – 0,24

Sup. das costas 0,53 – 0,40 0,08

Cotovelos 0,38 – – –

Inf. das costas 0,09 0,91 0,91 0,91

Punhos/Mãos 0,91 – – 0,50

Quadril/Coxas 0,37 – 0,002* 0,83

Joelhos 0,40 – 0,91 0,38

Tornozelo/ Pés

0,19 – 0,91 0,21

Sup: superior; Inf: inferior; Questão 1: nos últimos 12 meses você teve problemas (como dor, formigamento/dormência); Questão 2: nos últimos 12 meses, você foi impedido(a) de realizar atividades normais (por exemplo: trabalho, atividades domésticas e de lazer); Questão 3: nos últimos 12 meses você consultou algum profissional da área da saúde (médico, fisioterapeuta); Questão 4: nos últimos 7 dias você teve dor; *p<0,05.

do que os acadêmicos de psicologia e que, em ambos os países, a sintomatologia foi semelhante. Ainda em relação à esse mesmo estudo, as mulheres possuíam mais queixas, porém, essa diferença não esteve presente entre os estudantes de psicologia. A partir dos resultados apresentados, fica evidente neste estudo que os acadêmicos de odontologia são mais

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Sanchez HM, et al.

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acometidos por dores musculoesqueléticas do que estudantes da área de ciências humanas e, ainda, que a referência de dor musculoesquelética ocorre a nível mundial, visto que foram avaliados estudantes de países europeus e asiáticos.

No presente estudo, observou-se que a totalidade dos acadê-micos apresentaram sintomas dolorosos musculoesqueléticos. Esses resultados são mais significativos comparados com o estudo realizado por Vilagra20 com acadêmicos que cursavam a disciplina de clínica integrada de uma faculdade na cidade de Uruarama, na qual 80% dos pesquisados apresentaram dor.

No estudo de Barbosa e colaboradores21, evidenciou-se que não são somente acadêmicos de odontologia que são acometidos por dores. Neste estudo, 68,9% de cirurgiões dentistas apresentaram queixas dolorosas após a prática clínica. A pesquisa de Pereira e Graça22, também realizada com cirurgiões dentistas atuantes no Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Camaçari-BA, mostrou que 72,2% dos profissionais apresentavam dor.

Foi possível observar nesta pesquisa que as áreas mais acometidas por dor/desconforto nos últimos 12 meses foram punhos/mãos (74%), cervical (66%), parte inferior das costas (66%) e parte superior das costas (65%). Resultados seme-lhantes foram observados em outros estudos17,22. Tal achado é justificável por diversos fatores, destacando-se a adoção da postura sentada por um período prolongado, associada com posturas biomecanicamente incorretas, além disso, também contribui a utilização de movimentos repetitivos, combi-nados com a vibração gerada pelos equipamentos/instru-mentos e a força estática excessiva oriunda do manuseio dos instrumentos7,9.

Na pesquisa de Vilagra20, observou-se que a frequência das queixas dolorosas em relação ao segmento corporal foram as seguintes: ombro e região escapular, 84,33%; coluna lombar, 75%; cervical, 67%; punho, 62,75%; coluna torácica, 53%; joelhos e pernas, 47%; dedos das mãos, 43%; cotovelo e antebraço, 26,56%; tornozelos e pés, 25%.

Diferentemente dos resultados obtidos neste estudo, na pesquisa de Pereira e Graça22 realizada com profissionais na rede do SUS, observou-se maior prevalência de dor na região de cervical e região lombar (43,6%), ombros (38,5%), punhos/mãos e dedos e região dorsal (30,8%). Da mesma forma que o autor supracitado, Pradeep18 refere que os locais mais comuns em que aparecem sintomas dolorosos são a cervical, o ombro e a lombar, sendo relatado que 72% dos dentistas indicaram dores ou desconfortos na região lombar.

Rabiei et al.6 também encontraram resultados diferentes quando comparado a este estudo. Os autores, ao analisarem 95 dentistas, encontraram uma prevalência de 43,4% de dor na cervical, 35,8% de dor na lombar e 25% de dor no ombro e no punho. Um estudo que também se refere às dores muscu-loesqueléticas foi realizado por Dajpratham et al.23, no qual foram avaliados 164 indivíduos distribuídos em três grupos, sendo um formado por instrutores clínicos, um por estu-dantes de pós-graduação e um por auxiliares de consultório dentário. Da amostra total, 20,3% dos instrutores clínicos, 32,9% dos estudantes de pós-graduação e 46,8% dos auxi-liares de consultório dentário referiram dor musculoesquelé-tica. As regiões corporais com maior referência de dor foram o ombro (72,2%), a cervical (70,3%) e a lombar (50,6%). O impacto da dor musculoesquelética nestes grupos estu-dados foi a redução da jornada de trabalho (27,2%), a dificul-dade para dormir (22,8%) e a ausência no trabalho (10,8%).

Ainda sobre os locais de maior frequência de queixas dolorosas, Khan et al.24 realizaram um estudo amplo com 575 estudantes de odontologia em relação a dores e posiciona-mento durante as atividades práticas relacionadas a atuação profissional. Verificou-se que 95% dos estudantes relataram a presença de dores em diversas regiões corporais, sendo que as mulheres relataram mais dores quando comparadas aos homens, sendo a cervical e a lombar as regiões de maior prevalência de sintomas dolorosos. Outro achado importante neste estudo foi que 92% dos estudantes relataram não ter preocupações com a ergonomia durante as atividades. Embora muitas faculdades de odontologia ensinem aos seus alunos as posturas e posições ideais e ergonomicamente corretas, elas nem sempre utilizadas pelos estudantes25.

Black et al.26 relatam que o movimento e posicionamento da coluna lombar influencia diretamente na mobilidade e posicionamento da cervical, desta forma, como o cirurgião dentista está frequentemente buscando a melhor posição para visualizar o seu campo de trabalho, as colunas lombar e cervical estão sempre sofrendo sobrecargas e tensões com objetivo de manter a posição adotada pelo profissional.

A posição sentada é um dos fatores mais citados como sendo precursor ao surgimento de dores, em especial na coluna lombar, e um dos itens que influenciam diretamente a posição sentada é o tipo do assento. Com o objetivo de veri-ficar a influência do assento na postura e consequentemente no surgimento de dores, Gandavadi et al.10 avaliaram 60 estu-dantes do 2º ano de odontologia, divididos aleatoriamente

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em 2 grupos, sendo um composto por estudantes que utiliza-riam o assento tipo Bambach Saddle (assentos com formato anatômico e suporte lombar) e o outro grupo que utilizaria os assentos convencionais. A análise da postura foi realizada através do preenchimento do RULA (Rapid upper limb assessment). Os resultados mostraram que o assento convencional oferece uma postura menos adequada e, assim, predispõe os acadê-micos a lesões musculoesqueléticas diversas.

Outro estudo que se refere a posição sentada e o surgi-mento de dores lombares, foi o de Lake27, o qual relata que o profissional permanece durante 75% do atendimento com uma flexão de tronco entre 19-54º o que gera uma protrusão discal e explica em parte as dores lombares desta categoria profissional. Além disso, a postura sentada prolongada pode relaxar os músculos abdominais e sobrecarregar a coluna, aumentando a tensão sobre os ligamentos e músculos da coluna vertebral. Em virtude disto, caso essa postura seja adotada por longos períodos, gera-se fadiga muscular, tensio-namento dos ligamentos vertebrais, estresse nas fibras do disco intervertebral e, consequentemente, dor nas costas.

Yousef e Al-Zain25 analisaram a postura de 295 estudantes de odontologia do 3º ao 6º ano e evidenciaram que os mesmos não posicionam os pacientes da melhor maneira na cadeira, além de não ajustarem seus assentos adequadamente, espe-cialmente os homens. Encontraram ainda que os estudantes não mantêm o posicionamento ideal do cotovelo, mesmo os do último ano de graduação, mas que estes apresentam uma posição com a coluna mais ereta, quando comparada aos estu-dantes de períodos iniciais. Por fim, verificaram que as mulheres referem mais dor e que 59,7% do total de estudantes analisados acusaram dor lombar ou cervical após as aulas práticas na clínica.

Outro achado importante que auxilia na explicação das dores é que existe associação significativa entre as dores nos membros superiores (ombro, cotovelo e punho) com as posições adotadas pelo ombro e pelo uso excessivo de força durante as atividades. Além disso, também encontrou-se associação entre o número de horas trabalhadas com o surgimento de desconforto no punho e mãos/dedos24.

Além disso, frequentemente os cirurgiões dentistas assumem posturas estáticas as quais elevam em 50% a ativi-dade muscular para sustentar os segmentos. Na Austrália, 89% dos profissionais referem que os sintomas dolorosos mais comuns são a lombalgia e a cervicalgia, esta última explicada pelos movimentos repetidos da cabeça e pela adoção de postura com excesso de flexão e rotação28.

Sugere-se que o aparecimento de dores é inversamente proporcional ao tempo de experiência profissional em virtude da adaptação e ao treinamento do profissional, o que pode explicar a grande prevalência de sintomas dolorosos nos profissionais recém-formados e não estudantes29,30.

A ferramenta utilizada na atual pesquisa foi o questionário Nórdico, instrumento este difundido e traduzido para várias línguas, sendo utilizado por diversos estudos que visam a avaliação dos sintomas dolorosos, sendo também utilizado por outros estudos que analisaram a presença de dor ocupacional5,26.

Por fim, este estudo concorda com a afirmação de Campos et al.31, que enfatiza a necessidade de identificação precoce de sintomas que deve ocorrer preferencialmente quando os profissionais ainda estão em fase de formação, ou seja, durante a graduação, visto que nesta fase deve ocorrer o aprendizado e a conscientização do acadêmico sobre as causas e consequên-cias das posturas e posições adotadas na sua pratica clinica.

CONCLUSÃO

A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, observou-se que existe uma alta prevalência de dor musculoesquelética ainda no período de formação do cirurgião dentista, visto que foi constatado que todos participantes da pesquisa queixaram-se de dor/descon-forto. A partir disto, pode-se verificar a existência de rela-ções entre as atividades práticas de atendimento clínico, de estágio supervisionado em odontologia e a instalação e desenvolvimento de distúrbios ocupacionais de origem musculoesquelética. Assim, a continuidade de estudos relacionados a futuras doenças ocupacionais é impor-tante em virtude do resultados encontrados.

Sugere-se a continuidade deste estudo no que se diz respeito à origem dos sintomas em acadêmicos, de forma que os fatores causadores de futuras doenças ocupacionais sejam identificados e eliminadas, adotando-se medidas corre-tivas e preventivas, otimizando as condições do aprendizado e um aumento da longevidade da atuação profissional com melhora das condições de trabalho e da qualidade de vida do futuro profissional, visto que tais dores podem causar agravos profissionais futuros em virtude da sobrecarga e lesões crônicas do sistema musculoesquelético, tais como: Lesão por esforço repetitivo (LER), DORT, hérnias de disco, síndrome miofascial, dentre outras.

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Sanchez HM, et al.

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Endereço para correspondência: Hugo Machado Sanchez – Rua 01, Qd 02, Lt 09 – CEP: 75906-577 – Parque dos Jatobás – Rio Verde (GO), Brasil – E-mail: [email protected]

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Recebido em: 24/03/2014 Aprovado em: 28/07/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexto: O descolamento da retina (DR) é um transtorno caracterizado pela separação entre a retina neural e o epitélio pigmentar. De janeiro a outubro de 2013, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reconheceu 3.540 casos de incapacidade labo-rativa decorrentes de descolamentos e defeitos da retina. Cessada a recuperação pós-operatória, não há consenso médico se o traba-lhador pode ou não voltar à atividade laboral braçal. Objetivo: Estudar se o levantamento de peso e/ou retorno às atividades laborais braçais podem ser considerados fatores de risco para redescolamento de retina. Métodos: Realizada busca eletrônica de dados nos sites do Medline e do Lilacs no período de 03 de junho de 2013 a 07 de junho de 2013, além de pesquisa em livros textos clássicos de oftalmologia. Resultados: Dentre os artigos encontrados, somente um associa positivamente o esforço físico ao descolamento de retina. Conclusão: Não há elementos de convicção que atestem à necessidade de afastamento permanente da pessoa operada de DR de atividades braçais, uma vez que a maioria dos estudos publicados até o momento não consideram o levantamento de peso e/ou retorno a atividades físicas de esforço como fatores de risco para descolamento ou redescolamento de retina. Palavras-chave | descolamento retiniano; esforço físico; previdência social; trabalho; riscos ocupacionais.

ABSTRACT | Context: The retinal detachment (RD) is a disorder characterized by the separation between the neural retina and retinal pigment epithelium. From January to October 2013, the Brazilian National Institute of Social Security recognized 3,540 cases of work incapacity due to retinal detachments and defects. Ceased postoperative recovery, there is no medical consensus on whether or not the employee can return to manual labor activity. Objective: To study if weight lifting and/or return to manual labor activities can be considered risk factors for a new retinal detachment. Methods: It was performed electronic search of the Medline and Lilacs database between June 03, 2013 and June 07, 2013, and it was also done a research in classical textbooks of ophthalmology. Results: Among the articles found, only one associates physical stress to retinal detachment. Conclusion: There is no substantial evidence attesting to the need for permanent removal of RD operated patients from manual labor activities, since most studies published to date do not consider weight lifting and/or return to physical activity stress as a risk for retinal detachment or re-detachment factors.Keywords | retinal detachment; physical exertion; social security; work; occupational risks.

Trabalho realizado no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) – Vitória (ES), Brasil.1Professor Adjunto II do Departamento de Medicina Especializada, Oftalmologia, da UFES. Perito Médico Previdenciário do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – Vitória (ES), Brasil.2Médica Residente de Oftalmologia do 3° ano do Hospital das Clínicas da UFES – Vitória (ES), Brasil.3Professora de Oftalmologia da Faculdade Brasileira – Multivix Vitória – Vitória (ES), Brasil.

Avaliação do risco de redescolamento de retina após retorno a atividade laboral braçal

Assessment of the retinal redetachment risk after returning to manual labor activity

Fábio Petersen Saraiva1, Liana Tito Barbosa Francisco2, Patricia Grativol Costa Saraiva3

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Saraiva FP, et al.

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INTRODUÇÃO

O descolamento da retina (DR) consiste na separação entre a retina sensorial e o epitélio pigmentar da retina (EPR), ficando este espaço preenchido por fluido sub-retiniano (FSR)1.

Os efeitos do descolamento na interface fotorrecepto-res-EPR são rápidos e extensos. A morfologia da superfície apical do EPR se altera rapidamente ocorrendo proliferação e migração celular para o espaço sub-retiniano. Em apenas 24 horas de descolamento, já se é possível detectar sinais de proli-feração em todas as células não neuronais da retina, incluindo astrócitos, células de Müller, pericitos, células do endotélio capilar e micróglia. Os segmentos externos dos fotorrecep-tores degeneram permanecendo apenas cílios rudimentares. A proliferação das células não neuronais e a degeneração dos fotorreceptores são os principais fatores de mau prognóstico para recuperação visual após reparo cirúrgico do DR2 .

Os descolamentos de retina podem ser classificados em três grandes categorias, baseado na causa do descolamento. A forma mais comum é o DR regmatogênico, que ocorre por consequência de uma rotura completa em algum ponto da retina. É caracte-rizado pela presença de FSR originário da cavidade vítrea, que migra através de uma descontinuidade da retina neurossensorial3. Estima-se que a sua prevalência seja de aproximadamente 0,3% na população geral, aumentando para 5% nos altos míopes, de 2 a 3% nos afácicos e até 10% quando ocorre perda vítrea (tipo de complicação cirúrgica) durante a cirurgia de catarata4.

A segunda categoria, DR tracional, ocorre quando adesões mecânicas vítreo-retinianas destacam a retina do EPR. Em alguns casos, o DR pode envolver ambos os mecanismos acima descritos. A terceira categoria, DR exsudativo (seroso), ocorre devido a um processo que resulta em acúmulo de FSR na ausência de tração ou rupturas como, por exemplo, pode ser observado em caso de tumores ou inflamação3.

O tratamento do DR regmatogênico é cirúrgico, e as cirurgias utilizadas são introflexão escleral, retinopexia pneumática e vitrectomia posterior via pars plana (VVPP). O sucesso imediato no reposicionamento da retina desco-lada, infelizmente, não é sinônimo de êxito em longo prazo. Até olhos com retina colada por mais de um ano podem vir a redescolar. Em um estudo retrospectivo (453 olhos) com o sucesso cirúrgico no período de um ano, observou-se redescolamento regmatogênico em 10 casos (2,2%)2.

De janeiro a novembro de 2013, a perícia médica oficial do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) reconheceu e codificou 3.540 casos de incapacidade laborativa, com

necessidade de afastamento do trabalho superior a 15 dias, com o Código Internacional de Doenças (CID-10) H33 (descolamentos e defeitos da retina)5. Cessada a recupe-ração pós-operatória, entre 6 e 12 semanas, o perito médico previdenciário e o médico do trabalho se deparam com uma questão polêmica: o trabalhador operado de DR pode retornar a atividade laborativa braçal? O levantamento de peso é um fator de risco para o redescolamento da retina?

O objetivo deste trabalho é avaliar se o levantamento de peso e/ou retorno às atividades laborais braçais são fatores de risco para o redescolamento de retina e fornecer subsídios técnicos para orientação de médicos do trabalho, peritos médicos previdenciários e, até mesmo, oftalmologistas quanto à conduta ocupacional após uma cirurgia de DR.

METODOLOGIA

Levantamento bibliográfico realizado a partir de pesquisa na base de dados eletrônica do Medline e do Lilacs, entre o período de 03 de junho de 2013 a 07 de junho de 2013, por meio de busca de artigos pelas palavras chaves “retina”, “descolamento”, “esforço físico”, “levantamento de peso”. Assim que algum trabalho relacionado ao tema era iden-tificado, todas as sugestões de trabalhos correlatos feitas pelas bases de dados eram também verificadas. Além disso, foram consultados livros textos clássicos de oftalmologia.

FATORES DE RISCO PARA O DESCOLAMENTO DE RETINA

Os fatores de risco para o DR variam de acordo com o tipo de DR.

O DR regmatogênico está associado com a presença de  roturas e buracos retinianos. As roturas retinianas decorrem de tração vítrea em áreas de adesão vitreorretinianas. Algumas lesões podem gerar adesões anômalas, predispondo a formação destas roturas, entre elas: degeneração lattice, tufos císticos reti-nianos congênitos, acúmulos de pigmentos retinianos, anorma-lidades da base vítrea e áreas de branco sem pressão. Os buracos retinianos surgem em áreas de atrofia crônica da retina. Outros fatores de risco descritos são a miopia, a afacia e o trauma3. Ressalta-se que o ambiente de trabalho é fonte de significativa parcela dos traumas oculares, chegando a representar cerca de 70 a 85% dos casos em alguns estudos6,7. Gerente et al. descrevem

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Avaliação do risco de redescolamento de retina após retorno a atividade laboral braçal

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que, dentre os trabalhadores com maior risco para o trauma ocular, encontram-se os serralheiros, pedreiros e metalúrgicos7. Entre os fatores de risco para o DR tracional, a literatura cita: diabetes mellitus, retinopatia falciforme e doenças venoclusivas1. Justifica-se, portanto, a exigência de avaliação oftalmológica com mapeamento de retina nos exames admissionais e periódicos dos trabalhadores portadores de tais condições supracitadas.

Por outro lado, o DR exsudativo é predisposto por doenças que cursem com aumento da permeabilidade vascular reti-niana, por exemplo: tumores de coróide, uveítes e neovas-cularização sub-retiniana3.

FATORES DE RISCO PARA O REDESCOLAMENTO DE RETINA

O redescolamento de retina pode ocorrer precoce ou tardia-mente. Quando ocorre logo após a alta hospitalar ou até seis semanas após a cirurgia, classifica-se como insucesso precoce, sendo a rotura retiniana aberta a principal causa. O redescolamento tardio está associado a outras causas. As proliferações vitreorre-tinianas são as causas mais comuns de recidiva1,2,8. A abordagem cirúrgica do episódio primário pode ter relação com o novo desco-lamento. Em um estudo prospectivo e randomizado, Heussen et al. evidenciaram que olhos pseudofácicos beneficiaram-se mais com vitrectomias primárias, enquanto olhos fácicos submetidos à introflexão escleral obtiveram uma taxa de redescolamento menor9. Acredita-se que o aumento da incidência do redescolamento nos olhos fácicos em pacientes submetidos a VVPP se deve a cirurgia de catarata necessária após a realização da vitrectomia10.

Cirurgias que necessitaram de implante de óleo de silicone tem uma taxa de recidiva do descolamento de 20–25% após remoção desse óleo. O redescolamento nesses casos foi inde-pendente do tempo de tamponamento do óleo de silicone10-13.

Em um trabalho retrospectivo com 71 pacientes, Bui Quoc et al., observaram a proliferação vitreo-retiniana como único fator de risco para recorrência do descolamento nestes casos14.

Um estudo sugeriu também como fatores de risco para redescolamento de retina em pseudofácicos a deterioração visual pré-operatória, capsulotomia com YAG laser, roturas retinianas grandes, número de quadrantes afetados e sintomá-ticos defeitos de campo visual. Por outro lado, no grupo de pacientes fácicos, esse mesmo trabalho descreveu as condi-ções de baixa pressão intraocular e descolamento persistente na região do implante escleral durante o intraoperatório como outros fatores de risco adicionais11.

RELAÇÃO DO ESFORÇO FÍSICO COM O DESCOLAMENTO DE RETINA

Este é um tema controverso entre os retinólogos. Alguns recomendam o afastamento definitivo de atividades laborais que envolvam levantamento de objetos com peso acima de 10 quilos. Isto gera um enorme problema para o trabalhador, empregador, INSS e sociedade, uma vez que este tipo de conduta sobrecarrega de responsabilidades o perito médico previdenciário e o médico do trabalho que decidem pelo retorno do trabalhador ao labor ou, caso as recomenda-ções destes especialistas sejam seguidas, haverá um gasto de recursos para reabilitação profissional deste cidadão, além de prejuízos emocionais para o trabalhador que será visto como um deficiente físico perante os familiares e sociedade.

Alguns especialistas entendem que ocorre um excesso de acomodação durante a realização de um grande esforço físico. O espasmo ciliar provocado seria um fator predis-ponente para a patogênese do descolamento de retina. No entanto, um trabalho com jovens emétropes submetidos à avaliação da espessura cristaliniana, por meio de ultrasso-nografia, durante acomodação e/ou realização de levanta-mento de um objeto com 25 quilos de peso não observou achados significativos que dessem suporte a esta teoria15.

Outra teoria levantada para tentar relacionar a atividade física com DR é a possível hiperemia de coróide que poderia ocorrer em altos míopes durante atividade física intensa em pessoas não treinadas para tal. No entanto, esta especu-lação foi rechaçada por alguns autores na medida em que foi demonstrada ausência de descolamento de retina nos casos de descolamento de coróide associados ao acúmulo de fluido ou sangue. Além disso, oclusões experimentais de vasos coróideos calibrosos não levaram ao DR16.

Mattioli et al., por outro lado, concluíram, em seu trabalho caso-controle com 48 pacientes com DR idiopático, que o levantamento ocupacional de pesos pode sim representar um relevante fator de risco para DR por meio de picos de elevação da pressão intraocular que podem ocorrer com a manobra de valsalva secundária ao esforço físico. Durante a atividade física intensa, haveria uma elevação da pressão intratorácica e intra--abdominal pelo mecanismo de valsalva, levando a um aumento generalizado da pressão venosa e, por fim, da pressão intrao-cular em virtude da dificuldade de drenagem do aquoso pela via venosa episcleral. Os picos de hipertensão ocular levariam a roturas retinianas e consequente descolamento. Segundo estes autores, quanto maior o peso, maior o risco para descolamento

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Saraiva FP, et al.

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de retina17. É digno de nota que a elevação da pressão intrao-cular de cerca de 25 mmHg somente é observado após levan-tamento de pesos acima de 15–20 quilos18.

Um estudo prospectivo, randomizado e mascarado acompanhou por seis meses 108 pacientes operados de DR regmatogênico pela técnica de introflexão escleral. Um grupo foi encorajado a realizar qualquer atividade física imediata-mente após a alta hospitalar. O outro grupo foi estritamente proibido de realizar qualquer tipo de atividade física por seis semanas, inclusive dirigir carros. Não foi encontrada nenhuma diferença estatisticamente significativa na taxa de redescolamento de retina ou acuidade visual final19.

Verifica-se, portanto, que a maioria dos estudos dispo-níveis até o momento sequer cita esforço físico como possível causa de descolamento ou redescolamento de retina. Há apenas um grupo de autores que sustenta a tese de que o peso pode ser considerado fator de risco para DR. Entretanto, este grupo baseou-se em avaliações retrospectivas.

Conforme mencionado por Lucca e Campos, o grande desafio do médico do trabalho consiste na correta asso-ciação da doença com o trabalho20. Destacamos, nesta revisão da literatura, que as hipóteses levantadas por alguns autores para explicar como o levantamento de peso levaria ao DR não nos parecem muito plausíveis. Os trabalhos experimentais e prospectivos analisados neste presente estudo concluem por não haver associação positiva entre esforço físico e DR.

CONCLUSÃO

Ao considerar a literatura pesquisada, não parece ser possível afirmar que o levantamento de peso possa acarretar um novo DR. Portanto, não há elementos de convicção que atestem a necessidade de afastamento laboral braçal perma-nente da pessoa operada de DR.

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8. Ryan SJ. Retina. 4ª ed. Califórnia: Elsevier – Mosby; 2006.9. Heussen N, Hilgers RD, Heimann H, Collins L, Grisanti S; SPR study

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10. Kanski JJ. Clinical ophthalmology. 4ª ed. Inglaterra: Butterworth-Heinemann; 1999.

11. Zhioua R, Ammous I, Errais K, Zbiba W, Ben Younes N, Lahdhiri I, et al. Frequency, characteristics, and risk factors of late recurrence of retinal detachment. Eur J Ophthalmol. 2008;18(6):960-4.

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REFERÊNCIAS

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16. Gärtner J. Retinal detachment, caused by hyperaemia of the choroid? Remarks on the supposed relationship between retinal detachment and “indirect trauma”. Klin Monbl Augenheilkd. 1975;166(4):559-63.

17. Mattioli S, Curti S, De Fazio R, Mt Cooke R, Zanardi F, Bonfiglioli R, et al Occupational lifting tasks and retinal detachment in non-my-opics and myopics: extended analysis of a case-control study. Saf Health Work. 2012;3(1):52-7.

18. Pivovarov NN, Malakhova LA, Bagdasarova TA, Chetvertukhin AP. Role of weight lifting in the development of retinal detachment. Vestn Oftalmol. 1977;(6):50-3.

19. Bovino JA, Marcus DF. Physical activity after retinal detachment surgery. Am J Ophthalmol. 1984;98(2):171-9.

20. Lucca SR, Campos CR. A Medicina do Trabalho no mundo contem-porâneo: o perfil dos médicos do trabalho, desafios e competên-cias. Rev Bras Med Trab. 2011;9(1):45-7.

Endereço para correspondência: Fábio Petersen Saraiva – Departamento de Medicina Especializada/CCS/UFES – Avenida Marechal Campos, 1468 – CEP: 29047-105 – Maruipe – Vitória (ES), Brasil – E-mail: [email protected]

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Recebido em: 12/04/2014 Aprovado em: 04/08/2014

Fonte de financiamento: nenhuma

ARTIGO ORIGINAL

RESUMO | Contexto: A lombalgia esta entre os distúrbios musculo esqueléticos que mais acometem os trabalhadores em geral, gera sofrimento, absenteísmo e como consequência prejuízos sociais e econômicos para a sociedade em geral. Objetivo: Descrever a prevalência e analisar os fatores associados à lombalgia relacionada ao trabalho. Métodos: Delineamento de corte transversal. Os parti-cipantes do estudo foram os trabalhadores de uma empresa agropecuária do sul do Brasil. A força de trabalho da empresa contava com as mais diversas ocupações. O instrumento da pesquisa foi um questionário semi estruturado aplicado por meio de entrevistas. Resultados: Dos 326 trabalhadores da empresa, foram entrevistados 273 (83,8%). Foi encontrada uma prevalência de lombalgia de 59,1% entre os participantes da pesquisa. A lombalgia foi associada principalmente ao sexo feminino, índice de massa corporal (IMC) baixo e normal, e as exposições ocupacionais como intermação, realizar muita força nas tarefas de trabalho, permanecer em posição estática, depressão auto referida, irritação ou nervosismo causado pelo trabalho e dormir mal. Conclusão: Conclui-se que há a necessidade da implantação de estratégias que contemplem tanto os fatores sócio demográficos, psicossociais como da dinâmica e condições de trabalho.Palavras-chave | saúde do trabalhador; lombalgia; fatores de risco; dor; trabalhador.

ABSTRACT | Context: The low back pain is among the musculoskeletal disorders that most affect workers in general, generates suffering, absenteeism and result in social and economic losses to society in general. Objective: The aim of this study was to describe the prevalence and analyzed the factors associated with work-related low back pain. Methods: A cross-sectional study where the participants were employees of an agricultural company in southern Brazil. The workforce of the company had many different occu-pations. The research instrument was a semi structured questionnaire applied through interviews. Results: Of the 326 workers of the company, 273 were interviewed (83,8%). It was found a prevalence of 59,1% of low back pain among the study participants. Low back pain was mainly associated with female gender, low and normal body mass index (BMI), and occupational exposures as heatstroke, do a lot of strength in work tasks, remain in a static position, self-reported depression, irritability or nervousness caused by work and sleep poorly. Conclusion: We conclude that there is a need to implement strategies that address both the socio demographic, psycho-social dynamics and organization as work.Keywords | occupational health; low back pain; risk factors; pain; worker.

Trabalho realizado em uma Empresa Agropecuária – Pelotas (RS), Brasil.1Especialista em Enfermagem do Trabalho; Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Curitiba (PR), Brasil. 2Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UFPR – Curitiba (PR), Brasil.3Médica. Especializanda em Medicina do Trabalho pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Curitiba (PR), Brasil.4Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Faculdade de Enfermagem (FEn) - Universidade Federal de Pelotas (UFPel) – Pelotas (RS), Brasil.

Prevalência de lombalgia e fatores associados em trabalhadores de uma

empresa agropecuária do sul do BrasilPrevalence of low back pain and factors associated with

workers of an agriculture company in southern Brazil

Rafael Haeffner1, Leila Maria Mansano Sarquis2, Gheysa Fernanda da Silva Haas3, Rita Maria Heck4, Vanda Maria da Rosa Jardim4

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INTRODUÇÃO

A lombalgia, inclusive a relacionada ao trabalho, é uma sintomatologia com foco de dor fundamentalmente na coluna lombar, podendo ser causada por fatores intrínsecos e extrínsecos1. Entre as diversas hipóteses de surgimento ou modulação da lombalgia, acredita-se que estressores psico-lógicos, através de via neuroendócrina, levam ao aumento exacerbado da atividade muscular em alguma unidade motora, o que pode ocasionar a dor2. Para cerca de 90% das pessoas que desenvolvem lombalgia aguda pode haver recorrência desta sintomatologia em dias ou semanas de forma não persistente.

A dor lombar é uma sintomatologia que afeta em torno de 70 a 85% dos adultos em algum momento da vida. A preva-lência anual de lombalgia varia de 15 a 45%1. Pode ser consi-derada um dos problemas de saúde pública em vários países do mundo3-5. Na Europa, sintomas músculo esqueléticos, como a lombalgia, afetam cerca de 45 milhões de pessoas6. Embora muitas vezes a lombalgia seja auto limitada, quando é recorrente causa dor significativa que interfere no trabalho e reduz a qualidade de vida das pessoas, podendo causar um considerável impacto sócio econômico para a sociedade7-10.

A lombalgia surge, principalmente, em função do caráter mecânico, como sobrecarga de força no desenvolvimento das atividades laborais, permanecer por tempo prolon-gado em posição estática e repetição demovimentos1,4. Contudo, pode ser decorrente ainda de fatores não mecâ-nicos e estar associada e agravada por outras doenças de base. A depressão é um forte fator psicossocial no desen-volvimento da lombalgia, pois ocorre excitação de regiões do cérebro ligadas às emoções, estimulando os sítios noci-ceptivos da coluna lombar, o que gera a lombalgia, além de outras questões psicossociais que influenciam no apare-cimento deste sintoma gerador de incapacidade laboral1. A dor lombar pode ser relacionada ainda com as mudanças demográficas, profissionais e com o aumento da carga das doenças crônicas que ocorreram no Brasil na última década11.

Apesar do número expressivo das pesquisas sobre lombalgia relacionada ao trabalho, e do conhecimento dos principais fatores de risco, como as condições de trabalho, fatores ambientais e possíveis sobrecargas de segmentos anatômicos como consequência do trabalho, há ainda a incerteza e controvérsias em relação à extensão e etiologia deste distúrbio, sendo um agravo multicausal12,13.

É relevante a pesquisa de lombalgia relacionada ao trabalho, tendo em vista às consequências causadas a sociedade, e uma vez que a população de trabalhadores aumentou no Brasil nos últimos anos. Atualmente, o Brasil conta com aproximadamente 90 milhões de trabalhadores14. O objetivo do estudo foi descrever a prevalência e analisar os fatores associados à lombalgia relacionada ao trabalho.

MÉTODOS

Este estudo é uma abordagem quantitativa, observa-cional, com delineamento de corte transversal. Faz parte de um projeto de pesquisa da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas. Foi realizado em uma empresa de médio porte que pesquisa tecnologias no ramo agropecuário, localizada no sul do Brasil, e possui vínculo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Os participantes do estudo eram traba-lhadores da referida empresa, com idade a partir de 18 anos e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A população era composta por trabalha-dores agropecuários das áreas: assistência administrativa, supervisão/gerenciamento, operacional, técnico cientí-fico, técnico assistencial, pesquisa e serviços gerais. Os setores foram divididos em Apoio, Pesquisa, Laboratório e Campo.

Uma breve descrição da composição dos grupos ocupacionais:• Assistência administrativa – secretariado, auxiliar e

agente administrativo, e assessores de chefias. • Supervisão/Gerenciamento – supervisores, gerentes e

gestores da empresa. • Operacional – operadores de máquinas e veículos,

operadores em geral, motoristas, porteiros, vigilantes, telefonistas, campeiro e trabalhadores de manutenção de instrumentos e equipamentos.

• Pesquisa – pesquisadores das diversas áreas da empresa. • Técnico científico – trabalhadores com formação

acadêmica. • Técnico assistencial – trabalhadores de nível médio com

curso técnico em alguma área de atuação. • Serviços gerais – trabalhadores responsáveis pela limpeza

e higienização da empresa.

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Lombalgia e fatores associados em trabalhadores agropecuários

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Quanto aos setores, foram divididos em:• Setor de apoio – setores referentes às áreas de adminis-

tração, gestão, economia, financeira, comunicação, marke-ting, cultura, compras e recursos humanos da empresa.

• Setor de pesquisa – referente às diferentes áreas de formação envolvidas com a pesquisa agropecuária como a pesquisa animal e vegetal, melhoramento genético, agroecologia, climatologia e agrometeorologia.

• Setor de laboratórios – agrometeorologia, análise de sementes, biologia molecular, entomologia, física do solo, fitopatologia, recursos genéticos, fisiologia vegetal, bromatologia e nutrição animal.

• Setor de campo – engloba todo o trabalho realizado no campo; referente ao tratamento e pesquisado rebanho leiteiro da raça Jersey; plantio, cultivo das cadeias produ-tivas na empresa em especial o arroz irrigado, fruticul-tura, grãos (milho, feijão, soja...), hortaliças e leite.

O instrumento semiestruturado foi multidimensional composto por questões sócio demográficas, estilo de vida, exposições, cargas ocupacionais e condições de trabalho, foi incluído o instrumento Percepção de Morbidade Geral e Percepção de Morbidade Relacionada com o Trabalho15. As entrevistas foram realizadas nas dependências da empresa por acadêmicos capacitados. O período das entrevistas foi entre os meses de junho e outubro de 2008.

Inicialmente, foram realizados procedimentos como a correção dos questionários, controle de qualidade das entrevistas. Após, foi construído um banco de dados com as informações coletadas através dos questionários aplicados. Os dados foram inseridos por meio de dupla digitação independente, utilizando-se o software Epi Info versão 6.04. Após a verificação e o controle de erros e inconsistências, a análise dos dados foi realizada no software STATA versão 12.

Foram analisadas variáveis dos tipos qualitativas dico-tômicas e politômicas, e quantitativas discretas e contí-nuas. As variáveis analisadas foram: sócio demográficas: sexo, faixa etária/anos (até 30, 31–40, 41–50, 51–60, >60 anos), nível de escolaridade (ensino fundamental incompleto, fundamental completo, médio incompleto, médio completo, superior incompleto, superior completo, mestrado, doutorado e pós-doutorado) e índice de massa corporal categorizada (IMC) (baixo peso <18,5 kg/m², normal de 18,5 a 24,99 kg/m², sobrepeso de 25

a 29,99 kg/m², obeso >30 kg/m²). Os grupos ocupacio-nais, setores de trabalho vigentes na empresa, tempo de trabalho na empresa e na ocupação.

As exposições e cargas ocupacionais, comorbi-dades/condições de saúde foram analisadas e norteadas pela seguintes questões (variáveis independentes): Em seu trabalho o Sr. (a) enfrenta as seguintes condições (sim/não): calor excessivo?; fazer muita força no trabalho?; trabalhar em posição estática?; repetição de movimentos?; “ambiente abafado”?; irritação ou nervosismo?. O Sr. (a) tem depressão (sim/não)?. E o agravo ocupacional (variável dependente): O Sr. (a) acha que seu trabalho costuma causar lombalgia?

Houve a utilização de técnicas estatísticas como frequência absoluta, relativa e intervalo de confiança ao nível de 95% (IC95%) para as variáveis sócio demográficas e das condições de trabalho. E a média, mediana e desvio padrão para as variáveis contínuas. Foi realizado o cálculo para Odds Ratio (OR) utilizando o teste de regressão logís-tica com intervalo de confiança ao nível de 95%, entre a variável dependente binominal — lombalgia relacionada ao trabalho auto relatada, e as variáveis independentes de exposições ocupacionaisauto referidas binominais — calor excessivo, fazer muita força, trabalhar em posição estática, repetição de movimentos, ambiente abafado, depressão, irritação ou nervosismo. Após foi realizada a OR ajustada com teste de regressão logística das variáveis de exposição ocupacional citadas anteriormente para as variáveis modificadoras de efeito para lombalgia para as variáveis sexo, idade e IMC16.

Houve a utilização do teste ANOVA – one way para avaliar a hipótese da relação entre o acometimento por lombalgia em relação ao IMC dos trabalhadores, consi-derando significativo p<0,05. O teste do χ2 de Pearson foi utilizado para comparar a diferença de lombalgia quanto ao sexo, faixa etária, nível de escolaridade, grupos ocupa-cionais, setores de trabalho dos trabalhadores, tempo de trabalho na empresa e o tempo de trabalho na ocupação, e o teste exato de Fisher para comparar IMC categorizado, considerando significativo p<0,05.

O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Pelotas, em conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), tendo o parecer favorável sob o n.° 011/2008 no dia 18 de abril de 2008.

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RESULTADOS

No período das entrevistas, a empresa contava com 326 trabalhadores, dentre os quais 10 estavam afastados para aperfeiçoamento profissional e viagens técnicas, 8 de licença para tratamento de doença, e 4 estavam de férias, totalizando 304 trabalhadores que exerciam atividades nas dependências da empresa no período de coleta de dados. Entre as perdas e recusas, participaram desta pesquisa 273 (83,8%) trabalhadores.

Na Tabela 1, quanto às características sócio demográficas da referida empresa, há a predominância do sexo masculino (79,1%). Faixa etária dos 41 aos 50 anos foi mais frequente (45,8%), a média de idade foi de 47,6 anos, a mediana de 49 anos, o desvio padrão (DP) de 8,2 anos, a idade mínima

de 19 e a máxima de 69 anos, e a variância de 68,7 anos. Aproximadamente dois terços (66,6%) desta população está acima do IMC considerado normal, sendo a média de 26,7 kg/m², a mediana de 26,6 kg/m², o DP de 3,7 kg/m², a variância de 13,9 kg/m², o IMC mínimo encontrado de 17,8 kg/m² e o máximo de 43,4 kg/m².

A lombalgia auto relatada teve a prevalência de 59,1% (n=160) dos trabalhadores da empresa, o sexo feminino foi mais acometido por lombalgia, em que 73,2% das trabalha-doras relataram o agravo de forma significativa (p=0,015). A faixa etária que mais apresentou lombalgia foi dos 31 aos 40 anos (73,2%) de idade, e o nível de escolaridade mais atin-gida foi o ensino médio incompleto com 72,7% deste grupo; contudo, não houve diferença significativa para lombalgia entre os grupos de faixa etária e nível de escolaridade.

Tabela 1. Prevalência de lombalgia dos trabalhadores da empresa agropecuária, conforme as variáveis de gênero, faixa etária, nível de escolaridade e índice de massa corporal, Sul do Brasil, 2008

Características sóciodemográficas

n (%) IC95%Lombalgia

n (%)Valor p

Sexo 0,015*

Masculino 216 (79,1) 73,8–83,8 119 (55,4)

Feminino 57 (20,9) 16,2–26,2 41 (73,2)

Faixa etária 0,147*

≤30 anos 7 (2,6) 1,1–5,2 4 (57,2)

31–40 anos 41 (15,0) 10,9–19,8 30 (73,2)

41–50 anos 125 (45,8) 39,8–51,9 71 (57,7)

51–60 anos 88 (32,2) 26,7–38,1 51 (57,9)

≥61 anos 12 (4,4) 2,3–7,6 4 (33,3)

Escolaridade 0,587*

Fundamental incompleto 22 (8,1) 5,0–11,9 9 (40,9)

Fundamental completo 48 (17,6) 13,3–22,6 32 (66,7)

Médio incompleto 12 (4,4) 2,3–7,6 8 (72,7)

Médio completo 57 (20,9) 16,2–26,2 36 (64,3)

Superior incompleto 18 (6,6) 3,9–10,2 11 (61,1)

Superior completo 38 (13,9) 10,1–18,6 22 (57,9)

Mestrado 25 (9,2) 6,0–13,2 13 (52,0)

Doutorado 41 (15,0) 10,9–19,8 24 (58,5)

Pós Doutorado 10 (3,6) 1,8–6,6 5 (50,0)

Dados ausentes 2

Índice de Massa Corporal (IMC) 0,008**

Baixo peso 2 (0,8) 0,1–2,6 2 (100,0)

Peso normal 88 (32,6) 26,7–38,1 62 (70,5)

Sobrepeso 130 (48,1) 41,6–53,7 73 (56,2)

Obesidade 50 (18,5) 13,9–23,4 22 (44,0)

Dados ausentes 3

IC95%: Intervalo de confiança de 95%; *Teste do χ2 de Pearson; **Teste Exato de Fisher.

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Lombalgia e fatores associados em trabalhadores agropecuários

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Tabela 2. Prevalência de lombalgia dos trabalhadores da empresa agropecuária, conforme as variáveis de grupo ocupacional, setor de trabalho, tempo de trabalho na empresa, tempo de trabalho na função, Sul do Brasil, 2008

Variável n (%) IC95%Lombalgia

n (%)*Valor p

Grupo Ocupacional 0,159

Assistência administrativa 29 (10,7) 7,2–14,9 19 (67,8)

Supervisão/Gerenciamento 18 (6,6) 3,9–10,2 8 (44,5)

Operacional 57 (20,9) 16,2–26,2 30 (53,6)

Pesquisa 67 (24,6) 19,6–30,1 35 (52,3)

Técnico científico 26 (9,6) 6,3–13,6 15 (57,7)

Técnico assistencial 62 (22,8) 17,9–28,2 41 (66,1)

Serviços gerais 14 (4,8) 2,8–8,5 11 (84,6)

Setor de Trabalho 0,326

Apoio 115 (42,9) 36,2–48,2 64 (56,2)

Pesquisa 65 (24,3) 18,9–29,3 35 (53,9)

Laboratório 38 (14,2) 10,1–18,6 27 (71,1)

Campo 50 (18,7) 13,9–23,4 30 (61,2)

Dados ausentes 5

Tempo de trabalho na função 0,292

≤11 meses 16 (5,9) 3,4–9,4 8 (50,0)

12–59 meses 56 (20,5) 15,9–25,8 29 (51,8)

60–179 meses 79 (28,9) 23,6–34,7 53 (67,9)

180–299 meses 57 (20,9) 16,2–26,2 35 (61,4)

≥300 meses 65 (23,8) 18,9–29,3 35 (54,7)

IC95%: Intervalo de confiança de 95%; *Teste do χ2 de Pearson

Tabela 3. Análise bruta e ajustada para os estratos sexo, idade e índice de massa corporal, da associação da lombalgia conforme as variáveis das exposições ocupacionais e comorbidades, Sul do Brasil, 2008

VariávelAnálise bruta Análise ajustada*

ORbruto (IC95%) Valor p OR* (IC95%) Valor p

Calor excessivo 1,83 (1,12–3,01) 0,015 2,24 (1,33–3,79) 0,003

Fazer muita força 2,50 (1,31–4,77) 0,005 3,30 (1,68–6,50) 0,001

Posição estática 2,15 (1,29–3,58) 0,003 2,50 (1,46–4,28) 0,001

Repetição de movimentos 1,49 (0,91–2,43) 0,108 1,71 (1,03–2,85) 0,04

Ambiente abafado 2,03 (1,09–3,79) 0,026 2,16 (1,13–4,12) 0,019

Depressão referida 4,59 (1,54–13,68) 0,006 4,31 (1,42–13,09) 0,01

Irritação ou nervosismo causado pelo trabalho 3,39 (1,94–5,95) <0,001 2,96 (1,67–5,26) <0,001

IC95%: Intervalo de confiança a 95%. *Teste de Odds Ratio ajustado para sexo, idade e índice de massa corporal.

Quanto ao IMC, houve diferença significativa entre as categorias (p=0,011), aonde houve um crescimento de lombalgia com a diminuição do valor do IMC, sendo mais acometidos os grupos de baixo peso (100,0%), e peso normal (70,5%). Com a utilização do teste ANOVA, apareceu a tendência do aumento de lombalgia com a diminuição da faixa do IMC ao nível de significância p=0,010 com teste de Bartlett não significativo, ou seja, as faixas de IMC com maior propensão a dor lombar são a normal e a de baixo peso.

Observa-se na Tabela 2 que não houve diferença estatistica-mente significativa de lombalgia entre os grupos que constam nas variáveis grupo ocupacional (p=0,159), setor de trabalho (p=0,326) e tempo de trabalho na função (p=0,292). O grupo ocupacional predominante foi o da pesquisa com 24,6% dos trabalhadores e o setor de apoio com 42,9%. Porém, ao maior prevalência de lombalgia foi no grupo dos serviços gerais (84,6%), e no setor dos laboratórios (71,1%). Em relação a variável tempo de trabalho na função, a média foi de 167,3

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meses, a mediana de 132 meses, o DP de 127,2 meses, o valor mínimo de 1 e o máximo de 624 meses. Para a variável de tempo de trabalho na ocupação, não houve diferença signifi-cativa para prevalência de lombalgia, havendo predominância para os trabalhadores entre 5 a 15 anos na ocupação (67,9%).

Na Tabela 3 as variáveis associadas na análise ajus-tada com risco para lombalgia são: “calor excessivo” com OR de 2,24 (IC95%1,33–3,79) e p<0,003. A variável “fazer muita força” com OR de 3,30 (IC95%1,68–6,50) e p<0,001. Permanecer em “posição estática” teve OR de 2,50 (IC95%1,46–4,28) com p=0,001. A exposição aos movimentos repetitivos não foi estatisticamente significante (p=0,108) na análise bruta, porém, com ajuste para sexo e idade, apresentou associação com OR de 1,71 (IC95%1,03–2,85) ao p=0,040. Trabalhar em “ambiente abafado” OR de 2,16 (IC95%1,13–4,12) com p<0,019. A variável “depressão” auto relatada teve OR de 4,31 (IC95%1,42–13,09) e p=0,010 na associação com a lombalgia. A variável “irritação ou nervosismo” com OR de 2,96 (IC95%1,67–5,26) com p<0,001. Com isso, os fatores de risco que se destacaram para lombalgia foram à expo-sição a “fazer muita força”, “posição estática”, “depressão”, “irritação ou nervosismo do trabalho”.

DISCUSSÃO

Nesse trabalho foi encontrada uma alta prevalência de lombalgia referida por 59,1% dos participantes desta pesquisa. Resultado semelhante foi encontrado em uma pesquisa multicêntrica realizada em vários países do mundo, que envolveu várias áreas ocupacionais e milhares de traba-lhadores e apontou uma prevalência de 62,7% no Brasil5.

Mas esse apontamento pode variar muito. Em outros trabalhos, foram encontrados resultados da prevalência de lombalgia no Brasil de 9,6 a 71,5%2,11,13,17-19. Em outros países do mundo, foram encontradas prevalências de lombalgia em trabalhadores que variaram de 22,8 a 67%4,7-10,20-22. Na França, um estudo de base populacional encontrou prevalência de dor lombar de 59,3% em trabalhadores de diversos ramos de atividade econômica, muito semelhante aos achados neste trabalho6. Em outros países da Europa, como a Grécia, a preva-lência de lombalgia foi 62,5%4,20, na Dinamarca de 34%22, e na Espanha 22,8%21. Nos Estados Unidos da América, a prevalência foi de 49%9, e na China variou de 38,4 a 45,6%8,10.

A lombalgia prevaleceu de forma significativa no sexo feminino (p=0,015), acometeu 73,2% das mulheres, com diferença de 17,8% para os homens. Outros estudos corro-boram com este achado3,7,8,10,11,13,17,18,23. Esta situação é compreensível, uma vez que em muitos casos a mulher assume “dupla jornada” em seu dia a dia, tendo que cuidar de filhos, realizar tarefas domésticas, entre outras funções somadas a rotina diária de trabalho, o que resulta em sobre-carga mental e física; além das diferenças anatomofisioló-gicas em relação ao homem, como altura, peso, composição osteomuscular13,18,24.  Já em outra situação, os resultados foram divergentes, em que houve maior prevalência de lombalgia em homens6.

A faixa etária mais prevalente para lombalgia foi dos 31 aos 40 anos de idade (73,2%) apesar do resultado não ter diferença significativa para os demais grupos etários, corroborou com uma pesquisa com trabalhadores de enfermagem em Portugal25. Em outra pesquisa foi encontrado resultado semelhante e associado o grupo etário dos 31 aos 40 anos com lombalgia7.

O IMC é outro fator que pode estar associado à lombalgia. Neste estudo, houve aumento da lombalgia com a dimi-nuição da faixa de IMC, se destacando principalmente nos valores extremos (17,8 e 43,4 kg/m²), sendo encontrado de forma semelhante por Birabi et al.7, em pesquisa realizada com trabalhadores agropecuários do Sul da Nigéria, que a lombalgia ainda apresentou-se de forma mais grave em baixo IMC. A literatura revela maior prevalência de lombalgia com IMC extremos (baixo e obesidade)7-9, tendo maior risco para trabalhadores com IMC baixo a normal7. Já em estudo de base populacional realizado no Sul do Brasil, o maior risco foi encontrado em trabalhadores com IMC normal e obesidade11.

As altas demandas físicas ou mecânicas decorrentes do trabalho, como realizar muita força durante tarefas laborais, pode resultar em considerável estresse e fadiga muscular, e estão fortemente associadas ao surgimento de lombalgia13,24-28. O status ocupacional ou função de trabalho, também estão relacionados com a lombalgia2,5,9,11,13,20,23-28, para este aspecto não foi encontrada associação de forma significativa nesta pesquisa.

A intermação ambiental provocada pelo “calor” e “abafa-mento” excessivo do local de trabalho está ligada ao surgimento de distúrbios músculo esquelético, como a lombalgia. Mesmo não apresentando estados mórbidos imediatos, a sobrecarga térmica a longo prazo pode provocar efeitos deletérios a saúde dos trabalhadores28. Tanto manter-se em posição estática ou

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Lombalgia e fatores associados em trabalhadores agropecuários

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inábil por tempo prolongado4,8,9,11,13,18,24 como a repetição excessiva de movimentos11,13,24 estão fortemente associados ao desenvolvimento de dor lombar, o que está de acordo com os resultados deste estudo.

O domínio psicológico é fundamental para melhor qualidade de vida dos trabalhadores, e maior rendimento no trabalho17. A saúde mental precária está associada ao surgimento da lombalgia, incluindo a ansiedade, nervo-sismo e o estresse, que podem acarretar na baixa da imunidade e provocar o desenvolvimento e modulação de sintomas músculo esqueléticos2,5,10,16,28,29. A questão comportamental pode desenvolver lombalgia entre outros sintomas músculo esqueléticos por tendência de “somatização”, o que resulta em focos álgicos5,21,23. A depressão é considerada um forte preditor da lombalgia1 e foi associada de forma significativa para dor lombar neste estudo.

O grupo ocupacional em que mais prevaleceu a lombalgia foi dos serviços gerais, apesar de não ter diferença significa-tiva para os demais grupos. Estudos têm demonstrado que as atividades domésticas estão associadas fortemente aos distúr-bios musculoesqueléticos, especialmente a lombalgia9,18,20. Os trabalhadores do ramo de limpeza e higienização tem grande propensão ao desenvolvimento de dor lombar, pois é um trabalho que exige muitas vezes o manuseio de cargas pesadas e posições estáticas na realização das tarefas labo-rais de serviços gerais9,18,20.

Entre as limitações do estudo, destaca-se o potencial do viés de memória, por se tratar de um estudo com delinea-mento transversal. Os dados de peso e altura que geram a variável IMC são auto relatadas e podem ter sido um dado subestimado, como ocorre em estudos de corte transversal. Outra limitação foi a ausência de 16,3% dos trabalhadores da empresa, o que torna o viés de seleção possível, porém dificilmente tenha ocorrido o efeito amostral do “trabalhador sadio”, uma vez que as perdas ocorreram quase em sua tota-lidade devido à licença para capacitação profissional, férias, ou a trabalho e algumas recusas. A garantia do anonimato pode ter reduzido o viés de informação.

CONCLUSÃO

Houve uma alta prevalência de lombalgia entre os parti-cipantes desta pesquisa, associada especialmente ao sexo feminino, trabalhadores com IMC baixo e normal, expostos a fatores de riscos mecânicos e não mecânicos, como a inter-mação do ambiente de trabalho, realização de força elevada nas tarefas laborais e posição estática, depressão auto refe-rida, irritação ou nervosismo gerado pelo trabalho.

Os resultados deste estudo indicam à necessidade de estratégias de prevenção à lombalgia e promoção a saúde, que abrangem os fatores de riscos mecânicos e não mecâ-nicos do ambiente de trabalho.

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Endereço para correspondência: Rafael Haeffner – Rua Joaquim Nabuco, 2060, apto. 24, bloco A – CEP: 85003-160 – Centro – São José dos Pinhais (PR), Brasil – E-mail: [email protected]

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VULTOS DA MEDICINA DO TRABALHO NO BRASIL

Recebido em: 22/02/2015 Aprovado em: 23/05/2015

Fonte de financiamento: nenhuma

RESUMO | Contexto: Este estudo consistiu na análise do conteúdo de trabalhos produzidos pelo Dr. Bedrikow, buscando signi-ficados e motivações. No início de sua carreira, dedicou-se à Clínica Geral e Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Desde o início da década de 1950, passou a dedicar-se quase que exclusivamente à Medicina do Trabalho. Coordenou o “Inquérito Preliminar de Higiene Industrial do Município de São Paulo”, pioneiro no país. Participou do estudo de silicose nas indústrias paulistas, cuja relevância foi reconhecida através do prêmio Alvarenga da Academia Nacional de Medicina de 1952. Tanto esse trabalho como a atividade em serviços de DST foram recuperados em textos escritos cerca de meio século depois. Produziu trabalhos sobre outras doenças ocupacionais, toxicologia ocupacional e história da Medicina do Trabalho, e reconheceu a presença da área em obras literárias de Euclides da Cunha e Gabriel Garcia Marques. Para não ficar apenas nas suas atividades acadêmicas e profissionais, considerou-se oportuno solicitar a um dos remanescentes do grupo de primeiros colegas associados da ANAMT que escrevesse algo sobre a convi-vência deles, ressaltando os momentos mais marcantes e pitorescos. Jorge da Rocha Gomes foi incumbido desta tarefa. Palavras-chave | medicina do trabalho; saúde do trabalhador; história da medicina.

ABSTRACT | Context: This research analyzed contents of Dr. Bedrikow’s papers and texts in order to recognize meanings and motivations. At the beginning of his career, he practiced Internal Medicine and demonstrated special interest in sexually transmitted diseases. Since the first years of 1950s, his exclusive focus became the Occupational Health. He had been in charge of the “Preliminar Investigation of Industrial Hygiene of the city of São Paulo”, the first study to investigate it in Brazil. He took part in a research about silicosis in industries of the city of São Paulo, recognized by the National Academy of Medicine with the Prize Alvarenga, in 1952. After half a century, he wrote about this experience and about his activities in other STD facilities. He prepared scientific publications about other occupational diseases, occupational toxicology, and the history of Occupational Medicine, and identified the presence of this specialty in literary compositions of Euclides da Cunha and Gabriel Garcia Marques. Not to mention only his academic and professional activities, it has been decided to ask one of his remaining first colleagues, associated to the ANAMT, to write a few words about their coexistence, high lightening the most significant and picturesque moments. Jorge da Rocha Gomes took on this assignment. Keywords | occupational medicine; occupational health; history of medicine.

trabalho realizado na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp / Departamento de Saúde Coletiva - Campinas (SP), Brasil. 1Especialista em Clínica Médica e Doutor em Saúde Coletiva; Profissional de Apoio ao Ensino Pesquisa e Extensão; Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – São Paulo (SP), Brasil.2Professor Titular (aposentado) da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) – São Paulo (SP), Brasil.

Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

Bernardo Bedrikow and the Occupational Health: the man and the work

Rubens Bedrikow1, Jorge da Rocha Gomes2

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Bedrikow R, Gomes JR

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A OBRA

Bernardo Bedrikow, um dos pioneiros da Medicina do Trabalho no Brasil, atuou nessa área durante quase 60 anos. O objetivo deste estudo foi extrair, de trabalhos produ-zidos por ele durante sua carreira profissional, as principais contribuições e significados para a especialidade que esco-lheu e para outras áreas da medicina. O valor de sua obra não se limita aos trabalhos escritos. Portanto, este estudo abrange apenas um pedaço de seu legado, deixando espaço para futuras pesquisas.

Nasceu em 1924 e formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em 1947. Ainda na década de 1940, trabalhou na Liga de Combate à Sífilis, do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, e no Posto Anti-Venéreo da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo1. Em seguida, “repetiu os ritos da maioria dos alunos: aprendeu a prática médica durante o internato no Hospital das Clínicas […] e fez toda sua preparação para clínica geral”2: “Na época, não havia residência. O que fazíamos era concurso para interno do hospital e o meu trabalho era em clínica médica”3.

Tão logo terminou o internato, a procura de emprego, bateu na porta do Serviço Social da Indústria:

Eles pediram para eu fazer um esquema de trabalho e eu fui para a biblioteca da Faculdade de Medicina no mesmo dia. Procurei no índex médico e encon-trei informação. No dia seguinte, voltei ao [Serviço Social da Indústria] SESI, dizendo que eu estava inte-ressado. Apresentei até um esboço de um programa envolvendo a busca de casos de doenças profissionais e o contato com os serviços médicos das empresas. Eles aceitaram. Foi quando eu comecei a trabalhar e nunca mais parei3.

Sobre a escolha da profissão, em suas palavras: “A medi-cina do trabalho foi para mim tão atrativa que, a partir de 1950, passei a dedicar-me a ela exclusivamente”1.

“Em fevereiro de 1950, já contratado pelo SESI, iniciou um dos trabalhos precursores da Saúde Ocupacional no País”2.

De 1951 a 1952, frequentou a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard e o Serviço de Doenças Profissionais do Hospital Geral de Massachusetts1,4.

De volta ao Brasil, reassumiu o posto no SESI, passando a chefiar o Serviço de Higiene e Segurança Industrial, após o prematuro falecimento do engenheiro Mario Ferraz, antigo ocupante do cargo1.

Ainda em 1952, aceitou convite do professor Benjamin Alves Ribeiro, catedrático de Higiene do Trabalho da Faculdade de Higiene da USP para ensinar nos cursos de pós-graduação. “Assumiu, ao mesmo tempo, a formação dos educadores sanitários na Faculdade de Saúde Pública”2. Lecionou também na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, na Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica (PUC) (1963 e 1964), em Sorocaba (SP), e na Faculdade de Medicina de Taubaté (SP) (1970 a 1973), onde foi professor titular. Foi professor de Higiene do Trabalho na Escola de Enfermagem da USP. Contratado pela Fundacentro (criada em 1966), ministrou, juntamente com os colegas Diogo Pupo Nogueira e Oswaldo Paulino, cursos de formação de higiene e segurança do trabalho2.

Dirigiu o Serviço de Medicina Social do Hospital do Servidor Público Estadual “Francisco Morato de Oliveira”1.

No que diz respeito a atividades associativas, colaborou com atividades da Associação Paulista de Medicina, em seu departamento de Medicina do Trabalho, desde sua criação em 1952; na Sociedade Paulista de Medicina Social e do Trabalho, criada pelo professor Cesarino Júnior; e na Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT)5. Fez parte da primeira diretoria da ANAMT (mandato 1968-1970) na condição de Coordenador da Comissão de Doenças Profissionais e Higiene do Trabalho6. Sua contri-buição na decisão de se fundar a ANAMT foi lembrada pelo seu fundador, o Prof. Oswaldo Paulino:

Em 1966, juntamente com Bernardo Bedrikow, Wilmes Roberto Teixeira, Antonio da Silva Garcia e Palmiro Rocha, participei do Congresso Internacional de Medicina do Trabalho realizado na Áustria, em Viena […]. Desse congresso, […] éramos apenas cinco participantes, vim com o firme propósito de fundar uma Associação de Medicina do Trabalho de caráter nacional e que congregasse colegas de todos os Estados7.

Segundo Paulino, seu colega participou inclusive da criação do símbolo da Associação:

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

Elaborei com muito carinho, e procurando artistas, o emblema da ANAMT, submetendo-o ao Bernardo, que sugeriu acrescentar ramos que significassem a agricultura7.

Participou da organização de numerosos congressos, seminários e cursos no Brasil e exterior, tendo sido vice--presidente do Congresso Internacional da Associação Internacional do Seguro Social sobre Prevenção de Acidentes e Doenças Profissionais, em Viena, em 1971.

A convite da Organização Mundial da Saúde (OMS), atuou como

consultor na Bolívia, para dar ao Governo desse país as diretrizes de um programa nacional de proteção à saúde dos trabalhadores das indústrias manufatu-reiras e das minerações1.

Entre 1977 e 1981, ocupou

o cargo de Conselheiro Regional da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para toda região americana, tendo como sede de trabalho Lima, no Perú1.

Em carta da época para um amigo, ele comenta como aconteceu o pedido para assumir o cargo:

Mr. José Luis Bustamante, director of the ILO Regional Office in Lima, Peru […] invited me to join his staff as regional adviser for Occupational Safety and Health8.

Desde Lima, viajou a todos os países da América do Sul, com exceção do Paraguai, a toda a América Central, a Cuba, Haiti, Trinidad-Tobago, Barbados, Jamaica, Guiana.

Os relatórios dessas missões não apenas descreviam a situação vigente no país, mas propunham medidas para seu melhoramento, sempre com a ação de trabalhadores, empregadores e serviços do governo. Aí estão, podendo ser consultados […]. Em agosto de 1981, fui transfe-rido de Lima para a sede central da OIT em Genebra, para chefiar o setor médico do Serviço de Segurança e Saúde no Trabalho […]. Fora da OIT, mantinha contato constante com a vizinha Organização Mundial da Saúde, em sua unidade de saúde dos trabalhadores5.

Ao retornar ao Brasil, reassumiu os cargos no SESI e no Hospital do Servidor Público Estadual, assim como atividades de ensino.

Faleceu em 2008.Do exposto acima, desprende-se que sua carreira médica

caracterizou-se pelo pioneirismo na recém criada especia-lidade, criação e consolidação dos serviços de segurança e higiene e das associações de medicina do trabalho, ensino da especialidade, além da trajetória internacional seguida de devolutiva técnica e científica, contribuindo para a evolução da área no Brasil.

Neste estudo, o pesquisador se propôs a estudar a contri-buição do Dr. Bedrikow a partir da análise dos conteúdos de trabalhos produzidos por ele, mediante a correlação dos mesmos com os diferentes momentos de sua vida profis-sional, buscando significados e motivações que determi-naram tais produções.

MÉTODO

Dado o objetivo principal do estudo, optou-se por meto-dologia qualitativa, mais indicada para a exploração dos significados “escondidos” nos textos. A técnica de análise de conteúdo proposta por Bardin pareceu, ao pesquisador, um caminho promissor, pois parte da descrição do conteúdo dos textos para inferir conhecimentos relativos às condições de produção dos mesmos e à compreensão para além dos significados imediatos9.

Nesta pesquisa, a análise de conteúdo teve por função a descoberta do que está por trás dos conteúdos manifestos dos textos produzidos pelo Dr. Bedrikow10. A partir da confrontação dos conteúdos manifestos com os diferentes momentos da carreira profissional do Dr. Bedrikow, o pesqui-sador buscou aproximar-se das condições de produção e dos significados dos textos. Em outras palavras, procedeu-se à articulação entre a superfície dos textos e os fatores que determinaram suas características9. Para tal, fez-se imprescin-dível conhecer dados de sua biografia profissional, conforme apresentado na introdução.

Esta pesquisa foi realizada em três fases consecutivas. A primeira (pré-análise9) consistiu na busca, aproximação e seleção dos documentos. Utilizou-se como fonte de informações o Curriculum vitae produzido pelo próprio Dr. Bedrikow, em 19861, e o arquivo de sua família. A segunda fase (exploração do material9) consistiu em classificar os

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Bedrikow R, Gomes JR

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Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

textos segundo os assuntos ou temas abordados. Finalmente, procedeu-se ao tratamento e interpretação dos resultados obtidos (terceira fase).

O conjunto dos trabalhos analisados não abrange a totalidade da produção científica e da contribuição do Dr. Bedrikow. Não foram incluídos entrevistas, depoimentos, palestras, participações em congressos e outros eventos, registrados na forma escrita, gravada ou como vídeos, não obstante sua relevância para a Medicina do Trabalho.

RESULTADOS

No Quadro 1 são apresentados o ano de publicação e os títulos dos trabalhos, as revistas ou livros onde os mesmos foram publicados, as contribuições de cada um deles e os temas a que se referem. As contribuições foram determi-nadas pelo pesquisador a partir da leitura dos textos, relatos do próprio Dr. Bedrikow ou ainda por outros autores que comentaram os trabalhos.

DISCUSSÃO

Após a leitura dos trabalhos, foi possível distinguir os temas apontados no Quadro 2, separados em dois grandes grupos: relacionados à Medicina do Trabalho e não rela-cionados à Medicina do Trabalho.

Os trabalhos estudados foram apresentados na ordem cronológica de sua produção com o intuito de facilitar a análise dos mesmos em função das diferentes etapas da carreira profissional do Dr. Bedrikow.

Os dois primeiros trabalhos foram produzidos ainda durante os anos de graduação (em 1946 e 1947) e avaliaram o tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) – cancro venéreo e sífilis – com antibióticos. As DST’s também foram objeto do terceiro trabalho, publicado em 1950 (“Contribuição ao estudo de linfo-granuloma venéreo”). O interesse do Dr. Bedrikow por essa área da medicina coincidiu com o recente desenvolvi-mento de quimioterápicos para as DST na primeira metade do século XX. Em depoimentos a familiares e colegas, relatou que o grupo a que pertencia teria sido o primeiro a empregar a penicilina no Hospital das Clínicas. No caso da sífilis, não obstante tratar-se de doença muito antiga, seu

agente etiológico (Treponema pallidum) foi descoberto por Shaudinn e Hoffman apenas em 190511 e, ainda assim, conti-nuou desafiando a medicina até a década de 1940, quando, finalmente, foi possível purificar a penicilina. Portanto, as pesquisas desenvolvidas no Hospital das Clínicas naquela época foram realmente pioneiras nessa área e devem ter entusiasmado o então estudante Bernardo Bedrikow que, talvez por isso, trabalhou na Liga de Combate à Sífilis, do Centro Acadêmico Oswaldo Cruz, e no Posto Anti-Venéreo da Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo. Passados mais de 50 anos, o Dr. Bedrikow resgatou esses momentos ao escrever “Gourgerot e nós”12.

O quarto trabalho selecionado avaliou a resposta de pacientes cardiopatas descompensados, internados, ao que se chamou “Esquema de Gold”, isto é, repouso, dieta de leite e água, acompanhada do uso de diuréticos mercuriais e cardiotônicos, tendo como critério o peso diário.

O trabalho publicado em 1952, sobre “O líquido cefa-lorraquidiano na moléstia de Weil”, encerrou essa fase de sua vida profissional dedicada à Clínica Geral. Desde a formatura até esse momento, o Dr. Bedrikow manteve-se ligado ao Hospital das Clínicas, exercendo a Clínica Geral. Seus plantões naquele nosocômio chegaram, na época, a ficar famosos, pois era sabido que não dormia e exami-nava minuciosamente todos os doentes, acompanhado dos mais novos.

A partir de 1952, praticamente toda sua produção cien-tífica vinculou-se à Medicina do Trabalho.

O “Inquérito Preliminar de Higiene Industrial do Município de São Paulo”, no início da década de 1950, mostra que a inserção do Dr. Bedrikow na nova especia-lidade não se limitou a experiências clínicas com determi-nada doença ou empresa. O papel que assumiu no SESI, nos primórdios do Serviço de Higiene e Segurança Industrial, exigiu-lhe um olhar ampliado para a situação do conjunto das empresas paulistanas. Com certeza, os conhecimentos adquiridos na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (onde estudou de 1951 a 1952) foram de grande valia para que pudesse elaborar e executar pesquisa tão abrangente. Segundo Maeno e Carmo2, tratou-se de “levan-tamento pioneiro no País”. Das 2.137 empresas visitadas, abrangendo 72.782 trabalhadores, cerca da metade era de tamanho médio, 43% pequenas e apenas 6% com mais de 100 trabalhadores, “embora representassem 61% de todos os trabalhadores cadastrados”2. O inquérito mostrou ainda

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

Ano Título Revista/Livro Contribuições/Tema

1946

Tratamento do cancro venéreo

simples pelo sulfatiazol

Publicações médicas . 1946; 17(8-9):3-11

Bom resultado do uso de sulfatiazol no tratamento do cancro venéreo. / Clínica geral - DST.

1947Tratamento de dez

dias da sífilis recente em ambulatório

Informações do Departamento Médico do Laboratório Squibb.

Dez, 1947.

Tratamento da sífilis com injeções intramusculares de penici-lina. / Clínica geral – DST.

1950

Contribuição ao estudo de

linfogranuloma venéreo

Revista Paulista de Medicina. 1950;31(4):228-9.

Observação da localização preferencial à esquerda do enfarta-mento ganglionar em casos de linfogranuloma venéreo, bubão cancros e associação das duas moléstias. / Clínica geral - DST.

1950

Compensação do cardíaco hospitalizado

pelo esquema de Gold. Resultados preliminares em

nosso meio.

Separata da Revista Paulista de Medicina.

1950;36(6):425-34

O esquema de Gold - repouso; dieta de leite e água (2 a 3 litros/dia); cardiotônicos (digitoxina); diuréticos mercuriais; peso do paciente como guia - permite compensações mais rápidas e menor permanência no hospital. / Clínica geral - Cardiologia.

1952O líquido

cefalorraquidiano na moléstia de Weil

Revista do Instituto Adolfo Lutz. 1952;12:145-61.

Observação sobre a propriedade da bilirrubina de vencer a barreira hemo-liquórica em casos de leptospirose icterohemor-

rágica. / Clínica geral - Infectologia.

1954Inquérito preliminar de Higiene Industrial do

Município de São Paulo

Mimeografado, distribuição limitada. SESI,

São Paulo. 1954.

Retrato fiel das indústrias da época em relação à segurança, higiene e medicina do trabalho. / SEGURANÇA E Higiene oCUPACIONAL.

1954

Cálculo mensal do coeficiente de

gravidade dos acidentes de trabalho

Anais da IX Convenção dos Presidentes de CIPA.

São Paulo, 1954.

Estudo de um método para corrigir os cálculos mensais dos coeficientes de gravidade dos acidentes de trabalho em séries

de vários anos sucessivos. / Acidentes de trabalho.

1954

Aplicação do controle estatístico de qualidade

ao controle de acidentes de trabalho

Anais da IX Convenção dos Presidentes de CIPA.

São Paulo, 1954.

Aplicação de um método de controle estatístico para avaliar a importância da variação dos coeficientes de frequência e gravi-

dade dos acidentes do trabalho calculados mês a mês, analisando sua flutuação em torno de valores médios. / Acidentes de trabalho.

1956

Contribuição para o estudo da silicose

pulmonar nas indústrias urbanas

paulistas

Rev Paul Tisiol e do Torax.1956;17:347-553.

Identificação de casos de silicose provenientes de metalúrgi-cas, vidrarias, cerâmicas, fábricas de sabões abrasivos e outras indústrias. Recomendações de ordem preventiva. Metodologia original. Prêmio Alvarenga de 1952, da Academia Nacional de

Medicina./ DOENÇA OCUPACIONAL - PNEUMOCONIOSE.

1956Ramazzini - o pai da

Medicina do TrabalhoCIPA Jornal. Ano Vii. n˚ 74; setembro/outubro, 1956.

Relata a história de Bernardino Ramazzini. / HISTÓRIA DA MEDICINA DO TRABALHO.

1957Ruído como fator de doença profissional

Anais da XV Convenção dos Presidentes de CIPA

Análise dos fatores ambientais e pessoais que influem sobre a ação nociva dos ruídos, em particular na gênese da surdez

profissional. / DOENÇA OCUPACIONAL - SURDEZ.

1959

Exposição ao sulfeto do raiom pelo

processo viscosa no Estado de São Paulo

Arquivos da Faculdade de Higiene e Saúde Pública da Universidade de São Paulo. 1959;13(1):219-41.

Estudo pormenorizado das concentrações de sulfeto de carbono e sulfeto de hidrogênio nos setores de produção e tecelagem

de raiom pelo processo viscosa em quatro grandes fábricas do Estado de São Paulo. / SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAL.

Quadro 1. Trabalhos de Bernardo Bedrikow

Continua...

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Bedrikow R, Gomes JR

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Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

Quadro 1. Continuação

Continua...

Ano Título Revista/Livro Contribuições/Tema

1959O chefe do pessoal contribuiu para a

higiene do trabalho

Revista IIDORT. 1959;28(327-328):30-1.

Enumeração e comentários sobre as ações do Chefe do Departamento Pessoal que contribuem para a prevenção dos

acidentes do trabalho. / ACIDENTES DE TRABALHO.

1968

Doenças profissionais, estatísticas,

importância social e econômica.

Curso Intensivo de Ventilação Industrial.

CICPAA. 1968. São Paulo

Estudo geral sobre as características das doenças profissionais mais comuns e análise da dificuldade para obtenção de infor-

mações estatísticas confiáveis. / DOENÇA OCUPACIONAL.

1968

Medicina do trabalho: saúde ocupacional

nos países em desenvolvimento

- Brasil

Revista AMB. 1968;14:5.

Atividades dos serviços oficiais e particulares ligados à saúde ocu-pacional no Brasil, estudadas com o fim de examiná-las compara-tivamente com o que ocorre noutros países em fases diversas de

desenvolvimento econômico. / ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS.

1969Medicina do trabalho

ontem e hoje

Indústria e desenvolvimento,

1969;2(2):36-7.

Estudo histórico do desenvolvimento da medicina do trabalho em São Paulo, assinalando as características de sua prática no

momento atual. / HISTÓRIA DA MEDICINA DO TRABALHO.

1971Conduta prática nas

doenças profissionaisAtualidades médicas,

7(3):10-24,

Exposição sobre as condutas de diagnósticos, tratamento e controle de algumas doenças profissionais correntes. /

DOENÇA OCUPACIONAL.

1972Medicina do trabalho e doença de Chagas

Separata da Revista Paulista de Medicina.

1972;79(5):161-2.

Necessidade de regulamentação dos serviços médicos de empresas e dos exames médicos dos candidatos a emprego.

Não há motivo para recusa de candidatos apenas devido ao resultado positivo da reação de Machado Guerreiro.

Necessidade de cuidar da saúde do trabalhador rural. / EXAME ADMISSIONAL – DOENÇA DE CHAGAS.

1972Intoxicações profissionais

Revista Paulista de Medicina. 1972;79(112):45.

Características principais da intoxicações profissionais mais correntes, enfatizando seu reconhecimento e controle labora-

torial. / TOXICOLOGIA.

1974Patologia profissional

na indústria metalúrgica

Separata do XXIX Congresso Anual da Associação Brasileira de Metais,

julho, 1974. Publicado em Metalurgia. 1975;31(206):4-6.

Exposição sobre as principais doenças profissionais que afe-tam os trabalhadores das indústrias metalúrgicas, particular-mente as intoxicações devido à exposição a metais tóxicos. /

DOENÇA OCUPACIONAL – TOXICOLOGIA.

1975Toxicologia dos

incêndiosARS Curandi .

1975;8(4):28-33,

Examinadas as manifestações patológicas mais frequen-tes entre os bombeiros ou na população atingida. Particular ênfase à ação do monóxido de carbono e aos produtos deri-vados da termodecomposição de plásticos. / ACIDENTES DE

TRABALHO – TOXICOLOGIA.

1976

Novos rumos de atividade

prevencionista na formação e

treinamento de pessoal

Jornal de Prevenção de Acidentes, n˚ 3, ano I,

agosto de 1976

Tendências das atividades de prevenção de acidentes e doenças profissionais decorrentes da necessidade de formação de pessoal especializado e de treinamento dos trabalhadores. / ACIDENTES

DE TRABALHO - PREVENÇÃO – DOENÇA OCUPACIONAL.

1976

Determinação de mercúrio em

amostras de urina de indivíduos expostos

Mimeografado, distribuição limitada

Experiência e técnica desenvolvida no laboratório da Subdivisão de Higiene e Segurança Industrial do SESI em relação à determi-nação da concentração de mercúrio em amostras de urina de

trabalhadores expostos a esse metal. / TOXICOLOGIA.

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

Ano Título Revista/Livro Contribuições/Tema

1976Determinação

espectrofotométrica de mercúrio na urina

Mimeografado, distribuição limitada

Uso da espetrofotometria para determinar a concentração de mercúrio em amostras de urina. / TOXICOLOGIA.

1976

Determinação de ácido deltaaminolevulínico

em amostras de urina de pessoas não expostas ao chumbo

Mimeografado, distribuição limitada

Determinação da concentração urinária de ácido deltaa-minolevulínico em populações não expostas ao chumbo. /

TOXICOLOGIA.

1976Intoxicação pelo

chumboRevista Brasileira de Saúde Ocupacional. 1976;13:44-6.

Ocorrência e diagnóstico das intoxicações pelo chumbo, baseada no movimento de ambulatório funcionando em con-

vênio com a Previdência Social para atender os casos de doen-ças profissionais. / TOXICOLOGIA.

1977Serviços médicos de

empresas

Capítulo de livro. In: S. Hoyler, vol II - Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1977

Organização e funcionamento dos serviços médicos de empresas, destinado ao pessoal de relações industriais. /

ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS.

1978

Seguridad e Higiene del Trabajo en la

Oficina Internacional del Trabajo

Revista Centroamericana de Ciências de la Salud.

1978; 11: 277-80

Atividades da Organização Internacional do Trabalho no campo da segurança e higiene do trabalho com ênfase

sobre as atividades normativas e de cooperação técnica. / SEGURANÇA E HIGIENE OCUPACIONAL- OIT.

1980Intoxicações por gases e metais

pesados

Intoxicação por gases e metais pesados. In: E. Lima

Gonçalves et al. Editora Guanabara Koogan S/A,

Rio de Janeiro, 1980

Versa sobre diagnóstico, tratamento e profilaxia das into-xicações por gases e vapores. Destinado a clínicos. /

TOXICOLOGIA.

1983Epidemiologia do

câncer ocupacional e meio ambiente

A. Franco Montoro e D. Pupo Nogueira. T.A. Queiroz Editora Ltda,

em cooperação com o Conselho Nacional de

Pesquisas. São Paulo, 1983

Dados de epidemiologia do câncer profissional segundo as informações proporcionadas pela OIT e apresentadas em capí-

tulo de um livro sobre Meio Ambiente e Câncer. / DOENÇA OCUPACIONAL.

1983Coffee cultivation and

Coffee industry

Occupational Health and Safety Encyclopaedia.

Internatinal Labour Office. 3rd Edition, Geneva, 1983.

Riscos de acidentes do trabalho, doenças profissionais e pro-teção contra esses riscos, na lavoura e na industrialização do

café. / DOENÇA OCUPACIONAL - ACIDENTES DE TRABALHO – CULTIVO E INDÚSTRIA DO CAFÉ.

1984

Estudo de uma epidemia de

intoxicações por triortocresil fosfato

(TOCP).

Rev Bras Saude Ocupacional.

1984;46(12):49-52.

Após revisão bibliográfica, é descrito o quadro clínico apre-sentado por 50 casos de intoxicação por TOCP numa fábrica de refrigeradores. Dosagem da colinesterase plasmática e das

concentrações atmosféricas de TOCP. A profilaxia consistiu em eliminar totalmente a utilização de óleo e gasolina con-

tendo TOCP como aditivo. / TOXICOLOGIA.

1987Simpósio

“Leucopenia”

Editorial. Boletim. Revista da Sociedade Brasileira de

Hematologia e Hemoterapia. V. IX N˚ 144: 61, 1987.

Importância da aproximação de hematologistas e médicos do trabalho em torno da leucopenia. / DOENÇA OCUPACIONAL

– LEUCOPENIA.

1997Occupational health

in BrazilInt Arch Occup Environ Health. 1997;70:215-21.

Panorama da Medicina do Trabalho no Brasil, com ênfase no ensino, prática e legislação. MEDICINA DO TRABALHO.

Quadro 1. Continuação

Continua...

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Bedrikow R, Gomes JR

50

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

Ano Título Revista/Livro Contribuições/Tema

2001

Trabalho da criança e do adolescente

no corte da cana-de-açúcar

Rev Bras Saude Ocupacional.

2001;26(97/98):9-27

Trabalho de corte de cana é insalubre, penoso e perigoso para crianças e adolescentes, afetando a saúdas e o desenvol-

vimento bio-psico-social. / TRABALHO INFANTIL – DOENÇA OCUPACIONAL – ACIDENTES DE TRABALHO – CORTE DE

CANA-DE-AÇUCAR

2003 Gougerot e nósSuplemento cultural da Revista da APM. n˚ 143,

Out 2003.

Resgate da história dos estudantes de medicina trabalhando no Posto Antivenéreo entre 1940 e 1950. / HISTÓRIA DA

MEDICINA – DST.

2003 Parece Ramazzini…Rev Bras Med Trab.

2003;1(1):69-70.

Doenças ocupacionais no livro “Du Climat et dês Maladies du Brésil”, de Sigaud JFX, em 1884. / HISTÓRIA DA MEDICINA DO

TRABALHO.

2003Uma incursão de

EuclidesRev Bras Med Trab.

2003;1(2):148.

“Teria Euclides da Cunha também interpretado o sertanejo apesar de ser, antes de tudo, um forte, passível dos aciden-tes e das doenças do trabalhador rural?” / MEDICINA DO

TRABALHO E LITERATURA.

2004

Exposición a sílice y silicosis en el

Programa Nacional de Eliminación de Silicosis en Brasil

(PNES)

Cien Trab. 2004 Ene-Mar; 6(11):1-13.

Situação da situação epidemiológica da silicose no Brasil, a legislação brasileira referente à exposição à sílica e o con-

trole médico e o Programa Nacional de Eliminação da Silicose. DOENÇA OCUPACIONAL - SILICOSE.

2004Releitura de “Cem anos de solidão”

Rev Bras Med Trab. 2004;2(2):153-4.

Elementos da medicina do trabalho no livro Cem anos de soli-dão, de Gabriel García Marques. / MEDICINA DO TRABALHO E

LITERATURA.

2008Lembrança do

JaçanãNão publicado. Arquivo da

família.

Hospital São Luiz Gonzaga e Medicina do Trabalho. Década de 1940: internação de casos de silicose e estudo clínico e patoló-gico de Nébias, Grieco e Mignone. Serviço de reabilitação pro-fissional criado pelo Dr. Nébias. Enfermaria própria para inter-nar casos de doenças profissionais. / HISTÓRIA DA MEDICINA

DO TRABALHO.

Quadro 1. Continuação

Quadro 2. Assuntos tratados nos artigos de Bernardo Bedrikow

Relacionados à Medicina do Trabalho Não relacionados à Medicina do Trabalho

Segurança e Higiene Ocupacional Clínica Geral e DST

Acidentes de Trabalho Clínica Geral e Cardiologia

Doença Ocupacional Clínica Geral e Infectologia

Toxicologia História da Medicina

Trabalho infantil

História da Medicina do Trabalho

Exame Admissional

Prevenção

Medicina do Trabalho e Literatura

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

Rev Bras Med Trab.2015;13(1):43-57

que somente 4,1% dos trabalhadores contavam com médico na empresa2;

20,3% de todos os trabalhadores industriais do Município de São Paulo estavam expostos a agentes produtores de dermatoses ocupacionais; 7,3% de todos os trabalhadores estavam expostos a solventes orgânicos; 5,5%, a poeiras de sílica; 5,4%, a chumbo13.

Outra pesquisa dedicada à Higiene Industrial e também muito abrangente foi a que estudou pormenorizadamente a “Exposição ao sulfeto do raiom pelo processo viscosa no Estado de São Paulo”, publicada em 1959.

Um trabalho pelo qual o Dr. Bedrikow nutria especial afeto foi o estudo da silicose pulmonar nas indústrias urbanas paulistas. A pesquisa valeu-se de metodologia original, cuidadosa, indo da descrição clínica dos casos mediante exame físico minucioso, emprego de exames complemen-tares (tais como raio X de tórax, broncografia e provas de função pulmonar), até a vistoria dos locais de trabalho e análise da poeira coletada. O estudo foi coroado com o prêmio Alvarenga, da Academia Nacional de Medicina de 1952. Além disso, foi feito em conjunto com colegas que muito estimava: Hermelino Gusmão, Ítalo de Stefano e Jamil Aun. Ao ser entrevistado pela repórter Cristiane Reimberg, da Revista Proteção, em 2004, o Dr. Bedrikow, ao comentar sobre sua participação no Programa Nacional de Eliminação da Silicose (PNES), ressaltou a importância pessoal do trabalho realizado no início da carreira:

Isso é uma outra atividade que estou desenvolvendo agora em colaboração com o responsável por esse Programa, que é o pneumologista da Fundacentro, Eduardo Algranti. A OIT e a OMS propuseram o desenvolvimento de um programa mundial, visando, no prazo de 15 anos, a eliminação da silicose. […] É um trabalho pessoalmente muito gratificante e importante para mim. Porque o primeiro trabalho nosso do SESI, que deu maior repercussão, foi aquele que falei sobre os 50 casos de silicose em indústrias urbanas3.

Nessa mesma entrevista, contou um episódio que, sob a perspectiva do pesquisador, só foi possível dado seu conhe-cimento clínico acerca dessa pneumoconiose:

Outra experiência foi na Nicarágua, onde estive mais de uma vez. Eu estava em uma reunião no Ministério do Trabalho com os inspetores do trabalho e de repente, em uma sala que não estava em uso corrente, eu vi uma porção de radiografias que estavam lá esquecidas, todas empoeiradas. Peguei as radio-grafias e fui olhar. Encontrei casos gravíssimos de alterações pulmonares. Não tive dúvida de que era silicose. A gente não pode fazer diagnóstico de sili-cose na radiografia, mas no caso era evidente. […] Então, voltou o interesse em acompanhar e fazer um controle desta exposição à sílica3.

O PNES havia sido lançado em 2001, “em consonância com a proposta internacional de programa da OIT e OMS, com o objetivo de diminuir a incidência da silicose até 2015 e eliminá-la como problema de saúde pública até 2030”14. Com certeza, sua experiência profissional naqueles orga-nismos internacionais e seus estudos prévios sobre sili-cose, foram de muita valia no momento de formular e por em andamento o PNES juntamente com colegas da Fundacentro e OIT14.

Em 2008, resgatou uma fase importante tanto para o estudo da silicose no país como para a história da medi-cina paulistana ao escrever “Lembrança do Jaçanã”15. Nessa crônica, relembra a instalação de enfermaria própria para casos de silicose no Hospital São Luiz Gonzaga, no bairro do Jaçanã, em São Paulo, na década de 1940. Esse hospital destinava-se principalmente ao cuidado de enfermos com tuberculose, mas o surgimento de número expres-sivo de pessoas acometidas pela pneumoconiose, muitas vezes confundida com tuberculose ou associada a ela16, e a presença de várias empresas do ramo de cerâmicas, vidrarias e produção de sabões abrasivos, entre outras (produtoras de poeira no local de trabalho) levaram à criação da referida enfermaria. Mencionou ainda figuras como Nébias, Grieco e Mignone. No que diz respeito às doenças ocupacionais, esse estudo sobre silicose parece ter sido o de maior enver-gadura, combinando o exercício da clínica com outras ferra-mentas ou estratégias próprias da medicina ocupacional. Percebe-se que, nesse período de sua carreira, continuava ainda muito próximo da semiologia clínica, mas à serviço da Medicina do Trabalho.

Outras contribuições no campo das doenças ocupacio-nais aparecem nos trabalhos dedicados à surdez ocupacional,

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câncer ocupacional e leucopenia. Na condição de organi-zador de simpósio sobre essa doença hematológica, destacou a importância da aproximação e do trabalho conjunto entre médicos do trabalho e hematologistas.

Dr. Bedrikow estudou os riscos de trabalhadores da lavoura e indústria do café:

Dois artigos inseridos na 2ª edição da Enciclopédia de Saúde Ocupacional e Segurança, versando sobre riscos de acidentes do trabalho, doenças profissio-nais e proteção contra esses riscos, na lavoura e na industrialização do café, foram preparados a convite da OIT. Para prepará-los foram visitadas plantações, torrefações, moagens, fábrica de café solúvel e insti-tuto de investigação cafeeiro, e foi revista a literatura médica disponível. Os dois artigos foram atualizados para a terceira edição da Enciclopédia1.

Anos depois, em 2001, empregou metodologia seme-lhante a fim de investigar os riscos à saúde do corte de cana-de-açúcar, agora em crianças e adolescentes.

Nestes dois estudos, a ida do pesquisador ao campo fez-se necessária a fim de melhor entender o que se passa com a saúde do trabalhador de duas importantes culturas agrícolas do país. Estava certo ele quando sugeriu a inclusão dos ramos de planta no emblema da ANAMT, represen-tando a atividade ocupacional relacionada à agricultura7.

Outro tema importante na sua carreira profissional foi a toxicologia, notadamente a intoxicação por chumbo, mercúrio e gases. Destaque para o estudo da epidemia de intoxicação por triortocresil fosfato numa fábrica de refri-geradores, entre 1968 e 1969:

Após revisão bibliográfica, é descrito o quadro clínico apresentado por cincoenta casos de intoxi-cação […]. A atividade da colinesterase plasmática mostrou diminuição em 44 casos […]. Dois pacientes faleceram […]. A profilaxia consistiu em eliminar totalmente a utilização de óleo e gasolina contendo TOCP como aditivo1.

A toxicologia também ocupou grande espaço na sua formação em Harvard. O livro “Industrial Toxicology” de Hamilton e Hardy está até hoje na estante do Dr. Bedrikow. Sobre as autoras escreveu:

Quando estudante na Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, no ano de 1952, trabalhei de perto com a professora Harriet Hardy que na época acompanhava, no célebre Massachussetts General Hospital (o das reuniões anátomo-clínicas de fim de semana), jovens porta-doras de granulomas pulmonares devidos à inalação de berílio em fábricas de lâmpadas fluorescentes. Num fim de manhã, a Dra. Hardy apontou de longe, num longo corredor, a figura de uma senhora idosa, identificando-a: “lá vai a Dra. Hamilton!”[…] Senti a emoção da Dra. Hardy ao ver Alice Hamilton, sua predecessora na Universidade, primeira mulher admitida por Harvard como professora […]. Alice Hamilton nasceu em Nova York em 1869; aos quatro meses, foi viver em Fort Wayne, estado de Indiana, residência tradicional de sua família. Formou-se em medicina em 1897 em Michigan e, por mero acaso, teve seu interesse despertado por um caso de doença devida a toxicologia industrial quando ninguém, em seu país, pensava sequer em medicina higiene do trabalho17.

Dr. Bedrikow também se interessou pela história da espe-cialidade que escolheu. Já em 1956, escreveu sobre Bernardino Ramazzini, “o pai da Medicina do Trabalho”18. Em 1969, produziu um “Estudo histórico do desenvolvimento da medi-cina do trabalho em São Paulo”1. Em 2003, descobre um médico do século XIX que “Parece Ramazzini…”19. Trata-se de Joseph François Xavier Sigaud, autor de “Du Climat et des Maladies du Brésil”, escrito em 1884. Nesse livro, Dr. Bedrikow encontrou descrições de doenças ocupacionais. Estes traba-lhos, juntamente com a “Lembrança do Jaçanã”, comen-tado acima, representam as principais contribuições do Dr. Bedrikow para o estudo da história da Medicina do Trabalho.

Finalmente, deve ser destacada a trajetória original que combinou duas de suas paixões, a Medicina do Trabalho e a Literatura. Começou indagando sobre as doenças ocupa-cionais do sertanejo de Euclides da Cunha20. Em seguida, enxergou o que talvez ninguém tenha se apercebido, isto é, epidemias e doenças ocupacionais nos “Cem anos de solidão” de Gabriel Garcia Marques21. Ao fazê-lo, trouxe a Medicina do Trabalho para a arte, para o cotidiano, mostrando que está perto de todos e não somente pelas lentes dos expertos.

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

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1. Bedrikow B. Curriculum vitae, resumo biográfico e memorial. Não publicado. Arquivo da família. São Paulo, 1986.

2. Maeno M, Carmo JC. Saúde do Trabalhador no SUS: Aprender com o passado, trabalhar o presente, construir o futuro. São Paulo: Hucitec; 2005.

3. Bedrikow B. Trabalho pioneiro - entrevista com Bernardo Bedrikow. Revista Proteção. 2004;148:8-14.

4. Freitag LV. Médicos judeus em São Paulo: pioneirismo e talento. Boletim do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro. 2013;48:14-7.

5. Bedrikow B. Medicina do Trabalho. In: Fundacentro. A ANAMT e sua história. Ministério do Trabalho e Emprego; 2002.

6. Fundacentro. A ANAMT e sua história. Ministério do Trabalho e Emprego, 2002.

7. Paulino O. Uma semente em terra fértil. In: Fundacentro. A ANAMT e sua história. Ministério do Trabalho e Emprego, 2002.

8. Bedrikow B. How I came to join the ILO. Friends Newsletter. N˚ 31, December 2001.

9. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70; 2011.10. Minayo MCS, Deslandes SF, Cruz Neto O Gomes R, organizadores.

Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2009.11. Sparling PF. Sexually transmitted diseases. In: Cecil RL. Textbook

of medicine. Philadelphia: W. B. Sauders Company; 1988.12. Bedrikow B. Gougerot e nós. Revista da APM. Suplemento Cultural.

2003;143:2.

13. Mendes R. Aspectos históricos da patologia do trabalho. In: Mendes R, organizador. Patologia do trabalho. Rio de Janeiro: Editora Atheneu; 1995.

14. Algranti E, Handar Z, Ribeiro FSN, Bon AMT, Santoa AM, Bedrikow B. Exposición a Sílice y Silicosis en Brasil (PNES). Ciencia Y Trabajo. 2004;6(11):1-13.

15. Bedrikow B. Lembrança do Jaçanã. Revista da APM. 2014;255(Suplemento Cultural):3-4.

16. Hunter D. The pneumoconioses. In: Hunter D. The diseases of occupations. London: English Universities Press LTD; 1955. p. 848-54.

17. Bedrikow B. Duas vidas. Não publicado. Arquivo da família, 2008.18. Bedrikow B. Ramazzini - o pai da Medicina do Trabalho. CIPA Jornal.

1956;7(74):2-3.19. Bedrikow B. Parece Ramazzini… Rev Bras Med Trab. 2003;1(1):69-70.20. Bedrikow B. Uma incursão de Euclides. Rev Bras Med Trab.

2003;1(2):148.21. Bedrikow B. Releitura de “Cem anos de solidão”. Rev Bras Med

Trab. 2004;2(2):153-4.

REFERÊNCIAS

Endereço para correspondência: Rubens Bedrikow – Rua Edevaldo Luiz de Barros, 36 – CEP: 13087-832 – Campinas (SP), Brasil – E-mail: [email protected]

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Com muito prazer e emoção, vou rememorar alguns aspectos de um período muito importante de minha vida em que tive a felicidade e ventura de conviver com o Dr. Bernardo Bedrikow. Escrevo na primeira pessoa para que estas remi-niscências tenham o caráter afetuoso inerente aos mais de quarenta anos de estreito relacionamento. Espero que, assim, possam ter uma ideia aproximada da vida de Bernardo.

Estava preparando a monografia de mestrado no final-zinho de 1969 e o nosso colega Dr. Edgard Raoul Gomes sugeriu que eu procurasse o Dr. Bernardo Bedrikow, chefe da Subdivisão de Higiene e Segurança Industrial (SHSI) localizada no Belenzinho. Tratava-se de um serviço de assis-tência à saúde de trabalhadores da indústria que incluía vários serviços: medicina, segurança, higiene, odontologia e educação voltados para a promoção, recuperação e reabili-tação da saúde de trabalhadores. O Serviço recebia pacientes encaminhados tanto por empresas como por sindicatos e, principalmente, pela Previdência Social, já que a SHSI era o único Serviço credenciado pela entidade previdenciária para tratar doenças profissionais em São Paulo. E, em dezembro de 1969, ele me convidou para ingressar, como funcio-nário, na Subdivisão. Nasceu nesta época uma amizade que perdurou até 2008, quando Bernardo Bedrikow nos deixou.

Detalho este período para destacar o significado que teve este Serviço não só na assistência aos trabalhadores, mas pela sua grande importância no desenvolvimento profis-sional de colegas que optaram pela especialidade. Esta é uma característica muito própria do Dr. Bernardo: ensinar com muita paciência quem o procurava para aprender. Só para lembrar, alguns dos colegas médicos que por lá passaram: René Mendes, Satoshi Kitamura, Luiz Carlos Morrone, Julio Oscar Mozes, Jose Roberto Calafiori, Celina Wakamatsu, Pedro Augusto Zaia.

Para a minha dissertação de mestrado ele foi de uma ajuda inestimável pois a pesquisa envolvia levantamento de condi-ções de trabalho e saúde de trabalhadores em quatro empresas. Foi o Dr. Bernardo quem abriu as portas destas empresas, o que não era nada fácil naquele tempo, dificuldades sentidas até hoje pelos que se dedicam à pesquisa. Deste período, lembro de alguns fatos que bem característicos desta sua compe-tência didática.

Comecei a encontrar muitos casos de sinal de Burton (manchas azuis bem escuras na gengiva) entre os trabalha-dores. Comentei com o Dr. Bernardo que me acompanhou em alguns exames. Alertou-me, então, para um equívoco que estava incorrendo ao considerar sinal de Burton a área enegrecida de trabalhadores que nada mais era do que uma característica racial inerente aos negros.

Numa ocasião, ele me ajudou a pesquisar os sinais iniciais de perfuração de septo em expostos ao cromo. Mostrou que, inicialmente, notava-se apenas uma área circular isquêmica evoluindo para depressão, depois crosta marrom e sangui-nolenta terminando pela perfuração. Insistiu para fazer o exame com o rinoscópio para visualizar o septo porque, se o fizesse afastando a narina, haveria uma isquemia devido à manobra sem relação com a exposição.

No finalzinho de 1969, tive uma oportunidade de traba-lhar na Fundacentro em tempo integral. Ao comentar com Dr. Bernardo, falou-me que era imprudente ficar em tempo integral numa entidade ainda muito recente porque eu ficaria dependendo de uma só organização. Segui o seu conselho. Posteriormente, pude avaliar como foi uma sábia sugestão, tendo em vista que muitos profissionais que por lá traba-lharam naquela época tiveram problemas funcionais.

Logo que comecei a trabalhar com Bernardo, ele me chamou e mostrou-me um comunicado do Conselho Regional de Medicina (CRM), referindo que o processo contra ele havia sido arquivado por inepto. Ele explicou-me que foi devido a uma reportagem sobre a SHSI e um colega havia indagado ao CRM se aquela reportagem não feria a ética profissional por se tratar de propaganda imoderada. Acontece que eu havia sido incluído na denuncia porque havia fotos dos médicos e ele só me comunicou quando o caso já estava resolvido para eu não ficar preocupado.

No SESI era necessário “bater o ponto” para controle da entrada e da saída. Se o funcionário tivesse de se ausentar precisava um “saída” justificando a ausência e onde se encontrava no momento. Havia um “fiscal do ponto”, que checava não só os cartões e a presença, mas também o local mencionado na “saída”. Algumas vezes, tive que fazer visita ao Hospital do SESI para avaliar algum intoxicado grave. Como ficava no caminho, eu ia direto para o hospital e

ANEXO 1: O HOMEM

Por Jorge da Rocha Gomes

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

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A

B

Figura 1. Dr Bernardo, o Historiador: com os autores deste artigo, revisando material de reminiscências para a Edicão Comemorativa dos quarenta anos da Associação Nacional de Medicina do Trabalho. Na foto, onde aparece Bernardo com os dois autores deste trabalho, pode ser vista também parte dos seus arquivos sobre medicina e segurança do trabalho.

para rememorar os priomórdios de nossa entidade e que foi publicada ne edição comemorativa dos quarenta anos da ANAMT.

O Dr. Bernardo tinha uma tendência natural de ser pres-tativo como mostram estes dois exemplos:

Ao pedir-lhe indicação de um especialista, respondeu-me que telefonaria mais tarde. À tarde, ele não se limitou a indicar o especialista: enviou o endereço, com o mapa de como chegar, marcou a consulta e não haveria cobrança. Esta era a forma de agir de nosso colega que nos deixou.

depois para o serviço. Numa destas o “fi scal” fl agrou uma destas ausências e a chefi a recebeu uma intimação para que explicasse a ausência. Ele não só explicou, como advertiu ao “fi scal” que um serviço médico tinha certas particulari-dades cujo conhecimento deveria ser inerente a uma fi sca-lização. Eu só fi quei sabendo disto porque a sua secretária, que datilografou a resposta, me informou.

Trabalhei, ainda, sob sua chefia na Secretaria do Trabalho e Emprego do Estado de São Paulo no Departamento de Segurança e Higiene do Trabalho como auditor médico na área de Saúde do Trabalhador. E, também, no Hospital do Servidor Público do Estado, na Capital, no Setor de Saúde Social e do Trabalho. Em todos estes vínculos sempre tive, não um chefe, mas um amigo que ensinava com prazer.

Na década de 1980, fui surpreendido com um telefo-nema dele, que estava trabalhando na sede da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra, fazendo um convite para eu integrar uma missão interdisciplinar que seria realizada em Angola. Aceitei e foi uma experiência extrema-mente interessante tanto sob o ponto de vista profi ssional como de vida. Depois desta surgiram mais umas sete ou oito missões nos países africanos que possuem o Português como língua ofi cial. Estas missões eram sempre precedidas e sucedidas por uma semana de permanência em Genebra onde o Dr. Bernardo proporcionava um acolhimento não só nos escritórios mas, também em sua casa junto a sua família. Era um convívio muito fraterno e afetuoso.

Tive a oportunidade de redigir alguns trabalhos com o Dr. Bernardo. Penso que os mais signifi cativos tenham sido os dois verbetes sobre plantação e industrialização de café para a Enciclopédia da OIT. Também alguns publicados na Revista da Fundacentro sobre a OIT e trabalhos de menores na plantação de cana de açúcar.

Infelizmente, uma proposta nossa não chegou a ser viabi-lizada. Estávamos preocupados porque havia uma animo-sidade entre os médicos que trabalhavam em sindicatos de trabalhadores, em empresas, nos Serviços de Saúde, na Academia, como peritos. Enfi m, parecendo até que havia várias medicinas do trabalho. Como o projeto foi suspenso, transcrevo-o no Anexo 1 na esperança que algum colega possa se interessar:

Outra tentativa que não deu certo foi a recuperação do histórico da medicina do trabalho no Brasil. Um exemplo deste particular tive quando fi zemos uma conversa (Figura 1)

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Tendo como estagiário na Faculdade um moçambicano interessado em asbesto, pedi ao Dr. Bernardo uma sugestão. Resultado: acertou uma viagem nossa a Minaçu onde permane-cemos por três dias. Viagem e hospedagem, inclusive pernoite em Brasilia, tudo programado pelo Dr. Bernardo. Na Figura 2, uma lembrança do episódio onde podemos ver além do Dr. Bernardo, o médico que trabalhava na empresa e o Sr. Botelho de Maputo.

Foi sempre muito modesto. Mesmo tendo oportunidade de ocupar cargos de presidência ou de chefi a, ele preferia agir na retaguarda, discreto, mas nem por isto, menos ativamente. Assim, aconteceu na Fundacentro, na ANAMT, no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), no então Departamento de Medicina do Trabalho (DMT) da Associação Paulista de Medicina (APM) e em outras organizações.

Já fi nalizando, gostaria de lembrar o amor que Bernardo dedicava à sua família.

Por ocasião de um dos Congressos da Associação Paulista de Medicina do Trabalho, um grupo de amigos liderados pela Dra. Miriam Pastana da Petrobras resolveu prestar uma homenagem ao Dr. Bernardo que já estava enfermo. Foi elaborado um arquivo com fotos de sua vida. Ao agradecer, suas primeiras palavras foram de apreço e agradecimento a sua família. Ficou tão emocionado que teve difi culdades em prosseguir e precisou ser amparado como pode ser visto na Figura 3, onde também aparecem a Dra. Miriam Pastana, Enrico Supino, Rene Mendes e eu.

Para concluir, lembro a poesia de Francisco Octaviano (1826-1889):

Quem passou a vida em brancas nuvensE em plácido repouso adormeceu,Quem não sentiu o frio da desgraça,Quem passou pela vida e não sofreuFoi espectro de homem, não foi homem,Só passou pela vida, não viveu.

Figura 3. Dr. Bernardo, o amigo: Sessão de homenagem reali-zada pela Associação Paulista de Medicina do Trabalho, onde foi aplaudido de pé por todos os participantes.

Figura 2. Dr. Bernardo, o Docente: Visita a mina de amianto em Minaçu com o estagiário moçambicano e o médico do SESMT da Mineradora.

Certamente, o Dr. Bernardo Bedrikow, contrariando o poeta, passou pela vida e viveu; mas não só viveu como ensinou a viver: um exemplo de vida!

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Bernardo Bedrikow e a Medicina do Trabalho: o homem e a obra

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ANEXO 2: PROJETO DE PESQUISA

POR QUE DUAS “MEDICINAS” DO TRABALHO?por Bernardo Bedrikow e Jorge da Costa Gomes

Que a forma de exercer a medicina do trabalho pode assumir várias nuances é fato bem conhecido por todos os profis-sionais. Mas será que existem medicinas do trabalho?

A discussão em torno deste assunto torna-se bem atual porque a medicina do trabalho é exercida tanto em empresas agrícolas, indústrias, prestadoras de serviço, Unidades de Saúde da Rede Pública, Sindicato de Trabalhadores, Órgãos de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Conselho Regional de Medicina (CRM), Universidades, bem como nos Serviços de Médicos Autônomos que mantêm uma empresa de prestação de serviços de medicina do trabalho.

Certamente a forma de trabalhar não é a mesma para cada um destes profissionais. Mas o que se têm notado ultima-mente, é que há uma verdadeira guerra entre os diversos profissionais num contexto em que quem não é de nosso “time” é um inimigo, como se poderá ver por alguns exemplos, a seguir apresentados.

Médico que estava apresentando algo sobre Lesões por Esforços Repetitivos e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (LER/DORT) referia-se a colegas de um Serviço da Rede Pública com um desprezo e uma raiva que indicava um profundo sentimento de ódio. Por outro lado, também se vê muitos colegas da Rede referirem-se a colegas que traba-lham em empresas como se todos fossem profissionais sem nenhuma ética, prejudicando sempre aos trabalhadores. No meio acadêmico, fala-se em pesquisas direcionadas e financiadas por empresas que têm interesses num determinado resultado. Peritos previdenciários são criticados por defenderem a “casa” em detrimento dos segurados. No CRM, há processos envol-vendo colegas destas áreas por comportamentos equivocados.

Será que esses profissionais entendem que suas condutas são as mais corretas? Ou, no fundo, eles sabem que não o são, mas estão sendo coagidos ou direcionados a agir de maneira inapropriada? Ou, ainda, que sua formação foi de tal forma distorcida que eles nem se apercebem de suas condutas incorretas?

Todos estes aspectos ocasionam graves consequências para os trabalhadores e para os profissionais; prejudicam, e muito, a imagem da especialidade que não deve ser exercida com estas características.

Planejou-se esta pesquisa com o objetivo de identificar causas desta situação que, uma vez identificadas, poderiam ser divulgadas para uma melhor análise e discussão para minimizar a possibilidade de conflitos.

Cumpre esclarecer que os dois signatários são dois antigos médicos do trabalho, aposentados, cuja atividade implicou contatos com colegas de diversos setores. Sentiram as dificuldades deste inter-relacionamento e acreditam que uma discussão sobre o assunto poderia ser útil e oportuna.

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Rev Bras Med Trab.2015;13(1):II

II

CALENDÁRIO DE EVENTOS

Esta seção da revista está aberta para divulgar eventos nacionais e internacionais. O material deverá ser enviado à Editora-Assistente Sandra Lucia Picchiotti através do e-mail: [email protected]

SETEMBRO NOVEMBRO

Seminário Norte ANAMT

Data: 04 a 06 de setembro de 2015

Local: Studio 5 Centro de Convenções

Endereço: Av. General Rodrigo Otávio, 3.555 – Distrito

Industrial – Manaus (AM)

Contatos: Site: http://www.seminarionorteanamt.com.br

29ª. Jornada da AMIMT – “DIRETO AO PONTO”

Data: 05 a 07 de novembro de 2015

Local: Sede da Associação Médica de Minas Gerais

Endereço: Avenida João Pinheiro, 161 - Belo Horizonte (MG)

Contatos: Lyrium Eventos - Rua Tupis, 38, sl. 1020. Centro. BH

Telefone: (31) 3342.3888.

E-mail: [email protected]

Homepage: www.amint.org.br

Realização de Prova de Titulo de Especialista em

Medicina do Trabalho

Data: 06 de setembro de 2015 (Domingo)

Horário: Das 14 às 18h

Local: Studio 5 Centro de Convenções

Endereço: Av. General Rodrigo Otávio, 3.555 – Distrito

Industrial – Manaus (AM)

XXX Jornada Paranaense de Saúde Ocupacional e III

Congresso Paranaense de Medicina do Trabalho

Data: 26 a 28 de novembro de 2015

Horário: Das 8 às 18h

Local: Hotel Deville Business Maringá

Endereço: Av. Herval, 26, Zona 01 – Maringá (PR)

Informações: (41) 3151-00732 (Única Eventos) /

(41) 3244-2587 (APAMT)

Homepage: www.congressoapamt.org.br

NOTA

16º Congresso Nacional de Medicina do Trabalho

Data: 14 a 19 de maio de 2016 em Foz do Iguaçu

RESERVE EM SUA AGENDA

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XXX Jornada Paranaensede Saúde Ocupacional

III Congresso Paranaense de Medicina do Trabalho

www.congressoapamt.org.br

26 a 28 de novembro de 2015

Hotel Deville - Maringá/PRSave the date

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