Revista da ANPG
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ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009
ISSN 2176-0683
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CORPO EDITORIAL:
CONSELHO EDITORIAL (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente da ANPG; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Luisa Bar-bosa Pereira (UFRJ) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-Presidente da ANPG; Angélica Karlla Marques Dias (PUC-SP) - Ex-Vice-Presidente Regional Norte da ANPG.
CONSELHO EDITORIAL (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes da ANPG; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação da ANPG; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos da ANPG; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral da ANPG; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Relações Institucionais da ANPG; Luciano Rezende Moreira (UFV) - Ex-presidente da ANPG.
CONSULTORES: Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto; Dr Vladmir Oliveira da Silveira; Dreyf de Assis Gonçalves; Fabio Palacio de Azevedo.
CORPO CIENTÍFICO:
COMITÊ CIENTÍFICO: Dr Albert Fishlow (Columbia University, EUA); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Antônio Ibañez Ruiz (UnB); Dr Antônio Joaquim Severino (USP); Dra Arminda Rachel Botelho Mourão (UFAM); Dra Branca Jurema Ponce (PUC-SP); Dr Brett Vern Carlson (ITA); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Carlos Sigueyuki Sediyama (UFV); Dr Cesar Augusto Minto (USP); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dra Dalila Andrade Oliveira (UFMG); Dr Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dr Dilvo Ilvo Ristoff (UFSC); Dr Eric Hershberg (Simon Fraser University, Canadá); Dr Evaldo Ferreira Vilela (UFV); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gastão Wagner de Sousa Campos (UNICAMP); Dr Gilberto Bercovici (USP/Mackenzie); Dr Gilberto Sarfati (FIRB/ESPM/FAAP); Dr Guilherme Ary Plonski (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UNICAP/UFPE); Dr Hélgio Henrique Casses Trindade (UFRGS/UNILA); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acselrad (UFRJ, março a outubro de 2008); Dr Jaime Arturo Ramirez (UFMG); Dr Jair de Jesus Mari (UNIFESP); Dr Jairton Dupont (UFRGS); Dr João Carlos Kfouri Quartim de Moraes (UNICAMP); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Almeida Guimarães (UFRGS); Dr Jose Fernandes de Lima (UFS); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dr Marcio Pochmann (UNICAMP); Dr Marco Antonio Raupp (Parque Tecnológico de São José dos Campos); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dra Marilene Corrêa da Silva Freitas (UEA); Dra Marilene Proença Rebello de Souza (USP); Dra Mary Garcia Castro (UCSAL); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dr Milton de Arruda Martins (USP); Dr Odair Furtado (PUC-SP); Dr Paulo Bastos Tigre (UFRJ); Dr Paulo de Barros Carvalho (PUC-SP/USP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT); Dr Reinaldo Pontes (UNAMA); Dr Renato Janine Ribeiro (USP); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Roberto de Alencar Lotufo (UNICAMP); Dr Sergio Adorno (USP); Dr Sergio Antonio da Silva Leite (UNICAMP); Dr Vahan Agopyan (USP); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP).
PARECERISTAS EM RELAÇÃO AO MÉRITO ACADÊMICO DOS ARTIGOS RECEBIDOS PARA ESTE NÚMERO: Dr Ademir Gomes Ferraz (UFRPE); Dra Anna Sara Shafferman Levin (USP); Dr Antônio Carlos Caruso Ronca (PUC-SP); Dr Arnaldo Lopes Colombo (UNIFESP); Dr Carlos Roberto Jamil Cury (PUC-Minas); Dr Carlos José Espíndola (UFSC); Dr Cezar Teixeira Honorato (UERJ); Dante Augusto Couto Barone (UFRGS); Dra Denise Trento Rebello de Souza (USP); Dr Felipe Chiarello de Souza Pinto (UNIB); Dr Gregório Bouer (USP); Dr Gustavo Ferreira Santos (UFPE); Dr Hélio de Mattos Alves (UFRJ); Dr Henri Acserald (UFRJ); Dr Jaime Giolo (UPF); Dr João Maurício Leitão Adeodato (UFPE); Dr Jorge Luiz Knupp Rodrigues (UNITAU); Dr José Carlos Espíndola (UFSC); Dr José Domingos Fabris (UFMG); Dra Laura Randall (City University of New York, EUA - aposentada); Dra Lilian Cristina Monteiro França (UFS); Dra Madalena Guasco Peixoto (PUC-SP); Dra Maria Cris-tina Rodrigues Azevedo Joly (USF); Dra Maria Elizabeth Bianconcini Trindade Morato Pinto de Almeida (PUC-SP); Dra Maria Teresa de Assunção Freitas (UFJF); Dra Mariângela Braga Norte (UNESP); Dra Marijane Vieira Lisboa (PUC-SP); Dr Mario Olavo Magno de Carvalho (UnB); Dra Mere Abramowicz (PUC-SP); Dra Mirian Pacheco Silva (UFG); Dr Odair Furtado (PUC-SP); Dr Paulo Peixoto de Albuquerque (UFRGS); Dr Paulo Speller (UFMT), Dra Pollyana Notargiacomo Mustaro (Mackenzie); Dra Querte Teresinha Conzi Mehlecke (FCCAT); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dr Renato Cataluña Veses (UFRGS); Dra Roberta Gurgel Azzi (UNICAMP); Dr Roberto da Silva Fragale Filho (UFF); Dra Sandra Gavioli Puga (IBTA); Dr Simon Schwartzman (IETS); Dra Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti (UCSAL); Dr Vladmir Oliveira da Silveira (PUC-SP/FADISP).
CORPO TÉCNICO:
ANALISTAS TÉCNICOS: Dr Ademir Gomes Ferraz; Angélica Karlla Marques Dias; Sergio Massaru Takoi.ASSESSORES TÉCNICOS: Dr Roberto Muniz Barretto de Carvalho; Camila Castanhato; Diógenes Pires; Edson Martins Junior; Elias Marco Khalil Jabbour; Guilherme Pires D’ Ávila de Almeida; Hugo Valadares Siqueira; José Ailton Garcia; Letícia de Souza Barbosa; Lívia de Paiva Ziti Afonso; Luciana Farias Santana; Maria Amelia Jundurian Corá; Natalie Braz Ponsoni; Neli Maria Mengalli; Paulo Eduardo Rodrigues Alves Evangelista; Paulo Roberto da Fonseca Filho; Priscilia Sparapani; Rafael Quaresma Viva; Renata Lopes Costa; Roberto Alan Ferreira Araújo; Rogério Adas Pereira Vitalli; Rogério Rodrigues Lima; Sergio Massaru Takoi; Thais Mikie de Carvalho Otanari; Vanessa Monteiro Bizzo; Venceslau Alves de Souza.REVISORES TÉCNICOS: Dra Laura Randall; Luciano Rezende Moreira; Gisella Martignago; Giselle Ashitani Inouye.ASSISTENTES: Iara Machado Teixeira Andrade; Ruberval Marcelo da Silva Oliveira.PRODUTORA GRÁFICA: Luana BononeDIRETOR DE ARTE: Luciano Lobelcho
APOIO INSTITUCIONAL:
PATROCINADORES: Ministério da Ciência e Tecnologia da República Federativa do Brasil; Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP; Associação de Pós-Graduandos do ITA; Centro de Estudos e Memória da Juventude (CEMJ). Agradecemos ao Congresso Nacional, e em particular ao Deputado Flávio Dino, pela Emenda à Lei Orçamentária Anual, que garantiu, entre outros feitos, apoio à publicação desta Revista.
REVISTAS PARCEIRAS: Arquivos Sanny de Pesquisa em Saúde; Educação: teoria e prática.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS:
DIRETORIA DA ANPG (ATUAL): Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Presidente; Bruno Toribio de Lima Xavier (UFV) – Vice-Presidente; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Camila Castanhato (PUC-SP) – Secretária Geral; Luisa Barbosa Pereira (UFRJ) – Diretora de Comunicação; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 1º Diretor de Relações Institucionais; Angélica Muller (USP) – 2ª Diretora de Relações Institucionais; Guilherme Pires D’Ávila de Almeida (USP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) – Diretora de Relações Internacio-nais; Gisele Alba Natali (PUC-SP) - Diretora de Instituições Particulares; Vinicius de Lima Dantas (UFSCAR) - Diretor de Instituições Públicas; Fabio Plut Fernandes (UFSCAR) – Diretor de Movimentos Sociais; Amália Catharina Santos Cruz (UFSC) – Vice-Presidente Regional Sul; Rogério Adas Pereira Vitalli (ITA) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Rodrigo de Camargo Cavalcanti (PUC-SP) – Vice-Presidente Regional de São Paulo; Marney Eduardo Ferreira Cruz (UnB) – Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; Ana Paula Vieira e Souza (UFPA) - Vice-Presidente Regional Norte; Rodrigo Gayger Amaro (UFPE) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (Uninove / Anhembi-Morumbi) - Diretor de Cultura e Eventos da ANPG; Luiz Carlos Cantanhede Fernandes Junior (UFPR) – Diretor de Saúde.
DIRETORIA DA ANPG (2007-2008): Maria Luiza Nogueira Rangel (UFG) / Allan Aroni (USP) - Presidentes; Elisangela Lizardo de Oliveira (PUC-SP) - Tesoureira Geral; Mateus Santiago Caetano (UNIFRAN) – Secretário Geral; Silvia Sarzano Barchiesi (PUC-SP) - Diretora de Comunicação; André Lemos Jorge (PUC-SP) - 1º Diretor de Políticas Institucionais; Thiago Lopes Matsushita (PUC-SP) - 2º Diretor de Políticas Institucionais; Hugo Valadares Siqueira (UNICAMP) - Diretor de Ciência e Tecnologia; Ana Maria Prestes Rabelo (UFMG) - Diretora de Relações Internacionais; Fábio Soares Gomes (UCSAL) - Diretor de Instituições Particulares; Edson Luis Nunes (UFV) - Diretor de Instituições Públicas; Plínio Marcos Teixeira de Oliveira (PUC-SP) - Diretor de Movimentos Sociais; Antônio Lopes (UFSC) - Vice-Presidente Regional Sul; Henrique Rabelo de Andrade (UFRJ) - Vice-Presidente Regional Sudeste; Camila Castanhato (PUC-SP) - Vice-Presidente Regional de São Paulo; César Lignelli (UnB) - Vice-Presidente Regional Centro-Oeste; René Anísio da Paz (UFCG) - Vice-Presidente Regional Nordeste; Eric Calderoni (PUC-SP) - Diretor de Eventos; Francisco Mogadouro da Cunha (UNICAMP) – Diretor de Residência Médica.
ASSOCIAÇÕES DE PÓS-GRADUANDOS VINCULADAS À ANPG: Comissão Pró-APG UFAM; Comissão Pró-APG UFPA; Comissão Pró-APG UEPA; APG-UFC; Comissão Pró-APG UFCG; Comissão Pró-APG UPE; Comissão Pró-APG UFPE; APG FUNESO; APG-UnB; Comissão Pró-APG UFMT; APG-UFGD; APG-UFLA; APG UFU; APG-UFV; APG-UENF; APG-PUC Rio; Comissão Pró-APG FGV; Comissão Pró-APG UFF; Comissão Pró-APG UERJ; Comissão Pró-APG UFRJ; APG-UNIFESP; APG-PUC/SP; APG-ITA; APG-UFSCAR; APG-USP Capital; APG-USP São Carlos; APG-USP CENA; APG-USP ESALQ; APG-USP Ribeirão Preto; APG-USP Bauru; APG-F / UNICAMP; APG-Q / UNICAMP; APOGEEU / UNICAMP; IMECC / UNICAMP; APGFE / UNICAMP; Comissão Pró-APG Medicina / UNICAMP; APG-Química / UNESP Araraquara; Associação de Médicos Residentes / AMERESP; Comissão Pró-APG CESUMAR; APG – UFSC; APG – UPF; APG – FURG.
EXPEDIENTE
EDITOR:Dr Eric Calderoni.
EDITOR EXECUTIVO: João Carlos Azuma.
ASSESSOR EDITORIAL:Vasco Rodrigo Rodrigues Lourenço.
Tiragem: 3 mil unidades
Associação Nacional de Pós-GraduandosRua Vergueiro, 2485, Vila Mariana
CEP 04101-200 - São Paulo/SP - BrasilTel. 11 5081.5566 - [email protected]
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ANO 1 • VOL. 1 • N. 1 • 2º Semestre/2009
Publicação da Associação Nacional de Pós-Graduandos
ISSN 2176-0683
Associação Nacional de Pós-GraduandosRua Vergueiro, 2485, Vila Mariana
CEP 04101-200 - São Paulo/SP - BrasilTel. 11 5081.5566 - [email protected]
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EditorEric Calderoni
Editor ExecutivoJoão Carlos Azuma
Assessor EditorialVasco Rodrigo Rodrigues Lourenço
EditoraASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS
Rua Vergueiro, 2485, Vila MarianaCEP 04101-200 – São Paulo, SP, Brasil
Tel. 11 5081-5566 - [email protected]
Visite nosso sítio eletrônico: www.anpg.org.br
Permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Associação Nacional de Pós-GraduandosRevista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais / Associação Nacional de Pós-Graduandos. – vol. 1, n. 1 (outubro/2009) - São Paulo: Associação Nacional de Pós-Graduandos, 2009.
Semestral
ISSN 2176-0683
1. ciência e tecnologia. 2. políticas educacionais. 3. energia. 4. educação à distância. 5. desenvolvimento nacional.
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
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Apresentação
É com muita satisfação que a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) obtém mais uma glória
nos seus 25 anos de história: lança a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, nossa
Revista Científica!
A Revista da ANPG vem fomentar um diálogo entre academia e políticas públicas, estimulando a
reflexão científica sobre assuntos do topo da agenda política – visando uma ação qualificada no âmbito das
políticas públicas, priorizando-se temas relacionados ao desenvolvimento nacional sustentável e o combate às
desigualdades sociais.
A ANPG tem orgulho de apresentar ao público uma revista pautada pelos mais rigorosos critérios de
qualidade, representativa nacionalmente e com um Comitê Editorial do mais alto gabarito. A concretização
desse projeto – materializada em nossa Revista – é fruto do esforço de centenas de pessoas, entre autores,
membros do comitê científico, pareceristas e equipe técnica. O aglutinamento de tantos colaboradores só foi
possível devido à representatividade social e política que a ANPG tem angariado desde sua fundação. Atual-
mente desempenhamos, em diversos órgãos que fazemos parte, uma importante função social em defesa do
desenvolvimento da ciência e tecnologia no Brasil e da valorização dos pós-graduandos. Temos assento no
Conselho Técnico Científico (CTC) e no Conselho Superior (CS) da Capes, no Conselho Nacional de Saúde
(CNS), no Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE), participamos de diversos eventos de relevância para
a ciência e para o combate às desigualdades sociais, como reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência (SBPC) e de Conferências Estaduais de Direitos Humanos, bem como publicamos periodicamente
nossas atividades em boletins informativos da entidade. Também realizamos, em nossos congressos, mostras
científicas dos pós-graduandos e preparamos um livro, a ser lançado no próximo ano. A essas frentes de tra-
balho vem se somar nossa Revista.
Aproveite a Revista da ANPG!
Boa leitura!
Hugo Valadares Siqueira
Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos
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Editorial
É com grande orgulho que lançamos o primeiro número da “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e po-
líticas educacionais”, que tem por missão divulgar estudos acadêmicos das mais variadas áreas do saber sobre
temas no topo da agenda das políticas públicas.
Este primeiro número da Revista da ANPG mobilizou o esforço de milhares de pessoas: a primeira chamada
de artigos da Revista, divulgada por treze sociedades científicas, cento e trinta e quatro programas de pós-gradua-
ção, dois mil cento e quarenta e nove grupos de pesquisa, arrecadou cento e três artigos que nos foram submetidos,
vindos de vinte e três Estados da Federação mais o Distrito Federal, bem como de mais quatro países estrangeiros,
que foram triados por vinte e quatro assessores técnicos, submetidos à avaliação de trinta e sete pareceristas,
nomeados por um dos cinqüenta e três membros do Comitê Científico eleitos por dez membros do Conselho
Editorial, em um processo apoiado por três membros do corpo editorial executivo, três analistas técnicos, quatro
consultores, quatro instituições apoiadoras e trinta e quatro diretores da Associação Nacional de Pós-Graduandos.
Alguns desses artigos continuam em processo avaliativo e poderão entrar no segundo exemplar da Revista.
Para este primeiro exemplar chamamos artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética” e
sobre “educação a distância”.
Publicamos, neste exemplar, cinco artigos sobre “etanol, biocombustíveis e matriz energética”, vindos
de distintas áreas do saber:
Afonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo Cesar Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Cama-
ra, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva descrevem o resultado de seus experimentos sobre
o consumo em motores de tratores para diferentes misturas de diesel e biodiesel.
Elias Marco Khalil Jabbour vislumbra o desenvolvimento nacional brasileiro, descrevendo a política
energética da China que proveu condições para o desenvolvimento de sua agricultura e indústria.
Maria Cristina Gonzaga denuncia o fornecimento de ferramentas inadequadas ao trabalhador cortador
de cana e enaltece sua criatividade para se adaptar às condições de trabalho.
Marlene de Paula Pereira discute as possibilidades de sustentabilidade na produção de biodiesel.
Roberta Barros Meira analisa o processo de construção da ideologia necessária para o desenvolvimento
da indústria alcooleira no Brasil.
Thalyta Christie Braga Rabêlo apresenta um trabalho seminal sobre a possibilidade de elaboração de
fermentado alcoólico a partir do suco de abacaxi.
Publicamos, também, quatro artigos sobre “educação a distância”:
Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi versam sobre a falta de sentimento de
auto-eficácia por parte dos professores como uma das fontes de dificuldades para a adesão a tecnologias edu-
cacionais no ensino.
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Carla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, Janaina Sallas, Leandro Queiroz Santi
e Valeska de Andrade Stempliuk relatam a aplicação de um curso a distância para o controle da resistência
microbiana e uso racional de antimicrobianos por profissionais da área da saúde.
Ivana Carneiro Almeida expõe sobre um projeto pedagógico para o ambiente virtual.
Robert Kalley Cavalcanti de Menezes aventa aspectos relacionados à concepção de um modelo de sis-
tema computacional pronto para uso em educação a distância.
Na seção “acontece”, voltada para a divulgação de eventos e questões políticas sobre os pós-graduan-
dos e as políticas educacionais , este primeiro exemplar da Revista conta com dois artigos:
Rogério Adas Pereira Vitalli descreve um grandioso evento organizado pela Associação de Pós-Gradu-
andos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (APG-ITA) sobre um convênio para a concessão de bolsas para
os pós-graduandos realizarem pesquisas na Alemanha. Tal evento e o convênio firmado foram tão prestigiosos
que colaboraram para que a APG obtivesse o reconhecimento necessário, pelas instâncias do ITA, para se
consolidar como prestadora de consultoria. Esse artigo serve de exemplo para que cada uma das Associações
de Pós-Graduandos do Brasil vislumbre formas de captar mais bolsas e de firmar convênios de modo indepen-
dente da Reitoria, bem como sobre a possibilidade das APGs organizarem-se para passar a praticar a extensão
ou aprimorar a extensão já praticada.
O artigo que escrevi em co-autoria com Lauro Ishikawa, por sua vez, narra a luta dos pós-graduan-
dos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, representados por sua Associação de Pós-Graduandos
(APG-PUC/SP), para manterem seu direito à representação autônoma nos Colegiados da Universidade (e ain-
da ampliarem tal direito aos pós-graduandos lato sensu), no contexto de um redesenho institucional em que se
propunha eliminar as cadeiras reservadas aos pós-graduandos. O artigo tem o potencial de inspirar cada uma
das Associações de Pós-Graduandos do Brasil a refletirem se consideram que os espaços institucionais para
sua representação na respectiva universidade são adequados e também a refletirem sobre as relações entre
APG e pós-graduandos lato sensu.
Assim se inicia a “Revista da ANPG: ciência, tecnologia e políticas educacionais”, que, se continuar con-
tando com a colaboração de todos, tende a ser cada vez melhor.
Esperamos, com isso, prestar nossa contribuição, ainda que modesta, para a discussão acadêmica das
políticas públicas.
Dr Eric Calderoni
Editor
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SumárioAPRESENTAÇÃO
EDITORIAL
SEÇÃO SOBRE ETANOL, BIOCOMBUSTÍVEISE MATRIZ ENERGÉTICA
Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola varian-do o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleoAfonso Lopes, Carlos Eduardo Angeli Furlani, Danilo César Checchio Grotta, Felipe Thomaz da Câmara, Miguel Joaquim Dabdoub e Rouverson Pereira da Silva
Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na ChinaElias Marco Khalil Jabbour
As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmenteMaria Cristina Gonzaga
Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?Marlene de Paula Pereira
A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-1945 Roberta Barros Meira
Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)Thalyta Christie Braga Rabêlo
SEÇÃO SOBRE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficáciaCacilda Encarnação Augusto Alvarenga e Roberta Gurgel Azzi
A Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobia-nos para profissionais da área da saúdeCarla Morales Guerra, Eduardo Alexandrino Servolo Medeiros, JanainaSallas, Leandro Queiroz Santi e Valeska de Andrade Stempliuk
Educação à distância: projeto pedagógico do ambiente virtualIvana Carneiro Almeida
Conceitos e considerações sobre um modelo pronto-para-uso de am-biente virtualRobert Kalley Cavalcanti de Menezes
SEÇÃO “ACONTECE”
Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Univer-sidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade Eric Calderoni e Lauro Ishikawa
Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-AlemanhaRogério Adas Pereira Vitalli
REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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SEÇÃO SOBREETANOL, BIOCOMBUSTÍVEIS
E MATRIZ ENERGÉTICA
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e die-sel de petróleo
AFONSO LOPES1
Professor Adjunto daUniversidade Estadual Paulista – UNESPCARLOS EDUARDO ANGELI FURLANI
2
Professor Adjunto daUniversidade Estadual Paulista – UNESPDANILO CESAR CHECCHIO GROTTA
3
Professor Doutor daUniversidade Federal do Ceará - UFCFELIPE THOMAZ DA CAMARA
4
Professor Doutor daUniversidade Federal do Ceará - UFCMIGUEL JOAQUIM DABDOUB
5
Professor Adjunto daUniversidade de São Paulo- USPROUVERSON PEREIRA DA SILVA
6
Professor Doutor daUniversidade Estadual Paulista - UNESP
O experimento foi realizado na UNESP-Jaboticabal, uti-
lizando-se de trator 4x2 TDA de 73,6 kW (100 cv) de potência
no motor e grade aradora. O biodiesel utilizado foi do tipo etílico,
filtrado, produzido a base de óleo residual. O delineamento ex-
perimental foram: blocos casualizados em esquema fatorial (5x4),
no qual se combinaram cinco proporções de mistura de biodiesel
e diesel de petróleo (0-100%; 25-75%; 50-50%; 75-25% e 100-
0%), com quatro velocidades de deslocamento (2,7; 4,3; 6,0 e 6,7
km.h-1). Avaliaram-se consumo hora (L.h-1), consumo hora (kg.h-1)
e o consumo específico (g.kWh-1). Os resultados evidenciaram que
o uso de biodiesel até a proporção de 50% de mistura não alterou
o consumo, entretanto, quando o trator funcionou com 100% de
biodiesel, não se observou anomalia no funcionamento, embora o
consumo de combustível tenha aumentado em 11%.
The experiment was accomplished in UNESP campus, Ja-
boticabal, Brazil, using a 4x2 TDA tractor of engine having 73.6 kW
(100 cv) coupled to harrow. It was used an ethylic biodiesel, filtrat-
ed, based on residual oil. The experimental design was based on ca-
sualized blocks with factorial outline (5x4) where it was combined
five proportions of biodiesel per petroleum diesel (0 and 100%;
25 and 75%; 50 and 50%; 75 and 25% and 100 and 0%), with
four displacement speeds (2.7; 4.3; 6.0 and 6.7 km h-1). The hour
consumption (L h-1), hour consummate (kg h-1) and the specific con-
sumption (g kWh-1) were evaluated. The results evidenced that the
mixing having 50% biodiesel proportion did not alter consumption,
however when the tractor worked with 100% of biodiesel, it was
not observed any working anomaly when compared to diesel, how-
ever fuel consumption increased in 11%.
Palavras-chave: biodiesel etílico; consumo de combustível; trator agrícola.
Keywords: ethyl biodiesel; fuel consumption; agricultural tractor.
Ethylic biodiesel of residual oil: fuel consumption of an agricultural trac-tor as function of the mixing with petroleum diesel
Afonso Lopes – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAV-UNESP-Engenharia Rural. - Jaboticabal, SP – Brasil - CEP 14884-900. Endereço eletrônico: [email protected] Eduardo Angeli Furlani – Correspon-dência: Prof. Paulo Donato Castellane s/n FCAV-UNESP Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900Danilo Cesar Checchio Grotta – Correspon-dência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Universitária UFC – Campus Cariri – Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Felipe Thomaz da Camara – Correspondência: Av. Tenente Raimundo Rocha s/n - Cidade Univer-sitária - UFC – Campus Cariri - Juazeiro do Norte - CE – Brasil – CEP 63000-000 Miguel Joaquim Dabdoub - Correspondência: Av. Bandeirantes, 3900 Monte Alegre - Ribeirão Preto, SP – Brasil - CEP 14040-901. Endereço eletrônico: [email protected] Pereira da Silva – Correspondência: Prof. Dr. Paulo Donato Castellani, s/n FCAV-UNESP-Engenharia Rural – Jaboticabal - SP – Brasil - CEP 14884-900
1
2
3
4
5
6
RESUMO
ABSTRACT
Consumo de biodiesel etílico de aceite residual en tractor agrícola varian-do el porcentaje de mezcla de biodiesel y diesel de petróleo
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 10 - 15, segundo sem. 2009
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Segundo Dabdoub (2003), um fator que me-
rece destaque é que a utilização do biodiesel, obtido
de fontes 100% renováveis, deverá ser responsável
pelo ingresso de divisas devido à venda de cotas de
carbono, conforme contemplado no protocolo de
Kyoto. De acordo com o autor, as cotas de carbo-
no poderão ser vendidas para outros países, uma vez
que o uso de biodiesel diminui a poluição com a redu-
ção da emissão de gases causadores do efeito estufa
e, além disso, o incremento na área de plantio (soja,
cana, etc.) será responsável pela retirada de grandes
quantidades de dióxido de carbono da atmosfera, au-
mentando o número de cotas de carbono a serem
negociadas.
Testes preliminares com biodiesel de óleo
usado em frituras foram realizados em ônibus de
transporte coletivo da cidade de Curitiba, cedido pela
Prefeitura Municipal, por meio da Companhia de Ur-
banização (URBS), com motor turbinado e potência
de 238 cv. O ônibus percorreu 915 km em condições
normais de trabalho, utilizando 20% de biodiesel e
80% de diesel convencional. O teste foi realizado em
duas etapas e apresentou desempenho normal, exce-
to por um leve odor de óleo de frituras expelido pelo
escapamento. A média de consumo de biocombustí-
vel (2,1 km.L-1) esteve na faixa de normalidade para
veículos desse porte, que normalmente utilizam óleo
diesel puro (ZAGONEL et al 1999).
Utilizando um motor de ciclo diesel, injeção
direta, um cilindro e sem adaptações, Rabelo (2001)
El experimento se realizó en la UNESP-Jaboticabal, utilizando un tractor 4x2 TDA de 73,6 kW
(100 cv) de potencia en el motor y en la grada. El biodiésel utilizado fue del tipo etílico, filtrado, producido
a base de aceite residual. La delineación experimental fue bloques casualizados en esquema factorial (5x4),
en el cual se combinaran cinco proporciones de mezcla de biodiesel y diésel de petróleo (0-100% 25-75%
50-50% 75-25% y el 100 -0%), con cuatro velocidades de desplazamiento (2,7, 4,3, 6,0 y 6,7 km.h-1). Se
evaluó el consumo de horas (L.h-1), consumo de hora (kg.h-1) y consumo específico (g.kWh-1). Los resul-
tados mostraron que el uso de biodiesel hasta la proporción de 50% de mezcla no alteró el consumo, sin
embargo, cuando el tractor funcionó con 100% de biodiésel, no se observó ninguna anomalía en el funcio-
namiento, aunque el consumo de combustible se ha incrementado en 11%.
Palabras-claves: biodiesel etílico; consumo de combustible; tractor agrícola.
RESUMEN
INTRODUÇÃOobservou-se que a mistura de biodiesel e diesel resul-
tou em aumento discreto de potência e torque quan-
do se aumentou a proporção de biodiesel no diesel,
principalmente para faixas de rotações mais baixas. O
consumo específico dessas misturas, porém, apresen-
tou-se levemente mais elevado e a adição de BOUF
ao diesel resultou em melhoria do rendimento para
rotações acima de 1.800 rpm.
Laforgia & Ardito (1995) utilizaram motor de
ciclo diesel estacionário para a comparação de três ti-
pos de combustíveis, sendo os quais: diesel de petró-
leo, óleo cru de sementes de colza e um combustível
misto de biodiesel feito a partir do óleo de colza cru,
acrescido de 10% de metanol. Os testes realizados
em dinamômetro de bancada revelaram decréscimo
de potência ao redor de 5%, quando o motor traba-
lhava em alta rotação, movido a óleo cru e combus-
tível misto, fato esse que pode ser explicado, segun-
do os autores, pelo menor poder calorífico e maior
densidade observados nos combustíveis em questão,
comparados ao diesel tradicional; outro dado obser-
vado foi o aumento de consumo quando se utilizou
combustível misto, sendo ainda maior o consumo de
óleo cru, comparado ao consumo de diesel.
De acordo com Lopes et al. (2003a), o con-
sumo de diesel num trator 4x2 TDA, com 121 cv
no motor, teve os seguintes valores: consumo hora
(13,65 kg.h-1) e consumo específico (554 g.kWh-1). Os
autores concluíram que o consumo de combustível é
influenciado pela lastragem do trator, pela carga im-
posta na barra de tração, pelo tipo de pneu e pela
velocidade de deslocamento.
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LOPES, A et al
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12
Este trabalho teve o objetivo de avaliar o
consumo da mistura de biodiesel e diesel de petró-
leo de um trator em operação de preparo do solo
com grade aradora, variando a proporção de mistura
(%biodiesel - %diesel de petróleo), combinado com
quatro velocidades de deslocamento.
O experimento foi conduzido na UNESP -
Câmpus de Jaboticabal - SP. A área do presente traba-
lho apresentava solo desprovido de vegetação, com
localização geográfica definida pelas coordenadas
21º15’ de latitude sul e 48º18’ de longitude oeste de
Greenwich. Apresenta altitude média de 570 m e cli-
ma Cwa (subtropical), de acordo com a classificação
de Köeppen.
O solo da área experimental é classificado
por Andrioli & Centurion (1999) como Latossolo Ver-
melho Eutroférrico típico, textura muito argilosa, A
moderado, caulinítico-oxálico, relevo suave ondula-
do. No momento dos testes, a média de teor de água
no solo foi 10,1% e 13,2% nas camadas de 0-10 cm e
de 10-20 cm, respectivamente.
O trator de teste foi um modelo BM 100
Valtra, 4x2 TDA, com potência máxima no motor de
73,6 kW (100 cv) a 2.350 rpm e massa de 5.400 kg.
Com a finalidade de oferecer carga à barra de tração
do trator, foi acoplada uma grade aradora de arrasto,
com 16 discos recortados de 609,6 mm (24 polega-
das) de diâmetro. Nessa operação, o trator foi utiliza-
do em rotação máxima livre de 2.350 rpm.
O biodiesel utilizado no ensaio foi do tipo etí-
lico filtrado e produzido a base de óleo residual no
Departamento de Química (LADETEL) da USP, Ribei-
rão Preto. O óleo residual foi coletado no Restauran-
te Universitário da UNESP de Jaboticabal.
A tecnologia dos processos de esterificação e
de purificação do biodiesel foi desenvolvida pelo LA-
DETEL (Laboratório de Tecnologias Limpas) da USP,
Ribeirão Preto.
MATERIAL E MÉTODOS
Instrumentação do trator de teste
Para determinar a força de tração na barra,
utilizou-se célula de carga (M. SHIMIZU, modelo
TF400) com capacidade máxima de medição de 100
kN. Para medir o consumo de combustível, utilizou-
se um protótipo, conforme descrito em Lopes et al.
(2003b). Tal protótipo tem dois medidores de fluxo
instalados em série com dois medidores de tempe-
ratura. A velocidade real de deslocamento foi obtida
por meio de radar (modelo RVS II), variando-se as
marchas de trabalho. Todos os sensores enviaram os
sinais a um sistema de aquisição de dados (micrologger
CR23X), sendo o mesmo programado para obter da-
dos numa freqüência de 10 leituras por segundo.
O delineamento experimental foi em blocos
casualizados, em esquema fatorial 5x4 (cinco propor-
ções de mistura e quatro velocidades de deslocamen-
to), totalizando 20 tratamentos com quatro repeti-
ções. As proporções de mistura biodiesel e diesel de
petróleo foram [B0 (0 e 100 %), B25 (25 e 75%), B50
(50 e 50%), B75 (75 e 25%) e B100 (100 e 0%)] e as
velocidades de deslocamento [2,7 km h-1 (V1), 4,3 km
h-1 (V2), 6,0 km h-1 (V3) e 6,7 km h-1 (V4)]. Cada parce-
la experimental teve comprimento de 20 m e entre as
parcelas, no sentido longitudinal, reservou-se interva-
lo de 15 m, cuja finalidade foi realizar manobras, trân-
sito de equipamentos e estabilizar as determinações.
Consumo horário
O protótipo utilizado para determinar consumo em
todas as parcelas forneceu valores expressos em mL/
segundo, referentes ao débito da bomba injetora e
ao retorno dos bicos, respectivamente. Por meio da
diferença entre os valores, obteve-se o volume real-
mente consumido pelo trator durante o percurso da
parcela.
Com base nesse valor foi calculado o consumo horá-
rio em volume, utilizando-se a Eq.(1):
Ch.v= tC*3,6
em que,
Ch.v = consumo horário (L.h-1);
C = volume consumido (mL);
t = tempo de percurso na parcela (s), e
3,6 = fator de conversão.
(1)
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo
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13
Consumo específico
PB= FT*v
CE=PB
DBn*Ch.v(n)
Para a obtenção do consumo horário expresso em
massa, foi necessário determinar a densidade em fun-
ção da temperatura nas cinco proporções de mistura.
A temperatura do combustível foi monitorada nos
mesmos pontos onde foram realizadas as medidas de
fluxo. A densidade foi determinada no intervalo de
temperatura de 10 a 70º C, em passos de 5 em 5º C.
Pela análise de regressão, obtida por meio de análise
estatística, chegou-se às Eqs. (2; 3; 4; 5 e 6):
DB0=851,04 - 0,6970*T R2 = 0,97 (2)DB25=852,08 - 0,5950*T R2 = 0,91 (3)DB50=875,60 - 0,6141*T R2 = 0,96 (4)DB75=882,34 - 0,5484*T R2 = 0,91 (5)DB100=881,10 - 0,5271*T R2 = 0,93 (6)
(9)
(8)
Ch.m=Ch.v*1000DBn (7)
Para o cálculo do consumo horário expresso em mas-
sa, utilizou-se a Eq.(7):
em que,
Ch.m = consumo horário (kg.h-1);
Ch.v = consumo horário (L.h-1);
DBn = equação de regressão de cada proporção de
mistura do combustível, e
1000 = fator de conversão.
Essa variável expressa o consumo de combustível em
unidade de massa por unidade de potência na barra
de tração e foi calculado com a seguinte equação:
em que,CE = consumo específico (g.kW h-1);DBn = densidade do combustível (n) em função da temperatura (g.L-1);Ch.v(n) = consumo horário para o combustível (n) (L.h-1), e
PB = potência média na barra de tração (kW).
A potência média na barra de tração foi determinada
de forma indireta, utilizando-se da Eq.(9):
em que,PB = potência média na barra de tração (kW);FT = força média de tração na barra (kN);v = velocidade real de deslocamento (m/s).
Os dados foram submetidos à análise de variância e
ao teste de comparação de médias de Tukey, a 5%
de probabilidade, conforme Pimentel Gomes (1987).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A síntese da análise de variação e teste de médias
encontra-se na Tabela 1.Para interpretar os resulta-
dos deve-se observar que a ausência de letras com-
parativas implica interação significativa e, nesse caso,
será explicado por tabela complementar de desdo-
bramento.
Tabela 1. Síntese da análise de variância e do teste de
médias para as variáveis de consumo horário em vol-
ume, consumo horário em massa e consumo específico.
FatoresConsumoHorário
(L.h-1
)
ConsumoHorário(kg.h
-1)
ConsumoEspecífico(g.kWh
-1)
PROPORÇÃO (P)B0 13,11 11,02 617aB25 12,64 10,66 599aB50 12,56 10,94 596aB75 12,85 11,23 673bB100 13,75 12,05 687bVELOCIDADE (V)V1 10,00 8,65 824aV2 12,12 10,47 662bV3 14,87 12,78 556cV4 14,95 12,84 498dTESTE (F)P 6,08 ** 10,10 ** 11,01 **V 189,43 ** 185,64 ** 154,68 **PxV 4,69 ** 4,56 ** 1,82 NSC.V.% 5,98 5,92 8,14
Em cada coluna, para cada fator, médias seguidas de mesma letra minús-cula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade. Em cada coluna, médias desacompanhadas de letras implicam interação significativa entre os fatores e, nesse caso, haverá quadro auxiliar de desdobramentoNS: não-significativo (P>0,05)*: significativo (P<0,05)**: significativo (P<0,01)C.V.: coeficiente de variação
Consumo horário em volume (L.h-1)
Pela Tabela 1, percebe-se que ocorreu interação sig-
nificativa entre os fatores avaliados; a Tabela 2 ilustra
os dados dessa interação.
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ProporçãoVelocidade
V1(2,7 km h-1) V2(4,3 km h-1) V3(6,0km h-1) V4(6,7 km h-1) B0 9,90 a A 11,93 ab B 15,08 ab C 15,53 a C B25 9,38 a A 11,48 b B 13,53 c C 16,18 a D B50 9,85 a A 11,63 ab B 14,03 bc C 14,75 ab C B75 10,20 a A 12,45 ab B 15,45 ab B 13,30 b C B100 10,63 a A 13,10 a B 16,30 a C 14,98 a C
Tabela 2. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em vol-
ume (L.h-1).
Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Analisando-se o fator proporção dentro de cada fator velocidade, verifica-se que: na velocidade
V1, ocorreu semelhança estatística entre todas as
proporções; na velocidade V2, ocorreu semelhan-
ça nas proporções B0, B25, B50 e B75, entretanto B25
diferiu de B100, sendo essa última semelhante às de-
mais; na velocidade V3, B25 foi semelhante a B50 que
se apresentou semelhante a B0 e B75, que por sua vez
não diferiram de B100; na velocidade V4, B0, B25, B50
e B100 foram semelhantes, mas apenas B50 foi seme-
lhante a B75.
Analisando-se a velocidade dentro de cada
fator proporção de mistura, verifica-se que para as
condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa
entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na
proporção B25, houve diferença significativa entre to-
das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-
cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2,
V2 foi semelhante a V3 e V4 diferente das demais.
Consumo horário em massa (kg.h-1)
Na Tabela 1, verifica-se a síntese da análise de variância e do teste de médias, na qual se observa a influência significativa dos fatores proporção e ve-locidade, e ainda a interação entre ambos quanto ao
consumo horário em kg.h-1.
ProporçãoVelocidade
V1(2,7 km h-1) V2(4,3 km h-1) V3(6,0km h-1) V4(6,7 km h-1)B0 8,38 ab A 10,03 b B 12,65 bc C 13,05 a CB25 7,95 b A 9,75 b B 11,38 c C 13,58 a DB50 8,60 ab A 10,13 b B 12,18 bc C 12,88 ab CB75 8,95 ab A 10,90 ab B 13,48 ab B 11,60 b CB100 9,38 a A 11,53 a B 14,23 a C 13,08 a C
Em cada coluna, médias seguidas de mesma letra minúscula e em cada linha médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.
Analisando-se a proporção dentro de cada
velocidade, observa-se que em V1, B0, B25, B50 e B75
foram semelhantes estatisticamente, entretanto B25
foi diferente de B100 e essa foi semelhante às demais.
Em V2, B0, B25, B50 e B75 foram semelhantes, sen-
do B75 também semelhante a B100. Em V3, B0, B25 e
B50 foram semelhantes, sendo B50 semelhante a B75,
e B75 também semelhante a B0 e a B100. Em V4, B0,
B25, B50 e B100 foram semelhantes, entretanto B50 foi
semelhante a B75.
Analisando-se a velocidade dentro de cada
fator proporção de mistura, verifica-se que, para as
condições B0, B50 e B100, houve diferença significativa
entre V1, V2 e V3, com V3 não diferindo de V4. Na
proporção B25, houve diferença significativa entre to-
das as velocidades ensaiadas, sendo o consumo cres-
cente de V1 para V4. Para B75, V1 foi diferente de V2;
V2 foi semelhante a V3, e V4 diferente das demais.
Consumo específico
Pela Tabela 1, verifica-se que não ocor-
reu interação significativa entre os fatores. Des-
sa forma, analisando o fator proporção de mis-
tura, observa-se que o consumo específico foi
semelhante para B0, B25 e B50. Observa-se, tam-
bém, que B75 foi estatisticamente semelhante a
B100. Comparando B0 a B100 o consumo aumen-
tou 11%, considerando-se que o trator operava
com aproximadamente 65% da capacidade de
tração.
Para o fator velocidade, notou-se con-
sumo específico diferente e decrescente de V1
para V4; tal comportamento de consumo está
de acordo com Laforgia & Ardito (1995).
Tabela 3. Interação entre os fatores proporção de mistura e velocidade para a variável consumo horário em massa (kg.h-1).
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Consumo de biodiesel etílico de óleo residual em trator agrícola variando o percentual de mistura biodiesel e diesel de petróleo
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CONCLUSÃO
O incremento de biodiesel até o limite de
50% não alterou significativamente o consumo espe-
cífico do trator para as condições do ensaio.
Quando for possível, utilizar o consumo específico
para comparar tratamentos, pois nessa forma consi-
dera-se o combustível consumido e a potência utili-
zada.
O uso de 100% de biodiesel no trator não
limitou o seu funcionamento, entretanto, aumentou
o consumo específico em 11%, sendo isso justificado,
principalmente, pelo menor poder calorífico do B100
em relação ao diesel de petróleo.
O uso de biodiesel em tratores constitui al-
ternativa viável de combustível, entretanto, necessita
continuidade de estudos e, para tanto, recursos finan-
ceiros do governo e de instituições privadas são indis-
pensáveis.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
À FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro ao pro-
jeto e à COOPERCITRUS e à VALTRA do Brasil pela
disponibilidade do trator de teste e pela logística de
ensaios.
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16
Estratégia de desenvolvimento, questão energética e a formação de uma economia continental na China
Elias Marco Khalil Jabbour1
Professor colaborador do Departamento deGeociências do Centro de Filosofia eCiências Humanas da Universidade Federal deSanta Catarina (CFH-UFSC)
A questão energética reveste-se de singular importância na atual quadra de transição à 3° Revolução Industrial no centro do sistema capitalista. Porém, e não independente da problemática internacional, cabe aos países periféricos uma formulação melhor elaborada sobre a questão em si. Aos países periféricos continen-tais, como a China e o Brasil, abre-se uma grande oportunidade de relacionar a utilização de seus recursos naturais com a profícua necessidade de aprofundar seus programas de industrialização e de integração regional, de forma que a questão energética em voga não se transforme em condição objetiva à radicalização da divisão internacional do trabalho.
Palavras-Chave: energia, industrialização, questão regional, China, Brasil.
Development strategy, energy issues and the formation of a continental economy in China
Elias Marco Khalil Jabbour. – Doutorando em Geografia pela FFLCH-USP. Professor colabo-rador do Núcleo de Estudos Asiáticos (NEAS); Pesquisador da Fundação Maurício Grabois (FMG) e Pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Estudos da China, Ásia e Pacífico (IBECAP) – Cor-reio eletrônico: [email protected]
1
RESUMO
Energy has a singular importance in these days of transi-tion to the Third Industrial Revolution in the center of the capitalist system. Peripheral countries must elaborate a better formulation about the energetic issue, too. A great opportunity is opened to continental peripheral countries, as China and Brazil, to combine the use of natural resources with the necessity of deepening indus-trialization and regional integration programs, so that the energetic issue does not turn into an objective condition to the radicalization of the international work division.
Keywords: energy; industrialization; development; China; Brazil.
ABSTRACT
RESUMEN
Estrategia de desarrollo, cuestión energética y la formación de una eco-nomía continental en China
El problema energético es de singular importancia en el bloque actual de transición a la Tercera Revolución Industrial en el centro del sistema capitalista. Sin embargo, y no independiente de los problemas internacionales, tocan a los países periféricos una mejor formulación detallada sobre la cuestión en sí. A los países continentales periféricos, tales como China y Brasil, se abre una gran oportunidad para relacionar el uso de los recursos naturales con la necesidad de profundizar sus programas de industrialización y integración regional, de modo que la cuestión energética en boga no se transforme en condición objetiva a la radicalización de la divi-sión internacional del trabajo.
Palabras-claves: energía; industrialización; cuestión regional; China; Brasil.
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17
Assim como nas anteriores viragens típicas
das transições envolvendo o surgimento de novos pa-
radigmas tecnológicos (máquina a vapor e motor a
explosão), o mundo hoje, mais precisamente o centro
do sistema capitalista, é testemunho de uma retoma-
da das discussões acerca da necessidade de pesquisas
sobre novas fontes de energia, indispensáveis tanto
ao suprimento industrial quanto ao ambiente global
de reprodução humana. Os motivos são vários, mas
podemos agregar aos já existentes a uma estrutura
de demanda cada vez mais incompatível com a oferta
cartelizada do petróleo, cuja pressão sobre o balanço
de pagamentos de inúmeros países é mera expressão.
Isso sem dizer do óbice que envolve o aquecimento
global e suas conseqüências à espécie humana.
Por outro lado, pode-se dizer que convive-
mos com, talvez, 100% ou mais dos homens dedica-
dos à ciência; homens esses que em nenhum momen-
to da história foram contemporâneos – tanto nossos,
quanto de si mesmos – e que à suas disposições con-
tam com recursos materiais inimagináveis e capacida-
de de dar curso às suas elucubrações mediados por
um planejamento estatal e privado cada vez mais mi-
limétrico. O homem não cria problemas sem solução
e os resultados satisfatórios no desenvolvimento de
formas limpas e renováveis de energia (biomassa, eta-
nol, eólica etc) dão conta desta histórica verdade.
Porém, amiúde a opinião esboçada acima,
para um país periférico e continental como o Brasil, a
discussão deve ser tratada em outro nível. Este deba-
te deve partir do princípio segundo o qual a questão
energética, para nós, não é um fim em si mesmo e
sim parte de um conjunto que envolve uma batalha
de cunho político em torno de duas bandeiras-chave:
o aprofundamento de nosso processo de industrialização
e, como causa e efeito disso, da reimplementação de
uma política de integração nacional. Significa dizer, em
miúdas palavras, a redefinição de uma divisão social
do trabalho onde novas oportunidades de desenvol-
vimento devem ser reabertas, incluindo regiões me-
nos favorecidas economicamente, dando margem ao
adensamento de cadeias produtivas em todo o terri-
tório nacional e a inclusão no mercado de um grande
contingente de pessoas.
Ampliando a margem à abstração, por outro
lado, o mundo assiste neste início de século ao ad-
vento da República Popular da China como a grande
candidata a ocupar, num espaço de pelo menos três
décadas, o posto de maior potência econômica no
mundo e recolocar na ordem do dia a transição capi-
talismo-socialismo em âmbito mundial. Assim como o
Brasil, a China é um país periférico de dimensões con-
tinentais. Diferente do Brasil, onde temos um Banco
Central alienígena detentor dos instrumentos cruciais
do processo de acumulação (o câmbio, a política de
juros, o crédito e o sistema financeiro) e um Ministé-
rio do Meio-Ambiente a serviço de outrem, na Chi-
na, o desenvolvimento econômico é fator primário à
consecução de objetivos de largo alcance.
Tendo como núcleo argumentativo os inves-
timentos em energia hidrelétrica (incluindo Três Gar-
gantas), em primeiro plano nossa idéia é de expor os
pontos principais da estratégia de desenvolvimento
da China e sua expressão no território, logo, nosso
objetivo com este artigo repousará, dadas as simila-
ridades territoriais com o Brasil, na demonstração de
como a China tem relacionado a solução de sua pre-
sente questão energética com a geração de renda e
produto em pontos díspares de seu território, crian-
do, assim, as condições objetivas à formação de uma
economia de dimensões continentais em meados do
presente século.
INTRODUÇÃO
DESENVOLVIMENTOE TERRITÓRIO NA CHINA
Desde o final da década de 1970, quando
Deng Xiaoping lança mão da política de Reforma e
Abertura, a China tem experimentado um verdadei-
ro frenesi de crescimento econômico. Sua média de
crescimento nos últimos 27 anos é de 10,1%, seu co-
mércio exterior no período cresceu mais de 30 vezes
e dentro de alguns anos passará ocupar o posto de
segunda economia mundial, passando a Alemanha e o
Japão e ficando atrás apenas dos EUA.
A geografia do mundo tem-se transformado
com a criação de um novo pólo irradiador de fluxos
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JABBOUR, E. M. K.
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18
financeiros, econômicos, políticos e culturais crescen-
tes. Em tempos em que a ciência histórica deixou de
ser a mãe de todas as ciências em detrimento de um
liberalismo e seu cerne a-histórico, é mister admitir
que tal aumento de influência advém não somente
do nível de desenvolvimento citado, mas também
pelo fato de o país: i) ser o mais populoso do mun-
do (1,3 bilhão de habitantes); ii) possuir a civilização
mais antiga (5.000 anos de existência) com institutos
milenares como o mercado (3.500 anos de existên-
cia), o planejamento territorial (modo de produção
asiático, 2.500 anos), o concurso público (1.500 anos)
e um Estado Nacional surgido antes mesmo da pro-
priedade privada (2.500 anos), assentado sobre o
terceiro maior em território (mais de 9 milhões de
km2 de área) do planeta, de onde surgiram propostas
filosóficas tolerantes e civilizatórias (confucionismo e
taoísmo) com dois séculos de antecedência às suas
similares na Grécia Antiga com diferença de que na
China, ainda, o confucionismo e o taoísmo são par-
te integrante da formação moral do povo, enquanto
no Ocidente as propostas de Sócrates e Platão já
há muito foram jogadas na lata do lixo da história
(MAMIGONIAN, 2007; JABBOUR, 2005). Tudo isso
nos leva a crer que com um passado único, à China
espera-se um futuro singular.
Seu dinamismo desenvolvimentista, expres-
são da fusão entre o Estado Revolucionário, fundado
por Mao Tsé-Tung, com o Estado Desenvolvimentista,
absorvido das experiências do leste asiático por Deng
Xiaoping (CASTELLS, 1999), tem no desenvolvi-
mento territorial uma síntese que não pode passar
desapercebida dado o fato de que a unificação do
território econômico chinês, em andamento, se
constitui no grande paradigma das relações interna-
cionais neste século XXI, algo somente comparado
com a transformação sofrida pelo mundo pós-unifi-
cação do território político e econômico dos EUA
na segunda metade do século XIX. Unificação esta
que se constituiu na principal condição objetiva à
consolidação do capitalismo e sua atual forma finan-
ceira. Raciocínio semelhante vale à consolidação do
socialismo e sua relação com a já citada unificação
do território econômico chinês.
A estratégia de desenvolvimento(agricultura e Zonas Econômicas Especiais – ZEE`s)
Em bem ao não-prejuízo do conjunto da análi-
se, em face da desinformação reinante, é muito justo
uma demonstração, mesmo que superficial, da estra-
tégia de desenvolvimento do país em tela.
O fenômeno desenvolvimentista chinês se
fez acompanhar por um espetacular dinamismo terri-
torial em fina sintonia com o tempo e o espaço. É fru-
to de uma estratégia de desenvolvimento que, apesar
de não peculiar, ganha traços originais e contornos
cada vez mais largos que vão desde a instalação das
quatro primeiras Zonas Econômicas Especiais (ZEE`s)
até o lançamento do Programa de Desenvolvimento do
Oeste na primavera de 1999 (OLIVEIRA, 1996; 2003).
O primeiro passo da governança chinesa ten-
do à testa o comunista de primeira hora e herói da
Longa Marcha, Deng Xiaoping, foi o de solucionar a
questão do abastecimento alimentar do país (via rela-
xamento de relações de produção), em simultaneidade
com a permissão de cultivos marginais por parte dos
camponeses chineses que passaram a ter permis-
são de venda no mercado de excedentes em cere-
ais, criando, assim, um mercado interno potencial a
produtos manufaturados e recompondo o pacto de
poder da revolução de 19492. Abrindo parêntese, um
passo político e de alta relevância à compreensão dos
por quês da manutenção do status quo comunista em
meio aos vendavais do final da década de 1980 e da
ofensiva contra-revolucionária de Tiananmen em ju-
nho de 1989: a classe camponesa, responsável pela
queda de todas as dinastias chinesas – e o centro de
uma rebelião rural que levou o Partido Comunista de
Mao Tsé-Tung ao poder em 1949 – estava do lado go-
verno contra as citadas ondas reacionárias.
Ao colocar o relevo à dimensão dos aumen-
tos das safras agrícolas em um curto espaço de tempo
em comparação com um período anterior mais largo,
a tabela abaixo sintetiza o sucesso da liberalização do 2Em nosso juízo, assim como Mao Tsétung apoiou-se nos camponeses
pobres para levar adiante a revolução nacional popular de 1949, Deng Xiaoping apoiou-se na capacidade empreendedora milenar dos campo-neses médios para levar adiante um novo tipo de acumulação socialista. Forma de acumulação – e transição – esta muito semelhante à enunciada por Marx.
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TABELA 1: Quadro geral do aumento da produção
agrícola na China em milhões de toneladas
1952 1957 1965 1975 1979 1982 1984
Cereais 184 195 194 284 332 353 407
Algodão 1,3 1,6 2,0 5,4 2,2 3,6 6,5
Cereais per capita (kg/hab)
285 301 301 309 342 326 400
Área cultivada per capita (ha./hab)
0,18 0,16 0,14 0,11 0,11 0,10 0,09
Fonte: JABBOUR, Elias M. K. (1997): China: Desenvolvimento e Socialismo de Mercado: Potência do Século XX”. Trabalho de Graduação Individual. Departamento de Geografia da FFLCH. Universidade de São Paulo, 1997, p. 69.
O próximo passo foi o da instalação das Zo-
nas Econômicas Sociais, ZEEs, de forma experimen-
tal, mas com forte apelo, não somente econômico,
mas também político e estratégico. Falemos mais de-
tidamente acerca deste empreendimento.
O sudeste asiático, notadamente Coréia do
Sul e Taiwan, era exemplo vivo de como retomar o
esforço comercializador chinês, obtendo, assim, di-
visas externas para seu projeto de modernização e
reservas cambiais que viabilizassem no futuro (hoje)
uma política de juros propícia ao crédito. As Zonas
de Processamento de Exportações (ZPEs) coreanas
e taiwanesas foram a inspiração para a instalação em
território chinês das Zonas Econômicas Especiais
(ZEEs) como plataforma de exportações, processa-
mento de tecnologia externa e também verdadeiros
laboratórios econômicos e sociais, nos quais as técni-
cas e habilitações capitalistas pudessem ser observa-
das e assimiladas (JABBOUR , 2006).
Outra preocupação — e por isso as ZEE’s
contêm caráter estratégico — é atrelar essas zonas
ao esforço de político de reunificação do país, enfim,
criar condições objetivas para o retorno de Hong-
Kong, Macau e Taiwan ao seio da pátria. A melhor
forma encontrada para isso seria a institucionalização
da política de “um país, dois sistemas” como forma-
tação jurídica que coube a Hong-Kong e Macau, mas
direcionada a Taiwan. Para isso as ZEEs deveriam ser
o entrelaçamento do território chinês ao chamado
mundo chinês do sudeste asiático — mundo chinês
este com acúmulos de bilhões de dólares e dotados
de técnicas de gerenciamento de produção de ponta
no mundo.
Esse entrelaçamento se dá de forma que tan-
to o tempo (história) quanto o espaço (geografia) se
encontrassem e formatassem síntese no território
chinês. Assim, as quatro primeiras ZEEs foram cria-
das (1982) em locais estudados e planejados de forma
que a ZEE de Shenzen fizesse fronteira com Hong-
Kong, a de Zhuhai com Macau, Xiamen em Fujian vol-
tada para Taiwan e a de Shantou voltada para colônias
chinesas no sudeste asiático.
Verdadeiras joint-ventures territoriais surgi-
ram entre essas zonas e seus territórios-alvo, sugan-
do investimentos externos de chineses ultramarinos
que hoje correspondem a 62% dos IEDs na China,
criando meios para a reunificação do país, via sucção
econômica, e condições objetivas para o enfrenta-
mento do desenvolvimento do oeste chinês em curso
na atualidade.
comércio de excedentes agrícolas na China confor-
mando, assim, o primeiro e essencial passo no rumo
de uma estreita harmonia entre a superestrutura de
poder e a real base econômica do país:
A estratégia de desenvolvimento (as Empresas de Cantão e Povoado e a macroeconomia)
Outra determinante da estratégia de desen-
volvimento chinesa – baseada na formação de um
mercado interno capaz de abarcar um processo ace-
lerado de industrialização – reside no surgimento e
fortalecimento das chamadas Empresas de Cantão e
Povoado (ECPs).
Tratam-se de pequenas e médias empresas
de caráter coletivo (responsáveis pela invasão no
mundo de camisas, gravatas, calças e tênis made in
China, atualmente já produzem produtos de maior
valor agregado como televisores, computadores e até
aviões em joint-venture com a brasileira EMBRAER)
e de capital intensivo absorveram a maior parte dos
excedentes de mão-de-obra agrícola que voltaram
assim suas atividades para setores ligados à indústria
rural, comportando, dessa forma, um caso sui generis
de urbanização no mundo.
JABBOUR, E. M. K.
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Para termos uma idéia, o número de em-
pregados no setor primário sobre o emprego total
da China, na década de 80, decresceu de forma mais
rápida do que o emprego rural sobre o total do país
na década de 80. Em 1994, a primeira relação era de
54,3% e a segunda de 72,6% (KOJIMA, 1996). Conti-
nuando, agora descrevendo o ambiente de incentivos
e funcionamento deste tipo de empreendimento, as
ECPs surgiram no âmbito da descentralização fiscal
promulgada na China em 1982, viabilizando o reco-
lhimento de impostos e reinvestimentos no nível da
província e/ou região autônoma, numa clara diferen-
ciação da planificação central dos tempos do “mode-
lo soviético”. As ECPs operam fora da planificação
central, socializando lucros e perdas no nível do ente
municipal.
Sobre o crescimento destas empresas vale
remeter ao trabalho feito pelos economistas Susumu
Yabuki e Stephen Harner (China’s New Political Eco-
nomy, Boulder CO., Westview Press): em 1978 havia
1,52 milhões de ECP’s no interior da China, chegando
a 23 milhões em 1996. Já pelo relatório de desenvol-
vimento do Banco Mundial (World Bank Development
Report, 1996, Oxford University Press, New York), a
porcentagem da produção das ECP’s no conjunto da
produção industrial chinesa subiu de 13% em 1985
para 31% em 1984 – sua produção teve crescimento
médio de 25% entre 1985 e 1996 e foi a responsável
pela criação de 130 milhões de empregos entre 1980
e 1986.
Com relação à expansão da renda no campo,
Singh anota que esta cresceu anualmente entre 1980
e 1988 em 9,6%, enquanto que nas cidades tal foi de
6,3% (SING, 1999).
Estes dados nos deixam claro outra relação
que é a existente entre as reformas realizadas na Chi-
na e àquelas realizadas na URSS: enquanto a URSS
tratou de “reformar” indústrias de bens de capital
que pela sua complexidade tecnológica não abriga
grandes contingentes de mão de obra, a China pri-
vilegiou, em primeiro lugar, a transformação e massi-
ficação de indústrias que abrigassem grandes contin-
gentes de trabalhadores que num processo imediato
teriam acesso primário ao mercado consumidor.
Importante, essencial demonstrar é que
toda essa base assentada na formação de um mer-
cado interno e numa política agressiva em matéria
de comércio exterior só pode ter fundamento lógico
partindo do controle e manipulação, em prol dos in-
teresses imediatos e estratégicos da nação chinesa,
dos já citados instrumentos cruciais do processo de
acumulação, permitindo que o Estado Nacional seja
o grande timoneiro de um processo lento de regio-
nalização interno (China continental) e externo (su-
deste asiático), num planejamento de altíssimo nível
e de causar surpresa aos políticos da tragédia neo-
liberal no Brasil e na América Latina. Vejamos só: a
instalação de uma plataforma de exportações base-
adas tanto no litoral (ZEE`s) quanto no interior do
país (ECPs) foi parte de um todo que envolveu uma
política macroeconômica que, a partir de um câmbio
fixo, subvalorizado, permitiu o acúmulo de superávits
comerciais suficientes tanto para o financiamento de
máquinas e equipamentos importados, quanto para a
formação de uma imensa reserva em moeda estran-
geira que, por seu turno, viabilizou uma política de
juros atraente ao crédito, leia-se, consumo interno.
Por outro lado, o estrito controle sobre a con-
ta de capitais dotou o Estado chinês de um meca-
nismo institucional que por si só serviu de indutor
de investimentos externos produtivos em detrimento de
investimentos especulativos, tornando-se, nesse caso,
um dinamizador e não um amortecedor para o con-
junto da economia (SILVA, 2004). Ainda vale notar
o alto grau de regionalização deste tipo de investi-
mento na atualidade chinesa: 62% deles são provin-
dos de chineses étnicos baseados no sudeste asiático
(JABBOUR , 2006). Eis a base macroeconômica de
uma ambiciosa política de integração nacional e in-
ternacional.
A marcha territorial do desenvolvimento (e a “Chicago” chinesa)
Os bons resultados obtidos com a instalação
das primeiras quatro ZEEs em 1980, levou o gover-
no chinês, já em 1984 estender tal experiência a ou-
tras 14 cidades costeiras, incluindo a atual “cabeça
do dragão”, Xangai. Em 1987, nos estertores do 13°
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Congresso do Partido Comunista da China (PCCh),
todo o litoral do país foi considerada como “ZEE”,
marcando a entrada chinesa definitiva na rota interna-
cional do comércio. Entrada esta muito facilitada após
a imposição, por parte dos Estados Unidos, de nor-
mas cambiais ao Japão (Acordo de Plaza assinado em
1985) com o objetivo de encarecer as importações
de bens manufaturados japoneses no mercado norte-
americano, numa clara política keynesiana praticada
pelo governo Reagan na intenção de recuperar os
espaços, tanto políticos quanto econômicos perdidos
entre as décadas de 1950 e 1970.
A depreciação do yene ante ao dólar, levou
moedas como o yuan chinês a se tornarem altamente
depreciadas com relação à moeda japonesa. Estava
posta uma condição objetiva para a reorganização do
comércio regional tendo em vista a necessidade de
empresas asiáticas de se manterem dentro do merca-
do americano. Nesta lógica, capitais foram direciona-
dos para locais onde os custos de produção e o valor
da terra urbana fosse mais convidativo. E na Ásia, a
China foi o país que melhor apresentou as condi-
ções para o deslocamento destes capitais produtivos
que vieram não somente do Japão, mas também de
Taiwan e Hong-Kong.
Com o decorrer da década de 90, empresas
européias e norte-americanas também passaram a
direcionar-se rumo à China e seu mercado, tornan-
do a China, no início do século XXI, uma verdadeira
“manufatura do mundo”, e transformando, com seu
dinamismo econômico, capitais norte-americanos
em verdadeiros “reféns”, pois a estabilidade política
do imperialismo depende muito das importações da
China dada a centralidade da manutenção de baixos
índices internos de inflação3.
Em 1992, a todas as capitais de província e
de regiões autônomas e mais 52 cidades de frontei-
ra fora estendido o estatuto de ZEE. Movimento que
dá conta de um processo de conexão não somente
pela via da Ásia do Pacífico, mas também da criação
de uma ampla área de convergência econômica entre
a China e as ex-repúblicas soviéticas fronteiriças ao
noroeste (cooperação na área energética) e a reaber-
tura de uma rota comercial entre a China e a Europa,
reavivando o que em outro momento histórico Mar-
co Pólo nomeou de Rota da Seda.
3Neste contexto, e em retrospectiva histórica, podemos facilmente
perceber que os superávits comerciais do Japão, de Taiwan e de Hong-Kong com os EUA tenderam a cair, enquanto que a China passou a ter elevados superávits que ao passar da década de 1990 e mais precisamen-te hoje são enfrentados pelos EUA sob forma de pressões, genuinamen-te políticas, para a revisão da taxa de câmbio chinesa.
Em 1997, diante da crise financeira asiática
que ameaça o bem-sucedido programa agressivo de
exportações do país, o governo central lança, no ano
de 1999, o Programa de Desenvolvimento do Oeste,
numa planejada operação que consiste na abertura de
novos campos de investimento na economia, um novo
campo de acumulação baseado na institucionalização
de uma imensa reserva de mercado com capacidade
de suportar décadas de crescimento ininterrupto do
país.
Como grande referência histórica de desen-
volvimento e, de forma literal, seguindo o conselho
de Lênin, para quem os EUA eram o exemplo de
construção nacional a ser seguido e alcançado, da
mesma forma que Chicago, cidade situada no meio-
oeste do país, Chongqing, também no meio-oeste
(porém da China), foi a escolhida para desempenhar
papel semelhante ao praticado por Chicago, em meio
à unificação territorial norte-americana, na segunda
metade do século XIX: entroncamento ferroviário e
mercado distribuidor de gêneros agrícolas e indus-
triais4. Em 1997, tal cidade foi elevada à condição de
municipalidade diretamente subordinada ao governo
central (as outras são Pequim, Xangai e Tianjin).
Estudando realizações dos EUA como a Te-
nesse Valley Authority, o Civilian Conservation Corps e o
Interstate Highway System, entre 2001 e 2010 cerca
de US$ 200 bilhões serão direcionados para Chon-
gqing, com o intuito de transformá-la não somente no
centro dinâmico da expansão ao oeste, mas num dos
maiores centros comerciais e financeiros do mundo e
pronta para alcançar o mesmo status de praças como
Xangai e Hong-Kong (JABBOUR , 2006).
Para um país de dimensões continentais,
como a China e o Brasil, é neste contexto de com-
4Chongqing, antiga capital do governo de Chiang Kaishek, próxima a
barragem de Três Gargantas conta com 30 milhões de habitantes e com um território seis vezes maior que o da Bélgica.
JABBOUR, E. M. K.
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plementaridade regional interna que se deve situar
o papel do fator energia num conjunto que envolve
interesses nacionais de curto, médio e longo prazos.
O FATOR ENERGIA E AINTEGRAÇÃO REGIONAL
De forma simultânea a este processo dife-
renciado de desenvolvimento, com a inclusão mas-
siva de centenas de milhões de pessoas ao processo
produtivo e a integração gradual de todo o país a um
único mercado nacional, o fator energia foi tornando-
se algo crucial. O problema não reside pura e sim-
plesmente sobre a estrita necessidade de insumos,
mas também em formas alternativas à dependência
do carvão mineral como forma principal de geração
energética (cerca de 65% da energia utilizada pela
China provém deste tipo de insumo). Os prejuízos,
tanto financeiros (US$ 54 bilhões anuais) quanto
ambientais,têm levado o governo central a priorizar
a importação de tecnologia que viabilize uma utiliza-
ção mais limpa do carvão. Afora isso, investimentos
em fontes como a energia hidrelétrica, o gás natu-
ral e a energia nuclear têm sido intensificados. Mas,
é idealismo acreditarmos que a China conseguirá,
num rápido lapso de tempo, substituir grande parte
do carvão por fontes limpas de energia; o grande
desafio chinês da atualidade, nesse campo, é buscar
formas de purificação do mineral, tornando mais ra-
cional sua utilização.
Em outra oportunidade poderemos discor-
rer com mais vagar acerca da questão ambiental na
China, algo que merecia algo mais detido e sério
dado o nível de ideologização que envolve a discus-
são.
Retornando, o caso do petróleo é um pou-
co diferente (desde 1993 a China é importadora
e atualmente 50% do petróleo utilizado no país é
importado), pois o nível de desenvolvimento das
forças produtivas e reservas cambiais alcançado
pela China já lhe permite um nível de planejamento
de comércio exterior que a habilite a trocar serviços
por petróleo com a periferia do sistema (África,
por exemplo).
A dinâmica e a política da transferência litoral-interior
Falando em termos que contemple nossos
objetivos neste espaço, guarda grande relevância um
determinado raciocínio: a China, durante 25 anos,
acumulou capital e tecnologia em seu rico litoral para,
em passo seguinte, passar ao interior de forma que a
máxima advogada por Deng Xiaoping acerca de um
processo de enriquecimento comum precedido pelo enri-
quecimento de alguns (YUN 1). Tal raciocínio vale tan-
to no âmbito da sociedade quanto do território. Mais,
somente é passível sob o ponto de vista empírico, sob
uma estrutura de poder que detém sob seu contro-
le os setores estratégicos da economia (setores com
alto grau de monopólio) e o planejamento econômico
como método de gestão. Não somente isso: é de pri-
mária razão que este poder político esteja compro-
metido, de forma estratégica, com o socialismo.
Para termos noção da grandeza deste projeto
de transferência, entre 1997 e 2004, cerca de US$ 1
trilhão foi investido em obras de infra-estrutura no
interior da China (JABBOUR , 2006). Neste mesmo
momento, no Brasil, foram investidos na área infra-
estrutural apenas U$ 12 bilhões, algo que vem cres-
cendo com uma velocidade muito menor – apesar do
PAC – do que as necessidades de nosso país, muito
mais preocupado com o pagamento religioso de nos-
sa dívida interna. Retornando à China, a leitura deste
dado de investimentos nos demonstra que este rela-
xamento de acumulação regional é seguido por uma
verdadeira troca de investimentos e tecnologia, do ci-
tado litoral, por energia e matérias-primas do interior.
Em nossa opinião, tal movimento regional, ainda não
estudado com a seriedade devida por nós brasileiros,
é o maior fenômeno de re-divisão inter-regional do
trabalho de nossos tempos, algo somente compará-
vel com o que ocorreu no território soviético entre
1928 e meados da década de 1960. E uma verdadeira
demonstração da capacidade dos dirigentes chineses
em enfrentar seus reais problemas, muito diferente
do que verificamos no Brasil (do “combate à inflação”
e da “estabilização monetária” à custa de um caos so-
cial sem limites). É nesta política de complementaridade regio-
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nal que a China aposta nas próximas décadas, pois o litoral rico do ponto de vista financeiro e tecnoló-gico é débil sob o prisma de recursos energéticos, enquanto que o oeste do país é o simplesmente o oposto, pois concentra 74% das existentes e poten-ciais fontes energéticas. Por exemplo, o centro-oeste da China – local onde está sendo construída a usina de Três Gargantas – detém o segundo maior poten-cial hidrelétrico do mundo, porém sua utilização não passa dos 20%. Ainda, no campo da “energia limpa”, a aplicação desta política de integração e complemen-taridade regional ganhou força, com descobertas de grandes reservas de gás natural no extremo-oeste do país (Xinjiang), com capacidade de garantir o abaste-cimento integral de uma cidade do porte de Xangai por, pelo menos, 20 anos. Sob o ponto de vista estrito da questão ener-gética, tal política vai ao encontro de uma resposta ao nó-de-estrangulamento que se constituiu tal área em fins da década de 1990 e começo da atual, tendo ex-pressão nos constantes “apagões” a que estavam sub-metidas cidades-pólo como Xangai e Shenzen. Tais “apagões” transformaram-se em fato que alimentou inúmeras discussões acerca dos próprios limites do crescimento chinês, afinal, não é nada desprezível o fato comprovado de que a China, apesar de neces-sitar – para um desenvolvimento equilibrado – de 1.000 kw per capita, contava em 2002 somente com 300 kw per capita instalados, número que evoluiu em 2005, dado o grande esforço empreendido no perío-do, para 420 kw per capita (JABBOUR , 2006). Por fim uma necessária visão de conjunto, partindo da constatação de que dos 30 milhões de chineses que ainda vivem abaixo da linha da pobreza, cerca de 80% são de minorias étnicas, cujos “lares”, em mais de 70%, estão concentrados no oeste do país. Os investimentos em energia no interior do país são parte de um todo que abriga uma necessária polí-tica de que privilegie o desenvolvimento social dessas minorias5 em tempos de contestação internacional da soberania chinesa sobre regiões como o Tibet e o Xinjiang (Turquestão chinês)6.
5 A China é um país multinacional composto por 56 nacionalidades
diferentes. 6
Porém poucos se dão conta de que as províncias que crescem de forma mais rápida na China são justamente o Tibet e o Xinjiang, sobretudo após 1999, com o lançamento do “Programa de Desenvolvimento do Oeste”.
A transferência de energia oeste-leste (ener-gia hidrelétrica)
Lançado em 2001, o projeto de transferência
de energia do oeste ao leste da China comporta ba-
sicamente a exploração e a difusão de dois tipos de
energia limpa, a fonte hidrelétrica e o gás natural.
Acerca da transferência em si, podemos ilus-
trar quatro benefícios imediatos proporcionados pelo
projeto:
1. Obtenção de resultados econômicos imediatos: As
vantagens em recursos energéticos do oeste da
China têm sido transformadas em vantagens eco-
nômicas, como por exemplo, a partir da concor-
rência entre empresas estatais e mista entre si em
busca de novos campos de investimento e acu-
mulação;
2. Aumento de renda tributária local: é auxílio decisivo
ao crescimento econômico do oeste chinês, resul-
tando em âmbito nacional na lenta diminuição das
diferenças leste-oeste do país e na relação dialética
entre interdependência x suavização da divisão so-
cial do trabalho e suas implicações;
3. Reestruturação energética: cumpre papel na ma-
ximização da relação entre utilização dos recursos
energéticos nacionais e reajustamento de sua estru-
tura;
4. Promoção de proteção ao meio ambiente: tem re-
duzido a emissão de gases tóxicos emitidos pela
queima do carvão, além disso tem se destacado,
desde seu lançamento, as perdas ocasionadas
pelas constantes enchentes nos cursos inferiores
dos rios, por exemplo o rio Yangtsé.
Exemplo de operação de complementaridade bem
sucedida com a utilização de energia hidrelétrica
(50% mais barata que a produzida por carvão e pe-
tróleo), está na relação entre a província litorânea
Guangdong (a mais rica da China) e Guangxi (inte-
riorana, uma das mais pobres da China). Guangdong,
que tem 70% de sua energia proveniente do carvão,
que por sua vez tem deixado sua marca no montante
de mais de US$ 10 bilhões em prejuízos, somente no
ano de 2005, em razão da chuva ácida. A complemen-
taridade econômica, acrescido de formas alternativas
JABBOUR, E. M. K.
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à substituição de carvão como fonte primária de ener-
gia, nesse caso, pode ser auferido na seguinte relação:
a Usina hidrelétrica de Longtan, situada na Região Au-
tônoma de Guangxi (uma das províncias mais pobres
da China), desde 2005 passou a gerar energia limpa
e barata para Guangdong, que por sua vez reduziu
pela metade os gastos em compra de energia. Já a
citada Região Autônoma, desde então tem acumulado
lucros da casa de US$ 2 bilhões gerados pela venda
de energia elétrica em Longtan. Seu PIB que em 2001
era de US$ 120 milhões, em 2010 chegará à US$ 400
milhões (JABBOUR , 2006).
A transferência de energia oeste-leste (o caso de Três Gargantas) (JABBOUR , 2006)
Falar, mesmo que de uma forma mais super-
ficial, das conseqüências de variada monta de investi-
mentos em infra-estruturas energéticas na China sem
ao menos citar a importância da Usina Hidrelétrica de
Três Gargantas, seria algo minimante temeroso ante
as polêmicas que envolvem este empreendimento.
Obra iniciada em 1993, com término previsto para
2009, esta “mega-usina” de US$ 25 bilhões – ao seu
término – terá o título de maior usina hidrelétrica do
mundo.
Sua concepção remonta aos estertores da
república chinesa fundada em 1911, como um meio
ao controle de enchentes provocadas nos cursos su-
periores do rio Yangtsé ao longo de mais de milênios,
desde a dinastia Han (206 a.C. a 220 d.C.). A última
delas, ocorrida em 1998, morreram 1.562 pessoas e
uma população de 2,6 milhões foi afetada. Assim, não
se pode compreender o empreendimento somente
pelos olhos da necessidade de energia. Sob este pris-
ma, em 1919, Sun Yat-sen, precursor da China mo-
derna, em artigo publicado na revista Vida do Povo,
lançou a idéia de construir uma represa artificial em
Três Gargantas. Já então ele citava três objetivos es-
senciais: 1) o controle das constantes cheias do rio; 2)
a utilização de potencial hidrelétrico e 3) a melhoria do
comércio interno com a otimização da navegação.
A idéia só veio a ser planejada de fato com a
fundação da República Popular, em 1949. Ciclicamen-
te a necessidade da obra era levantada. Mas, somente
após 1978 é que a execução da obra foi levada adian-
te.
A obra é responsável pela realocação de cer-
ca de 1.200.000 pessoas e por danos ao meio-am-
biente somente reparáveis nos próximos 100 anos,
todavia, será responsável pela substituição de cerca
energética de cerca de 50.000 toneladas de carvão
por ano. O mais simbólico, sob nosso ponto de vista,
é expressão de uma vitória política chinesa, mais que
isso: demonstração de independência e soberania.
A um ano do término da obra, muitos impac-
tos já podem ser sentidos, conforme registraremos a
seguir.
A energia gerada pela hidrelétrica iluminará
as províncias, regiões autônomas e municipalidades
num raio de mil quilômetros. A cidade de Xangai,
desde agosto de 2003, passou a beneficiar-se da ener-
gia gerada pela obra. Muitos chineses mais eufóricos
chegam a dizer que Três Gargantas iluminará metade
da China, tamanha a área geográfica beneficiada.
Outro aspecto é o controle das inundações,
uma das “centenárias” motivações da obra. Os pe-
ritos prevêem que o mecanismo de controle de en-
chentes terá à disposição, em anos normais, cerca de
US$ 300 milhões e impedirá perdas da ordem de US$
2 bilhões anuais. A situação tende a melhorar ainda
mais com a construção de outra represa no turbu-
lento rio Jinshajiang, um dos tributários principais do
curso superior do rio Yang-tsé, além da conclusão de
múltiplos projetos de reflorestamento e tratamento
florestal do solo.
Há também a navegação fluvial. O transporte
de mercadorias pelo rio Yang-tsé era demasiadamen-
te baixo e perigoso. Devido a grandes rochas ao longo
do rio, somente navios de até 1.500 toneladas conse-
guiam passar pelo seu curso superior. Com a altura da
represa chegando a 135 metros, a profundidade da
água de Três Gargantas aumenta até 60 metros, me-
lhorando o fluxo e diminuindo a velocidade da água
em até 70%, favorecendo a navegação, baixando os
custos do transporte em até 35%, com maior segu-
rança. Após o término da obra, em 2009, navios de
até 100 mil toneladas terão acesso a este “canal de
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ouro” com extensão leste-oeste de 660 km. Já nos
períodos de estiagem, o imenso caudal de Três Gar-
gantas servirá como regulador do rio, em todo o cur-
so abaixo de Yichan. Os atuais 3000 metros cúbicos
de vazão aumentarão (por abertura das comportas)
para 5.200 metros cúbicos, resolvendo as dificulda-
des da navegação em temporadas de estiagem.
O fluxo navegatório, com a canalização in-
tegral do rio Yang-tsé, aumentará de 10 milhões de
toneladas anuais, verificadas em 2003, para mais de
50 milhões em 2009. O “canal de ouro” cumprirá
papel-chave na transformação da geografia econômi-
ca da China e facilitará a transformação dos recursos
naturais do oeste da China em superioridade econô-
mica. Além de reestruturação produtiva e o benefício
direto de várias províncias, regiões autônomas e mu-
nicipalidades, o projeto de Três Gargantas trará im-
pulso econômico ao turismo e à indústria pesqueira
em torno da represa.
Um exemplo concreto e específico ilustra
como o impulso regional se traduz em vantagens: a ci-
dade de Yichang, província de Hebei. A construção da
obra de Três Gargantas acelerou o desenvolvimento
de Yichang, promovendo o aumento das receitas fis-
cais, otimizando a estrutura econômica e incremen-
tando a infra-estrutura em sua área de abrangência.
Entre 1994 e 2001, Três Gargantas proporcionou Yi-
chang a arrecadação de US$ 175 milhões em impos-
tos, carreou para a cidade cerca de US$ 300 milhões
em forma de investimentos estrangeiros diretos e
atraiu uma quantidade razoável de empresas.
Para cada quatro unidades geradoras postas
em funcionamento, cerca de US$ 8 bilhões anuais
serão acrescidos aos cofres. A idéia fixa do governo
central é que até 2009, todo o montante investido te-
nha retorno financeiro — o que tornará a obra auto-
financiada.
Continuando a política de transferência de
energia do oeste para o leste, já a partir de 2005, em
grande parte graças aos frutos do projeto de Três
Gargantas, teve início a construção de outros quatro
projetos hidrelétricos: Wudongde, Baihetan, Xiluodu
e Xiangjiaba, com capacidade de geração energética
de 38,5 bilhões de kw, o dobro de Três Gargantas. O
conjunto destas obras credenciará o curso superior
do rio Yang-tsé ao título de “maior fonte energética
do mundo” com linhas transmissoras de alta densida-
de (JABBOUR , 2003).
Enfim, um amplo esquadro de análise é aber-
to por este gigantesco empreendimento. Da mesma
maneira, o gasoduto oeste-leste de 4.221 km. inau-
gurado em 2006, responsável de transportar gás na-
tural de bacias do extremo-oeste do país até Xangai
e assim por diante. É no mínimo suficiente afirmar a
relação entre desenvolvimento de formas limpas e
baratas de captação de energia com políticas de inte-
gração regional.
E a China é um largo exemplo neste sentido.
CONCLUSÃO
Após expor uma estratégia de desenvolvi-
mento com expressão candente num imenso terri-
tório continental capaz de interligar o desatamento
de pontos-de-estrangulamento na cadeia com uma
ofensiva contra as desigualdades regionais de um país,
fica sempre uma sensação de quão na retaguarda está
ficando nosso país em matéria de desenvolvimento e,
conseqüentemente de planejamento.
Desenvolvimento e planejamento, planeja-
mento e desenvolvimento; neste caso a ordem dos
fatores não altera o produto. Ambas palavras presen-
tes em nosso passado recente: épocas em que nos
tornamos a 8° economia do mundo, completamos
nossa industrialização com a implantação de um mo-
derno Departamento 1 da economia (indústria mecâ-
nica pesada) durante o governo Geisel, viabilizamos
estatais como a Petrobrás e centros de excelência
como a Embrapa. Tempos em que uma obra da mon-
ta da Usina de Itaipu nos proveu de tecnologia e tra-
balhadores altissimamente qualificados que, inclusive
exportamos a países como a China. Atualmente, por
incrível que pareça, a execução de grandes obras em
energia hidrelétrica dependem, no Brasil, de importa-
ção de geradores da China.
Posta as coisas nesta ordem, opinamos que
uma discussão séria sobre matrizes energéticas não
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pode ser algo que se finde por si só. É inconseqüente
se não for tratada como parte de um devido conjun-
to chamado projeto nacional de desenvolvimento. Daí
a ênfase dada – no texto – à estratégia de desenvolvi-
mento chinesa e ao real tamanho de suas políticas de
integração, em casamento com projetos em energia
hidrelétrica, nos marcos de uma política pautada em
objetivos que variam desde os planos qüinqüenais até
a marca do ano de 2049, centenário de fundação da
República Popular e ano marco do término da primei-
ra etapa da dita modernização socialista.
Tendo em mente que a batalha pela retoma-
da de um projeto nacional de fôlego ainda está a ser
ganha, fica um apelo à centralidade desta questão.
Tudo isso objetivando que não nos contentemos a ser
uma “Arábia Saudita verde”, muito pelo contrário.
Que as oportunidades abertas neste início de
século no setor energético ao Brasil, seja uma opor-
tunidade de ouro para aprofundarmos nosso processo
de industrialização, geração de renda e não pretexto
à uma radicalização da divisão internacional do traba-
lho.
Como tem ocorrido com a China, que as ja-
nelas abertas ao desenvolvimento de matrizes ener-
géticas novas, transformem-se em oportunidades
para afirmação continuada de nossas pretensões à
unidade, à soberania e ao planejamento.
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
Maria Cristina Gonzaga 1
Mestre em Engenharia Agrícola pelaUniversidade Estadual de Campinas - UNICAMP,Tecnologista sênior III daFundação Jorge Duprat Figueiredo deSegurança e Medicina do Trabalho - FUNDACENTRO.
O trabalho do corte manual da cana-de-açúcar é uma ativi-
dade penosa que exaure os trabalhadores, provocando dor, medo,
insegurança, doenças e sofrimento. Os trabalhadores desenvolvem
inúmeras estratégias para suportar as condições de trabalho adver-
sas. Normalmente eles utilizam improvisações que buscam minimi-
zar os efeitos oriundos de normas rígidas de produção e de ferra-
mentas e equipamentos de proteção individual (EPI) inadequados.
É rotina que as ferramentas de trabalho sejam modificadas para
possibilitar o seu uso com os EPIs ou mesmo para torná-las mais
confortáveis. O corte deve ser feito seguindo prescrições definidas
pelas empresas inseridas nos procedimentos da IS0 9002. Os traba-
lhadores criam táticas visando minimizar o desgaste físico imposto
por rotinas operacionais rígidas. O trabalho real executado e os
trabalhadores são desconsiderados por normas de produção e de
certificação de EPI.
The manual cut of sugar cane is a hard activity that exhausts
the workers, inducing pain, fear, lack of safety, illnesses and suffer-
ing. The workers develop innumerable strategies to deal with the
adverse work conditions. They build up improvisations to minimize
the effects of rigid productive norms, inadequate tools and personal
protective equipment (PPE). It is a routine that the work tools are
modified to facilitate their use with personal protective equipment
(PPE) or to make them more comfortable. The cut must follow
rules defined by the companies and inserted in the procedures of
ISO 9002, so workers create tactics to minimize the physical con-
suming consequences of rigid operational routines. The executed
real work is not considered in the prescription of productive norms
and PPE certification.
The operational strategies and improvisations used to cut sugar cane manually
RESUMO
ABSTRACT
Las estrategias operacionales y las improvisaciones utiliza para cortar la caña de azúcar de forma manual
Maria Cristina GonzagaMestre em Engenharia Agrícola pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.Correspondência: Rua Capote Valente n° 710, Pi-nheiros, – São Paulo/SP - Brasil - CEP: 05409-002.Endereço eletrônico: [email protected]
1
Keywords: sugar cane; work; improvisation.
Palavras chave: cana-de-açúcar; trabalho; improvisações.
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INTRODUÇÃO
A atividade do corte manual da cana é execu-
tada no Estado de São Paulo por milhares de pesso-
as vindas de várias regiões do Brasil onde não existe
oferta de trabalho. Esta atividade vem sendo tema de
discussões em Audiências Públicas, na imprensa na-
cional e internacional, em função do crescimento do
setor que produz o etanol e das condições de traba-
lho daqueles que movem o setor: os cortadores de
cana.
Esses trabalhadores são homens e mulheres
que entram nos canaviais, muitas vezes desnutridos
e doentes, supondo que terão uma qualidade de vida
melhor do que aquela de seu local de origem.
A minha experiência durante vários anos de
pesquisa junto a essa categoria em uma agroindústria
canavieira do Estado de São Paulo, permitiu reconhe-
cer “in loco” algumas habilidades dos trabalhadores
para enfrentar um trabalho exaustivo como é o corte
manual da cana.
A tarefa a ser cumprida pelos cortadores de
cana é definida pela empresa através de procedimen-
tos que, atualmente, estão inseridos no Sistema de
Gestão de Qualidade Total (ISO 9002). Esses proce-
dimentos geram rotinas operacionais rígidas que des-
consideram o trabalho real, impondo situações que
prejudicam a execução do trabalho e, muitas vezes,
aumentam a carga laboral.
O arsenal de Equipamentos de Proteção Indi-
vidual (EPI) utilizados para proteger os trabalhadores
produz situações de risco e insegurança, pois as nor-
OBJETIVO
Entender e descrever as estratégias operacio-
nais e as improvisações desenvolvidas pelos cortado-
res de cana diante da inadequação de EPIs e das fer-
ramentas de trabalho e, também, frente à rigidez das
normas de produção.
La labor del corte manual de caña de azúcar es una actividad dolorosa que agota los trabajadores,
causando dolor, miedo, inseguridad, enfermedad y sufrimiento. Los trabajadores desarrollan numerosas
estrategias para resistir a las condiciones adversas de trabajo. En general, utilizan las improvisaciones que
buscan minimizar los efectos de las estrictas normas de producción y de las herramientas y equipos de pro-
tección personal (EPP) inadecuados. Es rutina que herramientas de trabajo sean modificadas para permitir
su uso con los EPPs o incluso a hacerlos más cómodos. El corte debe hacerse siguiendo los requisitos esta-
blecidos por las empresas incluidas en los procedimientos de IS0 9002. Los trabajadores crean tácticas para
reducir al mínimo el estrés físico impuesto por estrictas rutinas de operacionales. El trabajo real ejecutado
y los trabajadores no son considerados por las normas de producción y certificación de los EPI.
Palabras-claves: caña de azúcar; trabajo; improvisaciones.
RESUMEN
mas de fabricação destes equipamentos de proteção
desconsideram os usuários e a atividade a ser exerci-
da com os mesmos, muitas vezes dificultando o exer-
cício do trabalho.
Os trabalhadores são lesionados com o uso dos
EPIs, o que provoca dor e sofrimento, principalmen-
te, pelo fato de que a manutenção do emprego estar
condicionada ao uso destes equipamentos.
O Governo do Estado de São Paulo e a União
da Agroindústria Canavieira assinaram um protoco-
lo para consolidar o desenvolvimento sustentável da
indústria da cana no Estado de São Paulo; esse pro-
tocolo prevê a eliminação da queimada até 2017,
conseqüentemente, a mecanização do corte será im-
plementada e o desemprego dos cortadores tornar-
se-á uma realidade.
Entretanto, mesmo com a diminuição da mão
de obra que executa o corte manual da cana, valori-
zar o saber dos cortadores que moveram e movem
a produção do álcool e açúcar no Brasil é extrema-
mente importante. Em função disto, as estratégias
operacionais que buscam minimizar a carga laboral e
os efeitos das prescrições impostas por normas de
produção rígidas serão apresentadas neste artigo.
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METODOLOGIA
No período de 1996 a 2007, participei de vá-rios estudos sobre o trabalho dos canavieiros, nor-malmente atendendo às demandas formuladas pela Federação dos Trabalhadores Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP).
Entre os anos de 2001 a 2004 tive a oportuni-dade de entrar em uma grande agroindústria cana-vieira no Estado de São Paulo, onde pude observar “in loco” problemas e soluções para o uso dos EPIs no corte manual da cana.
Durante duas safras foram acompanhados dois grupos de trabalhadores, junto aos quais foram apli-cadas entrevistas semi estruturadas e questionários e feitas observações a campo.
Na safra de 2001, o grupo era formado por 35 trabalhadores; durante a safra de 2002, por 47 traba-lhadores.
Documentos da agroindústria analisada foram avaliados, principalmente aqueles que definiam o tra-balho dos cortadores.
A criatividade dos trabalhadores, junto ao cabo do facão, para conseguir utilizar a luva de proteção em raspa de couro, direcionou as ações executas du-rante o ano de 2003, quando foram analisados quatro tipos de luvas pelos trabalhadores e também foram feitos ensaios para analisar a aderência entre as luvas de proteção e a madeira do facão: limpa ou embor-rachada. Neste período, também foram analisados os procedimentos da ISO 9002 que definem o trabalho do corte manual da cana de açúcar.
Posteriormente a esse período, visitas a campo foram feitas, normalmente acompanhando os Pro-curadores da Justiça do Trabalho, onde foi possível verificar em campo problemas e soluções propostas pelos cortadores.
Improvisações para cumprir a tarefa do corta-dor de cana
Um canavial é dividido em talhões e cada ta-
lhão é composto por várias linhas de canas plantadas,
paralelas entre si. Talhão é, portanto, a designação
dada a uma área cultivada; não tem uma medida es-
pecífica e tanto pode medir dois como vinte hectares.
O espaçamento entre as linhas, formando as ruas,
varia conforme a topografia, a área, o tipo de solo,
a variedade de cana, etc, mas, em geral, mantém-se
uniforme em cada talhão. Estas linhas são agrupadas
formando os eitos. Em geral, os eitos são compos-
tos por cinco linhas de cana. A extensão de cada eito
também varia.
O corte manual da cana-de-açúcar é composto
basicamente de quatro tarefas. Com um facão afiado,
o cortador deve:
1. cortar a cana;
2. despontar a cana;
3. limpar o eito;
4. organizar a cana cortada na 3ª rua do eito.
A direção da empresa chama as tarefas de pro-
cedimentos e assim os define:
a) o trabalhador deve se colocar de frente para o
eito;
b) o corte de base deve ser rente ao solo, não dei-
xando toco nem soqueira (emaranhado de raízes
do que sobrou do corte da cana, por se tratar da
parte mais rica da cana);
c) o corte das pontas deve ser feito no último gomo,
não deixando que venha palmito (broto terminal
do caule da cana) e nem cana junto com o pon-
teiro que deve ser separado da cana cortada;
d) o desponte poderá ser feito na mão, ou no chão;
na segunda hipótese deverá ser despontado no
momento em que o feixe for jogado no chão,
não havendo necessidade de pé e ponta ficarem
no mesmo lado, ou seja, podem estar opostas;
e) a leira (restos vegetais dispostos em linha no ter-
reno) deve ser feita de maneira que fique centra-
lizada em relação às cinco ruas, isto é, na terceira
rua do eito;
f) a leira deve ficar limpa em todo o seu compri-
mento, livre de palhas no mínimo 50 cm de cada
lado.
Alguns procedimentos são questionados pelos
cortadores. Em função disto, eles criam modos ope-
ratórios próprios para facilitar o trabalho.
O procedimento “a” fixa a forma de entrar no
eito da cana: colocar-se de frente para o eito.
RESULTADOS
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GONZAGA, M. C.
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Alguns relatos feitos pelos cortadores indicam
que a entrada lateral é melhor para executar o corte da
cana, pois aumenta a produtividade e evita que o facão
atinja diretamente o joelho e a perna, porque o golpe do
facão é lateral ao corpo.
O Procedimento “d” define que o desponte da
cana deve ser feito no chão, no momento em que
o feixe da cana for cortado. Quando a cana está em
pé, os trabalhadores fazem esta ação de outra forma,
denominada no Estado de São Paulo, de “corte em
canudo” - corredores de três ruas (figura 1): eles cor-
tam 100 metros de cana de três ruas, organizando as
canas cortadas em leiras na 3ª rua do eito e somente
no retorno fazem o desponte no chão. Para as outras
duas ruas do eito o procedimento é o mesmo.
Figura 1 - Corte do eito em “canudo”
Com esta estratégia, questões relativas ao des-
gaste físico do trabalhador estão sendo contempladas,
pois no corte em canudo as vantagens são as seguin-
tes: o trabalhador anda menos, transporta o peso de
sua mochila em distâncias menores e a organização da
cana cortada na 3ª rua é facilitada, já que o item “e”
do procedimento acima é cumprido.
Wisner (2004) salienta que em situações onde
existam dificuldades operacionais, os trabalhadores ado-
tam estratégias operacionais que resultam em soluções
felizes para dificuldades desconhecidas dos organizado-
res do trabalho.
Na mochila, o cortador de cana carrega desde
roupas, ferramentas, porta lima, marmita, até garra-
Figura 2. Gancho de madeira para manusear a cana cortada
Os trabalhadores preferem ter liberdade para
entrar no eito da cana, pois a postura a ser adotada
depende da condição que a cana se apresente (em
pé, deitada, enrolada, ou enraizada) e do local a ser
trabalhado, que pode ser no meio ou na beirada do
eito, em terreno plano ou em curva de nível.
fas de água. Os trabalhadores trazem a água congela-
da em uma garrafa que pesa cerca de dois quilos e vão
quebrando o gelo durante o dia para ter água mais
fresca para beber, pois a água fornecida pela empresa
esquenta. A fala de um trabalhador enfatiza o seguin-
te: a minha mochila deve pesar uns cinco ou seis quilos,
fora o garrafão de água.
O gancho de madeira (figura 2) é um instru-
mento que também facilita organizar a cana cortada
na 3ª rua do eito. Eles puxam a cana já cortada com o
gancho apresentado na figura abaixo.
O gancho acima permite que o trabalhador se
esforce menos, pois evita que o trabalhador faça a or-
ganização da cana apenas com os braços, ajudando na
organização da cana da rua cortada ao meio do eito.
Aqueles que não utilizam o gancho são obri-
gados a abraçar a cana para carregá-la e organizá-la.
Para proteger o braço que abraça e carrega a cana,
principalmente na cana crua, onde o joça (pequenos
pêlos da folha da cana) provoca muita coceira, o man-
gote é o artifício utilizado.
Os trabalhadores fazem o mangote com tecido
de algodão derivado de uma perna de calça usada; o
tecido em algodão é usado para facilitar a transpira-
ção.
Figura 3 - Mangote em Nylon com proteção no tronco
As empresas fornecem mangote com proteção
do tronco (figura acima) que, segundo os trabalhado-
res, não é confortável, pois dificulta os movimentos
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A normalização dos equipamentos de pro-teção individual
A Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, al-
tera o capítulo V do Título II da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), relativo à Segurança e Medicina
do Trabalho. A seção IV desta lei determina, no artigo
166, a obrigatoriedade do fornecimento gratuito dos
EPIs e a adequação ao risco, sempre que as medi-
das de ordem geral não ofereçam completa proteção
contra os riscos de acidentes e danos à saúde dos em-
pregados. O artigo 167 define que o equipamento só
pode ser posto à venda ou utilizado com a indicação
do Certificado de Aprovação (CA) do Ministério do
Trabalho.
A Norma Regulamentadora nº 6 define as obri-
gações do fabricante ou importador relacionadas ao
CA. É exigido o memorial descritivo do EPI, incluindo
as características técnicas, o material empregado e
a cópia autenticada do relatório de ensaios, emitido
por laboratórios credenciados ao Ministério do Tra-
balho e Emprego2. Os CAs devem ser renovados a
cada dois anos, e também podem ser cancelados se
for comprovado que as normas de fabricação defini-
das pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
não forem cumpridas.
necessários para o corte de cana e esquenta muito. O
uso apenas como protetor do braço dá ao trabalha-
dor mobilidade e facilita seu trabalho.
O relato de uma trabalhadora exemplifica os
problemas do mangote em nylon: não gosto de tra-
balhar com o mangote sujo, pois além de esquentar ele
endurece com a sacarose e a cinza na cana queimada,
principalmente quando abraço a cana para cortar e car-
regar até a 3ª rua do eito, por isto uso o mangote de
perna de calça.
Os resultados encontrados remetem a Dejours
(2008, p. 36): trabalhar é administrar os imprevistos,
prevenir os acidentes, as disfunções, as panes, os aci-
dentes etc.
No campo de normalização de equipamentos
de proteção individual, compreendendo vestimentas
e equipamentos individuais destinados à proteção de
pessoas contra riscos, tais como: proteção respirató-
ria, proteção auditiva, capacete de segurança, luvas
de segurança, óculos de segurança e cinturões de se-
gurança, no que concerne à terminologia, requisitos,
métodos de ensaio e generalidades é de responsabili-
dade do Comitê Brasileiro 32 da ABNT.
Os resultados dos ensaios exigidos pelas Nor-
mas da ABNT são encaminhados para o Ministério do
Trabalho e Emprego para que seja emitido o CA.
A exigência compulsória dos EPIs é feita atu-
almente pela Norma Regulamentadora de Segurança
e Saúde no Trabalho, na Agricultura, na Pecuária, na
Silvicultura, na Exploração Florestal e na Aqüicultura
– NR 31 (Ministério do Trabalho e Emprego, 2005), o
item 31.20.1.2 define que o empregador deve exigir
que os trabalhadores utilizem os EPIs e o item 31.3.4
define as obrigações dos trabalhadores cabe ao tra-
balhador: adotar as medidas de proteção determinadas
pelo empregador, em conformidade com esta Norma
Regulamentadora, sob pena de constituir ato faltoso a
recusa injustificada.
A agroindústria avaliada em 2001 tinha um co-
municado demonstrando que o não uso do equipa-
mento de proteção individual pode provocar a demis-
são por justa causa:
(...)a empresa preocupada com a integridade física de seus trabalhadores vem através deste informar que todos deverão usar seus equipamentos de pro-teção individual, reduzindo desta maneira a exposi-ção aos riscos de acidentes. Lembramos que o não cumprimento desta norma de segurança acarretará em: 1. advertência verbal; 2. advertência escrita; 3. suspensão por um dia; 4. suspensão por três dias; 5. desligamento por justa causa.
Improvisações no facão e na luva de proteção em raspa de couro
2 Os laboratórios credenciados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (2008), para executar os ensaios exigidos pelas normas da ABNT para os EPIs usados no corte manual da cana são: Laboratório de Controle de Qualidade, Centro de Tecnologia de Couro e do Calçado Albano franco - SENAI/PB; Laboratório de Controle de Qualida-de, Centro Tecnológico de Calçado – SENAI/RS; CIENTEC – Fundação de Ciência e Tecnologia/RS, Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Traba-lho – FUNDACENTRO/SP; CTCCA – Centro Tecnológico do Couro, Calçado e afins/RS, Instituto de Pesquisa Tecnológica (IPT) de Franca /SP.
Os cortadores devem executar seu trabalho
usando os seguintes EPIs: luva de proteção em raspa
de couro, óculos de proteção, sapato de segurança,
perneira e mangote.
Os EPIs geram inúmeros problemas na execu-
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GONZAGA, M. C.
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(2001) também destaca que quando as ferramentas escapam das mãos, por escorregar ou serem porta-das com falta de firmeza, elas podem causar lesões. Para prevenir que as luvas deslizem ou escapem é preciso aperfeiçoar as ferramentas.
Segundo os trabalhadores, outros fatores, que não são passíveis de improvisação, foram conside-rados na escolha da melhor luva de proteção, por exemplo: o dimensionamento das costuras internas das luvas, a maciez do material com que as mesmas são fabricadas e o tamanho, embora, para minimizar o efeito do tamanho inadequado, as trabalhadoras so-brepõem luvas para ajustá-las.
Os trabalhadores afirmam que: se o cabo do fa-cão fosse mais comprido eles não precisariam abaixar tanto para cortar a cana no chão; esta é a exigência b da tarefa do cortador, onde está estabelecido o se-guinte: o corte de base deve ser rente ao solo, não dei-xando toco nem soqueira, por se tratar da parte mais rica da cana.
Para este problema, nenhuma estratégia foi ob-servada.
ção do corte manual da cana: óculos de proteção que dificultam a visão, perneiras de proteção que lesio-nam os joelhos; entretanto, neste artigo iremos enfa-tizar o EPI e a ferramenta nos quais as improvisações se fizeram mais presentes.
O facão é o instrumento de trabalho utilizado para cortar a cana de açúcar.
Os trabalhadores desenvolvem mecanismos para viabilizar o seu uso: o cabo é afinado em dois centímetros pelas mulheres para conseguir segurar com maior firmeza e os nós do cabo do facão tam-bém são retirados, pois machucam as mãos.
O formato da lâmina do facão em ângulo reto também motiva mudanças: arredondar o formato da lâmina para evitar que a mesma penetre no solo com facilidade e dificulte o trabalho.
O emborrachamento do cabo do facão, para conseguir utilizar as luvas de proteção em raspa de cou-ro na mão em que segura o facão, foi a estratégia usa-da para minimizar o efeito da baixa aderência entre o cabo e a luva de raspa, o que gerava insegurança para os trabalhadores, já que com a luva de proteção em raspa de couro o facão pode escapar da mão. Ferreira et al. (1998, p. 32) apresentam um relato que comprova o fato de que o facão escapa da mão com o uso da luva de raspa de couro: tem muita gente que não acostuma com a luva, porque com a luva a gente tem que dar um golpe mais duro. Eu mesmo só uso a luva na mão que pego a cana. Porque na outra eu não consigo pegar o podão com a luva, o podão escapa.
A luva de segurança pode dificultar o manuseio seguro, interferindo na habilidade da manipulação e contribuindo para o aparecimento de problemas ós-teomusculares (FREIVALDS E TSAOUSIDIS, 1997; MURALIDHAR, 1999 et al).
Em 2003, foram testados quatro tipos de luvas de proteção: raspa de couro e metal, kevlar, algodão e borracha e raspa de couro e nylon. A luva esco-lhida pelo grupo de trabalhadores acompanhado em 2003 foi a raspa de couro e nylon, que não era a mais aderente ao cabo do facão, mas que permitia aos tra-balhadores se utilizarem da sua estratégia “emborra-chamento” do cabo de facão, que se mostrou muito efetiva. Gonzaga (2004) demonstrou que o emborra-chamento da madeira interferiu de forma significativa na aderência com as luvas novas ou usadas.
A Organização Internacional do Trabalho - OIT
Improvisações para o porta lima
O porta lima ou protetor de lima é o instru-mento usado para proteger a mão no procedimento da afiação da lâmina do facão. Foram avaliados dois tipos de porta lima: em plástico e em metal.
No porta lima em plástico existe uma ponteira articulada para que a lima não se solte. Esse instru-mento de trabalho exige adaptações para que o seu uso se torne mais seguro, visto que a lima fica solta neste protetor. A ponteira articulada na ponta do pro-tetor que serve para virar ou trocar a lima atrapalha a própria utilização do instrumento, pois ela engancha na lâmina do facão dificultando a amolação e o encai-xe da lima.A Figura 4 demonstra a porteira articulada do porta
lima que dificulta a sua utilização.
Figura 4. Porta lima em plástico
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As estratégias operacionais e improvisações usadas para cortar a cana-de-açúcar manualmente
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As estratégias observadas para viabilizar o uso
deste protetor foram as seguintes:
• retirada da ponteira articulada da ponta do protetor;
• encaixe de pano ou pedaço demadeira entre a
lima e o protetor, de forma que a lima fique presa.
O porta lima em metal também prejudica o tra-
balho; os motivos apresentados pelos trabalhadores
foram os seguintes: ele estraga a lima rapidamente,
porque o ferro do porta lima desgasta a lima na par-
te interna, é muito grande, pesado e desengonçado,
escorrega da mão com o suor, tem que fazer muita
força para amolar o facão.
Houve relatos sobre a insegurança que o porta
lima em metal provoca nos trabalhadores, já que um
trabalhador cortou a mão duas vezes ao utilizar este
protetor, o que gerou o relato de vários trabalhado-
res: prefiro ser punido por não usar o protetor, pois me
sinto inseguro ao afiar o facão com ele.
Os motivos esboçados para os dois modelos
de porta lima avaliados justificam o fato de inúmeros
cortadores improvisarem outros tipos de proteto-
res, por exemplo: encaixam um cabo de vassoura em
tubo de PVC onde se fixa a lima.
É pratica entre os trabalhadores encapar a lima
com papel ou com fita para protegê-la, evitando que
ela enferruje com o suor das mãos. Outra prática ob-
servada entre os cortadores é afiar o facão sem a luva
e o protetor de lima, justificando que desta forma se
sentem mais seguros.
Os procedimentos da ISO 9002 devem con-
templar as mudanças sugeridas pelos trabalhadores:
permitir a entrada lateral no eito da cana e o corte
em “canudo”. Essa recomendação está sendo feita
para facilitar o cumprimento da tarefa do cortador de
cana-de-açúcar.
Na emissão do Certificado de Aprovação para
os EPIs não é considerada a adequação à atividade re-
alizada e ao conforto dos trabalhadores, o que permi-
te que EPIs desconfortáveis e inadequados à atividade
adquiram o CA e sejam comercializados legalmente.
Recomendamos que, na emissão do CA, sejam consi-
CONCLUSÃO
derados o trabalhador e a atividade a ser executada.
A luva usada na mão que segura o feixe de cana
a ser cortado e despontado deve proteger contra o
risco de corte e perfuração. A luva usada na mão que
segura o facão deve permitir uma boa aderência com
o cabo da ferramenta, de modo que ele não escor-
regue e provoque acidentes, deve também permitir
uma boa movimentação da mão para que não haja
ferimentos.
As recomendações apresentadas acima já fo-
ram implementadas pelo Ministério do Trabalho, visto
que, alguns CAS emitidos nos anos de 2006 e 2007
diferenciam a luva da mão do facão da luva que pega a
cana, por exemplo: o CA 17.820 tem a seguinte des-
crição:
luva de segurança confeccionada em grafatex de poliéster na palma e face palmar dos dedos, dorso em material sintético com elástico para ajustes; mão direita (mão do facão) - palma e face palmar dos dedos com pigmentos em PVC antiderrapantes, po-legar em grafatex de poliéster, punho de 7 cm em malha de poliéster, mão esquerda (mão da cana) - dedos polegar e indicador em grafatex de poliéster com reforço em externo em grafatex de poliéster e fio de aço, punho de 15 cm em material sintético com elástico para ajustes (MTE, 2008).
O procedimento acima contempla o item
31.11.3 da NR31 (MTE, 2005) que descreve o se-
guinte: “os cabos das ferramentas devem permitir
boa aderência em qualquer situação de manuseio,
possuir formato que favoreça a adaptação à mão do
trabalhador”.
• queofacãodeveserfornecidocomcabocom-
patível ao tamanho das mãos dos trabalhadores;
• queaponteiraarticuladadoportalimaemplás-
tico deve ter um encaixe que prenda a lima com
segurança;
• quenãoseforneçaportalimaemmetal;
• queomangotefornecidosejaemalgodãopara
permitir a transpiração, com formato em que o
tronco fique livre, protegendo apenas o braço;
• quesejamfornecidosmaisdeummangotepara
permitir a lavagem dos mesmos.
Recomendamos também:
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GONZAGA, M. C.
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A criatividade, associada à habilidade dos tra-
balhadores de fato, transforma as condições de tra-
balho, tornando o corte manual da cana menos des-
gastante. Isto colabora com o cumprimento do item
31.10.1 da NR 31 (MTE, 2005) que determina “o em-
pregador rural ou equiparado deve adotar princípios
que visem à adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar melhorias de conforto e segu-
rança no trabalho”.
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
Marlene de Paula Pereira 1
Mestranda em Direito pelaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
A produção nacional de biodiesel tem provocado discus-
sões de diversas ordens. Neste artigo será abordado o aspecto da
sustentabilidade. Discute-se em que medida a produção do bio-
combustível ameaça a sustentabilidade social e ambiental, visto que
o aspecto econômico não deve ser o único a ser analisado.
The domestic production of biodiesel has led to discussions
of various orders. In this article, the aspect of the sustainability will
be addressed. It discusses the extent of the threat of the production
of biofuel to the social and environmental sustainability, considering
that the economic aspect is not the only one that has to be ana-
lyzed.
Production of biodiesel in Brazil: is there social and environmental sus-tainability?
RESUMO
ABSTRACT
Producción de biodiésel en Brasil: ¿existe la sostenabilidad social y am-biental?
Marlene de Paula Pereira Correspondência: Av. Santo Antonio, 115/404, Viçosa - MG- Brasil - CEP 36570-000. Endereço eletrônico: [email protected]
1
Keywords: biodiesel; environment; sustainnability.
Palavras-chave: biodiesel; meio ambiente; sustentabilidade
La producción nacional del biodiésel há llevado a discus-
siones de órdenes diversas. En este artículo vamos a abordar el
aspecto de la sostenibilidad. Se discute el grado en que la produc-
ción de de biocombustibiles amenaza la sostenabilidad social y am-
biental, puesto que el aspecto económico no es el únicoque debe
ser analizado.
RESUMEN
Palabras-claves: biodiesel; médio ambiente; sostenabilidad.
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INTRODUÇÃO
O aumento dos gases de efeito estufa, a redu-
ção da camada de ozônio, o aquecimento global, o
aumento do valor do barril de petróleo, guerras. Não
restam dúvidas: é necessário encontrar rapidamente
alternativas eficazes ao uso do combustível fóssil.
O petróleo é hoje utilizado em praticamente
todas as atividades humanas. Desde a produção ali-
mentar, passando pelos procedimentos da medicina,
sistemas de esgotos, tratamento de lixo, polícia, bom-
beiros, manutenção de estradas e consumo em geral.
O petróleo e seus derivados são também os maiores
responsáveis pela poluição atmosférica.
De acordo com estudos, a quantidade de pe-
tróleo no planeta poderia ser representada através de
uma curva sino, de tal modo que, entre os anos de
2020 e 2035, esta curva atingirá o seu pico, ou seja,
a partir daí, este recurso natural limitado tornar-se-á
escasso até acabar definitivamente (SANIVAR, 1997).
Em função da certeza da escassez do petróleo
e da necessidade de redução da emissão de poluentes
na atmosfera, países de todo o mundo têm buscado
desenvolver formas alternativas de energia que, ao
mesmo tempo, supram as necessidades do homem e
degradem menos o meio ambiente.
Nesse aspecto, o Brasil tem despontado como
um potencial produtor da chamada “energia limpa”,
haja vista que possui todos ou boa parte dos recursos
naturais apontados como os prováveis substitutos do
petróleo (água, vento, sol, grande extensão territorial
para produção de grãos), além de ter em sua geogra-
fia grandes vantagens agronômicas, por situar-se em
uma região tropical, com altas taxas de luminosidade
e temperaturas médias anuais, possuir disponibilidade
hídrica e regularidade de chuvas, e contar ainda com
centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia
reconhecidos internacionalmente.
Dentre as alternativas aos combustíveis deriva-
dos de petróleo, um deles tem merecido destaque
no cenário nacional e internacional, em razão da ca-
pacidade de produzir resultados eficazes. Trata-se do
biodiesel, um combustível fabricado a partir de fontes
renováveis (soja, milho, girassol, mamona), que pode
ser usado em carros e em qualquer outro motor a
diesel.
Em países como Alemanha, França e Estados
Unidos o uso do biodiesel é uma realidade. A Alema-
nha é responsável por mais da metade da produção
européia desses combustíveis e conta com centenas
de postos que vendem o biodiesel puro, com plena
garantia dos fabricantes dos veículos.
No Brasil, as pesquisas sobre biodiesel vêm
sendo desenvolvidas há cerca de cinqüenta anos. O
país é detentor da primeira patente mundial sobre
este biocombustível, registrada nos anos oitenta,
mas, apesar disso, a produção ainda é pequena.
Nos últimos anos o governo brasileiro tem
investido em pesquisas e programas para produção
e desenvolvimento do biodiesel. No final do ano de
2004, foi lançado, oficialmente, o Programa Nacio-
nal de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB. A Lei
11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabeleceu os per-
centuais de biodiesel que devem ser misturados ao
óleo diesel e o prazo para que tal mistura seja feita.
A principal vantagem apontada para a produção
do biodiesel em escala comercial é que isto permitirá
uma economia de divisas pelo Brasil, pois reduzirá a
dependência das importações de petróleo, asseguran-
do o suprimento interno, além de representar grande
potencial de exportação haja vista que o Brasil apre-
senta condições para tornar-se um dos maiores pro-
dutores de biodiesel do mundo. Ademais, a utilização
de um combustível renovável melhorará as condições
ambientais e, consequentemente, a qualidade de vida
da população, reduzindo gastos com a saúde.
Além do aspecto econômico e do ambiental,
existe ainda o aspecto social. Espera-se que a necessi-
dade de aumento da produção de grãos para a fabri-
cação do biodiesel funcione como forma de inclusão
social, pois as formas de financiamento e a cobrança
de impostos incentivam os fabricantes a adquirir a
matéria-prima dos agricultores familiares, o que, por
outro lado, poderá fazer com que estes obtenham
melhores condições de vida plantando grãos e ven-
dendo para os produtores de biodiesel.
A preocupação em desenvolver alternativas ao
uso de petróleo já foi observada em outros momen-
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
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37
tos da história brasileira. O PROÁLCOOL - Programa
Nacional do Álcool - definido em novembro de 1975
e acelerado a partir de 1979, corresponde à primeira
tentativa do governo brasileiro no que diz respeito
ao desenvolvimento de fontes alternativas de energia
líquida. Por este programa, pretendeu-se, inicialmen-
te, produzir álcool para misturar à gasolina e, poste-
riormente, introduzir o uso comercial do álcool puro
como combustível.
Atualmente, em função do interesse domésti-
co e internacional que o biodiesel tem gerado, muitas
questões que foram debatidas a respeito do PROÁL-
COOL voltam a ser discutidas em razão da semelhan-
ça entre os dois programas. Algumas destas questões
são: Quais serão os efeitos na produção de alimentos?
Como e até que ponto haverá inclusão social? Quais
as conseqüências da produção de grãos em larga es-
cala em relação à biodiversidade? Como compatibi-
lizar desenvolvimento industrial e econômico com
preservação ambiental?
O presente trabalho tem por objetivo discutir a
viabilidade social e ambiental da produção de biodie-
sel no Brasil tendo como diretriz a sustentabilidade.
Pretende-se demonstrar que se a produção não for
sustentável em todos os aspectos o custo social e am-
biental superará os benefícios.
Notícia histórica e características do biodiesel
O aproveitamento de óleos vegetais como ma-
téria-prima para combustíveis não é uma experiência
nova. No ano 1900, Rudolph Diesel apresentou um
protótipo de motor na Exposição Universal de Paris,
que foi acionado com óleo de amendoim, cultura que,
à época, era muito difundida nas colônias francesas na
África. No entanto, a abundância da oferta de petró-
leo e o seu preço acessível, determinaram que, nos
anos seguintes, os derivados do petróleo fossem os
combustíveis preferidos, reservando-se os óleos ve-
getais para outros usos (KNOTHE, 2001).
Por outra parte, havia dificuldade para se ob-
ter uma boa combustão por meio dos óleos vegetais,
em função da elevada viscosidade que apresentavam,
fato que impedia uma adequada injeção nos motores.
O combustível de origem vegetal deixava depósitos
de carbono nos cilindros e nos injetores, requerendo
uma manutenção intensiva. A pesquisa realizada para
resolver esses problemas conduziu à descoberta da
transesterificação, um processo de produção paten-
teado pelo cientista belga G. Chavane, em 1937, e
que consiste na quebra da molécula do óleo, com a
separação da glicerina e a recombinação dos ácidos
graxos com álcool. Este tratamento permitiu superar
as dificuldades com a combustão (KNOTHE, 2001).
A reação do óleo com o álcool dá origem a um éster
monoalquílico do óleo vegetal, cuja molécula apre-
senta muita semelhança com as moléculas dos deriva-
dos do petróleo. O rendimento térmico deste novo
combustível, posteriormente chamado de biodiesel,
é de 95% em relação ao do óleo diesel. Os primeiros
a utilizar a denominação de biodiesel para esses com-
bustíveis foram os pesquisadores chineses, em 1988
(KNOTHE, 2001).
Estima-se que atualmente na Europa circulem
mais de dois milhões de veículos movidos a biodiesel,
produzidos a partir de óleo de colza. Existem postos
de fornecimento na Alemanha, Áustria e França. Os
Estados Unidos também produzem e utilizam o pro-
duto a partir do óleo de soja.
No Brasil a produção ainda é incipiente, sendo
a maior parte baseada em experiências com plantas-
piloto, embora o país tenha sido pioneiro em pesqui-
sas sobre biodiesel com os trabalhos do professor
Expedito Parente, da Universidade Federal do Ceará,
autor da patente PI-8007957, primeira patente, em
termos mundiais, do biodiesel e do querosene vegetal
de aviação, mas já de domínio público.
A escassez de petróleo estimulou a realização
de diversos estudos que aconselharam a utilização
de biocombustíveis como substitutos do combustível
diesel. A cada ano o consumo aumenta e as reservas
diminuem. Além do problema físico, há o problema
político: a cada ameaça de guerra ou crise internacio-
nal, o preço do barril de petróleo dispara. Além disso,
a queima de derivados de petróleo contribui para o
aquecimento do clima global por elevar os níveis de
CO2 na atmosfera (para cada 3,8 litros de gasolina
que um automóvel queima, são liberados 10 kg de
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CO2 na atmosfera) (PNPUB, 2007).
O biodiesel pode ser utilizado em motores a
diesel, em misturas ou puro. Por ser biodegradável,
não-tóxico e praticamente livre de enxofre e aditivos
aromáticos, o biodiesel é considerado um combustí-
vel ecológico. Suas emissões são isentas de compos-
tos sulfurados, substâncias tóxicas e cancerígenas, re-
duzindo em 90% as emissões de fumaça, eliminando
praticamente as emissões de óxido de enxofre. Com-
parado ao óleo diesel derivado de petróleo, o biodie-
sel puro reduz em até 78% as emissões de gás carbô-
nico; também possui um índice de cetano maior que
o do óleo diesel, garantindo uma melhor combustão
e, conseqüentemente, a diminuição de poluentes (As
desvantagens do Biodiesel).
Foi adotada uma nomenclatura mundial para
identificar a concentração do biodiesel na mistura. É
o biodiesel BXX, onde XX é a percentagem em vo-
lume de adição de biodiesel à mistura. Por exemplo:
B2, B5, B20 e B100, são combustíveis com uma con-
centração de 2, 5, 20 e 100% de biodiesel, respecti-
vamente (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007).
Embora relevante que o biodiesel promova
uma redução das principais emissões associadas ao
derivado de petróleo, vale ressaltar que existe uma
exceção notável. Trata-se dos óxidos de nitrogênio
(NOx). Vários estudos demonstram o aumento das
emissões de NOx quando o biodiesel é utilizado. O
incremento observado nas emissões deste poluente
não é elevado, mas deve ser considerado porque este
é um dos principais precursores de ozônio troposfé-
rico que atualmente é um dos maiores responsáveis
pela baixa qualidade do ar nas maiores cidades brasi-
leiras (BIOCOMBUSTÍVEL, acesso em 2007).
Quanto às matérias-primas mais promissoras
para produção de biodiesel, estudos da Empresa Bra-
sileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) men-
cionam a soja para as regiões Sul, Sudeste e Centro-
Oeste; a mamona para o Nordeste e o dendê para a
região Amazônica. Outros vegetais como o girassol,
o amendoim, as palmáceas e o pinhão manso tam-
bém têm sido considerados. Alguns estudos apontam
perspectivas para a produção do biocombustível a
partir de óleos e gorduras residuais (OGR).
A mamoneira (Ricinus communis L) é uma es-
pécie de oleaginosa cuja produção ocorre em quase
todas as zonas tropicais e subtropicais do mundo, in-
dependente da qualidade do solo (SOUSA, 2005).
Durante anos, o Brasil foi considerado o maior
produtor mundial de mamona e exportador do seu
óleo. No entanto essa posição vem sendo ocupada
atualmente pela Índia, seguida da China, sendo o Bra-
sil o terceiro produtor mundial de mamona. Em nível
nacional, a maior produção concentra-se nos estados
da Bahia, com 83% de toda produção do país no ano
de 2004, Mato Grosso, com cerca de 6%, e o Ceará,
com uma participação de 5% (IBGE, 2005). No nor-
deste brasileiro há aproximadamente 45 milhões de
hectares de terras agronomicamente aptas ao cultivo
da mamona (SOUSA, 2005).
Da mamona pode-se extrair o óleo, que é o
principal produto industrializado. A aplicação do óleo
é feita em diversos segmentos da indústria química,
tais como: cosméticos, lubrificantes para motores de
alta rotação, carburantes de motores a diesel e como
fluido hidráulico em aeronaves (SOUSA, 2005).
Diante de características como teor de óleo,
utilização para produção de bens não alimentícios,
precocidade da colheita, solubilidade em etanol e ge-
ração de emprego, a mamona tem-se mostrado uma
matéria-prima alternativa para produção de biodiesel
e com potencial de competitividade.
Percebe-se, no entanto, que a produção bra-
sileira de mamona vem decrescendo anualmente a
uma taxa de 6,18%, 1970 a 2004, diferentemente do
dendê, que vem crescendo, 1970 a 2003, a uma taxa
de 10,4% a.a.
Portanto, a produção de biodiesel a partir des-
sa matéria-prima dependerá da ampliação da área
plantada para suprir essa nova demanda.
O pinhão manso (Jatropha curcas L) é uma
planta arbustiva da família das Euphorbiáceas, possi-
velmente originária da América, que ocorre de forma
espontânea em diversos estados do Brasil. No pas-
sado, o pinhão manso já foi cultivado em pequena
escala em alguns países, inclusive no Brasil, mas atual-
mente é uma cultura de pequena expressão mundial.
É encontrado vegetando de forma espontânea, mas
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Produção de biodiesel no Brasil: existe sustentabilidade social e ambiental?
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também em cercas-vivas ou próximo a residências,
onde tem valor folclórico ou de aplicações medicinais
(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
Com o advento do Programa Brasileiro de
Biodiesel, o pinhão manso foi incluído como uma al-
ternativa para fornecimento de matéria-prima. Esta
escolha baseia-se na expectativa de que essa planta
possua alta produtividade de óleo, tenha baixo custo
de produção, por ser perene, e seja extremamente
resistente ao estresse hídrico, o que seria uma vanta-
gem significativa principalmente na região semi-árida
do país (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
No entanto, o incentivo ao plantio do pinhão
manso em extensas áreas tem gerado preocupação
aos técnicos agrícolas brasileiros, pois, segundo eles,
trata-se de uma cultura sobre a qual o conhecimento
técnico é extremamente limitado (SEVERINO, GON-
ÇALVES E EGUIA, 2006).
Em observações preliminares que estão sendo
feitas em lavouras cultivadas em diversas regiões do
Brasil, nota-se que a planta é muito atacada por doen-
ças e pragas e a maturação dos frutos é desuniforme,
obrigando os produtores a realizar inúmeras passa-
gens na lavoura durante a fase de produção, o que
pode aumentar significativamente os custos de pro-
dução (SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
Outro problema apontado é a falta de opções
de venda. Possivelmente, o produtor ficaria destimu-
lado sabendo que não encontraria outro mercado
para o produto além da indústria de extração (SEVE-
RINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006).
A discussão a respeito da viabilidade do pinhão
manso para a produção de biodiesel deixa clara a ne-
cessidade de realização de mais pesquisas sobre esta
cultura para que as atividades possam chegar a resul-
tados definitivos.
Com relação à utilização de OGRs (Óleos e
Gorduras Residuais) oriundos de frituras como ma-
téria-prima para a produção de biodiesel, trata-se de
assunto que tem sido bastante estudado especialmen-
te quanto à sua viabilidade técnica e econômica.
Não havendo legislação sobre como e quando
deve ser efetuada a troca do óleo em restaurantes e
estabelecimentos em geral, a troca segue um critério
particular e, por esta razão, é difícil estimar o volume
de OGR que é descartado (SEVERINO, GONÇAL-
VES E EGUIA, 2006).
A produção de biodiesel a partir desta matéria-
prima enfrenta problemas de viabilidade econômica,
haja vista que o litro de óleo acaba custando bastante
caro ao produtor de combustível. Segundo Luciano
Hocevar (ANO e incluir na bibliografia), os fatores
que geram o alto custo do produto são os seguintes
(SEVERINO, GONÇALVES E EGUIA, 2006):
1. Existe um mercado para aquisição de óleo usa-
do que destina o produto à reciclagem, como,
por exemplo, a produção de sabão;
2. Há pouca margem de negociação na compra
de OGR, já que a referência de cada estabeleci-
mento é o preço de compra do óleo ou gordura
novos e a granel, produto que não tem diminuí-
do o preço;
3. O produto tem que ser transportado separado
dos outros, pois os locais de coleta – normal-
mente lixeiras – são sujos;
4. Há necessidade de força física para a movimen-
tação dos recipientes dos locais de coleta para
os veículos de transporte e destes para os de-
pósitos, pois cada recipiente pesa até 120 qui-
los, sendo sua movimentação manual;
5. A rede de coleta é micro-pulverizada, com
grande número de pontos e pequeno volume
em cada ponto. Segundo Hocevar, um típico
ponto de coleta fornece em média 60 litros de
OGR ao mês, o que significa cerca de 3 mil pon-
tos de coleta para um volume de 180 mil litros
de OGR bruto ao mês, volume que, após a eli-
minação de água e impurezas, cai para 120 mil
litros.
Assim, problemas de logística e de custo da
matéria-prima fazem com que o biodiesel a partir de
óleo usado não seja produzido comercialmente.
Insustentabilidade: a ameaça de desmatamen-to e a insegurança alimentar
Apesar de as vantagens do biodiesel serem am-
plamente divulgadas, algumas desvantagens também
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são observadas em relação à produção deste com-
bustível. A primeira delas refere-se ao custo da pro-
dução, que é bastante elevado. Os custos de produ-
ção do biodiesel dependem essencialmente do custo
da matéria-prima e dos custos de processamento
industrial. É reconhecido internacionalmente que o
biodiesel, atualmente, não é competitivo em relação
ao óleo diesel, sem que haja fortes incentivos fiscais.
O litro de biodiesel custa cerca de uma e meia a três
vezes mais do que o litro de óleo diesel.
Outro aspecto relevante são os grandes volu-
mes de glicerina, subproduto do biodiesel, que serão
gerados e que só poderão ter mercado a preços mui-
to baixos, pois o uso deste produto ainda é bastante
restrito, limitando-se basicamente à indústria cosmé-
tica e de fármacos.
Porém, os aspectos que mais têm despertado
preocupações e que configuram o tema central des-
te trabalho relacionam-se à sustentabilidade ambien-
tal e à segurança alimentar. Sabe-se que a segurança
alimentar depende não apenas da existência de um
sistema que garanta, presentemente, a produção, a
distribuição e o consumo de alimentos em quantidade
e qualidade adequadas, mas que também não venha
a comprometer a mesma capacidade futura de pro-
dução, distribuição e consumo. A agricultura, como
é concebida nos padrões convencionais, gera dois ti-
pos de ameaça à sua sustentabilidade. A primeira se
dá através da intensificação da atividade agrícola, pela
adoção de práticas monocultoras e de uso excessivo
de insumos químicos e mecanização pesada. A se-
gunda ocorre pela grande exploração dos recursos
naturais e pela mobilização de ecossistemas extrema-
mente frágeis (MALUF e MENEZES, 2006). Então,
questiona-se: a utilização de grandes extensões de
terra e outros recursos naturais para plantio de grãos
a serem utilizados pela indústria produtora de com-
bustível pode gerar insegurança alimentar no país?
De acordo com o relatório da Organização
das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO), publicado em maio de 2007, a utilização de
cereais como matéria-prima na produção de bioe-
nergia deve evitar os cultivos que necessitam de alto
fornecimento de energia fóssil, como os fertilizantes
tradicionais e as terras de trabalho de qualidade que
apresentam baixo rendimento energético por hec-
tare. O mesmo relatório ressalta que a utilização de
cultivos vegetais como matéria-prima para a bioener-
gia pode ameaçar o abastecimento alimentar huma-
no, uma vez que a terra, a água e outros recursos dei-
xam de ser aplicados na produção alimentar. Neste
contexto, o acesso aos alimentos pode também estar
ameaçado pelo conseqüente aumento do preço de
alimentos de primeira necessidade.
A este respeito, vale mencionar a posição de-
fendida por Jean Ziegler, relator especial da ONU so-
bre o direito à alimentação, de acordo com o qual
a expansão indiscriminada dos cultivos destinados à
produção de biocombustíveis no Brasil é uma ameaça
ao direito à alimentação das camadas mais pobres da
população.
Ziegler apresentou um relatório em 25 de ou-
tubro de 2007 no qual pediu que se aplicasse uma
moratória de cinco anos à produção de biocombustí-
veis a partir das colheitas. Ele afirma que a produção
de biocombustíveis deve ocasionar um aumento no
preço dos alimentos e colocar em risco a segurança
alimentar para os mais pobres. Conforme o relatório
de Ziegler, para cada 1% de aumento real no preço
dos alimentos, o contingente de pessoas subalimen-
tadas no planeta é acrescido em 16 milhões (IHU,
2008).
Além de Ziegler, entidades do movimento so-
cioambientalista brasileiro concordam com esta posi-
ção. Segundo o Greenpace, a esse fator de pressão à
produção de alimentos somam-se outros como, por
exemplo, o aumento do consumo em países emer-
gentes com grande população, como a China e a Índia
(IHU, 2008).
Entretanto, esta posição não representa una-
nimidade, sendo contestada inclusive pelo governo
brasileiro que, na Conferência da FAO realizada em
outubro de 2008, defendeu inexistir concorrência
entre a produção de biocombustíveis e a produção
de alimentos no Brasil. Segundo o governo, a área
plantada com oleaginosas no Brasil ainda é muito pe-
quena e tem todas as condições de se expandir sem
ameaçar a produção de alimentos. Além disso, argu-
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menta-se que 80% da soja colhida no país é destinada
à alimentação e 20% à produção de óleo. O desen-
volvimento de novas tecnologias produtivas também
é apontado como um fator que permitirá a expansão
da área plantada para a produção de biocombustíveis
sem que isso coloque em xeque a produção de ali-
mentos no país (THUSWOHL, 2008).
Para evitar problemas de insegurança alimen-
tar, a FAO sugere um conjunto de salvaguardas in-
dissociáveis dos programas regionais de agroenergia,
dentre elas:
1. Zoneamento rural para impedir que a agroener-
gia desaloje lavouras destinadas à alimentação
humana;
2. Aperfeiçoamento dos contratos ao longo da ca-
deia produtiva; garantia dos direitos sociais, es-
pecialmente direitos trabalhistas, no campo;
3. Expansão da pesquisa e assistência técnica e do
cooperativismo, de modo a garantir a participa-
ção dos pequenos produtores também na gera-
ção de agroenergia e não apenas como ofertante
de matérias-primas.
Além destas, o relator da ONU também apon-
tou a necessidade de se acelerar as pesquisas para o
desenvolvimento de biocombustíveis de segunda ge-
ração, sintetizados a partir de resíduos provenientes
de plantas não-alimentícias e outros rejeitos agroin-
dustriais.
No entanto, parece claro que conseqüências
maléficas só ocorrerão se os produtores deixarem
de produzir alimentos para, no lugar, produzir grãos
para a indústria energética, em função dos incentivos
ou do preço de venda. Se, ao contrário, o cultivo dos
grãos ocorrer nas terras agricultáveis ainda não culti-
vadas e, ainda, se junto com o cultivo de grão for rea-
lizado o plantio consorciado de um alimento, a oferta
de alimentos poderá até aumentar.
Sobre este assunto, segue o comentário de
José Graziano da Silva, representante regional da
FAO para América Latina e Caribe (VALOR ECONÔ-
MICO, 2007):
Não se pode atribuir à agroenergia a ori-
gem de desequilíbrios sociais e ambientais que já
marcam a vida atual. Vale dizer que hoje pratica-
mente metade (49%) das terras agricultáveis do
mundo não são cultivadas ou são utilizadas como
pastagens naturais extensivas. Os biocombustíveis
líquidos demandam atualmente apenas 14 milhões
de hectares em todo o mundo e oferecem em tro-
ca 1% do abastecimento mundial de energia para
transporte. Para atender a meta mais ambiciosa de
mistura de biodiesel ao óleo diesel (25%), estima-
se que 20% das terras agricultáveis teriam que ser
destinadas a essa finalidade. Mas essa área poderia
diminuir significativamente com as inovações tec-
nológicas em curso. Tudo converge para a consta-
tação de que a capacidade produtiva potencial no
século XXI excede, de longe, o consumo neces-
sário, ou seja, a fome, em nosso tempo, tem cada
vez menos a ver com a produção e cada vez mais
com as desigualdades no acesso aos alimentos. É
isso que explica que um bilhão de seres humanos
- 20% da população mundial - continue a enfren-
tar condições de pobreza extrema, e o que é mais
grave: um em cada quatro deles na América Latina,
principal região produtora de alimentos do plane-
ta.(SILVA, 2007).
No contexto atual em que está organizada a
produção de alimentos, muldialmente, a compatibili-
zação da sustentabilidade com a segurança alimentar
é um desafio cercado de dificuldades, mas também
carregada de muitas oportunidades. A necessidade de
manter a oferta de alimentos em condições de aten-
der milhões de consumidores em cada país traduz a
maior dessas dificuldades. A FAO propõe a intensifi-
cação da produção com diversificação, mas sua viabi-
lidade parece duvidosa já que a intensificação se faz a
partir da especialização e da dependência crescente
dos insumos industriais.
O melhor caminho na busca de um sistema
alimentar sustentável parece ser o fortalecimento da
agricultura familiar ou camponesa, enquanto forma-
ção social mais adequada para garantir a segurança
alimentar em condições sustentáveis. Isto devido às
próprias características que lhes são inerentes. De
um lado, por a sua identificação com modelos pro-
dutivos que dão ênfase à diversificação da produção.
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Por outro lado, pela maior mobilidade para diferentes
destinações do resultado de seu trabalho, podendo
variar entre os extremos de depender exclusivamen-
te de fontes externas do mercado ou recuar até o
completo auto-abastecimento.
Além da insegurança alimentar ou insustentabi-
lidade social, existe o outro lado da moeda caracte-
rizado pela degradação de grandes áreas para plantio
dos grãos. Trata-se da (in) sustentabilidade ambiental.
O uso comercial do biodiesel e, portanto, a
produção do combustível em grande escala imporá
um aumento da produção de grãos. O plantio das ole-
aginosas, especialmente a soja, requer a disponibilida-
de de grandes extensões de terra. Sabe-se que atu-
almente no Brasil o cultivo de soja e dendê, mesmo
ainda não destinados à produção do biodiesel, está
invadindo as florestas tropicais e ameaçando a biodi-
versidade. Calcula-se então que, uma vez implantada
a produção do combustível em escala industrial, a de-
manda pelos grãos aumentará; ocorrerá uma valori-
zação dos mesmos de modo que os produtores se
sentirão incentivados a desmatar para produzir mais
e vender aos fabricantes de combustível. Em outras
palavras, pode-se dizer, então, que a produção de
biodiesel representa uma ameaça à sustentabilidade
ambiental.
Atualmente, cerca de 40% das florestas do pla-
neta já desapareceram. No Brasil, foram desmatados
26.130 km² de florestas na Amazônia Brasileira entre
agosto de 2003 e agosto de 2004, segundo as estima-
tivas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. O
estado do Mato Grosso é o líder de desmatamento da
floresta amazônica brasileira (Relatório do Desmata-
mento na Amazônia 2003/2004).
Sabe-se que florestas destruídas nem sempre
significam terras adequadas para atividades agrícolas e
pecuárias. Se a terra não for bem manejada, ela pode
se tornar infértil rapidamente. Quando convertidas
em terras para lavoura, as florestas permanecem fér-
teis por poucos anos. Estas terras que vão se tornan-
do inférteis vão sendo abandonadas e, então, outras
áreas de floresta têm de ser destruídas e o processo
se repete.
A remoção da camada que cobre o solo da
floresta gera sérios efeitos colaterais. As florestas
são diretamente responsáveis pelas chuvas, pois as
gigantescas árvores absorvem grande parte da água,
devolvendo-a lentamente ao meio ambiente sob for-
ma de umidade. A devastação da floresta, reduzindo a
quantidade de chuva na região, pode levar a um pro-
cesso de desertificação. Desprovido de sua cobertura
vegetal, o solo fica mais vulnerável à erosão (Relatório
do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).
A destruição das florestas tem também graves
conseqüências em escala mundial. As florestas tropi-
cais ajudam a regular os padrões climáticos globais.
Fenômenos como ciclos de chuvas desregulados e
o aumento de dióxido de carbono na atmosfera são
possíveis resultados do desmatamento registrado. A
devastação pode levar a um aquecimento generaliza-
do da atmosfera, conhecido por “efeito estufa” que,
por sua vez, acelera o derretimento das calotas pola-
res e contribui para a elevação do nível do mar (Re-
latório do Desmatamento na Amazônia 2003/2004).
Uma vez destruída, a floresta não pode ser
plenamente recuperada. Mesmo removendo apenas
as árvores maiores, o frágil ecossistema florestal não
resiste. Com a destruição de uma floresta, comunida-
des inteiras de plantas e animais ficam perdidas, mui-
tas das quais de valor incomensurável.
Além da extinção de espécies animais e vege-
tais, a destruição de florestas tem por conseqüência o
deslocamento das populações nativas e o desapareci-
mento de conhecimentos tradicionais, reconhecidos
pela própria ciência moderna pelo seu valor econô-
mico e cultural.
O desmatamento é maior na região centro-
oeste do Brasil, especialmente no estado de Mato
Grosso, considerado o epicentro do cultivo de soja
no país. Economicamente, a soja tem-se mostrado o
vegetal mais viável para a produção de combustível,
razão pela qual esta oleaginosa tem sido preferida pe-
los investidores do setor.
A utilização da soja como matéria-prima base
para a produção de biodiesel tem conseqüências
importantes, principalmente após a divulgação dos
resultados de um estudo coordenado pelo Instituto
Socioambiental (ISA), que demonstra que o plantio
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de soja provoca, tanto direta como indiretamente, a
derrubada das matas (FBOMS, 2004/2005).
Este estudo contrapõe-se a outro realiza-
do pelo Instituto de Pesquisa Econômica Avançada
(IPEA), em 2004, que afirma que a soja não ameaça
a floresta amazônica (IPEA, 2007). De acordo a pes-
quisa do IPEA, há uma espécie de simbiose entre o
setor sojicultor e o pecuarista, de modo que o último
arrenda as terras para o primeiro em troca de sacas
de grãos e o retorno das propriedades com melhora
na qualidade do solo. O principal argumento utilizado
neste estudo é o de que não haveria tempo hábil para
converter floresta primária em área de cultivo (IPEA,
2007). Esse estudo afirma ainda que o cultivo do grão
avançou principalmente sobre pastagens degradadas
e não sobre áreas virgens e defende o asfaltamento
da BR 163 para escoar a produção de grãos das regi-
ões norte e centro-oeste. Para os técnicos do IPEA, a
soja na região da floresta amazônica aumenta o custo
da terra e afasta da região os agricultores, madeirei-
ros e pecuaristas que, sem recursos tecnológicos e
infra-estrutura, são os verdadeiros responsáveis pela
derrubada da mata (IPEA, 2007).
No entanto, segundo os técnicos do ISA, ao
concluir que as plantações de soja avançam sobre
áreas de pastagem degradadas e não sobre floresta
o estudo do IPEA não leva em conta a situação exis-
tente no norte do estado do Mato Grosso, onde, de
acordo com dados do governo federal, é o local em
que o desmatamento atingiu índices recordes nos úl-
timos anos. O IPEA tampouco utiliza dados do Insti-
tuto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), uma das
maiores referências no monitoramento por imagens
de satélite, a respeito do ritmo e rumo dos desmata-
mentos no Brasil (IPEA, 2007).
O levantamento coordenado pelo ISA demons-
tra que, de fato, a soja ocupa áreas antes utilizadas
como pasto. Mas, ao fazê-lo, empurra o gado para
novas fronteiras, ampliando as áreas desmatadas. Ou
seja, a expansão da área cultivada com soja provoca o
desmatamento de áreas de floresta amazônica e cer-
rado, tanto direta como indiretamente.
Nos últimos quatro anos, o Brasil emitiu, a par-
tir do desmatamento, 996 milhões de toneladas de
carbono. Entre agosto de 2005 e agosto de 2006, o
desflorestamento na Amazônia foi responsável por
mais de 60% do total de nossas emissões. Alguns
cientistas acreditam que os gases, com efeito, estufa
liberados na produção dos biocombustíveis podem
anular os benefícios trazidos pelos mesmos.
CONCLUSÃODe todo o exposto, pode-se concluir que é pos-
sível alcançar o desenvolvimento sustentável através da
produção de bioenergia, mas para isto não basta que a
matéria-prima utilizada seja natural. A sustentabilidade
envolve vários aspectos. O processo de produção deve
ser economicamente viável, além de ser social e am-
bientalmente sustentável.
A produção de biocombustível baseada no des-
matamento de matas e florestas, uso intensivo da agri-
cultura de extensão, uso excessivo de fertilizantes e de
sementes geneticamente modificadas, contraria a idéia
de desenvolvimento limpo e pode resultar em elevados
custos sociais e ecológicos. A superação de tais carac-
terísticas e a busca de maior eficiência e qualidade sob
padrões não socialmente excludentes tornam-se, então,
elementos cruciais. Nesta direção podem atuar os pro-
gramas de reforma agrária e de fortalecimento da agri-
cultura familiar e das comunidades indígenas, a regulari-
zação das relações de trabalho no campo e a previdência
social rural, a revisão do pacote tecnológico, as alterna-
tivas de agroindustrialização de pequena e média escala,
o aprimoramento do pequeno varejo, etc.
Faz-se necessário uma agricultura que seja pro-
dutiva sem destruir as bases naturais da produção, que
seja geradora de mais e melhores empregos e promo-
vam a apropriação mais justa e equilibrada do território
(PÁDUA, 2002).
Para implementar este paradigma, a agricultura
familiar vem sendo valorizada e reconhecida por muitos
especialistas como um espaço privilegiado. Este concei-
to foi inserido na Lei 11.097, que tem como um de seus
objetivos a geração de renda e a fixação do homem no
campo. Mas, além da lei, são necessárias políticas sociais,
econômicas e fiscais que estimulem o desenvolvimento
desta agricultura familiar de base agroecológica.
Por outro lado, é importante também reco-
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nhecer o lugar da agricultura empresarial neste pro-
cesso. O setor empresarial deve ser fiscalizado para
respeitar os direitos trabalhistas no campo, aprovei-
tar e treinar mais mão-de-obra, diminuir ao máximo
o impacto negativo sobre os recursos naturais e ado-
tar uma postura de crescimento vertical da produtivi-
dade, com base em técnicas adaptadas às condições
ecológicas da região, ao invés de insistir no cresci-
mento horizontal predatório herdado do passado
(PÁDUA, 2002).
É essencial que seja realizado o zoneamento
econômico-ecológico distinguindo-se as terras im-
próprias para a agricultura ou mesmo para outros
usos, as terras de uso restrito e aquelas mais indica-
das para o cultivo. Deve haver ainda a concessão de
estímulos (preços de suporte, crédito agrícola, etc.)
para aqueles que adotam tecnologias benignas ou de
recuperação ambiental, incentivando-se um modelo
agrícola de base agroecológica. O combustível pro-
duzido em conformidade com as normas ambientais
e trabalhistas deve receber uma certificação. Órgãos
competentes devem se encarregar de exercer a fis-
calização e a certificação, de forma séria e criteriosa,
para que o produto obtenha credibilidade no merca-
do nacional e internacional.
A produção de biocombustível à custa do des-
matamento traduz déficit na relação custo/benefício,
pois os gases que deixarão de ser emitidos com o uso
do biocombustível serão incorporados à atmosfera
durante as queimadas, sem contar que as árvores
destruídas deixarão de realizar a função de seqüestro
de gás carbônico, ampliando o efeito estufa e contri-
buindo para as alterações climáticas.
Por fim, deve-se ressaltar a necessidade de in-
centivar a economia de energia e o uso consciente
dos combustíveis. O fato de o biodiesel ser produzido
a partir de um recurso natural não viabiliza o seu uso
irracional. Toda atividade humana implica em danos
ambientais, em maior ou menor grau, além disso, a
maior economia de energia ocorre quando ela não é
utilizada, ou seja, a produção de biocombustível não
dispensa os investimentos em educação ambiental e o
incentivo à redução do consumo, que poderá ocorrer,
por exemplo, com a disponibilização de transporte
coletivo de qualidade (movido a biodiesel, inclusive).
Planejamento e estratégia de desenvolvimento
serão determinantes. Produzir com precaução, qua-
lidade e regularidade pode ser muito mais vantajoso
do que produzir com velocidade. É importante esti-
mular uma articulação harmônica entre padrões de
produção, consumo e sociabilidade presentes nos
espaços urbanos e rurais. Estimular políticas públicas
de gestão territorial que promovam uma apropriação
mais equilibrada do espaço geográfico, diminuindo a
desigualdade entre regiões e classes, estimulando um
revigoramento demográfico e sócio-econômico do
meio rural e garantindo a continuidade das fontes de
água e biodiversidade que constituem a grande rique-
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A construção de uma ideologia para a produção alcooleira no Brasil: 1889-19451
Roberta Barros Meira2
Doutoranda em História Econômica pelaUniversidade de São Paulo – USP
Este trabalho pretende contribuir para a análise sobre o desenvol-vimento da indústria alcooleira desde a Primeira República. Nosso enfoque principal será o processo de construção de uma ideologia traçada em torno desse novo produto, visto como a solução para a crise de superprodução do açúcar. Nesse caso, enfatizaremos o trabalho de seus principais ideólogos, a Sociedade Nacional da Agri-cultura e o Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por fim, o período 1930-45 foi analisado, uma vez que defendemos que o Primeiro Governo Vargas, por meio do Instituto do Açúcar e do Álcool, apenas colocaria em prática as idéias defendidas no período anterior.
Palavras-Chave: Indústria alcooleira; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministé-rio da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
The construction of an ideology for the alcohol production in Brazil: 1889-1945
O presente artigo representa parte de uma pes-quisa ainda inconclusa de doutorado em História Econômica (FFLCH-USP), financiada pela Fapesp.Roberta Barros Meira. – Correspondência: Avenida Professor Mello Morais 1235 bloco G apto. 410, Butantã - São Paulo SP – Brasil - CEP - 05508-030. Endereço eletrônico: [email protected]
1
2
RESUMO
This work intends to contribute for the analyses on the ethanol in-dustry since the First Republic. Our main purpose will be to under-stand the process of building an ideology based on this new prod-uct, seen as the solution to the crisis of overproduction of sugar. In this case, our emphasis will be on the work of its main ideologists, the Sociedade Nacional da Agricultura and the Ministério da Agri-cultura, Indústria e Comércio. Finally, the period 1930-45 has been examined because we defend that the First Government Vargas, through the Instituto do Açúcar e do Álcool, only puts into practice the ideas defended the previous period.
Keywords: Ethanol industry; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministério da Ag-ricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
ABSTRACT
RESUMEN
La construcción de una ideología para la producción de alcohol de Brasil: 1889-1945
Este trabajo pretende contribuir para el análisis sobre el desarrollo de la industria alcoholera desde la Primera República. Nuestro objetivo principal será de comprender el proceso de cons-trucción de una ideología basada en este nuevo producto, conside-rado como la solución a la crisis de sobreproducción de azúcar. En este caso, nuestro principal énfasis será la labor de sus principales ideólogos, la Sociedade Nacional da Agricultura y el Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Por último, el período compren-dido entre 1930-45 ha sido examinado, porque defendemos que el Primer Gobierno de Vargas, por Instituto do Açúcar e do Álcool, sólo puso en práctica las ideas defendidas en el período anterior.
Palabras-claves: Industria alcoholera; Sociedade Nacional da Agricultura; Ministé-rio da Agricultura, Indústria e Comércio; Instituto do Açúcar e do Álcool.
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INTRODUÇÃO
As tentativas de utilização do álcool como
combustível em automóveis iniciaram-se no final do
século XIX, na Europa. Devido à crise que assolava
a produção açucareira mundial, rapidamente a idéia
foi adotada pelos principais países produtores. No
final do Império, a indústria alcooleira ainda não se
sobressaia como forma de minimizar a crise do açú-
car brasileiro, uma vez que o principal problema era
a modernização do setor. Ademais, nesse período, a
venda de álcool, rum e melaço não chegava a atingir
um quinto da comercialização do açúcar em si (Eisen-
berg, 1977, p. 53).
Em verdade, essas tentativas de modernização
culminaram na implantação do sistema de engenhos
centrais e a sua substituição pelas usinas, na Primei-
ra República. Releva notar que as usinas herdariam as
inovações tecnológicas oriundas da malograda tenta-
tiva de introdução dos engenhos centrais, apesar do
retorno do velho sistema de produção colonial, no
qual o usineiro detém o controle da produção indus-
trial e agrícola., herdaria as inovações tecnológicas
oriundas da malograda tentativa de introdução dos
engenhos centrais.
Sobre tudo isso, acrescenta-se o fato de que
com a perda definitiva do mercado externo, a pro-
dução açucareira, na Primeira República, voltar-se-ia
para o abastecimento interno. Nesse momento, a
produção Nordestina, destinada desde os seus pri-
mórdios para o mercado externo, foi obrigada a esco-
rar-se no consumo interno. E há que se ter em conta
que o crescimento econômico do Sudeste transfor-
maria essa região na principal consumidora. Dessa
forma, surgiram grupos de grandes comerciantes e
refinadores que passaram a manipular as relações en-
tre a produção, os estoques e o consumo e acirraram
a disputa entre os produtores de açúcar, aprofundan-
do, ainda mais, a crise de superprodução.
Em meio a essa tumultuosa crise, surgiram as
primeiras defesas de que o desenvolvimento da indús-
tria alcooleira seria a saída para a crise de superpro-
dução, uma vez que para ela podiam ser destinados
todos os excessos. Esse pensamento, não desprezível
entre os representantes do setor, é encontrado, já em
1902, na defesa de Quintimo Bocayuva (Rio de Janei-
ro, 1902, p. 72):
(...) para o álcool estão voltadas as esperan-
ças da lavoura da cana e fundamentalmente na mi-
nha opinião. (...) A excessiva produção do açúcar
tinha de acompanhar forçosamente a fabricação
de álcool.
Mas deve-se levar em conta que nesse mo-
mento o maquinário ainda era precário e seriam ne-
cessários ainda muitos estudos para o aperfeiçoamen-
to do novo combustível. Não se pode desconsiderar
que o Estado teria um papel fundamental na divulga-
ção do álcool. A principal defensora e divulgadora do
álcool era a Sociedade Nacional da Agricultura, que
controlou durante todo o período o Ministério da
Agricultura, Indústria e Comércio. Assim, nos Con-
gressos e Conferências organizados pela Sociedade e
depois pelo MAIC, a utilização do álcool passou a ser
defendida como um substitutivo para a gasolina, para
a indústria farmacêutica, para a iluminação e outras
diversas atividades.
Os benefícios do álcool também seriam bastan-
te divulgados na Europa. A Alemanha, produtora de
álcool de batata, criou uma central de propaganda e
venda do álcool em 1899. Como incentivo foram do-
ados lampiões às principais cidades e administrações
como forma de disseminar o papel do álcool na ilumi-
nação. E, já no final do século XIX, tiveram início na
Alemanha e na França experiências para a utilização
do álcool em automóveis (Morelli, 1920, p. 53).
Certamente os interesses da agricultura de
exportação tornar-se-iam cada vez mais importantes
com a hegemonia política dos cafeicultores. No en-
tanto, os incentivos para a produção voltada para o
mercado interno começaram a ser discutidas pelos
setores contrários à dominação da política do café
com leite. Ademais, devido às oscilações do preço
do café com a crise de superprodução, os próprios
cafeicultores passaram a defender a necessidade de
diversificar a produção, ou seja, a policultura.
Com esse intento, as políticas governamentais
começaram a criar as bases para a construção de um
parque alcooleiro no país. No período, foram vários
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os decretos visando incentivar o uso do álcool para
fins indústrias. Exemplos ilustrativos dessa ação go-
vernamental foram: o decreto nº. 4812, de 1º abril de
1903, pela qual o Governo concedeu um crédito de
50:000$000 para o Ministério da Indústria, Viação e
Obras Públicas auxiliar ou promover um concurso ou
exposição de aparelhos destinados às aplicações in-
dustriais, a fim de vulgarizar o álcool por todo o país;
e o decreto nº. 4977, de 22 de setembro de 1903,
que atribuiu uma quantia de 150.000$000 para au-
xiliar a Exposição Industrial de Aparelhos a Álcool, a
ser realizada em outubro de 1903, no Rio de Janeiro,
sob o patrocínio da Sociedade Nacional da Agricultu-
ra (Conselho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).
As várias funções do álcool serviram como
a sua principal propaganda e como forma de os
seus defensores cobrarem diferentes medidas
legislativas para assegurar cada uma dessas no-
vas aplicações. Como não poderia deixar de ser,
esse modo de pensar era constantemente alar-
deado pelos seus defensores (Rio de Janeiro,
1902, p.73).
O seu emprego como combustível, como
elemento de força motriz e força iluminante, abriu
um novo e largo horizonte a esse produto que
pode ser, - sobretudo no nosso país e com grandes
vantagens para as populações do interior -, o suce-
dâneo ao petróleo e de todos os óleos destinados
à iluminação das casas e das povoações.
No Brasil, a principal forma de divulgar os be-
nefícios da indústria alcooleira foram as diversas ex-
posições realizadas pela SNA e pelo MAIC. Nesse
quadro, destaca-se a Exposição Industrial de Apare-
lhos a Álcool. Essa exposição foi dividida em várias
secções, de acordo com as principais funções que o
álcool poderia desempenhar. A primeira secção vol-
tou-se para o emprego do álcool nos vários tipos de
motores, sendo, assim, subdividida em motores fixos,
locomoveis, automóveis, carburantes e motores para
navegação; a segunda secção tencionava incentivar a
utilização de aparelhos para iluminação e foi separada
em duas secções: a de lâmpadas que queimam com o
álcool puro e a de lâmpadas de gaseificação; a terceira
secção tratava dos aparelhos para aquecimento e a
quarta e última secção buscava difundir os pequenos
aparelhos de fabricação e retificação do álcool (Con-
selho Nacional do Petróleo, 1978, p. 57-58).
Pela análise dos pontos defendidos nessas ex-
posições, é possível comparar os principais avanços
da indústria alcooleira. Assim, percebe-se que no I
Congresso de Aplicações Industriais do Álcool, em
outubro de 1903, foram delineadas as primeiras con-
clusões sobre a utilização do álcool como solução
para a crise de produção açucareira. O Congresso
traçou as principais diretrizes a serem seguidas nos
próximos anos para o desenvolvimento da produção
alcooleira no país. Estabeleceu como objetivo princi-
pal de seus trabalhos: promover a prosperidade da
lavoura de cana pela vulgarização das aplicações in-
dustriais do álcool. Ademais, entendia e proclamava
que o estado precário dessa lavoura era oriundo da
situação do mercado, quer para o açúcar, em virtude
da barreira que o excesso de similar impusera à sua
exportação, quer para o álcool, pelas restrições im-
postas no país à sua propagação durante os últimos
anos corridos (IAA, 1941, p. 277-278).
Por reconhecer a dificuldade e a lentidão de
ampliar o mercado de açúcar, no país ou no exterior,
o Congresso julgava que a vulgarização das aplicações
do álcool de cana, como agente de luz, calor e for-
ça motriz, dilatando rapidamente o consumo desse
produto, prestaria ao açúcar nacional, o necessário
amparo, o que permitiria equilibrar a produção de
ambos com o respectivo consumo e garantir-lhe-ia
remuneradores preços, resolvendo desse modo a
crise da lavoura de cana.
Por último, os representantes do setor concluí-
ram que a Exposição Internacional de Aparelhos a Ál-
cool demonstrou a conveniência e superior vantagem
das mais variadas aplicações desse líquido em substi-
tuição de seus concorrentes como agentes de luz, ca-
lor e força mecânica. Para o Congresso, os lavradores
de cana e os poderes públicos da União e de todos os
Estados da República deveriam fazer convergir maio-
res esforços para: vulgarizar as aplicações industriais
do álcool, ampliar a sua produção e baratear o seu
custo (IAA, 1941, p. 277-278).
A SNA e o MAIC tentavam demonstrar que a
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sua defesa da importância do álcool não era tão des-
cabida assim. Tudo se tentava na persistente busca
de uma saída para a crise de superprodução. Embora
ainda não fosse produzido em larga escala, percebiae-
se a luta para obter a expansão da produção do álco-
ol. Nesse sentido, no Primeiro Congresso Brasileiro
de Carvão e outros Combustíveis Nacionais foram
apontadas novas medidas para o incremento da pro-
dução alcooleira, perpassando por diversos medidas
como, por exemplo: o desenvolvimento do ensino
de fabricação cientifica do álcool, especialmente em
escolas e instituições, tanto oficiais como particula-
res; favores do transporte e a circulação do álcool
industrial e, especialmente, do álcool combustível e,
também, dos aparelhos e motores que o empregam
exclusivamente; a criação, em ordem sucessiva de co-
operativas centrais de álcool, na capital da República e
nos estados produtores mais importantes; e a criação
de uma sobretaxa especial para a aguardente, cuja
renda reverteria às cooperativas centrais que estabe-
lecessem prêmios em favor dos agricultores, a fim de
ser conseguido o barateamento do álcool industrial
(Brasil, 1922, p. 48).
Essas cooperativas deveriam realizar a monta-
gem de institutos de fermentação, de grandes destila-
rias centrais, de instalações para desnaturar o álcool,
de aparelhagem para fabricar o material de acondi-
cionamento e, bem assim, a aquisição e emprego de
tonéis, tanques e vagões destinados ao depósito e
transporte do álcool (Primeiro Congresso Brasileiro
de Carvão e outros Combustíveis Nacionais. Rio de
Janeiro: outubro/novembro de1922).
Desde o início da divulgação do álcool com-
bustível, um ponto negativo para o aumento do seu
consumo era a dificuldade de adaptação dos motores
dos automóveis. Releva notar que foram freqüentes,
no período, acusações de que o álcool corroia e res-
secava os motores.
Dizia-se que o álcool, ressecando horrivel-
mente as máquinas e, ainda, intumescendo os cilin-
dros com fuligem, a ponto até de fazer voar pelos
ares os tampões, deveria ser condenado; o seu uso
arriscava a vida humana à destruição por estilhaços
de carcaças. As corrosões e inutilizações das má-
quinas pelo ataque ao metal; a perfuração dos tan-
ques e canalizações e outros danos representavam
sério prejuízo e anulariam qualquer vantagem que
pudesse haver, de ordem econômica, pelo uso do
moderno combustível (Belo Lisboa, 1942, p. 41).
Ocorre que se encontravam em desenvolvi-
mento as primeiras pesquisas de adaptação do novo
combustível, qual seja, a melhor mistura de álcool
e gasolina, como forma de tornar viável a utilização
do produto em motores originalmente fabricados
para a gasolina. Somente assim, naturalmente, seria
possível a circulação de carros com essa mistura car-
burante. No entanto, os apontamentos de Sanchez
Gondora, técnico da SNA, afirmavam que essa pés-
sima fama do álcool seria conseqüência da má von-
tade e desconhecimento técnico dos proprietários
de automóveis:
Os insucessos têm sido devido a várias cau-
sas das quais não foi a menor a má vontade dos
condutores de automóveis que com o emprego do
álcool ‘in natura’ tinham que procurar modificar as
condições de carburetação; sua ignorância por um
lado e seu comodismo por outro emprestavam ao
problema proporções exageradas. Daí nascia a fá-
bula do ‘ressecamento dos motores’ e do estrago
conseqüente (Gondora, 1923, p. 497).
Apesar de a defesa do técnico da viabilidade
do álcool e de novas pesquisas tentarem resolver os
freqüentes problemas advindos da utilização das mis-
turas à base de álcool motor, as críticas continuaram a
serem feitas. Assim, só no Governo Vargas adotar-se-
ia, oficialmente, a obrigatoriedade da mistura de 5%
de álcool anidro à gasolina importada.
Na década de 1910, a produção alcançou 30
milhões de litros de álcool e 100 milhões de litros
de aguardente. Mais de 90% do álcool fabricado
era oriundo do melaço (Szmrecsányi, 1979, p. 62).
Apesar disso, o dobro dessa quantidade poderia ser
fabricado se houvesse consumo. Porém, a falta de
mercado e o preço inviabilizavam os investimentos
dos usineiros em destilarias. Assim, nessa década e na
subseqüente, as políticas voltadas para o álcool foram
relegadas para um segundo plano. Além dos fatores
elencados no parágrafo acima, ocorreu uma recupe-
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ração dos usineiros do Nordeste e de sua influência
política com o controle momentâneo dos preços dos
mercados açucareiros do sudeste. Ademais, a Primei-
ra Guerra aumentou as exportações, favorecendo o
apoio à produção do açúcar em si mesma (Guima-
rães, 1991, p. 45 e Santos, 1997, p. 11).
Outro fator que inviabilizaria um maior incre-
mento do álcool motor era a existência de um nú-
mero muito pequeno de automóveis no Brasil até a
década de 1920 e, por conseguinte, a quase inexpres-
siva importação de gasolina pelo Brasil. Tal quadro,
no entanto, começou a mudar com as dificuldades
encontradas para a importação de petróleo durante a
Primeira Guerra Mundial. A partir desse momento, a
necessidade de encontrar um combustível alternativo
começava a ser uma necessidade premente. Em 1916,
o Brasil comprou 22,4 milhões de litros de gasolina e,
em 1917, somente conseguiria adquirir 17,7 milhões.
Por outro lado, no período Pós-Guerra surgiram es-
peculações sobre o término do petróleo mundial. Es-
sas divagações sobre o fim eminente do petróleo, no
momento em que ocorria um grande crescimento da
indústria automobilística, começaram a preocupar os
países importadores de gasolina. No Brasil, tal con-
texto levou o deputado federal Geminiano Lyra Cas-
tro, vice-presidente da SNA, a defender a criação de
um Instituto do Álcool no Ministério da Agricultura
(Dé Carli, 1979, p. 99-101 e Santos, 1997, p. 1-18).
Assim mesmo, a produção de álcool combus-
tível era incentivada pelo crescimento da indústria
automobilística no país, principalmente após 1920.
Em 1922, o país já possuía 40.390, passando para
220.914 automóveis em 1929. Em 1930, somente
o estado de São Paulo consumiu 140 milhões de
litros de gasolina, no valor aproximado de 140.000
contos de réis Acompanhando essa demanda, a
produção de álcool aumentou de 3.542.624 litros
em 1921, para 70.321.900 litros, em 1929. (San-
tos, 1997, p. 18) Em 1930, o álcool já era defini-
do pelo Vice-Presidente do estado de São Paulo,
Heitor Teixeira Penteado, como a nova válvula re-
gularizadora do mercado açucareiro, pois as suas
aplicações eram numerosas. Porém, para isso seria
necessário:
(...) para que esta industrialização do álco-
ol como motor possa alcançar o desejado êxito,
torna-se necessário remover certos obstáculos de
ordem fiscal, facilitar o seu transporte e o seu co-
mércio, e intensificar a sua fiscalização (São Paulo,
1930, p. 38).
Em 1922, no Terceiro Congresso Nacional de
Agricultura e Pecuária, vê-se facilmente que a ques-
tão do álcool combustível assumia proporções maio-
res, uma vez que ocorreu uma expansão da demanda
pelo produto no mercado interno. Nesse caso, o pa-
pel do Governo seria crucial, visto que os congres-
sistas defendiam a transformação do álcool em um
produto de utilidade pública e de interesse nacional.
Afora isso, o Estado deveria facilitar o seu transporte
com a compra de vagões-tanque, a construção dos
primeiros centros de consumo, de armazéns ligados
às estradas de ferro, o aprimoramento do estudo e
do ensino de técnicas para a fabricação do álcool, fi-
nanciamentos para a modernização das salas de fer-
mentação e incentivos para a criação de fábricas de
éter, etc. (IAA, 1949, p. 82-95).
Percebe-se pelos objetivos apontados nesses
congressos que os usineiros acreditavam ser impres-
cindível para o desenvolvimento da indústria alcoolei-
ra o apoio estatal. Essa política de incentivos deveria
ser ampla e abranger o controle da política de preços,
tributária, tarifaria, de transporte e, principalmente,
de financiamentos para a introdução do maquinário
necessário para a montagem do parque alcooleiro.
À vista de todo o exposto, percebe-se que,
apesar da produção alcooleira não ter se sobressaído
nesse período, a propaganda conjunta do MAIC e da
SNA firmou a ideologia do álcool como o combus-
tível nacional, posto que, além de controlar a crise
de superprodução e recuperar a decadente indústria
açucareira nacional, substituiria a gasolina como o
principal combustível para motores de explosão.
Como aponta o Sr. Heitor Teixeira Penteado,
para que essa indústria tomasse o impulso necessário
seriam necessárias certas medidas por parte do Es-
tado. E foi esse pensamento, de modo geral, que foi
adotado no Pós 30, pelos principais dirigentes do Go-
verno. Nesse caso, destaca-se o decreto n.º 19.717,
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de 20 de fevereiro de 1931, a obrigatoriedade da mis-
tura de 5% de álcool em toda a gasolina importada.
Art. 1º. – A partir de 1 de julho do corrente
ano, o pagamento dos direitos de importação da
gasolina somente poderá ser efetuado, depois de
ter feito a prova de haver o importador adquiri-
do, para adicionar à mesma medida de álcool de
procedência nacional, na proporção mínima de
5% sobre a qualidade de gasolina que pretender
despachar, calculada em álcool a 100%. Até 1º
de julho de 1932, tolerar-se-á a aquisição de ál-
cool de grau não inferior a 96 Gay Lussac a 15º
C., tornando-se obrigatória, dessa data em diante,
a aquisição de álcool absoluto (anidro) (Velloso,
1952, p. 7).
Além disso, esse decreto estabeleceu que os
automóveis a serviço da União, Estados e Municípios
deveriam utilizar álcool ou, na falta deste, um carbu-
rante com pelo menos 10% de álcool. As estradas de
ferro também só poderiam cobrar um frete inferior a
50% do estabelecido para a gasolina e os automóveis
de carga ou de passageiros com motores de com-
pressão um para seis, teriam um abatimento de 20%
sobre os direitos de importação.
Como a intenção era claramente incentivar a
produção alcooleira, em 4 de agosto de 1931, o Es-
tado criaria a Comissão de Estudos sobre o Álcool-
Motor. Caberia à CEAM receber todas as reclama-
ções, petições e sugestões referentes à questão do
álcool, além de, propor medidas para o desenvolvi-
mento dessa produção. Essa Comissão seria compos-
ta tão-somente por representantes do Ministério da
Agricultura, da Fazenda e do Trabalho, Indústria e Co-
mércio, não contando com a participação de repre-
sentantes dos produtores de açúcar e fornecedores.
Essa organização administrativa pode ser considerada
como um demonstrativo da centralização, por parte
do Governo Federal, da produção alcooleira no país
(Velloso, 1952, p. 43-44).
Para tanto, os próprios representantes do
Governo legitimaram as suas ações utilizando-se do
ideário defendido tradicionalmente desde a Primeira
República, isto é, o incremento da indústria alcooleira
seria o principal meio para debelar a crise de super-
produção e diminuir os gastos com a importação de
gasolina. Essa visão pode ser encontrada nos apon-
tamentos de um dos presidentes do IAA, Gileno Dé
Carli:
Ocorrerá, fatalmente, portanto, o aumento
da matéria prima. Impossibilitado de produzir açú-
car, abre-se-nos o caminho da fundação de um gi-
gantesco parque industrial para álcool anidro. Rota
acertada. Diretiva econômica lógica. Conseqüên-
cia: - gradativa nacionalização do combustível e se-
gurança absoluta dos justos preços do açúcar. (...)
O Brasil, em matéria de combustível, é um país co-
lônia. Andamos arrastando cifras fantásticas, para
transformação em movimento, em circulação, em
força. Porém, nem sempre é motivo de orgulho a
ostentação nas colunas de importação, de núme-
ros astronômicos (Dé Carli, 1942, p. 46).
É preciso não esquecer que o grande cres-
cimento populacional, como ocorreu em São
Paulo, impulsionado principalmente pela imigra-
ção, aumentaria os gastos do país com a impor-
tação de gasolina. Em torno dessas idéias estava
o desenvolvimento de pesquisas a muito financia-
das pelo Governo, tanto para aperfeiçoar o car-
burante nacional como para justificar a sua su-
premacia frente a outros produtos. Assim, já em
1931, o chefe do Serviço Geológico do Ministé-
rio da Agricultura, Luiz Flores de Morais Rego, na
conferência organizada pela SNA, afirmava que
dentre os recursos brasileiros em carburantes de
substituição:
o álcool, derivado da indústria do açúcar
e futuramente extraído de outros produtos ve-
getais por processos modernos, é incontestavel-
mente o produto nacional mais apto ao empre-
go intensivo como carburante de substituição.
Diversas razões concorreram para tanto: a
multiplicidade de fontes capazes de produzi-lo,
espalhadas por todo o país; a facilidade de inten-
sificação imediata de sua produção pela indús-
tria açucareira, com melhor aproveitamento dos
melaços e aumento de rendimento da fermen-
tação, e pelo tratamento por processos moder-
nos de outros produtos vegetais e, finalmente, a
possibilidade de obtê-lo por preço muito baixo
pelo fator de aperfeiçoamento dos processos de
fabricação (Rego, 1931, p. 72).
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Uma vez superadas as primeiras dificuldades
técnicas de utilização do álcool, o Governo tentaria in-
centivar a iniciativa privada a investir na indústria alco-
oleira. Assim, estabeleceu um premio de 50:000$000
para a primeira destilaria produtora de álcool anidro
construída no país. Porém, o elevado custo de mon-
tagem de uma destilaria que orçava no período em
torno de Rs 2.000:000$000, acabaria desestimulando
os produtores. Aliás, nenhuma destilaria seria cons-
truída. O próprio Governo criaria casualmente um
dos principais empecilhos, uma vez que, pelo decreto
n.º 22.008, o preço do álcool foi fixado em Rs1$000 o
litro, - inviável para o produtor.
Dessa forma, o Governo tomaria como uns
dos seus fins específicos a transformação dos exces-
sos de açúcar em álcool. Para isso, designaria a CPDA
e o CEAM. Malgrado os esforços, nenhuma dessas
Comissões conseguiu desenvolver a indústria alcoo-
leira. Releva notar que, uma das últimas medidas da
CPDA, a fim de incentivar a produção alcooleira no
país, foi conceder uma verba de Rs 2.400:000$000,
como forma de auxiliar na montagem do parque in-
dustrial alcooleiro.
Porém, é incontestável que essa e as outras
medidas implantadas pelo órgão foram insuficientes
para debelar a crise de superprodução açucareira
através do direcionamento dos seus excessos para a
produção alcooleira. É importante acentuar que es-
sas medidas só seriam eficazes em longo prazo, isto
é, com o desenvolvimento do parque alcooleiro. No
entanto, a julgar pelas amostras iniciais da atuação da
CPDA, pode-se dizer que foi somente com a criação
do Instituto do Açúcar e do Álcool que se iniciou o
efetivo planejamento da produção alcooleira no Bra-
sil (Guimarães, 1991, 63-65 e Szmrecsányi, 1979, p.
176-178).
Para além desses aspectos, cabe também
apontar a imaturidade dessas primeiras medidas.
Acreditamos que um dos principais pontos de en-
trave das políticas implementadas pela CEAM e pela
CPDA tiveram pouca eficácia por tratar separada-
mente o problema do açúcar e do álcool. O que fez
supor a assertiva de nossa hipótese foram os dizeres
de um dos presidentes do Instituto do Açúcar e do
Álcool, Autarquia sucessora dessas Comissões, Gile-
no Dé Carli:
Reunia o Governo os dois problemas – o do
açúcar e o do álcool – que até então se estudavam
e se encaminhavam separadamente. E essa fusão
deu ensejo a criar uma feliz situação para a indús-
tria açucareira do Brasil, pois que, sendo um país
de economia nitidamente agrária, não foi obrigado
a reduzir os seus canaviais. Aliás, a limitação açu-
careira, entre nós, têm um sentido “sui generis”,
pois, como veremos, não se diminui e produção.
Ela foi simplesmente estabilizada. Não houve sa-
crifícios profundos. Coibía-se somente que a am-
bição de maiores e crescentes lucros levassem o
produtor a aumentar progressivamente suas safras
(Dé Carli, 1942, p. 28-29).
Por outro lado, o IAA incentivaria muito mais a
política de desenvolvimento do álcool-motor do que
o açúcar em si. Para nós, tal fato relaciona-se a pró-
pria visão do álcool como alternativa para a produção
açucareira ou, ainda, uma forma de controlar a crise
de superprodução e diminuir os gastos com combus-
tíveis. Em relação a isso, Moacyr Soares Pereira, já
destacava, em 1942, que:
o Governo já incentivava a produção alcoo-
leira antes de cuidar de proteger a do açúcar. No
caso do álcool, tão pouco, a intervenção revestia-
se do caráter de defesa. O que se visava em pri-
meiro lugar era ajudar a balança comercial do país,
restringindo as importações. Diante do colapso de
nossa exportação arrastada para baixo, principal-
mente pela queda do café (Pereira, 1942, p. 10).
Esse discurso seria efetivado no próprio Esta-
tuto de criação do Instituto do Açúcar e do Álcool que
justificaria a atuação do Estado em relação ao álcool
devido às assertivas anteriores e à própria expansão
do mercado desse produto.
Considerando que, desde as medidas iniciais,
de emergência e preparatórias, sempre se considerou
que a solução integral e a mais conveniente à econo-
mia nacional para as dificuldades da indústria açucarei-
ra, está em derivar para o fabrico do álcool industrial
uma parte crescente das matérias-primas utilizadas
para a produção de açúcar. (...) considerando que o
consumo de álcool industrial oferece um mercado
cada vez maior, com possibilidades quase ilimitadas
(Velloso, 1952, p. 85).
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O Estatuto de criação do IAA ilustra o alto grau
de controle que o IAA teria sobre a produção alcoo-
leira. Vale ainda ressaltar que devido à complexidade
do assunto, o Instituto criaria uma Secção para cuidar
das questões especificas da produção alcooleira, - a
Secção do Álcool-Motor -. Assim, essa Secção cuida-
ria do:recebimento do álcool destinado à mistu-
ra, entrega da parte pertencente às companhias e
empresas importadoras de gasolina, preparação e
venda do novo carburante para as repartições pú-
blicas e distribuição por todos os centros de con-
sumo (IAA, 1942, p. 323).Essa Secção era responsável por todas as ope-
rações relativas ao álcool, estipuladas anualmente nos
planos de safra elaborados pela Comissão Executiva.
Não por acaso, inicialmente, as suas funções se res-
tringiram principalmente para a produção e comer-
cialização do álcool-anidro resultante de sua mistura
à gasolina. Assim, tão-somente com o advento da Se-
gunda Guerra Mundial, passaria a abranger também
o controle da produção e da distribuição do álcool
hidratado. Foi graças a essa Secção que o Instituto
conseguiu implementar a política de difusão do em-
prego do álcool-motor nos automóveis oficiais e par-
ticulares, o que acabou minando as resistência iniciais
ao consumo do álcool-motor (Szmrecsányi, 1979, p.
227-228).
Diante dos diagnósticos apresentados acerca
do agravamento da crise do setor açucareiro, em
1932, o Governo implementaria uma forte campa-
nha para a divulgação do álcool-motor, chegando a
autorizar misturas contendo 60% de álcool de baixa
qualidade com 40% de gasolina. Além disso, para in-
centivar o consumo, o preço da mistura foi fixado em
$875,00 em concorrência aos 1$100 cobrados pela
gasolina na Capital Federal. Não por acaso, a incidên-
cia de variação da percentagem das misturas de re-
gião para região era o principal problema relatado no
período. Tal fato é perceptível quando comparamos
as misturas utilizadas em Pernambuco e no Distrito
Federal. Enquanto no primeiro estado, a mistura era
composta de 94% de álcool hidratado, no segundo
caso, o álcool representava somente 10,2% (Truda,
1937, p. 97).
Claro está que um dos primeiros problemas
sérios que o IAA deveria resolver era a questão do
aperfeiçoamento da mistura carburante, para que
não houvesse problemas de danificação dos moto-
res. Essa parte ficaria a cargo do Instituto Nacional de
Tecnologia. Em relação a esse aspecto, o seu diretor
Ernesto Lopes da Fonseca Costa, em setembro de
1934, discorre em seu relatório para a Presidência do
IAA:
As experiências realizadas na França e na
Alemanha, tendo por base a natureza da gasolina
e os tipos de motor e carburador comumente uti-
lizados nesses países, levaram os respectivos go-
vernos a fixar o carburante álcool-gasolina na pro-
porção de perto de 25% de álcool anidro e 75%
de gasolina. As experiências realizadas na América
do Norte confirmaram, porém, esses resultados,
ou porque fosse diferente a gasolina empregada
ou porque fossem diversos os tipos de motor ou
carburador. Era imprescindível, por conseguinte,
que o Instituto Nacional de Tecnologia procuras-
se resolver, diretamente o assunto, estabelecen-
do, de modo sistemático, ensaios sobre todos os
tipos de mistura com as diferentes gasolinas que
vêm ao nosso mercado e o maior número possível
de motores, antigos e modernos de forma a ob-
ter conscientemente, a melhor fórmula da mistura
carburante a ser utilizada no país (Brasil açucarei-
ro, 1934, p. 13).
Vale ainda ressaltar, nesse estudo, a própria
conclusão do Instituto. Segundo o IAA, as vantagens
dessa mistura era a resistência a detonação, devido
ao valor anti detonante do álcool. Além disso, a me-
lhoria do índice de octana sobre a própria gasolina
pura, a potência do motor permanece praticamente
constante, apesar do maior poder calorífico da mis-
tura, maior aceleração e consumo praticamente igual
ao da gasolina pura. As experiências que levaram a
percentagem ideal de álcool em carros com motores
a gasolina foram relatadas pelo engenheiro Eduardo
Sabino de Oliveira:
As experiências por nós executadas nos
laboratórios do Instituto Nacional de Tecnologia
mostraram que, embora várias marcas de motores
aceitem misturas de percentagem relativamen-
te elevadas de álcool (25%) devido à riqueza da
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mistura fornecida pelos respectivos carburadores,
há vários outros motores que não aceitam senão
percentagens reduzidas, notadamente os moto-
res Ford 1934 e La Salle 1934, que não toleram
mais que 10% de álcool anidro sem necessidade
de regulagem da carburação. Assim sendo, a mis-
tura está fixada: 90% de gasolina e 10% de álcool
anidro (Oliveira, 1942, p. 28).
O IAA teria um sucesso maior ao diversificar
os incentivos à produção alcooleira, como na atuação
paralela de incentivar as destilarias privadas e cons-
truir destilarias estatais. Dessa forma, a primeira des-
tilaria privada montada com incentivos do Instituto
foi construída em Piracicaba e pertencia à Société de
Sucreries Brésiliennes. A sua capacidade inicial seria de
12.000 litros, mas, em 1933, já produzia 100.000 li-
tros de álcool anidro. O Instituto também construiria
duas destilarias centrais, uma em Campos e outra em
Pernambuco.
O projeto inicial era construir três destilarias
centrais localizadas nos estados de Pernambuco, Rio
de Janeiro e São Paulo. Porém, só as destilarias cen-
trais dos dois primeiros estados seriam construídas,
porque os produtores paulistas preferiram o apoio do
IAA para dotar cada usina individualmente de destila-
rias particulares. Porém, os produtores ainda manti-
nham certo receio em relação à produção de álcool
anidro, principalmente porque, o preço do açúcar era
mais elevado. Essa situação só mudaria com o adven-
to do Estado Novo e as conseqüências da Segundo
Guerra, que favoreceram enormemente a produção
alcooleira (Guimarães, 1991, p. 148-153).
Dessa forma, o IAA teria que solucionar a ques-
tão dos preços, deixada pendente durante a atuação
do CEAM e da CPDA. Como já foi dito, os produto-
res se recusavam a converter os seus excessos devido
aos baixos preços do álcool. Assim, apesar dos esfor-
ços do Presidente do IAA, Leonardo Truda, durante
os anos de 1932 e 1937, a produção alcooleira não
tomaria fôlego. Guimarães afirma que “enquanto os
preços do álcool bruto e hidratado ficaram liberados
no mercado, o preço do álcool anidro permaneceu o
mesmo e mais baixo que os outros dois, no período
1934 e 1941. Somente a partir de 1942, em virtude
da Guerra e da pressão dos produtores, foi que o IAA
tomaria uma série de resoluções referentes ao álco-
ol combustível e, entre essas, estaria a elevação do
preço de compra do álcool anidro dos produtores.
(Guimarães, 1991, p. 76).
Segundo palavras de Gileno Dé Carli, o Institu-
to não teve outra saída para implantar definitivamente
a indústria alcooleira senão tomar para si a instalação
das destilarias centrais e a fixação do preço do álcool
pelo IAA.
Se o Instituto estivesse enveredado, exclu-
sivamente pela solução de empréstimos a particu-
lares, com a educação econômica dos produtores
brasileiros, teríamos de arcar com inúmeros tro-
peços e obstáculos. Em primeiro lugar, o exclusi-
vismo industrial tornaria difícil proporcionar den-
tro de sua fábrica, um trabalho de sentido coletivo.
Depois, a ambição natural do usineiro, encontran-
do melhores preços para o açúcar que para o ál-
cool, procuraria sempre a produção que melhor
atendesse o seu interesse. Seria difícil finalizar a
exata aplicação das percentagens de açúcar e de
álcool, para a vazão de toda a produção canaviei-
ra. Ficaria para a solução dos excessos, o Instituto
subordinado ao interesse do usineiro, quando este
é que deve estar sob a vontade do Estado. Por to-
dos esses motivos, e, sendo a destilaria central um
órgão de equilíbrio entre a produção e o consumo,
é plenamente louvável à orientação do Governo
Federal, pendendo para a instalação das destilarias
centrais (Dé Carli, 1939, p. 153).
Em várias ocasiões, como nos congressos orga-
nizados pelo Instituto, os dirigentes explicitavam essa
defesa. Entretanto, a mudança em relação ao posi-
cionamento dos produtores em relação ao álcool só
ocorreria após a implantação do Estado Novo. Para
Gnaccarini, a indústria álcool-motora teria um novo
destaque nesse período, pois a “questão do açúcar
como um problema nacional e a idéia do dirigismo es-
tatal firmava-se na ideologia dominante”. (Gnaccarini,
1972, p. 72).
Releva assinalar que, nesses anos, ocorreria um
acerbamento da crise de produção, o que levou mui-
tos produtores de açúcar a repensarem o papel da
indústria alcooleira. Esse novo posicionamento modi-
ficou a própria matéria-prima utilizada na fabricação
do álcool, que passou a ser feito realmente com os
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excessos da produção açucareira. Como se sabe,
durante o Governo Provisório, o álcool era feito so-
mente com os resíduos do açúcar e as sobras dos
canaviais.
Segundo Guimarães, essa nova fase da indús-
tria alcooleira foi um reflexo direto da ampliação dos
poderes do Estado após o golpe que daria início ao
Estado Novo. Dessa forma, o IAA também ganharia
mais força para atuar. Assim, o autor defende que:
isso permite reconhecer que, a partir do
Estado Novo, a idéia do dirigismo econômico,
combatido pelos produtores açucareiros, passaria
a se configurar na política dominante do IAA. As
mudanças ocorridas na estrutura administrativa do
IAA, fazendo com que ocorressem mudanças na
composição da Comissão Executiva, bem como a
criação de diversas seções referentes à produção
açucareira e alcooleira, de demonstra a inserção
da agroindústria canavieira no projeto corporativo
do Estado Novo (Guimarães, 1991, p. 94).
O forte crescimento industrial do período in-
centivaria a indústria alcooleira, em razão dos eleva-
dos gastos com a importação de petróleo. Durante
o período da Guerra até 1943, o país gastou Cr$
4.137.528.000,00 só com a importação de petróleo
e derivados. Assim, o álcool passou a ser visto tam-
bém como uma forma de poupar divisas. Além disso,
o IAA desenvolveria estratégias para convencer a po-
pulação da importância do álcool-motor, através de
congressos, patrocínios de corridas, como no caso
da Subida da Tijuca, em 1938 e o Grande Prêmio da
Cidade do Rio de Janeiro, em 1939. O principal obje-
tivo do Instituto era aumentar o consumo nas cidades
mais industrializadas, como no caso de São Paulo, que
já consumia no período 50% da gasolina importada.
(Guimarães, 1991, p. 97-103).
Em 1938, o IAA, numa atuação conjunta com
o Conselho Federal de Comércio Exterior, obrigaria
as companhias importadoras de gasolina a manterem
bombas destinadas à distribuição de álcool anidro.
Nesse caso, essas medidas pretendiam conciliar as
disposições referentes ao petróleo e o álcool anidro.
Mas o principal foco era atender a “imperiosa necessi-
dade de proteger e desenvolver a indústria de fabricação
do álcool anidro”, como forma de “debelar as crises de
superprodução da indústria açucareira, estabelecendo o
equilíbrio entre a produção e o consumo” e da mesma
forma “diminuir a importação de carburante estrangei-
ro”. (Conselho Federal do Comércio Exterior, 1944,
p. 83-84).
Em 1940, o país já possuía 38 destilarias de álco-
ol anidro, com capacidade anual de produção de 85,8
milhões de litros anuais. O plano de safra 1940/41 au-
torizou os produtores a dissolver o açúcar de excesso
de sua produção, transformando-o em álcool de qual-
quer tipo. Dessa forma, 43% da produção do álcool
registrada naquela safra foi proveniente diretamente
da cana ou de açúcar dissolvido. A produção de álcool
anidro também atingiu 67 milhões de álcool anidro,
superando, pela primeira vez, a produção de álcool
hidratado. Já nesse ano, 60% da gasolina importada,
que orçou em 598 milhões de litros, possuía uma per-
centagem de álcool. (Santos, 1997, p. 61-64).
Em 21 de fevereiro de 1941, com a resolução
da Comissão Executiva, o Instituto daria um novo im-
pulso para a indústria alcooleira, com a elevação para
20% do teor da mistura álcool-gasolina. Tal medida
foi tomada em razão do aumento da produção de ál-
cool anidro nas destilarias do país e a conseqüente
necessidade de escoar essa produção. Pode-se dizer
que a partir desse momento, iniciou-se uma política
mais acentuada do setor alcooleiro, pois não levaria
em conta a capacidade de consumo do país ou as in-
dicações técnicas, mas sim as necessidades de esco-
amento da produção das destilarias. (Velloso, 1952,
p. 524).
Alguns meses depois, o Estado criaria a Comis-
são Nacional de Combustíveis e Lubrificantes. Essa
Comissão era composta pelo Presidente do Conselho
Nacional do Petróleo, pelo Presidente da Comissão
Executiva do IAA, por um membro da Comissão Na-
cional de Gasogênio e por um membro do Conselho
de Minas e Metalurgia. No entanto, percebe-se a im-
portância vital dessa Comissão ao verificarmos que
dentre os seus quadros constava um representante
do Ministério da Guerra, um do Ministério da Mari-
nha e um do Ministério da Aeronáutica. Além disso, a
sua sede localizar-se-ia na Sede do Conselho Nacio-
nal de Segurança, cujo Secretário Geral teria o voto
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de minerva. A função da Comissão seria coordenar
a política geral da produção e distribuição de álcool.
(Velloso, 1952, p. 459-460).
O que se pode desprender desse período, em
relação à produção alcooleira, é a mudança do posi-
cionamento tanto dos dirigentes da política de defesa
da produção alcooleira como da própria população.
Em 1930, o álcool era visto como uma atividade al-
ternativa, isto é, uma forma de minorar a crise de su-
perprodução açucareira.
Pode-se dizer que a ação governamental para
estimular a produção e o consumo do álcool-motor
foi o principal responsável pelo desenvolvimento des-
sa indústria. Para isso, o Governo muitas vezes teve
que impor as suas decisões aos produtores. Assim, a
aceitação relativa a essa política foi uma conseqüência
do papel de financiador do Instituto como: os em-
préstimos para a construção de destilarias particula-
res, a construção de destilarias centrais nos estados
mais afetados pela crise do açúcar, a facilitação para
a importação de maquinários, a isenção de impostos
para a produção do álcool-motor, a utilização do álco-
ol nos automóveis oficiais para incentivar o consumo.
O Instituto atuou como o principal responsável pelas
pesquisas na área de aperfeiçoamento do carburante
e pela fiscalização e distribuição da produção alcoo-
leira nacional. Enfim, claro está que o IAA controlaria
quase que na sua totalidade esse setor produtivo.
Retomar-se-ia à velha ideologia defendida
pela SNA, que delegava ao álcool a tarefa de tábua
salvadora da indústria açucareira, ou seja, um fator
de equilíbrio. Essa seria a forma de conter a crise de
superprodução sem limitar a expansão dos canaviais.
Tal ideologia fica explicita nas palavras do primeiro
presidente do IAA, Leonardo Truda:
Limitar, porém, a produção açucareira,
como essa limitação a entendemos e nas condi-
ções a que a subordinamos, não importa, absolu-
tamente, estancar uma fonte possível de riqueza,
impedindo a uns de abeberar-se nela, para que ou-
tros não o deixem de fazer. Ao contrário, o que se
quer é defender mais eficientemente essa rique-
za, é resguardar a riqueza atual, para aumentá-la
quando esse primeiro objetivo haja sido realiza-
do, mediante uma obra indispensável mais relati-
vamente fácil, de adaptação e de transformação.
Essa defesa, que queremos tornar definitiva, é a do
açúcar pelo álcool (Truda, 1971, p. 57).
Essa defesa ganharia ainda mais força com a
deflagração da Segunda Guerra. Os dirigentes do Ins-
tituto passaram a afirmar de forma mais enfática que
a produção do carburante nacional auxiliaria o país a
poupar divisas e a direcionar uma parte da produção
açucareira para essa indústria, já que as exportações
não aumentaram no período. Generalizava-se, por
essa via, a defesa do álcool-motor. A despeito dos di-
versos problemas, o Instituto conseguiria fortalecer
a produção alcooleira no país, criando as bases para
a sua futura expansão, como podemos observar no
gráfico abaixo:
Fonte: (Anuário Açúcareiro, 1941, p. 149).
Joaquim de Melo, redator do Brasil Açucareiro,
- o mais importante meio de divulgação da ideologia
dominante do Instituto do Açúcar e do Álcool -, expli-
cita claramente a ideologia que se formou em torno
da indústria alcooleiro ao afirmar que:
As usinas eram como velhas imprudentes
que desperdiçavam a sua riqueza, produzindo-a
excessivamente e depreciando-a cada vez mais.
As destilarias são os filhos moços que, educados
na economia e na técnica moderna, corrigíramos
desperdícios paternos, transformando-os em no-
vas riquezas.
À guisa de conclusão, poderíamos dizer que a
construção da indústria alcooleira, no Brasil, surgiu
da necessidade de controlar a crise de superprodu-
ção. Mais ainda, a execução das medidas de natureza
econômica voltadas para a produção alcooleira, prin-
cipalmente para recuperar uma produção há séculos
ameaçada por uma crise quase ininterrupta, não era
novidade no país, nem as medidas adotadas na sua
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maioria o eram. Acerca de tudo o que foi exposto,
não se pode deixar de pressentir que a indústria al-
cooleira estruturou-se segundo os planos traçados,
desde a Primeira República, pelo MAIC e pela SNA.
Debalde todos os esforços dos seus ideólogos, o ál-
cool não conseguiu a relevância esperada. Nesse
sentido, releva notar que esse ainda era um produto
novo. Assim, a sua expansão no pós-30 viria apoiada
na própria conjuntura do período, ou seja, havia um
pensamento econômico e político propícios a uma
maior intervenção estatal no setor, o que levaria à
aplicação de quase todas as medidas propostas, - fato
inimaginável no período predecessor.
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Elaboração de fermentado alcoólico a partir de suco de abacaxi (Ananas comosus)
Thalyta Christie Braga Rabêlo1
Mestranda em Engenharia Química pelaUniversidade Federal de Alagoas - UFAL
Visando produzir uma bebida fermentada com características quí-micas, aromáticas e sensoriais de vinho, foi realizado experimento de fermentação alcoólica utilizando suco de abacaxi, como subs-trato. Em razão de o teor de açúcares presentes no mosto não ser suficiente para atingir a graduação de vinho de mesa, foi necessária a adição de açúcar. Observa-se que o suco de abacaxi, como os de outras frutas, é meio propício para fermentação alcoólica, atingin-do, com a adição de açúcar, teor alcoólico de cerca de 11 % em volume. A finalização do produto final foi feita com ajustes das con-centrações por adição de etanol e de açúcares totais para atingir 16 % e 9,5 %, respectivamente.
Palavras-Chave: Fermentação; abacaxi; vinho.
Production of alcoholic fermented from pineapple juice (Ananas comosus)
Thalyta Christie Braga Rabêlo .Correspondência: Rodovia AL 101 Norte, 235, Garça Torta.- Maceió – AL – Brasil. Endereço eletrônico: [email protected]
1
RESUMO
Aiming to produce a fermented beverage with chemical characteris-tics, as flavor and taste of a wine, alcoholic fermentation experiments were carried out with the use of pineapple juice. Since it was found that the amount of sugar in the fresh juice was not enough to meet the standard alcoholic grade of a table wine, more sugar was added. It is observed that the pineapple juice, similarly to juices from other fruits, enables fermentation environment, meeting, with the addition of sugar, alcoholic content of about 11 % in volume. The completion of final product was made with adjustments by the addition of con-centration of 16 % ethanol and 9.5 % total sugar, accordingly.
Keywords: Alcoholic fermentation; pineapple; wine.
ABSTRACT
RESUMEN
Elaboración de fermentación alcohólico desde el jugo del ananás (Ananas comosus)
Proponiéndose producir una bebida fermentada con caracte-rísticas químicas, aromáticas y sensoriales de vino, ha sido realizado ex-perimento de fermentación alcohólica utilizando jugo de ananás como sustrato. Por el hecho de el tenor de azucares presente en el mosto no ser suficiente para lograr la graduación característica del vino de mesa, ha sido necesaria el añadido de azúcar. Amaitinase que el jugo de ana-nás, como los de otras frutas, es un medio propicio para fermentación alcohólica, logrando, al añadirse el azúcar, tenor alcohólico alrededor de 11 % en volumen. La finalización del producto final he sido hecha con arreglos de las concentraciones por añadido de etanol y de azuca-res totales al fin de lograr los 16 % y los 9,5 %, respectivamente.
Palabras-claves: Fermentación; ananás; vino.
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INTRODUÇÃO
O Brasil, pelo clima dominante em grande par-
te do território, destaca-se como propício ao desen-
volvimento da fruticultura tropical. Há, no entanto,
ainda, grande desperdício no processamento pós-
colheita de muitas culturas, com significativas perdas
econômicas para o produtor e para o consumidor fi-
nal. [14], [17].
Do ponto de vista do metabolismo celular das
leveduras, as matérias-primas utilizadas na produção
de bebidas fermentadas podem ser diretamente ou
indiretamente fermentescíveis. Entre as frutas tropi-
cais, o abacaxi (Ananas comosus) destaca-se por ser
de relativamente fácil manejo, cultivo e de alto valor
energético; é rico em carboidratos fermentescíveis e
o suco proporciona ótimas condições à fermentação
alcoólica. A conversão desses açúcares em etanol é
realizada com o emprego de leveduras, agentes da
fermentação alcoólica, utilizados em escala industrial.
Vários estudos (Faria, 1994; Dias, 1996; Abreu,
1997) têm sido realizados visando minimizar a perda
de matérias-primas, através da elaboração de bebi-
das, como vinhos suave, seco gaseificado, suave ga-
seificado etc. Porém, a obtenção de um produto com
padrão de qualidade aceitável ao consumo, como
vinho de frutas, ainda depende de alguns fatores a
serem estudados (Casimiro et al., 1989; Medeiros,
1990). [1], [22].
Alternativas visando a redução dos desperdí-
cios na pós-colheita com agregação de valores, como
bebidas fermentadas, podem ser obtidas por proces-
sos de industrialização de frutos, obtendo-se produ-
tos que pode ser armazenados por períodos mais
longos.
Praticamente toda fruta pode ser utilizada na
produção de um fermentado alcoólico ou vinho. En-
tretanto, não há uma tecnologia totalmente voltada
para a produção de vinho que não seja de uva, no que
se diz respeito à levedura a ser utilizada, à tempe-
ratura ideal de fermentação, à forma de preparo do
mosto e às condições da fermentação.
As tecnologias vinícolas tiveram de ser adequa-
das, historicamente, em evolução tecnológica, mui-
to baseadas na experiência individual de técnicos e
pequenos produtores, ou em escala empresarial. A
essas experiências somam-se recentes avanços cientí-
ficos que estão sendo obtidos através de investimen-
tos na atividade produtiva, mais organizada em bases
mercadológicas. Contudo, pelas diferenças, sobretu-
do climáticas, inerentes às regiões tropicais (onde a
videira vegeta durante todo o ano, produzindo uvas
em períodos - de inverno, por exemplo - não tra-
dicionais, não comparáveis ao regime de cultivo de
regiões temperadas, ou mesmo ao longo de todo o
ano), há muito o que se conhecer para se caracterizar
a região tropical como potencial de desenvolvimento
vitivinícola. O mesmo ocorre com a tecnologia apli-
cada à produção de vinhos de frutas tropicais, que
ainda está por ser desenvolvida, mesmo em contexto
internacional.
Os vinhos tropicais são comumente produzi-
dos em volumes comparativamente menores, não
são conhecidos do consumidor, tampouco no mer-
cado internacional. Pode-se dizer que os vinhos tro-
picais ainda não criaram identidade própria. É pre-
ciso, ainda, enfrentar o desafio de se ampliar a base
tecnológica para se seguir avançando em qualidade,
bem como conquistar espaço e competitividade no
mercado. Certo é que os vinhos tropicais possuem
características particulares que poderão ser progres-
sivamente valorizadas no plano competitivo em rela-
ção aos produtos tradicionais. Por outro lado, consta-
ta-se que cada país produtor de vinhos tropicais tem
trabalhado, isoladamente, nesse propósito. Por este
diagnóstico, fica evidente que toda ação articulada
entre os países produtores de vinhos de regiões tro-
picais possibilitaria avançar mais rapidamente, através
de mecanismos de intercâmbio de experiências e de
tecnologias, bem como através de estratégias comuns
de promoção da qualidade e da imagem dos vinhos
tropicais no mundo.
A fermentação alcoólica de suco de frutas pro-
duz álcool etílico, como produto principal, e muitos
outros componentes secundários, como o glicerol, al-
deídos, metanol, alcoóis superiores, ácidos e ésteres,
que contribuem para as características sensoriais dos
produtos fermentados. A natureza e a qualidade dos
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PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
componentes dependem da matéria-prima utilizada,
das características do agente da fermentação, da con-
dução do processo e do sistema de envelhecimento
(Dato et al., 2005).
As reações enzimáticas responsáveis pela trans-
formação química do açúcar em etanol e gás carbôni-
co acontecem no interior da levedura: a molécula de
glicose é metabolizada por um processo anaeróbico
constituído de doze etapas, culminando com a trans-
formação em etanol e gás carbônico. Cada reação é
catalisada por uma enzima especifica e todo processo
enzimático acontece no citoplasma celular. A reação
global pode ser genericamente representada pelas
equações químicas: [4], [8], [12], [13]
Figura 1 – Fluxograma do processo de produção do fermentado alcoólico de suco de abacaxi.[17]
A figura 1 apresenta o fluxograma das eta-
pas do processo de produção do fermentado alco-
ólico partir de suco de abacaxi.
Foram adquiridos cerca de 47kg do fruto, de
fornecedores comerciais, do mercado público de
Maceió, AL. Os frutas foram previamente seleciona-
das, passaram pelo processo de sanitização com a fi-
nalidade de redução da carga microbiana impregnada
na casca. Foi retirada a casca, reservada e aproveita-
da para a produção de polpa e de licor.
A extração do suco da polpa foi feita utilizan-
do-se liquidificador industrial e despolpadeira, a fim
de se obter o máximo de rendimento em mosto. A
polpa foi filtrada, inicialmente, com peneira de ma-
lha de 1,0mm e, posteriormente, em peneira de 0,3
mm, visando retirar o máximo de resíduo sólido. Do
filtrado, foi recolhida amostra para as determinações
químico-analíticas.
O mosto (suco de abacaxi), inicialmente com
12,1Brix, foi adicionado ao fermentador e processa-
da a adição de fermento. Foi utilizado fermento gra-
nulado seco (levedura, Saccharomyces cerevisiae) co-
mercialmente utilizado em panificação. A proporção
utilizada foi de 20g para 8,5L de mosto.
A adição do mosto ao fermentador foi feita em
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Resultados analíticos do suco de abacaxi uti-lizado na fermentação:
SUCO do ABACAXI (MOSTO)BRIX 12,1ACIDEZ (g/100g) 0,609pH 3,79A.R. (g/100g) 2,40A.R.T (g/100g) 9,71SACAROSE (g/100g) 6,94
três etapas, com intervalos de 24horas entre uma e
outra alimentação. Antes de cada alimentação era fei-
ta a determinação do Brix do meio em fermentação.
Depois da última alimentação, quando o meio
atingiu Brix “zero”, foi processada adição de açúcar
(chaptalização) visando elevar o teor alcoólico ao li-
mite máximo suportado pela levedura. Após atingir o
limite máximo de etanol, o meio fermentado foi divi-
dido em duas partes: uma foi considerada “vinho de
mesa”; na outra, a concentração de etanol e de açú-
cares totais foram corrigidas, respectivamente, para
17 % e 12 %, visado a obtenção de um fermentado
alcoólico do tipo “vinho fortificado” licoroso, como
Porto ou Xerez.
Análises físico-químicas
Para monitoramento das características quími-
cas do fermentado, utilizou-se métodos analíticos de:
(i) refratometria para medição do índice de refração
das soluções e sua conversão a sólidos solúveis totais
(Brix); (ii) método Eynon-Lane para se obter o teor
de açúcares redutores (A.R.) e de açúcares redutores
totais (A.R.T.); (iii) potenciometria para determinação
do pH; (iv) titulometria para determinação da acidez
total e (v) ebuliometria para determinação do teor al-
coólico. [7], [11].
Figura 2 – Resultados analíticos do suco de abacaxi
De acordo com os resultados apresentados na
figura 2, observa-se que o Brix do suco é relativamen-
te baixo se comparados com o suco de uva, que pode
chegar a 25 g/100 mL de açúcares totais. Este valor
daria, previsivelmente, um teor alcoólico de cerca
12,5% v/v, concentração típica de vinho de mesa.
Como no suco de abacaxi a concentração de
açúcar é de 9,71 %, o teor alcoólico máximo a ser
atingido seria de cerca de 4,9 a 5,0 % (vol/vol). Para
elevar o teor alcoólico a cerca de 12,5 % foi necessá-
rio adicionar açúcar (chaptalização) ao meio em fer-
mentação.
A relação entre o suco extraído e o peso total
dos frutos foi de 0,649 L/kg ou de 64,9 %. Consi-
derando uma perda de cerca de 25 %, durante as
operações de clarificação, trasfegas, filtração e outros
tratamentos finais, o rendimento deverá ser de cerca
de cerca de 490 L de vinho por tonelada de abacaxi.
Com relação aos resíduos do processo de ex-
tração do suco os seguintes dados são expressos na
tabela da figura 3:
Resíduos CascaBagaço da
despolpadeira(kg/kg) 0,306 0,08
Figura 3: Resíduos gerados por cada quilo de fruto processado
Uma parte da casca foi utilizada na elaboração de li-
cor, o restante, em polpa congelada visando a pro-
dução de suco. Com do bagaço foi elaborado o licor,
além do doce fibroso. Portanto, foi utilizado o resíduo
por completo com a finalidade viabilizar um aprovei-
tamento total dos frutos.
Fermentação e Obtenção do Fermentado:
Dos resultados químico-analíticos do suco do
abacaxi, observou-se que se trata de uma amos-
tra de fruto com acidez elevada, mas não a ponto
de inibir a fermentação alcoólica. A fermentação
ocorreu durante 20 dias. Foi obtida uma bebida
com graduação alcoólica de 11,6 °GL. O proces-
so ocorreu de acordo com gráfico apresentado na
figura 3.
Figura 4 – Evolução da produção de etanol durante o processo fermen-tativo
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Para se conseguir vinho com teor alcoólico
mais elevado, adicionou-se, progressivamente, açú-
car ao mosto em fermentação até o limite de tolerân-
cia de teor alcoólico pela levedura. Esse limite foi um
teor alcoólico de 11,6 GL.
Sabe-se, porém, que para vinhos de outras fru-
tas que não seja uva (como de abacaxi) tornarem-se
encorpados e com boas características sensoriais, o
substrato deve possuir teor alcoólico e concentra-
ções dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados,
como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários
ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de
açúcares redutores para 9,5 g/100 g.
CONCLUSÃO
De acordo com os dados obtidos conclui-se que:
•A concentração dos açúcares redutores totais no mosto é suficiente para se conseguir um teor alcoólico no vinho de apenas 5,0 a 5,5% de eta-nol, em volume (GL);
•Para se conseguir um vinho com teor alcoólico mais elevado, é necessário adicionar açúcar ao mosto em fermentação, até o limite de tolerân-cia de teor alcoólico suportado pela levedura. Esse limite foi um teor alcoólico de 11,6 GL;
• Sabe-se, porém, que para vinhos de outras frutas que não seja uva (como, neste caso, de abacaxi), tornarem-se encorpados e com boas características sensoriais, devem possuir teor alcoólico e concentrações dos açúcares nos níveis de vinhos fortificados como o Porto e o Xerez. São, portanto, necessários ajustes do teor alcoólico para cerca de 16,0 GL e de açú-cares redutores para 9,5 g/100g;
•O rendimento em “vinho” por tonelada de aba-caxi é da ordem de 500 L/ton;
• Foi observado que as características sensoriais do produto obtido são, com o produto ainda recém produzido, de regular a bom. Entre-tanto, para se ter uma conclusão final, deve-se deixar envelhecer o vinho por um período de seis meses a um ano. Esse é o procedimento comum a qualquer processo de produção de
bebida alcoólica, fermentada ou destilada.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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[16] SILVA, P.H.A.; FARIA F.C.; TONON, B.; MOTA, S.J. D; PIN-TO, V.T.; Avaliação da Composição Química de Fermentados Al-coólicos de Jabuticaba (Myrciari jabuticaba); Química Nova, Mar. 2008.
[17] RABELO, T.C.B., Elaboração de Fermentado Alcoólico a partir de Suco de Abacaxi (Ananas comosus). Maceió 2007. Trabalho de Conclusão de Curso-Química. Universidade Federal de Alagoas
[18] ROSSI, N.D.; TAMBOURGI, E.B.; Recuperação e Concen-tração da Bromelina, a partir do Abacaxi Utilizando Pro-cesso de Separação por Membrana; XIII Congresso Interno de Iniciação Cientifica da UNICAMP, Faculdade de Engenharia Química - FEQ, UNICAMP; 28 e 29 Setembro 2005.
[19] TONIETTO, J. CAMARGO, U. A. Vinhos tropicais no Brasil e no mundo. Bon Vivant, Flores da Cunha, v.8, n. 94, p. 15, dez. 2006.
[20] Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo - ABS-SP (www.abs-sp.com.br) < Acesso em: 19 Nov. 2007>.
[21] http://www.ibravin.org.br/ < Acesso em: 24 Nov. 2007>.
[22] http://www.cnpuv.embrapa.br/publica/artigos/ < Aces-so em: 24 Nov. 2007>.
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SEÇÃO SOBREEDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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Formação de professores para o uso de tecnologias com-putacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia
Cacilda Encarnação Augusto Alvarenga1
Doutoranda em Psicologia Educacional pelaUniversidade Estadual de Campinas – UNICAMP
Roberta Gurgel Azzi2
Docente do Departamento de Psicologia Educacional daUniversidade Estadual de Campinas- UNICAMP
O artigo tem como objetivo promover uma reflexão sobre a potencial contribuição do constructo de auto-eficácia no plane-jamento de programas de formação de professores para o uso de tecnologias no ensino, a partir da apresentação de alguns estudos internacionais. Os estudos apontam que a falta de uso do computa-dor no ensino pelos professores pode estar relacionada a uma baixa auto-eficácia computacional e que programas de formação podem auxiliá-los a aumentarem sua auto-eficácia para o uso didático de tecnologias.
Palavras-Chave: tecnologias no ensino; auto-eficácia; formação de professores.
Teacher training for the use of computer technology in education: consid-erations on the importance of self-efficacy
Cacilda Encarnação Augusto AlvarengaCorrespondência:Av. Alexandre Cazelato, 2689, 21-A,Paulínia - SP -.Brasil - CEP – 13140-000Endereço eletrônico: [email protected]
Roberta Gurgel AzziCorrespondência: Alameda Gomides de Olivieria, 811.- Bragança Paulista - SP – Brasil – CEP 12919-601. Endereço eletrônico: [email protected]
1
2
RESUMO
The objective of the paper, based in international studies, is to promote a reflection on the potential contribution of self-efficacy in the planning of training programs for teachers in order to allow them to use technologies for teaching. Studies indicate that the lack of the computer usage in teaching can be related to a low computa-tional self-efficacy and that training programs can assist teachers to increase their self-efficacy to use technologies for teaching.
Keywords: technology in teaching; self-efficacy; training teachers.
ABSTRACT
RESUMEN
Formación de profesores para el uso de tecnologia informática em la edu-cación: consideraciones sobre la importância de la autoeficacia
El artículo tiene como objetivo promover una reflexión so-bre el potencial contribución de la autoeficacia en el planejamento de programas de calificación de profesores para el uso de las tec-nologías en la enseñanza, a partir de estudios internacionales. Los estudios señalan que el no uso didáctico de la computadora por los profesores se puede relacionar con la autoeficacia baja y que los programas de calificación pueden asistir a los profesores para au-mentar su autoeficacia para el uso de tecnologías en la enseñanza.
Palabras-claves: tecnologías en la enseñanza; autoeficacia; calificación de profesores.
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 65 - 71, segundo sem. 2009
ALVARENGA, C. E. A. & AZZI, R. G.
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INTRODUÇÃO
As tecnologias de informação e comunicação
têm mediado, cada vez mais, processos econômi-
cos, sociais e culturais. A grande maioria das pessoas
não ignora a importância dessas tecnologias nas mais
diferentes esferas da vida: estudo, trabalho e lazer.
O não-acesso às tecnologias, especialmente as de
informática, é visto como um problema denomina-
do “exclusão digital”, que pode causar desemprego
e desigualdades entre as pessoas. Conforme Silvei-
ra (2001), em uma sociedade considerada da infor-
mação, aqueles que não dominarem o computador
e a comunicação em rede, não souberem organizar,
processar e analisar informações, ficarão distantes da
produção de conhecimento e estarão sujeitos a se-
rem excluídos do mercado de trabalho.
Educadores que participaram, na condição de
alunos, tutores ou docentes, de um estudo realiza-
do por Augusto (2004), que teve entre seus objetivos
avaliar o uso didático das tecnologias de comunica-
ção e informação no ensino (computador, tele e vi-
deoconferência), tiveram opiniões semelhantes às de
Silveira (2001). Eles dizem que as tecnologias estão
presentes em praticamente todas as atividades do
dia-a-dia, conhecê-las é fundamental para inserir-se
no mercado de trabalho e não ser um “excluído digi-
tal” e, além disso, são fontes de interesse dos alunos
de hoje, imersos na chamada sociedade da comunica-
ção e informação e, portanto, precisam ser conside-
radas e incorporadas à educação.
Os estudos de Pfromn Neto (2001); Valente
(1999) e Niskier (2000; 1972); permitem constatar
que a televisão e o computador são as tecnologias de
informação e comunicação que mais têm sido utili-
zadas na educação. Programas de televisão educati-
vos podem assumir o papel da aula tradicional e os
vídeos (filmes, documentários etc) podem auxiliar
professores no ensino de conceitos mais dificilmente
compreendidos sem o recurso audiovisual (AUGUS-
TO, 2004). As tecnologias, como os ambientes mul-
timídia, tornam possível a apresentação de conteú-
dos de uma forma lúdica e dinâmica, facilitando, por
meio da associação entre textos, sons e imagens em
movimento, o entendimento dos alunos de conceitos
considerados abstratos, difíceis de serem entendidos
apenas a partir da leitura de um texto ou da explica-
ção do professor. “É muito mais fácil entender, por
exemplo, como age a insulina no corpo humano vi-
sualizando uma animação que simule o processo de
ação da insulina, do que somente lendo ou ouvindo
uma explicação” (AUGUSTO, 2003, p.39).
Zimmerman e Schunk (2003) destacam que,
segundo a visão de Bandura (1999), a aprendizagem
humana é um evento social no qual as crianças apren-
dem sobre o mundo ao seu redor por meio de transa-
ções sociais e recursos midiáticos. Grande parte des-
sa aprendizagem social não está sob o controle direto
de professores ou pais, mas surge do contato com
irmãos e irmãs, pares, colegas de trabalho e meios
de comunicação de massa. Constata-se, nesse con-
texto, a relevância de que os meios de comunicação
abordem conteúdos criteriosamente desenvolvidos e
sejam também diretamente incorporados ao ensino.
Experiências internacionais e iniciativas na-
cionais sobre o uso da informática na educação, na
década de 70 e início dos anos 80, contextualizam o
interesse do governo, do Ministério de Ciência e Tec-
nologia (MCT) e de pesquisadores na disseminação da
informática na sociedade e na implantação de progra-
mas educacionais voltados para uso do computador
na educação. Em 1997, foi criado o Programa Nacio-
nal de Informática na Educação (ProInfo), vinculado a
Secretaria de Educação a Distância – SEED, do MEC
(Ministério da Educação e da Cultura), que tem como
objetivo principal informatizar as escolas públicas e
auxiliar no processo de incorporação e planejamento
da nova tecnologia, no suporte técnico e na formação
dos professores e equipes administrativas das escolas
(TAKAHASHI, 2000).
Programas de formação de professores e ges-
tores da rede pública de ensino para utilização de
tecnologias da informação em sala de aula, como o
Programa Nacional de Formação Continuada em Tec-
nologia Educacional (ProInfo Integrado), implementa-
do pelo Ministério da Educação em abril de 2008 e
que tem como expectativa formar 240 mil professo-
res até 2010, vem sendo vistos como solução para
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Formação de professores para o uso de tecnologias computacionais no ensino: considerações sobre a importância da auto-eficácia
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que os professores de Educação Básica consigam de
fato utilizar o computador e a internet como recur-
sos didáticos (INOVA BRASIL, 2008). A iniciativa,
sem dúvida, merece ser valorizada, e uma avaliação
do Programa, que investigue a prática dos professo-
res a curto, médio e longo prazo, poderá dizer se os
seus objetivos foram de fato atingidos, pois estudos
como os de Ertmer (2005), Hanks (2002), Ertmer et
al (1996) e Honey e Moeller (1990) mostram que por
mais que os professores tenham acesso às tecnolo-
gias computacionais e/ou passado por programas de
formação, muitos deles não foram capazes de inte-
grá-las às suas aulas de maneira efetiva. A natureza
do currículo a ser desenvolvido, a falta de tempo e a
capacidade para utilizar as tecnologias são fatores que
também podem influenciar o seu uso pelos professo-
res (ALBION, 1999).
Estudos internacionais sugerem que o pouco
uso do computador no ensino, pelos professores,
quando não há problemas de infra-estrutura ou a in-
terferência de outros fatores ambientais, pode estar
alicerçado em questões de confiança do professor
quanto a sua capacidade de usá-lo ou em suas crenças
de auto-eficácia. O baixo uso de recursos tecnológi-
cos no ensino pode significar um problema de baixa
auto-eficácia, ou seja, o professor não se percebe ca-
paz de utilizá-los para atingir os objetivos pedagógicos
esperados. Existe a necessidade, portanto, de mudar
a percepção dos professores para que eles possam
de fato ensinar utilizando-se de tecnologias computa-
cionais (ALBION, 1999; OLIVIER e SHAPIRO, 1993;
ERTMER et al, 2003, MILBRATH e KINZIE, 2000).
Programas de formação de professores para o uso
de tecnologias são apontados como uma estratégia
eficiente para que os professores mudem sua per-
cepção de eficácia e as utilizem no ensino (WATSON,
2006; ROSS, ERTMER e JOHNSON, 2001; WANG,
ERTMER e NEWBY, 2004; WANG e ERTMER 2003,
ERTMER et al, 2003; MILBRAT e KINZIE, 2000; FA-
SEYITAN, LIBII e HIRSCHBUHL,1996 e OLIVIER e
SHAPIRO,1993).
A partir dos dados de alguns desses estudos
realizados, a proposta do artigo é promover uma re-
flexão sobre a potencial contribuição do constructo
de auto-eficácia, formulado por Bandura (1997), no
planejamento de condições de formação de profes-
sores para o uso de tecnologias. A compreensão de
como os programas de formação de professores para
o uso de tecnologias podem auxiliá-los na alteração
da auto-eficácia requer o entendimento do conceito
de auto-eficácia e de como ela é construída, apresen-
tados a seguir.
As crenças de auto-eficácia:conceito e como são construídas
As crenças de auto-eficácia, de acordo com
Bandura (1997, p.3), referem-se às “crenças que um
indivíduo tem para organizar e executar cursos de
ação que são requeridos para produzir certas reali-
zações”. Essas crenças, em outras palavras, consti-
tuem-se em percepções de confiança que o indivíduo
tem sobre sua capacidade para realizar determinadas
ações, as quais têm se mostrado poderosas predito-
ras de comportamento. Para Bandura (1997), as pes-
soas agem muito mais por meio de suas crenças de
auto-eficácia do que pelo que são realmente capazes
de realizar. Conforme Pajares e Olaz (2008), essas
crenças ajudam a determinar o que os indivíduos fa-
zem com seus conhecimentos e habilidades.
A “auto-eficácia computacional” é definida
como a crença do indivíduo em sua capacidade para
utilizar o computador. No contexto docente, refere-
se, portanto, à crença do professor em sua capaci-
dade para utilizar tecnologias computacionais (como
computador, softwares e internet) no ensino (OLI-
VIER e SHAPIRO, 1993; ALBION, 1999).
Segundo Albion (1999), há fortes evidências
que sugerem que as crenças dos professores em sua
capacidade para trabalharem efetivamente com tec-
nologia é um fator significativo para determinar o uso
do computador na sala de aula. Professores que têm
alto nível de eficácia para ensinar com tecnologias são
mais motivados, despendem mais esforços e persis-
tem em tarefas que envolvem tecnologias muito mais
que professores que têm níveis baixos de eficácia
(ERTMER et al, 2003).
Conforme Azzi, Polydoro e Bzuneck (2006), é
importante assinalar que a percepção de auto-eficá-
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cia não é estática, pode mudar ao longo do tempo e
refere-se a contextos específicos. As pessoas diferem
quanto à área, à tarefa e ao nível em que apresentam
auto-eficácia. Um professor pode se perceber alta-
mente eficaz para usar o computador para assuntos
pessoais, como para se comunicar, pagar contas ou
elaborar documentos e apresentações, mas não se
sentir eficaz para utilizá-lo durante as suas aulas ou
na elaboração de propostas de atividades para que os
alunos o utilizem.
As crenças de auto-eficácia são construídas a
partir de quatro fontes principais de informação: ex-
periências de domínio (diretas ou vivenciadas pelo indi-
víduo) que servem como indicadores de capacidades;
experiências vicárias (observadas pelo indivíduo) que
atuam através da transmissão de competências e da
comparação com os sucessos obtidos pelos outros;
persuasão verbal ou social (encorajamento verbal) e
outros tipos de influências sociais que informam o
indivíduo acerca de suas capacidades e estados fisio-
lógicos e afetivos (por exemplo, cansaço, ansiedade,
estresse) a partir dos quais as pessoas parcialmente
julgam suas capacidades, força e vulnerabilidade dian-
te de situações. Uma ou mais dessas fontes de infor-
mação podem operar conjuntamente para a constru-
ção da auto-eficácia (BANDURA, 1997).
De acordo com Bandura (1997), as experiên-
cias de domínio (ou diretas) são as mais influentes
fontes de informação de eficácia. A visualização de
desempenhos de sucesso de pessoas semelhantes
(experiências vicárias) também exerce papel no forta-
lecimento de crença. Conforme Pajares e Olaz (2008,
p. 104), as experiências vicárias exercem maior influ-
ência sobre as crenças principalmente quando as pes-
soas não têm certeza de suas próprias capacidades
ou tiveram pouca experiência anterior com a tarefa.
No entanto, “mesmo indivíduos experientes e auto-
eficazes aumentam a sua auto-eficácia se modelos en-
sinarem-lhes maneiras melhores de fazer as coisas”.
Quando os programas de formação de profes-
sores possibilitam, por exemplo, que os participantes
desenvolvam atividades pedagógicas utilizando-se di-
retamente do computador (experiências de domínio)
ou que observem outros participantes realizando as
tarefas (experiência vicária), estão possibilitando tam-
bém a construção ou aumento da crença de auto-
eficácia.
Importante mencionar que a visão teórica aqui
abordada vê o indivíduo como agente, ou seja, com
possibilidade de intencionalmente agir sobre o am-
biente, não sendo descolado de seu contexto, pois,
como assinala Bandura:
a agência pessoal e a estrutura social atuam
de maneira interdependente. As estruturas sociais
são criadas pela atividade humana, e as práticas só-
cio-estruturais, por sua vez, impõem restrições e
proporcionam recursos capacitantes e estruturas
de oportunidade para o desenvolvimento e funcio-
namento pessoais. (2008, p.84).
Programas de formação comoestratégia para construção ou
aumento da auto-eficácia
Os estudos de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl
(1996), Wang e, Ertmer et al, (2003) e Wang, Ertmer e
Newby (2004), tiveram entre suas propostas verificar
a influência de programas de formação para o uso de
tecnologias de informática no ensino e experiências
de aprendizagem vicária ou observacional na percep-
ção de auto-eficácia. Os participantes foram docentes
em exercício e alunos de graduação (futuros profes-
sores) que estavam realizando cursos ou disciplinas
voltadas para a questão das tecnologias educacionais.
A metodologia dos estudos contemplou a realização
de atividades, voltadas para o uso didático de tecno-
logias computacionais ou de informática, a aplicação
de questionários de caracterização dos participantes
referentes ao uso das tecnologias e escalas para me-
dida da auto-eficácia. Os resultados mostraram a efe-
tividade dos programas na construção ou aumento da
auto-eficácia dos participantes.
Na seqüência, detalha-se o estudo de Faseyi-
tan, Libii e Hirschbuhl (1996) por ser um estudo que
exemplifica um programa de formação realizado que,
considerando as diversas fontes de auto-eficácia des-
critas por Bandura (1997), apresenta mais especifica-
mente os resultados obtidos nos demais estudos que
constatam a relevância dos programas para a constru-
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ção ou aumento da auto-eficácia para o uso de tecno-
logias no ensino.
O estudo de Faseyitan, Libii e Hirschbuhl
(1996) descreve um programa de formação que foi
planejado e desenvolvido considerando as quatro
fontes de informação que os indivíduos usam para jul-
gar sua auto-eficácia, descritas por Bandura (1997),
com o propósito de aumentar a auto-eficácia com-
putacional de professores para o uso do computador
como recurso didático no ensino. Esse programa foi
realizado com 115 professores universitários. Dentre
as atividades desenvolvidas estavam: showcases (de-
monstração e discussão de exemplos de uso do com-
putador no ensino por professores de diversas áreas
do conhecimento: Língua Estrangeira, História, Quí-
mica etc); seminários (discussão por todos os partici-
pantes interessados de estratégias efetivas do uso do
computador na sala de aula) e workshops (ensino aos
participantes sobre como familiarizarem-se e usarem
pacotes de softwares específicos em suas atividades
de ensino).
O programa foi avaliado a partir de dois ques-
tionários: um aplicado antes da sua realização e outro
depois. O questionário aplicado antes foi o Instruc-
tional Computing Questionnaire (FICQ), que continha
39 itens agrupados em quatro sessões. A sessão 1
mostrava dados descritivos de cada sujeito; a sessão
2 revelava o tipo e a freqüência de atividades reali-
zadas no computador; a sessão 3 indicava o nível de
suporte organizacional percebido para atividades
com o computador e a sessão 4 apontava o perfil dos
participantes em relação auto-eficácia para o seu uso.
O questionário aplicado depois do programa solicitou
aos participantes que julgassem como sua participa-
ção nas atividades propostas afetou seu entendimen-
to, consciência, exposição, desejo e confiança no uso
de computadores no ensino.
Os autores constataram um aumento da au-
to-eficácia dos participantes após a realização das
atividades do programa de formação, bem como
a percepção de uma maior habilidade e desejo de
utilizarem-se do computador no ensino. De todas as
atividades, o workshop foi a que gerou o maior im-
pacto no aumento da auto-eficácia dos participantes,
favorecendo a adoção do computador como recurso
didático. Os resultados confirmaram duas hipóteses:
a de que a experiência direta com computadores au-
menta a auto-eficácia para usá-los e que a demons-
tração de como usar softwares é uma metodologia
efetiva para melhorar a auto-eficácia para o uso do
computador.
Quando os professores não familiarizados
com as tecnologias observam, por exemplo, outros
colegas professores utilizando-as ou ouvem as expe-
riências de sucesso (experiências vicárias), eles pas-
sam a sentirem-se mais encorajados para utilizá-las
(WANG; ERTMER e NEWBY, 2001 e WANG e ERT-
MER, 2003). Wang e Ertmer (2003) constataram em
seu estudo, realizado com 20 estudantes de gradua-
ção inscritos em um curso de Introdução à Tecnologia
Educacional, que a exposição às experiências vicárias,
ou seja, a observação de modelos ou conhecimento
de práticas bem-sucedidas de uso das tecnologias,
realizadas, por exemplo, por outros professores ou
geradas por softwares instrucionais, promove um sig-
nificativo aumento nos julgamentos de auto-eficácia
para o seu uso.
O estudo realizado por Ertmer et al (2003)
comprovou a hipótese de que modelos eletrônicos
ou conteúdos multimídia, como vídeos, que apresen-
tam exemplos ou modelos de práticas de professores
utilizando-se de tecnologias nas aulas, podem ser usa-
dos como estratégia para que professores visualizem
melhor como é possível utilizar as tecnologias no en-
sino e também para aumentar sua auto-eficácia para
o uso das mesmas.
Os exemplos de como as tecnologias podem
ser utilizadas no ensino foram apresentados aos 69
participantes do estudo de Ertmer et al (2003) por
meio de um CD-ROM chamado de VisionQuest (VQ),
que apresenta e caracteriza práticas de professores
no uso didático de tecnologias, as quais servem como
modelos. Esse material foi desenvolvido com o pro-
pósito de exemplificar estratégias de uso das tecnolo-
gias no ensino e propiciar uma reflexão sobre como
é possível, aos professores, implementá-las em suas
aulas e avaliar os impactos de seus esforços.
Os autores mencionam que os “futuros profes-
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sores” descreveram várias idéias que eles obtiveram
a partir dos modelos do VisionQuest e ressaltaram sua
intenção de aplicá-las em suas “futuras salas de aula”.
Houve uma significante correlação entre as idéias dos
participantes para o uso das tecnologias e confiança,
sugerindo que quando os professores visualizam no-
vas possibilidades para usar as tecnologias eles desen-
volvem altos níveis de confiança sobre sua habilidade
para utilizá-las.
Os conhecimentos e habilidades adquiridas
pelos professores nos programas de formação pos-
sibilitam o uso bem-sucedido da tecnologia, a vivên-
cia de experiências de sucesso capazes de alterar a
percepção de auto-eficácia. Conforme Pajares e Olaz
(2008, 102), “nenhum grau de confiança ou de auto-
compreensão pode produzir sucesso na ausência de
habilidades e conhecimentos necessários”.
Entre os resultados imediatos gerados pelos
programas de formação para o uso de tecnologias,
além do número substancial de docentes capazes
de utilizar o computador no ensino, está o fato de
mencionados programas funcionarem como incenti-
vos para que os professores incluam, no planejamen-
to das aulas que ministrarão futuramente, atividades
utilizando-se do computador (FASEYITAN, LIBII e
HIRSCHBUHL,1996).
Os autores mencionam que a influência de in-
centivos para que os professores usem o computador
já foi anteriormente estudada. Faseyitan e Hirschbuhl
(1992 apud Faseyitan, Libii e Hirschbuhl, 1996), con-
cluíram que incentivos externos não levam os pro-
fessores universitários a adotarem computadores em
suas atividades instrucionais. Aqueles que desejam
adotar o computador em suas atividades de ensino
o fazem porque são intrinsecamente motivados. Os
que são confiantes em suas capacidades são mais pro-
vavelmente capazes de explorar o uso do computa-
dor na sala de aula, de desenvolver atividades inova-
doras e investir, tempo e esforço, por exemplo, para
identificar e aprender sobre softwares educacionais.
Altos níveis de auto-eficácia tendem a promover mo-
tivação intrínseca (BANDURA, 1982). Sendo assim,
aqueles cuja auto-eficácia é alta são geralmente mais
motivados a usarem o computador no ensino. Pode-
mos dizer, portanto, que o programa desenvolvido
por Faseyitan, Libii e Hirschbuhl (1996) serviu de in-
centivo porque alterou a percepção de auto-eficácia
dos professores e, conseqüentemente, tornou-os
também motivados intrinsecamente a utilizarem o
computador no ensino.
Segundo os autores, além dos resultados ime-
diatos relatados, trazidos pelo programa de formação,
criou-se uma comunidade de docentes interessados
em compartilhar idéias sobre o uso do computador
na sala de aula.
Embora as considerações apresentadas tenham
associado a falta de uso pedagógico do computador
pelos professores à baixa crença de auto-eficácia, a
qual pode ser aumentada pelos programas de forma-
ção, tem-se consciência de que há outros fatores que
podem influenciar também a utilização. Conforme
nos lembra Dusick (1998), além dos fatores pessoais,
sociais e cognitivos que afetam um professor a visuali-
zar vantagens nos recursos disponíveis (atitude, auto-
eficácia, competência, tempo, risco de usar a tecno-
logia, relevância percebida e falta de conhecimento)
há também os fatores ambientais que influenciam os
professores a usarem ou não o computador para fins
instrucionais (suporte administrativo e técnico, dis-
ponibilidade dos computadores na sala de aula ou na
escola).
A literatura internacional sinaliza a necessida-
de de encontrar caminhos e estratégias para auxiliar
os professores a sentirem-se altamente capazes de
utilizarem o computador no ensino. Entre os educa-
dores e estudiosos brasileiros da área de tecnologia
educacional, há muitos posicionamentos a respeito
do papel do professor diante das tecnologias, afirma-
ções de que os professores não sabem como utilizá-
las didaticamente e sobre a importância também de
prepará-los.
Apesar de termos abordado a literatura inter-
nacional, os assuntos aqui tratados devem ser conside-
rados apenas como fonte de reflexão, interlocução e
inspiração. Contata-se a necessidade de estudos sobre
auto-eficácia computacional entre professores brasilei-
ros uma vez que fatores culturais compõem diferentes
contextos de desenvolvimento de crenças e valores.
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensi-no a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde
Carla Morales Guerra 1
Doutoranda pela UniversidadeFederal de São Paulo - UNIFESPEduardo Alexandrino Servolo Medeiros
2
Professor Adjunto daUniversidade Federal de São Paulo - UNIFESPJanaina Sallas
3
Especialista em Educação em Saúde pelaUniversidade de Brasília - UnBConsultora Técnica da Gerência de Bacteriologia-Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde.Leandro Queiroz Santi
4
Mestre em Saúde Pública pelaUniversidade Federal da Bahia - UFBAValeska de Andrade Stempliuk
5
Doutora em Ciências pelaUniversidade de São Paulo - USP
Infecções por microrganismos multirresistentes aumen-
tam o custo do tratamento e apresentam alta taxa de mortalidade.
Objetivo: descrever a realização de um programa de educação a
distância para profissionais da área da saúde, em âmbito nacional,
sobre medidas de prevenção e controle da resistência microbiana e
uso racional de antimicrobianos. Método: foram produzidos e apli-
cados dois cursos com metodologia de ensino a distância durante
os anos de 2007 e 2008 com a participação de 1172 profissionais
de saúde no Curso 1, Controle da Resistência Microbiana – www.
rmcontrole.org.br, e 917 médicos e dentistas no Curso 2, Uso Ra-
cional de Antimicrobianos – www.atmracional.org.br .
Infections by antimicrobial resistant organisms increase the
therapeutic costs and risk of death. Objective: to describe the per-
formance of a nation-wide distance education program for health
professionals in order to disseminate measures on prevention and
control of microbial resistance and rational use of antimicrobials.
Method: two educational programs were developed and applied
based on distance education during the years of 2007 and 2008
with the participation of 1172 health professionals in Program 1,
Control of Microbial Resistance - www.rmcontrole.org.br, and 917
physicians and dentists in Program 2, Rational Use of Antimicrobials
- www.atmracional.org.br.
Description of the creation and implementation of a distance learning environment for the control of antimicrobial resistance and rational use of antimicrobials for health professionals
RESUMO
ABSTRACT
Descripción de la creación y aplicación de un entorno de aprendizaje a distancia para el control de la resistencia a los antimicrobianos y el uso racional de los antimicrobianos para los profesionales de la salud
Carla Morales Guerra:Médica infectologistaMestre em Ciências pela UNIFESP.Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002.Endereço eletrônico: [email protected] Alexandrino Servolo Medeiros:Correspondência: Rua Napoleão de Barros, 690 – 2° andar - São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002. Endereço eletrônico: [email protected] Sallas:Correspondência: SCS Quadra 4 Bloco A lote 67/97 - Edifício Principal – 3° andar Brasília/DF – BrasilEndereço eletrônico: [email protected] Queiroz Santi:Correspondência: SHIN, QL 11, Cj 4, casa 7, Lago Norte - CEP: 71515-745- Brasília – DF Brasil. Endereço eletrônico: [email protected] de Andrade Stempliuk:Enfermeira do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Sírio Libanês – São PauloCorrespondência: Rua Napoleão de Barros, 690, 2°andar – São Paulo/SP – Brasil - CEP: 04024-002.Endereço eletrônico: [email protected]
1
2
3
4
5
Keywords: antimicrobial resistance; distance education; appropriate use of antimi-crobial agents.
Palavras-chave: resistência microbiana; educação à distância; uso racional de an-timicrobianos.
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Infecciones por organismos multirresistentes aumenta el costo del tratamiento y tienen un alto
índice de mortalidad. Objetivo: describir un programa de educación a distancia para los profesionales de la
salud en el plano nacional en las medidas de prevención y control de la resistencia microbiana y el uso racio-
nal de los antimicrobianos. Método: se elaboró y ejecutó dos cursos sobre metodología de la enseñanza a
distancia durante los años 2007 y 2008 con la participación de 1172 profesionales de la salud en el Curso 1,
Control de la resistencia microbiana - www.rmcontrole.org.br, y 917 médicos y dentistas en el Curso 2, uso
racional de los antimicrobianos - www.atmracional.org.br.
ABSTRACT
Palabras-claves: resistencia microbiana; educación a distancia; uso racional de los antimicrobianos.
INTRODUÇÃO
Atualmente, a medicina depara-se com um
grande desafio: o surgimento de microrganismos
resistentes à maioria dos antimicrobianos desen-
volvidos (WEBER, 2005). Infecções causadas por
bactérias multirresistentes prolongam o tempo de
internação, elevam o custo do tratamento e apre-
sentam alta taxa de mortalidade (COURVALIN,
2005; FILE, 2000).
Sabe-se que o treinamento dos profissionais
da área de saúde constitui importante parte do
programa de diminuição da resistência aos antimi-
crobianos (DAVIS, 1999).
Guerra (2007) avaliou crenças, atitudes e co-
nhecimento de 310 médicos, diretamente envolvi-
dos na prescrição de antimicrobianos, no Hospital
São Paulo, em relação à resistência microbiana aos
antimicrobianos. Neste estudo 44,2% dos médicos
afirmaram que gostariam de receber mais informa-
ções sobre antimicrobianos.
A educação continuada dos profissionais da
área da saúde deve ser considerada como parte das
estratégias para manutenção de um sistema de saú-
de nacional, adequado e eficaz.
Infelizmente, garantir que os avanços cien-
tíficos da área da saúde sejam oferecidos a todos
os profissionais, ao mesmo tempo, em um país de
dimensões continentais como o Brasil é particular-
mente difícil.
Neste contexto, a educação a distância na
área da saúde tornou-se uma estratégia adequada
e eficaz, oferecendo ao profissional a possibilidade
de aquisição e atualização de conhecimento técni-
co sem precisar se afastar de suas atividades pro-
fissionais, além de proporcionar um ambiente de
troca de experiências com profissionais de todo o
país (COOK, 2008). Também diminui os custos de
um treinamento presencial, evitando gastos com
transporte permitindo, ainda, o treinamento con-
comitante de um maior número de profissionais
(LEWIS, 2005).
Em experiência anterior, um programa de
educação a distância criado por meio de um convê-
nio entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA) e a Universidade Federal de São Paulo
(UNIFESP) promoveu o treinamento de aproxi-
madamente 500 profissionais da área da saúde. A
maioria dos alunos (98,0%) que participou desse
programa referiu que o curso foi muito importante
para sua formação técnico-científica (MEDEIROS,
2008).
Dessa forma, a criação de um curso a dis-
tância sobre o uso adequado dos antimicrobianos
e a prevenção da resistência bacteriana aos anti-
microbianos poderia ser uma ótima estratégia para
capacitar os profissionais de saúde no Brasil, consi-
derando que o problema da resistência microbiana
está difundido por todo o país e profissionais de
todas as regiões brasileiras devem ter acesso a in-
formações sobre como enfrentar este desafio.
O objetivo deste artigo é apresentar nos-
sa experiência com a criação e aplicação de dois
cursos a distância: RMcontrole – Medidas de Pre-
venção e Controle da Resistência Microbiana e
Programa de Uso Racional de Antimicrobianos em
Serviços de Saúde e ATMracional - Uso Racional de
Antimicrobianos para Prescritores.
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MATERIAL E MÉTODO
Planejamento e realização
O Programa de Educação a Distância para a
Prevenção e o Controle da Resistência Microbiana
foi idealizado e patrocinado pela Organização Pan-
Americana da Saúde (OPAS), Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) e Coordenação Geral
de Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) da Secre-
taria de Vigilância em Saúde (SVS) como parte de um
Projeto para o Monitoramento e Prevenção da Resis-
tência Microbiana em Serviços de Saúde – Rede RM.
O conteúdo dos cursos e o acompanhamento
a distância dos alunos através de tutores foi realizado
pela Universidade Federal de São Paulo, por meio da
Disciplina de Infectologia e do Departamento de In-
formática em Saúde.
Os cursos foram oferecidos gratuitamente para
alunos selecionados através de critérios estabeleci-
dos pelas instituições participantes, com o objetivo
de permitir a participação de profissionais de saúde
de todo o país, promovendo o intercâmbio de expe-
riências regionais, apoio aos profissionais de regiões
mais distantes das capitais, sem retirar o profissional
de suas atividades diárias.
Público alvo e critérios de seleção
Para o curso RMcontrole foi programado o
treinamento de 1.000 profissionais da área da saúde
de todo o Brasil. Como a idéia era capacitar profis-
sionais que pudessem atuar como multiplicadores em
seu local de trabalho, foi dada preferência aos profis-
sionais com atuação em serviços de saúde (médicos,
enfermeiros, microbiologistas, biólogos e farmacêu-
ticos, médicos veterinários, fisioterapeutas, nutricio-
nistas e outros) dos seguintes estabelecimentos:
1. Vigilâncias Sanitárias e Epidemiológicas (Estaduais e Municipais);
2. Coordenadores Estaduais e Municipais de programas de Controle de Infecção Hospitalar;
3. Profissionais que atuem em Comissões de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) em hospitais universitários, federais, estaduais, municipais e privados;
4. Gestores da Saúde.
Para o curso ATMracional foi programado o trei-
namento de 700 profissionais envolvidos diretamente
com a prescrição de antimicrobianos (640 médicos e 60
cirurgiões-dentistas), com preferência para:
1. Médicos que trabalhassem em hospitais partici-
pantes da Rede de Monitoramento e Controle
da Resistência Microbiana em serviços de saúde
(Rede RM);
2. Médicos que participassem de Comissões de
Controle de Infecção Hospitalar;
3. Médicos que trabalhassem em unidade de tera-
pia intensiva adulto, pediátrica e neonatal;
4. Médicos clínicos, cirurgiões e dentistas que tra-
balhassem na assistência a pacientes, com priori-
dade para atuação acadêmica.
Também optou-se por disponibilizar, propor-
cionalmente, mais vagas para regiões mais distantes
dos grandes centros, como Norte e Centro-Oeste.
Desta forma, criou-se um índice pelo qual foi multipli-
cado o número de estabelecimentos de saúde dessas
regiões, fazendo com que, proporcionalmente, fos-
sem selecionados mais profissionais de saúde desses
locais.
Inscrições
As inscrições e todo o material didático foram
oferecidos aos participantes gratuitamente. As ins-
crições foram realizadas, exclusivamente, pela “in-
ternet”, já com o intuito de trazer os alunos para o
ambiente onde as atividades obrigatórias seriam re-
alizadas. (“sites”: www.rmcontrole.org.br e www.
atmracional.org.br)
Após o preenchimento da ficha de inscrição,
foi solicitado aos profissionais que respondessem um
questionário. Antes de responder o questionário, foi
apresentado ao profissional um termo de consenti-
mento livre e esclarecido que garantia o anonimato
e desvinculava o conteúdo das respostas com o pro-
cesso seletivo para participação no curso. O intuito
foi conhecer a situação dos hospitais brasileiros, em
relação às estratégias para controle e prevenção da
resistência microbiana e avaliar o conhecimento dos
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Descrição da criação e aplicação de um ambiente de ensino a distância para o controle da resistência microbiana e uso racional de antimicrobianos para profissionais da área da saúde
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profissionais que são essenciais para o desenvolvi-
mento e implantação dessas estratégias de controle.
Conteúdo dos cursos
O conteúdo do curso RMcontrole foi dividido
em cinco módulos:
1. Antimicrobianos - bases teóricas e uso clí-
nico: entender as propriedades farmacológicas,
mecanismos de ação e resistência dos antimicro-
bianos, indicações clínicas e efeitos colaterais;
2. Legislação sobre a propaganda e prescrição
de antimicrobianos: conhecer a legislação bra-
sileira e de outros países direcionadas aos medi-
camentos, com ênfase nos antimicrobianos, com
ênfase na legislação direcionada à publicidade e
propaganda de medicamentos;
3. Resistência microbiana – mecanismos e im-
pacto clínico: entender os mecanismos de re-
sistência, seu impacto clínico e ações para pre-
venção e controle da resistência;
4. Implantação de um programa de uso racio-
nal de antimicrobianos: identificar a importân-
cia do uso adequado dos antimicrobianos para
o controle da resistência microbiana e conhecer
estratégias para a implantação de um programa
de uso racional de antimicrobianos;
5. Intervenções e medidas de prevenção e con-
trole da resistência microbiana: conhecer as
principais estratégias de prevenção e controle da
resistência microbiana nos serviços de saúde.
•Uso racional de antimicrobianos e resistên-
cia microbiana: importância do uso adequado
de antimicrobianos para o controle da resistência
microbiana, principais mecanismos de resistência
e seu impacto clínico e estratégias para a implanta-
ção de um programa de uso racional de antimicro-
bianos;
•Interpretação de dados microbiológicos: ba-
ses teóricas sobre a realização da cultura e inter-
pretação de testes de sensibilidade;
•Tratamento das principais infecções: diretrizes
atualizadas sobre o tratamento de infecções co-
munitárias e infecções relacionadas à assistência à
saúde, bem como recomendações para a realiza-
ção da profilaxia antimicrobiana em cirurgias;
•Uso de antimicrobianos em populações es-
peciais: particularidades da utilização de antimi-
crobianos em pacientes com insuficiência renal e
insuficiência hepática e o uso de antimicrobianos
em gestantes e neonatos.
O conteúdo foi elaborado por profissionais
com grande experiência no estudo da resistência mi-
crobiana e no uso de antimicrobianos na prática clíni-
ca. Todo conteúdo foi baseado em estudos atualiza-
dos e de acordo com a legislação brasileira.
Após a elaboração do conteúdo teórico, o tex-
to era revisado por uma equipe de pedagogas para
adequação e aperfeiçoamento da didática. Posterior-
mente, foi revisado por outros profissionais especia-
listas em infectologia e, a seguir, transformados no
formato de apresentação na “internet”, material im-
presso e gravado em CD-ROM.
Metodologia e didática
O aluno poderia acompanhar o curso por meio
de três mídias: recebia via correio o material didáti-
co impresso (uma apostila com todo o conteúdo do
curso), um CD-ROM (que também apresenta todo o
conteúdo do curso) e uma senha pessoal para acesso
na “internet” (Figura 1).
Pela “internet”, o aluno poderia acompanhar o
curso, tirar dúvidas, trocar experiências com profis-
sionais de todo o Brasil e realizar as atividades didáti-
cas obrigatórias para comprovação de sua participa-
ção no curso.
Para ser aprovado e receber o certificado, o
aluno deveria responder todos os questionários e al-
cançar uma média final de 70% nas atividades pro-
postas e obrigatórias.
Durante todo o período em que o curso ficou
disponível na “internet”, as atividades foram acom-
panhadas por tutores, que orientavam os alunos em
suas dúvidas, incentivavam a discussão entre os pro-
O conteúdo do curso ATMracional foi dividido
em quatro módulos:
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fissionais, forneciam suporte científico e pedagógico.
Os tutores são profissionais com formação na
área da saúde, pós-graduandos, sem vínculo empre-
gatício com a Universidade Federal de São Paulo e
com experiência na atuação de tutoria em outros
cursos já realizados pela instituição. O contato com a
tutoria podia ser pela “internet”, por telefone ou fax
e até mesmo pelo correio.
Os cursos ficaram disponíveis na “internet”
por nove semanas cada um e, posteriormente, o alu-
no poderia rever o conteúdo e multiplicar o conhe-
cimento adquirido para outros profissionais através
do CD-ROM e da apostila que acompanha o material
fornecido aos alunos.
Figura 1. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso RMcontrole
Figura 2. Capa da apostila e rótulo do CD-ROM do curso ATMracional
Análise Estatística
Foi realizada a análise descritiva das caracterís-
ticas demográficas e das respostas de cada participan-
te nos questionários inicial e final, bem como compa-
ração entre os principais grupos e entre a pontuação
inicial e final (qui-quadrado).
Para as variáveis qualitativas foram apresenta-
das as freqüências absolutas (n) e as freqüências rela-
tivas (%). Para a pontuação fina, que é uma variável
quantitativa, foram utilizadas como medidas, resumos
a média e a mediana e desvio-padrão, mínimo e má-
ximo para apontar a variabilidade. Para a comparação
entre os grupos das variáveis, o teste utilizado foi a
análise de variância (ANOVA).
Caracterização dos profissionais inscritos
RMcontrole
As inscrições “on line” ficaram disponíveis de
18 de junho a 31 de agosto de 2007 (total de 11 se-
manas). Ao final das inscrições, obtivemos 6.256 ins-
critos distribuídos por todo o Brasil, como pode ser
visto na Figura 3. Podemos observar o predomínio
de inscritos provenientes da região Sudeste, porém
com número de inscritos representativo em todas as
regiões (Gráfico 1).
RESULTADOS
Figura 3. Distribuição dos inscritos no curso RMcontrole por Estado (n=6256)
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A distribuição dos inscritos pela profissão mos-
tra também grande diversidade dos profissionais na
procura do curso, bem como em relação ao tipo de
serviço:
As inscrições “on line” ficaram disponíveis de
26 de novembro de 2007 a 12 de janeiro de 2008
(total de 8 semanas). Ao final das inscrições tivemos
2.856 inscritos distribuídos por todo o Brasil, como
pode ser visto no Gráfico 4. Aproximadamente
65,0% dos inscritos eram médicos e os demais cirur-
giões dentistas.
Caracterização dos profissionais selecionados
RMcontrole
Foram selecionados 1.172 alunos, sendo 72,3
% do sexo feminino e a média de idade dos selecio-
nados foi de 39,3 anos de idade.
Conforme definido inicialmente, a seleção pri-
vilegiou profissionais das regiões Norte e Centro-
Oeste do Brasil.
ATMracional
Foram selecionados 917 alunos, conforme de-
finido inicialmente, a seleção privilegiou profissionais
das regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.
Realização dos cursos
Cada curso teve duração de nove semanas,
período em que os participantes poderiam se comu-
nicar com outros participantes de qualquer região
do país e enviar perguntas aos tutores por meio dos
fóruns de dúvidas. Em média, foram encaminhadas
1000 mensagens em cada curso, referentes a dúvidas
ATMracional
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sobre o conteúdo do curso e sobre questões práticas
do dia-a-dia dos profissionais.
No questionário inicial, antes da realização do
curso, perguntamos ao profissional como ele avalia-
va seu conhecimento sobre antimicrobianos e 60,5%
responderam que consideravam seu conhecimento
sobre antimicrobianos regular e que gostariam de
conhecer mais sobre o assunto. Aproximadamente
metade dos participantes (48,5%) respondeu que
não participavam de um curso sobre antimicrobianos
há mais de um ano e apenas 14,3% haviam partici-
pado de alguma atualização sobre o tema no último
mês. Ao final do curso, foi perguntado novamente aos
alunos como avaliavam seu conhecimento sobre an-
timicrobianos e a maioria (64,7%) afirmou que seu
conhecimento era atualizado.
No questionário final foram apresentadas ques-
tões aos participantes para que pudéssemos avaliar
a efetividade do curso e do modelo de ensino, bem
como para encontrarmos sugestões para aprimora-
mento dos próximos programas.
Para a maioria dos profissionais, esta havia sido
sua primeira participação em um curso a distância
pela “internet”. Foi perguntado aos participantes qual
o grau de dificuldade que haviam encontrado em re-
lação ao estudo via “internet” e 71,8% afirmaram que
não haviam encontrado dificuldade alguma e 87,4%
referiram que fariam outro curso a distância sobre o
tema.
Em relação à satisfação dos alunos com o cur-
so, 86,8% afirmaram estarem muito satisfeitos ou
satisfeitos. As vantagens citadas pelos participantes
neste curso a distância foram: a relevância e atualiza-
ção do conteúdo do curso, o apoio científico presta-
do pela equipe de tutores e a oportunidade de trocar
experiências com outros profissionais.
A maioria dos participantes (60,7%) prefere o
material impresso como sua primeira opção de estu-
do e 22,7% dos participantes preferem estudar via
“internet”.
A média de acertos no questionário inicial
(questões que avaliavam o conhecimento) foi de
55,5% (±13,3%) e ao final do curso, a pontuação nas
questões de conhecimento foi de 76,8% (±13,9%).
A análise estatística das pontuações iniciais e finais
dos alunos que finalizaram o curso mostra que houve
diferença estatisticamente significativa entre as notas
iniciais e finais, permitindo-nos concluir que houve
aquisição de conhecimento entre os participantes do
curso (p < 0,001).
A porcentagem média de aprovação foi acima
de 95%, cerca de 5% dos selecionados não iniciaram
suas atividades nos cursos e de 3 a 5% foram repro-
vados por não atingirem a pontuação mínima de 70%
de acertos.
DISCUSSÃO
Vários países e instituições têm direcionado in-
vestimentos em campanhas nacionais para orientação
de médicos e pacientes sobre a importância da aderên-
cia às medidas de prevenção e controle das infecções
relacionadas à assistência à saúde e sobre a ameaça da
resistência bacteriana (DELLIT, 2007; SUNESHINE,
2004).
A utilização da “internet” como fonte de infor-
mações atualizadas na área da saúde já está bem es-
tabelecida e, nos últimos anos, cursos a distância para
profissionais da área da saúde tem sido oferecidos em
diversos países com sucesso (COOK, 2008; LEWIS,
2005).
Nosso estudo confirmou que os profissionais da
área da saúde brasileiros tinham muito interesse por
este tema e pudemos observar que a maioria estava
preparada para a utilização desta ferramenta de ensi-
no, mesmo sem experiência prévia com outros cursos
à distância. Também foi possível evidenciar que hou-
ve aquisição de conhecimento quando comparamos
as pontuações iniciais e finais dos participantes. Além
disso, encontramos baixa taxa de desistência e repro-
vação.
No questionário aplicado após o curso, a maioria
dos participantes relatou satisfação em participar desse
programa, principalmente pela oportunidade de troca
de experiência com outros profissionais.
Particularmente no Brasil, um país com grande
área demográfica e recursos financeiros restritos, tanto
para a área da saúde como para a área educacional, esta
ferramenta educacional apresenta várias vantagens:
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1. Possibilita o acesso de profissionais de todas as
regiões do país a informações técnicas atuali-
zadas, incluindo profissionais de áreas distantes
dos grandes centros;
2. Permite a troca de experiências entre profis-
sionais de diferentes regiões que muitas vezes
estão enfrentando os mesmos problemas;
3. Garante o treinamento de grande número de
profissionais ao mesmo tempo;
4. Mantém o profissional em seu local de traba-
lho, evitando prejuízo da rotina de trabalho;
5. Evita gasto com transporte e hospedagem de
profissionais que de outra forma teriam que
se deslocar de suas cidades para realização de
cursos.
Acreditamos que o aprimoramento desta me-
todologia em nosso país, poderá se transformar em
um importante instrumento de formação, inclusive na
área de prevenção e controle de infecções relaciona-
das à assistência à saúde, setor que requer atualiza-
ções freqüentes.
A descrição de nossa experiência poderá ser-
vir de exemplo para outras instituições de saúde e
até mesmo outros setores da sociedade que tenham
interesse nessa ferramenta educacional, mas desco-
nhecem os primeiros passos.
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Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual
Ivana Carneiro Almeida 1
Doutoranda em Administração pelaUniversidade Federal de Lavras – UFLA
São inúmeras as variáveis que interferem no processo de
ensino e aprendizagem na educação a distância. Interessa ao pre-
sente trabalho discutir em termos teóricos a importância da criação
de um projeto pedagógico em uma “Comunidade Virtual”. Faz-se
necessário também a consideração dos recursos técnicos e audio-
visuais, as condições que viabilizem a mediação das atividades pre-
senciais e a distância pelas tecnologias de informação.
Many variables interfere in the process of teaching and
learning in distance education. This work concern is to discuss in
theory the importance of the creation of a teaching project in a
“Virtual Community.” It is also necessary to consider technical and
audiovisual resources, the conditions that allow the mediation of
presence and distance activities by information technologies.
Distance education: pedagogical project of the virtual environment
RESUMO
ABSTRACT
Educación a distancia: proyecto pedagógico del entorno virtual
Ivana Carneiro Almeida Correspondência: Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.Av. Luiz Boali, 352 Castro PiresTeofilo Otoni, MG – Brasil - CEP 39800-000Endereço eletrônico: [email protected]
1
Keywords: Pedagogical project; distance education
Palavras-chave: Projeto pedagógico; educação a distância.
Hay muchas variables que afectan el proceso de enseñanza
y aprendizaje en la educación a distancia. Interés al presente trabajo
debatir, en el plano teórico, la importancia de crear un proyecto
educativo en una “comunidad virtual”. Es necesario también tener
en cuenta las condiciones técnicas y audiovisuales que permitan la
mediación de las actividades en el aula y en la distancia por la tec-
nología de la información.
RESUMEN
Palabras-claves: Proyecto pedagógico; educación a distancia.
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81
O desenho e a forma da proposta de um am-
biente virtual interativo com os alunos devem partir
do pressuposto que os mesmos deveriam se sentir
“convidados e à vontade para participar com suas
idéias, pensamentos e ações e se possível promoves-
sem ações de ordem colaborativas e cooperativas en-
tre eles”, de forma democrática e participativa.
Para se produzir um projeto pedagógico em
uma “Comunidade Virtual”, é importante considerar
os recursos técnicos e audiovisuais, as condições que
viabilizem a mediação das atividades presenciais e a
distância pelas tecnologias de informação.
Gómez (apud ANTONIO, 2005) afirma que:
deve-se observar que o fato de serem tec-
nologias interativas não implicará necessariamente
em processos democráticos, já que podem estar a
serviço de pessoas ou instituições interessadas em
manter as interações autoritárias e de dependên-
cia (ANTONIO, 2005).
Não basta desejar ter uma ação pedagógica na
elaboração de um ambiente virtual interativo, pois
se faz condição importante e necessária haver um
gestor educacional, liderando uma equipe multidisci-
plinar. Neste sentido, deve ser montada uma equipe
multidisciplinar, formada por várias áreas de atuação,
visando um ambiente que procure obter informações
seguindo a orientação da equipe de “conteudistas”
dos programas, assim como algo que contemplasse
espaços menos rígidos.
Ensinar e aprender exige, hoje, muito mais
flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo,
menos conteúdos fixos e processos mais abertos de
pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades
atuais é conciliar a extensão da informação e a varie-
dade das fontes de acesso com o aprofundamento da
sua compreensão em espaços menos rígidos, menos
engessados. Temos informações demais e dificuldade
em escolher quais são significativas para nós e de con-
seguir integrá-las dentro da nossa mente e da nossa
vida. A aquisição da informação e dos dados depen-
derá, cada vez menos, do professor. As tecnologias
podem trazer hoje dados, imagens, resumos de for-
ma rápida e atraente. O papel do professor – o papel
principal - é ajudar o aluno a interpretar esses dados,
a relacioná-los, a contextualizá-los (MORAN, 1997
apud GOMEZ, 2004, p.47).
Convém ressaltar que o design deste ambien-
te virtual interativo deve ser resultado de uma ação
pedagógica que demanda estudo e prática da peda-
gogia na esfera digital, como cita Gómez (2004), além
de requerer uma contextualização, na dimensão do
real/virtual, para logo problematizá-la, ou mesmo
por meio de uma “escuta densa”, no dizer de Frei-
re (1995), há que se conhecer a visão da equipe de
produção e dos professores sobre o que deve ser a
educação em rede no seu contexto cultural, conec-
tando os elementos emergentes com as situações de
ensino-aprendizagem específicas.
Importante aspecto a ser considerado na esfe-
ra digital, não diferente da esfera presencial, está na
coordenação das atividades de montagem do curso
na Internet. Aquela necessita ser capaz de conjugar
conhecimentos de pedagogia, informática, psicologia,
sociologia, comunicação, marketing, dentre outros
e ser de responsabilidade de um designer educacio-
nal, na qualidade de educador, corroborando Gómez
(2004) que completa:
além de identificar as necessidades e os
problemas, ele desenha o mapa, escreve o roteiro
com critérios didáticos que superam a segmenta-
ção, o verbalismo, o dogmatismo e o conhecimen-
to do senso comum. Para isso, deverá primeiro es-
tudar a realidade com a qual se pretende trabalhar
(GÓMES, 2004, p. 128).
Sabe-se que o conhecimento de modernas
multimídias e as possibilidades de os professores es-
tarem atentos às rápidas mudanças de sua área e ao
destino das gerações futuras são exigências pontuais
de uma proposta teórico-metodológica, tanto para a
mediação pedagógica como para o desenho educati-
vo. Sendo que:
A proposta considera a construção do co-
nhecimento contextualizado em relação à cultura,
INTRODUÇÃO
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para fugir à idéia superficial de se criar protótipos
ou modelos de mediação e design educativo. Por
isso, os instrumentos de pesquisa deverão ser
construídos com os participantes do projeto. Só
quando um projeto educativo on-line for divulga-
do e discutido com a equipe de produção e a co-
munidade participante é que ajudará os gestores a
analisar melhor a potencialidade do processo de
desenho e mediação pedagógica (GÓMEZ, 2004,
p.21).
Para Antônio (2005), a criação de um Projeto
Pedagógico do Ambiente Virtual Interativo requer
considerar gestões administrativas, pedagógicas e
tecnológicas que permitam integrar, assegurar e sus-
tentar o registro de informações produzidas, tanto
na parte de criação e desenvolvimento de um curso
como também no momento de contar com disposi-
tivos que possibilitem a organização, a distribuição e
a atualização das informações, sem dizer no conheci-
mento atualizado referente aos dispositivos tecnoló-
gicos que permitam “processos de fala, leitura, escrita
na rede que incidam na constituição de subjetividades
democráticas” (GÓMEZ, 2004, p.95).
Vale ressaltar que o ambiente por si só não ga-
rante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de
educação e de projeto político-pedagógico em rede,
que o sustenta bem e não só da tecnologia utilizada.
Concorda-se com Gómez (2004), quando ele diz:
Assim como não há uma educação neutra,
também não há um desenho nem projeto educa-
tivo neutro. Os universos epistêmicos e os prin-
cípios ético-estéticos que o atendem podem ser
múltiplos. O importante é que os profissionais
desse setor possam participar dos sistemas semi-
óticos e lingüísticos, para melhorar a sua prática
educativa e a aprendizagem dos alunos, enquan-
to sujeitos da montagem e não enquanto objetos.
(GÓMEZ, 2004, p. 134).
Ao conceber um projeto de ambiente virtual
interativo, convém lembrar que se trata de um dispo-
sitivo que deve permitir a criação de um espaço para
desenvolver um projeto criativo e, desta maneira,
faz-se necessário uma análise de particularidades da
situação específica. Isto é confirmado quando Gómez
(2004, p.138) diz que podem ser usados “vários dis-
positivos metodológicos como: ‘brainstorming’, gru-
pos de trabalho, dinâmicas de grupos, questionários e
entrevistas, realizados face-a-face e/ou on-line.”
A existência de uma equipe multidisciplinar
somada ao fato de a passagem da capacitação virtu-
al não ser uma mera transposição da presencial, mas
sim fruto de um reestudo da forma de disponibilizar
informações, definir conceitos e, acima de tudo, ins-
tigar os professores a uma ação reflexiva sobre seu
trabalho e com os trabalhos de seus alunos, resultou
na preparação de um roteiro inicial de produção do
material. Este roteiro foi definido por Antônio (2005)
como “sistema de desenvolvimento de cursos à dis-
tância”. Estas fases foram determinadas em função da
área de atuação de cada elemento da equipe e fica-
ram assim definidas:
•Análise do desenvolvimento dos cursos presen-
ciais, assim como das avaliações elaboradas pelos
professores a respeito do curso presencial;
•Gravação do curso presencial e transcrição da
forma como a pesquisadora desenvolvia o curso
presencial durante a capacitação do público alvo;
•Comparação do material escrito - material do
curso oferecido presencialmente e análise das
avaliações realizadas;
•Elaboração do formato gráfico da interface, com
o apoio de um web designer;
•Pesquisa e busca em sites nacionais e internacio-
nais a respeito do conteúdo “Internet e seus re-
cursos básicos”, bem como sobre a existência de
cursos a distância e de seus vários formatos;
•Reescrita do conteúdo adequando-o ao públi-
co-alvo com o apoio técnico de uma analista de
sistemas visando às especificidades do novo am-
biente;
•Revisão pedagógica e definição das telas e anima-
ções, uma vez que se trata de requisito necessá-
rio para o processo de ensino-aprendizagem;
•Desenvolvimento das telas e animações no com-
putador pelos web designers;
•Revisão gráfica e produção escrita do roteiro
para gravação final;
• Filmagem do módulo desenvolvido pelo software
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Ensino a distância: projeto pedagógico do ambiente virtual
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I3, o qual concilia arquivos elaborados pelo editor
de apresentações, no caso, power point, com a
exibição em vídeo realizada pelo Windows Media
Player.
•Montagem dos materiais desenvolvidos pelas mí-
dias, pelo webdesigner e disponibilização no am-
biente de aula.
CONCLUSÃO
Este artigo não se preocupou em aprofundar
na concepção de ensino e aprendizagem, mas indicar
que um projeto pedagógico possui paradigmas e que
a construção do ambiente virtual de aprendizagem
deve estar articulada junto a um projeto político-pe-
dagógico. O ambiente virtual precisa, assim, refletir
em suas estratégias de ensino e aprendizagem quais
são seus objetivos, o que se pretende com essa nova
de construção do saber.
O importante é perceber que o uso das tec-
nologias da comunicação não muda, em princípio,
as questões inerentes a qualquer projeto educativo.
Há sempre que se responder: para quem? Para quê?
Como o projeto será desenvolvido?
Quando se desenvolve um ambiente de apren-
dizagem, faz-se uma opção teórico-metodológica que
tem subjacente uma abordagem de desenvolvimento
e de aprendizagem humana.
Não basta desejar ter uma ação pedagógica na
elaboração de um ambiente virtual interativo, pois,
se faz condição importante e necessária, haver um
gestor educacional liderando uma equipe multidisci-
plinar. Vale ressaltar que o ambiente por si só não ga-
rante a aprendizagem, ele traz sim uma concepção de
educação e de projeto político-pedagógico em rede.
Assim sendo, os profissionais que estão com o
desafio de desenvolver ambientes virtuais de aprendi-
zagem precisam investir no desenvolvimento de uma
base epistemológica múltipla e convergente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VALENTE, J. A. Computadores e o conhecimento. São Paulo: Editora Nied, 1993.
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 80 - 83, segundo sem. 2009
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
Robert Kalley Cavalcanti de Menezes 1
Professor Adjunto naUniversidade Federal de Campina Grande
Este trabalho apresenta alguns conceitos de ambiente virtual como atividade de transferência de conhecimento na rede a partir de técnicas pedagógicas e de comunicação, com apoio das tecnologias da informação. Espaços em escala global foram abertos para divulga-ção do conhecimento, proporcionando a criação de novos projetos educacionais e corporativos de grande impacto. O ambiente virtual é uma tendência que veio para evoluir e exige planejamento rápido para respostas que mudam a cada instante. Dentro desta dinâmica, conce-ber um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual demonstra ser uma opção interessante para clientes e usuários do sistema.
This work presents some concepts of e-Learning as knowl-edge transfer activity on the Web through pedagogical and communi-cation techniques, with the support of information technology. Spac-es, on a global scale, were opened for dissemination of knowledge, providing the creation of new educational and corporate projects of wide impact. The e-learning is a trend that has come to evolve and demands rapid planning for responses that change quickly. Whithin this dynamic, designing a “turn-key” e-learning model proves to be an interesting option for customers and users of the system.
Concepts and considerations for a “turn-key” model of e-learning
RESUMO
ABSTRACT
Conceptos y consideraciones para un modelo “llave-en-mano” del entor-no virtual
Robert Cavalcanti de MenezesCorrespondência: Av. Manoel Alves Oliveira 1095Campina Grande – Paraíba – BrasilCEP 58410-860Endereço eletrônico: [email protected]
1
Keywords: e-learning; web; information technology.
Palavras-chave: Ambiente virtual; rede; tecnologias da informação.
Este trabajo presenta algunos conceptos de entorno virtual como actividad de transferencia de conocimientos en la red, utili-zando técnicas pedagógicas y de comunicación, con apoyo de las tecnologías de la información. Espacios a escala mundial se abrieron a la difusión de los conocimientos, ofreciendo la creación de nue-vos proyectos educativos y corporativos de gran impacto. Entorno virtual es una tendencia que llegó para evolucionar y exige planifi-cación rápida a respuestas que cambian a cada momento. Dentro de esta dinámica, el diseño de un modelo “llave-en-mano” de en-torno virtual ha demostrado ser una opción interesante para los clientes y usuarios del sistema.
RESUMEN
Palabras-claves: entorno virtual; red; tecnologías de la información.
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INTRODUÇÃO
Modelos de ensino-aprendizagem que permi-
tem a transferência de conhecimentos a distância e
com separação temporal entre tutor e aprendiz já
têm alguma tradição no país. A interligação entre as
duas partes do ensino-aprendizagem tem ocorrido
através do correio (cursos por correspondência), rá-
dio (programas de alfabetização), televisão (teleduca-
ção), vídeos (estudos dirigidos) e, recentemente, pela
Internet.
A educação a distância, portanto, é um concei-
to abrangente, que envolve um ambiente de ensino-
aprendizagem sem a presença física dos participantes
do processo. Atualmente, é exigido um planejamento
sistemático dos conteúdos e das mediações pedagó-
gicas, além da elaboração de recursos interativos que
facilitem a comunicação entre tutor e aprendiz. O
ensino com tecnologia e a educação à distância mu-
daram para a educação online e para o treinamento
baseado em Web, tendo recebido a designação de e-
Learning.
Para Finn (2004), “a introdução do e-Learning
adicionou novos significados para o treinamento e as
possibilidades para entrega de conhecimento e informa-
ção para os estudantes em um compasso acelerado e
abriu um novo mundo para a transferência de conheci-
mento.” Para Carvalho (2007), o e-Learning é diferen-
te da educação a distância, uma vez que integra a dis-
tância o aluno em grupo de aprendizagem, enquanto
na educação a distância, o aluno está sozinho com o
tutor. Desta forma, e-Learning apresenta como carac-
terística própria a interação multidirecional entre to-
dos os participantes, suportada pelas tecnologias do
conhecimento.
A partir da Web, surgem novos espaços de co-
municação e vivência em ambiente virtual de aprendi-
zagem na perspectiva do trabalho colaborativo, supe-
rando-se a presencialidade, substituída pelas mídias
de comunicação que atraem e permitem potenciali-
zar redes de interações em grande escala.
Desta forma, distintas abordagens educacionais
que variam desde processos altamente interativos
até a virtualização da prática de sala de aula podem
ser usadas a partir de princípios educacionais que
valorizam a construção do conhecimento, a autoria
dos conteúdos, a geração de novos conhecimentos
de forma colaborativa e a aprendizagem continuada.
Seja qual for a abordagem adotada, a educação à dis-
tância não pode ser entendida pela transferência de uma
abordagem pedagógica presencial para o virtual, mesmo
quando ambas se apresentam pelos mesmos princípios
educacionais (ALMEIDA & PRADO, 2007).
Além disso:
não se pode conceber que a educação à
distância e a educação presencial estejam com-
petindo entre si. São modalidades distintas, com
características próprias e muito ricas que podem
ser vistas e tratadas de maneira complementar em
diversos contextos de ensino e aprendizagem em
que essas modalidades se entrelaçam e realimen-
tam, permitindo expandir o espaço físico da sala de
aula ao tempo que integram novas possibilidades
de interação e registro que propiciam comparti-
lhar concepções, valores e sentidos (ALMEIDA &
PRADO, 2007).
O contexto presencial de formação educacio-
nal é parte de nossa cultura de aprendizagem. As re-
lações sociais se expressam na comunicação verbal e
gestual. Contudo, por maior que seja a diversificação
das dinâmicas pedagógicas, a escola tradicional esgo-
ta-se em relação ao tempo de aula, número de alunos
e organização disciplinar, diante do novo espaço mi-
diático explosivo e atraente do e-Learning, que pode
tornar o processo de ensino-aprendizagem mais inte-
ressante e motivador.
No contexto virtual, a aprendizagem po-
tencializa uma rede de interações, negociação e
produção compartilhada de significados que pro-
porcionam condições favoráveis aos processos de
assimilação e acomodação implícitos na constru-
ção/reconstrução de conhecimentos. Mas, para
que essa rede se estabeleça é necessário que se
tenham intenções pedagógicas norteadoras de
estratégias presentes desde a concepção, planeja-
mento, implementação e avaliação do curso, en-
volvendo as interações do professor com os alunos
e entre os alunos (ALMEIDA & PRADO, 2007, p.).
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A ESSÊNCIA DO E-LEARNING
Um projeto de e-Learning possibilita um design
educacional concebido como rede dinâmica de convi-
vência humana onde os participantes têm a possibilida-
de de assumir postura de “aprendente” e “ensinante”
um do outro, administrando-se conflitos, contradições
e ambigüidades, objetivando valorizar a interdependên-
cia e a colaboração entre pessoas. Trata-se de um setor
com grandes perspectivas para a educação formal e in-
formal e treinamento corporativo.
Especialistas do setor imaginam que o crescimen-
to do e-Learning no Brasil não se dará por razões exclusi-
vamente acadêmicas, por outro lado, sua capacidade de
multiplicar conhecimento para decisões inovadoras de-
verá também atrair mais aplicações alinhadas às estraté-
gias empresariais e promover benefícios diretos para os
negócios. Para Botelho (2007), “os conteúdos educacio-
nais (gerenciais, técnicos, operacionais, inter-relacionais)
estarão centrados naquelas habilidades que impactarão a
produtividade dos processos e a competitividade das em-
presas.”
É importante destacar que:
(...) muito se fala também na utilização da Web como veículo para promoção e realização de negócios, como canal de comunicação e como fonte ilimitada de informação e geração de conhecimento. O que pouco se fala (ainda) é que um programa de e-Learning pode representar um pouco de tudo isso ao mesmo tempo. Em outras palavras, um projeto de e-Learning pode significar para a empresa, muito mais do que apenas redução de custos em treinamen-to. Um projeto de e-Learning bem estruturado, tem efetivamente o potencial para se tornar uma unidade estratégica de negócios de extrema importância para a organização (LUCENA, 2007).
Neste sentido, é de se esperar que as expec-
tativas e preocupações dos investidores e usuários do
e-Learning estejam motivadas pelas suas necessidades
mais urgentes de gerar conhecimento como vantagem
competitiva. O e-Learning tanto como estratégia de ne-
gócios, ou como solução para aplicações específicas, ou
mesmo para aprendizado combinado (blended learning),
necessita de um roteiro de planejamento que contem-
ple todos os aspectos essenciais para sua estruturação:
gente, tecnologias, propósitos, conteúdos, mediação
pedagógica e demais aspectos multidisciplinares
O ponto de partida para estudo do e-Learning
é reinvenção do processo de ensino-aprendizagem
para suportar a demanda crescente dos trabalhado-
res do conhecimento2 para experiências de aprendi-
zagem apropriadas para o desenvolvimento de habili-
dades de pensamento crítico.
Pesquisas sobre aprendizagem e ensino su-
gerem, enfaticamente, que tais habilidades de pen-
samento crítico são mais desenvolvidas através de
métodos que envolvem conversação sobre pro-
blemas e temas – conversação esta que pode ser
entre aluno e mentor (Diálogo Socrático) ou entre
grupos de estudantes interessados, engajados em
discussões organizadas que focalizam criativas so-
luções de problemas (ROMISZOWSKI, 2003, p.).
Como conseqüência, embora esses métodos
sejam efetivos, envolvem um pequeno número de
alunos presenciais com um professor qualificado, o
que gera custo e impossibilidade de atendimento a
uma demanda crescente pelo conhecimento.
O e-Learning apresenta-se, portanto, como um
desafio da tecnologia para reproduzir, com design
educacional diferenciado, em larga escala, através da
Web, a eficácia do ensino presencial de qualidade em
ambientes acadêmicos ou corporativos.
Como já mencionado anteriormente, não se
trata de uma transferência de uma abordagem pe-
dagógica presencial para virtual, simplesmente. Ao
contrário, trata-se de uma produção multidisciplinar
que envolve em sua configuração mínima: aprendizes,
tutores, conteúdos e tecnologias do conhecimento,
em projeto de interação multidirecional com a utili-
zação das inovações da Web 2.0, mais interativas e
atraentes.
Em e-Learning, não se deve pensar em produ-
to, mas em experiência; não se deve pensar em ser-
viço, mas em soluções. Pesquisa publicada nos EUA
2 “Os trabalhadores do conhecimento gerenciam a si mesmos, têm a aprendizagem e o ensino contínuos como parte de sua função, têm alta mobilidade e são parceiros do empreendimento.” – Cidade do Conheci-mento – USP: http://www.cidade.usp.br/projetos/dicionario/gestao.htm
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pelo Delphi Group3 envolvendo empresas de desta-que em Fortune 500, comprova que aplicações do e-Learning nas corporações ainda está em estágio inicial mesmo nos mercados mais avançados.
Neste sentido, pesquisadores e corporações têm desenvolvido experiências antes mesmo de uma base referencial teórica de aceitação universal. Pesquisa reali-zada por Romiszowski (2003) revela que em 100 artigos sobre e-Leaning, acessados online, o termo foi definido quase 50 vezes, sendo encontradas mais de 20 defini-ções diferentes. Outros 50 artigos não apresentaram qualquer definição. Neste sentido, é válida a questão: O que é mesmo e-Learning?
De uma forma resumida, o e-Learning pode ser entendido como um processo de ensino-aprendizado que possibilita a interação multidirecional entre apren-dizes e tutores, com possibilidade de intercâmbio entre aprendizes, através de um design instrucional imple-mentado na Web, estruturado por mediações pedagó-gicas que permitem comunicação síncrona ou assíncro-na, através de sessões virtuais ou presenciais, apoiado pelas tecnologias do conhecimento e viabilizado pelas necessidades estratégicas de uma organização. Franco (2001) faz referência ao artigo “O que não é e-Learning” de Cher P. Lin, no qual o autor apresenta o processo de e-Learning como faca de dois gumes, caso os quatro principais mitos, no Quadro1, não sejam destruídos:
Quadro 1 - Os Quatro Principais Mitos do e-Learning
MITOS EXPLICAÇÃO
e-Learningtem a ver com
tecnologia.
Estudos comparativos mostraram que nenhuma mídia é superior a outra. O su-cesso tem mais a ver com o contexto em que ela é usada. E-Learning deve tratar de
processo, não de produtos.
e-Learning tem a ver com
informação.
Nós já estamos bombardeados com uma quantidade exorbitante de informação. O que as corporações necessitam são pes-soas capacitadas a sintetizar significado, a partir da enorme diversidade de conheci-mento. Informação não é conhecimento, conhecimento não é sabedoria e sabedo-
ria não é visão de mundo.
e-Learning trata de aprendizado
baseado na web.
Com essa orientação as pessoas tentam transferir o aprendizado tradicional para a nova mídia, sem alterar os princípios pedagógicos. E-Learning então, deve
ser sobre o aproveitamento da força e tratamento das fraquezas do aprendizado baseado na Web para criar um ambiente
de aprendizado significativo.
e-learning é baseado em
interação entre computador e
aprendiz.
Na verdade, este tipo de atividade pode garantir controle sobre atividades e se-
qüências, mas não necessariamente apren-dizado. O aprendizado de um indivíduo é o resultado das interações com a sua comunidade. Esta comunidade consiste de seus colegas, empregados, clientes,
parceiros e investidores.
Para Massie (1999):
o e-learning é um grande conceito, capaz
de englobar muito mais que apenas o treinamento
baseado na Web, CBT, educação à distância ou ou-
tras expressões. Com a difusão do termo através
de press releases, trade shows e novos planos de
negócio, temos uma oportunidade única de defi-
nir o que esse “e” REALMENTE deve representar
(MASSIE, 1999, p.).
Para Massie (1999), o “e” significa, literalmen-
te, a personificação “eletrônica” de uma relação co-
mercial, de compras ou de aprendizado. Contudo,
também quer dizer moderno, era da Internet, “pron-
to para o capital de risco” e online.
A EXPERIÊNCIA é um componente es-
sencial do e-learning, porque é nele que está o
VALOR. Se não nos concentrarmos na dimensão
EXPERIÊNCIA do aprendizado, correremos o ris-
co de errar na divulgação de informações sobre
aprendizado e treinamento. Converter, simples-
mente, um esboço de curso em HTML não é o
melhor do e-learning. Isso é o mesmo que apenas
oferecer material de leitura pela rede (MASSIE,
1999).
A experiência a que se refere Massie (1999) leva em consideração os fatores apresentados no
Quadro 2, a seguir:
FATORES EXPLICAÇÃO
ComprometimentoComo motivar o aprendiz a se envolver totalmente.
CuriosidadeComo aproveitar o poder da curiosidade e da exploração.
Simulação e prática
Como oferecer ao aprendiz oportunida-des instigantes de simulação e prática.
AperfeiçoamentoComo fornecer conteúdo educacional de correção e extensão.
TreinamentoComo ministrar treinamento humano e di-gital para aprendizes.
Aprendizadoem Grupo
Como formar comunidades que abram ca-minho para as dimensões sociais do apren-dizado online. Como explorar o aprendi-zado em grupo.
Aprendizado Ativo
Como elaborar projetos que incentivem o aprendizado ativo e que se aliem com os desafios do ambiente de trabalho.
Apoio aoDesempenho
Como criar programas de e-Learning dura-douros e que incrementem o desempenho do aprendiz no seu dia-a-dia profissional.
Quadro 2 - Fatores Relevantes para o E-Learning (Elliot Massie)
Fonte: Conexão Mercado – Revista Eletrônica: http://www.conexaomer-cado.com.br/VerMateria.aspx?id=30
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IntensidadeComo criar experiências memoráveis e de alta intensidade.
Avaliação e Feedback
Como ajudar o aprendiz a perceber me-lhor seu próprio conhecimento e suas carências. Como a organização pode ge-renciar capital humano utilizando-se o e-Learning.
Cultura do Ensino
Como o e-Learning pode ampliar o volu-me de ENSINO que ocorre na organiza-ção, motivando a transmissão de conheci-mento mais vezes em um dia de trabalho.
Observa-se que as funções tecnológicas do e-
Learning não foram consideradas por Massie (1999)
nesta percepção de negócio. O e-learning dos meus so-
nhos tem a intensidade de um simulador de vôo, o apoio
via e-mail de um mentor de confiança, a atração de um
grande romance literário - e cria a EXPERIÊNCIA do alu-
no que o faz dizer “UAU”. O “UAU” tem a ver com sua
conexão com o conhecimento, não com a tecnologia. O
“e” é o poder da EXPERIÊNCIA. Vamos inventar e criar
isso! (MASSIE, 1999).
Por outro lado, Khan (1997) sugere oito di-
mensões-chave para o design dos projetos a serem
avaliadas, incorporando os seguintes aspectos: pe-
dagógicos, institucionais, tecnológicos, design de in-
terface, avaliação, gestão, suporte técnico e aspectos
éticos. Cada dimensão pode ser ainda dividida em
subdimensões e fatores específicos relacionados ao
design de ambientes.
A metodologia “A Framework for E-Learning”4
de Khan (1999) está sendo atualmente utilizada por
pesquisadores em diversos países.
A decisão mais simples na implementação
de e-Learning são o hardware e o software a se-
rem utilizados. Busque as alternativas disponíveis,
selecione uma boa ferramenta de autoria, adquira
um gerenciador de e-Learning – LMS – e imple-
mente aulas virtuais. Todas essas decisões depen-
dem unicamente de uma seleção criteriosa. A eta-
pa mais difícil é criar e implantar novos métodos
para o desenho de cursos, desenvolvimento pes-
soal e mudanças organizacionais. Esse é o grande
desafio do e-Learning! (MASSIE, 1999).
Atualmente, alguns LMSs podem dar suporte
ao processo de e-Learning. Entretanto, como produ-
to, nenhum LMS pode fazer de tudo. A tecnologia em
si mesma não é solução. Para Finn (2004), soluções
efetivas de entrega de conhecimento precisam trabalhar
externamente bem como internamente para conectar
unidades de negócio, fornecedores e clientes. O Websi-
te da empresa McWeadon Education5 comercializa o
LMS McWeadon utilizando a estratégia do Free Demo
Course para clientes em potencial, que recebem um
resumo do ambiente de tecnologia educacional, en-
volvendo os aspectos: Planejamento e Gestão do
e-Learning (compreensão de projetos de e-learning
e blended e-learning para suas necessidades, apren-
dizagem organizacional, gestão das tecnologias e as-
pectos estratégicos do negócio) e Design Instrucional
de e-Learning (planejamento da questão instrucional,
necessidades de avaliação, análise das atividades, ca-
racterísticas dos aprendizes, objetivos instrucionais,
recursos instrucionais, seqüência de conteúdos, e ou-
tros aspectos relacionados à geração dos conteúdos).
Outros produtos estão disponíveis como pla-
taformas computacionais, formadas por diferentes
ferramentas de interação, comunicação, inserção de
documentos, gerenciamento de informações, en-
tre outras funções, a exemplo de diversas platafor-
mas abertas como ProInfo, Teleduc, Moodle, além de
plataformas proprietárias como Blackboard, WebCT,
LearningSpace. Neste aspecto, a tecnologia não é a
questão crítica. Para concluir este tópico, é razoável
distinguir dois aspectos-chave na concepção do e-
Learning:
O primeiro consiste em perceber o processo
como uma questão educacional em si mesmo e suas
potencialidades em larga escala. O segundo, como
conseqüência, consiste em elaborar o planejamento
estratégico para definir o projeto, recursos humanos
e tecnológicos necessários e seu alcance como em-
preendimento, traduzido pelo seu custo-efetividade.
A CONFIGURAÇÃODE UM MODELO
E-Learning é uma tendência que veio para evo-
luir. É inconcebível que, com tanta tecnologia a favor
e tantas necessidades humanas a serem atendidas
4 A Framework for E-Learning - http://asianvu.com/bookstoread/fra-mework/ 5 McWeadon Education - http://www.asianvu.com/courses/
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 84 - 90, segundo sem. 2009
Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
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na área de ensino-aprendizagem, não sejam criadas novas modalidades de transferência e distribuição de conhecimento em escala de crescimento propor-cional às novas demandas que surgem em todos os setores: ambientes acadêmicos, treinamento corpo-rativo, educação continuada para profissionais libe-rais, intercâmbio de conhecimento entre grupos de interesse comum. A velocidade de transferência de informação e o novo comportamento colaborativo, talvez como conseqüência, estão, conforme sugere Tapscott (2007), criando novos e poderosos modelos de produção baseados em comunidade, colaboração e auto-organização.
Os clientes estão colaborando para a criação de bens e serviços em vez de consumirem apenas o pro-duto final. Esse novo modelo de inovação e criação de valor, chamado de peer production, está tornando-se comum entre as grandes empresas inovadoras que buscam novas fontes de criatividade e inovação em colaboradores externos.
Diante dessa nova dinâmica social, o indivíduo amplia sua necessidade de experiência e conhecimen-to. É inegável o interesse das pessoas pelo aperfeiço-amento de seus conhecimentos em qualquer área de trabalho. Profissionais de todas as áreas estão tornan-do-se trabalhadores do conhecimento, mesmo para aquelas atividades de baixa remuneração. Saber fazer através da melhor técnica ou procedimento é critério essencial na contratação de novos colaboradores.
O novo comportamento colaborativo e parti-cipativo exige, contudo, aquisição de conhecimento, o que implica em custo e tempo de aprendizagem. Devido ao seu potencial multiplicador, o e-Learning pode suprir necessidades de aprendizagem de uma comunidade de interessados ou atender a aplicações corporativas a custo reduzido e em tempo adequado.
Como tendência que veio para evoluir, o e-Learning apresenta um cenário de oportunidades no mercado de transferência do conhecimento. Em to-dos os setores da economia multiplicam-se os empre-endimentos que utilizam a Web como ambiente para treinamento, capacitação e formação de recursos hu-manos. Universidades e corporações divulgam seus programas de ensino e treinamento em escala global.
As Tecnologias da Informação e Comunicação geram mudanças comportamentais e organizacionais, e tornam possível a existência de um mercado con-corrente além das fronteiras. Os empreendimentos estão em permanente processo de destruição criativa e o planejamento tradicional é substituído pelo fazer,
testar, ajustar e agir rápido. Nestas circunstâncias, é válido se pensar na padronização das melhores práti-cas para negócio, como se um protótipo de franquia estivesse sendo construído.
Segundo Gerber (2004), o empreendimento deve ser algo dissociado do indivíduo que o concebe. Desse modo, é importante que os processos estejam definidos de modo a serem executados de forma in-dependente por qualquer pessoa que tenha interesse em operacionalizá-los.
O e-Learning como modelo Turn-key – pronto para uso com eficácia – apresenta-se como um pro-duto atraente para os clientes e usuários. Alguns as-pectos adaptados de Gerber (2004), que podem ser associados à concepção do e-Learning com este pro-pósito, são: 1) O modelo irá fornecer vantagens reais a seus clientes, usuários e colaboradores, acima da expectativa deles; 2) O modelo será operado e usado por pessoas com o mínimo possível de conhecimen-to profissional; 3) O modelo se comportará como um sistema interativo multidirecional onde tudo flui e funciona; 4) Todas as tarefas do modelo serão do-cumentadas em Manuais de Operação; 5) O modelo oferecerá o serviço de forma previsível e uniforme ao cliente; e 6) O modelo utilizará padronização de co-res, códigos, letras, mensagens, avisos, mídias e sons, tudo conseqüência do design instrucional adequado.
Segundo Gerber (2004), modelos de negócios com base em formato de franquia estão baseados na crença de que o verdadeiro produto de um negócio não é o que ele vende, mas como é vendido: o verdadeiro produto de um negócio é o próprio negócio. Modelos de e-Learning com esta configuração devem ser robustos nos seguintes aspectos: conteúdos, design instrucio-nal, facilidade de uso, atualização do conhecimento, comunicação e interatividade, certificação legal, fle-xibilidade para o usuário com opções síncronas ou assíncronas, mediação pedagógica, gestão do treina-mento/capacitação, pontualidade nos prazos e preço.
As palavras-chave do e-Learning são: conexão, acesso, interação, compartilhamento, respostas rápi-das, aprendizado e satisfação – práticas do marketing estratégico.
CONCLUSÃO
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MENEZES, R. K. C.
A tendência de crescimento dos negócios na
Web garante a expansão do e-Learning, em esca-
la global, como sistema de divulgação e distribuição
do conhecimento em todos os níveis de aplicação:
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90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASacadêmicas, corporativas ou pessoais. As mudanças
tecnológicas envolvendo e-Learning e suas aplicações
tornam o setor atrativo em oportunidades de empre-
endedorismo de valor – novos negócios baseados em
novos conceitos com a finalidade de gerar novos pro-
dutos ou serviços.
Para Baron (2007), pesquisadores revelaram
que a mudança tecnológica é a fonte mais importante
de oportunidades de empreendedorismo de valor que
viabiliza o começo de novos empreendimentos. Ainda,
segundo Baron (2007), novos negócios são mais bem-
sucedidos quando suas idéias estão baseadas em capi-
tal humano. Projetos de e-Learning são tão complexos
quanto produções cinematográficas. Envolvem tecno-
logia, gente e talentos, design de interação, conteúdos
e linguagens, gestão de processos, lideranças, custos e
outros fatores. Pensar nas melhores práticas, mesmo
que a experiência própria seja pouca e copiar seja neces-
sário, é o melhor caminho para iniciar projetos na área.
Criar ambientes de desenvolvimento e aplicações que
reagem interativamente com os protótipos e sistemas
produzidos, de modo a possibilitar rápidas modificações
e atualizações, garantindo capacidade de resposta para
o usuário, é a grande estratégia do e-Learning. O mode-
lo Turn-key – pronto para uso com eficácia – semelhan-
te a uma franquia, mesmo que não tenha por objetivo
ser franqueado, apresenta um roteiro de pré-requisitos
indispensáveis para a compreensão do novo empreen-
dimento que, segundo Peters (2004), exige novo con-
ceito, nova tecnologia, novo valor, nova marca, novos
mercados, novo trabalho, novas pessoas e nova gestão.
O novo conceito para re-imaginar as potencia-
lidades do e-Learning. A nova tecnologia que transfor-
ma, considerando-se que as Tecnologias da Informação
apresentam grande potencial de inovação nos negócios.
O novo valor centrado nos custos e na oferta de ser-
viços profissionais. A nova marca que fornece experi-
ências memoráveis aos seus usuários. Os novos merca-
dos que expandem as escalas e aumentam o retorno.
O novo trabalho que deve ser criativo e compensador
para quem faz. As novas pessoas abertas à inovação e a
novas experiências. Finalmente, a nova gestão que pen-
sa fora do convencional e busca a excelência numa era
de desordem.
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Conceitos e considerações sobre um modelo “pronto-para-uso” de ambiente virtual
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SEÇÃO“ACONTECE”
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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pon-tifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Univer-sidade
Eric Calderoni 1
Ex-Diretor de Política daAssociação de Pós-Graduandos daPontifícia Universidade Católica de São Paulo
Lauro Ishikawa2
Representante dos Pós-Graduandos noConselho Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
O presente artigo relata a campanha da Associação de Pós-Graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantir direito à representação autônoma dos pós-graduandos nos Colegiados de sua universidade, bem como para ampliar o direito a voto também para os pós-graduandos lato sensu.
This article reports the campaign of the Graduate Students Association of the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo to ensure the right to autonomous representation of graduate students in the University Board and other collective bodies of the University, as well as to broaden the right to vote for lato sensu graduates.
Graduates gain recognition from the Pontifícia Universidade Católica de São Paulo of their right to autonomous representation in the University Board and other collective bodies of the University
RESUMO
ABSTRACT
Estudiantes de posgrado obtienen el reconocimiento de la Pontifícia Uni-versidade Católica de São Paulo de su derecho a la representación autó-noma en los consejos de la Universidad
Eric CalderoniEx-Diretor de Política da Associação dePós-Graduandos, por ocasião da campanha“PUC: não rejeite quem te ama!”.Correspondência: Av. Paulista 509, Piso P, cj4São Paulo/SP - Brasil - CEP 01311- 000Endereço eletrônico:[email protected]
Lauro IshikawaCorrespondência: Associação de Pós-Graduandos da PUC-SP. Rua Monte Alegre, 984Edifício Reitor Bandeira de Mello, 4º andar, PerdizesSão Paulo/SP - Brasil - CEP 05014-901.Endereço eletrônico: [email protected]
1
2
Keywords: institutional redesign; student representation.
Palavras-chave: Redesenho institucional; representação discente.
Resumen: Este artículo relata la campaña de la Asociación de Estudiantes de Posgrado de la Pontifícia Universidade Católica de São Paulo para garantizar el derecho a la representación autóno-ma de los estudiantes de posgrado en los consejos de la universi-dad, y para ampliar el derecho al voto también para los estudiantes de posgrado lato sensu.
RESUMEN
Palabras-claves: Rediseño institucional; representación de los estudiantes.
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INTRODUÇÃO
Devido à crise financeira em 2005, a Cúria Me-
tropolitana, mantenedora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP), teve que assinar um
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que im-
punha reformas administrativas com os objetivos de
corte de gastos e concentração de poder.
Dentre as medidas enunciadas no TAC, incluía-se
a necessidade de uma reformulação do Estatuto da Uni-
versidade que lograsse um enxugamento da estrutura
organizacional, com redução de cargos e instâncias.
Em 2007, iniciou-se, pelo Conselho Universi-
tário, o debate sobre como ficaria o novo Estatuto,
processo esse, que ficou conhecido como o “Redese-
nho Institucional” da PUC-SP.
Ao abrir consulta pública irrestrita, quatro pro-
postas completas chegaram à Comissão de Redese-
nho Institucional: a proposta dos pós-graduandos, re-
presentados por sua Associação de Pós-Graduandos
(APG-PUC/SP) e mais três outras – uma da Reitoria
do momento, outra do Centro de Educação (CE-
DUC) e outra da Faculdade de Economia, Adminis-
tração, Contabilidade e Atuária (FEA).
Pelas três últimas propostas, tanto por aque-
la da Reitoria, como pela do CEDUC, como pela da
FEA, os pós-graduandos perderiam sua representa-
ção autônoma nos Conselhos Superiores da PUC-SP.
Antes do redesenho, havia seis cadeiras dis-
centes em cada um dos Conselhos Superiores (Con-
selho Universitário, Conselho de Ensino e Pesquisa,
Conselho Comunitário e Conselho de Administração
e Finanças): cinco cadeiras reservadas a alunos de
graduação, um de cada Centro (Centro de Ciências
Humanas; Centro de Ciências Jurídicas, Econômi-
cas e Administrativas; de Ciências Exatas e Tecnolo-
gia; de Ciências Médicas e Biológicas) e uma cadeira
geral para os pós-graduandos. Assim, a estrutura da
PUC-SP identificava até então a peculiaridade dos
pós-graduandos como pesquisadores, portanto com
necessidades diferentes dos alunos de graduação; em
uma posição intermediária entre a condição de aluno
na própria PUC-SP, mas com perfil para ser docente,
portanto em um estágio da carreira já de profissional;
reconhecendo a história de representação política da
APG-PUC/SP. Por critérios meramente burocráticos,
no entanto, os três referidos proponentes inicialmen-
te tentaram ignorar tais aspectos.
A APG-PUC/SP iniciou de pronto ampla cam-
panha batizada de “PUC, não rejeite quem te ama!”,
que contou com o apoio da Associação Nacional de
Pós-Graduandos (ANPG).
Escrevemos artigos, divulgamos panfletos, visita-
mos cada Centro, firmando posição intransigente, res-
paldados no Estado Democrático de Direito, no sentido
do reconhecimento da nossa condição destacada, da
ampla participação e representação dos pós-graduandos
na vida da Universidade, como membros ativos da co-
munidade universitária e com peculiaridades próprias,
em nossa condição de pesquisadores, que traz necessi-
dades que precisam de canais de representação.
A Universidade, nas palavras do Prof. Ricardo
Sayeg, como solo sagrado, santuário da democracia,
não pode marginalizar nenhum grupo que a compõe,
sujeitando-o a um regime de dominação que lhe ne-
gue condições de se expressar com voz e participar
com voto na decisão sobre seus próprios rumos. So-
mente com liberdade e autonomia de gestão, pode-
se levar a cabo integralmente a liberdade de pensa-
mento que requer a pesquisa e o ensino crítico.
Como estávamos com a razão, conseguimos
criar, aos poucos, um consenso na Universidade. Após
alguns meses de intensa luta, aqueles três proponen-
tes, tanto a Reitoria, como o CEDUC e a FEA, deram
razão à APG/PUC-SP e modificaram sua proposta ini-
cial, de modo a acolher, na estrutura organizacional,
a representação autônoma dos pós-graduandos nos
Conselhos Superiores, na Câmara de Pós-Graduação
e nos Conselhos das Faculdades.
Entretanto, nossa vitória apenas não foi com-
pleta, pois os estudantes da Pós-Graduação lato sen-
su continuaram sem direito a voto na Universidade. A
luta da APG/PUC-SP continua para que sua dignidade
seja reconhecida. Em relação a essa reivindicação,
merece destaque o apoio que, na ocasião, recebe-
mos do então diretor do Centro de Ciências Jurídicas,
Econômicas e Administrativa (CCJEA), eleito poste-
riormente como Reitor, o Prof. Dr. Dirceu de Mello.
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CALDERONI, E. & ISHIKAWA, L
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94
Discurso do então Diretor de Política da APG/PUC-SP, Eric Calderoni, na audiência pública para debater o Redesenho. (em cima)
O Presidente da ANPG na ocasião, Allan Aroni (ao centro) apoiando a luta da APG/PUC-SP. Eric Calderoni (direita), então Diretor de Política da APG e Thiago Lopes Matsushita (à esquerda), na liderança da campa-nha. (ao lado)
Leandro Pires Salvador e Eric Calderoni, da Comissão de Política da APG (à esquerda), Lauro Ishikawa e Etelma Tavares Souza, representan-tes titular e suplente dos pós-graduandos no Conselho Universitário, no auditório do campus Sorocaba da PUC-SP, onde se realizou a votação na qual se sagrou a vitória dos pós-graduandos em 31 de março de 2008.
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Pós-Graduandos obtêm reconhecimento por parte da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo de seu direito à representação autônoma nos órgãos colegiados da Universidade
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
Rogério Adas Pereira Vitalli1
Ex-Diretor Acadêmico da APG-ITA,Mestrando em Mecatrônica e Sistemas Aeroespaciais
A Associação de Pós-Graduandos do Instituto Tecnológico de Aeronáutica organizou um evento de grande importância para os alunos de graduação, pós-graduação, professores e pesquisado-res do Instituto Tecnológico de Aeronáutica; esclarecendo as mais diversas dúvidas sobre diferentes formas de intercâmbio na Alema-nha.
Palavras-Chave: Associação dos Pós-Graduandos; Instituto Tecnológico de Ae-ronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.
Event of the Deutscher Akademischer Dienst Austrausch: academic ex-change Brazil-Germany
Rogério Adas Pereira Vitalli Correspondência:Instituto Tecnológico de AeronáuticaCTA / ITA /IEMP,Praça Marechal Eduardo Gomes, 50, São José dos Campos/SP - Brasil. CEP 12.228-900.Endereço eletrônico: [email protected] 601. Endereço eletrônico: [email protected]
1
RESUMO
The Graduate Students Association from the Instituto Tec-nológico de Aeronáutica organized an event of great importance for the undergraduate and graduate students, professors and research-ers of the Instituto Tecnológico de Aeronáutica; clarifying the most diverse doubts on different forms of exchange in Germany.
Keywords: Graduate Students Association; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Austrausch Dienst.
ABSTRACT
RESUMEN
Evento de la Dienst Deutscher Akademischer Austrausch: Intercambio Académico Brasil-Alemania
La Asociación de Estudiantes de Posgrado del Instituto Tec-nológico de Aeronáutica organizó un evento de gran importancia para los estudiantes graduados y posgrados, profesores y investi-gadores del Instituto Tecnológico de Aeronáutica, explicando las varias preguntas sobre diferentes formas de intercambio en Alema-nia.
Palabras-claves: Asociación de Estudiantes de Posgrado; Instituto Tecnológico de Aeronáutica; Deutscher Akademischer Dienst Austrausch.
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INTRODUÇÃO
SOBRE O DEUTSCHERAKADEMISCHER DIENST
AUSTRAUSCH - DAAD
A Associação de Pós-Graduandos do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em
23 de junho de 1995, vinculada à Associação Nacional
de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade jurídica
de direito privado sem fins lucrativos, apolítica e de
duração indeterminada.
A APG-ITA é a entidade representativa dos
pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tec-
nológico de Aeronáutica (ITA) e reconhece a Asso-
ciação Nacional de Pós-Graduandos como entidade
legítima de representação dos pós-graduandos em
nível nacional, reservando perante esta, sua autono-
mia. Para este efeito, são pós-graduandos pelo ITA os
alunos regularmente matriculados nos programas de
pós-graduação desta Instituição.
A APG-ITA tem, por seus objetivos estatutá-
rios: estimular a pesquisa e o desenvolvimento no
campo da tecnologia avançada, da ciência e do en-
sino, complementando e apoiando, prioritariamente,
as atividades exercidas pelo Instituto Tecnológico de
Aeronáutica – ITA; estimular a formação, a especia-
lização e o aperfeiçoamento de recursos humanos
para empresas e entidades públicas privadas; incre-
mentar o intercâmbio de especialistas e de material
didático e científico, entre as instituições nacionais e
internacionais por meio da concessão de auxílios à
pesquisa e desenvolvimento, na forma de bolsas de
ensino, pesquisa, extensão, estudos, estágio, ou de
desenvolvimento e apoio, planejando e organizando
atividades e empreendimentos nos setores de tecno-
logia e ensino, tomando o encargo de executá-los ou
prestando-lhes as assistências técnica e administrativa
necessárias; manter, em atividade permanente, sem
qualquer discriminação e de acordo com seus planos
de atividades, centros de estudos e pesquisas, de se-
leção e orientação de ensino, de documentação e ou-
tros, próprios ou em regime de cooperação com en-
tidades nacionais e estrangeiras, públicas ou privadas.
Em 3 de abril de 2008, a APG-ITA ofereceu
um evento de grande importância para sua comuni-
dade iteana, esclarecendo as mais diversas dúvidas
a respeito do intercâmbio na Alemanha, com pales-
tras ministradas pela Dra. Gabriele Althoff (Diretora-
Executiva do DAAD); Prof. Dr. Jefferson de Oliveira
Gomes (Coordenador do Centro de Competência
em Manufatura – CCM); Prof. Dr. Karl Heinz Kienitz
(Coordenador do Curso de Graduação de Engenha-
ria Eletrônica) e Prof. Dr. Luiz Carlos Sandoval Góes
(Coordenador do Curso de Engenharia Mecânica
Aeronáutica). Com a iniciativa de um grupo de pós-
graduandos e ações coordenadas por Hudson Bode
(Presidente) e Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico), o
acontecimento foi um marco na história da APG-ITA,
até então, “fechada” aos eventos acadêmicos exter-
nos e em processo de reconhecimento pela Reitoria
do ITA.
O Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico
foi fundado em 1925 e reinstituído em 1950. É uma
associação sem fins lucrativos, cujos membros são
231 Instituições de Ensino Superior e 127 grêmios
estudantis da Alemanha. Subsidia anualmente cerca
de 40.000 alemães e 27.000 estrangeiros por meio
de mais de 200 programas de bolsas. Possui sua sede
principal em Bonn na Alemanha e um escritório em
Berlim. No exterior é representado por 13 escritó-
rios e 35 centros de informação. Assim, é uma orga-
nização mediadora de política exterior da cultura, de
política universitária e científica e de cooperação para
o desenvolvimento no âmbito da educação superior,
bem como oferece diversos programas de bolsas de
estudo e de apoio a pesquisa para estudantes de gra-
duação e pós-graduação, professores e pesquisado-
res universitários.
O escritório do DAAD no Rio de Janeiro, fun-
dado em 1972, coordena atualmente mais de 30 pro-
gramas de intercâmbio para estudantes e pesquisa-
dores brasileiros e atua em parceria com as agências
brasileiras de fomento (principalmente com a CAPES,
o CNPq e a FAPESP).
O escritório fica no prédio do Consulado Ale-
mão, aberto aos interessados em maiores informa-
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
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97
ções sobre o ensino superior da Alemanha. Estão à
disposição diversos materiais sobre todos os aspec-
tos do estudo na Alemanha, inclusive os catálogos das
matérias oferecidas nas universidades alemãs.
Desde as primeiras fundações do século XV,
as universidades alemãs têm apresentado uma lon-
ga tradição em excelência acadêmica. Com a refor-
ma no ensino superior por Wilhelm Von Humboldt
(1767-1835) foi estabelecida a união da pesquisa e do
ensino nas universidades alemãs, o que resultou em
instituições que não somente ensinam, mas também
realizam pesquisas independentes e aplicadas. Após a
reforma nos anos 70, o estudante passou a ter maior
liberdade na escolha das disciplinas.
O EVENTO NOINSTITUTO TECNOLÓGICO DE
AERONÁUTICA - ITAO evento ocorrido no Instituto Tecnológico
de Aeronáutica – ITA em 3 de abril de 2008, contou
a presença do Pró-Reitor de Pós-Graduação e Pes-
quisa, Prof. Dr. Homero Maciel do ITA, que relatou
a importância de um evento como esse para a insti-
tuição. Além disso, estavam presentes pesquisadores
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e
professores de outras universidades da região do vale
do Paraíba.
Programação
Tabela 1. Programação do Evento [ Fonte APG-ITA ]Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA / Associação de Pós-Graduandos do ITA - APG / Intercâmbio Acadêmico - DAAD
TEMAS CONVIDADOS HORÁRIOS
Abertura do Evento Rogério Vitalli(Diretor Acadêmico da APG – ITA) 14:00 hs
APG do ITA Hudson Bode (Presidente da APG-ITA) 14:05 hs
Pós-Graduação do ITA Prof Dr. Homero Maciel (Pró Reitor de Pós Graduação e Pesquisa do ITA) 14:15 hs
Oportunidades de Estudoe Pesquisa na Alemanha Dra.Gabriele Althoff 14:30 hs
Ralato de caso: Doutorado na Alemanha Prof. Dr. Jefferson de Oliveira Gomes - ITA 15:30 hs
Ralato de caso: intercâmbio Alemão Prof. Dr.Luiz Carlos Sandoval Góes - ITA 15:45 hs
Relato de caso: Experiência com a bolsa de pós-doutorado da Fundação Humboldt Prof. Karl Heinz Kientz - ITA 16:00 hs
Mesa Redonda: perguntas e respostas Rogério Vitalli(Diretor Acadêmico da APG – ITA) 16:15 hs
Encerramento do evento Hudson Bode (Presidente da APG-ITA) 17:30 hs
Fonte APG-ITA
Discurso do Presidente da APG-ITA
“... e demais autoridades, senhoras e senhores,
boa tarde. É com grande orgulho que nos envolve-
mos na vinda da Dra. Gabriele Althoff, do DAAD, ao
ITA. Agradecemos à doutora Gabriele que, com tan-
tas ocupações, conseguiu nos dedicar um pouco do
seu tempo, prestigiando-nos com sua visita. Antes de
passar a palavra aos convidados externo e internos do
ITA, gostaria de falar um pouco sobre a APG: quem
somos e quais os nossos objetivos.
A Associação de Pós-Graduandos do Instituto
Tecnológico de Aeronáutica (APG-ITA), instituída em
23 de junho de 1995, cadastrada na Associação Na-
cional de Pós-Graduação (ANPG), é uma entidade ju-
rídica de direito privado sem fins lucrativos, apolítica
e de duração indeterminada.
A APG-ITA é a entidade representativa dos
pós-graduandos e pós-graduados pelo Instituto Tec-
nológico de Aeronáutica (ITA).
Peço licença a todos para, aqui, falar um pouco
dos objetivos estatutários da APG-ITA, para aqueles
que ainda não tem conhecimento de sua existência e
mesmo aos que já vislumbram alguma idéia.
Figuram dentre os nossos objetivos (talvez se-
jamos um pouco prepotentes):
1. Representar os pós-graduandos regularmen-
te matriculados e pós-graduados no ITA junto aos ór-
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gãos colegiados do ITA;
2. Promover a integração entre os alunos e de-
senvolver sua participação nos vários aspectos da vida
acadêmica do ITA;
3. Defender os direitos e interesses dos pós-
graduandos do ITA e, em especial, propor ou reivindi-
car condições de estudo, de pesquisa e de atividades
correlatas;
4. Promover a participação efetiva dos pós-
graduandos e pós-graduados nas propostas relativas
à estruturação e ao funcionamento do ITA;
5. Criar um fórum permanente para troca de
experiências, discussões e apresentação de oportuni-
dades profissionais e acadêmicas aos associados;
6. Estimular a formação, a especialização e o
aperfeiçoamento de recursos humanos para empre-
sas e públicas e privadas;
7. Incrementar o intercâmbio de especialista e
de material didático e científico, entre as instituições
nacionais e internacionais por meio da concessão de
auxílios à pesquisa e desenvolvimento, na forma de
bolsas de estudos, estágios ou pesquisas.
Esses objetivos são cumpridos com muita de-
dicação por seus Diretores eleitos pelos pós-gradu-
andos em Assembléia Geral, que têm mandatos de 3
(três) anos. Hoje temos firmados diversos convênios
com empresas dos setores públicos e privado, que
resultam em:
•Bolsas para alunos e pesquisadores dessa e
de outras instituições. Além disso, esses recursos são
destinados à compra de equipamentos, livros, custeio
de bens e serviços para o ITA;
•Convênioscomprofessoresparaoensinode
idiomas, como o alemão, o inglês, o francês e o russo.
Esses cursos são oferecidos no Memorial Aeroespa-
cial Brasileiro a todos do CTA. Temos interesse em
trazer esses cursos para o ITA;
•Convênios médicos, odontológicos e para
compra de medicamentos com descontos para os as-
sociados da APG.
A APG tem se tornado referência para outras
APGs, que nos solicitam orientação para implementa-
rem o nosso modelo em suas associações. Um exemplo
foi a APG-USP de Ribeirão Preto que, no último CO-
NAP (Conselho Nacional de Pós-Graduandos), convi-
dou-nos para uma palestra sobre nossas experiências.
A APG participa da CONGREGAÇÃO, que é
o órgão máximo dessa Instituição. Atualmente, a par-
ticipação se faz por convite; entretanto, com as mu-
danças que em andamento no regimento da Congre-
gação, a APG logo terá assento permanente e direito
a voto nesse Colegiado.
Somos membros do Conselho de Pós-Gradua-
ção do ITA (CPG), que é o Fórum de decisão em últi-
ma instância de questões concernentes à Pró-Reitoria
de Pós-Graduação e Pesquisa. Estamos de maneira
atuantes em todas as reuniões, representando os
pós-graduandos.
Estamos na Comissão de Política Educacional
do ITA (CPE), que possui a incumbência de analisar
e criticar o Modelo Educacional do ITA, por meio da
preparação de um documento oficial.
Somos membros da Comissão Própria de Ava-
liação (CPA) que é formada para conduzir os processos
de avaliação internos da instituição, no contexto e para
fins do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Su-
perior (SINAES) e para sistematizar e prestar as infor-
mações solicitadas pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Nós da APG gostaríamos de ter nossos esforços
coroados com o reconhecimento pleno, em todas as
instâncias do ITA. Dos alunos, esperamos maior parti-
cipação. Dos nossos mestres, desejamos maior incen-
tivo às nossas atividades. Das instâncias superiores civis
e militares, ansiamos pelo reconhecimento formal da
APG no ITA. Tal reconhecimento deverá vir por meio
de um convênio abrangente, que está em fase final de
análise. Com isso, esperamos praticar todas as ativida-
des fins da APG, de modo regular e permanente, visan-
do ao benefício da comunidade iteana.
Em linhas gerais, é isso que tenho para falar a
todos os presentes.
Muito Obrigado”.
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
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Figura 2. Dra. Gabriele Althoff do DAAD Figura 4. Hudson Bode (Presidente da APG-ITA)
Figura 3. Rogério Vitalli (Diretor Acadêmico da APG-ITA)
Figura 5. Prof. Dr. Góes
Figura 7. Prof. Dr. Kienitz
Figura 6. Prof. Dr. Jefferson
Figura 8. Público Presente
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Figura 9. Janete (Secretária da APG – ITA) Figura 10 Dito (Técnico do APG - ITA)
A Pró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
do ITA convidou os novos alunos regulares (Mestra-
do/Doutorado) da Pós-Graduação para um encontro
de boas vindas em 5 de março de 2009, às 16 horas e
30 minutos, no Auditório B da Divisão de Ciência da
Computação. Na ocasião foram apresentados alguns
aspectos importantes das normas da Pós-Graduação
e elementos do modelo iteano, com ênfase particu-
lar no conceito de Disciplina Consciente (DC). Em
seguida foi feito o anúncio de uma oficina para pre-
paração de artigos científicos e uma apresentação
da APG-ITA, que foi oficialmente reconhecida pelo
ITA. Ao término do encontro foi oferecido um co-
quetel aos novos alunos. Em 6 de junho realizou-se
a solenidade de colação de grau das turmas 2009 de
Pós-Graduação Stricto Sensu do Instituto Tecnológi-
co de Aeronáutica (ITA), que teve como paraninfo o
Prof. Dr. Luis Fernandes, presidente da Financiado-
ra de Estudos e Projetos (Finep). Na ocasião foram
conferidos os diplomas aos formandos nos cursos de
Doutorado, Mestrado e Mestrado Profissionalizante,
no total de 29 Doutores, 118 Mestres e 62 Mestres
Profissionais. Foi mencionado que o “ITA SEDIARÁ
O PRIMEIRO SIMPÓSIO BRASILEIRO DE ENGE-
NHARIA AEROESPACIAL E APLICAÇÕES”; um dos
motivos desse acontecimento decorreu dos esfor-
ços da APG-ITA para a realização pioneira do evento
“DAAD no ITA”, ocorrido em meados de abril de
2008. Entre 14 e 16 de setembro foi realizado, no
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o 2009
Brazilian Symposium on Aerospace Engineering and Ap-
plications, presidido pelo Prof Luiz Carlos Sandoval
Góes, da Divisão de Engenharia Mecânica do ITA,
juntamente com o Dr. Ing. Ravindra Jategaonkar, do
DLR, Alemanha. Dentre os principais temas aborda-
dos destacam-se: sistemas aeroespaciais, propulsão,
estruturas e materiais aeroespaciais, aerodinâmica,
produção e manufatura aeronáutica, controle de
tráfego aéreo, ensaio em vôo e formação em enge-
nharia aeroespacial.
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Evento do Deutscher Akademischer Austrausch Dienst: intercâmbio acadêmico Brasil-Alemanha
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RESULTADOS
A Dra. Gabriele Althoff, estudou Ciencias So-
ciais e Germanística nas Universidades de Bochum
e Paderborn. Possui Doutorado em Sociologia e foi
Professora Visitante em Nairobi, Kenia. Desde 1995
está no DAAD, em 2004 assumiu sua Direção Execu-
tiva no Rio de Janeiro.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALTHOFF, G. Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico. Palestra realizada no ITA em 03/04/2008. Disponível em: www.apgita.org.br. Acesso em: 05 de maio de 2008.
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2005 2006Total de
fomentados DAAD
426 4.861 10.883 21.813 33.959 46.659 51.478 55.229
Alemães 230 1.710 2.035 7.699 11.985 20.063 20.457 21.248Estrangeiros 196 3.151 8.848 14.114 21.974 26.596 31.021 33.981
Foi uma imensa satisfação para todos nós do
ITA apreciar essa fabulosa palestra, discutir os resul-
tados apresentados e ter nossos esforços coroados
com o reconhecimento plena APG-ITA em todas as
instâncias do ITA
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102
TÍTULO I
DO OBJETIVO
Art. 1º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-
gia e Políticas Educacionais, periódico científico ins-
titucional editado pela Associação Nacional de Pós-
Graduandos (ANPG), tem por objetivo a difusão de
estudos, pesquisas e documentos referentes a temas
em ciência, tecnologia e políticas educacionais, prio-
rizando os temas mais relevantes para o desenvolvi-
mento nacional sustentável e a redução das desigual-
dades sociais.
TÍTULO II
DO PÚBLICO - ALVO
Art. 2º A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-
gia e Políticas Educacionais tem como público-alvo
toda a comunidade acadêmica e científica, sobretudo
docentes e pós-graduandos, pesquisadores e gesto-
res de instituições de ensino superior e de pesquisa,
gestores de políticas de ciência e tecnologia, gesto-
res de associações científicas e profissionais, dirigen-
tes e técnicos de órgãos do Ministério da Educação
(MEC) e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT)
e demais órgãos envolvidos na formação de pessoal,
produção científica e desenvolvimento sustentável
nacional.
TITULO III
DAS RESPONSABILIDADES
Art. 3° As responsabilidades da Revista da
ANPG: Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais
serão exercidas por um Editor ou por editores, por
um Conselho Editorial e por um Comitê Científico.
Art. 4º Compete ao Presidente da ANPG no-
mear o Editor ou os Editores da revista.
Parágrafo único - Compete ao Editor ou com-
petem aos Editores:
I. convocar e coordenar as reuniões do Conse-
lho Editorial;
II. distribuir os artigos recebidos para as seções
ii, iii, iv e v da Revista para os membros do Comitê
Científico e/ou para os pareceristas ad hoc indicados
por membros do Comitê Científico e aprovados pelo
Conselho Editorial para que emitam parecer em rela-
ção ao mérito científico dos artigos;
III. coordenar os trabalhos de editoração, pro-
dução e divulgação da revista, bem como sua distri-
buição, se e quando passar a existir versão impressa.
Art. 5° Compete ao Conselho Editorial elabo-
rar a política editorial do periódico.
Parágrafo primeiro. Integram o Conselho Edi-
torial da Revista:
I. o Editor ou os Editores do periódico;
II. o Presidente da ANPG ou representante por
ele indicado;
III. o Diretor de Comunicação da ANPG ou re-
presentante por ele indicado;
IV. o Diretor de Ciência e Tecnologia da ANPG
ou representante por ele indicado;
V. o Diretor de Cultura e Eventos da ANPG ou
representante por ele indicado;
VI. eventuais outros membros designados de
comum acordo entre os quatro membros listados nos
itens ii, iii, iv e v acima.
Art. 6° Compete aos membros do Comitê
Científico emitir pareceres sobre os artigos encami-
nhados à Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e Po-
líticas Educacionais, opinando sobre sua qualidade e
relevância.
Parágrafo 1° Os membros do Comitê Cientí-
fico são escolhidos por sua competência acadêmica
REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
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103
e científica em áreas relacionadas à linha editorial da
Revista, convidados e podendo a qualquer momento
ser substituídos pelo Conselho Editorial.
Parágrafo 2° O Conselho Editorial, quando ne-
cessário, pode autorizar os membros do Comitê Cien-
tífico a solicitarem pareceres de consultores ad hoc.
Art. 7° Compete a toda diretoria da ANPG
colaborar para o ótimo andamento do periódico, in-
cluindo sua divulgação.
TÍTULO IV
DA PERIODICIDADE E DAS
SEÇÕES DA REVISTA
Art. 8º - A Revista da ANPG: Ciência, Tecnolo-
gia e Políticas Educacionais terá periodicidade semes-
tral e contará com as seguintes seções:
I. Editorial;
II. Seção sobre tema relacionado à Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema
específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-
do com antecedência;
III. Seção com tema livre relacionado à Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional;
IV. Seção sobre tema relacionado a políticas
educacionais com tema específico definido pelo Con-
selho Editorial e divulgado com antecedência;
V. Seção com tema livre relacionado a políticas
educacionais;
VI. Entrevistas;
VII. Seção “acontece”, de análise e/ou divul-
gação de portarias, leis, estudos, experiências ino-
vadoras, etc., nacionais ou estrangeiros, ou acordos
internacionais, eventos organizados por APGs, pela
ANPG ou outras entidades científicas ou profissio-
nais, comentados, apenas resumidos ou divulgados
na íntegra, julgados de interesse do público alvo do
periódico pelo Conselho Editorial.
Parágrafo 1º - As seções e a periodicidade da
revista podem ser alteradas pelo Conselho Editorial
ad referendum do CONAP ou do CNPG.
Parágrafo 2º – É facultado ao Conselho Edi-
torial publicar somente algumas das seções em cada
número da revista.
Parágrafo 3º – As seções ii, iii, iv e v recebem
artigos científicos e ensaios de reflexão originais.
Parágrafo 4º – Elaborar artigos para a seção i
é de exclusiva competência do Conselho Editorial; a
seção vi é de competência do Conselho Editorial ou
de iniciativa livre, desde que pré-aprovada pelo Con-
selho Editorial; as contribuições para a seção vii se-
rão avaliadas exclusivamente pelo Conselho Editorial;
sendo as seções ii, iii, iv e v abertas sem restrições à
livre contribuição de qualquer autor sendo os textos
submetidos para estas quatro seções avaliados pelo
Comitê Científico.
Art. 9° O periódico terá publicação na forma
eletrônica e poderá, no futuro, passar a ter também
publicação na forma impressa.
Parágrafo 1º - A Revista da ANPG: Ciência, Tec-
nologia e Políticas Educacionais, somente poderá pas-
sar a ter também edições impressas, se solicitado pelo
Conselho Editorial e aprovado pela executiva da ANPG,
mediante parecer emitido pelo tesoureiro da entidade.
Parágrafo 2º - A versão eletrônica do periódico
terá acesso público e gratuito.
TÍTULO V
DA ORIENTAÇÃO EDITORIAL
Art. 10 Somente serão aceitos trabalhos inédi-
tos, exceto nos casos previstos no inciso VII, do Art.
8°.
Art. 11 O autor será comunicado do resultado
da avaliação do seu trabalho em até 90 (noventa) dias a
contar da confirmação do recebimento do manuscrito.
Parágrafo único O autor deverá ser comunica-
do do recebimento de seu manuscrito em até 8 (oito)
dias a contar desde seu envio.
Art. 12 A publicação de artigos não é remune-
rada, sendo permitida a reprodução total ou parcial
dos mesmos, desde que citada a fonte.
Art. 13 Os artigos assinados serão de respon-
sabilidade exclusiva de seus autores, não refletindo,
necessariamente, a opinião da ANPG.
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 102 - 104, segundo sem. 2009
REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
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Art 14 O envio espontâneo de qualquer cola-
boração implica automaticamente a cessão dos direi-
tos autorais à ANPG.
Art. 15 Serão aceitas colaborações em língua
portuguesa e em inglês, francês e espanhol, incenti-
vando-se especialmente aquelas em espanhol.
Art. 16 Os originais podem sofrer pequenas
adaptações que não alterem seu conteúdo, para fins
de editoração.
Art. 17 As colaborações para a Revista da ANPG:
Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais devem ser
enviadas à ANPG, de acordo com as normas editoriais
a serem publicadas pelo Conselho Editorial.
Art. 18 Toda autoria dos pareceres e dos artigos,
durante o processo de avaliação, será mantida em sigilo.
Art. 19 Todo artigo receberá dois pareceres in-
dependentes, recomendando publicação sem altera-
ções, publicação com alterações ou rejeição do artigo
e justificando o encaminhamento.
Parágrafo 1º Em caso de desacordo entre os
pareceristas, caberá ao Conselho Editorial julgar o mé-
rito, podendo recorrer a um terceiro parecerista em
caso de dúvidas.
Parágrafo 2º Assim que comunicado das suges-
tões de alteração indicadas pelos pareceristas, o autor
terá o prazo de 15 (quinze) dias para efetuar as alte-
rações indicadas ou apresentar justificativa para não
realizá-las.
TÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS
Art 20 Os casos omissos e as dúvidas suscitadas
na aplicação do presente Regulamento serão dirimi-
dos pelo Conselho Editorial da revista.
TÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
Art 21 A revista somente poderá ser descon-
tinuada mediante aprovação do Congresso Nacional
de Pós-Graduandos (CNPG) ou por ordem do presi-
dente da ANPG ad referendum do CNPG.
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REGULAMENTO DA REVISTA DA ANPG
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105
1. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e
Políticas Educacionais, periódico científico institu-
cional da Associação Nacional de Pós-Graduandos
(ANPG), nos termos de seu regulamento, aceita para
publicação trabalhos inéditos de autores brasileiros e
estrangeiros em forma de artigos científicos teóricos
ou baseados em pesquisa empírica, bem como en-
saios com reflexões.
2. A revista recebe contribuições de qualquer
autor, desde que respeitadas estas normas.
3. A Revista da ANPG: Ciência, Tecnologia e
Políticas Educacionais publica colaborações referen-
tes à ciência, à tecnologia e às políticas educacionais,
priorizando os artigos mais relevantes para o desen-
volvimento nacional sustentável e o combate às desi-
gualdades sociais, de acordo com as seguintes seções
da revista:
a) Seção sobre tema relacionado a Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional com tema
específico definido pelo Conselho Editorial e divulga-
do em chamada de artigo específica com prazo de-
terminado;
b) Seção com tema livre relacionado a Ciência,
Tecnologia e Desenvolvimento Nacional;
c) Seção sobre tema relacionado a políticas
educacionais com tema específico definido pelo Con-
selho Editorial e divulgado em chamada de artigo es-
pecífica com prazo determinado;
d) Seção com tema livre relacionado a políticas
educacionais;
e) Entrevistas cujos projetos contendo nome
do entrevistado e justificativa para sua escolha, bem
como roteiro de perguntas tenham sido pré-aprova-
dos pelo conselho editorial;
f) Seção “acontece”, de análise e/ou divulgação
de portarias, leis, estudos, experiências inovadoras,
etc., nacionais, estrangeiros ou acordos internacio-
nais, eventos organizados por APGs, pela ANPG ou
outras entidades científicas ou profissionais, comen-
tados, apenas resumidos ou divulgados na íntegra, jul-
gados de interesse do público-alvo do periódico pelo
comitê científico.
Para as seções de a) a e) acima somente deve-
rão ser submetidos artigos inéditos e que não sejam
submetidos simultaneamente para a publicação em
quaisquer outros veículos de comunicação impressos
ou eletrônicos.
4. O envio espontâneo de qualquer colabora-
ção implica automaticamente a cessão dos direitos
autorais à ANPG.
5. A publicação de artigos não é remunerada,
sendo permitida a sua reprodução total ou parcial,
desde que citada a fonte.
6. Os artigos assinados serão de responsabili-
dade exclusiva de seus autores, não refletindo, neces-
sariamente, a opinião da ANPG.
7. A critério do Conselho Editorial, poderão ser
aceitas e publicadas colaborações em língua estrangeira,
sobretudo em espanhol, inglês e francês, encorajando-se,
entre estas, especialmente as colaborações em espanhol.Envio de colaborações
8. As colaborações deverão ser enviadas para
o Editor, no endereço de correio eletrônico (e-mail)
[email protected], sob a forma de documento
anexado à mensagem, respeitadas as orientações de
apresentação e formatação fixadas, contendo obri-
gatoriamente:
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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106
- Mensagem:
a) título do trabalho;
b) os seguintes dados pessoais e acadêmicos
do autor ou autores: nome, CPF, endereço, telefo-
ne, endereço de e-mail (correio eletrônico), mais alta
titulação acadêmica, instituição de vinculação e atual
cargo na instituição mencionada;
c) A área do conhecimento principal do tra-
balho e as áreas do conhecimento complementares,
dentre as seguintes alternativas: Oceanografia; Geoci-
ências; Matemática; Química; Física; Ciência da Com-
putação; Astronomia; Engenharias; Biofísica; Zoologia;
Parasitologia; Neurociências; Morfologia; Microbio-
logia; Imunologia; Genética; Fisiologia; Farmacologia;
Ecologia; Botânica; Bioquímica; Biologia; Enfermagem;
Ergonomia; Fisioterapia; Terapia Ocupacional; Fonoau-
diologia; Nutrição; Farmácia; Odontologia; Saúde Co-
letiva; Medicina; Agronomia; Ciência e Tecnologia de
Alimentos; Zootecnia; Medicina Veterinária; Recursos
Pesqueiros e Engenharia de Pesca; Recursos Florestais
e Engenharia Florestal; Engenharia Agrícola; Gestão e
Administração; Serviço Social; Educação Física e Espor-
tes; Documentação e Informação Científica; Comuni-
cação; Desenho Industrial; Demografia; Planejamento
Urbano e Regional; Arquitetura e Urbanismo; Direito;
Turismo e Hotelaria; Economia; Antropologia; Socio-
logia; Psicologia; Educação; Ciência Política; História;
Geografia; Filosofia; Arqueologia; Antropologia; Artes;
Semiótica; Lingüística; Literatura; e/ou Letras.
d) a seguinte declaração (copie e cole): “De-
claro que o texto do artigo anexo nunca foi publica-
do, não está sendo submetido para publicação em
nenhum outro veículo impresso, digital ou eletrônico
nem será submetido a publicação em nenhum veiculo
impresso, digital ou eletrônico enquanto não termi-
nar seu processo avaliativo na Revista da ANPG. De-
claro ainda que todos os autores listados como auto-
res aprovaram seu encaminhamento para publicação
nesta revista e que qualquer pessoa que tenha sido
citada como fonte de comunicação pessoal aprovou
a citação. O(s) autor(es) autoriza(m) a realização de
eventuais pequenas alterações formais no texto pela
equipe da Revista, desde que não comprometam seu
conteúdo, para que o texto melhor atenda às normas
para publicação.
- Documento a ser anexado:
a) título do trabalho;
b) resumo em português em até 10 (dez) li-
nhas e com de 3 a 6 palavras-chave;
c) abstract em inglês em até 10 (dez) linhas e
com de 3 a 6 keywords;
d) resumo em espanhol com até 10 (dez) li-
nhas e com de 3 a 6 palabras-clave;
e) Se o artigo tiver sido escrito em francês,
deve conter também résumé em francês com até 10
(dez) linhas e com de 3 a 6 mots clés;
e) texto do artigo ou matéria, incluindo notas e re-
ferências, com a formatação estabelecida nestas normas;
f) tabelas e gráficos, se utilizados.
Só serão aceitos artigos submetidos em forma-
to .doc ou .dot.
9. Não serão aceitas colaborações que não
atendam às normas fixadas.
10. Os textos devem ser digitados em fonte
Times New Roman ou/e Arial, fonte 12 para o texto
e fonte 10 para as citações/nota de rodapé, espaço
simples para o resumo e de 1,5 para o artigo. Não
podem exceder 50 mil caracteres, incluindo os espa-
ços e consideradas as referências bibliográficas, cita-
ções ou notas, quadros, gráficos, mapas, etc. Títulos
e subtítulos devem estar em negrito, sendo títulos em
corpo 14 e subtítulos em corpo 12.
11. Os quadros, gráficos, mapas e imagens
devem ser numerados, intitulados, ter as unidades
explicitadas e apresentar indicação das fontes corres-
pondentes.
EVOLUÇÃO DA QUANTIDADE DE GRUPOS DE PESQUISA NAS 10 INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COM MAISGRUPOS DE PESQUISA EM NÚMEROS ABSOLUTOS E PERCENTAGENS EM RELAÇÃO AO TOTAL NACIONAL
1993 1995 1997 2000 2002 2004
Instituição Grupos % Grupos % Grupos % Grupos % Grupos % Grupos %
USP 902 20,5 1.056 14,5 1.067 12,4 1.356 11,5 1350 8,9 1884 9,7
UFRJ 246 5,6 577 7,9 520 6,0 679 5,8 750 4,9 963 4,9
UNESP 335 7,6 405 5,6 369 4,3 359 3,1 593 3,9 716 3,7
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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107
UNICAMP 153 3,5 659 9,1 816 9,5 537 4,6 614 4,1 657 3,4
UFMG 80 1,8 281 3,9 337 3,9 400 3,4 445 2,9 566 2,9
UFRGS 228 5,2 267 3,7 355 4,1 422 3,6 489 3,2 543 2,8
UFSC 126 2,9 118 1,6 190 2,2 219 1,9 350 2,3 398 2,0
UFF 98 2,2 114 1,6 111 1,3 204 1,7 236 1,6 371 1,9
UFPE 76 1,7 150 2,1 164 1,9 273 2,3 334 2,2 354 1,8
UFBA 69 1,6 67 0,9 130 1,5 200 1,7 225 1,5 348 1,8
Observação: A referência completa ao CNPq/GrupoStela (2005) deve integrar as referências bibliográfica no formato estabelecido no item 12 abaixo
12. Todas as referências bibliográficas devem
obedecer às normas atualizadas da ABNT (Associa-
ção Brasileira de Normas Técnicas), de acordo com
os exemplos abaixo:
Para livros no todo:
TERRA, J.C.C. Gestão do conhecimento: o
grande desafio empresarial - uma abordagem
baseada na aprendizagem e na criatividade. São
Paulo: Negócio Editora, 2000.
Obs.: o título de livro ou de artigos pode ser
em itálico ou negrito.
Para parte de livros:
ROMANO, G. Imagens da juventude na era
moderna. In: LEVI, G.; SCHIMIDT, J. (Org.). História
dos Jovens. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
p. 7-16.
Para artigo e/ou matéria de revista, boletim:
GURGEL, C. Reforma do Estado e segurança
pública. Política e Administração, Rio de Janeiro, v. 3,
n. 2, p. 15-21, set. 1997.
Para teses acadêmicas:
SILVA, A. S. Acampados no “Carlos Mari-
guela”: um estudo sobre a formação da consciência
política entre famílias do Movimento dos Trabalhado-
res Rurais Sem Terra no Pontal do Paranapanema -
SP. 2006. 609 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia
Social). Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo.
Para artigo e/ou matéria de revista, boletim em
meios eletrônicos:
VARGAS, R. T. Reflexões sobre a integração
universidade-empresa estudo de caso: mestrado pro-
fissionalizante. Disponível em www.geocities.com/
anpgbr/mestp.phpl. Acesso em: 30 set. 2001.
13. As citações a autores, no corpo do texto,
devem subordinar-se à forma: autor (data) ou (AU-
TOR, data).
Exemplo: Fischer (2002); (PEREIRA e FONSE-
CA, 1997, p. 120); (BRAGA, 2001; SILVA, 1998).
14. As notas de rodapé devem ser reduzidas
ao mínimo e sempre exclusivamente explicativas. To-
das as notas deverão ser numeradas e aparecer no
pé-de-página.
15. As referências devem conter exclusiva-
mente os autores e textos citados no trabalho e ser
apresentadas ao final do texto, em ordem alfabética.
Seleção de matérias
16. As colaborações dos tipos mencionados
nas alíneas de a) a d) do item 2 destas normas serão
submetidas aos pareceres independentes de pelo me-
nos dois membros do Comitê Científico da revista ou
colaboradores ad hoc por eles indicados, sem identi-
ficação do autor. Tais pareceristas deverão julgar os
artigos em relação a sua relevância e oportunidade,
qualidade técnica, atualização e originalidade dos ar-
tigos. As colaborações para a seção “acontece” serão
avaliadas pelo Conselho Editorial e as colaborações
para a seção de entrevistas serão avaliadas pelo Con-
selho Editorial devendo ter sido pré-aprovadas em
seu roteiro conforme especificado na alínea e) do
item 2 destas normas.
17. Se a matéria for aceita para publicação, a
revista permite-se introduzir ajustes de formatação e
de revisão ortográfica e gramatical. Modificações de
estrutura ou de conteúdo, sugeridas pelos parece-
ristas, só serão incorporadas mediante concordância
dos autores.
18. Artigos aprovados com restrições serão
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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO
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encaminhados para a reformulação por parte dos au-
tores ou para que justifiquem, caso considerem que
as reformulações sugeridas seriam inadequadas. O
Conselho Editorial se reserva o direito de recusar o
artigo caso não tenha havido alterações, neles intro-
duzidas, que atendam às solicitações feitas pelos pa-
receristas, podendo-se recorrer, em caso de dúvidas,
à avaliação de um novo parecerista.
19. Os autores devem ser comunicados do
recebimento da sua colaboração e se esta atende
aos quesitos para ser encaminhada para avaliação no
prazo de até 8 (oito) dias a partir da submissão de
sua colaboração e devem ser comunicados do re-
sultado da avaliação de sua colaboração no prazo de
(90) noventa dias a contar a partir da confirmação do
recebimento. Toda a comunicação da revista para os
autores será feita através do e-mail do primeiro autor
do artigo. Os autores que não receberem mensagem
da revista nos prazos supra-citados devem procurar
novo contato com o Editor para esclarecer se houve
extravio de correspondência eletrônica.
Revista da ANPG, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 105 - 108, segundo sem. 2009
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