Revista Caras e Leilões n66

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numis ma CARAS&LEILÕES Revista semestral nº 66 | € 2,50 | SETEMBRO 2009 20 Anos NUMISMA Leilões

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Revista Caras e Leilões n66

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numismaCARAS&LEILÕES

Revista semestral nº 66 | € 2,50 | SETEMBRO 2009

20 AnosNUMISMA

Leilões

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Director Javier Sáez SalgadoDirector Adjunto Jaime Sáez SalgadoChefe de Redacção Ana MirandaColaboradores José Rodrigues Marinho,Hermínio Santos, Carlos Marques da Costa,José A. Godinho Miranda, Blanca Ramos Jarque, Guilherme Abreu LoureiroDirecção de Arte Ana MirandaFotografi a Manuel FarinhaAssistente de Produção Raquel MouraSecretariado Cláudia Leote

Redacção e AdministraçãoAv. da Igreja, 63 C1700-235 LisboaTel.: 217 931 838 / 217 932 194Fax: 217 941 [email protected]

Impressão Palmigráfi ca – Artes Gráfi cas, Lda.

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NUMISMA CARAS & LEILÕES 3

Nesta edição da revista falamos de ‘nós’, da Numisma Leilões. Não apenas para recordar um passado, a todos os títulos, memorável – realizámos 80 leilões em 20 anos – mas, principalmente, para olhar e projectar com optimismo, o futuro. Como as moedas, as notas, as medalhas e a História são eternas, daqui a 20 anos continuaremos, seguramente, a organizar leilões,

provavelmente com mais sofi sticação tecnológica, mas sempre com os mesmos princípios de confi ança, profi ssionalismo, disponibilidade e rigor que desde o início têm norteado a nossa actividade. Continuaremos a apresentar à praça moedas raras de ouro, medalhas inéditas, notas deslumbrantes e talvez outros papéis de valor que entretanto venham a adquirir um estatuto de investimento seguro.

Com base nos mesmos princípios que nos permitiram alcançar a posição de referência que hoje detemos no mercado e conquistar o respeito de coleccionadores, investidores, académicos e media, iremos continuar a trabalhar para a consolidação e crescimento daquilo que fazemos, conforme atestam os próximos leilões que vamos realizar ainda em 2009, previsivelmente em Outubro e Dezembro, e que apresentamos nesta edição da revista.

No leilão 81 destacamos o regresso do Morabitino, moeda que a Numisma não apresentava em leilões há cerca de dois anos, um raro exemplar da época de D. João VI, uma Peça 1817 R, cunhada no Rio de Janeiro e o Meio Tornês CV Corunha, de D. Fernando I. Neste leilão destacam-se ainda os quatro Cruzados de ouro mandados cunhar por D. Filipe II (Filipe III de Espanha), que governou Portugal entre 1598 e 1621.

Relativamente ao leilão 82 podemos adiantar que será dominado por um conjunto de moedas da monarquia portuguesa batidas a martelo. Tendo como base uma colecção reunida nos princípios do século XX, o leilão apresenta moedas desde D. Afonso Henriques até D. Manuel II.

Javier Sáez Salgado

EDITORIAL

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4 OUTUBRO 2009

Por Hermínio Santos

O ano de 1989 prometia ser bom para leilões. A 22 de Janeiro, um quadro da prestigiada pintora Helena

Vieira da Silva, “Composição”, pintado em 1957, atingiu o preço-recorde de 17 mil contos (85 mil euros) num leilão realizado em Lisboa. Também prometia fi car na história mundial como o ano das mudanças no leste da Europa, com a queda dos regimes socialistas. Foi ainda o ano da euforia no futebol português, com a conquista, a 3 de Março, do primeiro título de Campeão Mundial de Juniores. Um feito conseguido por uma selecção orientada pelo então desconhecido Carlos Queirós.

Foi neste ano de transformações que a Numisma Leilões conheceu a luz do dia. Um dia depois de Queirós ter conquistado o título de campeão, em Riade, na Arábia Saudita, a empresa realizava o seu primeiro leilão: “Notas de Portugal e Ex-Colónias”. Na sala Cascais do hotel Meridien, em Lisboa, no dia 4 de Março de 1989, fez-se história. Pela primeira vez uma empresa propunha-

se fazer regularmente leilões públicos de notas e moedas portuguesas.

Na revista número 51 da Numisma – empresa criada em 1976 como galeria de numismática e medalhística e da qual nasceu a Numisma Leilões – publicada em Abril de 1989, Nestor Fatia Vital recordava que “com uma assistência excedendo os limites do amplo recinto, foram vendidos cerca de 800 lotes, num ambiente de vivo despique nas licitações em sala, por ordem de compra e, até, por telefone, do Canadá e Suiça, através de duas permanentes «open-lines»”.

Em 20 anos de actividade a Numisma Leilões realizou 80 leilões, o que dá uma média de 4 leilões por ano. Uma demonstração de profi ssionalismo e ambição de uma casa leiloeira que, desde o seu início, se empenhou em recuperar para Portugal muitas moedas nacionais que estavam em colecções estrangeiras, levou os portugueses a investir em notas e moedas e divulgou a história da numismática portuguesa.

Raridade, qualidade, organização, confi ança, inovação e gosto pela divulgação da história e da cultura de Portugal são, desde aquele 4 de Março de 1989, os pilares que sustentam a Numisma. Todas estas características foram desenvolvidas e consolidadas nas duas últimas duas décadas, quer nos leilões mais simples quer nos mais sofi sticados. Um ano depois de ter sido fundada, a Numisma Leilões surpreendeu o mercado com

DESTAQUE

A Casa das Moedas

Um ano depois de ter sido fundada,a Numisma Leilões surpreendeu o mercado com a organização de leilões históricos ondese levaram à praça peças de grande valor

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a organização de leilões históricos onde se levaram à praça peças de grande valor, desde brincos em ouro a pergaminhos, passando por moedas, mapas e armas.

Um desses leilões realizou-se em Março e chamava-se “Lusitânia”. Com cerca de 1300 lotes, apresentou como principal atracção um par de brincos algarvios, em ouro, dos séculos V ou IV A.C., que foi à praça com um preço-base de cinco mil contos (25.000 euros). A extensa lista de objectos leiloados incluiu ourivesaria celta e romana, documentação e escultura medieval, moedas ibero-romanas, visigodas e portuguesas e pergaminhos. Foi também num destes leilões que se vendeu a espada do general Silveira, primeiro conde de Amarante e o primeiro general português a obter uma vitória contra as tropas francesas, no início do século XIX, numa das invasões ocorridas em Portugal.

Moedas, notas e medalhasMas os principais cartões de visita da Numisma Leilões têm sido as moedas, as notas e as medalhas – estas, mais recentemente. Para a história dos leilões em Portugal fi caram célebres datas como o

20 anos da Numisma – Leilões

mês de Outubro de 1990, quando foi leiloado pela primeira vez, em público, um Morabitino, ou o mês de Abril de 1991, altura em que foi apresentado um raríssimo Português de D. João III. Em 2006, em Dezembro, a empresa apresentou um raro Morabitino de D. Afonso II, que foi à praça por 150 mil euros.

Na memória fi cou também o leilão número 50, não por causa das moedas mas sim pelos 147 lotes de notas raras de Portugal. Foi um leilão que marcou o regresso da Numisma à notafi lia, 13 anos depois de ter organizado o primeiro leilão de notas em Portugal. Os Cem Mil Réis de 1909, a Chapa 1 de 500 Escudos de 1925 e os “sempre muito apetecidos” 1000 Escudos de 1929 e 1932 foram algumas das altas raridades apresentadas nesse leilão.

No ano passado a Numisma surpreendeu novamente o mercado ao apresentar uma condecoração da Real Ordem das Damas Nobres

de Santa Isabel, criada em 1801, em Portugal, que foi à praça com um preço-base de 10.000 euros. A insígnia era proveniente de um membro da família real britânica, Príncipe Michael de Kent. Terminou o ano com a apresentação do único exemplar conhecido de uma moeda dos Suevos cunhada no século V em território que é hoje português: uma Meia-Silíquia.

Uma Peça 1752 do tempo de D. José I com 250 anos e desconhecida até aos dias de hoje – igual a duas que foram encontradas no fundo do mar a bordo do “Dodington”, navio britânico que transportava 1200 moedas para a Índia – uma pepita com diamante, uma Cruzeta e uma ½ Macuta, ambas de Angola, e uma moeda de 8 Escudos em ouro, de 1782, que fazia parte da carga do navio espanhol “San Pedro de Alcantara”, que naufragou ao largo de Peniche no dia 2 de Fevereiro de 1786, foram outros momentos altos dos últimos leilões da Numisma.

Para a história dos leilões em Portugal fi caram célebres datas como o mês de Outubro de 1990, quando foi leiloado pela primeira vez, em público, um Morabitino

Aspecto parcial das instalações da Numisma

Leilões

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6 OUTUBRO 2009

Leilão 79

O Triunfo das MedalhasOs 96 lotes de medalhas apresentados na parte fi nal do leilão 79 da Numisma fi zeram história na noite de 26 de Março de 2009. A razão está na super-valorização que algumas destas medalhas registaram e cujo expoente máximo foi uma de prata, comemorativa do grande terramoto de Lisboa. Começou nos 250 euros e só parou nos 2900. Uma medalha de bronze, dedicada a D. João V, também esteve quase a decuplicar o seu valor, passando dos 125 euros para os 1050.

A excelente qualidade, a raridade e a expansão deste ramo da numismática, que atrai cada vez mais investidores e coleccionadores, explicam o sucesso das medalhas. Outras das grandes valorizações da noite aconteceram com as notas do Banco de Portugal. Dos 13 lotes leiloados, seis viram o seu preço aumentar e uma nota de 20 Escudos de 1915 foi à praça por 1000 euros e acabou por ser arrematada por 1700.

A moeda mais cara de todo o leilão foi uma Moeda 1707, de D. João V, que atingiu os 6000 euros. Esta foi uma das cerca de 200 moedas de ouro do período de cunhagem mecânica, desde D. João V a D. Luís I, apresentadas no leilão. Também aqui se registaram valorizações signifi cativas como foi o caso, por exemplo, de uma Peça 1800 B, de D. Maria I, que passou dos 800 euros para os 3600.

Dos primeiros tempos da Monarquia portuguesa foi à praça um Cruzado

de D. Afonso V, vendido por 3200 euros. Intitulado “Moedas de ouro e medalhas de Portugal, colecção Pombal” este foi o 79º leilão da Numisma e reuniu 455 lotes de moedas, medalhas e notas.

LEILÕES

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Gonçalo Ramos e Costa, João António e José Pina atentos ao desenrolar do leilão

(em cima)e Javier Salgado conversa com o jornalista

Gabriel Baguet que o entrevistou para a Radio de Angola (à direita)

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8 OUTUBRO 2009

Leilão 80

Angola e Brasilem grande destaqueAs moedas de ouro, muitas delas cunhadas no Brasil, e uma Cruzeta, uma peça de cobre que serviu de instrumento de troca, funcionando como moeda e que terá circulado nos séculos XVII e XVIII quer em Angola quer no Congo, foram as animadoras da noite. O momento de grande “frisson” do leilão 80 aconteceu quando o lote 220 foi à praça. Num ápice, uma moeda de ouro de 2000 Réis 1870, cunhada no reinado de D. Luís I, em excelente estado de conservação e extremamente rara, passou dos 3500 euros para os 11.000.

Mas há mais episódios que fi caram na memória dos que assistiram ao leilão. Por exemplo, o que ocorreu entre os lotes 73 e 86, com moedas de ouro de D. José I. Foram à praça com preços a variar entre os 500 e os 850 euros e todas elas acabaram por atingir os 1000 euros, com a maioria a ultrapassar estes valores. A moeda de ouro mais cara do leilão foi uma Dobra 1730 B, de D. João V, vendida por 18.500 euros (duplicou o preço-base). No total foram vendidas 55 moedas de ouro deste monarca, com 30 delas a ultrapassar, no preço fi nal, os 2.000 euros.

Também Angola foi uma das mais fortes presenças deste leilão, com uma raríssima ½ Macuta em cobre, do século XIX, e uma Cruzeta. Esta tem a forma de cruz de Santo André, atribuída por alguns autores à imitação do X romano inscrito nas primeiras moedas portuguesas que apareceram em Angola no século XVII, e terá sido fundida na região das Lundas. Foi à praça com um valor base de 3.500 euros e atingiu os 5.500.

A moeda, cunhada no tempo de D. Miguel, está classifi cada pelos especialistas como da mais alta raridade, existindo apenas três exemplares conhecidos. A Macuta foi uma unidade monetária introduzida em Angola, no século XVIII, por D. José I. Cunhada em prata e cobre, circulou até 1928.

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A equipa da Numisma (em cima)e Javier Salgado, antes do leilão, num

momento de conversa descontraída com Irlei Soares das Neves (à direita)

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10 OUTUBRO 2009

Leilão 81

Do Morabitino ao Rio de JaneiroDois anos e nove leilões depois o Morabitino volta a ser uma das atracções principais de um leilão da Numisma. Desde o leilão 71 que esta moeda andava arredada das iniciativas da empresa. Volta agora e em força pois o Morabitino de D. Sancho I que será levado à praça no dia 1 de Outubro, no leilão 81 da Numisma, com um preço-base de 16500 euros, é um exemplar que não consta de registos anteriores. Conhecem-se hoje 122 Morabitinos daquele monarca, que reinou entre 1185 e 1211, mas a maioria está em museus, quer em Portugal quer no estrangeiro. O Morabitino foi a primeira moeda de ouro cunhada no reino português e substituiu o Dinar árabe.

Intitulado “Moedas de Ouro de Portugal e do Brasil – Colecção Rio de Janeiro”, o leilão, que se realiza a partir das 16.00 horas, no Tiara Hotel, em Lisboa, apresenta um vasto lote de moedas de D. João V e D. João VI cunhadas no Brasil. Uma delas é a Peça 1817 R, raro exemplar da época de D. João VI, monarca que, antes de se tornar rei, assumiu a regência do reino entre 1799 e 1816.

De 1845, ano em que D. Maria II era a rainha de Portugal, o leilão apresentará uma moeda de 5000 Réis da mais alta raridade e da qual são conhecidos apenas meia dúzia de exemplares. Vai à praça com um preço-base de 13000 euros. Mais antiga e ainda mais rara é o Meio Tornês CV Corunha, de D. Fernando I, que reinou entre 1367 e 1383. Perfeitamente circular, com um peso de 1,74 gramas, 22 mm de diâmetro e 1 mm de espessura, este exemplar é o mais completo dos três conhecidos até agora.

Neste leilão destacam-se também duas moedas de ouro de 4 Cruzados mandadas cunhar por D. Filipe II (Filipe III de Espanha), que governou Portugal entre 1598 e 1621. Este monarca, apesar de ter considerado a possibilidade de fazer de Lisboa a capital de toda a Espanha, foi dos que mais restringiu a soberania nacional e esteve uma única vez em Lisboa, onde reuniu 700 mil cruzados para levar para Espanha.

Na página seguinte,algumas das moedas que vão ser

apresentadas no leilão 81

LEILÕES

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D. João VI – Peça 1817 – Rio

D. João VI – Peça 1819 – Rio

D. Maria II – 5000 réis 1845 – extremamente rara

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12 OUTUBRO 2009

Oferecer aos coleccionado-res recriações das mais valiosas e representativas moedas da numismática

portuguesa é o principal objectivo de uma nova série da Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM). Chama-se Tesouros Numismáticos e apresenta réplicas de cinco moedas do Museu Numismático da INCM: o Morabitino de D. Sancho II, o Justo de D. João II, o Português de D. Manuel I, a Peça de D. João V e a Degolada de D. Maria II.

A primeira moeda desta série – o Morabitino – será lançada ainda este ano com uma emissão em cuproníquel (acabamento normal) e em ouro (proof), o metal em que o original foi cunhado. A emissão em ouro poderá estimular ainda mais o interesse por esta iniciativa da INCM devido à valorização que os produtos de metal amarelo têm conhecido nos últimos anos. É um aliciante adicional em termos de aplicação de poupanças.

O Morabitino de D. Sancho II é a moeda mais rara de toda a colecção. Existe apenas um exemplar em todo o mundo, descoberto em

1940. A moeda original, com cerca de 800 anos, terá sido batida em Braga ou Lisboa. O Justo de D. João II ilustra a concepção de Estado que o monarca tinha: o rei ao centro da moeda, sentado no trono, com manto, coroa e espada. Centro absoluto do reino, D. João II foi também o rei que elevou Portugal ao estatuto de potência mundial, como o demonstra o Tratado de Tordesihlas.

O Português de D. Manuel I, a moeda portuguesa de maior circulação mundial, foi cunhada no apogeu da era do Império de Portugal. Batida em Lisboa, Porto, Goa, Malaca e Cochim, foi aceite por toda a parte como meio de pagamento. A Peça de 1722 de D. João V, conhecida como Dobra de 4 Escudos, é um belo exemplar das moedas cunhadas neste reinado e que são hoje apreciadas em todo o mundo pela sua qualidade estética. A Degolada de D. Maria II é uma moeda rara porque a rainha a mandou retirar de circulação. A razão? O facto de a sua fi gura aparecer retratada apenas pela cabeça e não pelo busto inteiro, como era tradição.

Tesourosnumismáticosem colecçãoUma iniciativa da Imprensa Nacional – Casa da Moeda que inicia a Colecção com o lançamento de uma réplica do Morabitino de D. Sancho II.

Novidades da Numismática

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Na página seguinte:A boa disposição evidente nos rostos da

equipa da NUMISMA (em cima)e José Lemos e Pedro Leal atentos à

objectiva do fotógrafo (em baixo)

Jaime Salgado ensina à Sara e ao Flávio as artes e os saberes dos

leilões (em cima)e Gonçalo Ramos e Costa,

Javier Salgado e Hermínio Santos ensaiam, cada um no seu estilo

muito próprio, a melhor pose para a fotografi a (à direita)

CARAS&LEILÕES

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14 OUTUBRO 2009

Corre entre os numismáticos como ponto assente que D. Fernando I cunhou moedas em Miranda do

Douro. Tal convicção resulta de duas provas: 1) de isso constar dos capítulos 28 e 52 da edição da Chronica de D. Fernando por Fernão Lopes; 2) de haver moedas do mesmo rei em que as marcas da casa da moeda são M e M I, que se tem por iniciais de Miranda. A segunda prova é insufi ciente, porque podiam as moedas ser cunhadas (e foram) noutra localidade de cujo nome começasse por aquelas letras.

Quanto à primeira vejamos o texto com atenção maior do que a que se lhe tem dado.

Depois de no capítulo 25 se ler que por morte de D. Pedro de Castela algumas cidades e vilas desse reino tomaram voz por D. Fernando e não por D. Henrique, tais como Çamora, Valença d’Alcantra, Tuy, Crunha, Milmanda e outras, lê-se no capítulo 28 que D. Fernando, para afi rmar a sua autoridade real nas novas terras, não só, quando escrevia à cidade de Çamora, se intitulava rei de Çamora, e dera grandes privilégios a Orense e Santiago, mas mandara cunhar moeda em «alguns dos logares que sua voz tomaram, assi como (1) em Çamora e na Crunha, e em Tuy, e em Valença (2), e em Miranda, e pose em ellas seus tesoureiros e offi ciaes etc».

É evidente que Miranda fi caria em Castela, nas vizinhanças de Portugal. Logo, não é Miranda do Douro. Como é que, cunhando D. Fernando moedas em Miranda do Douro, afi rmava os direitos que supunha ter à coroa de Castela? A palavra Miranda está errada, e não pode ser senão Milmanda, pois a povoação em que as moedas se cunharam há de corresponder a uma das que tomaram voz pelo nosso rei (3), e só Milmanda explica que um copista do manuscrito da Crónica se equivocasse, tomando por esse nome outro de som análogo, e mais conhecido dele. Equívocos semelhantes se notam noutros capítulos da Crónica: um dos

códices tem, por exemplo, no capítulo 41 Carmona, outro tem Camora; um no capítulo 81 tem Perez, outro tem Paez; um no Capítulo 16 tem Sesem, outro tem Sesello. Todas as pessoas que lidam com manuscritos conhecem fenómenos deste género.

Do que fi ca dito conclue-se; 1º, que nos livros de Numismática não há de tornar a dizer-se que D. Fernando cunhou moedas em Miranda do Douro; 2º que numa futura edição de Crónica de D. Fernando se há de emendar Miranda em Milmanda.

O erro do copista repete-se no capítulo 56, onde outra vez se fala de Miranda. Fica ao mesmo tempo corrigido o que escrevi há anos no meu Elencho de Numismática II, 18, onde, ao falar das casas da moeda do continente português, citei Miranda Valença; e o que escrevi no Inventário das moedas da Biblioteca Nacional 1, 6, onde, seguindo a corrente, interpretei também M de Miranda. – As moedas de Milmanda (agora), Crunha (Corunha) e Çamora são muito conhecidas. Das de Tuy havia exemplares nos monetários de Júdice dos Santos e Ciro de Carvalho. Na nossa Biblioteca Nacional há exemplares com V (letra que corresponde à inicial de Valença d’Alcantara): vid. O meu citado Inventário, I, 6, nº s 40-42.

Belém, Museu Etnológico,13 de Outubro de 1916J. Leite de Vasconcellos

Se há moedas deMiranda do Douro

História

O texto* de J. Leite de Vasconcellos que lançou uma nova luz sobre o local de origem das moedas de Miranda do Douro

* Cortesia do nosso colaborador José António Godinho Miranda.

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Leilão 82 Moedas de Portugal

Um interessante conjunto de moedas da monarquia portuguesa batidas a martelo será apresentado no último leilão do ano de 2009 da Numisma, que se realiza a 10 de Dezembro. Tendo como base uma colecção reunida nos princípios do século XX, o leilão apresenta moedas desde D. Afonso Henriques até D. Manuel II.

É o caso do Dinheiro, a primeira moeda do reino de Portugal, mandada cunhar por D. Afonso Henriques. Moeda de bolhão, uma liga onde predomina o cobre e a prata, em menor quantidade, tem um peso que ronda as 0,8 gramas e terá sido batida em Braga e Coimbra. Os Dinheiros foram batidos até ao reinado de D. Fernando I, o último rei da primeira dinastia.

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O Conselho Científi co da NUMISMAsubscreve a fi losofi a de Bento Morganti

“Se não te agradar o estylo, e o methodo, que sigo, terás paciência, porque naõ posso saber o teu genio; mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) fi car-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fi que o teu gosto mais satisfeito.”

Bento Morganti, Nummismalogia,Lisboa, 1737, no Prólogo:

«A Quem Ler»