Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Director editorial...

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Literatas Director editorial: Eduardo Quive * Maputo * 18 de Outubro de 2011 * Ano 01 * Nº 14 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona Literatas agora é no SAPO literatas.blogs.sapo.mz Encontre-nos no facebook Literatas Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigo Sai às Terças-feiras Pág. 6 POETA DA VERDADE MIA COUTO PREMIADO

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LiteratasDirector editorial: Eduardo Quive * Maputo * 18 de Outubro de 2011 * Ano 01 * Nº 14 * E-Mail: [email protected] Revista de Literatura Moçambicana e Lusófona

Literatas agora é no SAPO

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Literatas

Não conhecemos o preço da palavra. Envie esta revista a um amigoSa

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Mia Couto recebe prémio Eduardo Lourenço

Maputo capital da poesia em Novembro

2 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

Em primEiraTerça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 2

FOTO: WEb

O escritor moçambicano, Mia Couto foi distinguido com o Prémio Eduardo Lourenço, atribuído pelo Centro de Estudos Ibéricos. Os galardões são dados todos os anos a personalidades ou instituições cuja intervenção no âmbito da cooperação e da cultura ibérica seja relevante.

Esta foi a primeira vez que o prémio saiu da Ibéria “indo até ao Índico”, já que o escritor é moçambi-cano. Quem o disse foi João Gabriel Silva, reitor da Universidade de Coimbra, membro do júri que elegeu Mia Couto.

O escritor e também biólogo moçambicano foi distinguido graças à sua obra que o torna numa “referência cultural do espaço lusófono, num inter-locutor privilegiado e potenciador do diálogo plural e aberto que importa aprofundar com o mundo ibero-americano”, refere o comunicado do CEI.

As obras de Mia Couto encontram-se publicadas em cerca de 22 países, dos quais oito são países de língua portuguesa e latino-americanos (Portugal, Brasil. Angola, Moçambique, Espanha, Argentina, Chile e México).

Desta forma, Mia Couto torna-se o “principal mensageiro africano da lusofonia nos espaços de expressão ibérica, funcionando a sua obra literária como importante estímulo ao diálogo, uma ponte aberta à cooperação cultural entre África, Europa e América Latina”, continua o comunicado.

O Prémio Eduardo Lourenço é uma homenagem ao mentor e diretor honorífico do CEI, o ensaísta Edu-ardo Lourenço. Atribuído há cinco anos, já nomeou a Pianista Maria João Pires, o Poeta espanhol Ángel Campos Pám e Maria Helena da Rocha Pereira, Cat-

edrática jubilada da Universidade de Coimbra na área da Cultura Greco-Latina, entre outros.

O Prémio será formalmente entregue a Mia Couto no dia 26 de novembro, na Guarda, por ocasião das comemo-rações do 11º aniversário do CEI, informa a Lusa.

Mia Couto é especialmente conhe-cido pelos seus contos, mas é também

autor de romances, crónicas e

algumas obras poéticas.Além do reitor da Universidade de Coimbra, o júri que hoje decidiu a atribuição do Prémio Edu-ardo Lourenço 2011 era formado pela vice-reitora da Universidade de Salamanca (Espanha), Noémi Dominguez, pelo presidente da Câmara da Guarda, Joaquim Valente, por José Joaquim Gomes Cano-tilho e Maria de Sousa (Universidade de Coimbra), Antonio Colinas e Juan Carlos Mestre (Universidade de Salamanca), entre outros

A cidade de Maputo, capital politica e económica do país, passará, a partir de Novembro, a ser a capital da poesia. Jovens do Movimento Literário Kuphaluxa vão “invadir” o território de David Simango, com a sua autorização e vão pendurar nas árvores cerca de 300 poemas seleccionados de escritores inici-antes e consagrados de Moçambique, num projecto denominado “Poesia nas Acácias”.O evento, decorre no âmbito da celebração do segundo ano de existência, do referido movimento e dos 124 anos da cidade de Maputo. “Poesia nas Acácias” terá lugar de 10 a 12 de Novem-bro próximo e ocupará as árvores da Rua da Rádio e do Jardim Tunduro na cidade de Maputo.De acordo com os representantes do Movimento Kuphaluxa, este projecto visa, essencialmente, incutir nos jovens os hábitos de leitura, abrindo espaços alternativos para o efeito; promover novos autores

da poesia moçambicana e valorizar o legado poético nacional; dar ênfase ao papel social da literatura no que tange à intervenção dos literatos na participação para a mitigação de problemas sociais; chamar a atenção para a valorização das artes e cultura e a necessidade do envolvimento da sociedade para tal. Ainda no âmbito do mesmo evento, será realizado um show de poesia no correcto do Jardim Tunduro, no dia 12, intitulado “Revivendo o M’saho”, com recitação dos poemas em exposição pelos seus autores e convidados, além da música que se fará presente no evento. Para a realização deste evento, até ao momento, o Movimento Kuphaluxa, conta com o apoio do Conselho Municipal da Cidade de Maputo (CMCM) e do Banco Comercial e de Investimentos (BCI)

Entretanto, termina nesta semana o processo de recolha dos poemas que estarão em exposição.

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Literatura e Jornalismo em Moçambique*

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 3Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 3

Em primEira

Com “O Olho de Hertzog”, de João Paulo Borges Coelho, que é também historiador, voltámos para uma cidade de Lourenço Marques depois da Segunda guerra Mundial. A imprensa fervilhava com João Albasini no seu fato bran-co a caminhar pelas ruas da baixa da cidade, depois de escrever mais um editorial “pró -igualdade”. A imprensa era forte e os jornalistas confundiam-se com escritores (ou era o contrário?).Na história da escrita nacional, a literatura e a imprensa sempre se confundiram como um só. No XXIII Curso de Literatura em Língua Portuguesa, organizado pelo Insti-tuto Camões e pela Faculdade de Letras e Ciências Soci-ais da universidade Eduardo Mondlane, onde se discute “Literatura e jornalismo: as fronteiras (in)visíveis da es-crita”, voltou-se a olhar para esses limites.Fomos ver a apresentação de dois escritores que se con-fundem com jornalistas, Calane da Silva e Nelson Saúte, que levaram os presentes a espreitarem a história da literatura, ao mesmo tempo que visitavam, comparati-vamente, as redacções actuais. Da Silva falava da “Imp-rensa Moçambicana no Advento da Literatura Moçam-bicana”. Saúte optou por pedir emprestado a ideia de Baptista-Bastos de “jornalismo é uma disciplina superior da literatura”, e apresentou “Jornalismo: escola superior de literatura”.Calane da Silva pegou-se à história para mostrar o con-tributo da imprensa para o advento da literatura moçam-bicana. Como escrevemos antes, os precursores da litera-tura moçambicana confundem-se com jornalistas. Mas, de acordo com Calane, que não haja dúvidas: a literatura vem da imprensa.Em relação a Moçambique, não há duvidas que foi a imp-rensa que criou condições para advento de uma literatu-ra escrita em língua portuguesa. É claro que a literatura moçambicana tem como origem a nossa literatura oral, mas tem uma parte das literaturas portuguesa e outras”.A história pode ter tido o seu início em 1854 quando, acredita o autor de “Xicandarinha na Lenha do Mundo”, se montou a imprensa em Moçambique.“Havia possibilidade imensa de imprensão de livros e publicação de jornais com páginas onde as pessoas iam bebendo um bocado da cultura literária. É verdade que não eram todos os moçambicanos, eram portugueses. Mas, à medida que o tempo ia passando, mais moçam-bicanos aprenderam a ler e a escrever, de tal modo que nas duas (primeiras) décadas de século XX já tínhamos “O Brado Africano”, que era um jornal editado por negros e mestiços.”“O Brado Africano” também tinha páginas literárias e assinaram escritores como Noémia de Sousa, Rui de No-ronha e José Craveirinha.“Os meios de comunicação foram um alicerce enorme para a divulgação da literatura. O mais interessante é que se o jornalismo ofereceu grandes nomes para a lit-eratura, esta também tem muito a ver com o jornalismo. Ou seja, a literatura não só por ser cantada, narrada, dec-lamada, também tem um pouco de informação do quo-tidiano, tal como os jornais. Ela também apresenta um pouco a alma humana no sentido da sua história, da sua subjectividade e objectividade.”

No entanto, se até ao início dos anos 90 a imprensa serviu como a principal plataforma da literatura, não só emprestando autores como também dando largos espaços nos jornais, agora, segundo Calane da Silva e Nelson Saúte, ela demitiu-se.“Há muitas lacunas. Infelizmente, havia uma tradição que devíamos ter continuado, porque nada impede que o façamos. Páginas de cultura tentam colmatar, mas páginas de artes e letras foram sempre fundamentais, não só para divulgação como também para a motivação desta arte nobre”, disse Calane.Se Calane fez uma caminhada histórica desde o surgi-mento da imprensa em Moçambique, passando pelo advento da literatura até esse abandono, mostrando os grandes senhores que estiveram nos dois campos, Nelson Saúte optou por mostrar as diferentes correntes jornalísticas que se confundem com a literatura.Nelson Saúte foi buscar uma lista de jornalistas que venceram Prémio Nobel de Literatura para fazer essa ligação. Calane também tinha feito o mesmo, mas preferiu mostrar os que construíram os dois campos e a história não consegue os tirar de um ou de outro lado. Porque estamos a falar de Nobel, Saúte apelou à sua memória para reproduzir uma entrevista que surgiu no “Paris Review”.“O jornalista perguntou a um célebre escritor o seguinte: ‘Sugeria a um escritor jovem que trabalhasse num jor-nal? Que importância teve a sua formação no The Kan-sas City Star?’ Esse escritor respondeu: ‘No Star éramos obrigados a aprender a escrever uma frase declarativa simples, o que é útil para toda a gente. O trabalho de jornal não prejudica um jovem escritor e pode mes-mo ajudá-lo se ele sair de lá a tempo.’ Quem disse isso” – revela mais tarde Nelson Saúte – “chamava-se Ernest Hemingway, prémio Nobel de literatura em 1964, que elevou a narrativa mundial com técnica ligada ao jor-nalismo. A sua técnica é de frases curtas. É também um mestre no diálogo.”Alguns escritores moçambicanos, segundo Nelson Saúte, são influenciados por Ernest Miller Hemingway, “um deles que confessava nos anos 80 a importância de Hamingway, princi-palmente no diálogo, é Ungulani Ba Ka Khosa.”Ao entrar para o campo de “comparações” Saúte diz que do jornalismo se pode aprender a contar. A ideia não é nova. Muitos autores já definiram o jornalismo como uma arte de contar a história. o jornalismo ensina-nos a narrar, a contar.“O bom jornalismo é contar uma história, o resto é conversa. Enfim, quem não sabe contar uma história não pode ser jor-nalista. Literatura é justamente a mesma coisa. A divergência que pode haver entre jornalismo e a literatura é que, se cal-har, o jornalismo procura através de alguns protocolos uma certa objectividade ao contar essa história. Não é seguro que a consiga, mas persegue. E jornalismo arma-se de algumas ferramentas para poder atingir essa objectividade. A litera-tura é o reino da subjectividade. Portanto, há aí de facto uma divergência ou aparente divergência. Mas tanto jornalismo como literatura contam histórias. E o contar história é uma coisa imanente da condição humana”.No entanto, o entrar para “o reino da subjectividade” como foi definido, não retira de todo a tendência da literatura de dar

notícia. Nesse item as duas “artes” equiparam-se como diz o autor de “Os Habitantes da Memória” e acredita que uma boa literatura retrata o seu tempo.“Tanto jornalismo como literatura dão notícias. Se é um facto que o jornalismo, objectivamente noticia ou dá a conhecer o que aconteceu num dado momento, não é uma inverdade de todo que a literatura também dá notícia. José Capela dizia, há anos, que não havia melhor fonte do que a literatura para se ter notícia de uma certa época. A boa literatura é aquela que conta sobre a época que retrata e fazer isso é fazer notícia desse tempo.”Alguns géneros jornalísticos, diz o poeta, podem fazer uma inter-cessão com a literatura. Um desses géneros é a crónica, que “é pouco trabalhada hoje na nossa imprensa”. Nos finais dos anos 1980, até os princípios dos anos 1990, o jornal Notícias – conta Saúte - tinha uma série de cronistas da última página que eram os escritores mais impor-tantes, entre eles Mia Couto, de onde saiu aquele livro “Cronincando”. No mesmo jornal tinha também um espaço na terceira página, dedi-cado aos mais novos, onde ele surgiu ao lado de outros como Sulei-mane Cassamo e Hélder Muteia. “No fundo, aquilo que praticamos era metade jornalismo, metade literatura. Era um pouco na boa tradição da crónica literária,” conclui.O outro género que para Saúte se cruza com a literatura é a reporta-gem. “ O Calane (da Silva) e o Ricardo Rangel foram precursores em Moçambique de um género que é muito importante no jornalismo e que é muito importante para os escritores, que é a reportagem. A reportagem é o género dos géneros, permite a discrição, permite aná-lise, permite incluir dentro do texto um conjunto de possibilidades. As reportagens que eles faziam nos anos 1970 sobre a situação da prin-cipalmente chamada cidade de caniço, hoje seriam peças literárias, porque havia um investimento de escrita muito importante...”Nelson Saúte foi olhando para os diferentes cantos para descobrir, nos Estados Unidos dos anos 1960, o surgimento de novo jornalismo. “Novo jornalismo alicerçava-se nas técnicas da literatura com dis-crições pormenorizada de cenas, incorporando diálogos e o ponto de vista dos personagens na captação da realidade. Eram peças literárias fabulosas, mas também eram peças jornalísticas. Eram as duas coisas, justamente, porque permitiam um entendimento aprofundado da re-alidade”.No entanto, entre os anos 1950 e 1960 surgiu uma outra corrente que se confunde, de acordo com Saúte, com o novo jornalismo, que é o chamado jornalismo literário ou jornalismo de autor, ou ainda reporta-gem de ensaio. Este usa também técnicas de literatura na captação, redacção, edição de reportagem e ensaio. Para Saúte, este é um jornal-ismo que tenta obter uma minuciosa observação da realidade.“O jornalismo literário permite-nos um grande manejamento da lín-gua. Um bom jornalista literário ou que pratica um jornalismo de autor é quem domina de forma soberba a língua.” Ao espreitar para as actuais redacções, Nelson Saúte diz notar um prefeito desconhecimento da língua portuguesa, o que torna difícil a prática de jornalismo de autor.“Noto um prefeito desconhecimento da língua portuguesa. Uma incrível incompetência linguística. Quem não domina a língua, quem não sabe manejar as palavras, quem não sabe trabalhar no universo das palavras não pode praticar este tipo de jornalismo que está na fronteira entre o jornalismo e a lit-eratura. Quem não domina uma língua, quem não sonha numa língua não pode contar. Há histórias fabulosas nos nossos jor-nais que são incrivelmente mal contadas.” *Título da nossa autoria.Texto e Foto: Jornal O País

Calane da Silva e Nelson Saúte criaram essa necessidade de se voltar a contar histórias na imprensa como era antigamente.

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FICHA TÉCNICAPropriedade do Movimento Literário Kuphaluxa

Sede: Centro Cultural Brasil-Moçambique* AV. 25 de Setembro nº 1728, Maputo, Caixa Postal nº 1167 * Celulares: (+258) 82 27 17 645 e (+258) 84 57 78 117 * Fax: (+258) 21 02 05 84 * E-mail: [email protected]

Director Editorial: Eduardo Quive ([email protected])Coordenador: Amosse Mucavele ([email protected]) Editor - Canto da Poesia: Rafael Inguane ([email protected])Redacção: David Bamo, Nelson Lineu, Mauro Brito, Izidine Jaime, Japone Arijuane.Colaboradores: Maputo: Osório Chembene Júnior * Xai-Xai: Deusa D´África * Tete: Ruth Boane * Nampula: Jessemusse Cacinda * Lichinga: Mukurruza*Brasil:Balneário Camboriú - Pedro Du Bois * Santa Catarina: Samuel da Costa * Nilton Pavin * Marcelo Soriano * Portugal: Victor Eustaquio e Joana Ruas.Design e páginação: Eduardo Quive

MUNHUANA bLUES

MARRAbENTA PARA FANNY MPFUMO TESTAMENTO PARA OS MEUS FILHOS

4 BLA BLA BLA Exero 01, 5555Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 LITERATURA MOÇAMbICANA 4

NELSON SAúTELá nos arrabaldes da minha infânciaa casa da Munhuana me não resiste apenastambém guardo ciosamente na memóriaas histórias da minha avó Angelinae mantenho o medoda ameaçadora visita do Guiguissecaanunciada na varanda da loja do Muchinaenquanto os miúdos do meu bairrotodos eles craquesdesmentiam o talento do Eusébio.Ali no Bairro Indígena eu ainda souaquele rapaz de calção e sapatilhas- compradas numa daquelas lojasdos monhés do Xipamanine – correndo a toda a largura a rua do Zambezeno dia em que prometeramuma visita ao Jardim Zoológico.O baldio que ficava à frente da minha casafoi vítima de urbanização clandestinae no lugar onde as meninas se despontavampara os meus sonhos febris de vate desassumidoe vendiam badjias e matoritorisreincide-se na ofensa à memória.Naquele tempo minha avó reverberava o mitoesvoaçando as saias das moças nos bailese as calças bocas de sino dos rapazes do Chaman-culo.Foi ali que começou esta minha mania de amar o Brasilnas vozes do Carnaval da avenida de Angola.O samba da Mafalala também tinha batuquese a folia Índica desta minha Bahiamarrabentando os acordes da tua viola.Também cantei e bailei como esta noiteneste meu desavisado regresso ao Xipamaninenão só por culpa dos avatares do velho gramofonee os discos de 45 rotações mas por imposiçãoda vocação da minha avó Angelinaque jamais enfrentou um palco.Fica para contar aos meus filhos os talentosdos que nos precederam. Minha avó agora não canta.Na sua casa ex-madeira e zinco de precária alvenariaela deita-se no chãode cimento queimado e conversa com os ancestraisquase todos eles à sua espera em Ressano Garcia.Tudo isto agora e sempre nesta noite de sábadoeu filho legítimo das bangas na geração dos anos 80a dançar até amanhecer quando no dia seguintetinha folga na minha indesmentida profissãode formador de bicha nas lojas do Povoou no talho da Eduardo Mondlane que abria as portasjá com a carne do Botswana esgotada.Mesmo assim as nossas festascom cervejas à pressão e coca-colascompradas a muito custopelos nossos meticalizados bolsosincompetentes para adquirirem as montras vaziasdas cooperativas de consumo parecem ficçãoaos olhos desta juventude.Não muito longe do largo João Albasinenestes anos todos de ausência da Munhuanaexilado lá para os lados da zona alta da cidadequem regressa é aquele menino que eu fuimuito antes de conhecer o Alto-Maé dos chinasquando a Polana era só e apenasum vago e improvável aceno do futuroe a Sommerchield adjectivava a quimera.Agora meu velho João Domingos retornoà minha infância entregue ao prodígio desta noitede extenuado sábado nesta pista de dançae no espanto deste incauto duelo com os velhos mitos.

Nelson SaúteNeLsoN sAúTeesCrITor, jorNALIsTA e comentador político moçambicano nascido em 1967, na cidade de Maputo. Licenciado em Ciências da Comu-nicação pela Universidade Nova de Lisboa, foi redactor no jornal Público e no Jornal de Letras. Em Moçambique trabalhou na Rádio Moçambique e na Televisão de Moçambique - onde é comentarista político - e em algu-mas publicações. Exerce também funções de docente universitário. Como escritor, publicou várias obras, destacando-se na poesia e em antologias literárias de Moçambique.

eNTre As suas obras destacam-se A Ilha de Moçambique pela Voz dos Poetas (antologia, co-autor com António Sopa, 1992), Antologia da Nova Poesia Moçambicana (co-autor com Fátima Mendonça, 1993), A Cidade Lúbrica (poesia, 1998), Os Narradores da Sobrevivência (romance, 2000) e As Mãos dos Pretos - Anto-logia do Conto Moçambicano - 2000 (2001). Publicou também algumas colectâneas de entrevistas como A ponte do Afecto (1990) e Os Habitantes da Memória (1998).

NELSON SAúTE ao Zé Flávio Teixeira

Fanny Mpfumo cantava I love you soeu era menino e nem sabia o que era tindjombo:- ó a va sati valomo! –mas já dizia hodi nos quintais contíguosdo meu Bairro Indígena.Unga tlhupheque nkata que ouvia na rádiopor sobre o móvel da salana casa da minha avónomeava todas as mulheres que derrubavamà passagem os meus inocentes e desprevenidos anosali na varanda do Muchina.O king ya marrabenta era supostoconviver conosco todos os dias.Também ouvíamos Elisa gomara saianos tempos em que os Djambo 70 conjuravame o destino dos meus pais não era sóos míticos bailes da cidade de caniço.O mufana que eu era também gostavamaningue do Gonzana e de todo o conjunto João Domin-gosMassoriana no palato daqueles tempos.Algumas vezes ouvia o João Watee outros que a memória não acautelou.O Alexandre Langa foi mais tardeque me empolgou – Rosa Maria.Tínhamos atravessadopara lá do asfalto e alcandorados estávamosna Polana onde inaugurávamos a nossa condiçãode habitantes de fogos suspensos,alcançados mais tarde em obscuras escadasdisputadas por bidões de águaacartados do jardim Tunduro.Minha avó falava naqueles velhos anosdo Artur Garrido, conterrâneo lá de Ressano Garcia.Mais tarde vi Fanny Mpfumo no Scala- não muitos anos depois no Estrela Vermelha –marrabentando uma guitarra eléctricano frémito do seu amor por Georgina waka Nwamba.

NELSON SAúTEMayisha e Irati:

este o magro pecúlio que vos deixo

- livros, papéis, sonhos.

Poemas para as mulheres

que amei. Hinos de amor à vossa mãe.

Filhos, só vocês dois.

Depois de mim herdarão o nome

e a tarefa de perpetuar o que progenitor

encetou. Fica para trás uma vida.

Ilusões, cansaços, combates.

Infrutífero desespero de viver

num país apátrida.

Deixo-vos estes desígnios

de coisa nenhuma. Algum pecúlio

um coração, bondade e alguma fé

doméstica. Amanhã estes homens

e mulheres que se festejam

na algazarra das vozes e na luz

de artifício nada terão para vos dizer.

Oiçam então a voz do progenitor

que não sucumbe às vozes

nesta madrugada primeira

do vigésimo primeiro século.

Estas vozes digo-vos estarão

apagadas pela cinza do tempo

e do esquecimento.

Vosso pai afagar-vos-á

com a mesma ternura enquanto vivia

e levar-vos-á a passear pelas ruas da memória

com a mesma ilusão que vos alberga

nesta pequena casa que também vos deixa.

Para trás ficará um tempo

mas não ficarão os homens que destroçaram

a minha geração, meus filhos.

Não ficarão os sonhos e ilusões

nem a lembrança inconsútil da barbárie.

Espero que resista a honra deste homem

que está por detrás destes versos e que um dia

curvados sobre a sua tumba

vocês digam sem vergonha: Pai

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MARCELO SORIANO - [email protected]

Nota preliminar: Antes de prosseguir com este artigo, lembro ao leitor que me dirijo à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), portanto, podemos encontrar gerúndios, futuros do pretérito, expressões etnocêntricas, familiares a certos leitores, porém, inusitadas a outros. Oxalá, que esta peculiaridade não seja pretexto para correções, mas para integrações e enriquecimentos léxicos e culturais entre nós. Marcelo Soriano. Santa Maria - RS - BR. 14/07/2011.

[V e r - s Ó I s]Introdução

Numa noite acordei para o dia. E outro dia. Outro dia. Sol a sol, fui tecendo o manto da vida, enquanto esperava a morte, que não veio...

3º [Ver-sÓ]

AMADA MI’AAMÁLGAMAMI’AANAGrAMANA GrAMAÁGATAA GATAMIA

(CoNTINuA NA prÓxIMA eDIção...)

...........................................................................poeMA DA MANHã

O sol levanta.O dia acorda.As aves debandam.O orvalho seca.A chaleira chia.A chaminé fumega.E, ainda assim,meu olhardesfia lonjuras......................................................................................

AMIZADe e poesIA são CoIrMãs(Às memórias dos Poetas Prado Veppo, Antonio Carlos Arbo e Mário Quintana)Tenho bons amigos (continuam amigos), que escreviam como loucos. Os melhores, os mais velhos, os mais loucos, os mais luzentes, já se retiraram. E uma maneira que encontrei de eternizar suas memórias foi manter acesa a chama da amizade. Como? Ora, mantendo minha mente acordada, vigilante, escrevendo... Escrevendo... Por eles e por mim. A amizade é coirmã da poesia.....................................................................FrAse CAIxA ALTA:

FALAr DeMAIs soBre o AMor, eM poesIA, Não É ser repeTITIVo, É ser MÂNTrICo

Um mundo improvisório?

MIA COUTO - O PAíS

O que pode parecer verdade, no calor das grandes

proclamações, não é sentido como autêntico para grande parte dos destinatários dessas tão eloquentes mensagens. O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito para ser tratado com a arrogância e a falsidadeOs meus amigos dão-me palavras. E é a melhor prenda que me podem dar. Eles sabem da paixão que tenho, não exactamente pelas palavras em si mesmas, mas pela possibilidade de as reinventar ao gosto de cada um. Um dos modos mais simples de sermos felizes é termos essa relação criativa com a língua, que nos disseram ser apenas gramática e ferramenta utilitária.Algures em Maputo, amigos meus perguntaram onde podiam encontrar um quarto de banho. Um homem, solícito, mostrou-lhe uma dependência que, visivelmente, tinha sido adaptada para fins que, eufemisticamente, podemos chamar de “sanitários”. O anfitrião, simpático, julgou ter que dar uma explicação: - Desculpem, mas este é um quarto improvisório.A palavra é um achado. Sobretudo, porque é uma invenção anónima.Mais ainda porque a palavra traduz a condição de quase tudo no nosso universo quotidiano: improvisado e provisório.Talvez o mundo inteiro necessite de palavras que o nomeiem na sua condição transitória e indefinida. Porque o mundo não é um livro. Não está escrito.Está sendo feito, desfeito e refeito em cada momento. Não se constrói por linhas, uma por uma. Faz-se de movimentos, de imprevistos tais que necessitaríamos de imprevisionários para prever o futuro.Há quem insista que aprendeu a ler o mundo na Universidade ou na carreira dessa nova espécie que dá pelo nome de “analista político”.E daí resultam previsões, prognósticos de absoluta certeza. Essas antecipações sucederam, por exemplo, aquando das manifestações populares do mundo árabe. Todos os que não tinham sido capazes de prever o sucedido se apressavam, agora, a praticar o mais arrojado futurismo.Algumas dessas adivinhações sustentavam cenários prováveis para todo o continente africano. E é aqui que eu quero chegar: essa África dos discursos e das percepções é a mesma em toda a África?Os mercenários que ajudaram a proteger Kadafi criaram uma situação difícil para os africanos negros que trabalhavam na Líbia. Nas agitadas ruas eles eram perseguidos e espancados, confundidos com os tais mercenários a soldo do regime. Os populares líbios chamam estes imigrantes de “africanos”. O que significa que os líbios, de modo geral, não se consideram africanos.O que é curioso suceder exactamente na pátria daquele que reclama poder falar em nome dos “africanos”.A África do Norte, essa que uns chamam de África Branca, vê-se a si mesma como africana? Não faço nenhum juízo de valor. Talvez para milhões de pessoas do Norte do nosso continente a sua condição identitária seja outra: eles vêem-se como árabes. Essa é a sua pátria, esse é o seu universo de identificação simbólica. O que não invalida a construção de outras identidades que nos aproximem de um ideal mais continental. O que não invalida, sobretudo, a aceitação de uma África com identidade múltipla. Mas os discursos “africanistas” necessitam, sim, de se interrogarem a si mesmos e de evitaram recursos simplistas. O que pode parecer verdade, no calor das grandes proclamações, não é sentido como autêntico para grande parte dos destinatários dessas tão eloquentes mensagens.O mundo está feito para ser improvisório. Mas não está feito para ser tratado com a arrogância e a falsidade.

Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 5Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 CRÓNICA / CONTO 5

FiLosoFonias rapsódicas

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6 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

- discurso dirEcto

Tudo e mais um pouco sobre Valdeck Almeida de Jesus

Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 6

perceba. Se você relaciona minha vida com a publicação deste livro, pouca coisa mudou. Não sou uma pessoa que se expõe pelas ruas, não sou muito de participar de festas e encontros sociais ultimamente, mas na época da publicação eu estava em todos os cantos, praças, shows musicais. Recebi muitos elogios e fiquei feliz com o resultado. CADA LIVro que escrevo é como um capítulo de minha vida. Aprendo muito quando estou colocando no papel minhas experiências e falando do que vi e vivi. Sou uma pessoa que preserva a tradição, mas ao mesmo tempo eu transgrido regras, sem agredir ninguém. Muitas vezes o mais agredido sou eu mesmo. O livro foi uma forma de dizer ao mundo o que eu pensava e sentia e isso foi o bastante. No dia a dia, sou pacato, caseiro, saio pouco, a não ser para casa de amigos e encontros literários. O que mudou em minha vida foi a forma de encarar as situações, os problemas e a tentativa de encontrar soluções. Não escrevo para chocar ninguém. O que escrevo é o que penso. Se minha forma de ver a vida escandaliza alguém, o problema não está em mim e sim em quem lê e se admira com minha obra. eDuArDo QuIVe: No seu último livro, publicado em 2010, vem a falar do mesmo assunto referido no primeiro “o ser gay” desta vem sendo mais provocador em “Yes, I am gay. So, what? – Alice in Wonderland”… VALDeCk ALMeIDA: Como disse, eu sou o que sou e não o faço para escandalizar. Aliás, minha vida é muito discreta, sou uma pessoa que paga impostos, cumpre regras, para no sinal vermelho no trânsito, pago minhas contas em dia, respeito a vizinhança etc. A literatura em minha vida é uma forma de desa-bafar, de transgredir, de gritar para todos que eu sou assim, que existo. “Alice in Wonderland” é mais um capítulo de minha vida, algo que passou. Na obra tem muita coisa real, verdadeira, que aconteceu comigo, e muita ficção. Há relatos de outras pessoas que transformei em literatura, e há personagens que nunca existiu de verdade. A provocação vem justamente nos relatos de pessoas que nunca teriam coragem de se declarar e me pediram para mostrar no livro que elas existem. Outros relatos são de pessoas que vivem vida dupla, de dia são funcionários públicos, advogados, e à noite procuram os prostíbulos, buscam as drogas etc... É a literatura retratando a vida real. Minha função é como daqueles fotógrafos que viajavam pelas cidades do interior, fotografando pessoas onde não existiam esse serviço. eDuArDo QuIVe: Mas logo depois destes temas, vem um Valdeck Almeida de Jesus com outra face “Feitiço Contra o Feiti-ceiro”, mas escrevendo poesia. E como pode o feitiço virar contra o feiticeiro? A que nos direccionam os poemas nesta obra? VALDeCk ALMeIDA: Este livro também é composto de poemas da minha adolescência. Eu disse anteriormente que o livro “Heartache Poems” era composto de obras diversas. O “Feitiço

EDUARDO QUIvE - MAPUTO

valdeck Almeida de jesus, um escritor, um jornalista que também serve o estado – funcionário público. Conhecido como exaltador da verdade pelos que tem coragem de viajar pelas suas obras. Falei medo e pode-se pensar que escreve coisas assustadoras, e pode até ser verdade, mas se considerarmos que ele fala de factos verídicos do quotidiano “Heartache poems”, ”Yes, I am gay. so, what? – Alice in Wonderland” obra em que nesta entrevista o escritor chega a dizer que dentre vários assuntos, o autor faz revelações pessoais “Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele.”Por outro lado, Valdeck assusta a própria história da sua vida, contada em “Memorial do Inferno. A saga da Família Almeida no jardim do Éden” – “Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos.” pois é, estamos perante, um escritor de longas viagens da vida transmitidas em jeito de boa literatura.

eDuArDo QuIVe : Valdeck fale-nos do mistério que norteia o seu primeiro livro o “Heartache Poems. A Brazilian Gay Man Coming Out from the Closet”? trata-se de alguma revelação de alguma orientação sexual do autor? VALDeCk ALMeIDA: Bem, os poemas são feitos tanto para homens quanto para mulheres e foram criados na minha adolescência, numa fase em que muitos jovens estão em busca de respostas para muitas questões da vida. Apaixonei-me por muitas pessoas. Desde a professora ao vizinho que nunca soube de minha admiração por ele. Todas as reflexões sobre estes sentimentos foram traduzidas em poesias, as quais eu paguei para traduzir e publiquei nesta obra. “Heartache Poems” é um livro-confissão e ao mesmo tempo composto de poemas fantasias, as mesmas fantasias que povoa-vam minha mente, sobre sexualidade, posicionamentos políticos, incerteza do futuro, aspirações de trabalho etc. eDuArDo QuIVe: Como é que o livro foi recebido pela classe crítica literária, social e pelo público em geral? VALDeCk ALMeIDA: Uma obra literária sempre carrega muito do seu autor. Este tipo de literatura em que as paixões pessoais aparecem muito claras nem sempre são bem vistas, pois muita gente prefere viver no anonimato, na hipocrisia, vivendo uma coisa e dizendo que vive outra. O bom é quando um leitor se identifica com a história, tanto pode valorizar o livro quanto desqualificá-lo. Como diz Caetano Veloso, “Narciso acha feio o que não é espelho”. Nesse sentido, para quem gosta de ser exposto ou de aprender com a exposição alheia, o livro é bom; para aqueles que pref-erem viver na penumbra, viver de aparências, o livro é péssimo. A crítica falou muito bem, mas não escrevo para os críticos literários. Quando faço uma obra, penso primeiro em mim, em como eu gostaria de comprar um livro. Depois, penso nos leitores, aqueles que levarão um exemplar para casa. Estes, os leitores, me elogiaram muito, principalmente os amigos (risos). Quanto aos inimigos meus e da literatura, prefiro que eles se calem e não saibam onde estou. É mais seguro para todos... eDuArDo QuIVe: Na altura em que publica esta obra (2004) já era conhecido na esfera literária da Baia e até do Brasil. Algo mudou drasticamente na sua vida? VALDeCk ALMeIDA: Eu sempre fui uma pessoa muito trans-parente. Quando gosto de algo ou de alguém, eu demonstro facilmente. Quando simpatizo, também faço com que a pessoa

contra o Feiticeiro”, idem. O título do livro é um cordel, história fantástica criada por mim, com uma lição de moral. Este poema fala de um casal que procura ficar rico sem trabalhar e faz pacto com o Satanás para conseguir riqueza. Como nem sempre a riqueza vem sem obrigações, o cordel demonstra que enriquecer sem fazer força também tem consequências. Outros poemas deste livro são homenagens a pessoas, lugares e parte são reflexões de um jovem acerca da incerteza da vida. Esta obra está esgotada, mas é sempre muito procurada. Pretendo reeditá-la. Doei alguns exemplares para a Biblioteca Comunitária do Calabar, bairro pobre de Salvador-BA, e a criançada do bairro leu muito meus textos, inclusive teve mais leitores do que Carlos Drummond de Andrade. Fiquei muito feliz quando Rodrigo Rocha Pita, um dos coordenadores da biblioteca me deu a notícia. Fiquei tão feliz que patrocinei dois livros de poesias com crianças do bairro, cujo título é “Abre a boca Calabar”. Nestas duas obras os poetas mirins falam do bairro, da escola, da biblioteca e da vida deles numa cidade rica em cultura e em dinheiro e ao mesmo tempo tem bolsões de misérias e bairros inteiros onde as pessoas passam fome. “Abre a boca Calabar” é uma forma de denunciar isso. O bairro fica encravado entre prédios de vinte e trinta andares, perto de um shopping de luxo e próximo ao circuito do carnaval, por onde circulam milhões de dólares. No entanto, a localidade ficou abandonada desde a fundação, há mais de trinta anos.sALVADor É tida como a cidade onde tem mais negros fora da África. Se nos países africanos a fome e a desigualdade social mas-sacram muita gente, em Salvador não é diferente. Ali se encontram pessoas com renda de milhares de dólares e pessoas que vivem com míseros centavos. A desigualdade é gritante. E o “Abre a boca Calabar” denuncia, de alguma forma, essa injustiça social. eDuArDo QuIVe: Em geral, o que o leva a escrever? Sempre quis ser escritor? Que influências teve para chegar ao mundo da escrita? VALDeCk ALMeIDA: O que me leva a escrever é a necessidade de gritar, de denunciar ao mundo tudo o que vejo. Tanto mostro as coisas boas, quanto as ruins. Nasci em Jequié-BA, onde passei muita fome e comi coisa do lixo. Não tive brinquedos, não tive uma casa própria, não tive acesso a uma educação e serviço de saúde mínimos. A luta foi grande mas consegui vencer, graças à educa-ção que minha mãe me deu. Acredito que tenho compromisso com os outros cidadãos, pois não dá para se sentar à mesa para comer tranquilamente, enquanto outros irmãos passam fome. A injustiça me incomoda muito e escrever é uma forma de estimular as pessoas a pensar e a tentar mudar a realidade da vida. Na minha opinião educação é a arma principal que um cidadão tem direito. Depois de educado cada um pode escolher alternativas para modi-ficar a realidade, influenciar para o bem ou para o mal. Não é à toa que muitos governantes se “esquecem” de investir em educação

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Exero 01, 5555 BLA BLA BLA 7Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 7

de qualidade. Com um povo desinformado fica mais fácil controlar o poder e impedir que as pessoas evoluam. Meus escritos lutam contra esta tirania que mata muito mais que tiros de canhões. As INFLuêNCIAs primárias que tive para escrever foram as estórias que minha mãe me contava. Paula Almeida de Jesus era uma mulher aleijada das pernas, analfabeta e filha única. Mas apesar de não saber ler nem escrever ela tinha uma visão de mundo e uma ética muito fortes. Sempre me ensinou a respeitar o espaço dos outros, não invadir a privacidade alheia, evitar atrapalhar qualquer um. Eu me recordo que uma vez, por causa da fome, eu peguei um coco que encontrei num quintal aberto. Quando cheguei em casa ela mandou que eu voltasse e deixasse o coco no local onde encontrei. eDuArDo QuIVe: Ter a poesia como o seu género, foi por opção própria? Qual é o seu percurso nos géneros literários? VALDeCk ALMeIDA: A poesia veio com os cordéis, que são livretos vendidos

em feiras livres e expostos em cordas nas praças das cidades do interior do

Brasil. Minha mãe nasceu em Amargosa-BA, Recôncavo Baiano. Meu pai nas-

ceuem Santo Antôniode Jesus-BA, na mesma região, onde a cultura popular

é muito valorizada. Mamãe foi muito influenciada pela cultura local e passava

para mim muitas das experiências de vida dela, me contava casos e estórias

fantásticas. A poesia veio daí. Veio também de livretos de poesia que eu

comprava na escola. A linguagem cadenciada, as rimas e a forma de escrever

me encantavam. Comecei a querer escrever também do mesmo jeito e fui me

tornando poeta desde os doze anos de idade.

DepoIs FuI enveredando pelos contos, durante os anos de estudos na escola.

Somente aos quarenta e três anos de idade comecei a escrever romances.

Comecei descrevendo a história de minha família e depois disso já escrevi

quatro livros, ainda inéditos. Agora já tenho muitas crónicas e artigos, influên-

cia do curso de jornalismo que fiz.

eDuArDo QuIVe: Mas logo a seguir vem-nos com prosa em “Memorial do

Inferno. A Saga da Família Almeida no Jardim do Éden”, mas como sempre,

despertando atenção com mais uma história dramática – fome e a miséria

por mais de vinte anos na sua família. Fale-me desses vinte anos de fome

por si vividos?

VALDeCk ALMeIDA: Este romance foi escrito durante quatro anos. Eu sempre

tive vontade de registar as memórias de minha mãe, os remédios caseiros que

ela sabia. Mas nunca consegui parar para ouvi-la, escrever tudo aquilo em

papel e transformarem livro. Eume achava incapaz de fazê-lo. Um belo dia,

voltando da faculdade, no meio do trânsito, me veio à mente todo o resumo

do livro. Quando cheguei em casa fiz um rascunho de umas dez folhas e daí

em diante eu escrevia umas cinco páginas por dia. Infelizmente minha mãe

não viveu para ter o prazer de ver o livro pronto. Mas sei que onde ela estiver

está feliz com a obra.

os VINTe anos de fome me deixaram marcas profundas. Tanto em mim

quanto em meus sete irmãos. A gente comia carne podre, catava peixe no

esgoto, pegava comida estragada no lixo e dormia com fome muitas vezes.

Minha família não tinha dinheiro para comprar uma casa nem móveis. Vivía-

mos de aluguer e quase todo mês o dono da casa nos expulsava por falta de

pagamento. Era um sofrimento sem fim. Meu pai logo adoeceu e ficou maluco,

foi internado por vários anos em clínicas para loucos. Minha mãe, paralítica,

é que cuidava de tudo. A gente vivia de porta em porta pedindo um pedaço

de pão, um pouco de feijão ou arroz. Morávamos perto de pessoas também

muito pobres, que não tinham como nos ajudar. Quase sempre voltávamos

para casa sem nada e passávamos o dia com muita fome. À noite, minha mãe

nos consolava dizendo que no dia seguinte Jesus viria trazer comida. A gente

acreditava, mas no dia seguinte ninguém aparecia na porta trazendo algo

para saciar nossa fome. A revolta era grande, mas minha mãe sempre estava

ao nosso lado, nos consolando. Eram dias e noites de tristeza. Muitas vezes

eu ia trabalhar em troca de um prato de comida. E outras vezes, quando eu

chegava da escola, tarde da noite, tinha que ir dormir e sonhar com comida,

pois não havia nada para comer.

TuDo Isso eu conto neste livro que faz rir e faz chorar. Muita gente se

emociona muito com os relatos, pois são verdadeiros e carregam uma carga

muito forte de emoção. Felizmente este tempo passou e hoje posso ir à padaria

comprar pão, ao mercado comprar carne. Agradeço muito a minha mãe, que

muitas vezes se humilhou pelas ruas de Jequié pedindo esmolas para nos

sustentar e nos manter na escola, o que foi decisivo para que todos os filhos

pudessem vencer na vida.

eDuArDo QuIVe: O que o levou a contar esta história ao mundo? Será pelo facto de ter vencido? VALDeCk ALMeIDA: Eu conto minha história de vida para denunciar a desigualdade social e incentivar aos cidadãos a cobrar dos gover-nantes uma postura respeitosa em relação à população. Escrevo para mostrar que se pode vencer com honestidade, sem envolvimento com drogas ou com armas de fogo. Escrevo para que meu filho e sobrinhos possam se orgulhar da família que tem e para valorizar cada conquista. Escrevo para demonstrar que, se eu não tivesse tido a educação familiar que minha mãe me deu, hoje eu seria um assal-tante, um assassino, um político corrupto ou um vagabundo a viver às custas da sociedade. Escrevo para mostrar que é possível salvar uma geração da fome, da miséria e da falta de inclusão social. eDuArDo QuIVe: Estamos perante um Valdeck Almeida de Jesus que nas

suas obras fala-nos de factos reais e da sua vida quotidiana?

VALDeCk ALMeIDA: Exactamente. Eu não acredito em arte pura, em coisas sem sentido e sem provocações. Creio que um artista deve ser mais que um escritor, actor, dançarino. Ele deve mostrar ao mundo

uma nova forma de ver, de fazer política, de conquistar direitos, sem guerras, sem sangue. A arte é uma arma poderosa e se o artista souber usá-la, faz uma revolução no mundo. O mundo só existe porque o homem existe e o homem tem direito de modificar o seu habitat. Eu não vou fazer uma obra literária apenas para divertir. Ela (a obra), vai divertir, mas também vai ensinar alguma coisa. eDuArDo QuIVe: Que condições considera necessárias para se ser

escritor?

VALDeCk ALMeIDA: Para ser escritor é necessário ser leitor. Eu leio de tudo. Leio jornais, revistas, rótulos de xampus, receita de remédio e de bolo, embalagens de qualquer coisa. Sou um consumidor de livros e de revistas e jornais. Um escritor não pode ser alheio ao seu meio social, não pode ser isolado do contexto em que vive. E para isso ele deve participar da vida da comunidade, mesmo que observando. Deve opinar, denunciar, criticar, divertir, ser cidadão pleno. Afinal, ele é dotado do poder da palavra e deve se valer disso. eDuArDo QuIVe: O que considera bom escritor? Que livros você

lê?

VALDeCk ALMeIDA: Leio Jean Wyllys, Carlos Drummond de Andrade,

Agualusa, Guimarães Rosa, Cora Coralina, João Ubaldo Ribeiro, Jorge

Amado, Renata Rimet, Leandro de Assis, Cymar Gaivota, Miriam de

Sales, Domingos Ailton, Lima Trindade, José Inácio Vieira de Melo,

Carlos Souza, Roberto Leal, Carlos Antônio Barreto, José da Boa Morte,

Leo Dragone, Leandro Flores, Vanise Vergasta, Aline Vitória, Clara Maciel,

Varenka de Fátima, Aurélio Schommer, Antônio Cedraz, Deomídio

Macedo, Carlos Ventura, Carlos Conrado, Dé Barrense, Adolf Huxley,

Saramago, Pablo Neruda, Gabriel García Marquez, dentre outros.

eDuArDo QuIVe: O que sabe da literatura de outros países lusófonos,

em particular de Moçambique? Conhece ou admira algum escritor e

uma obra moçambicana?

VALDeCk ALMeIDA: Eu conheço Mia Couto, de ouvir falar, mas ainda

não tive oportunidade de ler obras dele. Agora estou conhecendo

Eduardo Quive e mais alguns poetas contemporâneos. Pretendo me

aproximar mais dos países lusófonos e dos seus autores. Por muitos

anos o Brasil ficou isolado desses irmãos africanos, não pela distância

mas pela falta de políticas públicas no sentido de incentivar inter-

câmbios. Não sou de esperar por iniciativas de governos e já estou

me propondo a conhecer Moçambique, Angola, Cabo Verde e outros

países de língua portuguesa.

eDuArDo QuIVe: Compara-se com algum escritor no mundo?

VALDeCk ALMeIDA: Acho que cada escritor tem seu estilo, sua marca

pessoal. Eu não gosto de me comparar, mas ficaria muito feliz se minhas

obras pudessem ser lidas e comentadas pelo mundo todo. Já publiquei

três livros em inglês, justamente para tentar chegar a vários países,

já que a língua inglesa é universal. Tenho meu estilo contestador e

denunciador. Em minhas obras sou irônico e sarcástico. Não sei de

outro autor que tenha estas mesmas características nem quero imitar

ninguém. Se os leitores gostarem do que escrevo, vai ser ótimo. Se não

gostarem, infelizmente não vou mudar o meu jeito de ser e escrever

para agradar ou para vender livros.

eDuArDo QuIVe: Olhando para seu curriculum noto que é “muita

coisa”, mas em que área específica você se formou?

VALDeCk ALMeIDA: Sou jornalista por formação concluída em Fever-

eiro de 2011. Apesar de ter iniciado vários outros cursos, os abandonei

por problemas de saúde ou porque não me identifiquei com nada

daquilo. Coincidência ou não, eu fundei, juntamente com Domingos

Ailton e outros colegas de escola, em 1987, o Grémio Livre Dinaelza San-

tana Coqueiro, primeira entidade estudantil de Jequié após a Ditadura

Militar. Neste grémio eu fui também fundador e director de imprensa

do Jornada Estudantil, jornal que denunciava a falta de compromisso

da escola com a educação. Vinte e quatro anos depois eu me formeiem

Comunicação Social. Achoque meu destino era ser jornalista.

eDuArDo QuIVe: Notei também que se destaca na colaboração

na imprensa baiana e brasileira no geral. Qual é a sua relação com o

jornalismo?

VALDeCk ALMeIDA: No jornalismo eu tenho compromisso com a ética, com a justiça social, com a defesa dos direitos humanos, com as minorias e com a liberdade de expressão. Estas são minhas bandeiras. eDuArDo QuIVe: Tem promovido vários concursos literários. Qual é o objectivo das suas acções? VALDeCk ALMeIDA: Meu objectivo é dar oportunidade a muitos poetas que nunca seriam publicados por editoras com-erciais. Os poetas são malditos porque falam da realidade, denunciam injustiças. Ao lado deles estou sempre. E o concurso abre portas e caminhos para estas pessoas que precisam de apoio e divulgação. Desde 2005 os concursos que realizo já publicou mais de 900 textos de poetas brasileiros, portugueses, moçambicanos e angolanos, argentinos, espanhóis, ameri-

canos, ampliando as fronteiras do Brasil e aproximando povos de língua comum. eDuArDo QuIVe: Uma das questões a que sempre se dedicou, é a divulgação da Literatura Baiana e promoção de novos autores. Na sua opinião em que estágio está a Literatura Baiana e, no seu entender, quais são os que se podem chamar os autores do futuro nessa região? VALDeCk ALMeIDA: Eu citei alguns autores baianos numa per-gunta anterior. Há muitos outros. A Baia é um celeiro de cultura. Aqui florescem poetas, poetisas, cronistas, contistas, romancistas. Seria leviano de minha parte dizer que este é melhor que aquele e que aquele outro vai se sobressair. Quem pode dizer isso são os leitores. Mas nem sempre o valor de um escritor pode ser medido pela quantidade de leitores. Alguns escritores baianos conseguem patrocínio privado, outros são apoiados pelo Estado, e muitos vão ficar anónimos porque não concordam com as políticas partidárias ou culturais. Posso falar de minha simpatia por Jean Wyllys, Leo Drag-one, Renata Rimet, Leandro de Assis todos os que citei na pergunta anterior, pois são pessoas com as quais eu convivo e sei que escrevem sobre a realidade e eles escrevem com a alma. eDuArDo QuIVe: Quais são os seus planos futuros: na vida pessoal e no âmbito literário? VALDeCk ALMeIDA: Pretendo encontrar um amor para a vida toda, para compartilhar minha vida e ser minha fonte de inspiração (risos). Sou funcionário público e pretendo continuar, para ter dinheiro para investir em literatura, sem precisar pedir a governo ou a empresários. Tenho um sonho de fundar uma editora baiana que valorize o autor baiano, sem deixar de dar espaço a africanos, argentinos etc. eDuArDo QuIVe: Embora vencedor de vários prémios, pensa em batalhar por mais algum? Qual? VALDeCk ALMeIDA: Meu maior prémio é quando recebo comentários de leitores. Seja para criticar, seja para elogiar. Escrevo para amigos e inimigos. Quando uma pessoa que nunca gostou de leitura pega um

livro meu, lê e comenta eu fico feliz. Meu maior prémio é este. E é por isto que distribuo livros

impressos nos eventos que participo; e é por este motivo que coloco minhas obras disponíveis

em PDF, gratuitamente, na internet, para que muitos tenham acesso.

Vejo Que para além de escritor tem outra profissão. Será escrita a sua profissão principal? MINHA proFIssão principal é no serviço público. Sou funcionário do governo federal brasileiro. Gostaria muito de poder viver de lit-eratura, mas isto ainda é um sonho. o Que você mudaria no mundo se lhe fosse dada a presidência mundial por um dia? A prIMeIrA coisa que eu faria era investir em educação na África inteira. Abriria milhares de universidades e cursos de literatura, arteem geral. Aarte liberta. ACHA Que os escritores dos países da CPLP interagem entre si? Não TeNHo informações suficientes para afirmar isso. Mas acho que podemos, todos, agir de forma coordenada, a fim de aproximar mais os países de língua portuguesa, especialmente os de África. e os livros será que tem espaço de circulação nesses países? O que acha que deve ser feito? ACHo Que o livro deve circular livremente entre os países de fala portuguesa, sem impostos. Talvez até de graça para os países que não possam comprar. Mas circular nos bairros, nas praças, não nos gabinetes e palácios. Falar de literatura e de arte é fácil, quando se está sentado num trono, numa sala com ar condicionado. O que é necessário é levar o livro ao leitor, onde ele estiver. A propÓsITo, à que país da CPLP você já viajou? E quando é que teremos o Valdeck e os seus livros em Moçambique? sÓ CoNHeço Portugal, mas mesmo assim só os pontos turísticos. Quero viajar a Cabo Verde, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe e Timor-leste. Eu desejo ser lido nesses países todos. Moçambique está nos planos de minha próxima viagem. Se alguma editora quiser investir, eu abro mão dos direitos autorais por vinte anos, para que os livros cheguem baratos ou de graça aos leitores. Se você quiser, já posso enviar alguns exemplares para a biblioteca e para o Movimento Literário Kuphaluxa sITe Do autor: WWW.GALINHApuLANDo.CoM

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PEDRO DU bOIS - bRASIL

Recupero a palavra com que finalizo

o dito: dos baús entorpecidos em cantos

obscuros dos depósitos - vão, desvão,porão, sótão desacordado - retiroa frase reparada no excesso, vooem ares desconsolados, sei do viverpleno dos enganos: boa tarde,meu senhor, em que posso ajudá-lo;

reafirmo a crença no gritoda criança: indefeso avançarao efêmero da idade e refazerjardins no extremo das flores

no final da sentença cumprida no interregnosei estar afunilado o espaço fechado

das entradas - meu senhor, sinto muito,

a venda de ingressos está cancelada.

Finalizar

O cão raivoso, autor material de um crime

8 BLA BLA BLA Exero 01, 5555

no rEcanto dE apoLo...Terça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 8

JOSé LUIz GRANDO - ITAJAíA chama negraAlastra-se outra vez e...corpos queimados aparecemdeixados de lado.Escarnece pobre, padecepobre.Engole o vômito dos barbasbrancas.Branca depressão ondetudo termina no coração.Delinqüentes, tão jovens,e ainda inocentes,Vendendo seus corpos comoeternosPrisioneiros sem saída.Nada mais inebria, nem aNeblina disfarça a vergonhaespalhada como lixopelo mundo capitalista.

DANY WAMbIRE - bEIRAOuviu-se por todos os cantos da velha palhota, desabitada por alguns tempos, contendas de palavreados pesando acusa-

ções abomináveis. Acenou-se um episódio tristonho, naquela tarde fervilhante com árvores adormecidas, mansas, a sono profundo.

Ergueu-se uma voz estridente, com sabor amargo, que imobilizava o sangue trilhando veia-a-veia daqueles humanos acoco-rados na palhota adentro:

― «Tu mataste o teu enteado» Ouviu-se assim, com enorme desagrado, na madrasta, a voz da sentença da nhamussoro. O proferido pela nhamussoro veio,

de forma categórica, consumar o que se apregoava nos bastidores.A Celeste, a madrasta, era a primeira das cinco mulheres de que o Saquene dispunha. As que vieram depois, eram as que a

odiavam por ser primeira e a mais querida. Era uma mulher trabalhadora e dispunha de enorme fecundidade para brotar muitas filhas. O Saquene honrava em demasia as filhas, pois, obtinha bastante lucro com o lobolo delas. Não se entendia, todavia, o intento a ser alcançado pela madrasta ao encomendar um feitiço para o filho da rival. Ademais, a rival da celeste estava divorciada do Saquene, e vivia com outro marido na Beira, deixando o seu filho com a ex-rival. Acusaram a Celeste, mas não a condenaram. Tinha que ser feiticeira, porém, apenas pela força do diagnóstico.

Tentaram os defensores da Celeste, a acusada, em mudar o rumo dos acontecimentos: intentaram encontrar outra feiticeira para além da celeste, visto que, ela não tinha razões para cometer aquela propalada barbaridade. Intentaram contrapor o diagnóstico da nhamussoro, mas a mesma nhamussoro insistiu com o mesmo diagnóstico. Não queria ludibriar as pedras divinatórias: era essa crença que apresentava a nhamussoro.

Ligaram, ao fim da tarde, comunicando a mãe do recém-falecido Stinde que viesse da Beira para acompanhar o funeral do seu único filho com o Saquene. O carro para o regulado saía da Beira às cinco horas da manhã, todos os dias.

No dia viagem, foi a mãe do Stinde apanhar o carro na terminal. Coube ao motorista César, o motorista mais veloz, levar a mãe do Stinde para a fazer chegar, a tempo, ao funeral do filho.

No início da tarde, a mãe do finado desceu maleavelmente do carro de César. Encontrou na paragem, à sua espera, as vizinhas do Saquene para lhe incitar o choro ― as mulheres em falecimento, choram em demasia se forem consoladas durante o choro natural. Todavia, a encaminharam para casa, o local do início de procissão de funeral do filho Stinde.

Na hora seguinte, presenciou a mãe do Stinde, a mãe do finado, no quarto em que filho descansava aparentemente. Tencionava ver-lhe pela última vez. Recordou-se logo, do momento do parto complicado tido com o miúdo, das suas primeiras brincadeiras e de outras peripécias marcantes. Informaram-lhe, depois, o sucedido:

― O teu filho Stinde, o teu único filho querido, foi enfeitiçado pela Celeste, a primeira esposa do Saquene, a madrasta de Stinde, porque não queria viver com ele.

Facultava assim uma das esposas secundárias do Saquene, o identificado e deliberado pela nhamussoro. A hora do funeral chegou, a Celeste não só ficou liberta, por algumas horas, daqueles olhares desconfiados, assim como dos

potes de lágrimas, outrora por ela jorradas.Tomaram a esteira velha, agasalharam o pequeno cadáver e prosseguiram com a procissão. Presenciaram na procissão, homens

comentando jornadas de bebedeira, de futebol e outras, entretendo-se na multidão. Algumas mulheres acompanhavam o comentário dos homens em farra, e outras expiavam escrupulosamente, a dimensão do choro da madrasta do malogrado.

Chegados ao cemitério, procederam o kuphacha antes de cavar o local da sepultura. Mendigaram, primeiro, a admissão do morto na casa dos imóveis para não violarem as margens invioláveis. Se não o fizessem encontrariam, no dia ulterior, o cadáver fora da cova da sepultura.

Terminado o funeral, já em casa, encontraram alguns técnicos da saúde. Os técnicos de Saúde indagaram se naquela casa habitara um jovem de nome Stinde. Após um diminuto silencio, para se entender a questão, irrompeu uma voz replicando a questão:

― É este que acabámos de sepultar.A equipa de saúde que obviamente, soubera da saída daquela multidão em algum funeral, soltou duma vez a informação: ― Este jovem foi vitimado pelo cão raivoso que também atacou outras três pessoas anteontem aqui, no regulado. Afinal de contas: o enteado da celeste não foi por ela enfeitiçada, mas sim, empeçonhado com a raiva de um cão vadio. Mas

este argumento não convenceu a maioria. É que no regulado se justificava mortes com causas naturais. Até um espectador chegou a sentenciar:

― Se este cão foi mordido por cão raivoso, então foi a madrasta que mandou este cão. ______________________________ Dany Wambire (pseudónimo de Danito Gimo da Graça Avelino). Nasceu em 1 de Junho de 1989, no distrito de

Manica, província de Manica (os seus pais são todos da província de Sofala). Tornou-se órfão bastante cedo, de pai aos 10 anos, e de mãe aos 12 anos. Desde então cresceu sob custódia da sua tia (Cristina Oliveira Garanhe Massora, irmã mais velha da sua mãe). Em 2008 tornou-se professor no distrito de Machanga, sul da província de Sofala, depois de formado pelo Instituto Nacional de Educação de Adultos – Beira (2006-2007). E foi lá onde começou a escrever, como forma de divertimento e para amparar-se dos vícios. Portanto, escreveu lá o seu primeiro livro (inédito), intitulado sugestivamente “Peripécias do Regulado de Esteve”, que tem alguns textos publicados pelo jornal O País e O País Online, desde Março de 2011.

Actualmente é professor numa escola primária completa, algures na cidade da Beira, e estudante no 2º ano do curso de História, na UP-Beira.

ERRATANa edição anterior, esta coluna estava erradamente assinada com o nome de Humberto João e o título

estava igualmente, erradamente escrito. Portanto, em vez de Humberto João de Lichinga, devia ser, Dany Wambire, da Beira e em vez de “O Bebé que nasceu do Abordo” tinha que ser “O Bebé que nasceu de Aborto”. Pelo facto, apresentamos as nossas sinceras desculpas ao autor da coluna e aos leitores.

MUkURRUzA - LICHINGA

Perdidos,Alegres choramosSomos diamantes.

Gostados pelas rosasPelas flores,Somos a belezaNos pulsos lisosNos pescoços macios,Somos diamantes.

Este nosso serApenas diamantes

Somos nós,Diamantes.

Somos Diamantes

Chama Negra

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outras margEnsTerça-feira, 18 de Outubro de 2011 https://literatas.blogs.sapo.mz 9

Espaço para divulgação de poetas dos países LUSÓFONOS. Envie os seus textos para: [email protected]

ODETE COSTA SEMEDO - bISSAU

Bissau não quis acreditarno que via

no que estava a sentir

Bissau despediu-se de seus filhosnua deitou-se de bruçospara receber chicotadas

para receber açoitecom ramos espinhosos

de nhára-sikiduBissau não quis acreditar

brincanças

Leonor

SILAS CORREIA LEITE – SãO PAULO

Os endereços são estercos Técnica de aproximação comigo mesmo: lesmo A morte é uma desaceleração de partículas A civilização hum ana às vezes é um pé no sacro Fui atropelado pela existência Quem nasce morto não nasce A terra é o aterro sanitário do espaço, onde estão depositados todos os vermes Sou estrangeiro em meu próprio corpo Silêncios cúmplices têm gerador próprio Quando o mundo acabar eu volto para Itararé

CELSO FOLAGE - MAPUTO

Leonor, bela moça do meu serFaz-me conhecer a beleza de mulherFaz-me sentir o sentimento internoFaz-me sair a rua a toa

Para ver-te andar de capulana, LeonorPara ver-te sorrir enquanto espalhas o perfume O perfume exclusivamente seu, apenas a ti pertencen-

te O perfume natural temperado de doçuraQue quando inalado leva a loucura

Loucura que cria em meu coração uma brancuraDisposta a receber as manchas benéficas do seu amorFixe o seu olhar nos translúcidos olhos meusInfecta-me com a única doença realmente sem cura

LeonorDoença de te venerar e consequentemente te amar

Doença de poder sempre te alegrarAo seu lado deixarei de ser apenas sonhadorDeixarei de viver em comunidade com essa dorDor de não poder fazer parte do seu ser Leonor

Vem, vem… Leonor, transformemos sonhos em reali-dade

Vivamos algo por muitos conhecido, até por poetas escrito

O verdadeiro amor Leonor.

QUANDO TUDO COMEÇOUbISSAU NãO QUIS ACREDITAR

MIGUEL ALMEIDA - PORTUGAL

Sei o que sou.Sei?Sei talvez o bastante,Para não aceitar, ou recusarPerante o destino,Que tenho ideias minhas,Pensamentos próprios, que ofereçoComo frutos puros, da minha liberdade.Sei o que sou?Sei.Sei talvez o bastante,Para perceber, ou entenderPerante o acaso,Que estando só, de mim para mimAs palavras, as minhas escassas palavrasExprimem a incerteza, daquilo que poderei vir a ser.

Auto-conhecimento MANUSSE JOSé - LUANDA

Ao calor do estio rolam-se-me os imp-iedosos pensamentos,

São imprincipiados e infinitos,Doem-me à cabeça, Vomito-os,Poucos suportam-nos,Quem me ajuda?De certo! que nenhuma criatura.

Galopo montanhas,Miro os céus,Tudo aparenta-se um azul fingido.

Finjo não pensar,Rouba-se-me a existência.

Ah! são eles a minha,São prova do meu existir

Expulso-os,Expulsado sou eu,Pois sou existência do meu pensar.

YAO FENG-MACAU

Ao cabopusemos o silêncio no centro,como se põe a mesa,para a qual nada foi servido. O banquete tinha já acabadoE, nunca mais, a mesa,deixaremos florir a língua. Silêncio. Apenas o canto eventualo desperta.O que murmuram os pássarosnos ramos do sonho?Não sonhamos de novo, nesta noite menos nossa.Ainda o silêncio. O vento sopraa abundância do teu cabelo―o grito, o uivo

SilêncioIzIDINE JAIME - MAPUTO

Quem são eles?Quem somos nós?Onde vamos?Porquê temer a nós mesmos?

... Olha só como falam do mundo!A terra é deles?De quem é terra?A quem pertencemos?Porquê viver?Porquê nascemos?

Somos um projecto?Fazemos parte dos seus rituais?Porquê questionar?Porquê não questionar?Porquê ver e calar?Porquê a realidade e não a verdade?Porquê nos fazemos ser?

Dúvidas matam?Não contribuimos para nossa desgraça?Não morremos no nosso medo?Porque eles e não nós?Porquê nós e não eles?Porquê não eles e nós?Pagamos pela vidaRecebem pela morteÉ para isso que existimos?

Decepção OCTávIO DINALA - LICHINGA

Ate quando navegarei neste mar Com barcos a vela e as vezes ter que remarNão saber para aonde o vento vai-me levarPerder as coordenadas por vezes ter que acidentar

Ate quando navegarei neste marTentando ser forte para não chorarRezando sempre que não ouves o meu gritoComo se estivesse sozinho

Ate quando navegarei neste marQue já não me mais me querQue quando me olha sorri o meu sofrerQue me olha mas não me vê

Ate quando navegarei neste marQue me quer naufragarPara me matarAte quando navegarei neste marQue me quer levar?

LUA E ALMANas pétalas há mãos, dançando ao som dos grilos

o silêncio desperta a noite, e bem no centro da flor, a vulva... beijando a lua num jeito de anunciação, chamamen-

to... e ramificam-se gente neste sonho... gente que grita alma... mas donde vem esta alma???

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Em outras paLavras

Manuelito! XIGUIANA DA LUzPassa fome e passa frio. Não tem vizinho. Vive só. Sem tom nem voz. Ao relento – nas esquinas

do Patrice – como esqueleto. Quando quer é alegre, mas sempre se entristece. Geme de frio

lambido pela fome. Anda. Fala. Mas não sente, nem ouve. Apenas vê. E só vê o que vê. Vê o que quer. Brinca com quem quiser, mas ninguém

é seu amigo. Todos o conhecem, mas ele, a ninguém reconhece. Ás vezes canta, mas não

entoa hino nenhum.

Manuelito é ninho sem passarinho. Caminho sem gente. Ngalanga¹ sem dança, terra sem

nação. Vive sem noção.

Manuelito não tem razão. Vive sem protecção. Mas é gente. Sofre com o que não sente. Chora por quem não conhece. Seu dia não amanhece. Todos o conhecem, mas a ele, ninguém recon-

hece. Por isso que enlouquece.

Manuelito é louco no meu bairro e lúcido em qualquer lugar!

1. Ngalanga – tipo de ritmo e dança tradicionais.

eDIção eM HoMeNAGeM A esCrITores BAIANos

1 - O Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus visa estimular novas produções literárias e é dirigido a candidatos de qualquer nacionalidade, residentes no Brasil ou no exterior, desde que seus trabalhos sejam escritos em língua portuguesa.

2 – As inscrições acontecem de 01 de janeiro a até 30 de novembro, através do e-mail [email protected] (CRÔNICAS de até 20 linhas, minibiografia de até cinco, endereço completo, com CEP e fone de contato, com DDD). Os textos devem vir DENTRO do corpo do e-mail. Inscrições incompletas serão desclassificadas. Vale a data de postagem no e-mail. Não serão aceitas inscrições pelos correios.

3 - A crônica deve ser inédita, versando sobre qualquer tema (exceto apologia ao uso de drogas, conteúdo racista, preconceituoso, propaganda política ou intolerância religiosa ou de culto). Terão preferências os textos sobre escritores baianos da contemporaneidade. Entende-se como escritores contemporâneos aqueles cuja obra ainda não foi lançada por grandes editoras e que não são con-hecidos do grande público. Cada autor responderá perante a lei por plágio, cópia indevida ou outro crime relacionado ao direito autoral. A inscrição implica concordância com o regulamento e cessão dos direitos autorais apenas para a primeira edição do livro.

4 - Uma equipe de escritores faz a seleção de apenas um texto por autor. A premiação é a publica-ção do texto selecionado em livro, em até seis meses do encerramento das inscrições. Os escritores selecionados devem criar um blog gratuito, após a divulgação do resultado do concurso, para dar visibilidade ao trabalho de todos os participantes. Os casos omissos serão decididos soberanamente pela equipe promotora.

5 - O autor que desejar adquirir exemplares do livro deverá fazê-lo diretamente com a editora ou com o organizador do prêmio. Os primeiros dez classificados receberão um exemplar gratuitamente. Os demais podem receber, a critério da organização do evento e da disponibilidade de recursos financeiros.

MoDeLo De FICHA De INsCrIção:

Paulo Pereira dos SantosRua Santo André, 40 – Edf. Pedra – Apt. 20135985-999 – PortãoBelo Horizonte-MG(31) 3366-9988, 8877-8999

MoDeLo De MINIBIoGrAFIA:

Paulo Pereira dos Santos é natural de Santana-PB. Escritor, poeta e jornalista, tem dois livros publicados: “Antes de tudo” e “Até amanhã”. Paticipa de cinco antologias de poesias. Graduado em comunicação social. Menção honrosa em diversos concursos de poesia, tem dois livros no prelo e pretende lançá-los em 2012.

projeTo puBLICADo No sITe Do pNLL Do MINIsTÉrIo DA CuLTurA

MAIs INForMAçÕes:

Valdeck Almeida de Jesus Tel: (71) 8805-4708E-mail: [email protected] Site do Organizador: www.galinhapulando.com

NOTA: NESTE CONCURSO PODEM TAMbéM PARTICIPAR PESSOAS DE OUTROS PAíSES DE LíNGUA PORTUGUESA, INCLUINDO MOÇAMbIQUE, SENDO QUE NA IMPOSSíbILIDADE DESTES EM FALAR DE ESCRITORES bAIANOS, PODEM FALAR DOS CONTEMPORâNIOS DOS SEUS PAíSES.

VII Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus – CRÔNICAS

Noites d ´álmahttps://noitesdalma.blogspot.com

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agEndado

Projecto Poesia nas Acácias

CONVITENo âmbito das celebrações do dia da cidade de Maputo e de

mais um aniversário do Movimento Literário Kuphaluxa, será realizado entre os dias 10 e 12 de Novembro do ano em curso, uma exposição de poesia denominada “Poesia nas Acácias” a ter lugar na cidade de Maputo.

oBjeCTIVoConstitui principal objectivo desta iniciativa, divulgar novos

autores moçambicanos, promover o gosto pela leitura e levar a poesia a lugares comuns onde o povo possa ter acesso a ela sem custos.

reQuIsITosCada participante pode enviar no máximo três poemas (só

um será seleccionado para exposição) da sua autoria que obe-deçam os seguintes requisitos:• Poemasocupandonomáximodeumapáginadoword• Poemasescritosnalínguaportuguesa

pArTICIpAçãoTodos os participantes o farão voluntariamente, sem direito a

nenhuma remuneração. Neste projecto, só poderão participar apenas poetas iniciantes, sem nenhum livro publicado e não há restrição de idade nem nível académico.

Para a participação neste projecto são convidados todos escri-tores iniciantes de todas cidades do País.

DIreITos AuTorAIsA partir da altura em que os poemas são expostos, passam

a ser de domínio público, sendo que, o entanto, o poema será exposto com a assinatura do autor.

eNDereço Do eNVIo Dos TexTosOs poemas devem ser escritos no formato Word-2003, letra

do tipo – Times New Roman, tamanho 12 e enviados electroni-camente para o endereço: [email protected]

VALIDADeOs poemas devem ser enviados a partir da data da divulgação

deste convite até ao dia 23 de Outubro de 2011. Os textos envia-dos depois dessa data não merecerão a nossa atenção.

Os seleccionados, serão anunciados no blogue do Movimento Literário Kuphaluxa no endereço: http://kuphaluxa.blogspot.com e da revista Literatas: http://literatas.blogs.sapo.mz e ainda na versão electrónica da mesma até ao dia 01 de Novembro de 2011.

CAsos oMIssosNão serão aceites poemas que contenham seguintes conteú-

dos e ambiguidades:• Ofensivaspolítico-partidárias• Insultosououtrasexpressõescapazesdeferirasboas

maneiras de convívio social• Descriminaçõesraciais,religiosas,étnica,géneroentre

outras

reCursoAs deliberações da comissão organizadora deste evento não

terão direito a recurso.

A Comissão Organizadora