Revista da biblia2t 2012

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Revista da Bíblia • 2T12 • Ano XVII • No 66 • 11 • Revista da Bíblia • 2T12 • Ano XVII • No 66

PALAVRA PURA, REFINADA SETE VEZES (Salmo 12.6)

Na leitura da Bíblia, peço sua atenção para os seguintes cuidados:

1. Leia primeiro a Bíblia; depois, compreenda-a – A primeira tarefa é simples: simplesmente leia a Bíblia. Compreender vem de-pois. Leia-a sempre. Leia-a muito. Leia-a sabendo que é inexaurí-vel. Gaste tempo com ela. Quanto mais tempo gastar com ela, mais riqueza vai tirar dela.

2. Leia a Bíblia sem pressa – Leia-a como se apreciasse a paisa-gem numa viagem. Imagine que você vá do Rio de Janeiro a Vitória de carro. Você pode gastar seis horas ou doze. Você pode chegar logo e saborear a cidade. Você pode ir devagar e saborear as lindas paisa-gens de parte dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

3. Leia a Bíblia como tendo autoridade sobre você e não o con-trário – Não imponha suas idéias a ela; deixe que Deus lhe impo-nha as ideias dele por meio da sua Palavra. Não leia a Bíblia para provar suas teses; leia a Bíblia para Deus mudar o seu coração. Leia a Bíblia para ela abrir, não para para fechar, a sua mente.

4. Leia a Bíblia com o desejo de conhecê-la – Leia a Bíblia para conhecê-la cada vez mais e de modo cada vez vez mais profundo. Não se contente com um conhecimento superficial a respeito do Deus revelado na Bíblia. Não se satisfaça com uma visão vaga do que a Bíblia diz.

5. Leia a Bíblia, procurando responder a cinco perguntas bem claras:

• O que o texto diz?• O que significa o que o texto diz?• O que o texto me diz?• O que o texto me diz é verdade?• Que farei com que o texto me diz?

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

LINHA DIRETA

Para qualquer sugestão, comentário ou pergunta, contate direto com a Redação da revista acessando: Pr. Israel Belo de Azevedo em www.prazerdapalavra.com.br/revistadabiblia. As melhores contribuições serão publicadas, também, na versão em papel da REVISTA DA BÍBLIA. Escreva para [email protected]

Primeira PalavraImagem: www.sxc.hu (1136537_77195808)

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S u m á R I o

Nossa missão: “Viabilizar a coo-peração entre as igrejas batistas no cumprimento de sua missão como comunidade local”

IMPRENSA BÍBLICA BRASILEIRAAno XVII – Nº 66 – 2T2012

Publicação trimestral da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira, dirigida a pastores, educadores religiosos, professores, estudantes, líderes, ao povo evangélico e ao público em geral

CGC (MF): 33.531.732/0001-67Registro Nº 810873788 no INPI

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Direção GeralAlmir dos Santos Gonçalves Júnior

Conselho EditorialCarrie Lemos Gonçalves, Celso Aloísio Santos Barbosa, Ebenézer Soares Ferreira, Francis-co Mancebo Reis, Gilton M. Vieira, Ivone Bo-echat de Oliveira, João Reinaldo Purim, José A. S. Bittencourt, Lael d'Almeida, Margarida Lemos Gonçalves, Pedro Moura, Roberto A. Souza e Silvino C. F. Netto

Coordenação EditorialSolange Cardoso Abreu d’Almeida (RP/16897)

RedaçãoIsrael Belo de Azevedo

Conselho Geral da CBBSócrates Oliveira de Souza

Produção EditorialStudio AnunciarImagens: www.sxc.hu e freedigitalphotos.net

Produção GráficaWilly Assis Produção Gráfica

DistribuiçãoEBD–1 Marketing e Consultoria Editorial Ltda.Tel.: (21) 2104-0044 – Fax: 0800.216768distribuidora@ebd–1.com.brpedidos@ebd–1.com.br

Revista da BíbliaISSN 1984-8692

o QuE VoCÊ VAI APRENDER NESTA EDIÇÃo

ComENTáRIoS SoBRE o TEmA Do TRImESTRE (I)EPÍSTOLA AOS GÁLATASO uso da liberdade cristã

ComENTáRIoS SoBRE o TEmA Do TRImESTRE (II)EPÍSTOLA AOS EFÉSIOSA santidade cristã

ComENTáRIoS SoBRE o TEmA Do TRImESTRE (II)EPÍSTOLA AOS FILIPENSESO poder que Deus dá

ComENTáRIoS SoBRE o TEmA Do TRImESTRE (IV)EPÍSTOLA AOS COLOSSENSESA vivência cristã

VIAGEm A ISRAELTERRAS BÍBLICAS, ONDE O PASSADO CONVIVE COM O PRESENTE

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“Daqui em diante ninguém me moleste;porque eu trago no meu corpo as marcas

de Jesus.”

Introdução

Esta carta de Paulo é vista por muitos de seus co-mentaristas como uma apologia, ou seja, uma espécie de discurso feito por alguém para defender, elogiar ou louvar a outrem ou a si mesmo, numa espécie de auto-defesa. No caso desta carta, é como se Paulo estivesse fazendo a sua defesa diante dos gálatas, os crentes da

Galácia, região ao norte da Turquia de hoje, cujas ci-dades foram visitadas por Paulo em suas três viagens e que deve ter sido também visitada por Pedro, pois em sua primeira carta o discípulo de Cristo os identifica também.

A defesa de Paulo se explica. Para muitos, esta car-ta é o primeiro escrito do Novo Testamento. Antecede até mesmo, cronologicamente, aos quatro evangelhos que foram escritos bem depois. Se Paulo realizou a sua primeira viagem em torno do ano 49 de nossa era cristã, esta carta deve ter sido escrita logo depois, pos-sivelmente em 51/52, talvez. A apologia paulina se faz,

Epístola aos Gálatas O uso da liberdade cristãTexto bíblico – Gálatas 1 a 6 • Texto áureo – Gl 6.17

Comentários sobre o Tema do Trimestre (I)

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então, pelo espanto que tinha o apóstolo em saber que tão pouco tempo depois de sua estada entre eles já hou-vesse desânimo, retorno ao passado de pecados, perda de aspectos fundamentais que haviam alcançado com a liberdade cristã que receberam.

A epístola aos gálatas é escrita por Paulo a uma co-munidade de crentes gentios da região especificamente chamada de Galácia do Sul, onde podemos vislumbrar as cidades citadas no percurso de Paulo em Atos 13 e 14, após a sua passagem por Antioquia da Pisídia. Icônio, Derbe, Listra, Panfília, seriam cidades dessa região. Havia também uma região reconhecida como Galácia do Norte, com as cidades citadas por Pedro em sua primeira epístola, Ponto, Bitínia e Capadócia. Am-bas as regiões, compondo as terras que dariam origem à Turquia moderna, até ao seu norte separado do que viria a ser a Rússia de hoje pelo Mar Negro. Esses novos crentes estavam sendo conturbados por judeus legalis-tas que antepunham à liberdade cristã, os ritos do ju-daismo. Paulo deseja então assegurar a eles a liberdade cristã que os crentes passam a desfrutar em Cristo Jesus. Como sua autoridade apostólica fora posta em dúvida, ele também procura restabelecer na carta, essa sua au-toridade, mostrando que aquilo que ensinava e pregava lhe fora revelado pelo próprio Senhor Jesus.

A carta foi aceita no cânon bíblico desde cedo. Já em 144 d.C. era citada pela maioria dos pais da igreja. Policarpo a citou. Irineu também. Ela foi muito usada nos séculos II e III da era cristã, por sua clara definição da liberdade cristã em oposição aos princípios judaicos que os judeus recém-convertidos ao cristianismo pro-curavam, de certa forma preservar dentro da igreja de Cristo.

I - Dados históricos e preliminares

O grande problema até hoje, quando igrejas são criadas em regiões adversas ou onde ainda não havia trabalho evangélico é o da manutenção da atuação dela dentro dos princípios em que e para que foram criadas. Com a saída do líder, quase sempre carismático e in-fluente, os novos crentes são como que obrigados a ca-minhar por suas próprias pernas como igreja de Cristo. Se não houver alguém com segurança espiritual e bom

conhecimento bíblico para dar continuidade aos esfor-ços organizadores, esta obra tão promissora em seu iní-cio tende a fracassar em pouco tempo.

Foi isto que aconteceu com Paulo e nas igrejas da Galácia. Depois que ele dali saíra na continuidade de sua viagem com Barnabé, a igreja começou a caminhar sozinha. Seus líderes naturais, por uma questão de assi-milação vinham a ser os judeus convertidos ao cristia-nismo, pois tinham raízes históricas que os conduziam ao melhor conhecimento da revelação de Deus, o que não acontecia com os gentios, os nativos da região, que por serem de origem cultual pagã, não tinham víncu-los anteriores algum com o Evangelho de Cristo. O problema é que esses judeus, embora convertidos, co-meçavam, sem a direção de Paulo, a querer impor al-guns dos ritos e procedimentos do judaismo. No caso desta carta, é este problema que é o alvo de Paulo. Os judeus convertidos quando por ali passara em 49 a.C., ficando na liderança dos trabalhos, um ou dois anos de-pois, queriam conduzir a igreja às práticas judaizantes, especialmente à prática da circuncisão. Eles estavam querendo comprovar para os crentes da Galácia que os ritos do judaísmo ainda eram válidos, e que para se tor-narem crentes em Cristo, os gálatas precisavam antes circuncidar-se. Daí, sua admiração negativa, expressa bem no início de sua carta (1.6): “Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos cha-mou na graça de Cristo, para outro evangelho”.Vai mais longe ainda quando afirma, chamando-os à razão: “Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós”.

II - Esboço básico do livro – Sua divisão

Em seus 6 capítulos e 149 versículos, podemos vis-lumbrar a seguinte divisão básica nesta carta:

1. Saudações iniciais - 1.1-5;

2. A defesa do verdadeiro Evangelho - 1.6-10;

3. A defesa de sua missão como apóstolo - 1.11-17;

4. O relacionamento com outros apóstolos - 1.18 a 2.10;

5. A defesa da liberdade cristã - 2.11-21;

Comentários sobre o Tema do Trimestre (I)

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6. A defesa da graça divina - 3.1 a 4.31;

7. A responsabilidade do crente no exercício de sua liberdade - 5.1 a 6.18

III - A visão global do texto

O texto de Paulo em Gálatas é uma defesa ao seu ministério naquela igreja e entre os crentes da região. Esta é a visão geral que podemos retirar da carta. Suas afirmações são de modo a não deixar dúvida sobre a sua autoridade apostólica. Era fariseu. Dos mais fervoro-sos. Filho de fariseu. Educado aos pés de Gamaliel, o mais prestigiado mestre da época. Zeloso ao extremo pelas coisas judaicas. Chamado, diretamente, por Cris-to para a obra do evangelho. Conviveu de alguma for-ma com os apóstolos que conheceram pessoalmente a Cristo, Pedro e Tiago, principalmente. De perseguidor do evangelho passou a pregador do evangelho de Cris-to. Foi separado para a obra de missões pela igreja de Antioquia da Síria, aquela que se tornou célebre, pois, foi ali onde os crentes pela primeira vez foram chama-dos de cristãos. Viajou pelo mundo conhecido da épo-ca, acompanhado de Barnabé, pregando o evangelho e realizando maravilhas. Depois da conversão, passou três anos em Damasco e ao final de outros catorze anos de um retiro pelas terras da Síria e da Cilícia, vai a Jeru-salém e participa com os líderes da igreja, do primeiro concílio das igrejas de Cristo. Estava com isto, como que afirmando: Tudo o que preguei tem autoridade di-vina, pois do Senhor me foi transmitido.

Sem dúvida, o que salta aos olhos do estudioso é o grau de surpresa com que o apóstolo, em sua primeira incursão como escritor de epístola, demonstra ao veri-ficar como os crentes sem uma segura direção e melhor conhecimento doutrinário se tornam facilmente leva-dos por novas lideranças em prol de procedimentos e ações que contrariavam inteiramente aquilo que lhes havia sido ensinado na origem de suas conversões. Daí, as suas expressões de surpresa e desagrado como tônica na carta: “Estou admirado...Ó insensatos gálatas... Sois vós tão insensatos?... Será que padecestes tantas coisas em vão?...Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós...Para a liberdade Cristo nos libertou; per-manecei, pois... Porque estou perplexo a vosso respeito...

IV - Os pontos principais em destaque

Vamos destacar quatro dos pontos que considera-mos fundamentais nos comentários de Paulo aos cren-tes da Galácia:

4.1 - A liberdade cristã X A lei judaica: O que ele es-tava ensinando aos gálatas e por extensão a nós é que se quisermos viver longe da vida de pecado, não andemos buscando cumprir programas, regulamentos, regras, “isto posso, aquilo não posso”, a lei, enfim, mas vivamos guiados pelo Espírito de tal forma que não precisare-mos nos preocupar com tais itens, porque simplesmen-te o Senhor nos guia e nos faz evitar o pecado. Daí a palavra tão categórica dele: “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei...”, para completar so-bre a diferença de vida na liberdade cristã em face do jugo da lei: “Se vivemos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito”. O que Paulo estava querendo ensinar aos crentes na Galácia, especialmente aos crentes egressos do judaísmo é que com a conversão a Cristo, eles ha-viam deixado a escravidão do ritualismo e do sacrifício para abraçarem a liberdade do evangelho e da salvação em Cristo. Não há comparação entre esses dois estados: perdido ou salvo, morto ou vivo, inferno ou céu.

4.2 - A autoridade apostólica dele: Paulo estava querendo comprovar a autenticidade de sua mensa-gem. Ela vinha de alguém que a tinha recebido da própria fonte, Jesus Cristo. Tal como os discípulos de Cristo que foram pessoalmente chamados por ele mes-mo para o apostolado, Paulo assim se considerava, pois recebera também o evangelho do próprio Senhor Jesus que de forma especial e extraordinária lhe aparecera no caminho de Damasco, daí afirmar: “Porque não recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo”. Como passou de perseguido a pregador ele afirma que a transformação pela qual pas-sou foi resultante da intervenção do Espírito de Deus em sua vida. Tudo mudou para ele depois que conhe-ceu a Cristo. Ele queria que isto também acontecesse aos seus discípulos na Galácia.

4.3 - As obras da carne: A listagem que Paulo faz aos gálatas das obras da carne é enorme e execrável. Ele quer mostrar aos seus leitores que a vida conduzida na

Epístola aos Gálatas

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carne leva a situações terríveis de dor e sofrimento. Em 5.19, ele aponta para elas: prostituição, impureza, lascí-via, idolatria, feitiçaria, inimizades, contendas, ciúmes, iras, facções, dissensões, partidos, invejas, bebedices, orgias e coisas semelhantes a essas, cerca de 16 atitudes e procedimentos que não deviam fazer parte do recei-tuário de vida do crente.

4.4 - As obras do Espírito: Antagonizando a relação acima, Paulo faz uma listagem que deve ser um paradig-ma para todos os crentes da Galácia ou dos tempos de hoje. São nove virtudes que devem ornar o nosso caráter e ser ponto de referência em nosso viver (5.25): amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fide-lidade, mansidão e domínio próprio, e, para concluir categoricamente a questão da diferença entre o fruto do Espírito que se transforma em 9 obras positivas, e as obras da carne, em suas 16 resultantes negativas, ainda acrescenta: “Contra estas coisas não há lei”. Como são todas elas conseqüências da operação do Espírito no coração do crente a lei nada pode contra elas.

V - Sua contextualização

Como estaremos melhor contextualizando a liber-dade que o Senhor nos deu, em meio a tanto libera-lismo que chega mesmo ao campo da libertinagem e promiscuidade dos nossos tempos? Este era também o problema dos crentes na região da Galácia, a Turquia de hoje, para onde Paulo escreve ensinando sobre os obstáculos que temos que evitar no viver da liberdade que Cristo nos deu.

5.1 - Fazendo bom uso da liberdade que recebe-mos: Você já notou que em geral as pessoas têm uma visão totalmente distorcida do que nós chamamos de liberdade que gozamos como crentes?... Porque você não pratica as mesmas coisas que eles fazem... Não vai aos mesmos ambientes que eles freqüentam... Não usa as mesmas palavras que eles falam... - Eles passam a considerar-nos como “bitolados”, presos a um esquema rígido, sem liberdade para nada, quando, nós sabemos, que é exatamente o contrário. Eles é que são escravos

Mapa da Europa em 117 A.D. com área de domínio do Império Romano em cinza claro e

destaque para a área da Galácia em cinza escuro

Comentários sobre o Tema do Trimestre (I)

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dessas atitudes e hábitos indevidos, enquanto nós, so-mos livres, porque podemos praticá-los, mas não o fa-zemos, simplesmente porque não os aceitamos como adequados para a vida cristã. Alias, nisto mesmo é que se situa a diferença da liberdade cristã diante da que o mundo entende como verdadeira liberdade. Temos a li-berdade para fazer o que quisermos. Não há regras que nos impeçam de fazer isto ou aquilo, mas simplesmente a nossa consciência cristã nos impõe o que é certo ou errado, e assim então, agimos.

5.2 - Entendendo bem essa liberdade: Os crentes daquela época e daquela região não estavam entenden-do bem esta liberdade que o Senhor nos deu. Como não tinham mais que se sujeitar aos ritos judaicos e às exigências da religiosidade do templo em Jerusalém, achavam que podiam dar vazão a tudo que quisessem fazer segundo a sua própria vontade. Paulo teve que lhes ensinar que não era bem assim. Realmente, não havia mais necessidade da sujeição ao tradicionalismo religioso do passado, mas agora, cada um, intimamente, deveria estabelecer o seu procedimento segundo Cristo o faria. Daí escrever-lhes dizendo: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne”. Carne aí, significando a vontade própria e egoísta do ser humano. Como eram livres, pensavam os gálatas, poderiam fazer o que quisessem, inclusive, prejudicar o irmão ou amigo com que tives-sem alguma diferença. E, aplicavam, então, este pensa-mento a tudo o mais: podiam beber o que quisessem... podiam falar o que quisessem... podiam fraudar quanto quisessem... podiam praticar o sexo livremente... – Não, Paulo vai ensinar-lhes que não é assim! Você é livre para praticá-las, mas tendo Cristo como seu exemplo de vida, você não as pratica, porque o seu coração não aceita tais procedimentos para o viver.

5.3 - Andando no caminho certo: Logo a seguir Paulo vai explicar como esta liberdade deve ser vivida. Numa frase pequena e simples, ele resume tudo: “Andai pelo Espírito e não haveis de cumprir a cobiça da carne”. Sim, se queremos viver a verdadeira liberdade, aquela que, Cristo traz ao nosso coração, não devemos viver segundo o império das coisas do mundo, mas sim, se-gundo o império do Espírito de Deus em nossos cora-ções. Ou seja, não ficamos subjugados apenas pelas coi-

sas mundanas, o lazer, o entretenimento, os esportes, os shows, tudo aquilo que se volta para a nossa carnalida-de, mas sim, ainda que tenhamos que conviver de for-ma comedida e dosada com tais ingredientes que fazem parte da vida hoje temos espaço em nosso viver, para a oração, para a leitura da Bíblia, para a meditação naqui-lo que o Senhor Jesus deseja para cada um de nós. Não andar segundo o mundo nos impõe, mas sim, segundo aquilo que o Senhor Jesus espera de mim e de você.

5.4 - Olhando para as conseqüências: Mais um pouco e Paulo encerra a questão mostrando as conse-qüências de um caminho e do outro. O caminho que o mundo oferece e o caminho a que Cristo nos convida. Ele faz isto de maneira muito objetiva e direta. Se você quiser ver o que acontece àquele que trilha o caminho da liberdade como o mundo a entende, você vai ver apenas “prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, ini-mizades, contendas, ciúmes, iras, facções, dissensões, parti-dos, invejas, bebedices, orgias”, coisas que levam a fins trá-gicos em geral. Se você quiser ver o que acontece àquele que segue o caminho a que Cristo nos convida, você verá “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”, coisas que levam a situações de harmonia, boa vontade e compreensão en-tre os homens. A liberdade cristã nos conduz a estes está-gios aos quais Paulo chama de “frutos do Espírito”, pois é isto que resulta na sua vida e na minha vida se vivermos segundo a vontade de Cristo.

Conclusão

Para vivermos a verdadeira liberdade cristã temos que cuidar dos obstáculos que o mundo nos coloca à frente. Evitá-los com atenção e inteligência, primeiro, entendendo a verdadeira liberdade que Cristo nos dá; segundo, procurando andar sempre no caminho certo, o caminho do Espírito como ele nos recomenda; e, ter-ceiro, olhando as conseqüências que estão à nossa frente, vendo a diferença na vida daqueles que trilham os cami-nhos do mundo e na vida daqueles que trilham os cami-nhos de Deus. Isto fazendo vamos avaliar com segurança a referência do caminho que deveremos tomar. E assim fazendo, vivamos eu e você a verdadeira liberdade cristã, livres da escravidão do pecado e livres para fazer aquilo que o Senhor espera de nós como crentes que somos.

Epístola aos Gálatas

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“... a vos renovar no espírito da vossa mente;e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade.”

Introdução

A carta de Paulo aos efésios é tida como uma daquelas que foram escritas da prisão em Roma. Segundo o costu-me do império, naquela época, sendo ele um prisioneiro domiciliar, deveria ter ao seu lado, permanentemente, um soldado romano de guarda para impedi-lo de deixar a residência que lhe fora alugada para isto. Por isso é que os historiadores explicam o final desta carta quando Pau-lo vislumbra a armadura do cristão. Ele estaria por certo no seu reduto de prisioneiro contemplando a sentinela romana ao seu lado, quando então se apropriou da visão de seus apetrechos de vestimenta para aplicá-los à men-sagem que desejava transmitir como lemos no capítulo 6.

Éfeso era a capital da província romana na Ásia. Acidade mais importante e influente na região da Tur-quia moderna. Era famosa por ser a sede do culto a Diana, uma deusa da mitologia grega (Ártemis), absor-vida agora pela mitologia romana. Além do templo de Diana, com suas sacerdotisas virgens e eunucos (jovens emasculados), era também um grande centro comer-cial. Como igreja cristã se tornou também referência no NT, pois, o apóstolo João deve ter ali encerrado o seu ministério, e ela mesma viria a ser a destinatária de uma das sete cartas do Apocalipse.

A carta trata do plano de Deus para propiciar a união em um tempo certo, sob a autoridade de Cristo, de tudo aquilo que exista no céu e na terra. Na primeira parte o apóstolo fala do povo de Deus, os cristãos, como um povo só, independentemente de raça ou nacionalidade, unidos que foram pela morte de Cristo na cruz do Cal-

Epístola aos Efésios A santidade cristãTexto bíblico – Efésios 1 a 6 • Texto áureo – Efésios 4.23,24

Comentários sobre o Tema do Trimestre (II)

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vário. Indo além, menciona mesmo que o Espírito Santo lhes dá o poder para continuarem a viver unidos no amor do Pai. A seguir, aborda a nova vida que os discípulos de Cristo, os seguidores do Caminho, deveriam tomar por estarem unidos nele. Esta nova vida se exterioriza no melhor relacionamento que tenham uns com os outros. Esta carta, dizem alguns historiadores, como a que foi escrita aos crentes em Colossos, também pode ter sido preparada para ser levada a outras igrejas da região. Aliás são três as cartas que tomam o título de “cartas da prisão”, pois, devem ter sido escritas na mesma época de Roma: aos efésios, aos colossenses e a Filemom.

Éfeso vai-se tornar um dos maiores centros primiti-vos do cristianismo, principalmente depois da queda de Jerusalém em 70 a.C. Paulo, passou ali três anos, evan-gelizando a cidade e as regiões vizinhas, ocasião em que teve que “combater com as feras” como menciona em 1Coríntios 15.32. Aliás foi durante sua estada aí que ele escrever suas cartas à igreja em Corinto.

Mais tarde, João, o apóstolo deve ter sido pastor desta igreja, fato este que Irineu e Eusébio confirmam nnos séculos II e III da era cristã. Foi daí que ele teria sido exilado para Patmos onde escreveria a revelação de Deus a ele, o livro Apocalipse.

I - Dados históricos e preliminares

Paulo vai passar por Éfeso em sua segunda viagem bem ao final dela, mas de maneira rápida (At 18.19-21). Porém, logo no início da terceira viagem ele chega a Éfeso (At 19.1), e deverá então nela ficar os três anos citados por ele mesmo (At 20.31) fazendo dela o cen-tro propulsor de suas andanças pela região da Ásia e da própria Europa: Macedônica, Grécia, Filipos, Trôade, Mileto, Samos e outras menores, conforme nos registra Atos 19.1 a 20.38. Sua despedida dos crentes em Éfeso é dramática e muito emotiva, por onde podemos ter uma idéia do seu grau de afinidade com aquela igreja.

Isto deve ter ocorrido em torno de 54 a 57 a.C. en-quanto a carta para a igreja teria sido escrita um pouco mais tarde entre 59 e 61 a.C., tempo que se supõe ocor-re a prisão do apóstolo em Roma. Esta carta, por sua composição bem genérica, sem muitas citações pessoais

como se verifica em outras, deve ter sido escrita assim pelo apóstolo com a finalidade de que a sua leitura, tal como a escrita aos colossenses (Cl 4.16), fosse lida tam-bém entre as demais comunidades cristãs que visitou nesta sua última viagem missionária.

II - Esboço básico do livro - Sua divisão

Em seus 6 capítulos e 155 versículos podemos per-ceber claramente a seguinte divisão do seu conteúdo:

1. Saudação e hino de louvor e exaltação a Deus - 1.1-23

2. A supremacia da graça sobre o pecado - 2.1-22;

3. O apostolado de Paulo entre os gentios - 3.1-21;

4. A unidade da fé e a santidade cristã - 4.1 a 5.21;

5. Os relacionamentos dos crentes em Cristo - 5.22 a 6.9;

6. A armadura de Deus para o crente e despedidas - 6.10-24;

III - A visão global do texto

Embora possamos retirar diversos temas como assuntos principais desta carta, ela dispõe, no entanto, de uma singu-laridade interessante. Em geral todos os que se voltam para escrever, deixam para o fim de seus escritos aquelas aborda-gens mais marcantes. Paulo, nesta carta aos efésios, faz exata-mente o contrário. O início desta epístola é uma verdadeira apoteose. Somos levados a ler, quase sem respirar, do versícu-lo 3 ao versículo 14, tal a beleza das palavras, a profundidade do assunto que aborda, a riqueza do conteúdo que traz para nós. Nele, o apóstolo aborda uma das maiores preciosidades da vida cristã, o grande mistério da vida do homem, o maior milagre reservado para a humanidade: a revelação de Deus à criatura humana para sua redenção. E ele faz isto com tal propriedade e riqueza de palavras que somos obrigados a ler o texto quase que de um fôlego só, de tal maneira as idéias se complementam e se sobrepõem.

Além deste aspecto inicial, a carta se destaca também pela ênfase que dá à graça de Cristo unindo todos os ho-

Epístola aos Efésios

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mens sob a sua bênção salvadora, e a necessidade da san-tidade cristã em oposição aos costumes mundanos, o que é ressaltado com a belíssima imagem final da armadura espiritual que Deus disponibiliza aos seus santos.

IV - Os pontos principais em destaque

Vamos ressaltar alguns dos passos contidos nesta carta como pontos de alerta e de advertência que de-vem ser por nós refletidos:

4.1 - Um hino de louvor em sua vida: Muitas vezes nossas vidas cristãs se tornam tranqüilas e tão normais que perde-mos a inspiração para o louvor e a adoração. Mecanicamente, pensamos que “não há porque fazê-lo”, pois nada acontece de especial ou diferente. Ou seja, acostumamo-nos às revelações do Pai de tal forma já conhecidas que, não experimentamos mais, em nosso viver, momentos de êxtase ou gozo espiritual. Somos como que levados a vivenciá-la em monotonia e pas-sividade. Paulo nos dá um exemplo fulgurante de uma pessoa que embora, vivendo com intensidade a vida cristã e passan-do até por dissabores e tristezas em muitos instantes, ainda assim, sabia cultivar o momento do louvor e da adoração em sua intimidade. Este início do primeiro capítulo desta carta é um belíssimo hino de louvor e exaltação a Deus. Vale a pena lê-lo em reverência, de joelhos até, para que a sua beleza e sua profundidade impregnem a nossa vida e nos transforme em pessoas que vibrem sempre com sa salvação alcançada e com o poder do Senhor que nos salvou.

4.2 - A supremacia da graça de Deus sobre as obras: Outro texto de grande realce na carta é quando o após-tolo se dedica a exaltar a soberania da graça de Deus. O capítulo 2 contém textos de grande esplendor teológico e que nos devem servir de paradigmas para a vida em meio à sociedade em que vivemos presentemente: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie”. Ainda visando demonstrar o grau infinito dessa graça para a salvação do ser humano, ele declara no mesmo capítulo: Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossos deli-tos, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois sal-vos), e nos ressuscitou juntamente com ele”. Ou seja, as obras de nada valem para a salvação. Apenas a graça que nos foi dada por Deus antes mesmo que nascêssemos (Gn 3.15), pode-nos dar a certeza da ressurreição eterna.

4.3 - Os dons do Espírito, segundo a carta aos Efésios: Um outro destaque desta carta é a descrição que Paulo faz nela dos dons outorgados por Deus aos seus servos, por meio da ação do Espírito Santo em suas vidas. Em nossos estudos já vimos que Paulo fez esta mesma descrição em Romanos 12 e em 1Coríntios 12. Ele volta a fazê-lo aqui. Nas três vezes em que entra neste assunto, Paulo o faz de maneira mais ou menos uniforme, com poucas diferenças. Em Romanos são sete: profetizar (pregar), ministrar (ser-vir), ensinar, exortar, repartir (solidariedade), presidir e usar de misericórdia; Em 1Coríntios são oito: sabedoria, ciên-cia, fé, curas, milagres, profecia, discernimento, línguas (fa-lar e interpretar); e. finalmente, aqui em Efésios, ele volta a mencioná-los, mas de maneira mais objetiva, pois aborda as funções que os dons criariam na igreja. São cinco os dons que ele aponta e que devem estar presentes na vida desses ministros: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mes-tres. O que chama atenção nesta descrição de Paulo aos efé-sios é a forma especial como ele a finaliza, como que dizen-do: - Todos esses dons têm que ser praticados em conjunto pelos ministros de Deus “tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida da estatura da plenitude de Cristo”.

4.4 - O relacionamento humano diante de Deus: Pau-lo com muita propriedade nos aponta para os cuidados que devemos ter em nossos relacionamentos como cren-tes. Dos versículos 5.22 a 6.9, ele como que expõe todas as formas de relacionamento que podemos ter, e de como devemos cuidar para que o nome de Cristo seja honrado e preservado em meio a esses contatos em que nos inserimos como pais, cônjuges, filhos, irmãos, servos, empregados e senhores, de forma a não macular o nome da igreja.

V - Sua contextualização

Efésios é uma carta de muitas possibilidades de aplica-ção para os dias presentes. Quando Paulo escreveu aos cren-tes na cidade de Éfeso, ele ensinou-lhes a como combater as situações adversas da vida. Parece que ele estava sabendo que hoje nós seríamos inspirados por ele, pois a sua mensa-gem é plena de utilidade para nós também. Para isto ele nos aconselhou sobre as sete armas que estão à nossa disposição. Vamos conferi-las na figura que o apóstolo nos apresenta de um soldado que se apresenta para a batalha. Ele vai vestir

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este soldado de todos os recursos indispensáveis para que seja bem sucedido na luta. Se a luta será incessante, ele tem que estar bem preparado para enfrentá-la, em todos os as-pectos do viver. Este soldado, espiritualmente, somos eu e você, diante das lutas que enfrentamos no mundo.

5.1 - Enfrentando as adversidades da vida: Lutando sem cessar contra elas foi o que ele recomendou quan-do escreveu para os efésios dizendo “revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes permanecer firmes contra as ciladas do Diabo”. Sim, esta luta pela eficácia da vida cristã deve ser travada por mim e por você, sem cessar. Em todos os momentos de nosso viver. No colé-gio, no trabalho, no lar, na condução, todos nós temos de lutar sem cessar para que o nosso testemunho cristão seja luz para os que estão ao nosso redor.

5.2 - Primeira e segunda armas – Verdade e justiça: Para começar ele aponta para duas virtudes indispensáveis ao cará-ter cristão. Não se pode imaginar alguém que se diga crente e que não demonstre em seu viver estar de posse dessas duas qualidades morais imprescindíveis. Elas não são exigidas ape-nas do crente. O cidadão comum é delas cobrado pela socie-dade civil. O apóstolo Paulo vai-se referir a elas como as duas primeiras armas de que devemos estar equipados para enfren-tar o mundo: “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça”. O dorso do sol-dado naquela época era envolvido por uma espécie de malha fina (para o crente esta malha seria a verdade), sobre a qual, colocava-se depois a couraça, uma espécie de armadura para proteção dos golpes mais duros (para o crente esta couraça se-ria a justiça). O viver na verdade e o buscar a justiça deviam ser duas evidências para o mundo da pessoa do crente. O que o apóstolo está nos requerendo é que pratiquemos a retidão em todos os nossos atos, a dignidade em nossa maneira de viver, enfim, integridade enfim.

5.3 - Terceira e quarta armas – Paz e fé: Mas o apóstolo prossegue e nos apresenta a seguir mais duas armas. Agora mais diretamente vinculadas ao crente. Verdade e justiça são virtudes esperadas de todos os seres humanos. Paulo agora começa a particularizar aquilo que só se pode esperar de al-guém crente em Jesus, de mim e de você: “Calçados os pés com a preparação do evangelho da paz, tomando sobretudo, o escudo da fé, com o quais podereis apagar todos os dardos do Maligno.” Os pés tinham que ser bem protegidos para a ba-talha. De forma figurada então, o apóstolo nos fala que o

crente deve estar revestido em seus pés, com o evangelho da paz, isto é, a mensagem de Cristo sendo levada por nossos pés a todos os que estão ao redor. Mas não somente os pés, mas o corpo também deveria estar protegido, por isso ele aconselha o uso também do escudo da fé. A fé em Cristo nos protege, o corpo todo, das investidas do mal. Ela, a fé em Cristo, é o nosso escudo a preservar-nos do mal.

5.4 - Quinta e sexta armas – Salvação e Bíblia: Para completar a armadura que ele nos indica como necessá-ria para que lutemos sem cessar diante das artimanhas do pecado, o apóstolo nos apresenta mais dois equipa-mentos essenciais para esta nossa preparação para a ba-talha: “Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus”. Com esta frase ele nos ensina que a salvação obtida pelo crente desde que creu em Cristo, é a sua principal arma. Como o capace-te envolve a cabeça do soldado, assim o sentimento da salvação deve envolver toda a mente do crente, isolando--o deste mundo tenebroso em que vive. Ou seja, mesmo diante das piores situações lembremo-nos sempre, que somos salvos por Jesus, não pertencemos a este mundo, fazemos parte do reino de Deus. Vocês devem ter perce-bido que todas essas cinco armas mencionadas até aqui pelo apóstolo são apenas armas defensivas. Ele deixou para a última indicação, a única arma de ataque, a maior e melhor arma ofensiva do crente: a Bíblia, a Palavra de Deus que ele apresenta como a espada do Espírito. É a Bíblia Sagrada que nos inspira na luta, que nos aponta os pontos fracos do inimigo, que nos ensina o caminho da vitória, que nos dá a condição de derrotá-lo, finalmente.

Conclusão

Vivendo digna e retamente (praticando a verdade e jus-tiça em nossos atos)... Testemunhando do evangelho e resis-tindo ao mal (pregando a paz de Cristo e a fé nele)... Mos-trando ao mundo a bênção do ser cristão (demonstrando a alegria da salvação)... estaremos preparados para enfrentar sem cessar a luta contra o pecado, defendendo-nos assim de todos os seus dardos inflamados, até que, possamos des-fechar o golpe final com o nosso contra-ataque: o bom uso da Palavra de Deus (a espada do Espírito), vencendo então a batalha. Porém, mesmo assim, para finalizar, Paulo nos recomenda que sobretudo, mesmo que armados com estas seis equipagens acima descritas, devemos viver sempre “em oração e súplica”, pois só assim, a vitória será alcançada.

Epístola aos Efésios

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“Posso todas as coisasnaquele que me fortalece.”

Introdução

A cidade de Filipos tinha sido uma das mais impor-tantes no período interbíblico, pois fora construída em honra a Filipe, o Grande, o pai de Alexandre, aquele que viria a ser o maior conquistador da Antigüidade. Dizem alguns historiadores que o poder de Filipe se expandia de tal forma que, seu filho, Alexandre recla-maria com os amigos que assim continuando, quando ele chegasse a reinar, não haveria mais o que conquistar.

Nascido em 382 a.C. em Pela, Macedônia, foi educa-do em Tebas na Grécia, afeiçoando-se à cultura clás-sica grega a ponto, de, logo que chegou ao poder em seu Estado macedônico, tentar e conseguir unificar as cidades-estados gregas, sob a direção da Macedônia, o que iria dar base para a expansão posterior que seu filho iria alcançar. Depois de incorporá-los todos, organizou a chamada Liga Helênica e lançou-se às outras conquis-tas, principalmente, a Pérsia vindo a falecer, então, em 336 a.C., abrindo espaço para a hegemonia de seu filho, Alexandre. A cidade vai continuar com importância histórica por muito tempo, até se tornar colônia roma-na a partir de 42. a.C.

Epístola aos Filipenses O poder que Deus dáTexto bíblico – Filipenses 1 a 4 • Texto áureo – Filipenses 4.13

Comentários sobre o Tema do Trimestre (III)

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A Macedônia, ficava na chamada região dos balcãs eu-ropeus, sendo a cidade de Filipos aquela que ligava-se mais de perto com a Ásia, pela travessia do Estreito de Bósforo. Embora situada dentro de uma planície a 16 quilômetros de distância do mar, foi para lá que Paulo se dirigiu logo que atendeu à visão que recebeu em Trôade, conforme podemos ler em Atos 16.12: “e dali para Filipos que é a pri-meira cidade desse distrito da Macedônia, e colônia romana; e estivemos alguns dias nessa cidade”. Paulo esteve ali por-tanto em sua segunda viagem, e passa depois por lá na 3a. viagem também como podemos ler em Atos 20.6.

A passagem de Paulo por Filipos é uma das páginas mais esplendorosas do trabalho evangelístico do apósto-lo acompanhado, no caso, por Silas. Ela está narrada em Atos 16.12-40, quando o apóstolo inicia a evangelização da Europa conforme lhe determinara a visão. Nesta cidade ele trabalha objetivamente em duas casas, primeiramente com Lídia, a fabricante de púrpura da cidade e depois na casa do anônimo carcereiro da prisão em Filipos, onde ele se hospeda após o martírio, é tratado, alimentado e prega o evangelho a ele e a toda a sua família. Desses dois núcleos familiares, deve ter surgido então a igreja cristã em Filipos, à qual Paulo vai escrever mais tarde.

Esta é mais uma das cartas chamadas “da prisão”. Tudo faz crer que, tomando conhecimento em Roma de que aquela igreja estava recebendo pessoas que ensinavam certas heresias e, que, também, alguns dos líderes da igreja teriam se voltado contra ele em sua liderança, o apóstolo resolve escrever a carta, onde aconselha, responde e adverte. No entanto, apesar disto,vemos que a igreja o amava pois ele agradece a ajuda que dela teria recebido expressando o seu amor pelos crentes ali. Nesta carta, ele expressa também al-guma características que devem marcar a vida do crente, fa-lando da confiança, alegria, amor, comunhão e firmeza que deveriam estar presentes neles. Finaliza mencionando que todos deveriam seguir o exemplo de Cristo em suas vidas, pois, “meu Deus, suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus”.

I - Dados históricos e preliminares

Uma das dificuldades dos estudiosos históricos da Bí-blia é situar adequadamente em termos de data e origem as cartas chamadas “da prisão”. Tendo-se como certo, que,

pelo menos sete delas foram escritas de prisões, pelos ele-mentos que nos apresentam em sua construção Filipenses, Efésios, Colossenses, Filemom, 1/2Timóteo e Tito, ficam eles sem saber de onde seguramente teriam sido enviadas, pois, Paulo, esteve preso em pelo menos três cidades di-ferentes: Jerusalém, Cesaréia, Roma, e, possivelmente, em Éfeso onde ele menciona ter sido “entregue às feras”. Em outros lugares ele esteve momentaneamente também em prisões, como por exemplo, Filipos, mas em passagens tão rápidas que não dariam ensejo à escritura de uma carta.

No caso de Filipenses, as evidências contidas no tex-to levam a grande maioria dos historiadores a advogar a prisão em Roma e os anos de 58 a 60 da era cristã, como o local de origem e a data aproximada da carta, no primeiro aprisionamento de Paulo.

II - Esboço básico do livro - Sua divisão

Em seus 4 capítulos e 104 versículos, podemos en-trever a seguinte divisão

1. Uma palavra de introdução e saudação - 1.1-11;

2. Sua palavra de conforto mesmo em meio a tribu-lação – 1.12-26;

3. Sua exortação à santidade de vida - 1.27 a 2.18;

4. Sua recomendação sobre seus emissários - 2.19-30;

5. Seu zelo apostólico e sua palavra sobre os legalis-tas - 3.1-21;

6. Sua gratidão e saudações finais - 4.1-23

III - A visão global do texto

Mesmo ao leitor superficial da epístola, saltam aos olhos dois temas essenciais em seu conteúdo, e que de-vem merecer toda a nossa atenção, como mensagens globais da carta aos Filipenses:

Primeiro, a segurança do apóstolo em continuar tes-temunhando do Evangelho mesmo em cadeias. Impres-sionante verificar que ele considera que a sua prisão está

Epístola aos Filipenses

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contribuindo para o progresso do Evangelho. Paulo tinha como objetivo transformar a sua prisão em uma espécie de exemplo para que os demais crentes tivessem mais coragem em testemunhar do Evangelho. Ela de-veria servir de estímulo para que os crentes em todo o mundo se sentissem dispostos a passar por tribulações em benefício do Evangelho: “a maior parte dos irmãos no Senhor, animados pelas minhas prisões, são muito mais corajosos para falar sem temor a palavra de Deus”.

Segundo, a sua exortação à perseverança na vida cristã por parte dos crentes em Filipos. Sua palavra aos filipenses nos capítulos 1 e 2 é plena de inspiração e desafio para que aqueles crentes buscassem mais e mais uma devoção maior na vida cristã: “portai-vos de um modo digno do Evangelho... em nada estais atemorizados pelos adversários... nada façais por contenda... tende em vós aquele mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus... fazei todas as coisas sem murmura-ções... para que vos torneis irrepreensíveis...” Enfim, palavras e mais palavras exortando aos crentes de todas as épocas que ontem, como hoje, a vida cristã deve ser pautada por esta busca sempre pelo melhor.

IV - Os pontos principais em destaque

Uma carta como esta é plena de pontos que pode-mos destacar como instrumentos de inspiração e entu-siasmo em nossa vida cristã hoje:

4.1 - A oração pela igreja: A palavra inicial de Paulo na carta é uma mensagem que nos evoca a necessidade de estarmos sempre orando por nossas igrejas. Quase todas as cartas paulinas começam com um intróito neste sentido. O apóstolo orava pelas igrejas que conhecia e às quais em algum momento do passado tinha ajudado. Algumas de-las se mostravam, por sua conduta cristã, dignas desta pre-ocupação do apóstolo em orar por elas. É o caso por exem-plo desta igreja em Filipos: dou graças a Deus todas as vezes que me lembro de vós... fazendo sempre, em todas as minhas orações, súplicas por todos vós.” Ou seja, o apóstolo tinha prazer em colocar em suas orações os nomes e os desafios que porventura estivesse enfrentando. Esta oração não era tristonha ou negativa. Paulo chega a mencionar que fazia as “súplicas por todos vós com alegria”. Será que os nossos pastores estào orando por nossas igrejas “com alegria”?

Ilustração de Paulo, mesmo preso, escrevendo uma de suas

cartas (Gustave Doré)

Comentários sobre o Tema do Trimestre (III)

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4.2 - O elogio a Epafrodito: Um outro ponto de realce nesta carta é o elogio de Paulo a um de seus auxiliares. Epa-drodito ou Epafras são dois nomes para uma mesma pes-soa, embora alguns comentaristas considerem que possam ter sido duas pessoas já que são citadas diferentemente, o primeiro nesta carta aos filipenses, enquanto o segundo nas cartas aos colossenses e a Filemom. O que converge para uma mesma pessoa é que em todas as citações as pa-lavras de Paulo são elogiosas e não fazem distinção entre um e outro. No grego, esse nome, tem um bonito signi-ficado: “belo, encantador”, sendo Epafras, então, uma es-pécie de contração ou diminutivo de sua forma completa. O que nos deve marcar é que sendo o apóstolo Paulo algo tão severo em suas avaliações pessoais, quanto a esse per-sonagem ele o enaltece grandemente: “Epafrodito, meu irmão... cooperador... companheiro nas lutas... meu socorro nas minhas necessidades... preocupado com os amigos...” Sua apreciação vai a tal ponto que demonstra o sentimento que ele e os crentes de Filipos tiveram quando souberam da enfermidade que o atingiu. Será que nos dias de hoje estamos sendo dígnos, por parte de nossos líderes, de ava-liações assim tão positivas e nobres?

4.3 - O convite ao regozijo cristão: Outro ponto de destaque nesta carta á a importância que o apóstolo Pau-lo confere à vivência cristã em alegria e regozijo. Parece que ele quer evidenciar que o crente mesmo enfrentando situações adversas tem do que se alegrar. Por duas vezes ele chega a mencionar isto aos filipenses: “Regozijai-vos sempre no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos.” O que o apóstolo destaca para nós é que, como crentes, embora estejamos, às vezes, diante de problemas e dificuldades, devemos “regozijar-nos no Senhor”. Isto é, ele não nos está sugerindo uma alegria vazia e fugidia como se qui-sesse nos impor uma simples fórmula de terapia contra a dor ou o sofrimento. Não! O que ele nos ensina é que este regozijo deve vir da pessoa de Cristo em nós. O cren-te que possui o Espírito de Deus em seu interior, mesmo diante do maior tormento, dispõe da alegria íntima e pessoal que só a pessoa de Cristo, nosso Senhor e Salva-dor, dentro de nós, pode nos proporcionar.

4.4 - A gratidão à beneficência: Algo que nos cha-ma atenção nesta carta é também a predisposição dos filipenses em ajudar e participar das lutas do apóstolo. Desde o princípio esta igreja tinha se colocado ao lado

dele enviando recursos para a obra e orando por seu tra-balho missionário. Agora, quando chega ao final da car-ta, o mesmo tinha se dado e Paulo agradece as últimas dádivas: “fizestes bem em tomar parte da minha aflição... nenhuma igreja comunicou comigo no sentido de dar e de receber, senão vós somente... não uma só vez, mas duas, mandastes suprir-me as necessidades”. Será que nos dias de hoje, com tantos recursos a mais disponibilizados para as nossas igrejas estamos participando com este mesmo empenho da obra missionária? Será que estamos aman-do os nossos missionários e participando de suas lutas?

V - Sua contextualização

Todas as cartas de Paulo são eminentemente con-textualizadas ao nosso tempo. Aliás, é impressionante verificar como seus conselhos e palavras de advertência, originadas de um texto de pelo menos dois milênios atrás, ainda são válidos e positivos para hoje.

5.1 - Ensinando-nos a ter um alvo: Na vida cristã, você tem que ter um alvo a atingir. Você deve ter um objetivo a acertar. Você tem que fazer todo um esfor-ço de concentração para isto. O objetivo da nova vida que alcançamos em Cristo deve ser sempre o de melhor possível para isto. Paulo nos aponta para isto em sua carta aos filipenses. Este grau de dedicação de Paulo a determinado objetivo é demonstrado na carta. Na sua vida cristã, você tem que ter esses cuidados. Mirar com precisão um alvo a ser atingido segundo a vontade de Deus. Para isto, outros interesses terão que ser deixados para trás, de forma que você se concentre unicamen-te naquilo que está pretendendo alcançar. Podemos aprender com Paulo sobre isto quando ele disse “mas o que para mim era lucro passei a considerá-lo como per-da por amor de Cristo”. Isto quer dizer que Paulo tinha outras atrações em sua vida, mas passou a considerá--las com secundárias (como perda), diante da primei-ra e maior atração que passou a predominar seu viver: tornar-se verdadeiramente um crente no Senhor Jesus.

5.2 - Firmando-se em direção ao alvo: Para alcan-çar então o alvo, além de fixá-lo com precisão, temos que firmar bem a direção que estamos trilhando. Na vida cristã, não basta mirar com precisão o alvo (que-rer ser um crente fiel). É preciso também firmar bem

Epístola aos Filipenses

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a direção, concentrar-se em todos os momentos, não perder a atenção e estar bem preparado, pois senão, al-gum obstáculo pode nos atingir em nosso caminhar e desviar-nos inteiramente do alvo. Com Paulo podemos aprender também a respeito desta firmeza de direção na hora da jornada: “vou prosseguindo, para ver se pode-rei alcançar aquilo para o que fui também alcançado por Cristo Jesus”. Sim, a primeira lição para termos firmeza na caminhada cristã é esta. Embora surjam problemas, hoje difíceis, amanhã menores, e dias tranqüilos à fren-te, vamos prosseguir. Nada nos deve desviar de nossa carreira. Devemos dia-a-dia firmar a nossa direção em busca do alvo a ser atingido: a perfeição da vida cristã.

5.3 - Acertando o alvo, enfim: Na vida cristã, esse, deve ser o nosso objetivo. Acertar, acertar sempre. Mes-mo que erremos hoje ou amanhã em algum momento de nossa vida, vamos prosseguir: mirando com precisão, firmando a direção de nosso projeto e procurando assim acertar no alvo, atingir o objetivo em mira. Paulo nos dá a verdadeira imagem desta caminhada cristã quando es-creve que não importando os desafios e as falhas de hoje, os passos errados que tenhamos dado em nossa vida, eu e você, devemos, como ele afirmou: “prossigo para o alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. Devemos então, aprender com ele. Prosseguir e nunca desanimar. O prêmio a ser ganho é muito grande e valioso. A vida eterna com Cristo é algo de supremo a ser atingido e devo fazer sempre o melhor para isto.

5.4 - Prosseguindo sempre em busca do melhor: A caminhada com Paulo em busca da melhor vida cristã não chega ao fim. Observem que mesmo de-pois de já ter dito o que poderíamos chamar de tudo possível sobre a necessidade de um alvo na vida, a firmeza necessária para alcançá-lo, e a satisfação de, enfim, atingi-lo, Paulo vai mais longe e acrescenta ainda: “Mas, naquela medida de perfeição a que já chegamos, nela prossigamos”. Isto é, a jornada cristã não tem fim. Ainda que já tenhamos alcançado vi-tórias, na realização daquilo para que o Senhor nos chamou, não nos contentemos com os “louros da vi-tória”. Outros desafios existem à frente. E o Senhor espera a nossa continuidade na luta. Mesmo preso em Roma, Paulo vislumbrava voltar a Colossos, visi-tar Filemom, ir à Espanha. Sim, a vida cristã deve ser sempre um estímulo ao melhor.

Conclusão

O texto fundamental desta carta, recitado como texto áureo em muitos momentos em nossas igrejas é, sem dúvida, o versículo 13 do capítulo 4: “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Esta palavra de Paulo, às vezes, pode ser vista numa ótica muito otimista, quando a lemos isoladamente, e há pessoas que assim o fazem no objetivo de diante de obstácu-los tidos como intransponíveis contar com a ajuda do Senhor para superá-los. Não negamos o poder da fé em vencer desafios, no entanto, devemos entender que o contexto do versículo é extremamente negati-vo. Paulo não está se vangloriando de “poder vencer todas as lutas” que viesse a enfrentar, mas sim, que, diante das dificuldades terríveis que vinha passado, o Senhor lhe dava poder para resistir a elas. Senão, vejamos o versículo 12: “Sei passar falta, e sei tam-bém ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade...” e, então, em face desse quadro negativo, ele exclama que tem capacidade para re-sistir às intempéries, aos problemas, às dificuldades, pois, “pode todas as coisas naquele que o fortalece, o Senhor Jesus Cristo”. Por isso, o título de nosso estu-do: “O poder que Deus dá”. Ele dá poder para resistir também.

“ Não negamos o poder da fé

em vencer desafios, no entanto,

devemos entender que o contexto do

versículo é extremamente negativo.

Paulo não está se vangloriando de

“poder vencer todas as lutas” que

viesse a enfrentar, mas sim, que,

diante das dificuldades terríveis

que vinha passado, o Senhor lhe

dava poder para resistir a elas”

Comentários sobre o Tema do Trimestre (III)

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“A palavra de Cristo habite em vós ricamente,em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns

aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos corações.”

Introdução

A cidade de Colossos era uma das mais importan-tes da região da Frígia, uma província da Ásia Menor nos tempos do Novo Testamento, a Turquia de hoje. Ficava a 120 quilômetros de Éfeso e próxima aos ca-minhos que levavam a outras cidades citadas como “as igrejas da Ásia”, no Apocalipse de João: Sardes, Pérga-mo e principalmente Laodicéia, que ficava mais perto dela, no vale do rio Lico. Foi muito importante nos pe-ríodos que antecederam o Império Romano, decaindo

um pouco depois disto, porque Roma construindo as suas estradas deu preferência à passagem no caminho de Éfeso para o Oriente, pela cidade de Pérgamo e não por Colossos.

Segundo podemos depreender do texto bíblico Pau-lo não foi o fundador desta igreja, nem mesmo deveria conhecer muitos de seus membros, composta que era ela de maioria provavelmente gentia. Os comentaristas acreditam que o Evangelho chegou ali quando Paulo se encontrava pregando em Éfeso, por intermédio de Epafras, que seria um dos líderes daquela igreja. Como essa carta é uma daquelas conhecidas como “da prisão”, os estudiosos apontam o aprisionamento de Paulo em Roma como o local de onde teria sido a carta escrita. Seu final aliás, testemunha muito bem isto, quando

Epístola aos Colossenses

A vivência cristã

Texto bíblico – Colossenses 1 a 4 • Texto áureo – Colossenses 3.16

Comentários sobre o Tema do Trimestre (IV)

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18 • Revista da Bíblia • 2T12 • Ano XVII • No 66

vemos a citação do apóstolo dos seus diversos compa-nheiros de prisão em Roma.

Para muitos historiadores esta carta tem que ser lida em conexão com a carta a Filemom, pois tudo nos in-dica que seria Arquipo, o filho de Filemom, o pastor ou pelo menos o responsável pelos trabalhos naquela igreja. Quando Paulo chega ao final da carta mencio-nando que “dizei a Arquipo: Cuida do ministério que recebeste no Senhor, para o cumprires”, é como se esti-vesse atribuindo a ele a responsabilidade pelo trabalho pastoral ali. Outrossim, na própria carta a Filemom, ele se refere, como “o nosso companheiro de lutas”. (Fm 2).

Das treze cartas de Paulo, sete são reconhecidas como “as da prisão”: Filipenses, Efésios, Colossenses, Filemom, 1/2Timóteo e Tito. Esta que estamos estu-dando se caracteriza bem como escrita em seu aprisio-namento, pois além da citação de diversos companhei-ros que se hospedavam com ele na casa-prisão alugada em Roma, vemos três outras citações que nos remetem particularmente à situação da igreja em Colossos: pri-meiramente a indicação de que Onésimo, voltando para casa como lemos na carta a Filemom, seria o com-panheiro de Tíquico levando a carta em mãos; em se-gundo lugar a citação bem clara de Epafras como “um de vós, servo de Jesus Cristo, e que sempre luta por vós em suas orações, para que permaneçais perfeitos e plenamente seguros em toda a vontade de Deus”; em terceiro lugar, a citação já mencionada acima do nome de Arquipo como ministro ali, e especialmente, a solicitação do apóstolo de que a carta, após ser lida em Colossos, fosse depois lida também na igreja em Laodicéia.

I - Dados históricos e preliminares

Não há indicações seguras para que os comentaristas apontem a razão de ser do nome daquela cidade. Colos-sos, do grego “kolossai”, quer dizer isto que exatamente depreendemos (colosso, algo grande e magnífico). Para os historiadores a única razão plausível para o nome, pois a cidade não seria tão grande para justificar tal título, seria a sua posição num vale bem extenso, o vale do rio Lico, de onde no horizonte, se deveria avistar uma grande cadeia montanhosa (os montes Taurus, talvez). Esses dados não são precisos, pois, pelo que a história nos registra, pouco

depois da época desta carta (58/60 d.C. data provável do aprisionamento de Paulo em Roma), Colossos foi destruí-da por um terremoto, em torno dos anos 66/68.

A carta foi escrita para combater algumas falsas doutrinas que haviam se introduzido na igreja, o que deve ter sido informado a Paulo, pela chegada de Epa-fras a Roma. Paulo vai insistir que somente por Cristo é que Deus perdoa e salva a criatura humana. Os crentes de Colossos devem estar unidos a ele, Jesus, numa nova forma de vida, em que se manifesta o amor mútuo e solidário da igreja de Cristo.

II - Esboço básico do livro - Sua divisão

Em seus 4 capítulos e 95 versículos, podemos distin-guir a seguinte divisão do seu conteúdo:

1. Saudação do apóstolo e apreço dele pelos colos-senses - 1.1-8;

2. Oração do apóstolo em favor dos crentes em Co-lossos - 1.9-23;

3. Menção às suas lutas e trabalhos pelo Evangelho - 1.24 a 2.23;

4. Conselhos à melhor vida cristã - 3.1 a 4.6;

5. Notícias pessoais e despedidas - 4.7-18.

É de se registrar ao final da carta, a dificuldade do apóstolo em escrever, pois apenas a saudação final é es-crita “de próprio punho”.

III - A visão global do texto

O grande propósito da carta de Paulo aos crentes em Colossos é contribuir para o crescimento espiritual deles. Por isso demos o título deste estudo, como “a vivência cris-tã”. Paulo está chamando os crentes em Colossos a uma vida de comunhão fraterna entre eles, e especialmente, de comunhão com o Senhor de tal forma, que esta carta, jun-tamente com a que foi escrita aos Efésios, é tida por muitos comentaristas como a mais avançada teologia do apóstolo, com centralidade na pessoa de Cristo.

Comentários sobre o Tema do Trimestre (IV)

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Vale a pena ressaltar o que escrevem os comenta-ristas sobre o tema central desta carta: “O seu grande tema é Cristo... Cristo é o cabeça do cosmos... Ele é o Mistério de Deus... ele é divino, mas é humano, pois efetuou autêntica expiação, mediante sua morte genu-ína...”, são algumas das expressões que podemos retirar do texto bíblico e ressaltadas pelos estudiosos. As gran-des doutrinas da epístola são todas apoiadas sobre a na-tureza de Cristo, Filho de Deus, Salvador dos homens.

IV - Os pontos principais em destaque

Para destacar alguns pontos da cristologia que Pau-lo evidencia no texto da carta, e que podemos ir reti-rando de diversos versículos muito explícitos em sua exposição:

4.1 - Cristo é o doador da graça, associado ao Pai, o verdadeiro objeto da fé dos crentes: - o texto aos colos-sensses é rico de expressões significativas a respeito da pessoa de Cristo: “... sejais cheios do pleno conhecimento de sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento es-piritual; para que possais andar de maneira digna do Se-nhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus...” Ou seja, a vida cristã há que ser vivida em prol do melhor amanhã. Não podemos nos acomodar àquilo que somos ou que já alcançamos. A fé em Cristo deve nos levar sempre a objetivos maiores amanhã do que hoje. É ele, o Senhor Jesus que, agindo em nós vai fazer-nos trilhar os cami-nhos deste crescimento;

4.2 - Cristo é o doador da herança, o reconciliador, a imagem do Deus invisível: Diante de realidades tão excelsas, o apóstolo prossegue: “Ele é antes de todas as coisas, e nele subsistem todas as coisas... tudo foi criado por ele e para ele... ele é a cabeça do corpo, da igreja... o mistério que esteve oculto dos séculos, e das gerações; mas agora foi manifesto aos seus santos... a quem Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mis-tério entre os gentios, que é Cristo em vós, a esperança da glória”. Que podemos acrescentar a textos tão profun-dos como estes? Somente pela intensa meditação neles e pelo maior e melhor espírito de oração que tenhamos é que poderemos penetrar um pouco nas verdades mag-níficas que o apóstolo escreve para nós nesta carta.

4.3 - Cristo é o cabeça da igreja, é o alvo de toda a busca pela perfeição, é o mistério de Deus: Impressio-nante como o apóstolo consegue consolidar em frases soltas, verdades tão sublimes sobre a pessoa e a razão de ser do Senhor Jesus: “... porque nele habita corporalmen-te toda a plenitude da divindade... tendo sido sepultados com ele no batismo... quando estáveis mortos nos vossos delitos... vos vivificou juntamente com ele, perdoando-nos todos os delitos... Se, pois, fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está... Pensai nas coisas que são de cima e não nas que são da terra.” Observem que praticamente todos os textos do apóstolo são apontando para algo melhor. Os con-selhos são pró-ativos. Dinâmicamente apontam para um futuro mais positivo e santo para a vida do crente.

4.4 - Cristo é o vencedor de todo o mal e com seu exemplo regulamenta a vida cristã para nós: No en-tanto, percebe-se em todo o texto que existe um ide-al paulino, estribado em Cristo, para a vida do crente. Este ideal é o do crescimento espiritual que a nova cria-tura deve buscar desde que se converteu. A ênfase do apóstolo é neste sentido. O ser humano pode crescer em vários aspectos do seu viver, moral, material, físico, traçando para isto caminhos próprios e alvos ou obje-tivos seguros. Este é o processo de crescimento em que podemos atuar, como seres humanos com o nosso ra-ciocínio e a nossa lógica: - no crescimento físico temos que nos ajustar àquilo que a nossa genética e natureza nos impõe; - no crescimento intelectual e moral, nós podemos agir de forma a obter um melhor resultado amanhã, estudando e lendo, ouvindo conferências e preleções. Isto é o que humanamente podemos fazer em prol de um crescimento humano que contribua para uma melhor vivência cristã. Daí, os conselhos tão comuns e simples como que regulamentando uma nova forma de viver para o crente: “... exterminai as vossas inclinações carnais... a impureza, a ira... não mintais... não pronuncieis palavras torpes.”

Mas, Paulo, nesta carta, vai escrever sobre a neces-sidade do crescimento espiritual, aquele que não pode ser alcançado isoladamente. Somente contando com a participação do Santo Espírito de Deus neste processo é que poderemos galgar posições melhores em nosso viver cristão. Os crentes em Colossos vão receber do

Epístola aos Colossenses

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apóstolo um manual para “aprender a crescer”. Vamos conhecê-lo, para também fazer uso dele em nosso viver, no item seguinte.

V - Sua contextualização

Vamos dividir este manual também em quatro partes:

5.1 - Crescendo no conhecimento intelectual e es-piritual: A primeira motivação que deve levar o crente a buscar o crescimento de sua vida cristã, é a do reconhe-cimento de que precisa crescer nela tanto intelectual e moral, como espiritualmente também. Muitos pastores, educadores e líderes cristãos, exigem muito de seus dis-cípulos no que diz respeito ao crescimento intelectual e moral, dando-lhes os melhores conselhos, sugerindo determinadas matérias, indicando livros, recursos de in-formática etc. Isto é bonito e bastante válido, mas não é tudo. Lembremo-nos de que, Jesus Cristo, segundo Lucas 2.52, “crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens”. Este é o crescimento total e

abrangente que o Senhor deseja de todos nós. Paulo vai--nos ensinar isto quando escreve: “que sejais cheios do ple-no conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e en-tendimento espiritual”. O apóstolo não separa uma coisa da outra. O crescimento mental (sabedoria, que envolve o crescimento intelectual e moral) deve ser acompanha-do também do crescimento espiritual. Nós não podemos nos dedicar àqueles e esquecer deste. Ao tempo que nos debruçamos sobre os livros para mais conhecer e saber, devemos também nos debruçar sobre a Bíblia para dela aprender a crescer espiritualmente.

5.2 – Crescendo no conhecimento de Deus: Paulo destaca então a conseqüência natural deste aprendiza-do espiritual. Aquele que se dedica ao conhecimento da Palavra de Deus, da história dos grandes personagens bíblicos, dos temas de destaque da Bíblia, acaba natu-ralmente “agradando ao Senhor em tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus”. É natural que isto aconteça. Na medida em que vivamos uma vida que agrade ao Senhor (pela obediência a ele,

Ilustração de Paulo em pleno exercício ministerial testemunhando perante

Festo. Apesar de todas as lutas, sofrimentos e prisões, o apóstolo testemunhava com coragem, fé e

alegria (Gustave Doré)

Comentários sobre o Tema do Trimestre (IV)

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pela leitura da Bíblia, pela oração), frutificaremos em nosso viver. Os frutos da vida cristã e do testemunho começarão a surgir aqui e ali, e em conseqüência disto, estaremos crescendo no conhecimento de Deus. Este é o maior nível de conhecimento que podemos alcançar na vida cristã de qualquer um de nós: - Saber quem é Deus em nossa vida, o lugar que ele ocupa em nosso viver, o que ele pode fazer por nós, e, especialmente, o que nós devemos fazer em honra e serviço a ele.

5.3 – Crescendo no conhecimento da salvação: Uma das coisas mais comuns em nosso viver é a acomo-dação às situações que nos cercam, principalmente se boas são, e passarmos a não valorizá-las devidamente. De tal maneira nos acostumamos à amizade e carinho dos amigos e parentes, achando tão natural a atenção deles, que nos esquecemos de abraçá-los e dizer-lhes que somos gratos pelo companheirismo deles. E isto se aplica a diversos outros aspectos de nossa vida. Paulo sabia que isto podia acontecer com respeito à salvação. Ela é algo tão especial para nós, principalmente quan-do acabamos de nos converter, mas, depois de algum tempo, acostumamo-nos a saber-nos salvos e passamos a não dar mais o devido valor ao seu significado eterno para nós. Paulo vai ensinar que, se quisermos crescer em nossa vida cristã, precisamos conhecer mais e mais do sentido e significado dela para nós. Foi isto que ensi-nou aos colossenses quando disse: “dando graças ao Pai que vos fez idôneos para participar da herança dos santos na luz”. O que ele nos está recomendando é que deve-mos viver com alegria a vida cristã evidenciando para o mundo a salvação que temos, pois, o Senhor Deus nos fez dignos para ela, por meio da morte de seu Filho. Esta herança que começa aqui vai se projetar na sua vida eterna “na luz”. Que o mundo veja em cada um de nós a graça que alcançamos com a salvação em Cristo.

5.4 – Crescendo no conhecimento integral: Como crentes somos chamados ao crescimento. Crescimento físico. Crescimento mental (envolvendo o moral e o intelectual). Crescimento espiritual. Nossos pastores esperam isto de nós. Nossos amigos e parentes idem. O Senhor Deus muito mais. Que nas áreas da vida em que podemos agir (estudo, leitura, meditação) possibilitan-do este crescimento, possamos prosseguir aprendendo a crescer: - Crescendo no conhecimento moral! - Cres-

cendo no conhecimento intelectual! - Crescendo no conhecimento espiritual! Mas, sobretudo, que apren-damos mais e mais a crescer no conhecimento de Deus e de sua vontade para a minha vida e para a sua vida.

Conclusão

A carta aos Colossenses não tem como objetivo principal, como verificamos em várias das outras escri-tas por Paulo, rebater a presença do legalismo judaico. Depreende-se daí, que embora pudesse ter a sua co-lônia de judeus, a igreja em Colossos deveria ter uma minoria deles como membros. Pelo que podemos de-preender da carta, a razão principal da argumentação de Paulo em seu conteúdo é contra o gnosticismo, que talvez, por informação de Epafras que chegara a Roma, tenha se introduzido na igreja. A ênfase que Paulo dá à pessoa de Cristo, a teologia cristã que dela vai se ex-trair é exatamente a resposta do apóstolo aos gnósticos que não viam Cristo como a encarnação divina, o Fi-lho de Deus enviado para a salvação do mundo. Para eles, Cristo era apenas uma emanação divina, um dos mediadores e salvadores, um pequeno deus, dotado de alguma missão terrena. Devemos dar graças a Deus por tal situação, pois foi por meio dela que o Senhor nos brindou com um texto tão poderoso e inspirativo como este da carta aos colossenses. Que saibamos retirar dele todo o tesouro espiritual que contém.

“ O que ele nos está recomendando é que devemos viver com alegria a vida cristã evidenciando para o mundo a salvação que temos, pois, o Senhor Deus nos fez dignos para ela, por meio da morte de seu Filho. Esta herança que começa aqui vai se projetar na sua vida eterna “na luz”. Que o mundo veja em cada um de nós a graça que alcançamos com a salvação em Cristo”

Epístola aos Colossenses

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Viagem a IsraelTerras bíblicas, onde o passado convive com o presente

Para quem lê a Bíblia, andar pelo palco onde a histó-ria se desenvolveu é fazer uma viagem cujo valor ultra-passa o seu valor turístico. Com este sentimento, junto com um grupo, decidi percorrer alguns cenários no Egi-to, na Jordânia e em Israel.

Eu tinha algumas expectativas: orar no jardim do Getsêmani e perceber as distâncias dos eventos bíbli-cos. A primeira era uma expectativa de natureza espiri-tual e a segunda tinha a ver com conhecimento.

Começamos, levados pela Hometour, uma sólida empresa do ramo, sediada em São Paulo, pelo Egito.

NA CIDADE DAS PIRÂMIDES

Cairo é uma cidade imensa, com um trânsito ditado pela inexistência de semáforos. Já era noite quando che-

gamos, com uma tranquila passagem pela alfândega. No hotel, nossas malas passaram pelo detetor de metais. No Pentateuco, o nome do rio Nilo não aparece, mas está pre-sente. Não é preciso seu nome. Ele é majestoso e único. De dia e de noite. O Cairo se curva diante dele. O país inteiro, todo ele um verdadeiro sitio arqueológico, se curva diante do rio. Os egípcios dizem que devem tudo ao Nilo. Como praticamente não chove, é dele que vem a vida.

Cairo é uma cidade moderna, construída no século 10, cheia de cores e contradições. As músicas chamam para as re-zas a partir dos milhares de minaretes espalhados pela cidade, como torres de vigia. O que mais impressiona é que as pirâmi-des parecem muito próximas, visíveis de vários pontos.

Não parecem próximas; estão mesmo, como os aero-portos brasileiros, um dia construídos longe das aglome-rações humanas.

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Fomos vê-las, então.

Quéops, Quéfren e Miquerinos, aqueles nomes que aprendemos desde a infância, são mesmo imponentes, sobretudo pelo tamanho e pela antiguidade, levanta-das seis séculos antes de Abraão ou 26 séculos antes de Cristo.

Certamente todos as conhecemos pelas fotos, mas, de perto, são ainda mais extraordinárias. Na entrada da sua esplanada, em colina elevada sobre a cidade do Cai-ro, está a grande esfinge de Gizé, como um leão a vigiar as sepulturas do reis do Egito.

Fomos também a outro sítio arqueológico. Menfis. São muitas as inscrições, daquelas que Champolion decifrou, e enormes as estátuas. Algumas delas o faraó está com o pé esquerdo à frente, para indicar que estava vivo quando foi representado. Há também estátuas ina-cabadas, indicando que ali era uma área de fabricação de tumbas.

Antes de deixar o Cairo, conhecemos uma área cop-ta (o nome da igreja católica ortodoxa no país: copta é o nome da antiga língua dos egípcios). Os cristãos mantêm um templo muito antigo e alguns deles mo-ram neste pequeno bairro. Eles afirmam que Marcos fundou a igreja no país no ano 61.

Um momento deslumbrante é o passeio (esta tem que ser a palavra, diante do número colossal de peças expostas) pelo museu do Cairo, com suas inscrições, estátuas e sarcófagos. Também aqui as fotos são pálidas representações diante de tanta beleza e riqueza, porque não captam os detalhes das peças nem as emoções de quem as vê, mesmo a passos largos, porque há muita coisa para ver.

Visitamos também uma loja que mostra como é a fabricação do papiro, a partir da planta do mesmo nome, tirada das margens do Nilo. Depois de ver mais uma vez a praça Tahir, palco da revolta egípcia moder-na, seguimos para a península do Sinai.

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RUMO AO SINAI

Nosso caminho se deu no mesmo sentido dos antigos hebreus, pelo deserto, que começa nas cercanias do Cairo.

Seguindo para o leste, passamos pelo mar Vermelho, sem o ver, primeiro por que está militarizado, dada a sua posição estratégica e, segundo, porque a travessia se dá por um túnel sob o canal de Suez, que não existia ao tempo de Moisés. Depois de atravessar o mar Vermelho, seguimos por uma rodovia às suas margens, rumo ao sul. Paramos rapidamente num acampamento beduíno, em Mara (Êxodo 15.23 e Números 33.9), e passamos, já de noite, por Elim (Êxodo 15.28 e 16.1; Números 33.9-10), onde ainda há palmeiras. Então, chegamos ao coração do Sinai. Já era noite. Rogério Enachev, o coordenador geral da viagem, ofereceu uma passeio pelo pico da revelação, o lugar onde se acredita que Moisés tenha recebido as tábuas da lei. A caminhada seria longa, de meia noite às sete da manhã, pelo que ninguém se arriscou, pelo cansa-ço e pela temperatura, embora todos desejassem.

Quando acordamos, pudemos ver, ainda durante o café, as montanhas do Sinai. São muitas e nunca sa-beremos com certeza absoluta onde Moisés se encon-

trou com o grande Eu sou-o-que-sou. As montanhas impressionam, menos por sua altura, e mais por suas cores avermelhadas em meio ao deserto. No inverno praticamente não ha vegetação. Em torno das poucas existente, ergue-se um mosteiro.

Em todos os lugares bíblicos, há uma igreja ou um mosteiro. Nossa guia em Israel, Ziva, nos ajudou a ser menos duros com o passado. Se não fossem estas edifi-cações, feitas a mando de Helena, a mãe do imperador Constantino, no século 4, muitos destes sítios seriam completamente ignorados.

No mosteiro (de santa Catarina) do Sinal, há um ar-busto, chamado ainda de sarça, o que indica um pouco da experiência de Moisés. Não fossem tantos os destinos, ali seria um lugar para oração e meditação. A emoção é forte quando lemos os textos bíblicos associados ao lu-gar. Fizemos isto sempre quando estivemos em Israel.

Ainda estávamos no Egito e precisávamos rumar para o sul do Sinai. Ainda paramos às margens do mar Vermelho, para uma caminhada pela praia, antes de atravessar em Taba (a 500 quilômetros do Cairo) a fronteira para Israel.

VIAGEM A ISRAEL

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NOS DOMÍNIOS DOS EDOMITAS E MOAbITAS

A primeira cidade israelense é Eilat ou Elate (Deu-teronômio 2.8, 2Reis 14.22, 2Reis 16.6), por onde passaram os hebreus, no extremo norte do mar Ver-melho, no golfo de Ácaba. Eilat é uma cidade total-mente moderna, com muitos centros comerciais e lo-jas de gripes internacionais. Nada nela lembra tempos antigos.

Entramos na Jordânia, passando pelos primevos domínios dos edomitas, dos moabitas e dos amonitas. Voltamos ao deserto, com a estrada cortando as mon-tanhas, habitadas pelos beduínos em suas tendas, algu-mas com carros à porta, em meio ao rebanho que busca água e pasto.

Na antiga terra dos edomitas, conhecemos Petra, construída nas rochas pelos nabateus, a partir do século 6 antes de Cristo. Segundo a emissora BBC, de Lon-dres, Petra, descoberta em 1812, é um dos 40 lugares que todos devemos ver antes de morrer. Já vi. De fato, o

lugar é deslumbrante. As fotos também não dão conta da beleza construída por mãos humanas.

Dali seguimos pela terra igualmente desértica e montanhosa dos moabitas e dos amonitas. Entre as montanhas, está o monte Hor, no cimo do qual se vê o que os jordanianos dizem ser o sepulcro de Arão, locali-zado, segundo os egípcios, na península do Sinai.

Disputas à parte, chegamos a Amã (2Samuel 11.1), habitada por várias civilizações. Há uma antiquíssima cidadela, de onde se vê as sete colinas sobre as quais se ergue a capital da Jordânia.

Então, preparamo-nos para voltar a Israel.

Antes de entrar, pudemos ver Israel, tal como Moi-sés, com a diferença que ele não atravessou o Jordão. Subimos o monte Nebo (Deuteronômio 34.1). Não há como resistir às làgrimas. Se o tempo estiver claro (e não foi o caso, nesse dia), do alto é possível ver a terra de Israel, do mar Morto ao mar da Galileia. Jericó está quase em frente, um pouco ao norte.

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Então começamos a descer. Paramos às margens do rio Jordão, em Al-Maghtas (imersão, em árabe). Israel e Jordânia disputam de que lado foi o local do batismo de Jesus, que, segundo o Novo Testamento, foi do outro lado do rio ( João 1.28), isto é, na hoje Jordânia. Os dois lados têm lugar para batismos. Israel tem a margem oposta da fronteira com a Jordânia e tem um lugar mais ao alto, apresentado no passado como o lugar mais pro-vável. Há, no entanto, escavações no lado jordaniano, que tornam plausível estar em Al-Maghtas o lugar do batismo de Jesus.

O MAPA DOS INÍCIOS DE JESUS

Rumamos para o norte, atravessando o rio Jordão (por uma ponte) e entrando de novo em Israel. Chega-mos a Tiberíades, na Galileia, onde Jesus desenvolveu grande parte do seu ministério.

Hospedamo-nos às margens do lago (ou mar) de Tiberíades (ou Genezaré ou Kinereth), com seus 12 quilômetros de largura por 24 de comprimento. Para um cristão, é forte a emoção de subir o pequeno mon-te das Beatitudes (Mateus 5 a 7), onde, conforme se atribui, Jesus proferiu seu mais poderoso sermão. Ima-ginar as multidões correndo pelas planícies perto do

mar para ouvir um novo mestre vale por toda a viagem. Tomar um barco e navegar pelo lago em que Jesus cha-mou (Mateus 4.18) e ensinou os seus discípulos a pes-car homens também vale pela viagem. Cantar, com um grupo, músicas cristãs na praia não é para esquecer. Ver um barco do primeiro século resgatado do lago e res-taurado permite uma visão inapagável de uma época. Almoçar peixe num kitbutz à beira do lago nos trans-porta para o Novo Testamento.

Olhando do Monte das Beatitudes vemos o lago a alguns metros e, mais adiante, as colinas de Golã (Deu-teronômio 4.43). Olhando para o lado oposto, vemos um vale em direção a Nazaré, e então imaginamos Jesus caminhando da cidade onde morava (Lucas 2.23) até Cafanaum (Kefar Nahum -- aldeia de Naum), onde fi-xou residência à beira-mar (Mateus 4.13). A sinagoga onde pregou e a casa de Pedro onde provavelmente re-sidiu nos legaram ruínas (apenas ruínas), recentemente escavadas e ainda sendo pesquisadas. Permitem uma bela visão da vida ao tempo do Messias.

Nazaré, a pouco mais de 40 quilômetros de Cafar-naum, ainda existe, amplamente árabe, embora sob do-mínio israelense. Sob uma igreja, há as ruínas do que se supõe ser a casa de Maria, José e seus filhos.

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NA TERRA DE ELIAS

Estamos prontos para, como Jesus, ir para Jerusalém, mas antes precisamos voltar ao Antigo Testamento. De Nazaré vamos, passando pelo vale de Jizreel (∆uízes 6.33), em direção ao mar Mediterrâneo ou mar Gran-de (Números 34.6), para Haifa (a 40 quilômetros de Nazaré e 140 de Damasco, na Síria), construída sobre as encostas do monte Carmelo (1Reis 18.19). Foi neste monte, de 500 metros de atitude, que Elias desafiou e derrotou os profetas de Baal.

Na subida para o monte, podemos contemplar (esta é a palavra, tal a sua beleza) o imponente templo Baha’i (religião monoteísta surgida na Pérsia no século 19 da era cristã), emulando, em cores brancas, os jardins sus-pensos da Babilønia,. Do alto onte se vê o importante porto de Haifa no mar Mediterrâneo, em cujas mar-gens continuará a nossa viagem.

A próxima parada é em Cesareia Maritima, 40 km para o sul. O Império Romano está vivo ali, com suas construções quase intatas, como o hipódromo e o an-

fiteatro, com sua acústica perfeita, como atestamos ao ouvir o coro evangélico de turistas coreanos. Fiquei com a impressão que logo o mar cobrirá o hipódromo, uma vez que já está submerso o porto de onde Paulo partiu para suas viagens missionárias.

O MURO ILUMINADO

Nosso destino agora é Jerusalém.

Já estava escuro, quando adentramos à cidade, mas a noite não foi desperdiçada. Ainda houve tempo para visitar o iluminado (24 horas por dia) Muro das Lamen-tações. A edificação não é mais do tempo de Jesus, uma vez que os conquistadores (romanos, muçulmanos, oto-manos, cruzados, europeus) foram deixando suas marcas de destruição e reconstrução, mas as bases são do segun-do templo. O tráfego de turistas internacionais e de isra-elenses é intenso. Da larga praça, as mulheres entram a direita e se postam diante das enormes pedras para suas preces. Do lado esquerdo entram os homens, cabeças obrigatoriamente cobertas, por bonés ou chapéus ou quipás (distribuídos gratuitamente à entrada).

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Nas frestas, colocam-se orações. Para sair, os isra-elenses ortodoxos, vestidos de negro do alto a baixo, saem de costas. Em reverência.

Jerusalém é inesgotável, conquanto pequena (cerca de 120 km2). São necessários vários dias para conhecê--la um pouquinho.

AQUI NASCEU JESUS

Podemos intercalar este conhecimento, com uma visita a Belém, passaporte a mão, porque a cidade, ad-ministrada por um prefeito católico, está sob o governo da Autoridade Palestina.

A primeira parada é no campo dos pastores (Lucas 2.8-14), onde há um gruta usada por pastores de ove-lhas e que pode ser onde, no ano 6 antes de Cristo, al-guns deles receberam a notícia do nascimento do Mes-sias. A igreja da Natividade, sob as quais há grutas que a tradição afirma ser onde Deus se tornou Emanuel, fica perto, mais ao alto. Muito antiga (reconstruída no século 6) a igreja é setorizada entre as igrejas católicas

de diferentes denominações, que, às vezes, vergonho-samente brigam (com vassouradas) para preservar seus espaços.

Ainda será necessária mais pesquisa para se enten-der a narrativa sobre o nascimento de Jesus (Lucas 2.1-7), que deve ter ocorrido no andar térreo de uma casa de dois andares, já que não havia lugar para ele no se-gundo (kataluma). Poderia haver uma gruta ao fundo deste pavimento térreo, mas: não havia casas propria-mente em Belém?

Enquanto a arqueologia prepara as respostas, pre-cisamos deixar Belém, que depende totalmente do tu-rismo, rumo a cidade de Herodes (Mateus 2.3-18) o Jerusalém, a 9 km, e visível do campo dos pastores.

O MAR SALGADO

De Jerusalém, ponto de chegada e partida nesses dias, facilmente alcançamos o mar Morto. Seguindo pelo deserto da Judeia, chegamos ao extremo sul do mar, também chamado de Salgado (Números 34.3). À

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esquerda, o mar. À direita, as montanhas, em que subi-ríamos mais tarde. Chegamos à praia. Em suas águas, apesar do leito lodoso e negro, pode-se boiar, sem que se saiba nadar. Para mim, a memória foi profunda. Quando eu era menino, vi num livro do meu pai (“E a Bíblia tinha razão”, de George Keller) a foto de uma pessoa boiando no mar Morto. Nunca esqueci aquela imagem e agora eu estava ali, naquelas águas salgadíssi-mas, a 450 metros abaixo do nível do mar, o lugar mais baixo do planeta. Como esquecer?

Na volta, subimos grutas. De En-Gedi (1Samuel 23.29), vimos só a placa. A Masada e a Qumran, fomos, subindo e descendo.

Há ruínas bem preservadas em Masada, fortale-za bem elevada sobre o nível do mar e construída por Herodes o Grande, entre 37 a 31 a.C., como residência de veraneio e localizado a 100 km de Jerusalém. Ali al-guns judeus resistiram ao império romano por um bom tempo até o ano 73. Masada se tornou um símbolo da resistência do Israel moderno.

Vale a pena também a visita a Qumran, no meio do caminho entre Masada e Jerusalém. Em suas grutas, em 1947, foram encontrados pergaminhos do Antigo Testamento (como a profecia de Isaías) em excelente estado de conservação, guardados pelos essênios. Se-gundo os historiadores, esses ascetas viveram por 200 anos sobretudo nessas cavernas, até serem desalojados no ano 68 d.C. Havia essênios em Jerusalém, como o demonstra uma porta com o nome deles.

EM JERUSALÉM A HISTÓRIA VIVE

Em Jerusalém passamos a maior parte do tempo.

Assim mesmo, é preciso escolher, entre os postais da cidade, qual visitar. Escolhi alguns dos que pisamos.

A visita ao MERCADO ÁRABE, num setor total-mente ocupado por esta etnia, mostra a diversidade de Jerusalém, bem como a complexidade da questão geo-política entre israelenses e palestinos. (Para vender, os mercadores falam qualquer língua, até a portuguesa...)

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Na ESPLANADA DAS MESQUITAS, onde não se pode entrar com Bíblias, está o imponente e dourado Domo da Rocha, construído onde outrora foi o templo de Jerusalém. Há outras mesquistas ali, em que só os muçulmanos, descalços, podem entrar.

Uma das áreas mais escavadas é chamada CIDA-DE DE DAVI, uma fortaleza que o grande rei de Isra-el conquistou dos jebuseus (2Samuel 5.6). Na mesma área fica o túnel das ÁGUAS DO GIOM, canalizadas por iniciativa do rei Ezequias (2Crônicas 33.14), numa notável obra de engenharia. Ainda ouço o som destas águas, como que vindo das entranhas da terra.

Jerusalém é dividida pelo VALE DO CEDROM ( João 18.1), com a cidade ficando em altas colinas, uma de frente para a outra. É do Monte das Oliveiras, do lado de fora dos muros, que se tem a melhor vista da ve-lha Jerusalém, inclusive a Porta Dourada, fechada com tijolos e que, segundo crêem os judeus, o Messias abrirá e entrará quando vier. Nas escarpas, morro abaixo, es-tão os cemitérios, localizados perto da porta por onde o

Messias entrará, subindo do vale do Cedrom, para que ressuscitem primeiro quando o Messias chegar. (De mi-nha parte, queria entender as rotas de Jesus ao entrar em Jerusalém; ficou tudo muito claro para mim. Não parei de olhar o vale do Cedrom, lá em baixo)

Também do Monte das Oliveiras (Mateus 26.30), po-de-se imaginar, a partir das tradições e das ruínas, as residên-cias de Anás/Caifás, Pilatos e Herodes (Fortaleza Antônia), bem como o lugar da Última Ceia de Jesus (Lucas 22.11).

OS PORÕES DA MORTE

Como sabemos, os últimos momentos de Jesus fo-ram vividos fora dos muros de Jerusalém, entre o Jar-dim das Oliveiras e o jardim do túmulo.

No Monte das Oliveiras, está o Jardim do Getsêma-ni, onde a história da crucificação se definiu. Em lugar de fugir, uma decisão fácil de se realizar, dada a topo-grafia do jardim, Jesus se ajoelhou, sozinho, para orar. O Pai decidiu que deveria tomar o cálice. Ele obedeceu.

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O jardim do Getsêmani (e jardim era, naquela tem-po, o que chamaríamos hoje de pomar, com árvores frutíferas, como oliveiras e vinhedos) é hoje uma área de oliveiras seculares. Segundo algumas datacões, há oliveiras de mais um milênio ali. Obviamente não se pode ter certeza que a área hoje cercada, para que os dois milhões de visitantes anuais não o destruam, foi o jardim onde Jesus transpirou sangue. No entanto, o ambiente se assemelha muito ao que o Novo Testamen-to descreve (Mateus 26.36).

Diante do cenário, além das fotos de praxe, afastei--me um pouco e me transportei para o sofrimento de Jesus, ajoelhado sob alguma daquelas oliveiras. Senti um pouco de sua dor, em meu lugar. Agradeci e voltei ao século 21, que o grupo já se afastava.

Dali fomos para o lugar da crucificação, agora con-duzidos por um guia evangélico. Olhamos para uma elevação adiante, de pedras amareladas. Esta colina é chamada de Gólgota, Caveira, em aramaico e hebraico ( João 19.17). Hoje exige imaginacao para ver a figura

de uma caveira, em função do desgaste natural, mas é bem possível que a execução tenha sido ali no seu alto ou, como sugere o guia local, na sua parte baixa, perto de onde hoje um estacionamento de ônibus. (Não se as-suste: em Jerusalém, o passado e o presente convivem; assim, por ruas milenares trafegam carros velozes...)

A poucos metros dali está o jardim do túmulo. Há outro lugar que disputa ser o lugar do sepultamento de Jesus. Que-relas arqueológicas a parte, o túmulo que visitamos (não fo-mos à chamada Igreja do Santo Sepulcro) reúne elementos que o aproximam do primeiro século, dando-nos, se não foi ali, uma boa idéia de onde Jesus pode ter sido sepulta-do. Todo do pedra, sua entrada é pequena. No interior, à esquerda há uma câmara para a preparação e lamentação do corpo e, à direita, duas cámaras para dois corpos. O túmu-lo é fechável por uma pedra rolante, mas não há nenhum exemplar dela por perto. Do lado de fora, a poucos metros, há um jardim calmo, com um lagar, para a prensa das uvas com os pés. É uma boa imagem para a Ceia do Senhor (tris-teza, pela morte, alegria, pela vida da ressurreição). Por isto, ali mesmo no jardim celebramos a Ceia do Senhor.

ISRAEL bELO DE AZEVEDO

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DIGO QUE VALEU

A pergunta inevitável é:

Que lições tirou da viagem?

Posso agora dizer que, para um professor de Bíblia, a viagem vale por um curso, sobretudo porque o mapa deixa de ser distante para ser vivo, ao ganhar alto rele-vo. A topografia e as distâncias das terras em que pisei fazem parte agora da minha própria vida. (Agora sei onde fica a terra de Seir. Agora sei o quanto Moisés teve que escalar para falar com o Senhor Deus. Ago-ra sei onde Elias pelejou. Agora sei como era o templo de Jerusalém. Agora sei que Belém é encostada em Je-rusalém. Agora sei onde ficam os tanques de Betesda e Siloé. Agora sei de onde Paulo saiu para perseguir a Cristo e depois para anunciá-lo. Agora sei como o rio Jordão importante. Agora sei onde fica Qumran. Ago-ra posso imaginar melhor a história que todos dias leio. Por isto, se e quando se Deus me permitir, voltarei para saber ainda mais.)

Como a fé é também imaginativa, pude reviver as histórias que ouvi, li e conto. Muito do que imaginava

apenas não preciso imaginar mais. Apresento, então, meus lugares favoritos nas terras bíblicas, excluídos os admiráveis monumentos não bíblicos das pirâmides de Gizé e de Petra.

Chorei no MONTE NEBO. Senti como Moisés que não entrou na terra que lhe fora prometida e não questionou. Sempre interpretei que Deus o preservara das outras lutas que enfrentaria. Agora este sentimento está mais vivo, mesmo que especulativo.

Chorei no MONTE DAS BEATITUDES. Vi as multidões de pessoas pobres, umas cantando “hosanas” pela novidade e outras claudicando sobre suas enfermi-dades, chegando para ouvir o Messias.

Chorei no JARDIM DO GETSÊMANI. Olhei pelo chão do quadrado cercado, cheio de oliveiras, em busca do sangue que saiu dos poros do filho de Maria. Fechei os olhos e vi, pela fé que imagina e se transporta e sente, bolhas de sangue pisado e misturado com o pó do tempo, que não apaga o sacrifício, único e de uma vez por todas, feito por Jesus por mim na cruz.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

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